28 SOCIEDADE
PÚBLICO • SEXTA-FEIRA, 11 AGO 2006
CIÊNCIAS
Forma contagiosa de cancro canino
transmite-se através das células do tumor
ESTUDO BRITÂNICO ENVOLVEU
ANIMAIS DE SETE PAÍSES
JEAN-PHILIPPE KSIAZEK/AFP
A doença transmite-se sem
ser detectada uma infecção
viral, o que contraria
a compreensão que os
cientistas têm do cancro
ISABEL GORJÃO SANTOS
Uma forma de cancro contagiosa foi
confirmada nos cães e poderá ter tido
origem nos lobos, há cerca de 200 anos.
A descoberta foi feita por um grupo de
investigadores coordenado por Robin
Weiss, da University College, em Londres, e é hoje publicada na revista Cell.
Os resultados têm implicações importantes em termos biológicos, ao mostrar que uma célula cancerosa pode
ser um parasita bem sucedido.
O estudo teve como base marcadores genéticos de cães com tumores
oriundos dos cinco continentes. Foi
traçada a origem do tumor canino
transmitido sexualmente (CTVT, na
sigla em inglês) e descobriu-se que
esse cancro se transmite de cão para
cão através das próprias células cancerosas, sem que tenha sido detectada
uma infecção viral.
Os investigadores forenses analisaram os tumores e as amostras
de sangue de 16 cães sem qualquer
relação entre si, oriundos da Itália,
da Índia e do Quénia. Foram também
analisadas amostras de tumores de outros animais, provenientes do Brasil,
dos Estados Unidos, da Turquia, de
Espanha e de Itália.
O ADN isolado nos tumores e o das
amostras de sangue não condiziam,
o que prova que as células cancerosas não pertenciam aos cães em que
se tinham alojado. Por outro lado,
havia muitas semelhanças entre os
tumores, que eram, portanto, uma
espécie de clones que se tinham
disseminado.
O tumor canino transmitido sexualmente (CTVT na sigla em inglês) terá começado nos lobos há 200 anos
As estimativas dos investigadores
apontam para que este cancro parasita dos cães tenha cerca de 200 anos de
existência e origem nos lobos, o que o
transforma no mais antigo cancro conhecido e provavelmente a mais longa
propagação contínua de células em
mamíferos. Essa conclusão resultou
da comparação entre as sequências
genéticas dos tumores e os genes relacionados dos cães e dos lobos.
Este tipo de tumor consegue contornar o sistema imunitário do cão,
numa fase inicial. Mas, em muitos
casos, a resposta acaba por ser eficaz
e o tumor regride ou desaparece, embora permaneça o tempo suficiente
para ser transmitido.
Aparentemente, a doença transmite-se através de contacto sexual,
mas os investigadores admitem que
poderá também contagiar os cães que
lambem, mordem ou cheiram as áreas
afectadas. É necessária, no entanto,
a transmissão de células cancerosas
vivas.
“A ideia de que este cancro nos cães
pode ser provocado pela transmissão
de células tumorais já tem algum tempo – 30 anos ou mais”, adiantou Robin
Weiss em comunicado de imprensa.
“Mas não havia a certeza que hoje
existe”, adiantou.
Um outro fenómeno tinha já suscitado a curiosidade dos cientistas e
levantado a hipótese de o cancro se
transmitir através da transferência
de células. Trata-se da elevada incidência de cancro facial entre diabos
da Tasmânia, marsupiais em vias de
extinção, que tem levado a crer que
o contágio se faz através das suas
dentadas.
A partir das conclusões deste estudo, Robin Weiss não descarta a possibilidade de transmissão sexual de
tumores entre os humanos, e salienta
os casos de pessoas com o sistema imunitário debilitado — transplantados
que tomam imunossupressores ou
portadores de sida, por exemplo — e
o facto de tumores ocultos em órgãos
doados terem já, em alguns casos,
resultado em cancro. ■
No sábado há chuva de meteoros visível a olho nu
As Perseidas são um
fenómeno anual, que
terá o ponto mais alto na
madrugada de 12 de Agosto
ANA MARGARIDA SANTOS
Os objectos caídos do céu sempre despertaram interesse. Por isso, a chuva de
meteoros das Perseidas sempre reuniu
admiradores. Este ano, prevê-se que o
melhor momento de observação seja
pela meia-noite de dia 12, embora a altura exacta não seja consensual. Mas o
fenómeno é visível desde 17 de Julho, e
até 24 de Agosto.
As Perseidas deste ano vão ser apagadas pela luminosidade da Lua, que
reduz a visibilidade dos meteoros mais
ténues. Outra condicionante é a poluição luminosa, pelo que a astrónoma
Alfredina do Campo, do Observatório
Astronómico de Lisboa, aconselha a
procurar um local escuro, longe das
luzes da cidade e com um bom campo
de visão.
Para observar as Perseidas não é necessário um instrumento especializado:
basta dirigir o olhar para nordeste, em-
bora sejam visíveis em todo o céu. Os
centros Ciência Viva de Arouca e de
Macedo de Cavaleiros têm sessões de
observação para estas noites, inseridas
no programa Astronomia no Verão.
As chuvas de estrelas cadentes estão
associadas a partículas deixadas por cometas, ao aproximarem-se do interior
do sistema solar. Quando entram na atmosfera terrestre, estas partículas inflamam-se e desintegram-se, deixando um
rasto brilhante e incandescente.
A trajectória da Terra em torno do
Sol faz com que passe, em meados de
Agosto, por uma região onde existe
um rasto do cometa Swift-Tuttle. Este
cometa foi identificado em 1862, quando passou na parte central do sistema
solar, mas a sua passagem mais recente
foi em 1992, 130 anos depois. O fenómeno que, segundo Alfredina do Campo,
já se repete desde o século VIII, só nesta
altura foi explicado.
O nome Perseidas vem da constelação onde se encontra o radiante, a
zona do céu de onde parece vir a chuva de estrelas. Neste caso o radiante
é a constelação de Perseu, perto de
Cassiopeia.
As Perseidas são um enxame periódico, mas as partículas espalham-se e
desaparecem, diminuindo a espectacularidade do fenómeno. “Na década de
90, as Perseidas eram um espectáculo:
eram mais cintilantes e mais por hora”,
recorda a astrónoma. Este ano, “um ou
outro serão mais brilhantes, mas nada
de espectacular.”
A lenda diz que esta chuva de estrelas
são as lágrimas de São Lourenço, mártir
festejado a 10 de Agosto na Península
Ibérica. ■
GOOGLE PASSA
A ALERTAR
PARA SÍTIOS
PERIGOSOS
A partir de hoje, o motor de
busca na Internet Google vai
alertar os seus utilizadores
para os sites da página de
resultados de pesquisa que
sejam potencialmente perigosos. Para tal, vai recorrer
à base de dados da Stop Badware Coaliation, com quem
estabeleceu parceria.
O aviso surge sob a forma
de um link, quando os utilizadores estão prestes a entrar
num sítio com códigos suspeitos, conduzindo-os para o site
da organização que pretende
lutar contra a proliferação de
programas maliciosos na Net,
como os destinados a roubar
passwords ou a controlar os
computadores de milhares
de utilizadores, que passam
a enviar vírus ou lixo electrónico para muitos outros
computadores.
Numa segunda fase, depois
da análise da Stop Badware
Coaliation, o link vai ser
substituído por um relatório
mais detalhado. Este aviso
sugere aos utilizadores que
abandonem a página, mas
não os obriga a fazê-lo.
A Stop Badware identifica e
cadastra páginas suspeitas de
distribuir software perigoso.
Lançada em Janeiro, é uma
organização sem fins lucrativos, e tem entre os fundadores
investigadores das universidades de Harvard e Oxford,
e recebe apoio técnico do
Google e dos fabricantes de
computadores Lenovo e Sun
Microsystems. ■
FRAUDE LEVA
AO BLOQUEIO
DE 74 MIL
DOMÍNIOS .EU
O EURid, o organismo criado para gerir o domínio de
Internet .eu, bloqueou cerca
de 74.000 endereços com essa
extensão, por suspeitar de que
tinham sido comprados com o
objectivo de os revender pelo
preço mais alto.
“Este comportamento é
abusivo e está proibido”, diz
um comunicado do consórcio
EURid, citado pela AFP. Esta organização tem sede em
Bruxelas e desencadeou um
processo a propósito deste
caso num tribunal belga.
Foram intimados a comparecer perante a justiça 400
empresas norte-americanas
que fornecem registo de
domínios .eu, e que foram
usadas por três sociedades
com sede em Chipre (Ovidio, Fausto e Gabino) para
registar 74.000 endereços,
como tourismilreland.eu ou
historichhotel.eu. O objectivo
do EURid com este processo é
libertar estes domínios e voltar a colocá-los no mercado. ■
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