Metodologia da pesquisa científica
Nance Beyer Nardi
Departamento de Genética
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
O homem é um ser curioso.
Como explicar o universo?
Como explicar o universo?
1 - Sem explicação
espanto, medo
Como explicar o universo?
2 - O pensamento mágico
misticismo, crenças, superstições
Como explicar o universo?
3 - A investigação científica
grupo, lógica, método
Evolução da ciência

Ciência antiga: baseada na autoridade (por
exemplo Aristóteles) e no uso da lógica.

Ciência moderna: surgiu no século XVII, com a
observação e a experimentação objetiva (física,
astronomia e química)

Ciência moderna: princípios filosóficos básicos
firmaram-se nos séculos XVIII e XIX lógica
associada ao método científico.
Como explicar o universo?
4-???????
Ciência
(Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

“Ciência: conjunto organizado de conhecimentos relativos a
um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a
observação, a experiência dos fatos e um método próprio.”


Parte I
 A ciência atual: metodologia científica
Parte II
 Qual o valor das respostas que a ciência atual
nos dá?
Parte I
A ciência atual:
metodologia científica
Como fazer pesquisa?
interpretar resultados
realizar a pesquisa
formular a pergunta
divulgar resultados
Como fazer pesquisa?
realizar a pesquisa
interpretar resultados
posição
CNPq
produtividade
FINEP
formação
PADCT
de recursos humanos
formular a perguntaFAPs
divulgar resultados
etc
Metodologia científica: definição

É um conjunto de abordagens,
técnicas e processos utilizados
pela ciência para formular e
resolver problemas de aquisição
objetiva do conhecimento, de
uma maneira sistemática.
Metodologia científica: adaptações

Considerar:

natureza do conhecimento: científico, filosófico,
artístico, místico, etc

ciência pura (aquisição do conhecimento sem
finalidades de utilização prática) x aplicada
(utilização dos conhecimentos da ciência pura
e da tecnologia em aplicações práticas)
Metodologia científica: adaptações

Considerar:
 operações lógicas no conhecimento científico
indução, dedução, inferência
 o método científico
hipótese (afirmação ainda não
comprovada sobre algum fenômeno) x tese
(afirmação comprovada sobre algum fenômeno) x
teoria (conjunto de teses que explicam o fenômeno) x
modelo (descrição formal de um fenômeno, que pode
ser utilizado para testar novas hipóteses e fazer
predições)
Metodologia científica: adaptações

Considerar:
estudo observacional (coleta de dados sem influenciar
os eventos) x experimental (influência deliberada nos
eventos, buscando verificar os efeitos da intervenção)
 estudo transversal (coleta dos dados num único
instante no tempo, obtendo um recorte momentâneo
do fenômeno investigado) x longitudinal (coleta dos
em dois ou mais momentos, havendo um
acompanhamento do desenrolar do fenômeno
considerado)

Metodologia científica: adaptações

Considerar:

dados e análises
qualitativos x quantitativos

o papel da estatística
descrição da variabilidade e
tendências centrais dos
resultados, para entender o
fenômeno.
Etapas da investigação científica
1 - Escolha do tema
2 - Planejamento da investigação
Redação do projeto
de pesquisa
Redação do projeto de pesquisa







Título / participantes / local / (financiamento)
Introdução: exposição do tema, de aspectos gerais até
específicos; bibliografia adequada e atualizada
Objetivos: gerais e específicos; justificativa
Materiais e métodos: detalhados ou com referências
bibliográficas
Cronograma de execução: referenciais de
acompanhamento
Exequibilidade
Referências bibliográficas
Etapas da investigação científica
1 - Escolha do tema
2 - Planejamento da investigação
3 - Coleta e armazenamento de informações (observação,
experimentação)
4 - Análise dos resultados, elaboração das conclusões
5 - Divulgação dos resultados
1 - Escolha do tema




Pesquisas originais, ou de confirmação ou ainda de
repetição para aprendizado
Derivado de conhecimento/investigações anteriores do
tema
Derivado de idéias dadas pelo orientador ou colegas, ou
de idéias totalmente originais (insight)
Derivado da literatura científica, pesquisa bibliográfica
Objetivos parciais e finais da pesquisa
1 - Escolha do tema

Pesquisa bibliográfica
 levantamento de trabalhos já realizados sobre o
mesmo tema, num determinado período - nível
geral x nível específico
 levantamento dos métodos e técnicas a serem
utilizadas na investigação
 realizada com metodologia específica e utilizando
publicações e bancos de dados especiais (índices)
 utilização da Internet
1 - Escolha do tema

O tema escolhido deve
 representar uma questão relevante, cujo melhor
modo de solução se faz por meio de uma pesquisa
científica
 ser factível em relação à competência dos
pesquisadores, à infraestrutura do laboratório e ao
tempo e recursos disponíveis
 (apresentar um alto grau de interesse/satisfação ao
pesquisador).
2 - Planejamento da investigação


Pesquisadores, técnicos e suas atribuições no projeto
Materiais a serem utilizados: equipamentos, material
de consumo, veículos etc
estão ou serão
disponíveis ao longo do projeto?
2 - Planejamento da investigação


Métodos a serem utilizados: identificação e seleção de
todos os métodos e técnicas (inclusive computacionais
e estatísticas) a serem usadas na pesquisa;
treinamento e validação da metodologia através de
projeto piloto ou protótipo ANTES de iniciar o projeto.
ou: Desenvolvimento ou aperfeiçoamento de técnicas
e métodos (pesquisa metodológica)
2 - Planejamento da investigação

Como serão coletados, armazenados e
analisados os dados: tamanho da
amostra, formas de tabulação e
tratamento dos dados, testes estatísticos a
serem utilizados.

Cronograma de desenvolvimento: quais
metas serão atingidas em que momentos
ao longo do projeto?
3 - Coleta e armazenamento de
informações



Realização de estudos observacionais (aplicação de
questionários, estudos de campo, registro de dados
exploratórios, etc.)
Realização de estudos experimentais (manipulação
das variáveis de estudo, coleta de resultados)
Mensuração e comparação de dados de desempenho,
uso, impacto, etc (quando for pesquisa metodológica)
Estudos observacionais

Questionário: instrumento ou programa de coleta de
dados
 confecção pelo pesquisador, preenchimento pelo
informante
 linguagem simples e direta
 etapa de pré-teste, num universo reduzido

Entrevista
 plano
 caráter exploratório ou coleta de
informações
Estudos observacionais

Observação
 conhecimento prévio do que observar
 planejamento de um método de registro
 fenômenos não esperados
 registro fotográfico ou vídeo
 relatório.
Estudos experimentais



Sujeitos ou objetos a serem estudados no
experimento: grupos controle e experimental
 grupo controle
não recebe a influência da
variável independente
 grupo experimental
recebe a variável
independente
Relação causa-efeito
determinada pela
comparação estatística entre os grupos
Observação dos resultados.
Estudos experimentais


Perigo do viés (bias): influência inconsciente ou
consciente por parte dos sujeitos ou pesquisadores
sobre o resultado da pesquisa
Eliminação ou redução do viés:
 atribuição aleatória dos sujeitos aos grupos
 sujeitos ignoram a que grupo pertencem (estudo
cego)
 pesquisadores também ignoram (estudo duplocego)
4 - Análise dos resultados, elaboração das
conclusões


Dois tipos de dados e análises:
 Qualitativos
 Quantitativos
Classificação, codificação e tabulação dos resultados.
Classificação


Dividir um todo em partes, dando ordem as partes e
colocando cada uma no seu lugar
 critério ou fundamento
base da divisão a ser
feita.
Ex: sexo é o critério; masculino e feminino são classes
ou categorias.
Codificação

Colocar determinada informação na categoria que lhe
compete, atribuindo-se para cada categoria um
símbolo (palavra ou números).
Tabulação

Disposição gráfica dos dados obtidos.
O papel da estatística



Os resultados quase sempre são variáveis,
principalmente em biologia e medicina
É necessário descrever a variabilidade e as tendências
centrais, para entender o fenômeno
Para comprovar diferenças entre situações
observacionais e experimentais, é necessário usar
métodos estatísticos.
Descrição e análise dos dados

O que os dados significam para a nossa pesquisa?
 o que é típico no grupo (média, mediana e moda)?
 até que ponto variam os indivíduos no grupo
(amplitude, desvio médio e desvio padrão)?
 como os indivíduos se distribuem com relação à
variável que está sendo medida (distribuição é
normal ou não)?
 qual a relação entre as diversas variáveis (na
estatística há vários métodos, mas nenhum deles
garante a existência de um nexo causal)?
Elaboração das conclusões

Após estas etapas “o pesquisador fará
as ilações que a lógica lhe permitir e
aconselhar, procederá as
comparações pertinentes e, com base
nos resultados alcançados, enunciará
novos princípios e fará as
generalizações apropriadas”.
5 - Divulgação dos resultados







Seminário / journal club
Apresentação em congresso (resumo, poster,
comunicação oral)
Relatório
Dissertação / tese
Artigo científico
Livro / capítulo de livro
Internet
variam
regras, finalidade, público atingido, etc
Parte II
Qual o valor das respostas que a
ciência atual nos dá?


O objetivo básico da atividade científica não é o de
descobrir verdades ou ser uma compreensão plena da
realidade, mas sim o de fornecer um conhecimento que,
ao menos provisoriamente, facilite a interação com o
mundo, permitindo previsões confiáveis sobre eventos
futuros e indicando mecanismos de controle para que se
possa intervir favoravelmente sobre os mesmos.
A “verdade” em ciência nunca é absoluta ou final, pode
sempre ser modificada ou substituída. Um conhecimento
é válido apenas até que novas observações ou
experimentações o contradigam.
1 - Exemplos de visões diferentes de
fenômenos semelhantes

Ou: porque não devemos rir
daquilo que não
compreendemos.
1a - A magnetoterapia como pseudociência
A MAGNETOTERAPIA é a ciência e a arte de cura através
de ímãs. Sistema natural de tratamento, baseia-se na
aplicação externa de ímãs e na ingestão de água imantada,
estimulando os canais de energia da pessoa, sem danificar
seu organismo. A técnica segue os princípios e leis do
eletromagnetismo universal.
No antigo Egito, Cleópatra enfeitava seu rosto com
pequenos ímãs (magnetos) para manter a beleza. Na Índia,
a utilização de magnetos, na prática da medicina
alternativa, é comum há mais de dois mil anos. O mundo
atual parece ter retomado este antigo sistema de
tratamento e confirmado seus resultados clínicos
benéficos, em quase todas as doenças funcionais do corpo
humano.
http://209.182.24.141/
2a - A reflexoterapia como pseudociência
REFLEXOTERAPIA
Como ustedes saben la
Reflexoterapia es una medicina
alternativa que se practicaba ya en el
antiguo egipcio, pues en una de las
pirámides hay varias inscripciones
talladas en piedra donde se refleja la
práctica de la Reflexoterapia en las manos y en los pies.
¿Por que en los Pies y en las Manos ?
Como todos sabemos el cuerpo está gobernado por el Sistema Nervioso. Todos
los Organos del cuerpo humano tienen terminales nerviosos en pies y manos de
manera que actuando sobre estos terminales Nerviosos llegamos a los distintos
Organos Internos del Cuerpo Humano. Esta es la misión de la Reflexoterapia,
llegar a los distintos órganos para lograr el equilibrio del Cuerpo y Mente del
enfermo.
http://www.readysoft.es
3a - A urinoterapia como pseudociência
O padre Dillon com um copo de urina: "água da vida"
Elixir de água do joelho
A crença popular é algo que não se
controla. O exemplo é a urinoterapia,
prática que aconselha ao paciente tomar a
própria urina. O líquido, garantem os seguidores, seria o melhor remédio
contra alergias, micoses e distúrbios gastrointestinais e renais. "É a água
da vida", define o padre Joseph Dillon, 53 anos, da Paróquia Nossa
Senhora Aparecida, em São Paulo. ... "A urina serve para reequilibrar o
sistema hormonal e fortalecer as defesas do organismo", garante o padre.
A convicção do religioso é rebatida pela ciência. "A urina serve para
expelir substâncias tóxicas. Tanto que se um indivíduo ficar sem urinar
ele morre", afirma o urologista Miguel Srougi.
IstoÉ, 28 de maio de 1997
1b - A magnetoterapia como ciência
Coll Antropol 1997 Jun;21(1):139-50
Anthropometric and quantitative EMG status of femoral quadriceps before
and after conventional kinesitherapy with and without magnetotherapy.
Graberski Matasovic M, Matasovic T, Markovac Z
2b - A reflexoterapia como ciência
Rev Neurol 1996 Jan;24(125):81-3
Somatosensory evoked potentials by acupunctural stimulus and cortical
functional projection.
Abad-Alegria F, Prieto M, Perez-Trullen JM
3b - A urinoterapia como ciência
Nat Med 1998 Apr;4(4):428-34
Effects of a urinary factor from women in early pregnancy on HIV-1, SIV and associated
disease.
Lunardi-Iskandar Y, Bryant JL, Blattner WA, Hung CL, Flamand L, Gill P, Hermans P,
Birken S, Gallo RC
Os efeitos de preparações de grau clínico da gonadotrofina coriônica humana (hCG) sobre
sarcoma de Kaposi, HIV, SIV e hematopoiese foram examinados in vitro e in vivo. ...
encontramos que a atividade antiviral de fatores associados a hCG não é devida ao
heterodímero hCG nativo, incluindo sua subunidades purificadas ou seu principal produto
de degradação, o núcleo-beta. Utilizando cromatografia de filtragem em gel de hCG de grau
clínico e de concentrados de urina de mulheres grávidas, demonstramos que um fator
associado ao hCG (HAF), ainda não identificado e com atividades anti-HIV, anti-SIV, antiKS e pró-hematopoiética, elui como dois picos correspondendo a 15-30 kDa e 2-4 kDa.
4a - Acreditamos nas notícias que recebemos em formato “apropriado”...
Veja 764 (23/04/83).
Agora, num ousado avanço da biologia
molecular, dois biólogos da Universidade de
Hamburgo, na Alemanha, fundiram pela primeira
vez células animais com células vegetais - as de um
tomateiro com as de um boi. Deu certo. Barry
MacDonald e William Wimpey, que fizeram a
experiência, obtiveram como resultado um tomateiro
capaz de produzir frutos parecidos com tomates mas
dotados de uma casca mais resistente e de uma
polpa muito mais nutritiva. A experiência dos
pesquisadores alemães, porém, permite sonhar com
um tomateiro do qual já se colha algo parecido com
um filé ao molho de tomate. ... "Os biólogos alemães
conseguiram alterar o curso da lei natural, que
impede a reprodução de indivíduos de espécies
diferentes", diz Ricardo Brentane, engenheiro
genético da Universidade de São Paulo. "Essa
subversão é estimulante para todo pesquisador."
4b - ...mesmo quando se tratam de grande bobagem.
CORREÇÃO: Na sua edição no.764, de 27 de abril último, VEJA
publicou um artigo em sua seção de Ciência que narrava uma
experiência….Tratou-se de lastimável equívoco. A informação fora
publicada originalmente pela revista inglesa New Scientist na primeira
semana de abril e não passava de uma brincadeira, ainda que a primeira
vista estivesse apresentada como uma notícia semelhante a todas as
outras da revista. ... Apesar da noticia da New Scientist oferecer
algumas pistas para que se percebesse o truque, falharam os
mecanismos e as práticas habituais de que VEJA se vale para confirmar
a veracidade das informações que publica. ... No caso, VEJA
considera sua obrigação não apenas corrigir o erro, mas, dada sua
extensão, desculpar-se dele perante seus leitores.
Veja 774 (06/07/83).
2 - UMA NOVA CIÊNCIA
Henri
Poincaré
“Para fazer aritmética, assim como para fazer geometria, ou para
fazer qualquer ciência, é preciso algo mais que a lógica pura.
Para designar essa outra coisa, não temos outra palavra senão
intuição.”
(ver também L. De Meiss)
Paul
Feyerabend
“A ciência reclama pessoas flexíveis e inventivas e não rígidos
imitadores de padrões de comportamento estabelecidos.”
Fritjof
Capra
“A Terra é, pois, um sistema vivo; ela funciona não apenas como
um organismo, mas, na realidade, parece ser um organismo Gaia,
um ser planetário vivo. Suas propriedades e atividades não podem
ser previstas com base na soma de suas partes; cada um de seus
tecidos está ligado aos demais, todos eles interdependentes; suas
muitas vias de comunicação são altamente complexas e nãolineares; sua forma evoluiu durante bilhões de anos e continua
evoluindo.”
Teoria
de Santiago (Maturana e Varela):
A cognição não é a representação de um mundo pré-dado,
independente, mas, em vez disso, é a criação de um mundo.
O que é criado por um determinado organismo no processo de
viver não é o mundo, mas sim um mundo, um mundo que é sempre
dependente da estrutura do organismo... assim, não existem coisas
que sejam independentes do processo de cognição.
Referências consultadas
http://www.nib.unicamp.br/slides/etapas/sld001.htm
http://www.vademecum.com.br/iatros/science.htm
http://www.angelfire.com/sk/alequadros/metcient.html
http://www.nib.unicamp.br/slides/etapas/sld001.htm
Para receber uma cópia desta
apresentação...
Acesse
http://www.ufrgs.br/cpgbm/Labs/Imunogenetica
ou escreva para
[email protected]
Download

Como apresentar um relatório científico