O dia em que o grito calou Autor: Leo Melamed Publicado por: Wall Street Journal - 12 fevereiro de 2015 A energia e a afluência da força da vida dos pits de negociação deram lugar à precisão silenciosa do pregão eletrônico. Uma era chegou ao fim na semana passada, quando os diretores do CME Group votaram pelo fechamento da maioria dos pits de negociação de contratos futuros em Chicago e Nova York. Os mercados de futuros têm revolucionado os mercados globais e iniciaram a era moderna das finanças. Mas as rodas "viva voz" - onde os operadores e corretores se reúnem em um pregão para competir por transações por meio de gestos e gritos sobre a quantidade e o preço a que estão dispostos a comprar ou vender – tiveram que dar lugar à precisão silenciosa da negociação eletrônica. Em meio a uma decisão que era inevitável, eu ainda choro. Meu primeiro encontro com os pits de negociação foi na década de 1950, época em que eu era um estudante de Direito em busca de emprego. Pisando no pregão da Merc’s, no número 110 da N. Franklin em Chicago, eu me senti como Alice ao atravessar o espelho para um mundo bizarro de não apenas um Mad Hatter, mas centenas. A gritaria entre os operadores e o estranho movimento de seus corpos e mãos eram bizarros. Auxiliares corriam pelo chão de negócios em velocidade papa-léguas com ordens de compra e venda para os corretores nos pits. A energia e a força da vida surgindo no pregão eram mágicas, emocionantes. Eu não entendia o que estava acontecendo, mas queria fazer parte daquilo. Ao conquistar um trabalho nos pits de negociação, tornei-me parte de uma tradição com profundas raízes históricas. Alguns dizem que o pregão viva voz começou em 1730 em Osaka, no Japão, onde os senhores feudais formaram o Mercado do Arroz Dojima. Outros apontam para os séculos 10 e 12, quando comerciantes em lugares como Bruxelas e Madrid se reuniam nas feiras para negociar em voz alta a entrega futura de mercadorias. Outros, ainda, remetem a prática ao mundo antigo, quando fenícios, gregos e romanos negociavam opções contra cargas de navios. Eventualmente, ingressei a Chicago Mercantile Exchange, em 1965, e trilhei meu caminho até tornar-me presidente do CME. Anos mais tarde, em 1992, conduzi a bolsa à implantação do Globex, uma plataforma de negociação eletrônica. Eu imaginei que aquilo poderia significar o início do fim dos pits de negociação. Hoje, as telas eletrônicas são um acessório em mesas de operação em todos os cantos do globo, com cotações de mercado e informações que fluem de forma contínua a velocidades quase impossíveis de entender. A negociação olho no olho tornou-se um anacronismo. Ainda assim, havia uma magia nos pregões das bolsas que, em breve, será apenas uma memória histórica. Operadores e corretores de pregão representam um exército de engenheiros que aplicou competências de forma superlativa. Sem a sua coragem e disposição para assumir novas ideias e inovações sofisticadas, o mundo seria muito mais pobre. Quando lancei os futuros de moeda, em 1972, lembro-me de um proeminente banqueiro ter dito ser ridículo pensar que o câmbio poderia ser confiado a um "bando de comerciantes de banha de porco." Ele não havia compreendido a competência e o zelo dos operadores. Eles exemplificaram a engenhosidade americana. Os operadores construíram o colosso que hoje chamamos CME Group, a maior bolsa financeira do mundo a oferecer a maioria dos instrumentos financeiros mais importantes, fornecendo proteção 24 horas para cada classe de ativo. E ainda assim o mundo mudou. O pregão viva-voz não conseguiu superar a revolução tecnológica que permeou todos os cantos de nossas vidas. Hoje, o CME está on-line com o mundo a cada minuto de cada dia. Nós postamos, “tuitamos”, enviamos e-mails e nos comunicamos por iPads e smartphones de qualquer lugar do mundo. Não podemos voltar ao que era, e o pit de negociação - junto com sua cacofonia de frenéticos e histéricos operadores - em breve terá acabado. Adeus, querido amigo. Mr. Melamed é presidente emérito do CME Group Inc. Veja o artigo on-line