Também conhecida como hidrofobia, a raiva, é uma doença causada por um vírus da família rhabdoviridae, gênero Lyssavirus. O agente causador da raiva pode infectar qualquer animal de sangue quente, porém só irá desencadear a doença em mamíferos, como por exemplo cachorros, gatos, ruminantes e primatas (como o homens). O vírus da Raiva é um Rhabdovirus com genoma de RNA simples de sentido negativo (a sua cópia é que é lida como mRNA na síntese protéica). O vírus tem envelope bilípidico, cerca de 100 nanômetros e forma de bala. O vírus da raiva tem um método de transmissão especialmente interessante, pois a infecção de novos hóspedes por mordida depende da sua capacidade de provocar agressividade no doente. Ele o faz através de infecção dos centros nervosos do cérebro que controlam os comportamentos agressivos. Sua disseminação inicial dentro dos axônios dos neurônios permite-lhe evadir o sistema imunitário. Ele se transmite através da mordida de animais como cachorro, morcego e muitos outros. Vírus da raiva Epidemiologia Todos os anos 10 milhões de pessoas recebem vacina após terem sido mordidas por animais selvagens. Cerca de 40000 a 70000 pessoas não vacinadas morrem todos os anos. É por vezes impossível de saber se o animal apresentava comportamentos agressivos devido à doença ou se os manifestava por outra razão, logo é importante consultar o médico logo após o contato para receber a vacina, que neste caso previne o aparecimento da doença mesmo após a infecção, desde que administrada imediatamente. O vírus está presente na saliva do animal e é introduzido nos tecidos após a integridade da pele ficar comprometida pela mordida. A progressão nos animais é semelhante à dos seres humanos. Os animais selvagens perdem o medo e os mais dóceis animais de estimação tornam-se agressivos. Há casos comprovados, mas raros, de transmissão por aerossóis de dejetos de morcegos que se depositam em mucosas intactas (boca, olho, nariz). Alguns raros casos foram transmitidos após transplantes de órgãos infectados. A raiva existe em animais selvagens (ex: morcego) em todo o mundo exceto em algumas ilhas (como Grã-Bretanha, Irlanda e ilhas do Hawaii). Nas áreas tropicais pode existir em animais de rua (cães abandonados). Um reservatório de difícil eliminação são as colônias de morcegos. Para prevenir a raiva devem tomar-se certas medidas antes da exposição ao vírus ou então imediatamente após a mesma. Número de óbitos humanos por raiva e de casos com diagnóstico laboratorial. Instituto Pasteur, 1970-2002. Antes da exposição ao vírus da raiva, evite: Tocar em animais estranhos, feridos e doentes. Perturbar animais quando estiverem comendo, bebendo ou dormindo. Separar animais que estejam brigando. Entrar em grutas ou furnas e tocar em qualquer tipo de morcego (vivo ou morto). Criar animais silvestres ou tirá-los de seu "habitat" natural. Vacina Deve-se ao célebre microbiologista francês Louis Pasteur, que a desenvolveu em 1886. A vacina utilizada de rotina nos programas de saúde pública no Brasil é a Fuenzalida & Palácios modificada. Esta vacina foi desenvolvida no Chile, na década de 1950, por Fuenzalida e Palácios, e aperfeiçoada nos anos seguintes, tornando-se mais segura e potente. Atualmente, no Brasil, é produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, e pelo Instituto Tecnológico do Paraná - TECPAR. A potência de todas as partidas é avaliada pelo método do NIH (National Institutes of Health, USA). A atividade antigênica do produto é, no mínimo, 1,0 unidade internacional (UI) por dose. Deve ser administrada pela via intramuscular (IM), no deltóide. Em crianças menores de dois anos, pode ser administrada no vasto lateral da coxa. A região glútea não deve ser utilizada porque pode ocorrer falha no tratamento. A dose é de 1 ml, independentemente da idade, sexo ou peso do paciente. Deve ser conservada permanentemente sob refrigeração, entre 2 e 8°C. Os vírus são inativados pela betapropiolactona. Contém cerca de 2% de tecido nervoso, 0,01% de timerosal e 0,1% de fenol. Progressão O período de incubação da doença (intervalo entre a exposição ao vírus e o início da doença) é em média de 1 a 3 meses, nunca sendo menos de 3 semanas e podendo ir raramente até dois anos. O vírus da raiva multiplica-se inicialmente de forma localizada no músculo ou tecido conjuntivo onde foi introduzido pela mordida ou arranhadela. Daí invade os terminais nervosos locais, e é transportado dentro do axônio do neurônio até ao corpo celular da medula espinhal ou no tronco cerebral na velocidade de 100 a 400mm por dia. Dissemina-se rapidamente por toda a substância cinzenta via conexões neuroanatômicas estabelecidas. Por fim, distribui-se centrifugamente pelos nervos periféricos ao resto do organismo, inclusive glândulas salivares (o que possibilita a excreção viral na saliva de animais com a doença), fígado, músculos, pele, glândulas supra-renais e o coração. Os danos causados são devidos a encefalite (inflamação e danos no cérebro). A raiva tem a maior taxa de fatalidade de casos de todas as doenças infecciosas, superando outros vírus temidos como o HBV, HCV, HIV, Ebola e os agentes da dengue e febre-amarela. Embora o prognóstico após o estabelecimento dos sintomas seja sombrio, a administração de profilaxia pós-exposição precoce logo após o acidente com animal suspeito (o que inclui limpeza da lesão e imunização ativa e passiva) atinge resultados muito satisfatórios. Todavia, não há tratamento estabelecido para a raiva. Até o momento, todas as terapias antivirais falharam, assim como o uso de cetamina e indução de coma terapêutico. Trata-se de uma doença quase sempre fatal. Apenas 6 casos de sobreviventes (após infecção sintomática) foram documentados ainda que destes, 5 já eram vacinados antes da inoculação do vírus. Sintomas Na fase inicial há apenas dor ou comichão no local da mordidela, náuseas, vômitos e mal estar moderado ("mau humor"). Na fase excitativa que se segue, surgem espasmos musculares intensos da faringe e laringe com dores excruciantes na deglutição, mesmo que de água. O indivíduo ganha por essa razão um medo irracional e intenso ao líquido, chamado de hidrofobia (por isso também conhecida por este nome). Logo que surge a hidrofobia, a morte já é certa. Outros sintomas são episódios de hostilidade violenta (raiva), tentativas de morder e bater nos outros e gritos, alucinações, insônia, ansiedade extrema, provocados por estímulos aleatórios visuais ou acústicos. O doente está plenamente consciente durante toda a progressão. A morte segue-se na maioria dos casos após cerca de quatro dias. Numa minoria de casos, após esses quatro dias surge antes uma terceira fase de sintomas, com paralisia muscular, asfixia e morte mais arrastada. A morte é certa em quase todos dos casos. Em todo o mundo, somente 3 casos da doença tiveram um desfecho positivo, ou parcialmente positivo: um nos Estados Unidos da América, outro na Colômbia e o terceiro e mais recente no nordeste do Brasil, sendo que os pacientes eram adolescentes entre 8 e 16 anos. Os sintomas da raiva progridem da seguinte forma: 1.Costuma começar com um curto período de depressão mental, inquietação, sensação de mal-estar e febre. 2.A inquietação converte-se numa agitação descontrolada e o doente produz grande quantidade de saliva. 3.Em 20 % dos casos, a raiva inicia-se com a paralisia das pernas, que se vai estendendo ao resto do corpo. 4.Os espasmos musculares da garganta e da área vocal costumam ser terrivelmente dolorosos. Estes espasmos são causados pela irritabilidade da área cerebral responsável pelas ações de engolir e respirar. Uma brisa ligeira ou a simples tentativa de beber água podem induzir estas contrações involuntárias. Em conseqüência, uma pessoa que sofre de raiva não pode beber e, por esse motivo, a doença costuma receber o nome de hidrofobia (medo da água). 5.Morte dentro de 10 dias devido à obstrução nas vias respiratórias (asfixia), convulsões, esgotamento ou paralisia generalizada. Paciente com raiva em agitação A evolução da raiva pode ser dividida em 4 partes: 1.) Incubação - O vírus se propaga pelos nervos periféricos lentamente. Desde a mordida até o aparecimento dos sintomas neurológicos costuma haver um intervalo de 1 a 3 meses. 2.) Pródromos - São os sintomas não específicos que ocorrem antes da encefalite. Em geral é constituído por dor de cabeça, mal-estar, febre baixa, dor de garganta e vômitos. Pode haver também dormência, dor e comichão no local da mordida ou arranhadura. 3.) Encefalite - É o quadro de inflamação do sistema nervoso central já descrito anteriormente. 4.) Coma e óbito - Ocorrem em média 2 semanas após o início dos sintomas. Diagnóstico e Tratamento É usada a imunofluorescência para detectar antigênicos do vírus em biópsias da córnea ou pele. A observação microscópica óptica ou electrónica de corpos neuronais permite observar os patognómicos corpos de Negri, inclusões citoplasmáticas escuras. Após surgirem os sintomas excitatórios (hidrofobia) a morte é certa e a terapia consiste apenas em aliviar os sintomas e diminuir o sofrimento do doente. Após mordida ou arranhadela de animal selvagem, a ferida deve ser lavada cuidadosamente com água e sabão. A raiva tem um início muito longo, logo é possível vacinar um indivíduo logo após ser mordido por animal selvagem ou cão de comportamento agressivo e ainda conseguir uma resposta do sistema imunitário à vacina e ganho de imunidade, antes que termine o período de incubação e se inicie a doença. Além disso é administrado concomitantemente anticorpo anti-raiva. É importante no entanto que pessoas mordidas por animais selvagens ou cães não vacinados, mesmo que não saibam se estavam raivosos, consultem imediatamente o médico e recebam a vacina no próprio dia ou no dia seguinte. Dependendo do local da lesão (face, por exemplo), o vírus pode chegar ao sistema nervoso central antes de a vacina ter efeito, levando a danos fatais. A ME do Vírus da Raiva em forma vacina é composta de virions sem atividade invasiva, mas de bala em Neurónio com não é eficaz contra algumas estirpes presente na África. corpos de Negri A raiva pode ser prevenida vacinando os animais domésticos com outro tipo de vacina. A vacina para humanos pode em casos raros resultar em meningoecefalite alérgica moderada, logo ela só é recomendada em ocupações de alto risco, como por exemplo para veterinários, ou em indivíduos que foram mordidos recentemente por animais possivelmente infectados. Em 2004, uma adolescente americana infectada pela raiva foi curada com um tratamento desenvolvido por médicos de Milwaukee (EUA). O tratamento é baseado em coma induzido e utilização de um antiviral. Desde então, o mesmo tratamento foi repetido em outras 16 pessoas no mundo, mas apenas a adolescente de Milwaukee sobreviveu. Em caso de agressão Lave bem o ferimento com água e sabão por pelo menos 5 minutos. Procure imediatamente atendimento médico para avaliação do caso. Não mate o animal agressor. É preciso deixá-lo em observação por 10 dias (somente válido para cachorro e gato), para identificar algum sinal suspeito da raiva. O animal deve receber água e alimentação normalmente, num local seguro, para não fugir nem atacar outras pessoas ou animais. Se ele adoecer, morrer, desaparecer ou mudar de comportamento, procure imediatamente o Serviço de Saúde Pública de sua cidade. Se um animal morder seu cachorro/gato, segure-o com cuidado para que você também não seja mordido pelo seu cachorro/gato. Leve-o ao veterinário para ele receber uma dose de reforço, mesmo que ele já seja vacinado contra raiva. Essa vacinação de reforço o ajudará a combater a doença, caso o animal agressor esteja infectado com raiva. Quando um animal apresentar comportamento diferente, mesmo que ele não tenha agredido ninguém, não o mate e procure o Serviço de Saúde Pública de sua cidade. Nunca interrompa o tratamento preventivo sem ordem médica. Se você encontrar um morcego em casa, principalmente no quarto com uma pessoa adulta ou criança dormindo, trate essa situação como se tivesse realmente ocorrido uma mordida. Devido à mudança de hábitos causada pela raiva, os morcegos podem ser encontrados durante o dia, em hora e locais não habituais. Nessa situação orientar a procura de assistência médica imediata, e informar a secretaria de saúde municipal para que seja recolhido o morcego para ser realizado teste para raiva. Panorama da raiva no Brasil Estima-se que, anualmente, o Governo do Brasil gaste US$ 28 milhões na profilaxia e controle da raiva, apenas com vacinas de uso humano e para cães, imunoglobulinas, diagnóstico laboratorial, treinamento de recursos humanos e campanhas de vacinação de cães. Não estão incluídas nesse valor as despesas relacionadas à prevenção da raiva transmitida pelos morcegos hematófagos (Desmodus rotundus) a humanos e herbívoros, nem mesmo de tratamentos humanos ou, ainda, gastos indiretos. No contexto mundial, no entanto, a raiva é considerada uma doença negligenciada. A raiva é uma encefalite aguda, 100% letal, que é considerada das mais importantes problemas em saúde pública, seja pela sua alta letalidade, como pelos prejuízos econômicos que causa à agricultura. É causada por um vírus da família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus, que tem como principais reservatórios os animais das Ordens Carnivora e Chiroptera. Cerca de 55.000 pessoas morrem, anualmente, pela infecção com o vírus da raiva, no mundo, principalmente nos continentes Asiático (56%) e Africano (44%). A cada 15 minutos morre uma pessoa e mais 300 são expostas ao risco da infecção, principalmente crianças com idade inferior a 15 anos (40%). No Brasil, com o estabelecimento do Programa Nacional de Controle da Raiva, coordenado pelo Ministério da Saúde, em 1973, e ações sistemáticas de controle da raiva canina, o perfil epidemiológico da raiva no país passou por uma sensível alteração e hoje são identificados distintos ciclos que podem ser resumidos na figura. Somente com a finalidade didática, vou abordar em tópicos os ciclos, deixando claro, porém, que estes ciclos não são independentes. Primeiro resultado de cura no Brasil Em 2009, o adolescente Marciano Menezes da Silva, obteve o diagnóstico de cura da raiva pelo hospital Oswaldo Cruz, no Recife. Seu tratamento foi feito através do Protocolo de Milwaukee. Foi a primeira cura comprovada doença no Brasil. O menino contraiu a doença em 2008, após ser mordido por um morcego enquanto dormia. Vacine-se Para pessoas que trabalham com animais, como médicos veterinários, técnicos de laboratório, tratadores e adestradores, pesquisadores da vida selvagem, recomenda-se a vacinação contra raiva, antes mesmo de se expor a situações de risco. Em caso de exposição ao vírus da raiva, a vacina humana é fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais das principais regiões do Brasil. Referências: www.wikipedia.org/ www.fasprotecaoanimal.org.br www.bancodasaude.com.br www.Wspabrasil.org/