Responsabilidade Social:
um novo papel das empresas
Silmara Cimbalista
Este texto procura mostrar algumas mudanças
nos valores das organizações brasileiras desenvolvidas
pela responsabilidade social, assim como alguns dos
resultados obtidos por estas ações.
Contrastes sociais brasileiros
Em termos de Brasil, observa-se que a responsabilidade atribuída ao Estado, no que concerne ao bemestar do cidadão, não tem colhido os resultados esperados
pela sociedade. O governo parece ter esquecido sua função
primeira, a de prestar serviços à sociedade.
O Estado não tem sido capaz de desempenhar,
sozinho, grande parte das suas funções sociais – do bemestar social ao desenvolvimento, passando pela proteção
ambiental, buscando soluções alternativas e cooperativas.
O Brasil continua a ser um país de contrastes
sociais gritantes. Apesar de ser considerado o 10º maior
Produto Interno Bruto (PIB) mundial, tem um Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), que mede a
qualidade de vida da população, na 74.a colocação em
termos mundiais. Além da distância entre desempenho
econômico e situação social, comparativamente a
outros países, verifica-se um contraste ainda maior
internamente: enquanto o Estado de São Paulo tem
um IDH que seria o equivalente ao 27º posto em termos
mundiais, o do Estado do Piauí equivaleria à 135ª
posição na escala mundial.
Apesar de estar entre as maiores economias do
mundo, o Brasil tem 15 milhões de analfabetos com
idade igual ou superior a 15 anos (o que equivale à
população do Chile ou três vezes a de Israel), sem
contar que 29,4 % da população são de analfabetos
funcionais, ou seja, pessoas que não completaram os
quatro primeiros anos do ensino fundamental.1
Na opinião de alguns teóricos, seria fundamental
que o país aumentasse seus índices de educação para
além dos 5,6 anos de estudo (menos que o ensino
fundamental completo), diminuindo o impacto negativo
causado na economia pela má formação educacional,
e acreditasse que desenvolvimento econômico também
se dá pelo investimento em educação.
Na sinopse preliminar do Censo 2000, divulgada
em maio último pelo IBGE, projetou-se uma população
de 171.320.069 pessoas. Deste contingente, segundo
o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 22,6
milhões de brasileiros não têm condições de se alimentar
por conta própria, ou seja, estão abaixo da linha de
indigência, e outros 53,1 milhões, um pouco acima da
escala, são considerados abaixo da linha de pobreza.2
Como se observa, o país tem uma imensa dívida
social, em áreas básicas como saúde, educação e
alimentação, que ultrapassa a capacidade de solução
por parte do Estado. Em face desse cenário, deverá ter
um árduo trabalho pela frente, tendo que realizar inúmeras
reformas estruturais para resgatar seu déficit social e
tornar-se uma sociedade mais justa e humanizada.
Empresas e responsabilidade social
Para diminuir ou mesmo erradicar essas
desigualdades, o país deveria acordar para um novo
tempo, de desenvolvimento sustentável, educação,
saúde, justiça social, ou seja, de bem-estar geral da
sociedade. Não necessariamente estas ações têm sido
implementadas pelo governo. Muitas estão sendo
substituídas pelo que se convencionou chamar de
responsabilidade social empresarial.
Pelo menos nas duas últimas décadas, tem-se
observado que o mundo tem sido constantemente
afetado por decisões que são tomadas em escritórios.
Como conseqüência, muitas vezes tanto o meio ambiente
como o próprio homem sofrem, inadvertidamente, os
resultados dessas decisões.
Segundo VERGARA e BRANCO,3 as empresas
são “construções sociais”, isto é, “sujeito e objeto da
realidade da qual fazem parte”. São, portanto, partícipes
dos problemas sociais e, atualmente, uma das
instituições mais influentes nos rumos da sociedade.
Sob o ponto de vista conceitual, a empresa que,
além do seu negócio, prevê a colaboração corporativa
efetiva na construção de uma sociedade mais justa e
ambientalmente sustentável, exerce o que se convencionou chamar cidadania corporativa.
A organização ou empresa-cidadã que exerce
responsabilidade social conduz seus negócios de tal
maneira que se torna parceira e co-responsável pelo
desenvolvimento social. “A empresa socialmente
responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir
os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e
conseguir incorporá-los no planejamento de suas
atividades, buscando atender às demandas de todos e
não apenas dos acionistas ou proprietários”.4
*Mestre em Administração Pública pela FGV/RJ, técnica
da equipe permanente desta publicação.
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.12, maio/jun. 2001
Para estas empresas a filantropia não deve ser
confundida com responsabilidade social, pois trata da
ação social externa à empresa, beneficiando
principalmente a comunidade em suas diversas formas
(conselhos comunitários, organizações nãogovernamentais, associações comunitárias, etc.).
Desde meados da década de 80, a integração
dos mercados e a queda das barreiras comerciais
geraram grandes impactos na economia mundial. Para
muitas empresas brasileiras sua inserção numa
competição em nível mundial passou a ser questão de
vida ou morte. Em um curto espaço de tempo, empresas
tiveram que reestruturar padrões gerenciais, desenvolver
novas estratégias de negócio para não perder
oportunidades, ampliar seus negócios e, ainda, cuidar
da concorrência. Ao mesmo tempo, passaram a
acompanhar a evolução tecnológica e o aumento do fluxo
de informações, cada dia mais acelerado devido aos
avanços das telecomunicações e da internet.
Nesse novo contexto, o mundo da internet e das
comunicações potencializou profundas mudanças no
modo como as sociedades se organizavam. Mudamse os papéis das empresas e das pessoas, e redefinese a noção de cidadania.
Atualmente, um dos grandes desafios das
empresas está na conquista de níveis cada vez maiores
de competitividade e produtividade, associada à
preocupação crescente com a legitimidade social de
sua atuação.
Como resposta, as empresas têm passado a
investir em qualidade, num contínuo aprendizado que,
inicialmente, preocupa-se com os produtos, evolui para
a abordagem dos processos, até chegar ao tratamento
abrangente das relações da atividade empresarial, com
os empregados, os fornecedores, os consumidores, a
comunidade, a sociedade e o meio ambiente.
Hoje, a gestão empresarial que tome como
referência apenas os interesses dos acionistas é
insuficiente, pois a gestão deve ser balizada pelos
interesses e contribuições de um conjunto maior de partes
interessadas. A busca de excelência pelas empresas
passa a ter como objetivo a qualidade nas relações e a
sustentabilidade econômica, social e ambiental.
A responsabilidade social empresarial tem se
manifestado baseada em princípios éticos elevados e
na busca pela qualidade das relações entre empresa
e sociedade. Em tempos em que não existem mais
negócios em segredo absoluto, a transparência passou
a ser um atributo positivo para a imagem pública e
reputação das empresas. A adoção de padrões de
conduta ética que valorizem o ser humano, a sociedade
e o meio ambiente são uma exigência cada vez maior.
Para que isso aconteça, é necessário o envolvimento
de toda a empresa na prática da responsabilidade
social, gerando sinergias, precisamente, com os
públicos dos quais ela tanto depende.5
A prática da responsabilidade social constrói
internamente um ambiente de trabalho saudável e
propício à realização profissional das pessoas. No meio
empresarial, empresas que fomentam o trabalho
voluntário de seus funcionários criam um fator competitivo
em relação a outras que não atuam nesse sentido.
Uma das formas de a empresa demonstrar
responsabilidade social é comprometendo-se com
programas sociais voltados para o futuro da comunidade
e da sociedade. O investimento em conservação ambiental
e no uso racional dos recursos naturais é valorizado por
atender ao interesse tanto da empresa como da
coletividade. Esse tipo de iniciativa revela à sociedade a
preocupação da empresa e sua crença de que só uma
sociedade saudável pode gerar empresas saudáveis.
Responsabilidade social no Brasil
O investimento social deixa de ser um apêndice
no cotidiano das empresas e passa a ser um fator
motivacional no negócio. Empresários viabilizam
ações sociais direcionadas aos seus funcionários e
familiares, bem como à comunidade, geralmente em
volta de sua empresa.
As enormes carências e desigualdades sociais
no Brasil conferem à responsabilidade social
empresarial uma relevância ainda maior. Diferentemente
do sentimento ou expectativa com relação ao governo,
a sociedade brasileira tem repassado às empresas, de
certa forma, o cumprimento de um novo papel no
processo de desenvolvimento, isto é, serem atores de
mudança social, construtores de uma sociedade melhor.
No Brasil, o movimento de valorização da
responsabilidade social empresarial ganhou forte
impulso na década de 90, mediante a ação de entidades
não-governamentais, institutos de pesquisa e empresas
sensibilizadas para a questão.
Desde o final dos anos 80, o trabalho do Instituto
Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
passou a desenvolver e mobilizar ações políticas,
campanhas públicas, monitoramento de processos
legislativos e políticas públicas tendo como figura
principal um de seus fundadores, o sociólogo Herbert
de Souza, o Betinho.
Atualmente, o Ibase, além de continuar
defendendo causas públicas, trabalha também com o
exercício da responsabilidade social através da idéia
de se desenvolver empresas-cidadãs, comprometidas
com a qualidade de vida da sociedade e que, por meio
de seu Balanço Social, apresentem seus investimentos
nos mais diversos projetos sócio-culturais.
A promoção do Balanço Social (que divulga os
investimentos realizados pela empresa na área social e
para onde são destinados) é uma de suas expressões e
tem logrado grande repercussão. O principal dirigente da
entidade, Betinho, semeou convicções que hoje se
transformaram em conquistas concretas e estão mudando
a realidade social brasileira. A responsabilidade das
empresas públicas e privadas com o bem-estar da
comunidade é uma delas.
O Ibase criou um selo pelo qual as empresas
com preocupação social poderão mostrar através de
seus anúncios, embalagens de produtos, balanço social
e campanhas publicitárias – que investem em educação,
saúde, cultura, meio ambiente, enfim, em tudo aquilo
que é preciso preservar.
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.13, maio/jun. 2001
Além do selo, um outro símbolo de avanço na área
é a obtenção de certificados de padrão de qualidade e de
adequação ambiental, como as normas ISO, que
empresas brasileiras têm obtido gradativamente.
A iniciativa privada tem conseguido agir em
problemas de difícil solução. Um exemplo é o número
expressivo de empresas que adotaram o selo Empresa
Amiga da Criança, da Fundação Abrinq pelos Direitos
da Criança, que luta pela erradicação do trabalho infantil
no Brasil. No mês de junho último, a Fundação aumentou
as exigências para a obtenção do selo, incluindo ações
de educação e saúde. Essa mudança se deu em virtude
da boa receptividade por parte dos consumidores com
relação a empresas que investem no social.6
Um outro instituto que tem se destacado por
disseminar a responsabilidade social e orientar
empresas nesse segmento é o Instituto Ethos, que
recentemente criou os indicadores Ethos, os quais ao
mesmo tempo em que servem de instrumento de
avaliação para as empresas, reforçam a tomada de
consciência dos empresários e da sociedade brasileira
sobre o tema. Trata-se de uma empresa sem fins
lucrativos, fundada em 1998, que reúne mais de 306
empresas associadas em operação no Brasil, de
diferentes portes e setores de atividade. A entidade tem
como missão mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas
a gerir seus negócios de forma socialmente responsável,
tornando-as parceiras na construção de uma sociedade
mais próspera e justa. Dissemina a prática da
responsabilidade social por intermédio de atividades
de intercâmbio de experiências, publicações, programas
e eventos voltados para seus associados e para a
comunidade de negócios em geral.7
Na Conferência Nacional 2001 de Empresas e
Responsabilidade Social, realizada em junho último, em
São Paulo, o instituto lançou um guia cujo objetivo é
criar um padrão nacional de Balanços Sociais. O modelo
nada mais é do que uma ampliação do modelo proposto
pelo Ibase desde 1997. O instituto também se baseou
em propostas feitas pelo Institute of Social and Ethical
Accountability, da Inglaterra e da Global Reporting
Iniciative, que propõe obrigatoriedade de apresentação
do Balanço Social por empresas que negociam com o
governo. A idéia é aumentar o número de empresas
brasileiras que já fazem seu Balanço Social, que hoje
conta com cerca de 200 organizações.8
Recentemente, o IPEA divulgou alguns
resultados da Pesquisa Ação Social das Empresas,
realizada nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul,
abrangendo 1.752 empresas das quase 700 mil em
atuação no Brasil, constatando que boa parte delas tem
algum tipo de projeto na área social. Uma das conclusões
do estudo é que “o setor privado já pode ser considerado
como o grande interlocutor das políticas públicas do País
no tocante à ação social”.9 Como se pode observar no
gráfico 1, a seguir, o estudo mostra que a região Sudeste
possui mais empresas investindo em projetos sociais
do que nas regiões Nordeste e Sul.
Foram ouvidas pequenas, médias e grandes
empresas sobre todos os tipos de atividades sociais
que realizam, levando-se em conta, assim, um conceito
amplo de ação social, que abrange atividades não
obrigatórias realizadas para atender aos empregados
da empresa ou da comunidade em setores como
assistência social, saúde e educação.
A pesquisa revela, ainda, que os incentivos
fiscais não têm servido de grande estímulo para que as
empresas promovam atividades na área social, como
mostra o gráfico 2.
Uma outra organização que sistematiza os
investimentos sociais no Brasil oriunda da iniciativa
privada é o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
(Gife), criado informalmente no final dos anos 80 e tendo
sido formalizado em 1995, atraindo, desta forma, um
maior número de associados.10
O Gife realizou, em maio último, um estudo sobre
o investimento social no País, revelando que as
empresas doam e desenvolvem projetos sem fins
lucrativos do mesmo modo como gerenciam seus
negócios. Contratam consultores e auditores externos,
montam joint-ventures com outros doadores, investem
no mercado financeiro e formam equipes com pessoal
altamente qualificado. Isto significa dizer que a
profissionalização cresce junto com o investimento.
O grupo ouviu 48 de seus 57 associados através
de entrevistas, visitas e questionários. Entre os seus
sócios estão empresas como a Xerox, C&A, Bradesco,
Kellogg, Volkswagen, Fundação Abrinq e Instituto
Ayrton Senna. No total, os associados doam R$ 593
milhões por ano.
Conclui-se que os maiores beneficiados do
dinheiro privado e dos seus projetos estão localizados
geralmente nas imediações das fábricas ou escritórios
dos doadores: são crianças (66,7%), jovens (70,8%),
população em geral (56,2%), sociedade civil (43,7%) e
professores (41,7%).11
Para a maioria dos membros do Gife, os temas
prioritários são a educação, seguida da cultura e artes,
fortalecimento da sociedade civil, saúde e outros, como
mostra o gráfico 3.
Contudo, apesar de mostrar um significativo
crescimento, o investimento social privado ainda não é
proporcional ao tamanho do capital no Brasil. O gráfico 4
mostra a evolução dos investimentos entre 1997 e 2000.
Os promotores da pesquisa ficaram admirados
com o dado de que apenas 30% dos membros buscam
incentivos fiscais. Os doadores preferem buscar
parcerias com outras fundações ou instituições em 85%
dos casos, com o governo em 77%, com organizações
não-governamentais em 75%, e com empresas em 55%
dos casos. A busca de parceiros normalmente visa
ampliar o apoio aos projetos, trocar experiências e
aumentar o volume de recursos disponível.
Os investimentos ainda são humildes em se
tratando, por exemplo, de empresas como a Volkswagen,
que fechou 2000 com um faturamento na ordem de R$ 9
bilhões no País. A Basf, por outro lado, reserva R$ 400
milhões para pesquisas e desenvolvimento em sua
divisão agrícola. Segundo a pesquisa, ao contrário do
norte-americano, o ambiente fiscal brasileiro é inóspito
para o investimento social, com exceção da área cultural.
Num país em que 15 milhões de jovens, adultos e
idosos não sabem ler ou escrever, onde ainda tem-se um
índice de mortalidade infantil alto, apesar de ter diminuído
nos últimos anos, onde a desigualdade social e a má
distribuição de renda estão entre as piores em termos
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.14, maio/jun. 2001
GRÁFICO 1 - PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS EM AÇÕES SOCIAIS,
NAS REGIÕES SUDESTE, NORDESTE E SUL DO BRASIL
(%)
70
60
50
40
67
30
55
46
20
10
0
Sudeste
Nordeste
Sul
FONTE: Pesquisa Ação Social das Empresas - IPEA/DICOD (2001), extraído
de CAVALCANTI, Hylda. Ipea relaciona ação social das empresas.
Gazeta Mercantil, São Paulo, 29 maio 2001. p.a11
G R Á F IC O 2 - U S O D E IN CE N TIV OS F IS C A IS E M A Ç Õ E S S O C IA IS ,
PE LAS E M P R ESA S D AS R E GIÕ ES SU D E STE ,
N O R D E S TE E S U L D O B R AS IL
100
%
90
22
80
41
7
47
71
33
70
60
50
23
40
30
20
36
20
10
0
S u des te
S im
N ordes te
Não
Sul
N ã o respo nd e u
FONTE: Pesquisa Ação Social das Empresas - IPEA/DICOD
(2001), extraído de Cavalcanti, Hylda. Ipea relaciona
ação Social das Empresas. Gazeta Mercantil, São
Paulo, 29 maio 2001. p.a11
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.15, maio/jun. 2001
G R Á F IC O 3 - T EM A S P R IO R ITÁ R IO S D O S M E M B R O S D O G IF E , PAR A O IN V E S T IM E N T O S O C IA L P R IVA D O , N O B R A S IL
M elhorias h abita ciona is/sa neam ento
8,3
E s portes
10,4
Tecno logia
12,5
C om u nicaç ões
14,6
25
D esen volv im ento da eono m ia popula r
D esen volv im ento c om unitá rio
31,2
M eio am bie nte
37,5
A s sis tência s ocial
37,5
C idadania
41,7
S aúd e
43,7
F ortalecim entos de O N G s
43,7
56,2
C ultura e artes
85,4
E duc aç ão
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
F O N T E: S C H A R F, R eg ina . Inve stim e nto social p rivad o está m a is p ro fission al. Gazeta M ercantil . S ão P a ulo , 2 3 m a io 20 01 . p .4 9
G R Á F IC O 4 - E V O LU Ç Ã O D O IN V E S TIME N TO S O C IA L E P R IVA D O E N TR E
1 99 7 E 20 0 0, N O B R A S IL
C res ceram m ais d e 200 %
D im in uíram
N ão inv es tia em 19 97
6%
18%
6%
C res ceram entre
101 % e 200 %
10%
17%
13%
C res ceram até 3 0%
N ão re spo ndeu
15%
C res ceram entre
31% e 60%
15%
C res ceram entre
61% e 100%
F O N T E : S C H A R F, R eg ina . Investim en to social priva do está m ais profissio na l. Gazeta
M ercantil. S ã o P au lo, 23 m aio 2 00 1. p.49
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.16, maio/jun. 2001
mundiais, é necessário confiar na sociedade organizada
e nas organizações para que tal quadro desastroso se
transforme, já que o braço social do Estado é curto demais
para alcançar todos os bolsões de carência.
Experiências de responsabilidade social em
empresas brasileiras
Fundações e instituições de todo o mundo
estudam maneiras de mostrar às empresas que não basta
realizar ações sociais de forma isolada, mas é preciso
integrá-las aos sistemas de planejamento, avaliação,
monitoramento e em seus processos de gestão.
Do universo de empresas brasileiras que estão
engajadas em projetos de responsabilidade social,
muitas admitem que ações voltadas para o público
externo acabam se integrando ao modo de produção.
A Natura ilustra bem essa tendência. Na sua
linha Natura Ekos, demonstrou como o social acaba
incorporando o gerencial. A partir de espécies
amazônicas, vendidas por extrativistas, a empresa
investe no desenvolvimento sustentável da
biodiversidade botânica da Amazônia brasileira,
afirmando ser este o pilar de sustentação do negócio
nos próximos 10 anos. Considera, também, ser uma
experiência definitiva e transformadora na empresa,
pois aproximou-se de uma realidade que não conhecia,
as organizações não-governamentais, bem como das
comunidades de reservas extrativistas do Amapá e do
Amazonas que fornecem partidas de castanha do Pará,
andiroba ou guaraná. Como resposta, há um aumento
de consumidores que demonstram gostar e incorporar
o novo conceito do produto.12
A discussão sobre o papel da propaganda e
marketing na responsabilidade social é recente e
mostra ser este um campo muito perigoso. O alerta aos
empresários é para que não usem a propaganda para
promover as causas sociais, ou, quando o fizerem,
tenham muito critério, bom senso e ética.
Uma experiência cujos resultados de vendas e
estratégia de comunicação estão alinhados com a
filosofia da ética social é a do Boticário, que atualmente
é referência no uso de ações de preservação do
meioambiente em prol de sua imagem de fabricante
de perfumes e cosméticos.
Cite-se também o Pão de Açúcar, que pretende
investir R$ 6 milhões em atividades do Terceiro Setor,
argumentando ter construído uma nova relação com o
consumidor, amparada em conceitos de
relacionamento com o cliente, tecnologia e apoio a
causas sociais. Atualmente vem investindo em
atividades ligadas à educação, esporte, reciclagem de
lixo e preservação do meio-ambiente.13
Enfim, essas experiências são alguns exemplos
das inúmeras ações que podem ser desenvolvidas pela
responsabilidade social empresarial.
Considerações finais
Sabe-se que o investimento social privado pode
gerar saldos positivos ou negativos, dependendo do
grau de comprometimento da empresa e de sua
estratégia. A empresa precisa ter conhecimento das
necessidades da comunidade ao seu redor a da
sociedade em que está inserida, trabalhar no sentido
de eliminar ou amenizar essas carências, combinar
seu foco de negócio com o de seus clientes e criar
parcerias para maximizar sua atuação social, fazendo
disso um diferencial de competitividade. Para que todos
esses fatores estejam em harmonia é necessário um
esforço conjunto de empresários, funcionários, ONGs
e sociedade em geral.
Embora haja mudanças positivas sobre ações
sociais, somente será possível colher resultados efetivos
quando apenas as não grandes, mas as médias e
pequenas empresas incorporarem esses valores em sua
gestão. Em um país como o Brasil, a responsabilidade
social só será importante quando, numa empresa, tiver
o mesmo peso que as questões econômicas.
Espera-se que num futuro breve, as empresas
sejam julgadas pelas suas ações, pelo seu compromisso
com o social, com a ética – pelo foco nas pessoas
(funcionários, clientes, fornecedores, concorrentes e
cidadãos em geral) – e com o meio ambiente. Como já
ocorre na Europa, é muito provável que a sociedade
brasileira escolha produtos, bens ou serviços mediante
análise da responsabilidade social exercida pela
empresa. O lucro será mútuo, ganhando-se também uma
sociedade mais justa e humanizada.
.
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.17, maio/jun. 2001
NOTAS
1
MANDL, Carolina; VIANA, Diego. Pesquisadores vinculam analfabetismo e economia. Folha de S. Paulo, 27 mar. 2001.
Caderno Especial Trainee, p.2.
BALANÇO social 2001: rumo certo no desafio da injustiça. Expressão, Florianópolis, v.11, n.112, 2001. p.17.
2
3
VERGARA, Sylvia Constant; BRANCO, Paulo Durval. Empresa humanizada: a organização necessária e possível.
Revista de Administração de Empresas, São Paulo: FGV, v. 41, n. 2, abr./jun. 2001. p.21.
INSTITUTO ETHOS. Perguntas e respostas. Disponível em: <http://www.ethos.org.br>. Acesso em: 06 jun. 2001.
4
INSTITUTO ETHOS. Perguntas e respostas. Disponível em: <http://www.ethos.org.br>. Acesso em: 06 jun. 2001.
5
6
ATHIAS, Gabriela. “Amigas da criança” tem novas exigências. Folha de S. Paulo, 13 jun. 2001. Caderno
Cotidiano, p.C1
INSTITUTO ETHOS. Perguntas e respostas. Disponível em: <http://www.ethos.org.br>. Acesso em: 08 Jun 2001.
7
8
SCHARF, Regina. Instituto Ethos lança guia de balanços sociais. Gazeta Mercantil, São Paulo, 06 jun. 2001. Caderno
Administração & Marketing, p.C5.
CAVALCANTI, Hylda. Ipea relaciona ação social das empresas. Gazeta Mercantil, São Paulo, 29 maio 2001. p.A11.
9
A informação referente ao GIFE foi extraída de: SCHARF, Regina. Investimento social privado está mais profissional.
Gazeta Mercantil, São Paulo, 23 maio 2001. p.A9.
10
11
SCHARF, Regina. Investimento social privado está mais profissional. Gazeta Mercantil, São Paulo, 23 maio 2001. p.A9
12
SCHARF, Regina; ANTIQUERA, Daniel. Social entra para o coração das empresas. Gazeta Mercantil, São Paulo, 07
jun. 2001. Caderno Nacional, p.A6.
13
Informações sobre Boticário e Pão de Açúcar foram extraídas de: COMPANHIA com responsabilidade social se
destaca no marketing. Valor Econômico, São Paulo, 8 a 10 jun. 2001. Caderno Empresas, p.B2.
REFERÊNCIAS
AGLIERI, Liliam; BORINELLI, Benilson. Responsabilidade social empresarial. Folha do Paraná, Londrina, 13
set. 2000. p.3.
BALANÇO social 2001. Expressão, Florianópolis: Ed. Expressão Sul, v.11, n.112, 2001
BITTAR, Rodrigo. Pesquisa do IPEA faz mapa do investimento no terceiro setor. Valor Econômico, São Paulo, 29
maio 2001. Caderno Empresas, p.B2.
FERREIRA, Alessandra. Chama do social continua acesa. Gazeta Mercantil, São Paulo, 27 set. 2000. Caderno
Paraná, p.5.
HANAN, Samuel. Uma visão do holocausto social brasileiro. Gazeta Mercantil, São Paulo, 14 mar. 2001. p.A3
ANÁLISE CONJUNTURAL, v.23, n.5-6, p.18, maio/jun. 2001
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