Comunidade diz que construção provoca escassez de
peixe
Lúcio Távora | Ag. A TARDE
Marisqueira Geovane (à esq.) fala em prejuízos com a construção do terminal
A construção do Terminal de Regaseificação da Petrobras (TRBA), distante 4 km ao
oeste da Ilha dos Frades, que pertence a Salvador, tem prejudicado a pesca na Baía de
Todos-os-Santos, segundo os habitantes que vivem da atividade pesqueira no pequeno
povoado de Ponta de Nossa Senhora.
Escassez de peixes, aumento de lama nas bancadas dos arrecifes, sumiço dos mariscos,
risco para pequenas embarcações e prejuízos nas redes de pesca devido à intensa
movimentação de catamarãs próximo à costa da ilha são algumas das queixas feitas pela
comunidade.
Para a marisqueira Maria das Graças, 52, as escavações feitas para sustentar a "ilha de
ferro" no meio do mar, mais a navegação das embarcações a serviço da Petrobras são as
responsáveis pela atual escassez dos mariscos, entre os quais o "chumbinho" (ou papafumo) tirado da lama.
"Está a maior dificuldade para encontrar o marisco. Coisa que nunca aconteceu aqui",
lamenta Maria das Graças. Ela costuma comercializar o quilo de sambá por R$ 20. "O
sustento da gente vem da mariscagem", diz a marisqueira, que integra uma das 50
famílias do povoado.
A também marisqueira Geovane de Jesus, 42, que desenvolve esta atividade há 24 anos,
reclama de queda no faturamento da venda de marisco. "O que a gente cata nem dá para
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pavilhão Raul Seixas. Estrada de São Lázaro, 197 –
40701-230 - Salvador, Bahia. Telefone: 5571- 9929-9031. E-mail: [email protected]
comer, quanto mais para vender", diz. De acordo com ela, o siri-boia encontrado em
água rasa "sumiu".
E o sambá que restou para alimentar a família, de acordo com Geovane, ganhou
coloração
e
sabor
diferentes
após
o
começo
das
obras.
"Às vezes, não dá nem vontade de comer porque tem um gosto diferente, de gás, de
óleo", assegurou, mostrando um marisco de casca escura.
Ausência - O pescador nativo Renato Ferreira, 51 anos, afirma que a atividade está
comprometida nas águas que formam a Baía de Todos-os-Santos. Vermelhos, dentões,
ciobas, cabeçudos, budiões, guaricemas e tainhas são cada vez mais difíceis de ser
fisgados na área ao redor da ilha.
"A pesca é uma tradição que atravessa gerações de famílias aqui. E a gente perdeu a
melhor região para pescar na baía por causa da Petrobras", reclama Ferreira.
Outro pescador, Rogério Contreiras, 32, diz que peixes, tartarugas e até um golfinho já
apareceram
mortos
no
litoral
nos
últimos
meses.
"A gente coloca nossas redes de noite e, quando vamos recolher no dia seguinte, estão
todas destruídas", reclama Rogério.
Contrapartida - Na avaliação do engenheiro ambiental José Augusto Saraiva, os
impactos provocados pela obra em relação à pesca artesanal e ao turismo local deveriam
ser compensados pela Petrobras em forma de contrapartida aos moradores. "Esse
empreendimento, assim como a ponte Salvador-Itaparica, vai gerar um impacto visual
que não pode ser pago. Além disso, a população deve ser compensada de alguma
forma", diz.
A TARDE. Comunidade diz que construção provoca escassez de peixe. Disponível em:
http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/materias/1518358-comunidade-diz-que-construcaoprovoca-escassez-de-peixe. Postado em: 15 jul 2013. Acesso em: 15 jul 2013.
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