Artigo Original
Identificação de síndrome metabólica em policiais
civis do Distrito Federal, Brasil
Eliziane Brandão Leite e Vânia Cristine Cavalcante Anchieta
DOI:
RESUMO
Introdução. A definição de síndrome metabólica baseia-se na detecção de aumento do perímetro abdominal, elevação de triglicerídeos e
glicemia de jejum, redução da lipoproteína de
alta densidade – HDL colesterol e presença de
hipertensão arterial.
Objetivo. Identificar a presença da síndrome metabólica entre policiais civis durante Programa de
Inspeção Médico-Psicológica da Polícia Civil do
Distrito Federal (PIMP-PCDF).
Método. No período de março de 2008 a fevereiro
de 2009, foram avaliados 3.745 policiais da ativa
durante o PIMP/PCDF. Os servidores apresentaram-se por convocação à Policlínica da PCDF para
inspeção psicológica e médica, munidos de exames
laboratoriais. Foram analisados os resultados de
1.927 servidores: 1.433 homens e 494 mulheres. A
equipe de enfermagem realizou aferição de pressão
arterial, perímetro abdominal e medidas antropométricas em balança digital.
Resultados. O perímetro abdominal estava alterado em 68,2% das mulheres e 54,3% dos homens.
Tomando-se por base o perímetro abdominal alterado, correlacionado com os dados de hipertensão
arterial, triglicerídeos elevados, HDL colesterol
baixo, glicemia de jejum superior a 100 mg/dL, pôde-se diagnosticar a síndrome metabólica em 18,6%
das mulheres e 15,8% dos homens.
Conclusões. A síndrome metabólica foi identificada em aproximadamente um quarto dos agentes
policiais avaliados, com alerta a esse grupo de indivíduos identificados sobre a necessidade de intervenção no estilo de vida.
186 • Brasília Med 2013;50(3):186-193
Eliziane Brandão Leite – médica endocrinologista, Secretaria de Estado
de Saúde do Distrito Federal, Brasília-DF
Vânia Cristine Cavalcante Anchieta – psicóloga, mestre e doutora
em Psicologia, agente de polícia da Polícia Civil do Distrito Federal,
Brasília-DF
Correspondência: Eliziane Brandão Leite. SMPW quadra 17
conjunto 12, lote 7, casa H, Park Way. CEP: 71741-712. Brasília/DF.
Telefone: 61 8285-1300. Fax: 3245-2360.
Internet: [email protected]
Estudo realizado na Policlínica da Polícia Civil do Distrito Federal.
Conflito de interesses: nada a declarar pelas autoras.
Recebido em 12-11-2012. Aceito em 12-4-2013.
Palavras-chave. Fatores de risco; síndrome metabólica; policiais; obesidade abdominal; epidemiologia.
Abstract
Identification of metabolic syndrome in civil police
officers in the Federal District of Brazil
Introduction. The diagnosis of metabolic syndrome is
based on detection of increased waist circumference,
elevated triglycerides and fasting glucose, decreased
HDL cholesterol, and presence of hypertension.
Objective. To identify the presence of metabolic
syndrome in civil police officers during the MedicalPsychological Inspection Program from the Civil Police
of the Federal District (PIMP-PCDF).
Eliziane Brandão Leite e col. • Síndrome metabólica em policiais
Method. From March 2008 to February 2009, 3,745
officers on active duty were evaluated during the PIMP/
PCDF. They were convened by the Polyclinic PCDF for
psychological and medical evaluation. Participants were
asked to bring laboratory tests results. We analyzed the
results of 1,927 officers; 1,433 were men and 494, women.
The nursing team took their blood pressure, measured
their waist circumference and collected anthropometric
measurements using digital scales.
Results. The frequency of increased circumference
was 68.2% among women and 54.3% among men.
Considering waist circumference increases and
correlating them with data on hypertension, high
triglycerides, low HDL cholesterol, and fasting glucose
> 100 mg/dL, 18.6% of women and 15.8% of men were
diagnosed with metabolic syndrome.
Conclusions. Metabolic syndrome was identified in
approximately a quarter of the officers evaluated,
prompting the recommendation for lifestyle changes.
Key words. Risk factors; metabolic syndrome; policimen;
abdominal obesity; epidemiology.
prevalência de síndrome metabólica está associada à excessiva deposição de gordura abdominal e
é maior entre indivíduos em classes socioeconômicas mais baixas.3,4 Os componentes da síndrome metabólica, aumentam em 1,5 a 3 vezes o risco
de desenvolvimento de doenças cardiovasculares
e em cinco vezes o risco de desenvolvimento de
diabetes melito do tipo 2.5
A doença cardiovascular ocupa o primeiro lugar
entre as causas de mortalidade no Brasil. Estimase que existam hoje 366 milhões de diabéticos, de
40 a 59 anos etários, no mundo. A expectativa é de
alcançar cifras de aproximadamente 552 milhões
de pessoas em 2030, segundo dados da Federação
Internacional de Diabetes.6 O diabetes melito é uma
epidemia mundial com alta morbimortalidade cardiovascular e elevado custo socioeconômico.
No Brasil, 49% dos indivíduos maiores de 20 anos de
idade estão com sobrepeso. Em dez anos, a expectativa
é que dois terços da população brasileira alcance sobrepeso ou obesidade, segundo divulgação da Pesquisa
de Orçamentos Familiares do IBGE (2008-2009).
A definição de síndrome metabólica baseia-se na
detecção de perímetro abdominal maior que 94 cm
em homens e 80 cm em mulheres, concentração sérica de triglicerídeos maior que 150 mg/dL e glicemia de jejum maior que 100 mg/dL, HDL colesterol
inferior a 40 mg/dL para homens e 50 mg/dL para
mulheres e presença de hipertensão arterial definida como pressão sanguínea arterial maior que 130
por 85 mmHg, com algumas distinções para valores e critérios estabelecidos pelo National Cholesterol
Education Program- Adult Treatment Panel III (NCEPATP III) e International Diabetes Federation (IDF).1
A possibilidade de identificação de síndrome metabólica entre policiais civis, durante avaliação
periódica de saúde, permite alertar os acometidos
sobre maior risco de adoecimento. As condições
que caracterizam a síndrome metabólica, isoladas
ou em conjunto, podem ser fatores determinantes
de afastamento do trabalho, limitações laborais e
até aposentadorias precoces. Ao identificar um individuo como portador de síndrome metabólica o
médico, em geral endocrinologista, cardiologista
ou de outras especialidades, propõe ações de modificações de estilo de vida, reeducação de hábitos e,
às vezes, intervenções medicamentosas precoces,
com o objetivo de interferir na evolução desses fatores de risco de adoecimento e morte prematura.
A patogênese da síndrome metabólica é multifatorial. A resistência à insulina, que se associa à
gordura visceral, e a obesidade são os principais
aspectos envolvidos. Sedentarismo, idade avançada, estresse emocional, modificações hormonais e
determinantes genéticos contribuem para a prevalência com variações de acordo com a etnia.2 A
Nessa perspectiva, a identificação precoce poderá
oferecer ao policial com síndrome metabólica o reconhecimento da necessidade da busca por recursos médicos assistenciais para o restabelecimento
da saúde de modo individual, na comunidade e com
os parceiros de trabalho, por meio de programas de
incentivo à prática de atividade física, de controle
INTRODUÇÃO
Brasília Med 2013;50(3):186-193 • 187
Artigo Original
do excesso de peso, de tabagismo, de controle do
estresse entre outras ações oferecidas pela instituição policial a que pertence.
Por ocasião da realização do Programa de Inspeção
Médico-Psicológica da Polícia Civil do Distrito
Federal (PIMP-PCDF), em caráter pioneiro na instituição policial, foi realizado estudo com o objetivo
de avaliar a presença de síndrome metabólica entre
policiais civis para proposição aos gestores das unidades policiais da necessidade de abordagens preventivas e de promoção à saúde entre os policiais.
MÉTODO
Foi realizado um estudo descritivo, transversal,
com base na avaliação médica em 3.745 policiais
que compareceram à Policlínica da PCDF no período de março de 2008 a fevereiro de 2009. A convocação para avaliação médica e psicológica foi
dirigida a 4.228 policiais, mas 483 (11,8%) não fizeram avaliação médica. A identificação dos policiais
com síndrome metabólica se deu pela pesquisa
clínica durante o Programa de Inspeção Médico
Psicológica da Polícia Civil do Distrito Federal para
avaliação periódica da saúde.
Os servidores avaliados foram submetidos a exames laboratoriais, incluindo-se hemograma, glicemia, ureia, creatinina, colesterol total, lipoproteína
de alta densidade (HDL), lipoproteína de baixa densidade (LDL), lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), triglicerídeos, ácido úrico, transaminase
glutâmica oxalacética (TGO), transaminase glutâmica pirúvica (TGP), hormônio tireoestimulante
(TSH) e antígeno prostático específico (PSA) nos
homens acima de 45 anos de idade. Aqueles com
mais de 40 anos foram submetidos a radiografias
do tórax, e mulheres com idade superior a 40 anos,
a mamografia. A pesquisa de dados antropométricos foi realizada pela equipe de três enfermeiras,
com aferição de pressão arterial em equipamento
do tipo pressão não invasiva (PNI), marca Dixtal;
perímetro abdominal localizado na linha média entre a borda costal e a crista ilíaca, aferido com fita
métrica de 1,50 m, flexível, porém não distensível,
188 • Brasília Med 2013;50(3):186-193
com o paciente em pé e com os braços estendidos,
com a camisa suspensa; medidas antropométricas
em balança digital. O cálculo do índice de massa
corporal (IMC) foi feito pela fórmula da razão entre
peso em quilogramas e o quadrado da altura em
metros (peso/altura2), e classificou-se conforme os
critérios da Organização Mundial da Saúde: saudável menor de 25 kg/m2, sobrepeso de 25 a 29,9 kg/
m2 e obeso igual ou maior de 30 kg/m2.
Para a avaliação médica e psicológica os servidores
foram solicitados a assinar o termo de consentimento livre esclarecido no momento da aplicação de
questionário com dados sociodemográficos, elaborados pela coordenação médica e psicológica do programa, antes da verificação da enfermagem. Durante
a avaliação médica, os servidores foram submetidos
a exame físico sucinto, análise dos exames laboratoriais e receberam orientações gerais sobre sua condição de saúde e tiveram encaminhamento especializado quando necessário. O exame médico foi realizado
pelos treze médicos lotados na Policlínica da PCDF.
Para alcançar o objeto do estudo, foram selecionadas as seguintes características: triglicerídeos
elevados e glicemia de jejum maior que 100 mg/
dL, que asseguram a presença de síndrome metabólica nos indivíduos previamente identificados
pela equipe da enfermagem com perímetro abdominal aumentado, de acordo com os critérios da
Federação Internacional de Diabetes. Do total de
3.745 policiais civis avaliados, 2.189 tiveram os dados inseridos em computador, com software desenvolvido para a realização do Programa de Inspeção
Médico-Psicológica. Foram excluídos indivíduos
sabidamente hipertensos e diabéticos.
Para análise do tempo de serviço os policiais civis
foram separados de acordo com a matrícula desde
o início da carreira policial em até dez anos, de 11
a 20 anos e de 21 anos ou mais.
Os dados foram analisados pelo software SPSS
(Statistical Package for Social Science) versão 15.0.
Utilizou-se o qui ao quadrado para análise dos resultados. Considerou-se o p menor ou igual a 0,05
como significativo.
Eliziane Brandão Leite e col. • Síndrome metabólica em policiais
RESULTADOS
Para a pesquisa de síndrome metabólica foram analisados os resultados de 1.927 servidores: 1.433 homens
e 494 mulheres. A amostra foi composta de servidores com idades de 35 a 50 anos, com escolaridade de
2.º grau (20%) a nível superior (80%). Conforme apresentado na tabela 1, o perímetro abdominal alterado
foi encontrado em 1.116 policiais (57,9%) e foi mais
frequente nas mulheres (p < 0,0001).
Na tabela 2, apresenta-se a frequência da síndrome metabólica de acordo com o perímetro abdominal alterado e os parâmetros envolvidos em seu
diagnóstico. Observou-se que 16,5% dos policiais
tinham a síndrome metabólica, distribuídos em
15,8% dos homens e 18,6% das mulheres. A associação do perímetro abdominal com HDL baixo e
triglicérides altos e a glicemia maior que 100 mg/
dL e triglicérides altos foram mais frequentes nos
homens. Nas mulheres, a frequência maior foi com
o HDL baixo e triglicérides altos.
Tabela 1. Frequência de distribuição do perímetro abdominal
elevado entre policiais civis
Homens > 94 cm
Número
%
779
54,3
Mulheres > 80 cm
337*
68,2
Total
1.116
57,9
A presença de diabetes e pressão arterial elevada
autorreferida no questionário inicial foi diabetes em
3,4% e hipertensão arterial de 24,3% e foi mais frequente na categoria com mais de 21 anos de serviço
e no sexo masculino. As alterações das concentrações de colesterol maior de 240 mg/dL e de triglicerídeos maiores que 150 mg/dL foram mais frequentes nos servidores de 11 a 20 anos de serviço.
Quanto à análise do índice de massa corpórea nas
mulheres policiais, este foi normal em 37%, e compatível com sobrepeso ou obesidade em 32,6%. Os
homens tiveram como mais frequente o quesito
sobrepeso mais obesidade de 60,1% e apenas 12,5%
apresentou peso normal.
Na tabela 3, é apresentada a distribuição do índice de massa corpórea e a frequência de síndrome
metabólica, de acordo com o tempo de serviço.
Observa-se que, quanto maior o tempo de serviço, maior a frequência de sobrepeso e obesidade.
A maior frequência de magros, determinada pelo
Tabela 3. Classificação do índice de massa corporal e frequência
de síndrome metabólica de acordo com o tempo de serviço
IMC* (%)
< 2 5 kg/m2
> 25 kg/m2
Síndrome
metabólica
(%)
21 ou mais
8,6
60,4
43,2
11 a 20
18,4
56,2
36,5
10 ou mais
21,8
45,5
20,3
Tempo serviço
(anos)
* Índice de massa corporal.
*p < 0,0001 em relação aos homens
Tabela 2. Frequência dos componentes da síndrome metabólica entre policiais com perímetro abdominal elevado, de acordo com o sexo
Homens > 94 cm
Mulheres > 80 cm
n
%
n
%
Com a síndrome
227
15,8
92
18,6
HDL+ triglicerídeos
66
29
51
55,4
Glicemia + triglicerídeos
57
25,1
11
11,9
Hipertensão arterial + triglicerídeos
37
16,2
8
8,6
HDL+ glicemia
27
11,8
11
11,9
Hipertensão arterial + glicemia
24
10,5
2
2,1
HDL+ hipertensão arterial
16
7
9
9,7
Brasília Med 2013;50(3):186-193 • 189
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Tabela 4. Prática do exercício físico de acordo com o tempo de
serviço entre homens e mulheres
Tempo serviço
(anos)
masculino (%)
feminino (%)
sim
não
sim
não
21 ou mais
18,6
11,1
16,8
17,8
11 a 20
22,8
9,3
19,1
14,6
10 ou mais
17,5
13,9
20,3
17,7
índice de massa corpórea, foi observada naqueles
com menos de dez anos de serviço. A frequência
de síndrome metabólica também aumentou com o
tempo de serviço de maneira significativa.
Quando observado por faixa etária, entre os portadores de síndrome metabólica, 130 policiais
(87,8%) tinham mais de 40 anos. Foram identificados 25% do contingente de servidores com mais
de dez anos de carreira policial como padecentes
de síndrome metabólica.
A análise da prática de exercício físico ocorreu
em uma amostra de 426 servidores e, de acordo
com o tempo de serviço, observou-se que as mulheres são as que mais praticam exercício físico.
A tabela 4 mostra que a prática é mais frequente
entre os servidores com 11 a 20 anos de serviço
(22,8%), seguidos por aquelas com menos de dez
anos de serviço (20,3%).
DISCUSSÃO
Nesta pesquisa, constatou-se que 16,5% dos policiais civis do Distrito Federal tinham a síndrome
metabólica e que a frequência foi semelhante entre
os sexos. Os componentes da síndrome metabólica
correlacionados com a presença do perímetro abdominal elevado foram o HDL baixo e os triglicerídeos aumentados.
A prevalência de síndrome metabólica pode ser
muito variável, com índices abaixo de 10% ou
15% como os encontrados em trabalhadores administrativos da indústria do petróleo.7 Apesar
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das diferenças de faixa etária, em amostra aleatória de 240 moradores (25 a 87 anos) do distrito de
Cavunge, no semiárido da Bahia, foram identificados 38,4% mulheres e 18,6% homens adultos com a
síndrome.8 A explicação para essas variações pode
estar relacionada aos métodos diagnósticos aplicados e às variáveis de faixa etária.
Na capital Vitória, a prevalência da síndrome metabólica foi 29,8%,9 semelhante à do Distrito Federal,
onde a prevalência foi 32% sem distinção de sexo.10
A presença de síndrome metabólica em 16,5% dos
policiais civis do Distrito Federal é inferior a esses
dados. Mas, quando se observa a prevalência entre
categorias de trabalhadores, é próxima à dos 17,6%
dos trabalhadores da Marinha do Brasil com síndrome metabólica.11
Considerando-se a categoria funcional, entre motoristas de caminhão do sexo masculino, foi identificada
a prevalência de 18,8%12 e 24% da síndrome,13 concordante com a prevalência observada entre os policiais
civis masculinos do Distrito Federal de 15,8%.
No Distrito Federal, entre os policiais civis a síndrome metabólica foi mais frequente, 43,2% naqueles
com mais de 21 anos de carreira, dados muito próximos dos encontrados entre os marinheiros, com
40% de casos da síndrome em maiores de 40 anos
de idade.11 Nos dados encontrados entre os trabalhadores administrativos da indústria do petróleo,
há indicadores que sugerem forte relação com a
faixa etária, em que indivíduos acima de 40 anos
têm 3,8 vezes maior possibilidade de ter a síndrome. O fato está relacionado à associação entre o
envelhecimento e a patogênese do distúrbio metabólico,8 especialmente relacionado ao aumento da
obesidade visceral nas faixas etárias maiores.
Referente ao índice de massa corpórea, 45% a 60%
dos agentes policiais do presente estudo apresentaram sobrepeso ou obesidade em associação direta
com o tempo de serviço. O perímetro abdominal
aumentado esteve presente em 68% das mulheres
e em 45% dos homens, características também observadas entre motoristas do sexo masculino, com
82% dos participantes com sobrepeso ou obesidade
e 58% com aumento do perímetro abdominal.13
Eliziane Brandão Leite e col. • Síndrome metabólica em policiais
Quanto à identificação de pressão arterial elevada
mais frequente na população de policiais com mais
de 21 anos de exercício profissional, este achado é
condizente com a maior frequência de hipertensão
arterial em adultos com mais de 40 anos etários.
Segundo dados do Ministério da Saúde, 24,3% da
população brasileira estão hipertensos e a incidência cresce à medida que a idade aumenta.14 A pressão arterial elevada em homens e circunferência
abdominal aumentada em mulheres eleva em cinco
vezes o risco de síndrome metabólica, de acordo
com amostra populacional do Distrito Federal.10
Entre os policiais civis do Distrito Federal, o perímetro abdominal aumentado foi mais frequente
entre mulheres do que entre homens (p < 0,0001) e
18,6% delas apresentaram a síndrome em questão.
Os dados mais relevantes na associação com síndrome metabólica entre os policiais civis do
Distrito Federal foram o HDL colesterol baixo e
triglicerídeos elevados, em ambos os sexos, fatores
concordantes com os observados em estudo com
policiais venezuelanos.15 Os triglicerídeos elevados tiveram maior relevância no entanto. Entre os
marinheiros, o HDL baixo também foi o fator mais
frequente, seguido pela pressão arterial elevada.11
Entre motoristas do sexo masculino, os níveis pressóricos, seguidos pelos triglicerídeos elevados foram os mais encontrados quando se utilizaram os
critérios diagnósticos da síndrome metabólica pela
ATP III naqueles profissionais.13
Vários autores citam forte relação do tabagismo, prática atual ou referência passada (ex-tabagista) com o
distúrbio em estudo, pela indução a resistência à insulina e hiperinsulinemia16 e, apesar de o tabagismo
estar presente nos relatos dos policiais durante a realização do Programa de Inspeção Médico-Psicológica
em aproximadamente 15% dos servidores, não foi
objeto do presente estudo essa correlação.
Durante a pesquisa que utilizou a base de dados
coletados do Vigitel, observaram-se associação de
maior idade, atividade física insuficiente e excesso
de peso em ambos os sexos como fatores de risco
identificados como pertencentes à síndrome metabólica.14 Entre os fatores de proteção, ficou configurada a alta escolaridade entre mulheres, fato
citado por outros autores,17 dado este confirmado
como único fator de proteção para desenvolvimento de síndrome metabólica na população do
Distrito Federal estudada.10 Dentre os policiais civis do presente estudo, 80% tinham escolaridade de
nível superior e, assim, não foi possível constatar a
correlação de escolaridade com a proteção contra
a síndrome, pois a prevalência foi pouco inferior à
encontrada entre os motoristas de caminhão, que
tiveram escolaridade em grau de até o ensino fundamental em 68,1%12 e 71%.13
No presente estudo, a prática de exercícios físicos
foi mais frequente entre as mulheres e inversamente proporcional ao tempo de serviço em ambos os sexos, porém não foi objeto de comparação
desta pesquisa quanto à associação com síndrome
metabólica. Alguns autores relataram associação
positiva com o desenvolvimento da síndrome entre policiais militares quanto ao grau de inatividade física e a maior faixa de idade.15 Entre militares da Marinha brasileira, notou-se a constância
da presença de obesidade abdominal no fenótipo
da síndrome metabólica, a presença do tabagismo, a baixa atividade física e o fator idade como
fatores de risco independentes para a ocorrência
do distúrbio em análise.11
Dentre as limitações do estudo, cita-se a falta da
distinção nos turnos de trabalho entre os policiais
analisados em correlação com a presença de síndrome metabólica. Entre policiais norte-americanos avaliados para identificação da síndrome, observou-se ser esta mais frequente entre os agentes
policiais que trabalhavam em plantões noturnos,
30% de casos da síndrome superior à prevalência
estimada para aquela população de 21,8%, e foi
mais frequente em policiais mais jovens.18
As principais características encontradas entre os
policiais civis no presente estudo foram presença
de sobrepeso e obesidade, nas faixas etárias e de
tempo de serviço maiores, presença de HDL colesterol baixo e triglicerídeos elevados.
A atividade policial é caracterizada por períodos
de intenso estresse, jornadas de trabalho longas
e dificuldades de seguimento ao planejamento
Brasília Med 2013;50(3):186-193 • 191
Artigo Original
alimentar satisfatório. A prática de plantões, alternados com períodos de folga, também interfere
com o planejamento dietético e com a prática regular de exercícios físicos, fatores implicados diretamente na patogênese da síndrome metabólica.2 A
relação direta, demonstrada pelo fator idade com
a síndrome, atingirá servidores em fase próxima à
aposentadoria e com grande impacto na qualidade
de vida nessa fase da vida.
A intenção deste primeiro Programa de Inspeção
Médico-Psicológica da Polícia Civil do Distrito
Federal foi possibilitar ao servidor acesso a informações sobre sua condição de saúde e orientações
para modificações de estilo de vida prejudiciais a
sua saúde e ao seu bem-estar e propiciar, bem como a criação de uma base de dados. O estudo tem
limitações relacionadas à utilização de dados secundários, os quais não foram colhidos com a finalidade precípua da análise realizada.
A identificação precoce desses componentes sindrômicos em policiais possibilitou à equipe de
saúde promover orientações ao servidor quanto
à necessidade da procura por tratamentos especializados. Todos receberam recomendações para consultas com cardiologista, endocrinologista,
atendimento nutricional e sugestão para prática
de exercício físico. Permitiu, ainda, a apresentação de propostas de programas aos gestores da
Polícia Civil do DF, que favoreçam as mudanças
para um estilo de vida saudável aos servidores
que atuam na área de segurança pública e, como
primeiro impacto, sensibilizou o próprio policial
para o autocuidado.
Ressalte-se que são necessárias políticas públicas
de promoção da saúde, que possibilitem a interferência em fatores modificáveis do estilo de vida, os
quais provocam grande impacto na prevenção e no
tratamento da síndrome metabólica. O diagnóstico clínico de populações de risco deve ocorrer, e a
responsabilidade por ações de promoção da saúde
além do caráter individual deve ser compartilhada
pelo poder público.
192 • Brasília Med 2013;50(3):186-193
Agradecimentos
As autoras agradecem a todos os servidores da
Polícia Civil do DF que tornaram possível esta
pesquisa, em especial à psicóloga Ester Ribeiro
Carvalho por colaborar na elaboração do pré-projeto de pesquisa de obesidade e síndrome metabólica entre policiais; ao Dr. José Ribamar Ribeiro
Malheiros – idealizador do Programa de Inspeção
Médico-Psicológica, perito médico da PCDF – exdiretor da Policlínica da PCDF e ao Dr. Cleber
Monteiro de Carvalho – ex-diretor geral da PCDF
por ter acreditado, apoiado e tornado possível
a realização do Programa de Inspeção MédicoPsicológica no período de 2008 a 2010.
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Identificação de síndrome metabólica em policiais civis do