Fundo Soberano de Angola Inovação Innovation No bairro do Golf a assistência não resistiu aos passos do Manequim do Arraso, bailarino de Tony Amado. In the Golf neighbourhood, they soon give in to the steps of Manequim do Arraso, a dancer of Tony Amado. Índice Ficha técnica Imprint todos Edição n° 4 Abril 2015 Edition n°º4 April 2015 todos é uma publicação do Fundo Soberano de Angola todos is a publication of the Angolan Sovereign Wealth Fund Edifício Metrópolis, R/C-Mezzanine Rua Kwamne N’Krumah, n° 217-221 Caixa Postal 6869 – Luanda República de Angola Tiragem Circulation 15 000 Exemplares Fotografia Photography Anita Baumann Produção Production WE Communications www.todos.ao © 2015 34 A inovação é, para Shunnoz e Tekassala, “a reformulação de conceitos” Innovation involves “reformulating concepts”, say Shunnoz and Tekassala Histórias Stories Kuduro: Inovação Irreverente Kuduro: Irreverent Innovation 16 Entrevista com Tony Amado Interview with Tony Amado 18 Mentes Brilhantes Brilliant Minds 30 Biodiesel, o Melhor Caminho Biodiesel, the Best Approach 8 Esta dança envolve também humor e “caras feias”. This dance also involves humor and “ugly faces”. Visões Visions Albano Kanga e Emeka Okafor Educar é Crucial Education is Crucial 52 Sendji Dias: “Economia mais Competitiva” “A more Competitive Economy” 56 “A Inovação não tem Fronteiras” “Innovation has no Borders” 44 58 Meu Futuro My Future 5 Editorial É inquestionável que Angola é e será a cada vez mais diferente da sociedade que existiu na era dos nossos ancestrais, na era colonial, na da economia planificada ou memoravelmente no período das nossas infâncias. Com mais de 26 milhões de habitantes, o País junta-se às nações com o crescimento populacional mais elevado do mundo. Segundo observações do presidente inaugural da Sociedade de Economia Ecológica para África (ASEE), vários estudos indicam que Angola se insere num continente onde, nos próximos cinco anos, cerca de 128 milhões de lares beneficiarão de renda discricionária e o consumo nos principais centros urbanos ultrapassará 1,4 triliões de dólares por ano. A população em idade activa alcançará 1,1 bilhões em 2040 e, na generalidade, o continente alcançará 2,4 bilhões de habitantes em 2050; dos quais 54% representarão a maior concentração geográfica de jovens no planeta. As bases do imperialismo global, que sustentam o distinto padrão de vida europeu, resultam da dedicação de empreendedores como Vasco da Gama e Cecil Rhodes. A utilização arrojada das tecnologias ora existentes por parte destes sonhadores inspira a reorientação e aplicação dos recursos do continente Africano para o atendimento das carências das suas populações até os nossos dias. O sucesso de Angola dependerá igualmente da audácia de visionários que, ao exemplo de da Gama e Rhodes, concretizem propostas inovadoras, que satisfaçam cabalmente a demanda dos seus compatriotas. Esta edição mergulha o leitor nas aventuras de profissionais que, em busca de novas soluções, transcendem as limitações infraestruturais, industriais e contextuais que servem de pretexto para a apatia dos mais cépticos. O Fundo Soberano de Angola pretende que a audácia dos inovadores aqui retratados inspire outros sonhadores que com todos nós construirão a nova Angola. José Filomeno de Sousa dos Santos Presidente do Conselho de Administração do Fundo Soberano de Angola Chairman of the Board of Directors, Angolan Sovereign Wealth Fund 6 It is unquestionable that Angola is now and will only ever become more different to the societies that existed in the era of our ancestral forefathers, in the colonial era, during the planned economy or memorably during the period of our own childhoods. With over 26 million inhabitants, the country is swiftly turning into one of the nations with the highest rates of population growth worldwide. According to observations by the inaugural president of ASEE – the African Society for Ecological Economics, various studies demonstrate that Angola will join a continent where around 128 million new households will benefit from discretionary income and consumption in the main urban centres exceeding $1.4 trillion annually within the next five years. The population at an active working age will amount to 1.1 billion in 2040 and, in overall terms, the continent’s population shall hit 2.4 billion inhabitants in 2050; of whom 54% shall represent the largest geographic concentration of young persons on the planet. The foundations of global imperialism, which sustain the distinct European pattern of life, result from the dedication of entrepreneurs such as Vasco da Gama and Cecil Rhodes. The wide reaching adoption of technologies never existing to these dreamers inspired the restructuring and application of the resources of the African continent to meet the needs of their own populations and ongoing into contemporary times. The success of Angola shall equally depend on the audaciousness of its visionaries who, following the examples of da Gama and Rhodes, attain innovative goals that so very well satisfy the needs and demands of their compatriots. This issue takes its readers on adventures through the professions and their members who in searching for new solutions transcend the infrastructural, industrial and contextual limitations that serve as a pretext for the apathy of the most sceptical. The Angolan Sovereign Wealth Fund hereby seeks that the audaciousness of the innovators portrayed here inspires other dreamers who shall join with us all to build the new Angola. KUDURO ‘‘Os Muchachos” (bailarinos) de Tony Amado são verdadeiros animadores. Página anterior: Dama Ludmila é uma das cantoras de referência do Kuduro feminino. Tony Amado’s “Os Muchachos” (dancers) are genuine animators. Previous page: Dama Ludmila is one of the lead singers in female Kuduro. “O Kuduro tem a sua génese na periferia, e tem atraído as massas para os espectáculos.” “Kuduro finds its origins on the periphery and pulls in the masses.” Tony Amado, Kudurista O quarteto Sweet Boys dança há cinco anos no Sambizanga. Página anterior: O Festival Dizkuduru atraiu centenas de espectadores no distrito do Sambizanga. For the last five years, the Sweet Boys quartet has danced in Sambizanga. Previous page: The Dizkuduru Festival attracted audiences of hundreds to Sambizanga district. KUDURO – Adrenalina, agitação, velocidade, alegria, ritmo e muitos mais rótulos podem ser atribuídos ao Kuduro. Este estilo de dança e música atravessou fronteiras e é sentido em todo mundo. Quando se pergunta a sua origem, Angola é a resposta. Poucos resistem a este estilo que tem feito a alegria de crianças e adultos. A dança tem a ginga de África e os toques misturam humor, perícia e inovação. Há mais de 20 anos a fazer os angolanos e o mundo dançar, o Kuduro é actualmente o estilo de dança mais representativo do país. Ninguém resiste à batida e à dança contagiantes. Cerca de três gerações passaram e a música continua enérgica a fazer mossa nas pistas de dança da Europa, Ásia e Américas. O espírito inventivo e a criatividade estão com os angolanos e desta realidade ninguém diverge… KUDURO – Adrenalin, excitement, speed, happiness, rhythm and many other labels get applied to Kuduro. This style of dance and music has hopped borders and gone global. When asking about its origins, Angola is the answer. Few are able to resist this style that brings happiness to all age groups. The dance has the essence of Africa and its beats mix humour, great skill and innovation. Setting Angolans and the world dancing for the last two decades, Kuduro currently represents the country’s most representative style of dance. The beat proves irresistible and the dance contagious. Three generations have come and gone and the music continues, energetic and packing out dance floors across Europe, Asia and the Americas. Angolans come with inventive and creative spirits and we all agree on that… 12 “O Kuduro não é só visual, tem de se inovar também na escrita.” 14 “Kuduro is not only visual, you also innovate in the lyrics.” Sacerdote, Kudurista 15 “Há que preserva r o kuduro” “We need to preserve kuduro” O músico pretende lançar o sexto álbum ainda este ano The musician plans to launch his sixth album later this year Natural de Malanje, província que deixou em 1992, devido à guerra, Tony Amado chegou a Luanda onde alcançou os píncaros da fama ao criar a música “Ambakuduro”. Acompanhe a entrevista realizada na Centralidade do Kilamba, onde o cantor reside... What would you change today in Kuduro? O que mudaria hoje no Kuduro? A composição, os arranjos, a qualidade de música, a distribuição através de editoras internacionais e o respeito pelo padrão de sonorização internacional, ou seja, a masterização, são as inovações que devem ser feitas, porque muitos Kuduros que estão no ar são crus. De que sonoridades “bebeu”? Bebi do tema “I like to move it”, do músico Reel 2 Real, e de alguns músicos da nossa praça. Na vertente da dança inspirei-me no filme Duplo Impacto, cujo protagonista era o Jean-Claude Van Damme, conhecido como o filme dos gémeos Alex e Chad. Depois inverti à minha maneira, trazendo um Kuduro com as suas características próprias de dançar e cantar. De lá para cá, o que aconteceu? Uma grande luta, atendendo ao conservadorismo. Apareci na televisão em 1996, no programa “Conversas no Quintal” e a partir deste programa as coisas expandiram-se e a minha vida mudou completamente. Mudou em que sentido? Tornei-me numa figura pública de um dia para o outro, por causa daquele programa. Senti a diferença no tratamento pelos fãs, isso deu-me motivação extra para continuar a trabalhar. O Kuduro é actualmente aquilo que sonhou? Talvez tenha ultrapassado os limites do que sonhei... Julguei que seria uma coisa apenas nossa, mas atravessou barreiras e espalhou-se pelo mundo. Fico feliz de saber que o Kuduro é o garante de emprego para muitos jovens, pessoas que vêm de baixo, como é o meu caso. Como define o Kuduro? Kuduro + Angola = Tony Amado (risos). É um estilo que, a nível rítmico, sofre influências quer do n’dombolo (da RDC) quer do kwaito (da África do Sul). A nível das coreografias, como surgiram as caretas ou “caras feias”? Em princípio nós íamos buscar inspiração aos desenhos animados. Às vezes invertíamos as danças e era dançar “matumborizadamente” (sem maneiras), foi aí que introduzimos as “caras feias”, para inserir humor no Kuduro. Como se mantém o Kuduro no topo? Temos muitos talentos, é mister que os empresários invistam neste estilo. Precisamos também de dar educação musical aos jovens, aulas de educação moral e cívica e, depois, projectá-los internacionalmente. Eu tenho o projecto da Casa do Kuduro, que será um espaço multifacetado com biblioteca, sala de espectáculos, enfim, esse é o contributo que quero dar, mas devo sublinhar que precisamos preservar o nosso Kuduro. 16 Born in Malanje before leaving in 1992 due to war, Tony Amado arrived in Luanda where he sprang to fame with “Ambakuduro”. We went to Kilamba where the singer lives for this interview... The composition, the arrangements, the quality of music, distribution by international record companies and the respect for international sound standards, thus, mastering the form and the innovations needed as there are many Kuduros out on the airwaves that sound raw. What are your sources of sound inspiration? I got that from “I like to move it” by the musician Reel 2 Real and some musicians from around here. In terms of dance, I was inspired by the film Double Impact, with Jean-Claude Van Damme starring and known as the film with the Alex and Chad twins. Then, I reinvented it my way, creating a Kuduro with its own dancing and singing style. From there to here, what happened? A great struggle when considering the then conservatism. I appeared on television in 1996 on “Conversas no Quintal” (“Backyard Chats”) and from then on things began picking up and my life changed completely. Changed in what sense? Because I became a public figure overnight. I felt the difference in the treatment given by fans and that gave me extra motivation to continue working. Is Kuduro now what you dreamed of? Perhaps it has already exceeded the limits to my dreams... I believed that this would only be for us but it has spread worldwide. I’m very happy to learn that Kuduro guarantees the employment of many young persons and those who come up from down below as is my case. How would you define Kuduro? Kuduro + Angola = Tony Amado (laughter). This is a style that in rhythmic terms, owes its influences both to n’dombolo (DRC) and to kwaito (South Africa). In terms of the choreographies, what led to adoption of grimaces or the “ugly faces”? To start with, we were seeking inspiration from animated cartoons. We would sometimes switch the dances round and dance ‘matumborizadly’ (without any restraints) and then we introduced the “ugly faces” to inject some humour into Kuduro. How do you keep Kuduro at the top? We have a lot of talent and it’s essential that show business leaders invest in this style. We also need musical education for young persons, moral and civic education classes before boosting the international profile. I’m running the House of Kuduro project, which will be a multifaceted venue with a library, performance venue and so forth. Well, this is the contribution that I wish to make but I would really highlight the need to preserve our Kuduro. 17 Mentes brilhantes A esmagadora maioria dos inventores luta, por meios próprios, para criar projectos e ajudar Angola e o Mundo Brilliant Minds The overwhelming majority of inventors struggle to get the means needed to launch projects and help Angola and the world Para além das medalhas de ouro, prata e bronze arrecadadas na Feira Internacional de Ideias, Invenções e Novos Produtos (IENA), em Nuremberga, Alemanha, nos últimos três anos, estas cinco figuras angolanas têm-se esmerado no segmento das invenções com projectos de grande utilidade. Os nossos inventores forjaram-se na infância. Muitos expressam as suas aptidões, desmontando e montando dispositivos electrónicos complexos sem quaisquer dificuldades. Os objectivos destes homens passam por resolver os problemas que identificam no dia-a-dia, a fim de contribuir para o engrandecimento de Angola neste sector. Conheça estes briosos criadores que ainda enfrentam a barreira da angariação de patrocínios para a produção em série dos seus produtos. 18 In addition to the gold, silver and bronze medals obtained at the International Fair of Ideas, Inventions and New Products in Nuremberg, Germany, over the last three years, these five Angolan personalities have been determined in the invention of projects of great utility. Our inventors were forged by their childhoods. Many expressed their skills in dismantling and putting complex electronic devices back together. The objectives of these men expanded to resolving problems identified in their daily lives and routines and thus also helping boost the Angolan profile in this sector. Discover these proud creators who still face barriers to gaining the backers necessary to ensuring the mass production of their products. Adilson Octávio O que é? What? – Virtual dictionary of national languages. Porquê? Why? – To learn the national languages on the inspiration of my grandparents and parents. Como? How? – Translating the words of these national languages to Portuguese and vice-versa. Técnico de informática numa empresa privada, este jovem de 28 anos, natural de Luanda, explica que criou o projecto Zwela, um software que traduz palavras do kimbundo, umbundo e kikongo para o português, por causa da necessidade que tinha de se comunicar com a sua avó, Rosa Cabanga, 75 anos, e com os pais em dialecto. This 28 year old Luanda born IT specialist for a private company explained how he set up project Zwela, software translating words from Kimbundo, Umbundo and Kikongo to Portuguese because of the need he had to communicate with both his grandmother, Rosa Cabanga, aged 75, and his parents. 20 Inácio Simão O que é? What? – Candle base for recycling the wax. Porquê? Why? – For an economy of monetary value and preserving the environment. Como? How? – The broken down wax is reused through a mould. Natural de Malanje, 23 anos, desde 2011, é um dos “papões” da Feira de Nuremberga, na Alemanha. A ideia da base de vela (na foto) surgiu fruto dos cortes de energia eléctrica em Viana, onde reside, e do interesse em proteger o ambiente através do processo de reaproveitamento da cera. Born in Malanje, aged 23, he has been a bearer of a Nuremberg Fair award since 2011. His idea about a candle base (see photo) came about during power cuts in Viana, where he resides, and his interest in protecting the environment through the means of recycling the wax. 22 Bitombokele L. Gomes O que é? What? – Tunga: new Mandombe construction technology. Porquê? Why? – For resolving the habitation problems in African villages. Como? How? – Works based on a new type of building block that slots in with a 50% degree of safety. O Mandombe é um sistema de pensamento africano desenvolvido por David Wabeladio (RDC), em 1978, que foi professor deste (de castanho, à esquerda). A medalha de bronze arrebatada na IENA, Alemanha, deveu-se às novas implicações, dentre as quais o Tunga – a tecnologia de construção Mandombe. Mandombe constitutes the African system of thought proposed by David Wabeladio (DRC) in 1978, who was his teacher (on the left, standing). The bronze medal won at the Fair stemmed from new implications for this system and including Tunga – the Mandombe construction technique. 25 Ricardo Figueiredo O que é? What? – Automatic window cleaning machine. Porquê? Why? – Thus no longer requiring people to hang from buildings. Como? How? – Works on electricity and steam. Em 1969, o homem chegou à Lua. No mesmo ano, a 19 de Setembro, nascia este inventor. Criou uma máquina automática de limpar janelas a vapor, entre outras invenções, este cidadão “angolense” recorda que registou a sua primeira patente em 1988, um adaptador de funil. In 1969, man reached the moon. In the same year, on 19 September, this inventor was born. He has invented an automatic steam powered window cleaner among his other inventions; this ‘Angolense’ citizen recalls how he submitted his first patent for a funnel adaptor in 1988. 26 Alcino Gomes O que é? What? – System to repair planes in midflight and put out fires. Porquê? Why? – To avoid planes crashing. I like planes and I seek to take advantage of that which can be resolved. Como? How? – A robotic system that repairs and puts out fires in mid air. Tem mais de 105 invenções. Saltam à vista as direccionadas para os aviões, meios por que nutre uma paixão visceral. Deseja evitar desastres aéreos. Este lobitanga, de 44 anos, pretende também ver produzidas em série camas para deficientes físicos que permitem aos pacientes fazer necessidades fisiológicas e se locomover. Having come up with over 105 inventions, mostly for planes, his passion, he wants to avoid future air disasters. From Lobito, aged 44, he also seeks to massproduce beds for the physically disabled that enable patients to satisfy their physiological needs and to move. 28 Bio diesel o melhor caminho A diversificação da economia faz-se com energias limpas Biodiesel, the best approach The diversification of the economy needs clean energies Mufuku, moringa e múcua são três das sementes de plantas oleaginosas de origem angolana que estão a ser transformadas no Laboratório de Catálise Química Fina e Energias Renováveis (LACAFINER), da Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto (UAN), criado em 2010. Esta inovação representa a esperança de uma mudança de paradigma no sector energético em Angola, e será uma mais valia para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta, na medida em que se recomenda a utilização dos biocombustíveis como substitutos de combustíveis fósseis, como o petróleo. Nesta senda, está a ser construída uma fábrica de produção de etanol, na província de Malanje. 30 Mufuku, moringa and múcua are three of the oleaginous plant seeds of Angolan origin that are undergoing transformation at LACAFINER – the Laboratory of Fine Chemical Catalyst and Renewable Energies of the Faculty of Engineering at the Agostinho Neto University (UAN), founded in 2010. This innovation represents a change in paradigm in the energy sector in Angola and represents added value to the sustainable development of our planet to the extent that this recommends recourse to biofuels as a replacement for fossil fuels such as oil. Within this scope, an ethanol production plant is under construction in the province of Malanje. This foresees the production of food oils, soap and the de- Está em vista a produção de óleo alimentar, sabão e o desenvolvimento de um fármaco para o combate ao cancro da próstata na instituição dirigida pelo químico e docente universitário Albano Kanga. Este segmento vai permitir o incremento de novos postos de emprego, e, por outro lado, evitar a saída de divisas do país, sustenta o projecto de investigação laboratorial lavrado por este especialista angolano. O também coordenador do laboratório, adstrito ao departamento de Química da UAN, fez saber que, em 2012, foi possível sintetizar biodiesel a partir do azeite palma e do óleo de amendoim, usando o metanol para determinar as propriedades físico-químicas do mesmo. Mas nem tudo tem sido um mar de rosas. “Precisamos de técnicos especializados, de um laboratório maior e mais apetrechado, precisamos de apostar na formação a partir da base e manter os técnicos que temos tido com melhores remunerações, caso contrário eles abandonam-nos”. O LACAFINER está vocacionado para formar estudantes dos cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento. No entanto, actualmente encarrega-se apenas de Adriano da Silva, que frequenta o 5.º ano do curso de Química da Faculdade de Engenharia e a equipa de trabalho ainda é diminuta: cinco pessoas. velopment of a pharmaceutical for combating prostate cancer at the institution led by the chemist and university researcher Albano Kanga. This segment also enables the boosting of new job creation and furthermore prevents the need for foreign currency to leave the country and underpins the laboratory based research projects of this Angolan specialist. The laboratory coordinator attached to the UAN Department of Chemistry conveyed how in 2012 they managed to synthesise biodiesel based on palm oil and peanut oil and applying methanol to determine the physical-chemical properties resulting. However, it has not all been plain sailing. “We need technical specialists, a larger and better equipped laboratory, we need to invest in training on core issues and retain the technical staff we have with better wages as otherwise they will all leave us”. LACAFINER is dedicated to training students on the undergraduate, master’s and doctoral degrees. However, currently only Adriano da Silva is at work while attending the fifth year of the Chemistry degree at the Faculty of Engineering with the working team remaining small: five persons. “Precisamos de técnicos especializados e um laboratório maior.“ “We need specialist technicians and a bigger laboratory.“ 32 “Inovar é o processo consciente de plantação de sementes, que projectam alcançar benefícios diferentes.” “Innovate is the conscious process of planting seeds, seeking to attain different benefits.” E Moda D uz Fiel n n u h S la e Tekasa “Incentivamos as pessoas a fazerem de seus corpos e espíritos um laboratório de experiência.” “We encourage people to turn their bodies and spirits into laboratories of experience.” “Somos páginas do grande livro da vida, temos uma história para escrever. Para tal, precisamos de educação.” “We are pages in the great book of life, we have a story to write. To achieve this, we need education.” Inovação é o processo mental Irreverentes, inovadores, revolucionários, multifacetados, únicos e profundos na sua forma de estar no palco social. É assim que apresentamos os controversos estilistas Shunnuz Fiel e Tekasala. De carácteres completamente opostos, um extrovertido outro introvertido. Um com um humor intelectual irónico e provocante, outro com um “doutoramento” na arte de observação comportamental e social. É desta belíssima mistura de carácteres e visões que nasce o Projecto Mental. Desenhado com uma paleta de cores bem africanas, com luz e vida. “A nossa maior inspiração vem do sentido vertical, onde toda criatividade e processo criativo residem: do Divino. O mundo é um ciclo de influências. O Projecto Mental é profundamente influenciado pelos mecanismos dos comportamentos que observamos no nosso dia-a-dia”, explicam. Sendo o Projecto Mental bastante inovador, “nós evangelizamos sobre a primazia do crescimento mental. A necessidade de apostarmos mais na educação e formação da mente e não do corpo. Mostramos que o futuro do nosso país depende muito dos livros, da educação e formação intelectual da própria sociedade”. É deste modo que esses dois jovens dão o seu contributo para uma sociedade melhor. Innovation is the mental process Irreverent, innovative, revolutionary, multifaceted, unique and profound in their way of being on the social stage: this is our presentation of the controversial fashion designers Shunnuz Fiel and Tekasala. Completely opposites in character, with one an extrovert and the other introvert, one also displays an ironical and provocative intellectual humour while the other is a master in the art of behavioural and social observation. Out of this wonderful mixture of characters and visions emerged Project Mental. Designed with a palette of truly African colours with light and life: “Our largest inspiration comes in the vertical sense and in which all creative processes reside: the Divine. The world is a cycle of influences. Project Mental is profoundly shaped by the behavioural mechanisms that we observe in our daily routines”, they explain. With Projecto Mental proving fairly innovative, “we preach about the primacy of mental growth. The need to put more into education and the training of our mind and not our body. We show how the future of our country depends greatly on books, on education and the intellectual advancement of society itself”. This is the way in which these two young persons are making their contribution to a better society. 40 Inovar é um trabalho árduo Innovation is an arduous task VISÕES VISIONS A inovação tem várias etapas e envolve inventores, designers, arquitectos, entre outros agentes. Neste contexto, todos são indispensáveis na projeção de Angola. Innovation contains various stages and involves inventors, designers, architects, and other participants. In this context, everybody proves essential to project Angola. “Devemos investir nas indústrias e apoiar as universidades.” Emeka Okafor “We should invest in the industries and back the universities.” Emeka Okafor “We want the authorities to invest in national expertise.” Albano Kanga “Queremos que as autoridades apostem nos quadros nacionais.” Albano Kanga Educar é crucial Emeka esgrime os seus argumentos de razão. Emeka expounds his reasoning and his arguments. EDUCATION IS CRUCIAL Inovador nigeriano defende criação de indústria automóvel africana Nigerian innovator backs the launch of an African automobile industry Albano Kanga (angolano) é PhD em Química e docente da Universidade Agostinho Neto (UAN) e Emeka Okafor (nigeriano) é arquitecto, escritor e promotor da Maker Faire Africa. Ambos partilharam preocupações relevantes sobre os caminhos para o desenvolvimento do continente africano, por isso entrevistaram-se mutuamente em Luanda, numa conversa interessante que teve como pano de fundo a inovação. Tópicos como a formação de know-how a nível do continente, a criação de centros de pesquisa e incubadoras, a partilha de conhecimentos entre Estados Africanos e os sectores fulcrais para futuros investimentos estiveram em cima da mesa. No final, Okafor, a quem coube a primeira pergunta, prontificou-se a proferir uma palestra para os estudantes da UAN num futuro próximo. emeka okafor — Como angolano que conhece o mercado laboral, os povos, os hábitos e costumes, e porque reside em Angola, qual devia ser o foco do país a nível de empregos, numa perspectiva inovadora? albano kanga — A melhor oferta de emprego, numa perspectiva inovadora, passaria por apostar em três áreas: agricultura, petroquímica e tecnologias de informação e comunicação (TIC). Na agricultura, podemos apostar na invenção de novos métodos de produção de alimentos através da pesquisa. Na petroquímica, enquanto produtores de petróleo, devemos criar indústrias para transformar o crude em produtos finitos e depois comercializá-los dentro e fora do país. Quanto às TIC, em vez de importamos softwares para gestão bancária e escolar, por exemplo, poderíamos produzi-los localmente. Não temos pessoas capacitadas para inventar alguma coisa? Acredito que há este tipo de profissionais, temos apenas de apostar neles, ou seja, nos nossos inventores e criadores. 46 Albano Kanga (Angolan) holds a PhD in Chemistry and lectures at UAN – the Agostinho Neto University while Emeka Okafor (Nigerian) is an architect, writer and promoter of the Maker Faire Africa. Both share relevant concerns over the development paths being taken on the African continent and interviewed each other in Luanda in an interesting conversation that took innovation as its background. Topics such as building up know-how at the continental level, fostering research centres and incubators, sharing knowledge between African states and core sectors for future investments were among the issues on the table. At the end, Okafor, who got the first question, agreed to give a speech to UAN students in the near future. emeka okafor — As an Angolan who knows the labour market, the peoples, their habits and customs and as you live in Angola, what should be the national focus in terms of job creation from an innovative perspective? albano kanga — The best sources of employment from this perspective requires targeting three fields: agriculture, petrochemicals and the information and communication technologies (ICTs). In agriculture, we may invest in inventing new means of producing foodstuffs through research. In petrochemicals, as producers of crude, we should establish industries to transform the crude into finished products and then commercialise them both inside and outside of the country. As regards the ICTs, instead of importing software for bank management and schools, we should produce it locally. Do we not have the persons able to invent such things? I believe that there is this type of professionals and we need to invest in them, that is, in our own inventors and creatives. How about yourself? You have worked a great deal in fairs as both a curator and a promoter. Is this the path that Africa should follow? Do we need to interact more? okafor — One of the reasons we set up the Africa Fair was to encourage the sharing of knowledge between people from different countries, regions and areas. This is a good opportunity because at the fair, Angolans may share the same information with innovators and creatives from Ghana, Senegal or other countries. The fair thus becomes a favourable and important environment for the building of a community. We have to have more people travelling and learning from other African countries. Now, another question. Do you think biodiesel might help in diversifying the Angolan economy otherwise highly dependent on oil? 47 “Investiria a nível das ciências, tecnologia e recursos humanos.” “I would invest in the sciences, technology and human resources.” Quanto a si, tem trabalhado muito em feiras, quer como curador quer como promotor. Este é o caminho que África deve seguir, é preciso interagir-se mais? okafor — Uma das razões de termos criado a Feira de África foi a de encorajar a partilha de conhecimento entre pessoas de diferentes países, regiões e áreas. É uma boa oportunidade, porque aí os angolanos podem partilhar a mesma informação com inovadores e criadores do Gana, Senegal ou de outros países. A feira é, por isso, um ambiente profícuo e importante em que se constrói uma comunidade. Temos de ter mais pessoas a viajar e a aprender de outros países africanos. Faço agora eu a pergunta. Acha que o biodiesel pode ajudar a diversificar a economia angolana muito dependente do petróleo? kanga — Começámos a investigar o biodiesel com o objectivo de diversificar as fontes de energia. Em muitos países, nos centros de investigação, fazem-se pesquisas sobre as fontes de energia renováveis. O biodiesel que produzimos é com base no óleo extraído de sementes de plantas oleaginosas de origem angolana. Fazemos a extracção do óleo de moringa, de gergelim, de amendoim, de azeite de palma, mas para uma produção à escala industrial é preciso grandes quantidades destas sementes. Por isso devemos desenvolver a agricultura, criando emprego para muita gente. Por outro lado, na transformação do óleo para o biodiesel, vamos criar fábricas e indústrias, ou seja, estaremos a criar outras empresas, diversificando por conseguinte a economia. É desta forma que conseguiremos alguma autonomia, o país já não vai depender da exportação do petróleo. Falemos agora da indústria automóvel. Na América e Ásia muitas indústrias de automóvel declararam falência, não estaremos a correr o mesmo risco se apostarmos neste sector? Albano Kanga kanga — We began by researching biodiesel with the objective of diversifying the sources of energy. In many countries, research centres are pressing ahead with projects on renewable energy sources. The biodiesel that we produce is based on the oil extracted from oleaginous plant seeds of Angolan origin. We extract oil from moringas, sesame seeds, peanuts and palm nuts but to attain industrial scale production, we need massive quantities of these seeds. Therefore, we need to expand agriculture and creating a lot of jobs along the way. Furthermore, the transformation of oil into biodiesel means setting up factories and industries and hence we are establishing other companies and consequently diversifying the economy. In this way, we are able to attain some autonomy with the country no longer dependent on oil exports. We are now also talking about the automobile sector. In America and Asia, many of these companies declared bankruptcy, are we not running the same risk by investing in this sector? okafor — That really is a very interesting question! I believe that Africa does need its own automobile industry. Henceforth, we shall be producing wheels, lights, electric and electronic components, motors for planes and ships, etcetera. Europa and Asia went through this period and it resulted in other industries. I cannot accept that we should not have our own African automobile industry as we would thus be removing ourselves from the photo- okafor — É uma pergunta muito interessante! Penso que África precisa da sua própria indústria de automóveis. A partir daí estaremos a produzir rodas, luzes, a componente eléctrica e electrónica, motores para aviões e navios, etc. A Europa e a Ásia viveram este período que deu origem a outras indústrias. Não aceito que não devemos ter a nossa indústria africana de automóveis, estaríamos a retirar-nos da fotografia da industrialização, se assim o fizéssemos. Na Universidade de Maquerere, no Uganda, há pessoas que fazem design de carros e no Quénia também. No Gana, por exemplo, já há uma fábrica denominada Kantanka que produz carros feitos localmente. É verdade que são indústrias pequenas e que as viaturas têm menos qualidade, mas temos de começar por algum lado. Quando o Japão começou não estava estruturado como está actualmente. Afinal por que motivo Angola não investe em Maquerere, ou o Egipto não apoia a Nigéria, ou o Botsuana não investe no Gana? É importante reflectirmos sobre isso. É verdade que houve falências, na América e Ásia, no entanto devemos investir na indústria de automóveis e desenvolver competências, apoiar as universidades e criar incubadoras de empresas em que os inventores se possam congregar, criar softwares e avançar com outros projectos. Volto a si. Esse processo inovativo, que é o reaproveitamento dos óleos de fritura, do óleo das sementes moringa e gergelim pode ter êxitos? De que forma? kanga — Pode sim, com certeza. Estamos a começar. Se os outros tiveram sucesso, porque não nós? Por isso queremos que as autoridades académicas apostem nos quadros nacionais. Pouco a pouco estamos a desenvolver as competências. Todos nós que estudamos nos países europeus sabemos como se faz. Com trabalho vamos conseguir. É minha vez de perguntar. Em que outras áreas devemos apostar em termos de inovação? okafor — Quando olho para um país, primeiro pergunto o que já tem e o que existe. Tratando-se de Angola, a primeira resposta é o petróleo. A segunda questão o que fazer com o crude? Falou no princípio da indústria petroquímica, mas também há os fertilizantes. É preciso olhar para a agricultura e por aí envolver o agronegócio. São áreas em que as universidades de Angola, Nigéria e de toda África se devem focar mais. É certo que cada economia tem as suas especificações, mas todos partimos de uma boa base, que é a existência de matéria-prima. 48 Kanga (à direita), é docente na Faculdade Engenharia, da Universidade Agostinho Neto Kanga (on the right) lectures at the Faculty of Engineering, Agostinho Neto University 49 Mais uma pergunta. A nível social quais os sectores prioritários para se investir, num país que está prestes a alcançar 40 anos de Independência, ou seja, uma Nação jovem. kanga — A prioridade é a Educação. okafor — Que tipo de Educação? kanga — A nível das ciências, engenharia, novas tecnologias e criação de competências. okafor — Se alguém lhe desse 10 milhões de dólares, o que faria a nível da inovação? kanga — O primeiro passo seria investir na Educação, a seguir criaria competências e recursos humanos. “Devemos criar indústrias para transformar o crude em produtos finitos.” “We should set up industries to transform crude into finished products.” Albano Kanga graph of industrialisation. At the University of Maquerere, in Uganda, there are people designing vehicles and in Kenya as well. In Ghana, for example, there is already a brand called Kantanka selling cars made locally. True, these are still small industries and the vehicles don’t have the same quality yet but we have to start somewhere. When Japan started out, it wasn’t structured in the way it is now. After all, for what reason would Angola not invest in Maquerere, or Egypt not back Nigeria or Botswana not back Ghana? It is important we reflect on this. While it’s true companies went bankrupt in America and Asia but we still need to invest in the automobile sector and develop competences, support universities and set up company incubators around which inventors may congregate, develop software and advance with other projects. Back to you. Can this process of innovation, the recycling of cooking oils, such as moringa and sesame seeds, ever achieve success? Just how? kanga — It can, certainly. But we are at the beginning. If others have been successful, then why not us? For this reason, we want the academic authorities to invest in national expertise. Step by step, we are gaining the competences required. All of us who studied in European countries know how to achieve this. With some hard work, we’ll get there. My turn for a question. In which other areas should we bet on innovation? okafor — Mas investiria em quê especificamente, num laboratório, ou na sua própria universidade com um conceito diferente? kanga — Como disse, apostaria, antes de mais, na criação de competências e recursos humanos, porque sem isso não se faz nada. A outra coisa seria criar centros de pesquisa, que tanto podem estar agregados às universidades ou não. Gostava agora de lhe fazer um convite. Estaria disponível para proferir uma palestra na Faculdade de Engenharia, da Universidade Agostinho Neto, a fim de partilhar com os meus estudantes a sua experiência na área da inovação? okafor — When I look at a country, I first ask what do they already have and what there is. In the case of Angola, the first answer is oil. The second question comes with ascertaining just what to do with the crude. At the beginning, I referenced the petrochemical industry but there is also the fertiliser sector. Attention also needs paying to agriculture and that involves agro-business. These are areas which the universities of Angola, Nigeria and all of Africa should focus on more. Clearly, each economy holds its own specific features but they all share a good basis and that is the existence of raw materials. Another question. In social terms, what are the priority sectors for investment in a country that is on the verge of turning 40 and hence a young nation. okafor — Claro que aceito. Se estiver em Angola e se houver um intérprete à disposição porque não? Gosto de falar com os jovens, a minha resposta é afirmativa. kanga — The priority is Education. okafor — What type of Education? kanga — At the level of sciences, engineering, the new technologies and building up competences. okafor — If somebody gave you ten million dollars, what would you do for innovation? kanga — The first step would be to invest in education and then I would create the competences and the human resources. okafor — However, what would you invest in specifically, in a laboratory or in your own university with a different concept? kanga — As stated, I would first of all create competences and human resources because without these you cannot do anything. Another factor would be to set up research centres that might or might not be university located. Now, I would like to invite you for something. Would you be available to give a lecture at the Faculty of Engineering at the Agostinho Neto University in order to share with my students your experience in the field of innovation? Os peritos levantaram a ponta do véu sobre inovação. A partir de agora abrem-se boas perspectivas. The experts lifted the veil on innovation. Henceforth, the prospects look good. 50 okafor — Of course I accept. When I am back in Angola and if you have an interpreter on hand, why not? I like talking with young people and my answer is affirmative. 51 “A inovação é o caminho para a modernização” O FACRA investe em projectos inovadores que influenciem a vida de todos os angolanos “Innovation is the route to modernisation” FACRA invests in innovative projects able to shape the life of all Angolans A inovação de bens e serviços oferecidos pelas empresas angolanas é um dos caminhos para a modernização e criação de uma economia nacional mais competitiva. Quem o diz é o director da área de análise de investimentos do Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA), Sendji Vieira Dias, que não prossegue sem antes distinguir inovação de invenção: “inovação é toda melhoria ou renovação de um dado produto ou serviço, que pode ser aplicada a nível organizacional, de processos ou de tecnologia, ao passo que invenção é Sendjí Dias, director da área de análise de investimentos, na fachada das instalações do FACRA. Sendjí Dias, director of investment analysis, by the FACRA headquarters facade. Innovation in the goods and services provided by Angolan companies represents one of the paths to modernisation and the founding of a more competitive national economy. That’s the position of the director of investment analysis at FACRA – the Angola Capital Asset Fund, Sendji Vieira Dias, who then immediately advances with a distinction between innovation and invention: “Innovation is all about improving or renewing a given product or service, which may be applicable at the level of the organisation, its processes or its technologies whereas invention is something that happens for the first time, that is, something that may completely change the life of an entire world”, he advanced. According to Sendji Vieira Dias, the innovative micro, small and medium companies are the “unquestionable pathway” to solidifying the business framework and consequently bringing about an acceleration in the process of diversifying sources of income and freeing 53 alguma coisa que surge pela primeira vez, ou seja, algo que pode mudar completamente a vida de todo mundo”, conceitua. Para Sendji Vieira Dias as micro, pequenas e médias empresas inovadoras são “o caminho indiscutível” para a solidificação do tecido empresarial e a consequente aceleração do processo de diversificação das fontes de rendimento, livrando-se a economia da excessiva dependência da indústria extractiva, sobretudo do petróleo. “É neste quadro que o FACRA analisa a viabilidade e investe em projectos que apresentem componentes de inovação”, explica o director do Fundo que especifica outras exigências. “O FACRA apoia projectos inovadores patenteados e já desenvolvidos, isto é, que já tenham sido objecto de vários estudos para verificar se são viáveis técnica e economicamente e se a sua implementação pode ser executada com sucesso”. Sobre projectos concretos já apoiados pelo FACRA, Sendji Vieira Dias garante existirem alguns aprovados e até financiados, mas avisa ser ainda cedo para quantificar resultados, já que se encontram em fase de arranque. “O FACRA definitivamente quer investir em ideias que vão influenciar a vida de todo angolano, ou seja, quer potenciar o crescimento da economia nacional, gerando mais mercados de trabalho para a população rural e urbana, ajudando a criar melhores condições de vida”, destaca, reiterando o perfil dos projectos financiados. Para garantir a segurança de qualquer projecto, há no entanto cuidados que qualquer criador deve ter e Sendji Vieira Dias deixa conselhos. Numa fase inicial, os inventores, criadores ou inovadores devem procurar o Instituto de Propriedade Intelectual “para o registo das suas ideias”. Apoios de departamentos ministeriais, como o da Ciência e Tecnologia e o das Tecnologias de Informação e Comunicação também são recomendáveis, assim como o de fundações dedicadas a iniciativas inovadoras com a FAI – Fundação Africana para a Inovação. O director do FACRA lembra que, apesar de não existirem parcerias oficiais, há consenso de que iniciativas ou projectos privados apresentados a esses órgãos podem ser canalizados para a instituição “que procederá à análise e investir caso se comprove a sua viabilidade”. Para Sendji Vieira Dias é importante que surjam mais instituições de apoio aos inventores e criadores, evitando o estado de frustração a que muitas vezes ficam votados esses profissionais. “Há inventores que ganham medalhas em feiras na Alemanha e em outros países e que, no entanto, quando chegam a Angola, se sentem frustrados por falta do devido reconhecimento”, lamenta, acrescentando que não vê outra forma “de Angola atingir o topo do desenvolvimento”, senão pelo apoio à criação e à inovação. “Países como os Estados Unidos chegaram muito longe com ideias e projectos altamente inovadores, por isso não se pode limitar a inovação a um certo grupo de pessoas”. O FACRA é o primeiro e até ao momento o único vocacionado para o capital de risco em Angola, direccionado a apoiar as micro, pequenas e médias empresas certificadas pelo Instituto Nacional de Apoio a Pequenas e Médias Empresas - INAPEM. “É com as micro, pequenas e médias empresas inovadoras que Angola terá um desenvolvimento maior.” “Through micro, small and medium companies, Angola will advance with development.” Sendjí Dias 54 O jovem director durante a entrevista, dentro das instalações do FACRA. The young director photographed during the interview inside the FACRA office. the economy from its excessive dependence on the extractive industry and above all oil. “It is within this framework that FACRA analyses the viability and invests in projects that feature innovative components”, explained the Fund’s director before specifying the other requirements. “FACRA supports innovative projects and that have already undergone development and thus have been the subject of various studies to verify their technical and economic viability and whether their implementation might be successfully undertaken”. Regarding concrete projects already supported by FACRA, Sendji Vieira Dias guaranteed some did exist and both approved and financed but warned that it was too early to quantify results given the projects remained at the start-up phase. “FACRA definitely wants to invest in ideas that will influence all of Angolan life and thus boost the growth of the national economy, generating a larger labour market both for rural and urban populations and helping to nurture better standards of living”, the director highlighted while reiterating the profile of financed projects. To guarantee the security of any project, there are furthermore steps that any entrepreneur should take and Sendji Vieira Dias gave some advice. At an initial phase, the inventors, creatives or innovators should seek out the Institute of Intellectual Property “to register their ideas”. Support from ministerial departments such as those of science and technology and information and communication technologies may also be forthcoming and alongside the foundations dedicated to innovative initiatives such as AIF – the African Innovation Foundation. The FACRA director recalls that despite the lack of any official partnerships, there is consensus that private initiatives and projects presented to these bodies may be channelled to this institution “that then proceeds with analysis and investment should this prove its future viability”. According to Sendji Vieira Dias, more institutions are needed to support inventors and creators and thus avoiding the frustrations so commonly afflicting such professionals. “There are inventors who win medals at fairs in Germany and in other countries and yet, when they return to Angola, they nevertheless still encounter frustration over the lack of recognition”, he regretted before adding that there is no other way “for Angola to attain the peak of development” other than by supporting creation and innovation. “Countries such as the United States went very far with highly innovative ideas and projects and hence we cannot limit innovation to a certain group of people”. FACRA is the first and thus far the only dedicated risk capital fund in Angola seeking to support the micro, small and medium companies certified by INAPEM – the National Institute of Support for Small and Medium Companies. 55 E onde podem os inovadores obter esse apoio? Nós organizamos uma competição para encontrar inovadores e providenciar-lhes mecanismos de suporte para que atinjam escala. Desde que a Fundação criou a competição há quatro anos, já conseguimos atrair 3000 inovadores de 49 países e criar uma rede de pessoas, como investidores e mentores, que os podem apoiar. We run a competition to find the innovators and then provide them with a support mechanism so that they can reach scale. Since the Foundation started the competition four years ago, we attracted 3000 innovators from 49 countries and created a network of people such as investors and mentors, who can support them. Who are the innovators? Quem são os inovadores? Qualquer pessoa pode ser um inovador! Tudo começa com uma boa ideia que precisa depois de ser desenvolvida e testada. Nós encorajamos as pessoas a concorrer em qualquer fase da sua inovação, pode ser uma ideia ainda, um protótipo ou um produto já existente no mercado. Temos recebido pedidos de cientistas mas também de pessoas sem formação formal. Os seus produtos são igualmente competitivos. Damos respostas a todos os concorrentes e isso ajuda-os a estruturar e a focar o seu pensamento. Damos enfâse ao utilizador desses produtos: queremos inovações que possam fazer a diferença para a vida das pessoas. Depois chegamos à selecção de dez finalistas que vão à cerimonia de premiação. Este ano o evento será em Marrocos. E depois o que acontece aos premiados? “A inovação não tem fronteir as” “Innovation has no borders” África é um solo fértil para inovações com relevância global Africa is a breeding ground for innovations that have global relevance Depois da cerimónia, damos acompanhamento aos finalistas para perceber quais são as suas necessidades e trabalhamos com os nossos parceiros para garantir que as inovações atingem a escala desejada. Os inovadores são todos africanos mas as suas soluções podem ser aplicadas a nível global. Um vencedor da África-do-Sul está a criar uma ração animal utilizando a proteína de ovos de mosca, imagine. Essa inovação já recebeu propostas de negócio de mais de 40 países e já angariou 11 milhões de dólares em menos de um ano depois de ganhar o Prémio Africano para Inovação. Um finalista queniano criou um produtor de biogás que se alimenta de lixo caseiro. Um produto inovador que pode ser usado em todo o mundo. Se funciona em África, funciona em qualquer parte do mundo. Quais são os próximos desafios do Prémio Africano para a Inovação? A Fundação Africana para a Inovação organiza uma competição anual que junta inovadores, mentores de projectos e investidores para garantir que estas inovações atinjam a escala pretendida e cheguem ao resto do mundo. A todos falou com Pauline Mujawamariya que lidera o Prémio Africano para Inovação. The African Innovation Foundation runs an annual competition, bringing together innovators, mentors and investors to ensure these innovations reach scale and to bring them to the rest of the world. todos met with Pauline Mujawamariya, who runs the Innovation Prize for Africa (IPA). What does innovation mean? O que significa inovação? É simples, algo é inovador se é diferente do que já existe e tem um efeito positivo e duradouro. Isto pode ser um produto novo ou um melhoramento de um já existente, pode ser um novo processo ou abordagem que se preocupa com a facilitação do usuário. As pessoas em África são boas a criar soluções. Elas sabem o que funciona, tudo quanto temos de fazer é apoiá-las. 56 It’s very simple; something is innovative if it is different from what already exists and has a positive and lasting impact. This can be a new or improved product, process or an approach that takes usability into account. People in Africa are good at creating solutions. They know what works, so all we need to do is support them. Nós questionamo-nos sempre sobre como inovar. Não queremos duplicar ou competir com outras organizações por isso analisamos sempre criticamente se existe uma necessidade real do que providenciamos. Neste momento estamos a trabalhar numa plataforma onde inovadores e investidores possam ligar-se, partilhar e crescer, que vai estar aberta a todos os inovadores que participaram no Prémio Africano para a Inovação e a um público global interessado em apoiar inovadores africanos; a inovação não tem fronteiras. Vamos continuar a ser um móbil e um catalisador do espírito de inovação em África. Anybody can be an innovator! It starts with a good idea that then needs to be developed and tested. We welcome people to apply in any phase of their innovation; it can be just an idea, a prototype or it can be a product that is already on the market. We get applications from scientists but also from people with no formal education. Their products are equally competitive. We provide all applicants with feedback, which helps them to structure and focus their thinking. We emphasize the user: we want innovations that can make a difference in the lives of people. Eventually we select a shortlist of ten finalists who then attend the prize ceremony. This year the event will take place in Morocco. What´s next for the winners? After the ceremony we follow up with the finalists and learn what their needs are. We then work with our partners to make sure their innovations reach scale. All innovators are from Africa, but their solutions can be applied globally. One winner from South Africa is providing animal feed using the protein from fly-eggs, believe it or not. That innovation has received business requests from over 40 countries and raised 11 million USD within a year after winning the IPA prize. A finalist from Kenya has created a biogas producer that feeds on household waste. This too is an innovative product that can be used all over the world. If it works in Africa, it works anywhere else. What´s next for the IPA? We always ask ourselves how we can innovate. We do not want to duplicate or compete with other organizations, so we are very critical and check if there is a real need for what we provide. We are now working on a platform where innovators and investors can connect, share and grow. This will be open to all innovators who participated in the IPA competition and also to a global audience interested in supporting African innovators; innovation has no borders. We will continue to be a mobilizer and catalyzer of the innovation spirit across Africa. And where can innovators find support? 57 Meu Futuro Trio contorcionista Começar o processo de expansão do trabalho que desenvolvem nos Estados Unidos é a estratégia destes ginastas angolanos Contortionist trio Continuing to expand their work and profile to perform in the United States is the strategy for these Angolan gymnasts “Moisés salva Israel”. Esta pequena frase pode remeter o leitor imediatamente para o Livro Sagrado mas, se adicionarmos à abertura deste parágrafo o nome do jovem Mayembe, a ideia de uma possível abordagem bíblica desfaz-se logo. Mayembe Beni (23 anos), Moisés Fernando (20 anos) e Israel Paulo (22 anos) são integrantes do grupo “Os Contorcionistas de Angola”, um trio de contorcismo criado há cinco anos, nos arredores do bairro Sapú, em Luanda. O grupo é particularmente conhecido por ser dos poucos dedicados ao contorcismo, uma prática antiga que consiste em contorcer o corpo, através de movimentos de ginástica. Os três jovens investem nove horas por semana em exercícios e o resultado são truques e movimentos absolutamente impressionantes. Para se manterem actualizados recorrem à internet e aos livros de contorcismo. “Não queremos ficar à margem da inovação”, justificam os jovens que partilham o sonho de apresentar os seus dotes nos Estados Unidos. “Lá valorizam mais a nossa arte”, argumentam. Enquanto o “sonho americano” não se realiza, o sucesso passa por vários espectáculos nas 18 províncias e a preparação para outras metas. Moisés quer ser engenheiro de petróleos e perspectiva trabalhar em offshore. Israel estuda para trabalhar no Cirque du Soleil e ser advogado e Mayembe quer ser professor de contorcionismo. Israel aprendeu a contorção aos 10 anos, já os outros dois amigos praticam há mais de uma década. Para quem quer embarcar no contorcismo a recomendação dos três é peremptória: “é preciso começar cedo e evitar as bebidas alcoólicas”. 58 “Moses saves Israel”. This short sentence might immediately recall the Holy Bible but if we add the name of the young Mayembe to the beginning of the paragraph, the image of some biblical reference immediately falls apart. Mayembe Beni (aged 23), Moisés Fernando (aged 20) and Israel Paulo (aged 22) form the group “The Contortionists of Angola”, a contortionist trio set up on the outskirts of Luanda’s Sapú neighbourhood. The group is particularly renowned for being one of the few dedicated to contortionism, a longstanding practice that consists of contorting the body through gymnastics movements. The three youths spend some nine hours per week in training and the resulting exercises feature some absolutely amazing tricks and movements. To remain updated, they take to the Internet as well as books on contortionism. “We do not want to be on the fringes of innovation”, they explain before adding they share the dream of displaying their skills in the United States. “There, they pay more value to our art”, the trio concurred. While the “American dream” has yet to happen, their success has led to various performances in all 18 provinces alongside preparations for other goals. Moisés wants to be an oil engineer and plans working offshore. Israel studies both to work at the Cirque du Soleil and to become a lawyer while Mayembe wants to teach contortionism. Israel has learned the skill since the age of ten while fellow trio members have more than a decade of experience. For those wishing to embark on this life, the trio’s recommendation is to the point: “Start out early and avoid alcoholic drinks”.