ARTE PARA CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: DESENVOLVIMENTO
HUMANO, AFETIVIDADE E RESILIÊNCIA
Art for hospitalized children: Human development, affectivity and
resilience
PAULA CAROLINE DE SOUZA1
[email protected]
HELGA LOOS-SANT'ANA2
RENÉ SIMONATO SANT’ANA-LOOS3
RESUMO
Defende-se a importância da produção e do contato com a Arte no
desenvolvimento de crianças e adolescentes que se encontram em situação de
hospitalização. Argumenta-se, com base nos pressupostos do Sistema Teórico
da Afetividade Ampliada (STAA), a favor do papel da arte na reelaboração de
sentimentos e na criação de novos recursos psíquicos através da resiliência.
Entrevistas realizadas com dois educadores hospitalares corroboram tais
pressupostos.
Palavras-chave: Hospitalização Infantil; Arte; Desenvolvimento Humano;
Afetividade Ampliada; Resiliência.
ABSTRACT
The importance of production and contact with art in the development of
children and teenagers going through a difficult period, such as hospitalization,
is here analyzed. Based on Theoretical System of Extended Affectivity (TSEA),
it is suggested that art displays a positive effect on the reworking of feelings and
on the creation of new psychological resources through resilience. Analyses of
interviews with two hospital educators corroborate these suppositions.
Keywords: Children Hospitalization; Art; Human Development; Extended
Affectivity; Resilience.
1
Graduada em Educação Artística (UFPR); Mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Educação (UFPR), linha de pesquisa: Cognição, Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.
E-mail: [email protected]
2
Graduada em Psicologia (UFRN); Mestre em Psicologia, área de concentração: Psicologia
Cognitiva (UFPE); Doutora em Educação, área de concentração: Psicologia, Desenvolvimento
Humano e Educação (UNICAMP). Professora do Departamento de Teoria e Fundamentos da
Educação e da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]
3
Graduado em Filosofia (UFPR); Mestre em Educação, linha de pesquisa: Educação, Cultura e
Tecnologia (UFPR); Doutor em Educação, linha de pesquisa: Cognição, Aprendizagem e
Desenvolvimento Humano (UFPR). E-mail: [email protected]
ARTE PARA CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: DESENVOLVIMENTO
HUMANO, AFETIVIDADE E RESILIÊNCIA4
1 INTRODUÇÃO
Parte-se da premissa de que a questão da hospitalização de crianças em
idade escolar está intimamente ligada à afetividade. Isso porque a criança está
passando por um período difícil (de crise), no qual seu corpo e sua mente estão
voltados para a superação desta crise e, por isso, sua sensibilidade está mais
elevada. Além disso, toda a sua rotina é abruptamente modificada, sendo
afastada de seus contatos habituais, e, na maioria das vezes, submetida a
procedimentos invasivos e dolorosos.
Diante de tal constatação, sentimo-nos instigados a refletir: o que tem
“valor de uso” (valor existencial) para um indivíduo que está em situação de
crise/doença? O que de imediato nos vem à mente é: o que contribui para seu
processo de superação! Em outras palavras, diríamos que essa pessoa
necessita de oportunidades (e ajuda) para se reorganizar psicologicamente a
fim de vivenciar a situação presente (adversa), bem como para se preparar
para as possibilidades futuras (que nem sempre são acompanhadas de bom
prognóstico). Em se tratando de funcionamento psicológico, explica Wadsworth
(1993) que os processos cognitivos são determinados, em grande medida, pela
afetividade. Isso porque, para assegurar sua estabilidade, o sistema cognitivo é
obrigado a filtrar e selecionar a informação que lhe é dirigida (senão seríamos
“soterrados” com o excessivo afluxo de informações do ambiente). O sistema
retém, geralmente, aquilo que reforça a sua estabilidade, e para o qual ele
percebe valor de uso. Informações nas quais o sujeito não percebe interesse
tendem a ser desconsideradas, não havendo investimento psíquico.
Assim, o objetivo principal do presente trabalho é trazer elementos para a
reflexão acerca de como a arte pode auxiliar na recuperação e no melhor
desenvolvimento dos pacientes. Pressupõe-se que, no hospital, a arte pode
beneficiar especialmente a saúde; além dos outros benefícios cognitivos e
afetivos que
arte
possui,
acredita-se, sobre
pessoas em
idade
de
desenvolvimento. É nesse sentido que pretendemos pensar na contribuição da
4
O presente artigo contém parte do conteúdo do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado
“ARTE-EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS HOSPITALIZADAS: DESENVOLVIMENTO HUMANO E
AFETIVIDADE”, realizado junto à Universidade Federal do Paraná pela primeira autora,
orientada pela segunda autora.
fusão da educação e da saúde através da arte. A disseminação da arte
humaniza o ser, e por isso, a arte dentro do hospital tem grande importância, e
é essa defesa a ser feita nessa oportunidade.
1.1 Interações e Desenvolvimento
Todos nós nos desenvolvemos. Da concepção ao último suspiro nossa
jornada de vida é um processo intrincado de interações. Para um ser se
desenvolver, crescer, amadurecer, desabrochar, se abrir, explorar suas
possibilidades e habilidades, necessariamente depende de interações. E isso
não ocorre apenas com seres humanos, mas com qualquer animal vivo. Os
animais vivem em grupos, interagem com a natureza, com o seu meio, com
outros seres de sua e de diferentes espécies.
É comum, entretanto, ao nos compararmos com outros animais, pensar
que as interações dos seres humanos são mais “difíceis” ou complexas. De
certo modo o são, já que o ser humano se instrumentaliza – o que o permite
modificar seu ambiente; é um ser simbólico – o que lhe proporciona a
possibilidade de funcionar também em nível abstrato –, entre outras coisas5.
Sua rede de interações torna-se assim mais ampliada, e, portanto, mais difícil
de administrar. Mas o que as torna complexa de fato é o desequilíbrio que
frequentemente ocorre em nossas interações. Então, podemos usar um termo
mais preciso: as interações humanas são comumente mais caóticas ou
entrópicas. Como se fossem reações químicas não balanceadas. E essas
interações não envolvem somente a relação entre seres humanos, mas
qualquer tipo de interação que vivenciamos.
E o que vem a ser entropia? A entropia é um conceito que tenta explicar certa tendência
natural de as coisas, estas entendidas enquanto sistemas, a caírem em um estado de
desordem. É a medida de caos que há em um sistema. E, por decerto, há sistemas que,
por um motivo ou outro, recebem interferências que os tornam altamente entrópicos, os
quais tendem a desaparecer; não sem antes entrarem em colapso, por conta do
desgaste gerado por seu processo sistêmico. Desse modo, na medida em que a entropia
de um sistema aumenta, aumenta também sua perda de energia – e, por conseguinte,
alarga-se seu caos interno – o que diminui sua estabilidade e seu equilíbrio em relação
ao entorno. (LOOS-SANT’ANA, SANT’ANA-LOOS, no prelo).
“A incerteza não está ligada à complexidade, mas somente ao caos ou à
entropia.” (EKELAND, 1999). Nesse sentido, defende o Sistema Teórico da
5
Para maiores explicações a respeito das prováveis diferenças no nível evolutivo entre os
seres humanos e os outros animais verificar outro artigo deste Número Temático da Revista
PsicoDom, o qual se intitula “A Afetividade Ampliada enquanto meta-teoria: breve ensaio
acerca do que nos faz humanos e repercussões para a Psicologia”.
Afetividade Ampliada (STAA) – ou simplesmente Afetividade Ampliada, como
denominam seus autores (LOOS-SANT’ANA, SANT’ANA-LOOS, 2013; no
prelo; SANT’ANA-LOOS, LOOS-SANT’ANA, no prelo) –, que se os sistemas
complexos puderem alcançar um nível aceitável de equilíbrio (homeostase,
harmonia, e por que não dizer felicidade), então estes sistemas conseguirão
controlar de maneira razoável suas ações – as quais dependem de como estes
efetivam suas interações. Assim sendo, as interações construídas pelo homem,
apesar de configurarem um sistema altamente complexo (tanto na esfera
individual quanto coletiva), podem alcançar tal equilíbrio ao compreendermos
melhor como nos desenvolvermos.
Faz-se útil aqui resgatar o que, essencialmente, significa o termo
desenvolvimento:
Encontra-se em Houaiss e Villar (2007, p. 989) que desenvolvimento pode ser definido
como o “aumento da capacidade ou das possibilidades de algo; crescimento;
progresso; adiantamento.” Ou ainda, de acordo com o mesmo autor, “aumento das
qualidades morais, psicológicas, intelectuais, etc.”. Para Abbagnano (2003, p. 241),
desenvolvimento traduz-se como “movimento em direção ao melhor.” Explica o autor
que essa noção tem precedentes no conceito aristotélico de movimento, como
passagem da potência ao ato ou explicação do que está implícito, estando
estreitamente ligado à noção de progresso – progresso no sentido amplo do termo, ou
seja, incluindo a ideia de autoatualização, como algo que constantemente assume, em
seus atos, a potência que lhe é (ou está) inerente. Neste sentido, vai ao encontro da
ideia de algo não-estático, como se referiu González-Rey (2004), mas torna-se
ampliado tendo em vista que o movimento em questão implica um direcionamento
rumo a uma condição melhor – mais elaborada, ou mais refinada, ou com mais ou
melhores recursos. (SANT’ANA-LOOS, 2013).
A literatura psicológica costuma apontar que o desenvolvimento humano
abrange os processos de transformações que ocorrem ao longo do ciclo de
vida das pessoas. Papalia e Feldman (2013), por exemplo, descrevem três
principais domínios do desenvolvimento, ou aspectos, de cada um de nós (do
eu) que evolui: físico, cognitivo e psicossocial. Em cada domínio do
desenvolvimento descrito por tais autores são estudados os padrões de
mudança e estabilidade em todos os períodos do ciclo da vida. São eles:

Desenvolvimento
físico:
padrões
de
mudança
nas
capacidades
sensoriais, habilidades motoras e saúde; crescimento do corpo e do
cérebro.

Desenvolvimento cognitivo: padrões de mudança nas habilidades
mentais, tais como aprendizagem, atenção, memória, linguagem,
pensamento, raciocínio e criatividade.

Desenvolvimento psicossocial: padrão de mudança nas emoções,
personalidade e relações sociais.
Não pretendemos, neste momento, detalhar cada um destes processos,
mas sim ampliar o conceito científico de desenvolvimento humano, focando
principalmente na questão das interações – já que, para se desenvolver,
qualquer pessoa não pode prescindir delas. Durante seu desenvolvimento, o
indivíduo constantemente explora e interage com seu meio de forma contínua e
recíproca. Por meio desta interação mútua, à medida que características
ambientais sejam favoráveis e oportunidades sejam oferecidas, ocorrem
modificações em seu repertório comportamental e na natureza funcional do
meio
(GUIMARÃES,
1988
apud
SOARES,
BOMTEMPO,
2004).
Fundamentados em Vygotsky, também Fontes e Vasconcelos (2007, p. 281)
defendem que “o indivíduo não existe isolado, ele se constrói e constrói o outro
na interação.” Seguindo tal ideia, podemos concluir que o indivíduo em
desenvolvimento é fruto de uma dinâmica interacionista, pois está em
constante interação com as pessoas ao seu redor e com o meio.
As interações do indivíduo com outros humanos e com tudo o que lhe
rodeia implicam na “afetividade” deste com o mundo. O Sistema Teórico da
Afetividade Ampliada defende que afetividade abrange tudo o que afeta o
sujeito psicologicamente, podendo causar-lhe diversos tipos de alterações
internas ou externas (SANT’ANA, LOOS, CEBULSKI, 2010). A afetividade,
portanto, está presente em todos os processos intrapsíquicos humanos, bem
como nos interpsíquicos. Tudo o que nos afeta, que de algum modo esteve em
contato conosco, interagiu com nossa psique e o resultado de tal “encontro” é
um afeto – e a qualidade desse afeto é o que determina as alterações físicas,
psíquicas e cognitivas. Oliveira (2010) discorre sobre tais “afetamentos”, que
podem também acarretar alterações físicas, compreendidas por emoções,
sentimentos, sensações, humores, paixões, os quais permeiam e movem os
pensamentos e ações humanos.
Se todos os padrões que se alteram ao longo do desenvolvimento estão
relacionados (já que se trata de um processo unificado) – e o que defendemos
aqui é que cada aspecto afeta o outro, mesmo que seja bastante difícil
circunscrever e fornecer detalhes sobre o que ocorre à medida que cada
aspecto vai afetando os demais –, logo podemos pensar o desenvolvimento
como uma “rede de interação de afetos”. E, recorrendo-se ao sentido essencial
do
termo
desenvolvimento
apresentado
há
pouco,
que
implica
necessariamente um direcionamento rumo a uma condição melhor – mais
elaborada, ou mais refinada, ou com mais ou melhores recursos, o
desenvolvimento pode ser concebido, como o faz Sant’Ana-Loos (2013),
enquanto Capacitação Autoatualizante para as Interações. Dito de outro modo,
a aquisição da habilidade de interagir em uma perspectiva dialética (a “dialética
do afetar e ser afetado”), participando do jogo constante das interações e
sempre aprendendo com elas, tornando-se “melhor” para a próxima interação é
o que, primordialmente, caracteriza o desenvolvimento de acordo com a
Afetividade Ampliada:
Isso porque a realidade, até para poder ser dinâmica, é sempre dual. Logo, para se
harmonizar, precisa realizar, de uma forma ou de outra, algum tipo de diálogo
(reatividade interacional) para haver homeostase entre os elementos envolvidos. Isto é, a
realidade está sempre necessitando “acomodar” as interações, em todos os níveis ou
dimensões. (PALUDO, 2013, p. 90).
Assim, por meio de seu sentido epistemológico esta teoria defende que
um desenvolvimento integral (do ser como um todo) depende da qualidade das
interações que vivencia.
1.2 A Qualidade das Interações e o Papel da Linguagem
Se o desenvolvimento é um processo de atualização de padrões ao longo
da vida, sempre rumo a algo melhor e mais fortalecido, e esses padrões são
construídos nas interações experienciadas, pode-se concluir que quanto
melhores forem as interações, melhor o desenvolvimento.
Vários aspectos psicossociais que influenciam no desenvolvimento têm
origem no ambiente, especialmente em fenômenos importantes como cultura,
educação, família, nível socioeconômico, etc. Sabe-se que em determinadas
faixas etárias existe um número maior de influências externas significativas no
desenvolvimento de um indivíduo. Por exemplo, podemos observar um grande
impacto no desenvolvimento de uma criança que passa a frequentar a escola.
Esse é um fator que sempre afeta uma pessoa em desenvolvimento e cada
uma processa esse afeto à sua maneira: algumas passam a desenvolver
melhor suas habilidades sociais, a comunicação e a fala. Outras inicialmente se
retraem e demoram a se adaptar à nova rotina, passando por um longo período
de transição. De qualquer maneira, com o tempo, as crianças criam recursos
psíquicos para se adaptar a essa mudança, interagindo com o meio e
aprendendo
com
ele,
reorganizando-se.
Esse
tipo
de
influência
no
desenvolvimento é nominado influência normativa, que é um evento que ocorre
de modo semelhante para a maioria das pessoas de um grupo (PAPALIA,
FELDMAN, 2013). Ainda, segundo Papalia e Feldman (2013), existem também
influências não normativas, que são eventos incomuns e atípicos que
acontecem com um indivíduo, causando grande impacto em sua vida e em seu
desenvolvimento, pois perturbam a sequência esperada do ciclo da vida. Tais
eventos podem afetar de um modo específico o desenvolvimento do indivíduo,
muitas vezes causando o que denominamos traumas.
As interações no mundo humano dependem, em grande parte, da
linguagem. O ser humano é um ser de linguagem e comunicação, e seu
desenvolvimento eficiente deve ser baseado em evoluir a linguagem – já que
este instrumento media a interação entre as pessoas. Os outros animais
também possuem uma linguagem, pois também se comunicam. Mas a
linguagem abstrata e simbólica do ser humano faz parte apenas dessa espécie.
A abstração, função psíquica humana por excelência, dá aporte ao
pensamento e à linguagem. Assim, a linguagem não se manifesta
simplesmente a capacidade de falar e de escrever. Por exemplo, os seres
humanos são os únicos animais que possuem a capacidade de se comunicar
por diversos tipos de representação, de sentir (abstrair) emoções e comunicálas diante de um pôr do sol, de uma pintura, de um espetáculo de dança ou de
uma música. A identidade humana – de uma espécie que se perfaz pelo
pensamento e pela linguagem simbólica, bem como pelos produtos que destes
emergem, como ciência e tecnologia, religião e arte – deve pautar seu
desenvolvimento em evoluir a linguagem até que alcance um uso desejável de
tal atributo: a capacidade de interagir dialeticamente, na excelência do termo,
alcançando a linguagem ampliada, uma linguagem que propicia uma “medida”
(realidade) aceitável de interação em “ordem”; e, portanto, capaz de controlar a
entropia causada pelos afetos provenientes de interações com o mundo
externo (SANT’ANA-LOOS, 2013; LOOS-SANT’ANA, SANT’ANA-LOOS, no
prelo).
1.3 A Hospitalização e seu Impacto no Desenvolvimento
Um hospital é um local caracterizado, entre a maioria das pessoas, por
sua monotonia; é geralmente descrito como um local muito limpo, com pessoas
vestidas de branco, prontas para ajudar e cuidar dos doentes. Na realidade,
sabemos que esse local tem muito mais do que isso. O ambiente hospitalar
conta com uma equipe de profissionais especializados e rotinas muito bem
estruturadas com o objetivo de manter o controle sobre as pessoas que lá
estão e sobre sua doença. “O paciente, ao entrar no hospital, tem sua vida e
seu corpo sob controle: sua pressão, sua temperatura, sua alimentação, sua
medicação e seus hábitos são controlados. Em função de todo esse controle
exercido, não sobra espaço para a subjetividade do paciente.” (PINHEIRO,
2009, p. 45).
Quando o indivíduo encontra-se em situação de hospitalização, sua
subjetividade tende a ser “excluída” com o objetivo de não “interferir” no
procedimento terapêutico. O que é uma realidade comum nos hospitais é uma
acentuada ênfase no biologismo, ou seja: a pessoa muitas vezes é
despersonalizada, sendo identificada por determinada doença, ficando, então,
em condições de completa passividade. No entanto, o que é certo, segundo
Matos e Mugiatti (2006), é que a doença não é somente física, mas revestida
de características psicossociais. O tratamento médico deveria ser direcionado
ao atendimento a uma pessoa, levando-se em conta todas as suas dimensões,
e não só a doença que está vivenciando no momento. “O aspecto biológico da
doença/hospitalização, portanto, não ocorre de forma isolada. Faz ele parte de
um intrincado complexo de sistemas, dentre as quais os de natureza
psicológica e social se associam num íntimo e intenso entrelaçamento.” (idem,
p. 89).
As crianças, que estão no auge do seu desenvolvimento físico, cognitivo e
psicossocial, ávidas por novidades e experiências, passam frequentemente por
situações estressantes e deprimentes dentro de um hospital. A própria
condição de hospitalização passa a ser a “segunda patologia”, pois muitas
vezes são expostas a situações constrangedoras, invasivas, além de muitas
vezes não se sentirem minimamente acolhidas.
A intervenção hospitalar pediátrica afeta o desenvolvimento dos
indivíduos, pois estes são isolados de sua vida anterior: Todos os seus
vínculos com o ambiente são retirados abruptamente. O ambiente hospitalar é,
geralmente, bastante monótono para crianças e adolescentes, pois não há
muitas oportunidades de exploração e interação, apenas o ambiente físico
incomum; a rotina hospitalar tornam ausentes os familiares e amigos6; além do
enfrentamento de procedimentos médicos invasivos, entre outros. Estes, por
sua vez, podem ser potencializados pela gravidade da doença e a
agressividade do tratamento, podendo desencadear na criança reações de
stress, como retraimento, medo, apatia, choro, irritabilidade, entre outras (LIPP,
1991 apud MOTTA, ENUMO, 2002).
Claro que o período de hospitalização é relativo e depende da patologia,
mas, de qualquer maneira, pode ser uma experiência traumática, pois as
condições de hospitalização podem afetar a totalidade da criança, de forma
que os seus desenvolvimentos físico, emocional e intelectual fiquem
comprometidos. Em todo caso, esses afetos são causadores de entropia, pois
as interações hospitalares muitas vezes remetem a dor, sofrimento e
isolamento, além da falta de autonomia.
1.4 Alteridade, Resiliência e Criatividade
A espécie humana parece compartilhar, além das características
biológicas, uma dificuldade de ser (SANT´ANA, LOOS, CEBULSKI, 2010). Ao
longo da vida, todos os dias, tal dificuldade necessita ser superada. Isso é o
próprio desenvolvimento: o enfrentamento dos desafios da vida, que exige do
indivíduo que este consiga superá-los sem ultrapassar seus próprios limites e
“se romper”. Essa capacidade, chamada resiliência, obrigatoriamente requer a
presença de outros, uma relação baseada na alteridade – que é capacidade de
ser o outro, pensar o outro, conhecê-lo de maneira integral. Não é uma relação
superficial; a capacidade de “ser o outro” exige do indivíduo que o compreenda
sem julgamentos. Tal relação possibilita a construção de recursos internos, ou
“suportes de resiliência – a fim de que, diante de situações de dificuldade, não
seja corrompido o ser-próprio da existência.” (LOOS, SANT’ANA, NÚÑEZRODRÍGUEZ, 2010).
6
Por mais que atualmente, tendo em vista os projetos de humanização hospitalar, um
acompanhante seja permitido, este geralmente é a mãe ou o pai e, mesmo assim, a criança
fica longe de irmãos, primos, avós, colegas, professores e animais de estimação.
Uma relação de alteridade entre eu-outro, não necessariamente são
relações com outros sujeitos, pois o “outro”, que faz parte das nossas
interações, dentro da Afetividade Ampliada, é qualquer outro: é tudo o que tem
uma identidade no mundo. Por meio das relações de alteridade, a reconstrução
da identidade dos indivíduos é sempre continuada, “possibilitando o
reconhecimento do que pertence ao eu, do que pode vir a pertencer e do que
não pertence” (LOOS, SANT’ANA, NÚÑEZ-RODRÍGUEZ, 2010). Podemos
concluir, a partir disso, que o olhar para o outro é, nessa perspectiva, um olhar
ampliado: que vê além do que comumente se vê.
Loos, Sant’Ana e Núñez-Rodríguez (2010) referenciam Cyrulnik (2001),
estudioso da resiliência, sendo que este afirma que o fato de se vivenciar
adversidades não implica necessariamente a aquisição de um trauma devido a
elas. À medida que um grande número de pessoas traumatizadas resistem a
provações e, muitas vezes, utilizam os desafios e problemas para se tornarem
mais fortes, podemos explicar esse fenômeno como envolvendo a aquisição e
a construção de recursos internos afetivos e comportamentais associados à
disponibilidade de recursos externos, sociais e culturais. Portanto, são estas
interações com o meio que permitem o desenvolvimento real e integral.
Segundo a Afetividade Ampliada (SANT’ANA-LOOS, LOOS-SANT’ANA,
no prelo), existe uma inter-relação entre as dimensões e fenômenos
psicológicos
que
possibilitam
ao
indivíduo
tornar-se
cada
vez
mais
desenvolvido. Este sistema teórico procura entender e explicar as diversas
facetas do desenvolvimento humano, analisando conjuntamente quatro
mecanismos psicológicos essenciais que compõem a psique: a Identidade, o
Self, a Alteridade e a Resiliência; os quais são autocomplementares,
interligados e inseparáveis (PALUDO, 2013). No presente trabalho focaremos
nos mecanismos da resiliência e da alteridade, que formam a base da
dimensão
criativa
e
da
dimensão
moduladora
da
psique
humana,
respectivamente (LOOS-SANT’ANA, SANT’ANA-LOOS, 2013). A criatividade
envolve a capacidade de (re)inventar (ao seu modo) e desenvolver novos
recursos de adaptação e resistência do sujeito em relação ao meio externo.
Quando uma situação se configura como adversa ou desafiadora,
geralmente produz muita ansiedade e angústia. Isso ocorre porque as soluções
rotineiras não são suficientes para resolver tal questão e os recursos
psicológicos do indivíduo já construídos não solucionam o problema, muitas
vezes por ser uma circunstância nova e que nunca foi enfrentada. Isso exige a
criação de novos recursos, pondo em ação a criatividade. Assim, a resiliência é
compreendida pelo STAA como o alicerce da dimensão criativa, a instância
humana ampliadora que congrega um conjunto de mecanismos responsáveis
por criar e disponibilizar especialmente ao self (a base da identidade do
indivíduo, segundo o STAA) recursos para lidar com o novo; logo, alimenta e
amplia o seu “banco de recursos psíquicos” (PALUDO, 2010). Logo, a
resiliência é a capacidade que permite ao indivíduo se expandir; portanto,
diretamente relacionada ao desenvolvimento.
1.5 A Arte no Hospital
O processo de desenvolvimento humano em crianças e adolescentes
hospitalizados não é interrompido pela situação de doença. O que ocorre é que
ele adquire características específicas que necessitam de maior atenção, pois
existe uma ameaça à integridade do indivíduo. Na falta de interações
qualitativamente significativas, podemos concluir, então, que a saúde física e a
saúde mental podem ser negativamente afetadas, já que a situação de
hospitalização é, normalmente, causadora de stress e entropia.
Buscando a qualidade de interações e a busca do desenvolvimento
integral mesmo em uma situação adversa, o indivíduo hospitalizado pode
encontrar na arte um meio para desenvolver recursos criativos e resilientes.
Relações de alteridade podem possibilitar fenômenos interacionais que
promovem a abstração e o desenvolvimento. E que relações são essas? No
caso do problema específico das crianças hospitalizadas, a relação de
alteridade com a arte e com os educadores poderá valorizá-las e trazer o
reconhecimento do que pertence a elas naquele momento, o que pode vir a
pertencer (quais são suas potencialidades) e o que não pertence (quais são os
seus limites), elementos que pertencem ao processo de reconstrução da
identidade.
Assim, tais interações podem propiciar relações mais equilibradas (ou
homeostáticas) com a realidade. A criação de novos recursos psíquicos
permite novas possibilidades de enfrentamento, a reelaboração da experiência
traumática e as relações de alteridade que constituem para o indivíduo uma
reelaboração de sua identidade através do outro; podendo, portanto, promover
o desenvolvimento real e integrador mesmo em uma situação muito adversa.
Uma construção saudável da identidade passa por uma íntima relação de
alteridade e resiliência. Sendo assim, uma relação de alteridade do sujeito com
a
arte
poderá
reconstruir
sua
própria
identidade
e
oportunizar
o
autoconhecimento, e nessa reconstrução, novos elementos podem entrar em
cena, como os recursos internos que serão criados para o enfrentamento do
problema, possibilitando a expansão (desenvolvimento) do ser, rumo ao seu
fortalecimento.
Além disso, a arte pode entrar como um meio recursivo de reelaboração
de sentimentos e emoções de forma catártica. A arte pode dar vazão livre as
nossas energias não utilizadas, em um processo denominado catarse,
equilibrando nosso organismo com o meio. Esta seria a função biológica da
arte: equilibrar nossas energias e transformar nossas emoções. Além de abrir
espaço para novas interações, disponibilizando o indivíduo para a linguagem.
2 METODOLOGIA
De maneira a buscar conhecer a opinião de educadores que atuam com
oficinas artísticas com crianças e adolescentes hospitalizadas do que diz
respeito ao assunto em questão, foram entrevistados dois arte-educadores que
atuam em um hospital no município de Curitiba (PR). Pretende-se aqui
demonstrar, com alguns dados presentes em trechos das falas dos
educadores, conceitos que confirmam nossos pressupostos.
As informações obtidas na presente pesquisa foram tratadas com análise
qualitativa do conteúdo das respostas dos educadores, buscando-se identificar
as principais categorias (núcleos de significação) que emergiram de seu
discurso.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir serão analisadas algumas das categorias que foram instituídas a
partir das respostas, indicando-se o tipo de conteúdo mais manifestado em
cada uma delas e exemplificando-se por meio de trechos de falas dos
participantes que representam de forma significativa tais conteúdos.
1ª. Categoria: Processos criativos e contato privilegiado com a arte
Questões sobre os processos criativos e o contato com a arte, de uma
maneira diferente daquela que os alunos têm na escola ou em outros lugares,
foram levantadas muito significativamente, podendo ser identificadas em todo o
percurso da entrevista, como exemplificam os extratos de protocolo a seguir:
Educador 1: “Os processos criativos geram na criança a oportunidade de humanizar o
seu estar, e isso está ligado a vivenciar seu próprio processo de vida.”
Educador 2: “O contato com a arte traz uma experiência estética à criança que muitas
vezes ela não vai ter na escola, ou se tiver, acaba tendo outra perspectiva, outra nuance,
porque aqui ela está internada e está em companhia dos pais. Isso faz com que ela
tenha outra possibilidade de contato.”
Os processos criativos descritos nessa categoria estão ligados com o
mecanismo da resiliência e sua dimensão criativa. Humanizar o seu estar é
tornar suas interações, que na situação de hospitalização tornam-se facilmente
entrópicas, mais equilibradas. A experiência estética que uma criança vivencia
no hospital tem outra nuance que a da escola, por exemplo, porque no hospital
ela estará sob a influência de um evento não normativo (incomum e adverso) e,
portanto, em um período sensível, quando estará especialmente receptiva a
certos tipos de experiência. Afinal, “[...] fazendo arte a criança desenvolve
flexibilidade de pensamento, senso estético, a compreensão da relação entre
as partes e o todo, bem como a visão de que a arte é um meio de conhecer e
interpretar o mundo.” (OLIVEIRA, 2010, p. 82). E isso pode muito bem ser
usado em seu favor na busca de formas de superação.
2ª. Categoria: Resgate do ser através da arte – Identidade e Resiliência,
conforme o STAA
Os extratos de protocolo a seguir exemplificam a menção ao resgate do
ser através da arte:
Educador 1: “No caso de um contexto hospitalar, os processos criativos têm uma dupla
dimensão: a dimensão do ‘bola pra frente’ e a dimensão de ela poder se enxergar, se ver
mesmo; algumas limitações, e não pensar que essas limitações são horríveis e nem
pensar que essas limitações não existem, que são duas coisas problemáticas. Acho que
as linguagens artísticas geram esse ‘poder’ de expressividade e auto-observação.”
Educador 2: “O ensino da arte é importante no hospital principalmente porque aqui o
paciente continua sendo sujeito do seu querer, do seu aprender, e o fato dele estar no
hospital não quer dizer que ele esteja indisponível para estar em contato e até mesmo
aprender as várias possibilidades que a arte traz.”
Educador 2: “Mesmo numa questão de internamento, uma situação onde tem várias
questões de focos negativos, o fato dela se perceber atuante já traz um ponto positivo
pra ela.”
Educador 1: “Os processos criativos geram na criança a oportunidade de humanizar o
seu estar, e isso está ligado a vivenciar seu próprio processo de vida.”
A auto-observação e a aceitação são processos resultantes, segundo um
dos entrevistados, do “poder” da arte. Aceitar sua condição limitante e, mesmo
assim, permitir-se criar e expressar ao mesmo tempo em que a dimensão “bola
pra frente” está presente remete-nos exatamente à dimensão criativa do
mecanismo psíquico da resiliência. Trata-se exatamente da superação da
adversidade por meio da criação novos recursos diante de uma limitação e até
mesmo gerando descobertas. Algo como: “Ok, agora a minha situação é esta.
Mas eu ainda posso pintar! Então vou fazer isso!”.
O indivíduo que está doente não perde seu potencial de aprender e criar.
A arte é trabalho criador e contribui para que o homem seja rico em
possibilidades, que exercite o seu vir a ser (qualquer que seja ele), um ser com
autonomia, mesmo agora diante de limitações físicas e emocionais. Um
indivíduo que, apesar das dificuldades, enxerga suas possibilidades cria novos
recursos para continuar explorando, criando e experimentando como fazia
antes da adversidade vir à tona. Se perceber atuante e vivenciar seu processo
de vida (e seu desenvolvimento) com interações mais qualificadas (seja
interagindo com a arte, com o educador, com outras crianças), tende a
proporcionar o equilíbrio da realidade que está sendo afetada por interações
negativas (como a doença, a dor, o sofrimento). Isso possibilita um aumento de
recursos psíquicos muito significativos para enfrentar tais dificuldades,
ampliando, amadurecendo, expandindo o ser, tornando-o mais ciente de si e de
sua plasticidade.
Podemos pensar nas situações adversas como uma alavanca para o
desenvolvimento, na medida em que a necessidade de superar tal situação faz
com que o sujeito busque o que está disponível no mundo externo (e interno!),
processando esses elementos em sua psique e criando novos aprendizados e
soluções inovadoras para resolver os conflitos. Se esse processo não ocorrer,
a situação adversa persistirá, deixando o sujeito em risco de sucumbir, resilir
(LOOS, SANT’ANA, NÚÑEZ-RODRÍGUEZ, 2010).
3ª. Categoria: Humanização (dimensão da Alteridade, conforme o STAA)
A seguir exemplifica-se a menção à humanização tendo em vista a
maneira como o contato com a arte no contexto hospitalar afeta o paciente de
uma maneira positiva, trazendo uma oportunidade de contato com a arte que
talvez ele não tenha em outro lugar:
Educador 1: “Viver isso dentro de um hospital é humanizar a estadia da criança ali
dentro. Ela vai vivenciar o processo da criação e da cultura de uma maneira quase
terapêutica, pois vai se conectar com ela mesma e com os outros."
Educador 2: “Atendi duas meninas semana passada que estavam num quarto, elas não
se conheciam, se conheceram no hospital. E elas faziam piada de tudo, de tudo o que
a gente falava, elas faziam piada e acabava numa gargalhada. E era nítido que as
meninas não estavam bem, uma delas até estava melhorando e a outra estava bem
mal. Quando entrei no quarto a menina estava quase derretendo na cama, e
nitidamente ela tinha se levantado. E não apenas pelo processo criativo, porque ela se
envolveu e fez um desenho, porque ela se envolveu em toda conversa que a gente
promoveu ali dentro, mas porque tinha um clima lúdico que fazia com que a realidade
tivesse outras nuances, ficasse mais colorida. Esse aumento de cores, essa
‘colorificação’ da realidade faz com que o processo terapêutico do paciente melhore.
Eu não sou médico, mas eu acho que interfere diretamente.”
Podemos entender a política de humanização como um processo que
valoriza e tenta implantar relações de maior alteridade entre as pessoas
envolvidas. Humanização é tornar o indivíduo “mais humano”, o que significa
estar mais próximo de si mesmo e do outro. Uma relação mais humana é uma
relação mais equilibrada, onde o outro é visto e aceito em sua integralidade.
Vivenciar a criação e a cultura dentro de uma situação hostil, permitindose entrar em contato com os outros seres que estão ali em situação
semelhante equilibra os afetos causados pelas interações entrópicas que a
adversidade da doença e um ambiente estranho como o hospital podem
causar. Poder enxergar novas possibilidades e explorá-las junto com outras
pessoas é o que a presença da arte entre crianças hospitalizadas pode causar.
As relações de alteridade realizadas entre os colegas de enfermaria também
contribuem para que o desenvolvimento psicossocial das crianças seja afetado
por interações de qualidade, onde um pode viver e compartilhar experiências
com o outro, enxergando a si mesmo no próximo, porque é a partir do feedback
do outro que as crenças construídas pelo sujeito sobre si mesmo (self) são
validadas (ou não), permitindo a ele modular seu comportamento (LOOSSANT’ANA, SANT’ANA-LOOS, 2013; PALUDO, 2013). Logo, interações de
alteridade promovem homeostase.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arte é de vital importância para todo e qualquer ser humano,
independente da idade, cor, raça ou crença. Faz parte do indivíduo e da sua
subjetividade, faz parte da edificação de uma civilização e faz parte da nossa
história evolutiva há pelo menos 50.000 anos. A arte é a linguagem (abstrata)
que nos diferencia de outros animais: a arte nos humaniza.
Para crianças e adolescentes o contato com a arte é fundamental, pois
estão na fase onde o desenvolvimento é acelerado em todos os domínios:
físico, cognitivo e psicossocial. Oliveira (2010) diz que a arte proporciona a
criança à oportunidade de desenvolver flexibilidade de pensamento e senso
estético, além da capacidade de simbolizar, analisar, avaliar, fazer julgamentos,
expressar ideias e sentimentos. Ainda, permite ver além da superfície:
conseguir enxergar o que há por trás, compreender e fazer relações entre as
partes e o todo para imaginar e construir outro mundo possível, para conhecer
a si próprio e (re)interpretar o mundo.
O hospital pode ser um local hostil, desconfortável e monótono. Pode ser
um lugar onde a dor, a doença e o risco da morte estão acompanhando as
pessoas que ali estão. Mas também pode ser um local onde haja
desenvolvimento: pode possibilitar aos pacientes construírem relações, mesmo
que breves, de muita qualidade; conhecimento de si mesmo e das
possibilidades que nunca foram antes testadas; pode promover momentos os
quais uma criança fora dali jamais viveria na escola ou em casa. Momentos
difíceis e dolorosos, porém, não sem esperança. Uma oportunidade de se
tornar mais forte e mais humano.
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