Noções de coisas – Darcy Ribeiro Em "Noções de coisas", Darcy Ribeiro reuniu uma série de textos e histórias curiosas sobre diversos assuntos: a humanidade, a cultura, o Brasil, os números, as gerações, os índios e os “civilizados”, a bicharada, as pulgas, o fim do mundo, o conselho, os rabos e pelos, entre outros. A obra é destinada ao público juvenil, porém, pela forma inteligente, crítica, bem humorada e às vezes irônica com que o autor se aproxima do leitor, estabelecendo um diálogo com ele, cativa a todos de qualquer idade. Já no primeiro texto, “Sabedoria”, pode-se sentir o prazer que será ler e reler as divagações do autor: “Vejo por aí muita criança perguntona e não vejo ninguém com paciência para explicar as coisas para elas. Dá pena [...] Só peço que não me tratem de tio. Não sou tio de ninguém, não. Sou é escritor. Vou contar para vocês, tim-tim por tim-tim, tudo o que sei. Não digo que sei tudo, nem digo que o que sei seja sempre verdade. Quem sou eu?”. Este livro é prova contundente de que é possível falar de coisas gravíssimas em tom de brincadeira e até de piada. Você já pensou que misturar o sério e o cômico pode ser uma estratégia do escritor para nos fazer pensar melhor? Claro, quando começamos a nos perguntar “qual é a desse sujeito?”, é porque ele conseguiu lançar em nosso espírito a dúvida. E como ninguém gosta de viver com dúvida, fica sendo indispensável resolvê-la. Atividades 1) Comece analisando o “Prólogo” da obra, que você já tem duas pistas sobre atitude ambígua de Darcy Ribeiro. a. O que lhe ocorre ao ler que Rui Barbosa (1849-1923) é, ao mesmo tempo, “o homem mais inteligente do Brasil” e “o maior coco da Bahia?” b. Será que Rui Barbosa “traduziu”, “adaptou” e “ampliou” mesmo um Lições de coisas de certo “professor norte-americano”? c. Ou será que Darcy Riberio inventou isso apenas para contrapor à sabedoria pomposa de Rui Barbosa à sua própria sabedoria, que tem a simplicidade dos índios por modelo e é baseada na observação? 2) Aposto que só com esses itens anteriores, A, B, C, você tem muito para pesquisar e muito em que refletir, o que parece ser mesmo a intenção de Darcy Ribeiro. E como o homem é dos mais escorregadios, você deve ir agora, imediatamente, à página 46 e ler “Conselho”. a. Depois de escrever tantas linhas e desenvolver tantas ideias, Darcy recomenda ali para você não leva-lo a serio nem toma-lo como exemplo. O que você acha disso? b. Qual o argumento fundamental que ele usa para dizer que é um “sábio ignorante”? c. E então? Ele pode ser levado a sério e tomado como exemplo ou não? 3) Continuando a perseguir o que se passa na cabeça de Darcy Ribeiro, leia agora, um em seguida ao outro, “Sabedoria” e “Doutores”. a. O que Darcy tem a dizer sobre a “sabedoria dos sábios”? b. À primeira vista, não dá a impressão de que ele está dizendo que você não precisa estudar? c. É isso mesmo ou ele está estabelecendo uma divertida diferença entre o saber teórico (seria o de Rui Barbosa?) e o saber prático? 4) Afinal, esse homem, Darcy Ribeiro, não acredita em nada e sugere que nós, os seres humanos, não temos solução?! Que nada! Leia o último texto do livro, “Bichinhos da Terra”. a. Que tal a mensagem de otimismo no parágrafo final e a confiança de que somos capazes de “recriar a vida por atos de vontade”? b. Quando ele se considera “bichinho da Terra”, “insignificante”, não está insinuando a humildade que devemos ter ante a grandeza do Universo? 5) Finalizando, vamos inventar junto com Darcy Ribeiro: lembra-se daqueles versos citadíssimos do poeta português Fernando Pessoa – “Valeu a pena? Tudo vale a pena/Se alma não é pequena” – que estão em Mensagem, no poema Mar português? Também Darcy se questiona muito, e várias vezes, sobre as coisas que verdadeiramente valem a pena, sobre o porquê e para quê de tudo. a. A seu ver, a reflexão do poeta e a do antropólogo tem algo em comum? b. Depois de pensar muito, conforme tentou lhe ensinar Darcy Riberio, faça uma redação com esse tema. Procure sintetizar no título a essência do que você aprendeu em Noções de coisas.