UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS V SEMINÁRIO DE PESQUISA DE PROFESSORES E VI JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNUCSEH DIAS 19 A 21 DE OUTUBRO DE 2010 CULTURA AMERICANA VS CULTURA BRASILEIRA:”ISSO É MUITO ESTRANHO! NÓS NÃO AGIMOS ASSIM...”. Profª. Ms. Aline Gomes da Silva (UEG) Este estudo de natureza qualitativa e interpretativa tem como objetivo geral identificar e analisar os domínios culturais de um grupo de imigrantes norte-americanos que vivem em uma comunidade na Região Centro-Oeste do Brasil no que diz respeito às línguas e culturas norte-americana e brasileira. Para tanto, recorremos aos princípios da etnografia para a coleta de dados e também para a identificação e análise semântica dos principais domínios culturais observados na fala dos participantes durante as entrevistas e interações sociais. Para a coleta dos dados contamos com os seguintes instrumentos de pesquisa: observações e anotações de campo, questionários, entrevistas com gravação em áudio e análise documental. A comunidade em estudo é composta por 65 membros que imigraram para o Brasil com propósitos religiosos. Em outras palavras, motivados pela obra missionária, esse grupo decidiu deixar sua terra natal, familiares e amigos para aventurar-se em uma nova cultura e língua. Dos participantes desse estudo, dezenove declararam ter nacionalidade norte-americana e 27 assumiram dupla nacionalidade. Os primeiros encontram-se na faixa etária de 25 a 85 anos e os demais, de 15 a 19 anos. No que diz respeito à composição familiar, há apenas uma união inter-racial. Alguns participantes relatam ter chegado ao Brasil em 1952, outros em 2008, à época da coleta de dados. Sobre as línguas podemos afirmar que tanto o português quanto o inglês são usadas na comunidade, embora haja predominância do inglês. Ao que se refere aos domínios de uso das línguas, a língua portuguesa é usada no domínio familiar nos casos de casamentos inter-raciais e nas interações sociais, fora da comunidade. A língua inglesa, por sua vez, predomina nos demais domínios, isto é, na igreja, na escola, na vizinhança e no trabalho para aqueles que atuam no interior da comunidade. O inglês é visto pela maioria como o elo que os une ao país de origem enquanto que o português é o instrumento de trabalho. Em síntese, o português não apresenta nenhuma ameaça a língua e cultura norte-americana – as quais são mantidas e protegidas pelo grupo. O referencial teórico deste trabalho apresenta estudos que discorrem sobre os conceitos de cultura veiculados por diversas áreas do saber, como a antropologia, a sociologia e a etnografia (LARAIA, 2007; http://www.unucseh.ueg.br/anais/index.htm (ISSN 2175-2605) 1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS V SEMINÁRIO DE PESQUISA DE PROFESSORES E VI JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNUCSEH DIAS 19 A 21 DE OUTUBRO DE 2010 HALL, 2006; SPRADLEY, 1980). De acordo com Spradley (1980, p.86), “cultura é uma organização de coisas, o sentindo dado pelas pessoas aos objetos, lugares e atividades. Padrões de comportamento, artefatos e conhecimento que as pessoas aprendem e criam”. Segundo Hall (2006, p. 60), a cultura nada mais é do que um discurso, “um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmos”. Sob essa perspectiva é comum que os indivíduos julguem “estranho” a cultura do outro. O estranhamento nada mais é do que a ausência do não familiar. Inicialmente, da não familiarização com outras crenças, costumes e comportamentos, surgem os estereótipos, isto é, “[...] é uma parte da maneira quotidiana, ilógica e não crítica de pensar” (REES, 2003, p. 102). Em síntese, construímos o seguinte quadro a partir das falas dos participantes que evidenciam suas percepções no que diz respeito às culturas norte-americana e brasileira: Cultura norte-americana Os americanos sempre telefonam para marcar um horário de visita, mesmo em se tratando de amigos próximos ou membros da família. O relacionamento familiar nos Estados Unidos é mais distante. Os americanos são mais individualistas. Os americanos são movidos pelo tempo e não gostam de perdê-lo. Tempo é dinheiro. Estão sempre preocupados em cumprir datas e horários. A aparência é importante nos Estados Unidos, mas não é uma prioridade. Cultura brasileira Os brasileiros não têm o hábito de marcar sua visita com antecedência. Chegam sem avisar. A família é muito valorizada no Brasil. Os brasileiros geralmente são pessoas tranquilas e amigáveis. Os brasileiros não costumam cumprir datas e horários. Estão sempre atrasados. A aparência é muito importante no Brasil. Os brasileiros estão sempre preocupados com a aparência física. Uma americana raramente amamenta seu As brasileiras não se preocupam em cobrir seu corpo bebê em público; quando o faz, é com quando estão amamentando. discrição. Se um americano estiver saindo para um Os brasileiros sempre convidam suas visitas para compromisso e alguém chegar à sua casa entrar, mesmo se estiverem ocupados ou de saída. para uma visita inesperada, ele não recebe a pessoa, apenas pede desculpas e diz que está de saída. O espaço físico do outro é sempre respeitado. Os brasileiros não respeitam o espaço físico do outro. Os carros em trânsito sempre mantêm uma Não mantêm distância quando estão em filas ou entre distância segura uns dos outros. os carros no trânsito. http://www.unucseh.ueg.br/anais/index.htm (ISSN 2175-2605) 2 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE CIÊNCIAS SOCIOECONÔMICAS E HUMANAS DE ANÁPOLIS V SEMINÁRIO DE PESQUISA DE PROFESSORES E VI JORNADA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNUCSEH DIAS 19 A 21 DE OUTUBRO DE 2010 Vale lembrar que culturas “são sistemas (padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos” (LARAIA, 2007, p. 60). Uma mudança cultural é, portanto, um processo de adaptação ao meio circundante, tendo em vista que diferentes comunidades incluem tecnologias, artefatos, modos de organização social, econômica e política, crenças e práticas religiosas distintas. A não identificação com os esses sistemas contribui para o surgimento dos estereótipos. BIBLIOGRAFIA HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. LARAIA, R. de B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. REES, D. K. O deslocar de horizontes: um estudo de caso da leitura de textos literários em língua inglesa. 2003. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2003. SPRADLEY, J. Participant observation. Fort Worth: Harcourt Brace College Publishers, 1980. http://www.unucseh.ueg.br/anais/index.htm (ISSN 2175-2605) 3