A CONSTRUÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS DA OSMOSE NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO Larissa Martins da Silva Wilams Johnson Bezerra Pereira Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte RESUMO Em meio às atividades do estágio, percebe-se que a grande maioria dos alunos da disciplina de Biologia não compreendem de fato os conteúdos por os julgarem como abstratos. Tal fato é mais agravado quando o assunto abordado é referente aos aspectos microscópicos como, por exemplo, diante da Citologia. Dentro dessa problemática, nos propusemos a desenvolver materiais lúdicos para tal intento usando, como base, o biscuit. Como o universo da Citologia é bastante amplo, a construção dos modelos didáticos pautou-se nas questões de osmose, portanto, nas células animais e vegetais. Nesse sentido, os materiais feitos foram apresentados para os alunos da primeira série do Ensino Médio para poder despertar a curiosidade e ainda o interesse pelo conteúdo biológico e em seguida foi aplicado um questionário estruturado para identificar as possíveis potencialidades educativas do material. Os resultados demonstraram que 90% dos alunos aprovam a utilização do material didático feito com biscuit no processo de ensino aprendizagem de Biologia e 85% depositam nessas ferramentas a maior dinamicidade das aulas. Já 89% afirmam que essa estratégia didático-pedagógica desperta o interesse em aprender o conteúdo. Diante disso, concluímos que o uso dos modelos didáticos feitos com biscuit minimiza as defasagens e o caráter abstrato do referido conteúdo da Citologia e que, consequentemente, facilita a aprendizagem dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: Osmose. Estágio Supervisionado. Modelos Didáticos. 1 INTRODUÇÃO O ensino de Biologia é um dos mais complexos no cenário educativo. Esse fato é relacionado com a gama de conceitos dentro de um universo bastante diversificado que vai desde os assuntos pautados na disciplina de Botânica até a Citologia. Esta última, possui um caráter ainda mais complexo por ser a área da Biologia que estuda a célula, e por este motivo apresenta um modo bastante abstrato por abordar estruturas microscópicas que, muitas vezes, os discentes não conseguem compreender e como afirma Gomes (2011, p.12) “Por este fato, o conteúdo se torna mais difícil em relação a percepção e assimilação dos alunos”. 2 Essa falta de entendimento do assunto biológico pode acarretar como acredita Oennung e Oliveira (2011, p. 02) “[...] desinteresse por parte da sala que não vê sentido no que está sendo estudado e acaba se desmotivando”. Nessa ótica, é imprescindível que se busquem alternativas para dinamizar as aulas de Citologia e diminuir uma das características que é rotulada a essa área da Biologia, a abstração. Isso porque, muitos dos conceitos trabalhados e seus mecanismos como diria Sá et. al (2008, p. 03) “ocorrem numa realidade não perceptível a nossos sentidos” o que acaba por dificultar a aprendizagem dos alunos. Nesse contexto, sendo essa pesquisa formada por licenciandos em Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Macau e percorrendo o caminho delineado pelo estágio supervisionado III (regência) estando cada um em uma respectiva sala do primeiro ano do ensino médio, pode-se perceber as dificuldades enfrentadas pelos alunos no conteúdo da Citologia e, nesse sentido, preocupados com a aprendizagem dos mesmos, optou-se em elaborar materiais didáticos para dirimir tais problemáticas. Diante disso, a construção de materiais didáticos possibilita uma abordagem diferenciada do seu conteúdo de maneira clara e objetiva, e segundo, Guimarães e Ferreira (2006) citado por Barbosa, Ramos e Sereia (2010, p. 01) “[...] os modelos didáticos são construções teóricas que possibilitam uma aproximação mais sistemática do objeto de estudo, e dessa forma, de sua compreensão”. Como o universo da Citologia é bastante amplo, a construção dos modelos didáticos pautou-se nas questões da osmose que de acordo Lopes e Rosso (2008, p. 64) “é um processo de difusão de moléculas de água através de membrana semipermeável” e, consequentemente, é de extrema importância na manutenção das concentrações de solvente e soluto dentro das células animais e vegetais. Contudo, o principal objetivo desse estudo foi o de construir materiais didáticos da osmose para potencializar o ensino aprendizagem dos alunos diante das aulas do ensino supervisionado e de maneira específica compreender a percepção dos discentes diante do material elaborado. Diante disso, a realização dessa pesquisa contribui ainda mais com os diversos trabalhos que seguem a linha de inovações de estratégias didáticas e, consequentemente, com mais uma alternativa para a prática docente em sala de aula e o mais importante que é a de contribuir com a aprendizagem dos alunos com os conteúdos da Biologia. 3 2 METODOLOGIA O material didático da osmose pautou-se na construção dos diferentes estágios que as células animais e vegetais se encontram em diferentes concentrações de solutos como em um meio isotônico (concentrações de solutos iguais dentro e fora da célula), hipotônico (concentrações de soluto dentro da célula menor que o meio externo) e hipertônica (concentração de soluto dentro da célula maior que o meio externo). Nesse sentido, os modelos representavam simulações desses dois grupos de células e seus comportamentos em situações diversas em que os organismos podem estar expostos. Como base desse recurso lúdico foi usado o biscuit que é uma massa que permite uma facilidade na modelagem das células e após a secagem e armazenado e guardado corretamente o material pode ser utilizado quantas vezes for necessário. Mas, para isso, foi preciso encontrar imagens significantes e de fácil compreensão que pudessem servir como inspiração para a modelagem com o biscuit e dentre as pesquisas realizadas, optou-se pela imagem presente no livro didático de Amabis e Martho (2012). Com as células prontas, as mesmas foram aplicadas nas duas turmas do primeiro ano da Escola Estadual Professora Clara Teteo da cidade de Macau\RN ao qual os autores dessa pesquisa contemplam seu estágio supervisionado III. A apresentação dessa estratégia didática foi realizada posteriormente a uma aula teórica do assunto em questão e, nesse sentido, os alunos poderiam questionar, comparar, e discutir com os colegas os conceitos já adquiridos juntamente com a peça em mãos. Para avaliar as potencialidades das células construídas foi necessário a aplicação de um questionário com as duas turmas contempladas pelo estágio que totalizavam 45 alunos. Neste caso, esse instrumento de pesquisa era do tipo fechado que “[...] permite mais abrangência, menor esforço e maior uniformidade nas perguntas, além de favorecer a tabulação das respostas” (ASSIS, 2013, p. 29). Para a tabulação dos dados essa pesquisa adquiriu o caráter quantitativo, pois a partir dela puderam-se descobrir quantos alunos compartilham uma mesma opinião no tocante ao material didático da osmose. Neste sentido, de acordo com Moresi (2010, p. 64) “a pesquisa quantitativa é apropriada para medir tanto opiniões, atitudes e preferências como comportamentos”. 4 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Primeiramente foi administrada uma aula teórica sobre todos os mecanismos da osmose, explicando os meios hipertônicos, isotônicos e hipotônicos em células animais e vegetais. Para isso foi usada imagens em slides fazendo um comparativo entre esses dois tipos celulares em situações de concentração de solutos diferentes. Com as explanações realizadas e todas as informações concernentes ao conteúdo da osmose passados, na aula seguinte em cada turma o assunto foi retomado só que dessa vez foi utilizado os materiais didáticos construídos. Em ambas as realidades observadas foi notório a agitação dos alunos e o olhar curioso dos mesmos. Para sabermos se de fato foi uma boa estratégia realizamos um questionário estruturado com os discentes. Diante do questionário estruturado apresentado aos alunos, foi possível perceber uma gama de resultados, em nossa primeira pergunta procuramos saber se através da ferramenta utilizada, eles conseguiram aprender os mecanismos da osmose, mais de 75% dos alunos falaram que sim. Oenning e Oliveira (2011, p. 3) afirmam que conteúdos como o da osmose “[...] podem parecer complicados quando o aluno é forçado a memorizar cada um sem compreender o processo”. Ou seja, o docente tem o dever de facilitar a construção do conhecimento. E nesta perspectiva o material utilizado mostrou-se bastante relevante diante da porcentagem positiva obtida com a aplicação do questionário. Em nossa segunda pergunta investigou-se saber se a compreensão do assunto foi facilitada com o uso dos modelos didáticos, nesta absolutamente todos os alunos responderam que sim. Segundo Bastos e Faria (2011, p. 1869) “[...] o ensino de citologia deve permitir através do uso de vários recursos que este se torne assimilável para o estudo do organismo como um todo”. Logo, com o nosso questionário foi percebido que o recurso usado pelos autores desse artigo permitiu aos discentes que o assunto de osmose tornasse de fácil compreensão, atingindo o potencial citado por Bastos e Faria. Em nossa terceira pergunta pretendíamos saber se o uso das células de biscuit foi suficiente para suprir a abstração do referente assunto, apenas 10% dos alunos responderam que não, tal fato pode ser devido a diversos apontamentos. Segundo Melo e Alves (2011, p. 4) “Os alunos possuem diferentes motivações e preferências no modo 5 como aprendem e se relacionam com o conhecimento [...]”. Logo, cada discente possui um modo particular de aprender, nenhum aluno é igual ao outro, por isso o professor deve sempre está variando em sua metodologia. Existiram 90% de aprovação do material ao suprir a abstração do conteúdo da osmose, percebendo a cada resposta dos alunos referente ao questionário que os modelos lúdicos foram um sucesso. As questões quatro e cinco do questionário estão bastante relacionadas, pois a primeira buscava saber se os usos dos modelos lúdicos tornaram a aula de osmose mais dinâmica, enquanto a outra se o mesmo lhe deu um maior interesse de aprender esse conteúdo. Segundo Oenning e Oliveira: “Sabe-se que existem numa turma diferentes tipos de aprendizes, cada um com uma necessidade e uma forma de aprender. Por isso, sempre que for oportuno, o professor deve buscar envolver o máximo possível os alunos em suas aulas, para que as mesmas sejam mais dinâmicas e produtivas” (2011. p. 2). Nesse contexto, se vê a necessidade que existe em investir em dinâmicas em sala de aula para chamar a atenção desse aluno, sendo o docente o orientador desse processo, realizando o confronto entre as concepções dos discentes e os conceitos científicos. Claro que esse tipo de aula exige um pouco mais de trabalho por parte do professor, por esse motivo, muitos acabam por não o fazer. Mas é bastante perceptível que possui um grande retorno, produzindo um ensino de qualidade quando esse docente se dispõe a planejar práticas diferenciadas, variando a forma que gere suas aulas. E com esse artigo percebemos que uma grande estratégia a ser adotada são as construções dos modelos didáticos, por ser algo bastante dinâmico facilitando a compreensão do conteúdo ao despertar um interesse maior por porte do alunado. Nossa sexta e última pergunta questionava se nossa estratégia de usar os modelos didáticos estava aprovada por eles, nessa questão todos os alunos responderam que sim. Dessa forma, percebemos que os modelos didáticos favorecem o desenvolvimento de uma aula menos expositiva e mais atrativa para os alunos. Como diria Souza, Bonzanini e Bombonato (2014, p. 2) “A compra de modelos sofisticados não está ao alcance de todas as escolas, a confecção de modelos alternativos com certeza está, pois envolvem apenas determinação e criatividade [...]”. 6 Nesse contexto, percebemos que para que exista uma boa aula não é necessário que você esteja em uma escola de ponta, que possua várias tecnologias, sendo desculpa de muitos professores preguiçosos, pois com poucos gastos foi possível uma aula mais dinâmica que chamasse a atenção dos discentes. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização dos modelos didáticos no ensino de Biologia é sem dúvidas uma estratégia didática de bastante relevância no cenário educativo, pois permite ao aluno a visualizar, manusear e se questionar diante o material construído. Além disso, possibilita a construção do conhecimento por parte do aluno, não somente com informações teóricas passadas no quadro, nos slides ou com o livro didático já que essa é uma das principais reclamações dos alunos, pois as aulas, nesse sentido, são consideradas chatas e cansativas. Logo, a diversidade do material pedagógico vem para somar, tornando o aprendizado mais fácil, deixando as aulas mais dinâmicas e produtivas. Portanto, diante dos achados encontrados na pesquisa com a aplicação do questionário conclui-se que o modelo didático da osmose com o biscuit foi apreciado pelos alunos de maneira positiva, uma vez que dinamizou as aulas de Biologia e despertou o interesse em aprender mais sobre esse conteúdo biológico. Tal aspecto é considerado como um dever cumprido no papel do docente em perceber que o processo de ensino aprendizagem não é apenas um caminho para a obtenção de nota para a disciplina e sim para a formação cidadã dos discentes ao buscar querer cada vez mais o conhecimento. Além disso, a pesquisa demonstrou que houve o entendimento dos processos osmóticos e a superação da visão abstrata do mesmo com a grande maioria dos alunos participantes desse estudo, fato que possibilita a esses discentes perceberem e correlacionarem esse processo com eventos presentes em nosso dia a dia. Contudo, como futuros professores, realizar tais atividades ainda no estágio, percebendo as potencialidades dos modelos didáticos no ensino de Biologia, incentiva cada vez mais na busca de alternativas dinâmicas para ministrar as aulas e assim elevar a atitude como professor bem como a aprendizagem dos alunos. 7 REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Paula de Lima; RAMOS, Paula Parra; SEREIA, Diesse Aparecida. O uso de modelos didáticos em aulas do sistema cardiovascular. Evento Os Estágios Supervisionados de Ciências e Biologia em Debate II. Paraná, 2010. Disponível em: http://cac-php.unioeste.br/eventos/anais_biologia/estagio_ciencia/artigo_14.pdf. BASTOS, Keine Maria de; FARIA, Joana Cristina Neves de Menezes. Aplicação de modelos didáticos para abordagem da célula animal e vegetal, um estudo de caso. 2011. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2011b/multidisciplinar /aplicacaodemodelos.pdf>. Acesso em: 04 ago. 2014. GOMES, Renata da Silva. Didática alternativa de citologia no ensino de ciências. 2011. 30 f., il. Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas) — Consórcio Setentrional de Educação a Distância, Universidade de Brasília, Universidade Estadual de Goiás, Brasília, 2011. LOPES, Sônia; ROSSO, Sérgio. Biologia: Volume único. São Paulo: Saraiva, 2005. OENNING, Vanessa; OLIVEIRA, Juliana Moreira Prudente de. Dinâmicas em sala de aula: envolvendo os alunos no processo de ensino, exemplo com os mecanismos de transporte da membrana plasmática. Revista Brasileira de Ensino de Bioquímica e Biologia Molecular, Tocantins, v. 1, n. 1, p.1-12, 8 jul. 2011. SÁ, Risonilta Germano Bezerra de; LOPES, Fernanda Muniz Brayner; PEREIRA, Alba Flora; JÓFILI, Zélia Maria Soares; CARNEIRO-LEÃO, Ana Maria dos Anjos. Conceitos abstratos: desafios para o ensino-aprendizagem de Biologia. Disponível em: http://www.pe.senac.br/ascom/congresso/anais/2008/ap_19_09_T/03_conceitosabstratos.pdf. SOUZA, Jonas Garcia; BONZANINI, Taitiâny Kárita; BOMBONATO, Maria Terezinha Siqueira. Modelos didáticos para o ensino de Biologia: uma estratégia metodológica pra o trabalho docente. Disponível em: <http://congresosadbia.com/ocs/index.php/tucuman2010/tucu2010/paper/viewFile/562/ 383>. Acesso em: 04 ago. 2014. ANEXOS 8 IMAGEM 1: Modelos das células animais e vegetais para explicar a osmose. FONTE: Acervo dos autores. IMAGEM 2: Fim da aula com os modelos didáticos da osmose aplicados na turma da primeira série “A” . FONTE: Acervo dos autores. IMAGEM 3: Alunos da turma da primeira série “B” com os modelos didáticos da osmose. FONTE: Acervo dos autores. 9 INSTIRUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS MACAU LICENCIATURA PLENA EM BIOLOGIA QUESTIONÁRIO DE PESQUISA Esse questionário tem como objetivo levantar dados para a pesquisa “A construção de modelos didáticos da osmose no estágio supervisionado”. A sua participação é voluntária e a sua identificação será preservada. SÉRIE: _________ TURMA: __________ TURNO:______________ 1. Após a aula com o modelo apresentado, você conseguiu aprender os mecanismos da osmose? ( ) Sim ( ) Não 2. O uso dos modelos didáticos tornou mais fácil a sua compreensão do assunto? ( ) Sim ( ) Não 3. O conteúdo de osmose é bem abstrato, o uso das células de biscuit supriu essa abstração lhe facilitando a aprendizagem? ( ) Sim ( ) Não 4. Você considera que as aulas de osmose tornam-se mais dinâmicas devido ao uso dos materiais lúdicos feitos de biscuit? ( ) Sim ( ) Não 5. O uso dos modelos didáticos lhe deu um maior interesse de aprender o conteúdo? ( ) Sim ( ) Não 6. Você aprova o uso de materiais didáticos em aulas da Biologia? ( ) Sim ( ) Não