ICEBERG SCOURS AND ASSOCIATED SUBGLACIAL FURROWS AND
STRIAE ON SANDSTONES OF THE LATE PALEOZOIC CURITUBA
FORMATION, NE BRAZIL
Marcas de iceberg e sulcos e estrias subglaciais associados em arenitos da
Formação Curituba (Paleozóico Superior), NE Brasil
ROCHA-CAMPOS, A.C.1; SANTOS, PAULO R. DOS2 & SALVETTI, R.A.P.3
Universidade de São Paulo, Instituto de Geociências
Rua do Lago, 562 - São Paulo (SP), Brazil – CEP: 05508-080
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INTRODUÇÃO
Sulcos de até 30 m de comprimento, 3,5 m de largura e 40 cm de profundidade, associados
a estrias retilíneas e paralelas ocorrem em arenitos da Formação Curituba (Paleozóico Superior)
em duas localidades do NE do Brasil. (Fig. 1).
Na Localidade 1 (Lagoa Seca, BA), os sulcos distribuem-se isoladamente sobre ampla e
extensa superfície subhorizontal (~10.000m2) desenvolvida em arenito médio-grosso, localmente
conglomerático. Em Curituba (Localidade 2, SE), sulcos e estrias de distribuição densa ocorrem
em várias superfícies paralelas, formadas sobre arenitos da Formação Curituba.
Estas estruturas são interpretadas como sendo geradas por gelo flutuante, provavelmente
icebergs (“iceberg scours”), arrastando-se sobre o fundo arenoso de amplo corpo d’água
(marinho?). Em Curituba, as escavações de icebergs parecem superpor-se, com orientação
paralela, a sulcos finos e estrias também paralelas, provavelmente de origem glacial. A influência
glacial durante a deposição da Formação Curituba é corroborada pela presença de pavimento
estriado e polido em gnaisse pré-Cambriano em Igreja Nova (AL), e de clastos caídos em ritmitos
e clastos exóticos (BIF pré-Cambriano) em diamictitos da Formação Batinga da Bacia SergipeAlagoas, correlacionável à Formação Curituba (Fig. 2).
LAGOA SECA (BA)
Figura 1. Localização dos afloramentos estudados no graben de
Santa Brígida e na Bacia Sergipe-Alagoas.
CURITUBA (SE)
Em Lagoa Seca (BA), o arenito sulcado, médio-grosso
a conglomerático, assenta-se em discordância sobre
diamictitos estratificados (“debris flows”?). Clastos isolados
são raros no arenito. Os sulcos são, no geral, estreitos (1030 cm) e longos (até 25 m). Comumente, têm a forma de “U”
ou “V” raso, com seções simétricas ou assimétricas e bermas
preservadas em pelo menos uma das margens (Fig. 3-A).
Estrias internas ocorrem nos sulcos. Em alguns casos, pilhas
de sedimentos delimitam as extremidades dos sulcos (Fig. 3B).
A
B
Figura 3. A) Sulco em “V” raso, escavado em arenito, Lagoa Seca
(BA). Notar berma do lado direito; B) acumulação de sedimento na
extremidade mais rasa de sulco (jusante).
CONCLUSÕES
Pelo menos seis superfícies distintas, sulcadas e estriadas
foram identificadas em arenito compacto e endurecido de extenso
bloco basculado e fraturado da Formação Curituba. As superfícies,
espaçadas entre si por alguns decímetros, estão desigualmente
expostas no afloramento, cuja área total supera 5.000 m2. Estruturas
tipo espinha de peixe e estratificação cruzada acanalada
unidirecional ocorrem no arenito. Em três planos diferentes do
arenito, sulcos de grandes dimensões (1-3 m de largura; Fig. 4-A)
superpõem-se a sulcos menores (cm de largura) e estrias,
presentes sobre as bermas e no fundo dos sulcos maiores (Fig. 4B). O megassulco melhor preservado estreita-se em direção a uma
de suas extremidades (W – jusante?), elevada pelo acúmulo de
sedimentos.
A
B
Figura 4. A) Escavação de iceberg, Curituba (SE). Megassulco dispõese sobre extensa área sulcada e estriada. Estrias ocorrem sobre as
bermas e interior do sulco. Notar abas de arenito escorregado da berma
recobrindo estrias no interior do sulco. B) sulcos estreitos e estrias
paralelas em planos de acamamento do arenito. Estriações não
delimitadas por bermas em A e B podem ter origem glacial.
Características e disposição dos megassulcos da Formação Curituba nas
localidades estudadas são interpretadas como tendo sido geradas pela aração
(“plowghing”) do substrato arenoso inconsolidado por massas de gelo flutuante ou
icebergs. Protuberâncias da base do gelo produziram sulcos menores e estrias
associadas aos megassulcos. O paralelismo das estruturas nas duas localidades
sugere o controle persistente de deslocamento das massas de gelo flutuantes
despregados da frente da geleira que se deslocava na mesma direção, pela ação
do vento ou correntes. Os elementos disponíveis indicam que as rochas sulcadas
e estriadas depositaram-se em amplo corpo d’água, relativamente raso, cuja
natureza lacustre ou marinha não está ainda claramente estabelecida. As
estruturas descritas corroboram a hipótese de influência glacial durante o
Neopaleozóico do NE do Brasil, indicada pela descoberta do pavimento estriado e
rochas associadas da área de Igreja Nova (AL), correlacionáveis às da Formação
Curituba.
Figura 2. Seções
estratigráficas simplificadas
das formações Curituba
(graben Sta. Brigida) e
Batinga (Bacia SergipeAlagoas). Modificado de
Schaller (1969) e Santos &
Souza (1988).
ORIGEM DOS SULCOS E ESTRIAS
Aração por blocos de gelo flutuante arrastando-se
sobre sedimento inconsolidado do fundo relativamente
raso de bacia aquática parece ter sido o mecanismo
gerador dos sulcos de Lagoa Seca e megassulcos de
Curituba (Fig. 6). A consistência de orientação das
estruturas é mais compatível com a ação de icebergs e
não de gelo de lago ou mar (“lake/sea ice”) ou gelo
sazonal terrestre. Ausência de bermas reconhecíveis
sugere origem subglacial para sulcos menores e estrias
paralelas associadas aos megassulcos em Curituba
(Rocha-Campos et al., 1994; Woodworth-Lynas &
Dowdeswell, 1994). Nas duas localidades, a escavação
dos sulcos e estrias deu-se provavelmente por
protuberâncias na base dos corpos de gelo flutuante e
de geleiras.
Figura 6. Modelo de formação dos sulcos pela passagem de
icebergs sobre sedimento inconsolidado.
Figura 5. Pavimento estriado e polido em
gnaisse do domo de Igreja Nova, AL. Estrias e
sulcos finos são ligeiramente oblíquas a foliação
da rocha. Ritmito com clastos caídos e diamictito
silto-argiloso, maciço, da Formação Batinga,
recobrem o pavimento. Sentido do movimento do
gelo da esquerda para a direita.
REFERÊNCIAS
ROCHA-CAMPOS, A.C.; SANTOS, P.R. dos; CANUTO, J.R. (1994). Ice scouring in Late Paleozoic rhythmites, Paraná Basin. In: M. Deynoux,
J.M.G. Miller; E.W. Domack; N. Eyles; I.J. Fairchild & G.M. Young (eds.) Earth’s Glacial Record. Cambridge University Press, 234-240.
SANTOS, R.A. & SOUZA, J.D. (1988). Piranhas – Folha SC.24-X-C-VI (texto explicativo). Programa levantamentos geológicos básicos do Brasil.
Ministério das Minas e Energia – Departamento Nacional de Produção Mineral. Brasília, 153 p.
SCHALLER, H. (1969). Revisão estratigráfica da Bacia de Sergipe-Alagoas. Boletim Técnico da Petrobrás, vol. 12, p. 2180.
WOODWORTH-LYNAS, C.M.T. & DOWDESWELL, J.A. (1994). Soft sediment surfaces and massive diamicton facies produced by floating ice. In:
M. Deynoux, J.M.G. Miller; E.W. Domack; N. Eyles; I.J. Fairchild & G.M. Young (eds.) Earth’s Glacial Record. Cambridge University Press, 241-259.
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