Do mais ínfimo ao maior, no vegetal, no animal e no hominal, tudo sofre. É Léon
Denis quem belamente nos fala que a dor é uma necessidade de ordem geral neste
mundo de provas e de expiações, embora o Amor seja a Lei do Universo. Enquanto ela
nos segue e nos espreita, nós nos perguntamos: por que existe a dor?
E muito comum, no meio espírita, repetirmos vez e outra que "a dor é o aguilhão que impulsiona o progresso". É muito comum,
também, por outro lado, nos sentirmos sem chão num território de incertezas quando uma dor robusta se nos apresenta, como
sabemos, para nossa evolução. Também temos ciência de que sempre que nos comportarmos de modo contrário às leis divinas, a dor
nos virá convidando para o realinhamento, para reajustarmos os passos em caminho seguro.
Como somos Espíritos num mundo material, experimentamos dois claros tipos de dor: a física e a espiritual. Embora estreita seja a
relação entre ambas, trataremos aqui, especialmente, do tipo mais doído: a dor do Espírito, a dor moral.
No Sermão da Montanha, Cristo discorreu sobre a justiça das aflições. É fácil compreendermos um tanto da extensão do seu
ensinamento olhando em torno de nós: podemos observar que uns nascem na riqueza, outros na miséria, uns nascem saudáveis,
outros com sérias deficiências. A razão de tal panorama pode ser ingenuamente atribuída a um Deus muito caprichoso, que distribui
aqui e ali a doença, a infelicidade, a dor. Todavia, alcançando-se entendimento diverso, resistente a mais minuciosa investigação
racional, é possível bem entendermos que as dores, não sendo capricho ou castigo da Divindade, só podem ser repercussão das
violações praticadas contra a ordem elevada e eterna que conduz o Universo. É então aí que a lógica da reencarnação explica e
resgata nossa percepção da perfeita justiça de Deus. Não fosse essa profunda e seriíssima concepção, que com imensa e clara luz
ilumina nossa caminhada, maiores ainda seriam nossos dissabores, como quando ainda acreditávamos que a alma era criada por Deus
no "instante do nascimento, quando só um criador imperfeito poderia poupar uns e sentenciar)') outros. Se tal se verificasse, onde
estaria o Deus soberanamente Justo e Bom?
Compreendendo a existência da reencarnação, compreendemos, também, que nossas dores são, seguramente, efeito de alguma
ocorrência anterior. As causas da dor podem ser atuais (desta existência) ou anteriores (de outras encarnações, das quais não temos
senão vagas intuições). A intenção de um Deus Perfeito e Justo também aqui se verifica, por meio da percepção que podemos ter de
sua imensa misericórdia: com a benção do esquecimento do passado, Ele nos poupa da completa lembrança de nossas faltas ou
nossas aflições, aliviando o sofrimento intenso que nos causaria o remorso ou a revolta, dependendo dos episódios vividos.
Tendo a dor, então, causa sempre justa, podemos compreender a necessidade de desenvolvermos a resignação. Se algo fizemos,
de nada adiantará sofrermos as conseqüências com mágoa no coração. Só vencemos uma dor invertendo o curso dos sentimentos
negativos que a originaram, transformando-os em positivos. Um exemplo está no sincero pedido de perdão a alguém, quando o que nos
dói é o sentimento de remorso. Nem desespero nem desânimo; se sofremos a dor, cabe-nos, nesse processo, trabalharmo-nos para
superá-Ia, suplantando nossas inércias.
Há, para praticarmos, um bom e natural caminho que leva à extinção da dor: amar, refazer a vida, aperfeiçoar-se moralmente e
solucionar os problemas, eliminando suas causas. De início, é preciso que o sofredor reabsorva as reações livremente excitadas no
passado. Uma boa idéia é ele próprio se perguntar sobre seus equívocos para reconhecê- Ios. Analisando, honestamente, a resposta,
deve prosseguir corrigindo cada erro, invertendo o efeito para a causa que o originou como ensina Pietro Ubaldi: "num mundo em que
nada se cria e nada se destrói, também no campo das qualidades morais sutis, só se neutraliza um efeito ao reconduzi-Io invertido para
a sua causa, a fim de aí encontrar sua compensação". Isso significa perdoar, se a dor é de remorso; significa amar, se nos faltou esse
fundamental sentimento.
Reabsorvidas as reações, é a vez de sofrer pacientemente as decorrências dos maus atos, mas sem revolta. O próximo passo é
reconstruir o equilíbrio espiritual, psíquico e emocional, esforçando-se por se manter no estado de harmonia com as Leis há muito
inscritas na consciência. Não menos importante para a concretização da vontade de nos fazermos melhores a cada dia é evitar qualquer
nova violação das regras, pela vigilância continuada dos pensamentos e dos atos. Quem assim o fizer, se assemelhará ao escultor de
Michelângelo, citado por Léon Denis, quando trata da importante questão do autoconhecimento para o crescimento: Há, para
praticarmos, um bom e natural caminho que leva à extinção da dor: amar, refazer a vida, aperfeiçoar-se moralmente e solucionar os
problemas, eliminando suas causas. De início, é preciso que o sofredor reabsorva as reações livremente excitadas no passado. Uma
boa idéia é ele próprio se perguntar sobre seus equívocos para reconhecê-Ios. Analisando, honestamente, a resposta, deve prosseguir
corrigindo cada erro, invertendo o efeito para a causa que o originou, como ensina Pietro Ubaldi: "num mundo em que nada se cria e
nada se destrói, também no campo das qualidades morais sutis, só se neutraliza um efeito ao reconduzi-Io invertido para a sua causa, a
fim de aí encontrar sua compensação". Isso significa perdoar, se a dor é de remorso; significa amar, se nos faltou esse fundamental
sentimento.
Reabsorvidas as reações, é a vez de sofrer pacientemente as decorrências dos maus atos, mas sem revolta. O próximo passo é
reconstruir o equilíbrio espiritual, psíquico e emocional, esforçando-se por se manter no estado de harmonia com as Leis há muito
inscritas na consciência. Não menos importante para a concretização da vontade de nos fazermos melhores a cada dia é evitar qualquer
nova violação das regras, pela vigilância continuada dos pensamentos e dos atos. Quem assim o fizer, se assemelhará ao escultor de
Michelangelo, citado por Léon Denis, quando trata da importante questão do autoconhecimento para o crescimento:
"Concentra-te e faze como o escultor faz à obra que quer aformosear. Tira o supérfluo, aclara o obscuro, difunde a luz por tudo e
não largues o cinzel".
A obra de refazimento é, de fato, pessoal e intransferível. É da Lei de Justiça que os Espíritos, por mais que nos amem, não virão
para resolver nossos problemas e afastar nossas dificuldades. Somos os escultores de nós mesmos, e bom será nos perguntarmos
rotineiramente se algo há de supérfluo em nossa vida. Provavelmente, encontraremos pensamentos, sentimentos, coisas, atividades
supérfluas que enchem o tempo e desviam os passos do sentido de nosso progresso. Não larguemos o cinzel! Joanna de Ângelis, a
propósito, lembra bem que" aquele que encontrou a rota luminosa da verdade, por um princípio de coerência natural, não se deve
permitir engodos".
Relembramos, até aqui, o conceito de que a dor não é gratuita, pois tem raízes em nossas atitudes. A maneira como a encaramos é
que pode fazer toda a diferença em nossas vivências como demonstra Pietro Ubaldi, explicando que diante da dor há três visões
básicas:
· a dor no mundo subumano = desse ponto de vista, o ser sofre desenfreadamente, acreditando-se derrotado sem compaixão, e
sofre nas trevas uma dor que tudo avassala sem esperança;
· a dor no mundo humano = por esse ponto de vista, o ser conhece uma consciência já relativamente desperta, pressentindo a
justiça de sua aflição, e, mesmo sofrendo, é confortado pela fé;
· a dor no mundo super-humano = alcançando esse entendimento, a dor se transforma para o ser numa afirmação criadora, e ele
sente a oportunidade da regeneração e do resgate, plenamente grato a Deus.
Quando sentimos dor, em geral transitamos por esses mundos, passando por certas aflições com maior ou menor esperança, maior
ou menor sofrimento. Ubaldi continua explicando que cada um sofre diferentemente de acordo com o nível em que se encontra. O
estudioso italiano resume assim essas três maneiras de sofrer: amaldiçoando; resgatando; abençoando e criando. Chico Xavier, que
exemplos sem conta nos deu de vitórias sobre o sofrimento, agradecia por todas as dificuldades que enfrentava: "não fosse por elas, eu
não teria saído do lugar ... As facilidades nos impedem de caminhar", dizia.
Não é útil restar dúvida na mente espírita: a dor nunca foi e nem será uma inimiga, ou um castigo. Lei de equilíbrio e educação,
necessidade de ordem geral, agente de desenvolvimento, condição do progresso, como enumera Léon Denis, a dor existe, enfim, para
canalizar a nossa liberdade para o progresso, já que muitas vezes usamos mal o nosso livre-arbítrio fazendo escolhas que alimentam o
egoísmo e o orgulho, essas duas grandes chagas que atrasam a marcha da humanidade. A dor existe, também, para unificar o nosso
Eu com a Lei, já que, cometendo infrações ao longo de muitas existências, nos distanciamos da conduta reta e harmoniosa com o
pensamento de Deus, desequilibrando-nos. A dor nos convida, em suma, a reparar esses equívocos, querendo de nós, como constatara
Francisco de Assis, que onde houver tristeza, ódio, escuridão e discórdia, aprendamos a levar alegria e amor, luz e união. Quando
assim o fizermos, a dor se extinguirá. E então, de algum ponto do Universo, no fundo de nosso coração poderemos como que ouvir uma
mansa e afetuosa voz, que nos dirá:
"Levanta-te, ó alma, tua dor está vencida! Morta, entre as coisas mortas, está tua dor, lá embaixo, inútil instrumento jogado fora, lá
embaixo, na margem deserta de um caminho triste. No infinito o universo canta: levanta-te, tua dor está vencida". De vitória em vitória,
com altíssima felicidade, estaremos um dia como o vencedor de Ubaldi, que "não pertence mais à Terra de dor: imerge cada vez mais
na luz do Cristo e aí se aniquila num incêndio de amor".
Por Adriano Braz Falco Genovez e
Ana Paula Soares Bartholomeu
Fontes:
O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec.
O Problema do Ser, do Destino e da Dor
– Léon Denis.
A Grande Síntese – Pietro Ubalde
Imagem tirada na internet
Formatação: IDE. SOUZA
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29 . POR QUE EXISTE A DOR?