UMA METODOLOGIA SEM FÓRMULAS PARA O ENSINO DA FUNÇÃO DO 2º GRAU E SUAS APLICAÇÕES FÁBIO KRUSE Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Centro Universitário FEEVALE [email protected] Introdução O estudo da função do 2º grau tem sido feito, na quase totalidade das escolas, através de fórmulas, tanto para o cálculo das raízes, quanto para as coordenadas do vértice. Os gráficos são feitos através de tabelas que, dificilmente, utilizam o uso da simetria existente na parábola. Além disto, a metodologia tradicional usada carece muito no que diz respeito às aplicações interessantes do conteúdo. Na sala dos professores, durante os intervalos, é comum escutar de colegas o comentário sobre a falta de motivação dos alunos. Porém, são poucos os professores que procuram fazer atividades com o intuito de mudar este quadro de marasmo e desinteresse dos alunos. Continuam dando as mesmas aulas, os mesmos exemplos e exercícios e, dessa forma, contribuindo para que os alunos tenham a nítida impressão que “este é mais um conteúdo Matemático chato e sem aplicações”. Com a realidade descrita acima, é necessário, na minha opinião, que os professores comecem a repensar a metodologia que tem sido utilizada. Certamente não estamos indo de encontro com o que os PCNs nos indicam e sugerem, quando colocam que as aulas devem ser interessantes, motivadoras, utilizando uma metodologia baseada na resolução de problemas interessantes e práticos. Uma metodologia sem fórmulas e com aplicações O objetivo é escrever a função dada normalmente na forma y = ax 2 + bx + c , a ≠ 0 , no modo y = a.( x − xv ) 2 + y v . Para desenvolver o estudo da função do 2º grau sem o uso de fórmulas, iniciamos com o esboço das funções “mães” y = x 2 e y = − x 2 . A cada esboço de gráfico, determina-se as coordenadas do vértice, a imagem e as raízes (se reais). A partir destas funções, mostra-se o que ocorre graficamente quando somamos ou subtraímos um valor real c qualquer, ou seja, analisa-se a translação da função y = ax 2 + c . Uma das conclusões importantes que os alunos chegam é que, nestes casos, o vértice sempre está sobre o eixo y e terá coordenadas (0, c), e que a função só terá raízes reais se os sinais dos coeficientes a e c forem diferentes. Depois começa-se a análise gráfica das funções y = ( x − xv ) 2 , onde Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 3 – Educação Matemática no Ensino Médio 2 mostra-se o deslocamento horizontal da parábola. Os alunos concluem que, nestas situações, o vértice sempre está sobre o eixo x, tem coordenadas ( xv , 0), e que a raiz dupla é o próprio xv . Com isto, os alunos já descobrem “quem” são os responsáveis pelos deslocamentos verticais e horizontais das parábolas. Começa-se então a análise gráfica das funções do tipo y = a.( x − xv ) 2 + y v . Desta maneira, os alunos já enxergam as coordenadas do vértice, conseguem fazer o esboço do gráfico, bem como determinar a imagem e as raízes sem o uso de fórmula. Além disso, os alunos estabelecem uma relação necessária entre os números a e y v para que a função tenha raízes reais (devem ter sinais contrários). A pergunta que se coloca é “Como chegar à forma y = a.( x − xv ) 2 + y v , partindo da função y = ax 2 + bx + c ? ”. Para responder a essa pergunta, faremos os seguintes exemplos: Exemplo 1. Dada a função y = x 2 − 4 x + 3 , escrevê-la na forma y = a.( x − xv ) 2 + y v . Como a = 1 , para formar o quadrado ( x − xv ) 2 , extraímos a raiz quadrada do primeiro termo ( x 2 ) e tomamos a metade do coeficiente b (que no exemplo é – 4), ou seja, y = ( x − 2) 2 . (OBS: é importante retomar os casos de fatoração estudados no ensino fundamental). A função y = ( x − 2) 2 , que é idêntica à função y = x 2 − 4 x + 4 gera, além dos dois primeiros termos x 2 − 4 x , um termo aditivo igual a 4. Porém na função apresentada no exemplo o termo independente é 3. Como geramos 4, devemos subtrair uma unidade, isto é, obtemos a seguinte função: y = ( x − 2) 2 − 1 . A função escrita nesta forma já é de domínio dos alunos e, desta forma, tudo fica determinado. Para o cálculo das raízes os alunos usam o conceito de raiz, ou seja, “raiz de uma função é o valor de x que anula y” e procedem da seguinte maneira: ( x − 2) 2 − 1 = 0 ( x − 2) 2 = 1 x−2=± 1 x = 2 ±1 ⇒ x=3 e x =1 Exemplo 2. Dada a função y = 2 x 2 + 4 x − 3 , escrevê-la na forma y = a.( x − xv ) 2 + y v Determinar a imagem e as raízes reais. Como a = 2 , colocamos em evidência, isto é: y = 2.( x 2 + 2 x) − 3 . Agora procedemos da mesma maneira que no exemplo anterior, ou seja, formamos o quadrado y = 2.( x + 1) 2 . Porém, a função resultante é y = 2 x 2 + 4 x + 2 , que comparada com a função dada y = 2 x 2 + 4 x − 3 , necessita ser somado –5. Dessa forma obtemos y = 2.( x + 1) 2 − 5 e concluímos que o vértice tem coordenadas (-1,-5) e a imagem é o intervalo [-5, ∞) . Como os sinais de a e do yv são diferentes, sabemos que existem raízes reais. Para calcular as raízes, igualamos y = 0 e calculamos os valores de x, isto é: Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 3 – Educação Matemática no Ensino Médio 3 2.( x + 1) 2 − 5 = 0 2.( x + 1) 2 = 5 5 ( x + 1) 2 = 2 5 x +1 = ± 2 x = −1 ± 5 2 x = −1 ± 10 2 A resolução de problemas é a metodologia usada para os problemas práticos que são dados para os alunos. Essa metodologia baseia-se, segundo POLYA, em quatro etapas que devem ser seguidas: compreensão do problema, estabelecimento de um plano de ação, execução do plano e verificação da solução encontrada. Como sugestão, coloco alguns problemas como desafio. 1. Um avião de 100 lugares foi fretado para uma excursão. A companhia exigiu de cada passageiro R$ 800,00 mais R$ 10,00 por cada lugar vago. Para que número de passageiros a rentabilidade da empresa é máxima? Resp: 90 passageiros e R$ 81.000,00 2. Um dia na praia, às 10 horas a temperatura era de 36ºC e às 14 horas atingiu a máxima de 39,2ºC. Supondo que nesse dia a temperatura f(t) em graus era uma função do 2º grau do tempo t medido em horas ( 8 ≤ t ≤ 20 ) , determine: a função f (t ) = a ( x − x v ) 2 + y v a temperatura às 17 horas. Resp: a) f (t ) = −0,2( x − 14) 2 + 39,2 b) f(17) = 37,4 ºC 3. Num determinado dia a temperatura , em graus Celsius, era dada em relação ao horário pela função T (t ) = − t 2 + 26t − 133 , onde 9 < t < 16 horas. Determine: a temperatura máxima atingida e o horário em que isto ocorreu Resp: T(13) = 36º C b) a temperatura às 10 horas da manhã. Resp: 27º C c) o horário em que a temperatura era de 20º C Resp: 9 horas 4. Os fisiologistas afirmam que, para um indivíduo sadio e em repouso, o número N de batimentos cardíacos por minuto varia em função da temperatura ambiente T (em graus Celsius), segundo a função N (T ) = 0,1.T 2 − 4T + 90 . Nestas condições, em qual Anais do VIII ENEM – Minicurso GT 3 – Educação Matemática no Ensino Médio 4 temperatura o número de batimentos cardíacos por minuto é mínimo? Qual é esse número mínimo de batimentos cardíacos? Resp: T =20º C e N = 50 batimentos/min 5. Deseja-se construir uma farmácia num terreno retangular. Para tanto, decide-se aproveitar um muro já existente, por uma questão de economia. As paredes laterais (x) serão de alvenaria e o custo do metro linear é de R$ 250,00. A frente (y) será toda de vidro e o metro linear custa R$ 350,00. Pretendendo-se gastar R$ 10.000,00 com as 3 paredes, quais devem ser as dimensões x e y, de modo que a área da farmácia seja a maior possível? M U R O Resp: x = 10 m e y = 14,28 m x x y Palavras chaves: Metodologia, função do 2º grau Referências Bibliográficas CHEMALE, E. H e KRUSE, F. Curiosidades matemáticas. Novo Hamburgo: FEEVALE, 1999. MACHADO, Nilson José. Matemática por assunto: lógica, conjuntos e funções. São Paulo: Ed. Scipione, 1998. POLYA, Georg. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 1995. POZO, Juan Ignacio et. al. A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: ArtMed, 1998.