As Salas de Recursos Multifuncionais e as contribuições dos professores dessas salas no processo educacional de estudantes com deficiência visual Rosicléia Conceição Araujo Silva¹ Zulmira de Paula Amaral Fragoso² Rafaella Asfora ³ Resumo Este trabalho tem por objetivo investigar o papel da criação das Salas de Recursos Multifuncionais (SRMF) e as contribuições dos professores no processo educacional de estudantes com deficiência visual. Os recursos utilizados, bem como as dificuldades encontradas pelos professores na inclusão de crianças com deficiência visual a fim de contribuir para o seu processo educacional, também foram alvos de algumas explanações neste trabalho. Para isso, realizamos uma pesquisa do tipo qualitativoetnográfico através de entrevistas semiestruturadas e observações com duas professoras das SRMF de uma escola estadual da cidade do Recife. A partir da análise dos resultados, foi possível entender o papel da criação das SRMF e a importância do trabalho desenvolvido pelos professores, junto com a equipe pedagógica e a família, no sentido de promover o desenvolvimento dessas crianças, partindo assim para uma inclusão onde se possa aceitar e respeitar a individualidade de cada um atendendo às suas demandas. PALAVRAS-CHAVE: Salas de Recursos Multifuncionais; inclusão educacional; crianças com deficiência visual. INTRODUÇÃO No cenário educacional, a inclusão tem início a partir da Declaração de Salamanca (1994) e é reafirmada na Declaração Mundial de Nova York (2006), pois além de reforçar e retomar o que já vinha sendo discutido em conferências anteriores, ela se destaca pelos artigos específicos sobre as medidas a serem adotadas e seguidas pelos países e seus estados, formalizando assim parâmetros mundiais a serem respeitados e seguidos. Esse debate resultou em diretrizes que provocaram uma reestruturação no Sistema de Educação Brasileiro, no sentido de incluir os alunos com deficiência, respeitando os princípios da inclusão, da diversidade humana e de suas singularidades. Ao longo do nosso Curso de Pedagogia e de nossas vivências nos estágios de Pesquisa e Práticas Pedagógicas, onde tivemos o contato com alguns professores que expunham suas limitações em vários setores, inclusive na dificuldade de desenvolver ¹Graduanda de Pedagogia- Centro de Educação- UFPE. [email protected] ²Graduanda de Pedagogia- Centro de Educação- UFPE. [email protected] ³Professora do Departamento de Psicologia e Orientação Educacionais do Centro de Educação da [email protected]. 2 práticas que viessem a contribuir para a formação do processo pedagógico de crianças com deficiência em sala de aula. Com isso, surge em nós uma inquietação sobre como ocorre a inclusão educacional de crianças com Deficiência Visual, através do trabalho desenvolvido nas SRMF, e as contribuições dos professores no processo de formação pedagógica do aluno. Desse modo, analisaremos o funcionamento das SRMF e qual o tipo de colaboração existente entre esses docentes e os da sala comum, partindo do trabalho desenvolvido junto à família e da utilização dos recursos didáticos. Diante dessa realidade e levando em consideração as escassas fontes literárias que subsidiam esse tema, sobretudo, no que diz respeito ao impacto que as demandas por uma educação inclusiva têm causado na organização das escolas e nas atividades desempenhadas pelos professores, é que propomos realizar essa pesquisa. Esperamos que nosso trabalho possa promover uma reflexão sobre a inclusão educacional e, com isso, suscitar novas investigações a fim de que tenhamos uma escola que se paute cada vez mais no respeito à diversidade e aos direitos humanos. O presente trabalho estrutura-se da seguinte forma: a princípio, apresentaremos o marco teórico que demonstra, no decorrer do texto, os autores, os documentos e os conceitos que embasam teoricamente nossa pesquisa. A partir disso, segue uma breve descrição dos procedimentos metodológicos, onde tanto o instrumento de pesquisa quanto o público-alvo serão apresentados, e a análise dos resultados da pesquisa precedendo as considerações finais. 1. Marcos Legais da Educação Inclusiva: reflexões para uma possível transversalidade da educação especial No Brasil, a trajetória da educação de pessoas com deficiência apresenta três momentos distintos. Segundo Mantoan (2006), a primeira fase é marcada por iniciativas de caráter privado que vai do período de 1854 a 1956; a segunda fase, por sua vez, engloba o período de 1957 a 1993, sendo definido por ações oficiais de âmbito nacional; a última fase, por fim, iniciou-se em 1993 estendendo-se até os dias atuais sendo caracterizada pelos movimentos em favor da inclusão escolar. Desde a década de 60, quando se iniciou a proposta de inserir os alunos com deficiência nas escolas, foram desenvolvidas duas vertentes de pensamentos referentes à inserção, uma com a ideia de integralidade e a outra com o propósito de inclusão. 3 A educação especial, sob o paradigma da integração, apresentava-se como um subsistema à margem da educação regular. As crianças com deficiência continuavam segregadas em classes e escolas especiais, separadas por deficiência. O foco não era no processo pedagógico para a formação de um aluno crítico e autônomo, mas sim na reabilitação da deficiência do sujeito que estava segregado, já que vivíamos uma perspectiva médica de deficiência, onde o foco era o tratamento. Só a partir do final da década de 80 e início dos anos 90 as pessoas com deficiências se organizaram e começaram a participar de diversas ações ativistas como Comissões, Fóruns, movimentos e outros ambientes de diálogos e decisões com o intuito de assegurar seus direitos. Eles começaram a participar de espaços ligados ao trabalho, arquitetura, transporte, urbanismo e outros que assegurassem a acessibilidade de um modo geral, questionando a integração. A partir dessa concepção, muitas entidades sociais de pessoas com deficiência, juntamente com seus familiares e outros interessados na causa, embora reconhecendo o avanço que existia na integração, ainda apresentaram insatisfação com esse tipo de “inserção”, uma vez que, essas pessoas ainda ficavam à margem da sociedade, em espaços ainda segregados, como clubes para pessoas com deficiência e escolas especiais. A sociedade é que não estava conseguindo se adequar para conseguir incluílos totalmente e com dignidade. Só a partir da década de 90, o movimento das pessoas com deficiência e da sociedade civil ocasionou uma grande mudança na história da educação de pessoas com deficiência, uma vez que lutando por uma educação inclusiva, proporcionaram encontros internacionais aos quais priorizavam discussões sobre estratégias e metas para aumentar o acesso da população dos países em desenvolvimento à educação básica, tais como: a Conferência Mundial sobre Educação para todos em Jomtien (1990), a Conferência Geral da UNESCO (1991), que convocou uma comissão internacional denominada Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI (1993). Em 1994, no intuito de esclarecer melhor qual o lugar que essas pessoas com deficiência ocupariam nas propostas de educação para todos, aconteceu na Espanha, cidade de Salamanca, a Conferência Mundial de Educação Especial (1994) que teve o apoio da UNESCO – onde trouxe Procedimentos-Padrões das Nações Unidas de Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências. É a partir dela que se inicia, em 1994, a era da inclusão, propondo a reestruturação do sistema educacional na qual pessoa com deficiência deixa de ser o 4 foco central de todos os fracassos e dificuldades do processo educativo e passa a ser atendida em suas demandas, uma vez que é na interação com a sociedade que os impedimentos são ressaltados, pois é a sociedade que deve se adequar às pessoas com deficiência. Mesmo sob um novo paradigma, constata-se que a falta de financiamentos públicos, a ausência de estrutura, serviços e recursos que permitam a acessibilidade para essas pessoas, a formação continuada não contextualizada, como também a ausência de políticas públicas articuladas são responsáveis pelas barreiras que ainda persistem no processo de inclusão. Nessa direção, com foco nas declarações mundiais relacionadas aos processos educacionais, voltados as pessoas com deficiência, destacou-se como inovadora a Declaração Mundial de Nova York (2006) que, além de reforçar e retomar o que já vinha sendo citado nas conferências anteriores, trouxe especificidades aos aspectos mencionados sobre as medidas a serem adotadas pelos estados. Logo, podemos destacar: o incentivo a pesquisas e disponibilidade de serviços, tecnologia no sentido de informação e comunicação com o menor custo possível e instrumentos de tecnologia assistiva que possa ser realmente acessível a todos. A partir da Convenção de Nova York, surge a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008). Esse documento traz à educação especial uma nova perspectiva, entendendo-a como uma modalidade transversal, pois a educação especial segundo essa política é uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, devendo realizar o atendimento educacional especializado, de modo a disponibilizar recursos e serviços e orientar quanto a sua utilização no processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns do ensino regular. SEESP/MEC (2008). Essa Política apresenta em tal documento o objetivo de oferecer o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, devendo orientar os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais. O Ministério da Educação e Cultura (MEC) no intuito de auxiliar um melhor aprendizado para as pessoas com deficiências visuais publica em 2007 um Manual de Atendimento Educacional Especializado (MAEE) o qual reafirma a necessidade da implantação das salas de recursos. 5 Ressalta-se que a SRMF é um espaço para Atendimento Educacional Especializado (AEE) sendo uma ação do sistema de ensino que oferece o suporte às necessidades educacionais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento e desenvolvendo competências e habilidades próprias. Segundo nos apresenta o citado manual, o professor da SRMF deve atuar de forma colaborativa com o professor da classe regular para a definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso do aluno com necessidades educacionais especiais ao currículo e a sua interação no grupo; orientar as famílias para o seu desenvolvimento e a sua participação no processo educacional; preparar material específico para o uso dos alunos na sala de recursos. 2. As Salas de Recursos Multifuncionais: o trabalho especializado para crianças com Deficiência Visual. De acordo com Vilas Boas e Ferreira (2010) a Deficiência Visual corresponde à diminuição da resposta visual de modo irreversível, em decorrência de causas hereditárias ou congênitas. Essa diminuição não corresponde só à falta total da visão, mas pode se apresentar em vários graus podendo ser profunda, severa, moderada, leve e total sendo esta última reconhecida por cegueira que é a ausência total da resposta visual; já a diminuição da visão em seu grau profundo engloba a visão subnormal ou baixa visão. Para essas autoras, a visão é um meio importante do indivíduo se integrar com o ambiente que o cerca, uma vez que os conhecimentos são obtidos em alta proporção por seu intermédio. Sendo assim, a falta desse sentido poderá refletir na vida do ser humano em termos pessoal e funcional, o que, em uma sociedade inclusiva, não o impede de usufruir de seus direitos, como o direito à aprendizagem. Nessa perspectiva surge uma indagação: como essas pessoas podem ser incluídas nas salas de aulas comuns de modo a favorecer a formação integral e apropriação de conteúdos, sobretudo relacionados à aquisição da leitura e da escrita, para o seu processo educacional? Ora, uma das maiores problemáticas apresentadas pelos educadores, ao longo da nossa jornada acadêmica através das pesquisas e práticas pedagógicas, foi exatamente saber o que fazer e como fazer o trabalho educacional com aqueles alunos que apresentam algum tipo de deficiência (e ou transtornos de aprendizagem); e a outra 6 problemática levantada pelos educadores foi justamente o como tratar de modo igual todos que se encontram dentro das salas de aulas de modo que possam aprender os mesmos conteúdos só que com metodologias diferentes, especificas para a singularidade de cada um, e, no caso, para os que apresentam Deficiência Visual. Assim, na tentativa de contribuir para a resolução das problemáticas enfrentadas pelos educadores no tocante a inclusão educacional das pessoas com deficiência visual, surge de modo atuante, dinâmico e altamente necessário as SRMF e o trabalho desenvolvido pelos profissionais especializados para trabalhar com as crianças com deficiência visual. Escolhemos para a elaboração de nosso trabalho vários autores, focamos contudo no manual de Atendimento Educacional Especializado (AEE) publicado pelo MEC/2007 e no manual de Implantação da Sala de Recursos Multifuncionais documentado pelo MEC/2010. No manual do AEE observamos uma seriação bem nítida de atividades voltadas para o atendimento das escolas públicas, de modo que elas possam desenvolver com segurança e qualidade um trabalho, respeitando e produzindo práticas que favoreçam o desenvolvimento pedagógico dessas crianças. O manual de Implantação das SRMF estabelece, conforme Resolução CNE/CEB n.4/2009, art. 12, que: para atuar no atendimento educacional especializado, o professor deve ter formação inicial que o habilite para exercício da docência e formação específica na educação especial, especificamente para a deficiência visual. Os conceitos lá existentes apontam em primeiro lugar para o fato de ser necessário aos professores especializados possuir uma avaliação funcional da visão, previamente dada por um médico, uma vez que, como nos apresenta (SEESP/MEC 2007), este tipo de avaliação revela dados de observação importantes a respeito do nível de consciência visual, recepção, assimilação, integração e elaboração dos estímulos visuais como também sobre o uso funcional do potencial da visão e seu desempenho. A avaliação funcional da visão define qual o grau da deficiência visual que a pessoa se enquadra. Nesse sentido, para as pessoas que apresentam essa deficiência, independente do grau, qual é a consequência disto para o seu desenvolvimento individual, psicológico e social? E conseqüentemente para a sua aprendizagem em geral? De acordo com estudos realizados, alguns autores como Gil (2000) afirma que na Deficiência Visual, o impacto 7 desta para o desenvolvimento do indivíduo depende de vários fatores como a idade em que ocorre a deficiência, o seu grau, a participação e interesse da família, a personalidade da pessoa, além da intervenção escolar. Após o professor da sala de recursos ter essa avaliação funcional, outro fator é apresentado como muito importante para o trabalho com as crianças que têm alguma Deficiência Visual: o ambiente. Este é muito importante para a aprendizagem fluir livremente uma vez que o espaço físico, a configuração deste, não é percebida logo de imediato pelos alunos com Deficiência Visual, sendo preciso possibilitar o conhecimento e o reconhecimento dele bem como a disposição do mobiliário lá existente. O aluno com Deficiência Visual irá percebendo e retendo as informações do ambiente de modo processual e analítica a partir do espaço concreto da sala de aula e do caminho rotineiro, da escola, por eles utilizados (SEESP/MEC.2007). É de suma importância também criar alternativas e utilizar os recursos disponíveis para a elaboração de estratégias de ensino, pois essa prática facilita a organização do trabalho pedagógico e o planejamento de atividades. É desse modo que, na escola, o trabalho com os alunos com baixa visão precisa se basear no princípio de estimular a utilização plena do potencial da visão. (Idem). A utilização dos recursos ópticos e não ópticos é mais um ponto culminante, a utilização desses recursos deve está ligada a um trabalho de acompanhamento médico, pedagógico e psicológico onde deve ser escolhido o melhor recurso, levando em consideração a necessidade específica de cada aluno, pois o uso indevido e não especifico desses recursos podem vir a prejudicar e atrapalhar o desenvolvimento do aluno. É muito importante sua utilização, pois essa é a tecnologia necessária para o desenvolvimento da leitura e da escrita desse público. Os recursos ópticos podem ser para longe ou para perto, são eles: para longe (telescópio para leitura no quadro telessistemas, telelupas e lunetas) e outros, e para perto (óculos especiais com lente de aumento, óculos bifocais, lentes monofocais esféricas, lentes esferoprismáticas e sistemas telemicróscópicos). Ainda existe a possibilidade de se usar vários softwares com ampliadores de tela e programas com síntese de voz, cabe ao professor pesquisar e utilizar os que mais se adequem aos seus alunos e as suas especificidades. (Idem). 8 Quanto à composição SRMF, podem ter duas definições: do tipo I e do tipo II, na qual a segunda contempla todos os recursos disponíveis da primeira, mais os diferenciados para o atendimento específicos de alunos com Deficiência Visual (SEESP/MEC.2010). Para o processo de alfabetização e a aprendizagem de uma pessoa cega é importante que haja o incentivo do professor para a coleta de informação desses alunos, estimulando os sentidos remanescentes, de modo que o tato, a audição, o olfato, e o paladar sejam um veículo para que as informações sejam levadas ao cérebro. Segue-se então a interação e a comunicação com o outro é de suma importância uma vez que desperta a curiosidade e o interesse pelo mundo. SEESP/MEC (2007). Na perspectiva apresentada outro fator de suma importância para ser trabalhado pelos professores das SRFM é o trabalho da leitura de histórias para as crianças, pois facilita o desenvolvimento da linguagem oral bem como a linguagem escrita. Tanto para as pessoas com deficiências visuais quanto para os videntes, a leitura de histórias para a criança contribui no processo de apropriação e compreensão do ambiente e do mundo ao seu redor. A despeito dessa problemática, destacamos que, as crianças com esta deficiência apropriam e organizam as informações recebidas através de outros sentidos como o tato, audição, olfato e paladar, porém estas informações chegam impregnadas de referências e padrões partindo das experiências dos videntes, o que dificulta seu aprendizado. SEESP/MEC (Idem). Sobre a alfabetização dessas crianças, ocorre uma espera maior para adentrarem no universo letrado, essa demora, segundo Candido (2007) se deve ao fato do sistema Braille diferir inteiramente da escrita comum enquanto código e quanto sua apresentação. O Braille é conhecido universalmente como código ou meio de leitura e escrita das pessoas cegas. Esse sistema baseia-se na combinação de 63 pontos que representam letras do alfabeto, números e outros símbolos gráfico, divididos em seis pontos básicos e duas colunas. É uma das primeiras tecnologias que possibilita a criança cega aprender a ler e escrever 3. METODOLOGIA Para a realização de nossa pesquisa, optamos pela utilização de uma abordagem qualitativo-etnográfica. A escolha pela abordagem qualitativa se fundamenta pela 9 necessidade de entender a relação estabelecida entre os sujeitos entrevistados e o objeto de nossa pesquisa. Assim, ela possibilita uma maior interação com o objeto de estudo, onde o pesquisador descreve os dados e procura entender os fenômenos sobre a ótica dos sujeitos (GODOY, 1995). Quanto ao uso do método etnográfico, se deu pela necessidade de concretizarmos empiricamente os nossos objetos de estudos, a fim de iniciarmos nossa análise, onde, segundo (LAKATOS; MARCONI, 2007), essa é justificada pelo fato de permitir um contato mais próximo pelo campo delimitado, através de procedimentos de observação, com o objetivo de entender “como funciona uma Sala de Recursos Multifuncionais”. O lócus de aplicação dessa pesquisa foi uma escola da Rede Estadual de Ensino. Dentre os motivos que nos levaram a escolha da escola, é por ela ser referência no Estado, sendo parte integrante do Instituto de Educação de Pernambuco (IEP), tendo sido estruturada, como um Centro Integrado, através do Decreto Estadual nº 2.631, de 26 de outubro de 1972. Além de ser referência no Estado, ela contempla nosso campo de pesquisa no sentido de possuir alunos com Deficiência Visual em processo de alfabetização e por possuir SRMF. Sobre a composição da amostra, essa contará com a participação de duas professoras da SRMF, quanto ao critério de escolha dos profissionais é por serem Braillista e atenderem essas crianças com Deficiência Visual. Quanto aos procedimentos de coleta de dados, a pesquisa foi dividida em dois momentos: o primeiro momento conta com visita a SRMF, onde observamos os recursos utilizados e a vivência empírica das adaptações feitas por esses profissionais no sentido de proporcionar a esses alunos uma melhor adaptação aos conteúdos programáticos e consequentemente contribuir para o processo de alfabetização dessas crianças com Deficiência Visual, de acordo com Chizzotti (1998, p.90) essas observações são dadas através da relação do pesquisador com seu objeto de estudo, em seu contexto natural. O nosso segundo momento se caracterizou pela realização de entrevistas semi estruturada onde conforme Minayo (2007) são compostas por perguntas aberta e fechadas ao qual possibilita ao entrevistado uma maior flexibilidade nas dinâmicas das questões. 10 Para a análise dos dados, utilizaremos como referência as três fases básicas da análise de conteúdo descritas por Bardin (1979), ou seja, a pré-análise, a descrição analítica e a interpretação inferencial. 3.1 Dados dos participantes e do lócus da pesquisa Para podermos efetivar os objetivos de nossa pesquisa com mais segurança de modo a garantir que todos os tópicos de interesses detectados na análise sejam contemplados, procuramos investigar dados do perfil das entrevistadas a respeito da formação, especialização e tempo de trabalho de cada uma. Participaram da pesquisa duas professoras da SRMF da Escola pertencente à Rede Estadual de Ensino do Recife a qual está localizada no bairro de Santo Amaro. A escola possui fácil acesso a avenidas principais, ficando próxima também de uma biblioteca pública e de um parque chamado Treze de Maio. Esta escola trabalha com o seguinte público: crianças do terceiro ao nono ano do ensino fundamental. A professora um (1) tem 44 anos, sua formação inicial é em Letras, com habilitação em Literatura Brasileira, tem especialização em Educação Especial, curso de Avaliação Funcional da Visão no Instituto Benjamin Constant, e seu Mestrado é em Educação. Para trabalhar com crianças com Deficiência Visual além do curso de Tiflologia (a disciplina que estuda as condições e os problemas das pessoas com deficiências visuais), ela ainda tem Formação em Braille, Coordenação Matemática, Editoração, Inclusão Escolar e Deficiência Múltipla. Tem quinze anos de docência e há oito atua com Educação Especial com foco em Deficiência Visual. Atualmente trabalha com um aluno de baixa visão, de nove anos do 3º ano, há quatro anos participa do ciclo de alfabetização de crianças do primeiro ao terceiro ano. A professora dois (2) tem 51 anos tem sua formação inicial em Odontologia, na área da educação ela inicia com Magistério, com formação Superior em Psicologia, Atualmente está se especializando em Psicopedagogia. Para trabalhar com crianças com deficiência Visual fez o curso de Tiflologia, na Associação Pernambucana de Cegos (APEC), com formação para professor Braillista. Tem quatro anos de docência e há dois anos atua na Educação Especial com foco em Deficiência Visual, atualmente trabalha com um aluno cego, de nove anos do 3º ano, nas SRMF. 11 4. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Para a realização das análises foi adotada a metodologia baseada na análise de conteúdo. As três fases básicas da análise de conteúdo descritas por Bardin (1979), ou seja, a pré-análise, a descrição analítica e a interpretação inferencial possibilita ao pesquisador desvendar e interpretar especificidades de um texto a partir de conhecimentos contidos dentro de outros textos descobrindo assim os conteúdos que segundo o autor – são muitas vezes obscuros. Nessa perspectiva as observações, os registros e as análises parte do contexto natural possibilitando uma aproximação maior com os dados da realidade, gerando, assim, uma confiabilidade maior a pesquisa realizada. Após as análises das observações realizadas nas SRMF e das transcrições das entrevistas, foram feitas leituras atentas e cuidadosas dos materiais (transcrito) para só a partir daí iniciarmos as análises propriamente dita. A fim de sistematizar as etapas das análises e apresentar os resultados e discussões, organizamos os episódios em partes onde no primeiro momento apresentamos e analisamos a observação realizada na SRMF e no segundo adentramos na entrevista com as professoras. Esse procedimento nos permitiu ter um entendimento mais detalhado dos recursos didáticos disponíveis, bem como nos possibilitou compreendermos qual é efetivamente o papel do professor. As observações foram analisadas da seguinte forma: expusemos o ambiente físico da sala de recursos e os materiais pedagógicos lá existentes, logo após comparamos as informações obtidas nas observações com os dados fornecidos pelos manuais de atendimento educacional e o manual de implantação das salas de recursos a respeito de como deve funcionar a sala de recursos, quais os materiais devem existir e comoo o professor da referida sala trabalha com esses materiais. Para a análise das entrevistas, dividimos os resultados e discussões por categorias onde em cada uma delas abarca questões referentes às tarefas que o professor da sala de recursos deve desenvolver no trabalho com a escola. Assim, cada categoria apresenta algumas colocações dos professores das salas de recursos multifuncionais a respeito dos seus principais objetivos, bem como as análises realizadas de forma analítica, confrontando sempre a fala das professoras com o que há na literatura. As categorias analisadas são: parceria do professor das salas de recursos com os professores das salas comuns do ensino regular; orientação e parceria com as famílias; e utilização e 12 elaboração de recursos didáticos específicos para o trabalho com as crianças que tem deficiências visuais. 5. RESULTADO E DISCUSSÃO 5.1 Observação da Sala de Recursos Multifuncionais O primeiro momento da realização de nossa pesquisa foi composto pela realização de duas observações a SRMF, onde cada visita durou em media 60 minutos, e foram acompanhadas pela presença da professora Braillista, na qual, também foi uma das participantes de nossas entrevistas. A partir de nossas visitas tínhamos como objetivos in lócus, a materialização empírica de um de nossos objeto de estudo. Durante as visitas as SRMF pudemos nos inteirar dos recursos ali existentes, para a escrita como a reglete, o punção e a maquina Braille; e para o trabalho com matemática o sorobã e o ábaco. Livros em Braille tanto de conteúdo didático, quanto os livros de literatura, material em ótimo estado de conservação. Em seu acervo a sala também conta com jogos de dominó, jogos com figuras geométricas tudo em alto relevo, além dos computadores que haviam chegado na semana de nossas visitas e que não tinham sido instalados e vieram sem os programas. Mas a preciosidade dessas salas sem dúvida alguma são as adaptações dos recursos didáticos, e é partir deles que podemos entender o grande diferencial desse trabalhado que é desenvolvido, a maior parte desse recursos é feita modo artesanal, voltado especificamente para atender a individualidade de cada aluno. Pudemos observar isso como no uso da pré bengala, que é feita a partir de uma mangueira de jardim cortada e amarrada feito um arco, para trabalhar a mobilidade com os alunos, dentro e fora da sala de aula, a pré reglete feita de madeira em tamanho aumentado com pinos de aço, a caixa dos números escritos em Braille e com a quantidade dos objetos, o nome dos materiais da sala escrito em Braille, no acetato e fixados nos objeto na sala e nos móveis portas e cadeiras, o alfabeto feito em tela e fixado na sala e diversos outros que são elaborados e usados de acordo com a necessidade do aluno em cada momento do seu processo de aprendizagem. Tudo que encontramos em nossa observação faz menção ao Manual do Atendimento Educacional Especializado em Deficiência Visual, (SEESP/MEC.p.26.2007) , que no seu item quatro fala sobre os recursos didáticos, 13 referindo-se as vivências cotidianas que devem ser exploradas com o intuito de estimular os sentidos, onde as variedades e qualidades dos recursos é que vão permitir, a esse aluno, o seu acesso ao conhecimento e a aprendizagem significativa. Todos os jogos, recursos tecnológicos, livro didáticos, materiais com texturas e essas outras infinidades de recursos, confeccionadas a partir de sucatas, venham a seguir os critérios de eficiência para sua utilização, sendo assim de grande importância para os alunos com Deficiência Visual, no sentido de que possa proporcionar: situações de aprendizagem mais agradáveis, mais motivadoras em um ambiente de cooperação e reconhecimento das diferenças. Ainda que em nossa segunda visita tenham chegado alguns computadores e note book para os alunos, o que nós evidenciamos é que a SRMF dessa escola ainda encontra-se em construção, pois pelos recursos que podemos mapear conseguimos identificar que ela possui recursos dos dois tipos de sala, mas de maneira incompleta, pois tanto falta o scanner (que pertence ao tipo I) quanto à impressora (que é do tipo II). Assim não se enquadra em nenhuma das tipologias. 5.2 Entrevistas Semiestruturadas Com as Professoras das Salas de Recursos 5.2.1 Parceria do professor das salas de recursos com os professores das salas comuns do ensino regular Segundo nos apresenta o manual de atendimento especializado, o professor da SRMF deve atuar como docente nas atividades de complementação ou suplementação curricular específica que constituem o atendimento educacional especializado. Entre seus principais objetivos encontra-se o de atuar de forma colaborativa com o professor da classe comum para a definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso do aluno com necessidades educacionais especiais ao currículo e a sua interação no grupo. Sobre essa questão, apresentada no parágrafo anterior, a partir do cruzamento das informações presentes nas entrevistas das professoras, pôde-se verificar que tanto a profª. (1) quanto a profª. (2) estão trabalhando em equipe com as da sala comum de modo a potencializar o trabalho educacional conseguindo com isso, oferecer o suporte às necessidades educacionais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento e desenvolvendo as competências e habilidades próprias de cada aluno. O que contempla uma das metas do trabalho do professor dessa sala como suscita o Manual. 14 Quanto à parceria podemos constatar que ambas, de fato, realizam o trabalho com as professoras das salas comuns do ensino regular a partir de suas falas. Sobre esse tópico, quando indagadas a respeito se intercâmbio entre elas e as professoras das salas comuns para o desenvolvimento das atividades, obtivemos como resposta: Profª.( 2). “Claro, tem que ter. Assim, por exemplo: ela me passa não o planejamento em si dela, mas os tópicos, que ela vai trabalhar; essa semana mesmo ela ta trabalhando o dicionário alfabético em sala, ai eu fui buscar o dicionário em Braille na biblioteca aqui ao lado” Profª (1) “Existe sim, todo ano na primeira reunião administrativa eu sou chamada pra conversar com os professores, agora o que existe é uma resistência muito grande, em aceitar o que é dito. Eu lembro que em uma das ultimas que eu fui, esse ano não por que eu tava doente, ai quem foi, foi Heloisa eu lembro que uma das ultimas que eu fui e quando eu terminei de dar a aula, não é uma aula é tipo uma capacitação a gente mostra aquelas estereotipias que as crianças apresentam, não tem nada haver com deficiência mental, porque muitos professores, batem muito na tecla de dizer que além de cegos os alunos tem o mental atrofiado, agora porque por causa do comportamento, porque tem criança que balança, que aperta os olhos, que grita, verbaliza a mesma coisa fica fazendo ecolalia¹ fica cantando alto ai os professores por não entenderem esses comportamentos associam eles ao comportamentos de deficiente mental, na verdade essas formas de comportamentos são a forma da criança interagir com o mundo, uma forma equivocada de interação com o mundo, por que ele na tentativa de interagir faz da maneira que ele pensa que é”. A partir das suas respostas e da segurança com que expuseram os vários exemplos ocorridos com elas nos momentos de trabalho ao longo da sua carreira profissional, percebemos haver de fato uma consonância no trabalho com as professoras das salas comuns. As falas das professoras ratificam que elas vêm realizando esse trabalho de parceria com maestria, atingido assim os princípios apresentados pelo Manual de Atendimento Especializado ( MEC 2007) como já foi dito. Quanto às dificuldades enfrentadas para o trabalho em parceria com algumas professoras das salas comuns, isso ocorreu. A profª (1) não relatou dificuldade em trabalhar em parceria, contudo salientou várias vezes que o trabalho da professora de recurso é, entre outras coisas, oferecer o suporte às necessidades educacionais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento e desenvolvendo as competências e habilidades próprias de cada aluno. Ora, se perguntamos sobre o trabalho de parceria e ela que é professora da SRMF nos diz que sempre trabalhou em parceria com as professoras das salas comuns porque esse é um dos seus objetivos, pois segundo o SEESP/MEC (2007) uma das funções dos professores das SRMF é contribuir para o trabalho pedagógico das 15 professoras das salas comuns, oferecendo-lhes possibilidades para o trabalho a ser desenvolvido, mas quanto às dificuldades nunca vivenciou nenhuma com relação ao intercâmbio profissional com essas professoras da sala comum; e, repete várias vezes que o seu trabalho não é reforço escolar, pois algumas vezes este é confundido por algumas professoras; logo, entendemos que embora a profª1 diga que não encontra dificuldade em trabalhar com as das salas comuns, ela enfrenta problemas dessa natureza, pois na entrevista em dado momento nos relata que é preciso relembrar aos professores que seu trabalho é de apoio, ajudar a criar meios, estratégias, recursos didáticos, enfim contribuir para e não dar o conteúdo. Já a profª (2) afirma haver o trabalho de equipe, contudo dá vários exemplos de o quanto é complicado, pois segundo nos mostra “muitas professoras já têm seus conceitos ou pré-conceitos arraigados em seu psique e para trabalhá-los é muito complicado uma vez que muitas tentam e se veem como se não apresentassem nenhum problema em trabalhar com alunos com deficiências” (profª 2), mas no seu dia a dia demonstram que ainda precisam desapegar de alguns conceitos que dificultam o seu trabalho com essas crianças, em específico com as que apresentam deficiências visuais. Em relação às contribuições de se trabalhar em parceria com as professoras das salas comuns são várias, pois a todo o momento são chamadas para atender os alunos que apresentam dificuldade na leitura ou ainda estão se alfabetizando e por isso fica difícil de aprender o conteúdo das diversas disciplinas dado em sala de aula. Ai a professora da sala de recursos vai observar qual é o problema para daí trabalhar em cima deste, criando recursos didáticos que facilitem o aprendizado do aluno cego ou com baixa visão ou atuando no que for necessário. “isso quem vai dizer, ou mostrar é o aluno” diz a profª 2 ao se referir como ela constrói algum recurso ou mesmo ajuda no processo de desenvolvimento da leitura ou da escrita, enfim atuam no que for necessário. E para que isso ocorra, segundo ambas, o trabalho em equipe com parceria e boa vontade é primordial. O trabalho de equipe não se dá só para com as professoras das salas comuns, este perpassa todos os âmbitos da comunidade escolar, se estende a família, aos gestores, coordenadores e também aos professores. 16 5.2.2 Orientação e parceria com as famílias. Quanto à importância do trabalho focado na orientação e parceria com as famílias, o Manual de Atendimento Especializado do (MEC, 2007) nos fala sobre: a importância de se estabelecer um relacionamento aberto e cordial com a família dos alunos, no sentido de assim os professores poderem conhecer melhor suas necessidades, hábitos e comportamentos. Devem conversar naturalmente e esclarecer dúvida ou responder a pergunta dos colegas em sala de aula. Todos envolvidos devem criar o habito de evitar a comunicação gestual e visual na interação com esses alunos. É recomendável também evitar a fragilização ou a superproteção e combater atitudes discriminatórias. Assim tentamos entender as principais dificuldades, que surgem na hora de desenvolver o trabalho com esses alunos. A princípio foi questionado, sobre quais as maiores dificuldades que surgem na hora do trabalho com essas crianças, para a profª. (2) ela aponta como dificuldade a resistência de seu aluno, em ler o Braille, por que quanto à escrita, ela diz que ele escreve sem problemas na máquina, mas na hora de ler usando os dedos ele não tem interesse e muitas vezes se recusa. Mas ela enfatiza em sua fala. Ele é meu primeiro aluno, e assim a minha única experiência! Eu só posso falar dele. Já quanto à resposta da nossa profª. (1) ela nos traz a família como a maior dificuldade, que surgir no desenvolvimento desse trabalho com os alunos com Deficiência Visual. Na sua fala ela diz: A pior dificuldade é a família, porque quando há uma ajuda da família e entendimento que, a mãe deixando a criança fazer as coisas ela vai crescer na escola, mais a maioria das vezes o que acontece é que ele tem limites e a mãe, a família se nega a fazer esse trabalho. Profª (1). E se a família é tão importante no desenvolvimento desse trabalho e em muitos casos existe de fato, uma forte resistência, ao novo, ao desconhecido e seguindo a linha de Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (SEESP/MEC.2008), onde ela fala da importância do trabalho a ser desenvolvido pelos professores das SRMF, e que seu atendimento deve contemplar a participação da família e da comunidade foi ai que perguntamos as professoras entrevistadas, se existe algum trabalho específico na escola voltado a inclusão das famílias desses alunos com deficiência visual? Se ele existe? Como funciona? Prof.ª (1). “Na escola a gente chama os pais pra dar o um apoio, pra conversar individualmente, inclusive faz parte do plano a gente anota o dia que o pai vem. Faz aquela conversa individual e mais nada”... 17 Profª. (2). Primeiro que a gente tem a sala da UIAP (Unidade de Integração e Apoio Pedagógico), então a família é procurada por esses profissionais, que fazem partes pedagogos, psicólogos, psicopedagogos que conversam com a família e com a gente também onde a gente entra em contato com toda historia dessa criança. Nas falas das duas professoras evidenciamos a importância, desse primeiro contato com a família, no sentido de poder analisar o verdadeiro contexto ao qual esta criança inserida e assim, a partir dai poder desenvolver um melhor plano de atendimento que, possa vir as contemplar as necessidades e especificidades de cada aluno. A profª. (1) em sua fala diz que existe a primeiro momento e mais nada, mais sempre que observa algum ponto em que pode orientar a família ela por si tenta ajudar e conversar mostrando meios de resolver o problema como no caso de um aluno em que ela em sua fala diz: “Essa mãe eu ajudei no sentido de orientar, pois eu notei que ela tava orientando o menino errado, ai eu perguntei a ela se ela tem o CD de orientação e mobilidade? Ai ela disse: Não eu nunca vi! Ai eu vou dar pra você e você vai ver e assistir vai usar aquelas técnicas com ele porque hoje mesmo quando eu tava saindo da sala com ele eu usei a técnica e ele não usou ai o que aconteceu ele meteu a cara na parede”. A profª (2) sempre que acha necessário também conversa com a mãe de seu aluno no sentido de corrigir alguns detalhes no sentido de promover um melhor atendimento ao seu aluno. A despeito da participação da família Gil (2000) e Russo-Cano (2003) nos apontam que cabe a família ou responsáveis pela criança, aproximar os estímulos que estão fora do seu campo de percepção, facilitando a exploração e desenvolvimento natural sem interesse, bem como a família também deve se envolver no aprendizado do Braille, pois da mesma forma que para um vidente só pode ensinar e ajudar a alfabetizar aquele que já domina o sistema, do mesmo modo é para as pessoas com deficiências visuais tanto na escola quanto na família os envolvidos devem conhecer e dominar o sistema para ajudá-los a se alfabetizar. E foi seguindo essa linha de pensamento que perguntamos as professoras entrevistadas, se elas achavam importante a participação da família para a alfabetização desses (as) alunos? Como eles poderiam contribuir nesse processo? E o que podemos verificar na fala das professoras: Prof. (1). Com certeza, muito, muito mesmo. Pra mim eu peço muito que eles deixem a criança ser criança. Ela tem que ser criança como qualquer outra criança. Criança sobe em mesa, sobe em sofá desce grade escala muro ela tenta descobrir as coisas, e uma criança cega tem que passar por todos 18 esses mecanismos ela tem que aprender a cair e levantar sozinha, ela tem que fazer tudo pisar na grama, tomar banho de lama tudo que uma criança normal faz a criança cega tem que fazer e mais ainda acho que a sociedade tá percebendo o crime que está fazendo com essa nova geração.tem um comercial que eu acho perfeito do OMO que quando ele diz que se sujar faz bem, o sujar está envolvendo no mundo de descobertas que só quem pode fazer é a criança. Não adianta de nada a mãe da uma descoberta pronta e mostrar o caminho a criança tem que aprender a descobrir as coisas por ela mesma e é esse descobrir por ela mesma que vai a despertar para uma aprendizagem, pra leitura, pra escrita e eu acho perfeito esse comercial, .. “E acho que se a criança cega pudesse ser criança de fato ele poderia aprender muito mais as coisas”. Profª. (2) Eu acho que pra qualquer momento a família é extremamente importante e tem que ter essa parceria, tanto na sala de AEE quanto na sala da professora comum, todo momento deve existir uma parceria da família com a escola, não tem como não existir. É não tem pra onde. Eu acho que na questão dessa autonomia mesmo que a mãe sabe escrever Braille na máquina e a gente conversando, ela estava escrevendo pra ele e ele falava o que ele queria, por exemplo: a tarefa era escreva 3 monossílabas, aí ele falava pra mãe e ela escrevia, aí a gente percebeu que as tarefas não estavam tendo erros e a gente não sabia como tava acontecendo? Ai quando questionamos com ele, ele mesmo disse, ai conversamos com ela e ela entendeu que ele mesmo deveria escrever, para aprender de fato e ela acatou o nosso conselho. Na fala das professoras podemos observar quanto é importante esse trabalho desenvolvido com os pais, no sentido realmente de lhes orientar quanto ao proceder com o seu filho com deficiência visual, onde elas falam em vários trechos das entrevistas, que sem a participação ou empenho da família os resultado não são obtidos, por que não adianta o trabalho ser feito na escola e em casa esse aluno não ter a orientação correta. Não só a mãe, mas a família tende a tratar a criança cega com os conceitos estigmatizados, de trazem aos deficientes achando que eles são incapacitados, ou coitadinho e assim privam as criança do mundo o que é de grande prejuízo para ela, é quando em um trecho da fala, da na qual ela diz: Profª (1) E acho que se a criança cega pudesse ser criança de fato ele poderia aprender muito mais as coisas.... E pra criança cega ele perde isso essa autonomia, essa independência que só o convívio com a outra criança, com o mundo vai poder dar. E não é mãe não que vai lhe dar isso em muitos casos ela piora e muito com a sua super proteção. A criança, precisa desse contato, para concretizar as experiências do mundo e a criança cega não deixa de ser criança. Toda criança precisa fazer esses reconhecimento do mundo, a partir de suas vivencias empíricas, então a família e a comunidade, tem que deixar a criança com deficiência visual ser criança e viver suas experiências. 19 5.2.3 Utilização e elaboração de recursos didáticos específicos para o trabalho com crianças que tem deficiência visual Conforme já foi dito, o trabalho das professoras das SRMF ocorre em parceria com as professoras das salas comuns tendo como um de seus objetivos acompanharem os alunos com deficiências, em especifico as visuais. Como um dos principais trabalhos a ser desenvolvido pelas professoras da SRMF é trabalhar as lacunas existentes no processo de aprendizado apresentadas pelo aluno - para daí as professoras das salas comuns ministrarem as disciplinas ensinando os devidos conteúdos - e, como as crianças estão em fase de alfabetização, apresentando como dificuldades principais o fato de não saberem ler ou ainda estarem se apropriando, então, a alfabetização torna-se imprescindível. Para as crianças com deficiência visual se alfabetizarem é preciso trabalhar a apropriação da escrita Braille, mas para que o aprendizado ocorra de modo completo e seja significativo, é importante possibilitar às crianças a coleta de informação por meio dos sentidos remanescentes. Nesse sentido, “a audição, o tato, o paladar e o olfato são importantes canais ou porta de entrada de dados e informações que serão levados ao cérebro” SEESP/MEC (2007). Ainda sobre a alfabetização podemos salientar que o próprio posicionamento das letras, no alfabeto Braille, deve ser apresentado empregando-se a noção de direita e esquerda, em cima e embaixo, conceitos que, se já estiverem dominados pela criança cega, no início da alfabetização, facilitarão o domínio das técnicas do sistema, podendo ser concluído a partir daí como é importante o domínio, o quanto antes, da lateralidade a fim de possibilitar seu apropriado desenvolvimento intelectual e social. Monteiro (1992). Nessa perspectiva, nossa investigação com as professoras das SRMF através das entrevistas nos proporcionou averiguar que elas desenvolvem vários tipos de materiais pedagógicos, para serem utilizados na alfabetização das crianças, esses recursos são usados tanto por elas mesmas, no atendimento especializado na referida sala, quanto por as professoras das salas comuns. Para poderem dar as aulas e os conteúdos específicos ao trabalhar com as crianças em foco elas utilizam os recursos criados e fornecidos pelas professoras das SRMF e estas, para a elaboração e aplicação desse material, averiguamos que seguem os princípios apresentados pelos diversos estudiosos do assunto a despeito da importância do desenvolvimento dos sentidos, da lateralidade e do 20 desenvolvimento motor fino para o desenvolvimento da aprendizagem e no caso da alfabetização. Ou seja, quando a professora da sala comum solicita um material específico para trabalhar com uma criança cega ou com baixa visão, a professora da SRMF vai buscar os recursos lá existentes (se for o caso, elas vão confeccionar algum em especial). Mas, primeiramente, a professora da SRMF busca se informar com a professora da sala comum a respeito de qual é o conteúdo que ela está dando e qual é a dificuldade maior do aluno em aprender esse conteúdo, assim, segundo as professoras entrevistadas nos disseram, “como as crianças estão em fase de alfabetização, as maiores dificuldades na aprendizagem dos conteúdos, na verdade, se refere à dificuldade que eles têm em ler, pois ou ainda não sabem ou estão se apropriando” (profª 2). E é aí que entra a utilização e elaboração de recursos didáticos específicos para o trabalho com crianças que tem deficiências visuais. Para melhor visualizarmos a problemática apresentada anteriormente, vejamos o que a profª (1) e (2) falam quando indagadas a respeito de como ocorre o processo de aprendizagem com eles, o que é trabalhado com esse aluno com deficiência visual/baixa visão na Sala de Recurso e quais são as maiores dificuldades deles? Desse modo temos, Professoras (1) e (2): Profª (1). Quando o aluno vem para mim eu não trabalho a aprendizagem formal, ensinar leitura e escrita não, a gente vai na verdade ver as lacunas que ele tem, para que o professor de sala venha a trabalhar com ele.... O trabalho de coordenação básica também deve ser feito com os alunos com deficiência Visual, e isso não acontece, ai quando ele chaga na educação básica, que ele vai aprender a ler e escrever ele tem muita dificuldade, então pintar, recortar colar, tudo isso ele tem que fazer muita gente pensa que porque ele não enxerga ele não vai fazer. ...Eu não trabalho nada disso o que eu vou ver é se dentro da sala ele está aprendendo as vogais, então eu vou ver se ele tem condições de aprender, assim , vou ver se ele tem coordenação motora fina pronta, se ele não tem ai eu vou trabalhar; se a professora colocou as vogais , ai eu vou pintar, colar, recortar, fazer com que ele passe por essa fase que ele não passou lá atrás . È muito comum a gente chegar, por exemplo? Você chega à sala e é muito comum você ver os alunos lá na sala parado e a professora falando e ele lá parado! Isso tá errado! Ele não é pra ficar parado! Ele tem que está produzindo alguma coisa. Os outros estão escrevendo! E por que ele não está escrevendo, ele tem que escrever em Braille, porque ele não sabe? É ai entendeu que eu vou tentar fechar essas lacunas. No caso do Davi!Nos estamos trabalhando para o bem do aluno ou para o bem do professor? Podemos observar a riqueza que há nas falas das professoras sobre o trabalho que desenvolvem nas SRMF, as dificuldades dos alunos com deficiências visuais e como se dá a aprendizagem com eles. A professora 1 não só responde o que estamos 21 averiguando,como fala da demora que a criança com deficiência visual tem em desenvolver a leitura e escrita como também, nas entrelinhas, deixa claro o uso do materiais pedagógicos específicos para cada uma das necessidades apresentadas pelos alunos. A Prof. 2 também menciona a dificuldade e a demora do aluno com deficiência visual adentrar no processo de alfabetização. Sobre esse ponto Gil (2000) nos diz que ao contrário da criança que enxerga, a cega demora a conceber a ideia de leitura e escrita, pois elas, em grande maioria, só entram em contato com esse universo no período escolar e isso retarda o processo de alfabetização. Mas a demora da criança cega em conhecer o mundo letrado,segundo Candido (2007) se deve ao fato do sistema Braille diferir inteiramente da escrita comum enquanto código e quanto sua apresentação,pois normalmente é dominado por um grupo restrito o que leva pais e professores bem como a comunidade em geral não apenas desvalorizá-los como também a não reconhecê-lo como um sistema de leitura e escrita, ignorando com isso a aprendizagem da criança. É muito importante lembrar que o uso dos recursos didáticos devem sempre levar em consideração todas essas questões colocadas pelos supracitados autores a despeito da alfabetização uma vez que o uso inadequado deles pode atrapalhar a aprendizagem ao invés de desenvolvê-la. SEESP/MEC (2007). Por isso os conceitos em torno da alfabetização das crianças, em foco, são de suma importância ser bem conhecidos pelos professores, uma vez que precisam se apropriar desses conhecimentos para poderem saber qual seria o melhor recurso a ser utilizado para trabalhar determinada lacuna do aluno; lembrando que essa lacuna, segundo as professoras entrevistadas, geralmente tem a haver com alguma coisa em torno de sua alfabetização. É por isso que explicitamos as questões em torno da alfabetização para apresentar esse tópico que se refere ao uso dos recursos didáticos. E podemos ver que as professoras pesquisadas estão bem apropriadas desses conhecimentos. Ainda quanto ao uso dos recursos e sua importância temos na fala das autoras do manual de atendimento educacional especializado o quanto é importante à atenção especial para o manejo desses materiais. (Idem. p.19): A utilização de recursos ópticos e não ópticos envolve o trabalho de pedagogia, de psicologia, de orientação e mobilidade e outros que se fazem necessários. As escolhas e os níveis de adaptação desses recursos em cada caso devem ser definidos a partir da conciliação de inúmeros fatores. Entre eles, destacamos: necessidades específicas, diferenças individuais, faixa 22 etária, preferências, interesses e habilidades de adaptações e as atividades mais adequadas. A partir das entrevistas com as professoras pudemos averiguar várias questões quanto o uso dos recursos didáticos bem como quanto à aprendizagem dos alunos com deficiência visual. Mas especificamente a respeito dos recursos existentes nas SRMF da escola e sua utilização constatamos que nela existe vários materiais didáticos (aos quais foram citados no corpo do trabalho no item anterior no resultado e discussões das análises no tópico que fala sobre as observações) que são confeccionados pelas próprias professoras e outros que são mais complexos, variam de uma tecnologia simples a outra mais complexa, como de um simples dominó adaptado em alto relevo, brinquedos, retalhos, descartáveis, a um sistema computadorizado com softwares e hardwares especiais que contemplam questões de acessibilidade, dispositivos e outros. Contudo, os recursos didáticos mais complexos, tais como softwares e hardwares ainda não estão sendo utilizados, de acordo com o que as professoras mencionaram ao serem indagadas quanto os recursos existentes na escola, sua utilização e se existem alguns mais sofisticados como o DOSVOX (sistema operacional que possui ferramentas e aplicativos próprios) ou o VIRTUAL VISION (software brasileiro que serve para operar com os utilitários e as ferramentas do ambiente Windows); ou ainda algum outro que trabalhe também com utilitários; logo nos deram uma resposta: informaram que embora haja computadores na escola para o uso de softwares e hardwares ainda não trabalham com eles na escola mas que estão esperando uma solução para o problema de não terem como utilizar esses acessórios mais tecnológicos. Sobre o trabalho com softwares, perguntamos “a senhora trabalha com algum recurso didático mais complexo como softwares e hardwares?” Obtivemos como resposta da professora 1que na escola até possui computadores, como já dissemos, pois os alunos ganharam um notebook, só que não veio com nenhum programa instalado. Ora, se a problemática é a instalação, pensamos , então isso se resolve instalando-os; contudo, ao inquirirmos o porquê da não instalação desses programas, nos responderam imediatamente que, (profª 1 e 2): Profª. (1). Sim, os alunos ganharam um notebook, só que não veio com nenhum programa instalado. Ai eu vou falar com o professor daqui pra ver se ele instala ou me da os programas. Mas a sala ta equipada, tem todo um acervo que o estado mandou, não está completa, mas que tem, tem. Inclusive vieram os notebooks pra eles só não vieram os programas. Isso 23 é uma falha por que o Estado manda, mas não manda os programas apesar deles serem acessíveis e gratuitos muitos professores não sabem nem abrir um computador. Eu sei, mas lá não tem internet e ainda não pega nenhum modem eles vem travados para não acessarem internet. Profª. (2). Não, no momento a gente não ta trabalhando, a gente até recebeu um material, mas com a questão desse aluno com deficiência Visual a gente está mais preocupada com essa questão mesmo dele aprender a ler e escrever em Braille mesmo. Que é a necessidade maior dele no momento . Podemos observar nitidamente a partir das falas das professoras que não existe apenas o problema da não instalação, pois para isso bastaria instalar, o fator principal e mais surpreendente é: na escola não tem internet e os moldens são travados para não pegar. Como pode ser fornecido aos alunos e aos professores, pois embora a professora não tenha se referido a isso, mas é sabido que todos os professores da Rede Estadual ganharam notebook, e não é permitido à instalação da internet? Segundo nos informou a professora 1, isso ocorre em todas as escolas estaduais devido o Estado informar que não pode pagar a internet. Logo quando obtivemos essa informação pensávamos que esse fato ocorria devido à ordem da direção, mas na entrevista obtivemos essa informação, pois como a entrevista é semiestruturada nos permitiu realizarmos outras perguntas que não estavam pré-programadas. Em relação aos outros recursos mais simples pudemos constatar que as professoras têm o maior cuidado em produzi-los e aqueles que não são produzidos, são tratados com o maior zelo para ser usado por mais tempo, é o caso dos livros de historinhas infantis que são todos coloridos, com desenhos e com as mais variadas formas, ao contrário do que pensa muitos a respeito de como seria um livro escrito em Braille. É em Braille, mas é para criança e como toda criança um livro dessa natureza tem que ser cativante, e o é como pudemos constatar. Existe uma gama de recursos na escola aos quais as professoras trabalham. Então lhes perguntamos como trabalham esses recursos o que obtivemos como resposta: Profª. (1). Veja uma régua como exemplo, o mesmo que uma criança na educação infantil ela não começa primeiro naquele caderno pequeno ela necessita folhas grandes pra ela a criança ai depois ela num começa nas folhas do caderno. Há principio ela começa com as letras bem grandes ela usa a folha toda a mesma coisa acontece com a criança cega. Bom primeiro a gente começa com a régua Braille... Prof. 2. A gente tem jogos, jogos de memória, dominós, livros, a reglete, computadores, o sorobã, e esses materiais que eu comentei, quando a gente vai confeccionar as maquetes, material que haja necessidade para que ele possa trabalhar o concreto no conteúdo de sala, de acordo com a necessidade de cada aluno. Em linhas gerais podemos afirmar, a partir das entrevistas, que existem vários recursos didáticos na escola, que as professoras também confeccionam vários e a escola 24 recebe outros do Estado, e todos são bem trabalhados no processo de aprendizagem das crianças com deficiência visual (menos os mais tecnológicos como os hardwares e softwares). 6. Considerações finais Este trabalho foi desenvolvido, sobretudo, pensando no impacto que as demandas por uma educação inclusiva têm causado na organização das escolas e nas atividades desempenhadas pelos professores que nos propomos realizar essa pesquisa. Ao contrário do que uma parcela dos profissionais da área pensa sobre as SRMF, elas não tem como função desenvolver um reforço escolar no sentido de trabalhar conteúdos propriamente ditos, mas sim de desenvolver recursos didáticos que venham a favorecer a aprendizagem desses alunos nas salas comuns onde esse apoio possa se estender da educação infantil até a superior. Esse trabalho das professoras das salas de recursos também se direciona as famílias, a gestão e coordenação escolar bem como aos alunos com deficiências, destacando as deficiências visuais. Mas uma de suas prioridades é o trabalho de orientação familiar no sentido de uma maior interação e participação no processo educacional da criança com deficiência. Pois são nos primeiros momentos da vida que toda criança desenvolve a confiança e dá os primeiros passos para serem grandes homens e mulheres, crianças com deficiências ou não. Esse trabalho com as famílias pretende também que a criança com deficiência visual possa, a partir dessa interação, desenvolver seu processo de formação pessoal, reconhecendo seu corpo, desenvolvendo suas habilidades, competências, autoconfiança não só para a educação infantil, mas para a formação de sua própria identidade. Partimos do princípio de que a escola é o lócus da instrução formal onde a leitura e a escrita aparece como um dos primeiros conhecimentos a ser construído com as crianças, preparando-as para a vida em sociedade, uma sociedade letrada, onde todas as pessoas ,culturas e grupos tem suas peculiaridades sendo iguais nas suas diferenças. Devendo, portanto, atender a todos os alunos respeitando a diversidade humana. É nesse espaço que as relações sociais se estabelecem entre os alunos e professores, alunos com alunos, abarcando as relações construídas e que se ligam ao ensino, à gestão, ao técnico, ao sistema educacional, ao Estado e a sociedade. Por fim, esperamos que nossa pesquisa possa se configurar como uma ferramenta com as quais os profissionais e os aprendizes da educação possam construir e vivenciar uma escola verdadeiramente inclusiva, uma escola que se paute cada vez mais no respeito à diversidade e aos direitos humanos. 25 BIBLIOGRAFIA BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Ed. 70, 1979. BOAS, Ludmila; FEREIRA, Sandra. O papel da estimulação precoce e da escolarização na constituição do sujeito leitor cego: um estudo de caso. Linguagem & Ensino, Pelotas,v.13,n.2, p.347-374, jul./dez.2010. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Manual de Atendimento Educacional Especializado: Deficiência Visual. Brasília: MEC/SEESP, 2007. ______.Ministério da Educação. 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