Teletrabalhador: sua empresa ainda vai ter um Criado com o objetivo de trocar informações, estudar casos, promover fóruns de discussão e debates, o Grupo de Excelência em Teletrabalho do CRA-SP promoveu recentemente o primeiro painel sobre o assunto, que contou com a palestras de dois estudiosos Se há nove meses alguém me falasse sobre teletrabalho, eu iria acreditar que se tratava de algo esotérico. Com essa frase, a advogada Maria Lúcia Vasconcelos abriu sua palestra no Centro de Convivência do CRA-SP. Sua palestra, assim como do engenheiro da Siemens, Tácito Maranhão, fizeram parte do primeiro Painel sobre Teletrabalho, promovido pelo Grupo de Excelência sobre o assunto do CRA-SP. Para Maria Lúcia, o teletrabalho ainda pode ser um ilustre desconhecido para muita gente. Há, ainda, aqueles que dizem que já ouviram falar - e, muitas vezes, falar mal. Este foi um dos motivos que levaram o Conselho a criar o Grupo de Excelência, afirma Álvaro Mello, autor de um livro sobre teletrabalho e um dos participantes do Grupo. Após descobrir que não se tratava de nada esotérico e de participar da primeira reunião do Grupo de Teletrabalho, a advogada Maria Lúcia saiu com mais dúvidas do que certezas. A incômoda sensação de não saber sobre o que as pessoas falavam não a abandonou e então ela resolveu, com disciplina e método, estudar teletrabalho para valer. Valeu o esforço. Hoje, ela é capaz de falar com propriedade sobre o assunto. Foi o que ela fez na primeira palestra do Painel do Teletrabalho. Para a advogada, hoje, o mundo e o mercado de trabalho são uma aldeia e com o advento do teletrabalho essa aldeia vai sofrer profundas mudanças. "Não vou fazer juízo de valor, se mudará para melhor ou para pior, mas vai mudar quase tudo", afirma. "No Brasil, se compararmos com números dos Estados Unidos e Europa, ainda são poucas as pessoas que trabalham a distância. Contudo, algo irá, com certeza, acontecer e quem estiver entrando agora no mercado de trabalho irá ver bem de perto essas mudanças", diz. É importante deixar bem claro que teletrabalho não quer dizer somente trabalho em casa. Pode ser feito em casa, mas pode ser feito em estações de trabalho fora da empresa ou até em trânsito. Também não quer dizer que o trabalhador nunca mais irá comparecer ao escritório. Algumas empresas, inclusive, solucionam isso fazendo com que os colaboradores passem parte do seu tempo na empresa e parte em casa, como a Siemens está pensando em fazer. Teletrabalho quer dizer, literalmente, trabalho a distância e para Maria Lúcia, "poder exercer sua função fora dos domínios da empresa vai ter um impacto mortal na definição de trabalho". Não é remédio para tudo Na maioria dos casos, para se exercer uma profissão era preciso estar na empresa. Com o teletrabalho, é possível quebrar esse pressuposto, afirma Maria Lúcia. "Isso é totalmente novo e contraria a história. Nossos ancestrais tinham de sair para caçar, pescar, colher frutos e voltar para casa. Até pouco tempo, nós também tínhamos que sair de casa para trabalhar e depois voltar". Para se esclarecer sobre o tema, Maria Lúcia entrevistou parlamentares, empresários, sindicalistas, médicos de trabalho, advogados, antropólogos, sexólogos e um teletrabalhor. "Cheguei à conclusão que o teletrabalho não é remédio para tudo. Nem workholics, nem pessoas que não gostam de trabalhar se dão bem com ele", afirma. Além disso, ao ouvir médicos, percebi que a alegada "ausência de estresse" não existe. O que existe é um deslocamento de estresse". Para ela, no ambiente de trabalho, geralmente, há disputa mas isso pode trazer algo de positivo - por causa dos nossos adversários, que muitas vezes são nossos colegas de trabalho, somos obrigados a dar o melhor e, sob esse aspecto, o adversário é quem mais nos ajuda. No teletrabalho essa disputa se dilui. Também não há horários rígidos, mas eles são substituídos pelo confinamento. "As pessoas perdem o contato com colegas e substituem um estresse por outro estresse", afirma. Ela acredita que com o crescimento inevitável do teletrabalho haverá mudanças em toda a sociedade, do meio ambiente à publicidade. Hoje, as pessoas são obrigadas a passar horas no trânsito e por isso existem tantos outdoors, vendedores ambulantes pelas ruas e uma infinidade de pessoas fazendo propaganda de tudo. De acordo com os arquitetos ouvidos por ela, com o teletrabalho, as mudanças nas cidades serão muito maiores do que podemos imaginar. Além disso, mudanças de comportamento também são bastante previsíveis. Por isso, Maria Lúcia acha que é importantíssimo estudar o assunto. "Até para se rejeitar o teletrabalho é preciso conhecê-lo", afirma. "Mesmo porque é um novo espectro nas relações trabalhistas", finaliza.