Manejo da Criança Exposta ao HIV Carina Leão de Matos R3 em Infectologia Pediátrica www.paulomargotto.com.br Brasília, 2 de outubro de 2012 Hospital Regional da Asa Sul/SES/DF Histórico 1977 e 1978 - Primeiros casos nos EUA, Haiti e África Central, descobertos e definidos como aids, em 1982, quando se classificou a nova síndrome. 1980 – Primeiro caso no Brasil, em São Paulo. 1983 – Primeiro caso no sexo feminino e primeiro caso de AIDS em criança. 1985 – Primeiro caso de transmissão vertical. 1994 – Estudos mostram que o uso do AZT diminuem transmissão vertical, definição para diagnosticar AIDS em crianças. 1996 – Surge o PACTG 076. 2006 – Brasil diminui em mais de 50% os casos de transmissão vertical. Definição O que é criança exposta? TODA CRIANÇA FILHA DE MÃE HIV POSITIVO Conhecendo a Magnitude do Problema HIV em 2010 Pessoas vivendo com o HIV Total Adultos Mulheres Crianças (<15 anos) Pessoas infectadas em 2010 pelo HIV Total 2.7 milhões [2.4 milhões–2.9 milhões] Adultos 2.3 milhões [2.1 milhões–2.5 milhões] Crianças (<15 anos) 390. 000 [340. 000–450. 000] Mortes por AIDS em 2010 Total 1.8 milhões [1.6 milhões–1.9 milhões] Adultos 1.5 milhões [1.4 milhões–1.6 milhões] Crianças (<15 anos) 250. 000 [220. 000–290. 000] 34.0 milhões [31.6 milhões–35.2 milhões] 30.1 milhões [28.4 milhões–31.5 milhões] 16.8 milhões [15.8 milhões–17.6 milhões] 3.4 milhões [3.0 milhões–3.8 milhões] Magnitute do Problema Aproximadamente 7000 novas infecções por dia em 2010 97% em países em desenvolvimento Em torno de 1000 são crianças menores que 15 anos de idade Dos 6000 restantes, aproximadamente 42% são jovens de 15-24 anos e 48% são mulheres. Situação Mundial em 2010 Crianças menores que 15 anos: Crianças vivendo com HIV 3.4 milhões [3.0 – 3.8 milhões] Novas infecções por HIV em 2010 390 000 [340 000 – 450 000] Mortes relacionadas à AIDS em 2010 250 000 [220 000 – 290 000] Órfãos da AIDS Mais de 16 milhões de crianças e adolescentes menores que 18 anos. Aproximadamente 14,8 milhões delas vivem na África subsaariana. 16% das crianças do Zimbabwe. Brasil De 1980 a junho de 2011: 608.230 casos de aids. 14.127 casos de aids em menores de cinco anos. Em 2010: 482 novos casos 241.469 óbitos tendo como causa básica a aids. Em 2010: 34.218 novos casos 1,7 H : 1 M Em 2010 ocorreram 11.965 óbitos Em 2010 foram 5.666 casos de HIV em gestantes, Taxa nacional: 2,0 casos por 1.000 nascidos vivos. Região Sul com 4,8 casos por 1.000 nascidos vivos. Fonte: Boletim Epidemiológico 2011 Publicado em 28/11/2011 AIDS na Infância Transmissão vertical é responsável por mais de 90% de todos os casos. A carga viral elevada é o principal fator de risco associado a transmissão vertical do HIV. As taxas de transmissão vertical do HIV, sem qualquer intervenção, durante a gestação, situam-se entre 25 e 30%. Desse percentual, 25% referem-se a transmissão intraútero e 75% a transmissão intra-parto. Surge, em 1996, o PACTG 076. Protocolo Aids Clinical Trial Group PACTG 076 AZT para gestantes a partir da 14ª semana de gestação AZT endovenoso durante o parto AZT para o RN durante 4 a 6 semanas Não amamentar Cesária Eletiva* Com o uso do AZT na gestação, antes do parto e para o recém nascido, reduziu a taxa de transmissão vertical do HIV em 67,5%. AIDS na Infância Um estudo com1442 gestantes mostrou taxas de transmissão vertical: 20% na ausência de TARV 10,4% com monoterapia de AZT 3,8% na terapia dupla 1,2% nos esquemas altamente ativos (combinação de três ARV ou HAART – Highly Active Antiretroviral Therapy). Uma metanálise que avaliou gestantes infectadas pelo HIV com carga viral < 1.000 cópias/ml comparou monoterapia de AZT e ausência de tratamento, demonstrando taxas de 0,95% de transmissão no grupo que recebeu AZT e 9,78% no grupo sem nenhum tratamento. Gestação e HIV Meta Eliminação da transmissão vertical até 2015 A indicação de TARV na gestação pode ter dois objetivos: Profilaxia da transmissão vertical ou Tratamento da infecção pelo HIV. Para definir a TARV, devemos fazer as seguintes perguntas: Qual o status imunológico da gestante? Qual a idade gestacional? Caso 1 Qual o status clínico da gestante? Assintomática e CD4+ ≥ 350 céls./mm3. Qual a idade gestacional? Primeiro trimestre – 12 semanas. Profilaxia Tratamento Conduta expectante Conduta expectante Primeiro trimestre - período de baixa transmissão. Placenta ainda em formação. Paciente assintomática com pouco ou nenhum dano ao sistema imunológico Pouco provável a evolução para AIDS. Caso 2 Qual o status clínico da gestante? Assintomática e CD4+ ≥ 350 céls./mm3 Qual a idade gestacional? Segundo semestre – 16ª semana. Profilaxia Tratamento Conduta expectante Profilaxia da Transmissão Vertical Recomendada para gestantes que não possuem indicação de tratar a infecção pelo HIV. Assintomáticas e dano imunológico pequeno ou ausente (LT-CD4+ ≥ 350 céls./mm3). Essas mulheres não seriam candidatas a receber algum esquema antirretroviral, caso não estivessem na gestação. O início do esquema deve ser precoce, após o primeiro trimestre, entre a 14ª e a 28ª semana de gravidez. A profilaxia deve ser suspensa após o parto Caso 3 Qual o status clínico da gestante? Assintomática e sem contagem de CD4+. Qual a idade gestacional? Terceiro semestre – 32ª semana. Profilaxia Tratamento Conduta expectante Quando o diagnóstico é estabelecido tardiamente, a partir da 28ª semana, é recomendado o início da TARV após a coleta de CV e CD4+. Recomenda-se o início imediato da TARV na presença de qualquer fator que leve a disfunção placentária, devido ao possível aumento do risco de transmissão vertical, como a presença de sífilis e o uso de drogas. Em situações associadas com alteração da permeabilidade placentária, como, por exemplo, infecção aguda por citomegalovírus ou toxoplasmose, o início mais precoce da TARV também deverá ser considerado. Caso 4 Qual o status clínico da gestante? Assintomática e CD4+ entre 200 e 350 céls./mm3. Qual a idade gestacional? Primeiro trimestre – 12ª semana. Profilaxia Tratamento Conduta expectante Gestante com comprometimento do sistema imune. Existe risco de evolução para AIDS durante a gestação. Iniciar profilaxia para infecções oportunistas se CD4+ < 200 céls./mm3. Caso 5 Qual o status clínico da gestante? Sintomática e CD4+ ≤ 200 céls./mm3. Qual a idade gestacional? Primeiro trimestre – 12ª semana. Profilaxia Tratamento Conduta expectante Independente da idade gestacional, quando há deteriorização do sistema imune deve-se iniciar tratamento. Além disso, como CD4+ ≤ 200 céls./mm3, iniciar concomitante o uso da profilaxia para infecções oportunistas. As profilaxias primárias devem ser consideradas para pacientes com menos de 1.200 linfócitos totais/mm3, especialmente se hemoglobina < 10g/dl, pela grande probabilidade da contagem de CD4+ ser < 200/ mm3. Caso 6 Qual o status clínico da gestante? AIDS, sintomática e CD4+ 350 céls./mm3. Qual a idade gestacional? Segundo trimestre – 23ª semana. Profilaxia Tratamento Conduta expectante Caso a gestante já faça acompanhamento e uso da TARV e já ter AIDS, deve-se manter o tratamento, modificando se houver drogas tóxicas, independente se estiver sintomática no momento e independente de CV e CD4+. Trocar Efavirenz pela Nevirapina! Lembrar... Sempre que houver indicação de TARV na gestação, este deverá ser mantido, e readequado se necessário, após o parto. A TARV deve ser iniciada independentemente da idade gestacional em: Gestantes sintomáticas, ou Gestantes assintomáticas com CD4+ ≤ 350 cels./mm3. Resumindo... Esquemas para Gestantes Esquema preferencial para terapias iniciais: 2ITRN + IP/r Esquema alternativo: 2ITRN + ITRNN O Parto Os estudos realizados até agora não demonstraram diferenças nas taxas de transmissão vertical ao se comparar cesariana eletiva e parto, quando a CV é inferior a 1.000 cópias/ml em gestantes que estão em uso de esquema antirretroviral combinado. A cesária eletiva deve ser indicada para gestantes HIV+ que não realizaram profilaxia antirretroviral combinada durante a gestação, que usaram apenas monoterapia com AZT ou que tenham sua carga viral desconhecida ou superior a 1.000 cópias/ml, com 34 semanas ou mais de gestação. No parto vaginal, evitar a episiotomia sempre que possível. AZT Endovenoso Administrar AZT endovenoso desde o início do trabalho de parto até o clampeamento do cordão umbilical. Para as gestantes com indicação de cesariana eletiva, a infusão de AZT deve ter início 3 horas antes da cirurgia e ser mantida até a hora do nascimento. Clampear o cordão imediatamente após o nascimento e não realizar ordenha. Dose Iniciar a infusão, em acesso venoso, individualizado, com 2mg/kg na primeira hora, seguindo com a infusão contínua, com 1mg/kg/hora, ate o clampeamento do cordão umbilical. Diluir em soro glicosado a 5% e gotejar, conforme tabela a seguir. A concentração não deve exceder 4mg/ml. Após o Nascimento Fazer para a criança, iniciando nas duas primeiras horas do nascimento, o AZT solução oral. Dose usual: 2mg/kg de 06/06h. Fazer por 42 dias de vida. Dose para o prematuro: 1,5mg/kg,VO ou EV, a cada 12 horas nas primeiras 2 semanas e 2mg/kg a cada 8 horas por mais 4 semanas. Menor que 34 semanas ou 2.000g Após 42 dias de vida Suspender AZT. Iniciar profilaxia para P. jirovesi. SMT-TMP:750mg de SMX/m²/dia em 2 doses, 3x/semana em dias consecutivos ou às 2ª, 4ª e 6ª feiras Criança e Sorologia Lembrar que há passagem intra-útero de anticorpos da mãe para a criança. Falso-positivo! Acompanhamento com carga viral ou detecção do DNApróviral. Queda dos níveis de anticorpos Em geral aguardamos 12 meses para coleta de sorologia. Carga Viral É o exame solicitado antes de 18 meses de idade. 2 exames positivos, diferentes amostras Fecham o diagnóstico. 2 exames abaixo do limite de detecção Não fecham diagnóstico, mas a probabilidade de infecção é mínima. AZT endovenoso no parto e oral até 42°DDV No 42° DDV: Suspender AZT Início do Bactrim profilático Coleta do primeiro teste (1° exame) ABAIXO DO LIMITE DETECÇÃO DETECTÁVEL REPETIR O TESTE (imediatamente) REPETIR O TESTE depois de 2 meses DETECTÁVEL ABAIXO DO LIMITE DETECÇÃO DETECTÁVEL ABAIXO DO LIMITE DETECÇÃO CRIANÇA INFECTADA REPETIR O TESTE depois de 2 meses REPETIR O TESTE (imediatamente) CRIANÇA PROVAVELMENTE NÃO INFECTADA DETECTÁVEL CRIANÇA INFECTADA ABAIXO DO DETECTÁVEL LIMITE DETECÇÃO CRIANÇA CRIANÇA PROVAVELMENTE INFECTADA NÃO INFECTADA ABAIXO DO LIMITE DETECÇÃO CRIANÇA PROVAVELMENTE NÃO INFECTADA Criança Exposta - Acompanhamento Crianças expostas deverão ser atendidas em unidades especializadas até a definição de seu diagnóstico. Caso a criança tenha sido amamentada, iniciar investigação após 2 meses da suspensão. Realizar, preferencialmente, a sorologia entre 18-24 meses de idade. Menor probabilidade de falso-positivo. Só após a sorologia podemos definir status, caso o paciente não seja infectado. Definição de Diagnóstico Crianças infectadas Duas cargas virais positivas, ou detecção do DNA pró-viral e detecção da carga viral entre 1 e 6 meses, sendo um destes após o 4° mês de vida. Crianças não infectadas Quantificação do RNA viral plasmático (carga viral) abaixo do limite ou não detecção do DNA pró-viral e carga viral entre 1 e 6 meses, sendo um destes após o 4° mês de vida E teste de detecção dos anticorpos anti-HIV não reagente após os 12 meses. Criança Exposta - Acompanhamento Avaliação deve ser criteriosa do desenvolvimento neuropsicomotor da criança. Se necessário, avaliação com cardiologista e neurologista. Avaliação hematológica e provas hepáticas. Lembrar do uso do AZT intra-útero e nos primeiros dias de vida. Criança Exposta - Acompanhamento Acompanhamento: Primeiro semestre Segundo semestre Avaliação mensal Avaliação bimestral Anual para crianças expostas não-infectadas até 18 anos. Considerando o risco de: Prematuridade Toxicidade mitocondrial Convulsões febris, Alterações cardíacas Redução dos níveis séricos de insulina Outros Roteiro para Acompanhamento Laboratorial das Crianças Expostas Exames Idade Ao nascer 1-2 meses 4 meses Hemograma X X X Provas de função hepática X X Glicemia X X Sorologia HIV X* X* 6-12 meses 12-18 meses X X X X X X X X Carga Viral Sempre que houver dúvidas em relação ao estado de infecção da mãe (p. ex., crianças abandonadas ou mães X sem documentação confiável em relação a seu estado de TORCH infecção). X Sífilis HBV e HCV X X CD4/CD8 HTLV1/2 X X Revelação Diagnóstica A família ou os responsáveis pelas crianças e adolescentes soropositivos tendem a adiar a revelação, mesmo havendo indícios de que esses jovens já sabem ou desconfiam de sua condição. Imaturidade da criança para compreender a doença; Possibilidade de reação emocional negativa; Medo do estigma; Receio de que a criança/adolescente fale sobre sua condição para outras pessoas, quebrando o sigilo e expondo a história familiar para terceiros (como a soropositividade da mãe e/ou dos pais); Sentimentos de culpa pela transmissão do HIV; Despreparo do adulto para falar sobre a doença. Vacinação Calendário especial até os 18 meses. Criança não-infectada Esquema oficial após 18 meses. Imunização em crianças de 0 a 10 anos de idade, expostas/infectadas pelo HIV 2 3 4 5 6 7 12 15 18 24 4a6 0 mês meses meses meses meses meses meses meses meses meses meses anos BCG Hep B BCG Hep B Hep B Hep B DTP DPT DPT DPT Hib Hib Hib Hib Polio IPV IPV Rotavírus Rtv Rtv Pneumococo Pnm10 Pnm10 Meningococo C Menin C Menin C Influenza Hep B DPT IPV IPV Hib Pnm10 Pnm10 Pnm23 Menin C INF INF Tríplice viral TV Varicela VZ Hepatite A DPT Hep A TV VZ Hep A “Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma você está certo.” Henry Ford Obrigada! Nota do Editor do site (Dr. Paulo R. Margotto): Consultem também Síndrome de imunodeficiência adquirida perinatal Autor(es): Thereza Christina Corrêa Ribeiro, Wílleke Clementino Sleegers, Paulo R. Margotto, Olga Messias Alves de Oliveira