USJ Centro Universitário Municipal de São José CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ - USJ CURSO DE PEDAGOGIA BIANCA APARECIDA TAUFENBACH BEZ BATTI COMO OCORRE A MANIFESTAÇÃO DOS APRENDIZADOS MATEMÁTICOS NO LÚDICO ENTRE AS CRIANÇAS DE 5 E 6 ANOS NO COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL? São José – SC 2009 2 BIANCA APARECIDA TAUFENBACH BEZ BATTI 1, 2, 3... TUDO DE UMA VEZ. PENSAR, BRINCAR, E APRENDER A MATEMÁTICA NO COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Projeto de Pesquisa apresentado como requisito parcial para aprovação na disciplina de TCC trabalho de conclusão de curso, do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José. Sob orientação da professora Regina Ingrid Bragagnolo. São José – SC 2009 3 BIANCA APARECIDA TAUFENBACH BEZ BATTI 1, 2, 3... TUDO DE UMA VEZ. PENSAR, BRINCAR E APRENDER A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito final para a aprovação no Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José - USJ. Avaliado no dia: 06 de Julho de 2009 por: Prof. MSc. Regina Ingrid Bragagnolo. Orientadora Prof. Dr. Juares da Silva Thiesen Membro Examinador Prof. MSc. Maria Solange Coelho Borba Membro Examinador 4 Dedico este trabalho ao meu marido e aos meus três filhos que foram testemunha e companheiros de toda a minha luta, desejo e vontade em concluir mais essa jornada. Que hoje apresento com orgulho através deste trabalho de conclusão de curso. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço ao meu marido Sidney pela paciência, compreensão e companheirismo demonstrados, por acreditar em mim e incentivar-me a continuar em todos os momentos que senti que não conseguiria. Te amo! Agradeço aos meus filhos Marcus Vinícius, Gabriel e Lucas por compreenderem as minhas ausências e servirem de inspiração para seguir em frente. Amos vocês! Agradeço a meu Pai e irmãos pela compreensão, nos momentos em que não pude estar com vocês, pois estava envolvida com as atividades do Curso e por não desistirem de mim. Agradeço a minha orientadora, Professora Regina Ingrid Bragagnolo, por me acolher no momento em que precisei. Agradeço a minha companheira de caminhada, Kelli , por todos os momentos em que esteve do meu lado, apoiando-me e me ajudando. Com certeza, se não estivesse comigo, tudo seria muito mais difícil. Muito obrigada, amiga! Agradeço as minhas amigas Luciani, Ula e Giuvana que estiveram sempre presentes quando precisei de um abraço carinhoso e amigo. Agradeço aos professores do Curso de Pedagogia do USJ que, de uma forma ou de outra contribuíram para a minha formação, enriquecendo-a. Agradeço aos meus colegas de sala, que compartilharam este período tão rico da minha existência os quais jamais esquecerei. Agradeço às minhas companheiras e companheiro de trabalho da Creche Francisca Idalina Lopes, que compartilham comigo suas experiências e com os quais aprendo mais a cada dia. 6 RESUMO O presente trabalho procura abordar como a Matemática é trabalhada pelos professores na Educação Infantil através do lúdico; descobrir em que linguagens as crianças expressam os conceitos matemáticos. A metodologia escolhida foi a aproximação da perspectiva etnográfica, a coleta dos dados foi realizada por meio de observação participante e registro no diário de campo dos momentos de brincadeiras. Durante dez dias, compartilhei da companhia do grupo de crianças no período vespertino, na intenção de compreender seu contexto. A análise das informações colhidas foi realizada por meio de fundamentação teórica que aborda as culturas infantis, a brincadeira, a Matemática e as múltiplas linguagens, dialogando com os registros. A realidade do cotidiano estudado, aponta para reflexões a respeito da forma como oferecer às crianças, o contato com os conhecimentos matemáticos e as implicações que devemos considerar, para efetivar uma educação de qualidade. Levantando também novos questionamentos relacionados ao posicionamento dos profissionais, no que diz respeito ao ensino da Matemática, nesta modalidade de ensino. Palavras-chave: Educação Infantil. Brincadeira. Matemática. Linguagem. 7 SÚMARIO 1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................. 8 2 - IDENTIFICAÇÃO DA PROBLEMÁTICA....................................................... 9 3 - IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA...................................... 12 4 – OBJETIVOS....................................................................................................... 12 5 - JUSTIFICATIVA................................................................................................ 13 6 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...................................................................... 15 6.1 - A Educação Infantil e a infância...................................................................... 15 6.2 - As culturas infantis e a brincadeira.................................................................. 17 6.3 - A matemática e as múltiplas linguagens.......................................................... 22 7 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................... 28 7.1 - Tipo de pesquisa............................................................................................... 28 7.2 - Participantes..................................................................................................... 28 7.3 - Instrumento e coleta de dados.......................................................................... 29 7.4 - Situação ambiente............................................................................................ 30 7.5 - Organização, tratamento e análise dos dados................................................... 33 8 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS......................................................... 35 8.1 - Jogos e brincadeira nas práticas dos professores............................................. 35 8.2 - O lúdico e o aprendizado da matemática......................................................... 38 8.3 - As linguagens e a matemática.......................................................................... 42 9 - CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 46 10 – REFERÊNCIAS............................................................................................... 48 Apêndice................................................................................................................... 53 Apêndice 1 – Termo de consentimento.................................................................... 54 8 1 INTRODUÇÃO A pesquisa apresentada neste trabalho, aborda a Matemática no contexto da Educação Infantil. Na perspectiva de compreender como esses conhecimentos fazem parte do trabalho pedagógico de um grupo de crianças de 5 e 6 anos e como elas apreendem estes conhecimentos por intermédio do lúdico e expressam através das múltiplas linguagens. Por se tratar de uma pesquisa com aproximações do método etnográfico, coletei os dados por meio de observações participantes e registro da brincadeira do grupo, no período de dez dias, durante as tardes. Os registros realizados, trouxeram momentos que analisei com o auxílio da fundamentação teórica, que trata a infância, a Educação Infantil, a produção cultural infantil, a brincadeira e a Matemática e suas implicações, para uma educação de qualidade, priorizando a infância. A análise apresentada descreve e tenta compreender o contexto do grupo e perceber os elementos que originaram a Matemática durante as brincadeiras, e como as crianças compartilham esses conhecimentos através da interação entre os pares. Iniciei o trabalho com a identificação da problemática, ressaltando a importância da nossa pesquisa; em seguida, identifiquei o problema de pesquisa, a justificativa, comunicando o motivo da escolha do tema. O primeiro capítulo, traz o diálogo sobre a Instituição de Educação Infantil, a pedagogia voltada para a infância, a concepção de infância. No segundo capítulo, aborda-se as culturas infantis, a brincadeira na Educação Infantil,e, no último capítulo, enfoca-se as múltiplas linguagens e a apreensão da Matemática. Os procedimentos metodológicos apresentam o tipo de pesquisa, os participantes, os instrumentos de coleta, a situação ambiente e a organização e tratamentos de dados. O capítulo da descrição e análise de dados, está dividido em três sub-capìtulos, que abordam a utilização de jogos e brincadeira na prática dos professores, o lúdico na apreensão dos conceitos matemáticos e a expressão das noções matemáticas através das linguagens. Por fim, as considerações finais e as referências. 9 2 IDENTIFICAÇÃO DA PROBLEMÁTICA Pensar as especificidades da Educação Infantil me remete à criança de 0 a 6 anos, a brincadeira, as histórias infantis, as fantasias, a música, o correr, o pular, o dançar, o desenhar, o pintar, ou seja, todas as linguagens presentes nesse contexto, nas quais as crianças expressam suas curiosidades, suas alegrias, suas tristezas, seus desejos, seus aprendizados, seja através da fala, de um sorriso, do choro, de um olhar, do seu corpo ou de um desenho. Nessa perspectiva, perceber como a Matemática está presente neste cenário, já que sobre a influência das nossas vivências, durante a pré-escola,a Matemática estava distante desta realidade lúdica, mais presente em uma cultura escolarizada, sem sentido, através de atividades repetitivas. Apesar de saber que a mesma está presente no nosso cotidiano, esta não fica tão evidente nesse seguimento da Educação Básica, sendo que, na maioria das vezes, passa despercebida. Nas leituras realizadas sobre o assunto, durante o Curso de Pedagogia, percebi que existem alguns conceitos e noções de que a criança necessita para desenvolver o raciocínio lógico, indispensável para um melhor aprendizado da Matemática, e que esses conceitos e noções são indicados para serem trabalhados na Educação Infantil. Lorenzato (2006), sugere iniciar o aprendizado com três campos matemáticos, que, a princípio parecem independentes, o espacial, que servirá de apoio para a geometria; o numérico, que apoiará a aritmética e a medida que integrará os dois anteriores, partindo dos conhecimentos prévios das crianças. O segundo passo é trabalhar as noções como: grande e pequeno, mais e menos, começo, meio e fim, dia e noite, e outros, sempre atrelados aos conceitos físico-matemáticos como: tamanho, lugar, quantidade, posição, medição, operação etc. O autor ainda traz em sua obra sugestões de atividades para a apreensão desses conhecimentos. A perspectiva do aprendizado da Matemática através da brincadeira e os jogos são os focos das autoras Smole, Diniz e Cândido (2000), que tem como proposta trabalhar esses conhecimentos através da exploração de idéias matemáticas numéricas, geométricas, medidas e noções de estatísticas, mantendo assim, a curiosidade sobre a Matemática, apropriando-se de formas diferentes de perceber a realidade. Ainda tendo o brincar como base da aprendizagem, a utilização de situações de brincadeiras livres ou planejadas que contribuem para a apreensão desses conhecimentos através da interação entre a criança e seus pares, de uma forma prazerosa e mais significativa. Segundo Kishimoto (2002 apud KISHIMOTO, 2005. p 64). 10 A construção de noções matemáticas só é significativa quando passa pela experiência da criança. As situações de brincadeiras potencializam a construção de significações e noções, como dentro e fora, grande e pequeno, em ações de entrar e sair de caixas. As dimensões podem ser compreendidas com medições feitas com o próprio corpo, membros (pés, braços, mãos, dedos) ou com objetos, como pedaços de madeiras. As palavras da autora são confirmadas no dia a dia da minha prática, de onde trago registros de situações vividas pelas crianças da Instituição onde trabalho, relatos feitos por uma professora, onde os conceitos são expressos por elas, durante as brincadeiras. Hoje, no parque, o Fernando encontrou alguns sapos pequenininhos, como de costume, demonstrou interesse em observá-los, assim colocou os bichos num carro de mão de brinquedo. As crianças ficaram muito interessadas com a situação, foi uma festa, todos estavam brincando com os sapos. Quando cheguei perto, e perguntei o que estavam fazendo?Fernando respondeu: “tô pegando os sapos para brincar, é a família dele, esse é o pai (apontando para o maior) essa, a mãe (um sapo um pouco menor) esse é o tio, essa a tia e esses são os filhos (todos os sapinhos menores)”. Vitória contou: “tem muitos, um, dois, três, quatro, cinco, um monte, rsrsrs.. Caio, Rafael e Vítor brincavam nas gangorras ( três), quando chegou o Arthur, pedindo para participar da brincadeira, porém Caio respondeu:” Não dá cara, só tem três motos, só na garupa”Rafael: “ É na garupa dá mais gente.” Situações como essas, mostram o quanto a Matemática está presente nas vivências da Educação Infantil. No primeiro caso, o menino estabelece relação de tamanho entre os sapos e a menina faz a contagem dos bichos. Na segunda passagem, os meninos fazem a relação entre o número de crianças e de gangorras. Momentos como esses, muitas vezes, não são percebidos pelos profissionais que poderiam aproveitar esses momentos mediando e ampliando os conhecimentos matemáticos das crianças. Para Smole, Diniz e Cândido (2000, p.16). De fato, enquanto brinca, a criança pode ser incentivada a realizar contagens, comparação de quantidades, identificar algarismos, adicionar pontos que fez durante a brincadeira, perceber intervalos numéricos, isto é, iniciar a aprendizagens de conteúdos relacionados ao desenvolvimento do pensar aritmético. Por outro lado, brincar é uma oportunidade para perceber distâncias, desenvolver noções de velocidade, duração, tempo, força, altura e fazer estimativas ,envolvendo todas essas grandezas. (grifo meu). Na Educação Infantil, a brincadeira é considerada de extrema importância para o desenvolvimento infantil e através dela e dos jogos, a criança pode expor, discutir e levantar hipóteses sobre toda sua bagagem de conhecimentos matemáticos. Pensar no brincar como fonte do aprendizado da Matemática, remete-me às culturas infantis, onde a criança é atriz e autora social, produz e reproduz cultura, ressignificando o mundo através das interações e do contexto em que vive. Refletir em como as crianças 11 significam esses conhecimentos, como elas os reproduzem dentro das culturas infantis. Segundo Sarmento (2004, apud MARTINS FILHO 2005, p. 23). [...] Não podemos ver a criança sozinha, isolada em um contexto, pois é nele e a partir das relações que elas realizam, dos sentidos que produzem que poderemos interpretar as sua produções culturais, visto que se parte do entendimento de que as crianças, professores, instituições, sociedade, conhecimento e cultura estão em constante processo de construção, ressignificação, recriação, reinterpretação renegociação e produção/ reprodução. No contexto da Educação Infantil, pergunto qual a melhor forma de proporcionar o acesso a esses conhecimentos às crianças de 5 a 6 anos? Através de atividades padronizadas em folhas de papel? Ou possibilitando situações de brincadeiras planejadas ou não, proporcionado assim, a troca entre os pares, tornando o aprendizado mais interessante e significativo? Nessa perspectiva considero relevante pesquisar e refletir sobre a Matemática na Educação Infantil e tentar responder: Como ocorre a manifestação dos aprendizados matemáticos no lúdico entre as crianças de 5 a 6 anos no cotidiano da Educação Infantil? 12 3 IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA • Como ocorre a manifestação dos aprendizados matemáticos no lúdico entre as crianças de 5 a 6 anos no cotidiano da Educação Infantil? 4 OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral: • Analisar como ocorre a manifestação dos aprendizados matemáticos no lúdico entre as crianças de 5 a 6 anos no cotidiano da Educação Infantil 4.2 Objetivos Específicos: • Identificar como ocorre a utilização de jogos e brincadeiras na prática dos professores. • Compreender como as crianças de 5 a 6 anos se apropriam dos conceitos matemáticos através do uso do lúdico. • Perceber em quais linguagens as crianças expressam seus conhecimentos matemáticos. 13 4 JUSTIFICATIVA Escolher o tema deste Trabalho de Conclusão de Curso não foi tarefa fácil, depois de alguns contratempos e muitas dúvidas. Durante o processo, retomei as discussões e reflexões que aconteceram durante o Curso de Pedagogia, contribuições estas, que procurei utilizar para pensar e repensar a prática pedagógica, surgiram alguns temas nos quais gostaria de aprofundar meus estudos. A curiosidade com relação à aprendizagem da matemática surgiu, pela primeira vez, durante a formação no Magistério, com a sugestão do professor para utilizar o lúdico como recurso para o ensino da Matemática, sendo que este primeiro contato, mais prático, foi sem realmente serem investigadas as implicações teóricas quanto à utilização do lúdico no aprendizado desses conhecimentos. Agora, no Curso de Pedagogia, durante o Estágio Curricular no Ensino Fundamental, escolhi como tema o sistema financeiro e utilizei a brincadeira como um dos recursos. Nas aulas de Docência em Matemática, tomei consciência de todos os conceito e noções que a criança tem que adquirir para o desenvolvimento do raciocínio lógico, indispensável para o aprendizado da Matemática, conceitos e noções que são trabalhados na Educação Infantil. Como profissionais dessa modalidade de ensino, atuando na área há quatro anos no município de Florianópolis, tenho refletido sobre o aprendizado acadêmico e profissional, portanto, inseridos neste contexto. Considero a brincadeira de extrema importância no desenvolvimento da criança, pois possibilita a significação do mundo, a socialização, a construção e a apreensão de conceito, além de oportunizar a manifestação da produção cultural infantil. Cultura esta, que vem carregada de conhecimentos adquiridos nas interações da criança com seus pares e com o mundo, sendo significados e ressignificados por ela e expressadas através das múltiplas linguagens que estão presentes na Educação Infantil. De todas as leituras e discussões, não só no curso, mas também, no grupo de trabalho, surgiu à curiosidade com relação ao processo de aprendizagem da Matemática das crianças pequenas, isto é, como os professores trabalham esses conhecimentos? Utilizam a brincadeira, os jogos? Existe planejamento para esses momentos? Os professores percebem os conhecimentos matemáticos no cotidiano infantil? Existe mediação nesses momentos? Como a aprendizagem da Matemática acontece na Educação Infantil? Como as crianças expressam este aprendizado? Estes questionamentos fizeram com que decidisse por refletir sobre o aprendizado da Matemática na Educação Infantil, pensando as crianças de 5 e 6 anos. Considero relevante 14 essa investigação para verificar como vem acontecendo a educação matemática dos pequenos no cotidiano da Educação Infantil; Como os profissionais percebem os conhecimentos matemáticos das crianças, assim como refletir sobre as culturas infantis e as linguagens, e perceber como as crianças significam, ressignificam e revelam, no seu dia a dia, os conhecimentos matemáticos apreendidos durante suas vivências. Em minha busca por leituras, pesquisando na Internet e percebi que existem poucas pesquisas realizadas que abordem a Matemática no contexto da Educação Infantil. Realizei a procura nos sites da Anped e da Scielo. Uma das pesquisas que encontrei, trabalha a resolução de problemas de subtração com crianças de 4 a 6 anos, utilizando a escrita. A Notação Escrita na Resolução de Problemas por Crianças Pré-Escolares, das autoras Ana Coelho Vieira Selva e Ana Carolina Perrusi Brandão que analisaram a utilização do registro das crianças como apoio para solucionar problemas matemáticos Das mesmas autoras acima, encontramos outro artigo que aborda resolução de problemas, desta vez, com crianças de 5 a 6 anos, que recebeu o título de Crianças de 5 e 6 Anos Resolvendo Problemas no Papel. Tal artigo, tem a intenção de entender como as crianças trabalham com a notação escrita para a solução dos problemas, na perspectiva de auxiliar os educadores da Educação Infantil na elaboração de mais desafios para as crianças. Ainda das pesquisadoras Brandão e Selva, encontramos um artigo que se refere aos livros didáticos, chamado: A Resolução de Problemas na Pré-Escola: O caso dos Livros Didáticos de Matemática que procura analisar como estes livros trabalham a resolução de problemas. O artigo, Crianças da Educação Infantil Explorando Gráficos de Barra, de Ana Coelho Vieira Selva busca entender qual compreensão das crianças sobre os gráficos de barra, utilizando atividades que envolviam blocos de encaixe e gráficos. O número reduzido de pesquisas que abordam o ensino da Matemática na Educação Infantil demonstra que essa área é pouco explorada pela comunidade acadêmica, o que intensifica a relevância acadêmica deste trabalho, que tem a intenção de contribuir para a discussão desse tema. 15 6 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 6.1 A Educação Infantil e a infância A Educação Infantil vem sofrendo transformações durante seu percurso, conforme Kuhlmann Jr. (1998), ela expandiu no Brasil, por volta de 1899, com caráter assistencialista seguindo a tendência internacional, reforçada pelas mudanças econômicas e sociais da época. Outro elemento que contribuiu para a expansão da Educação Infantil foi a saída das mulheres para o mercado de trabalho, trazendo a necessidade de ter com quem deixar as crianças pequenas, em função da grande taxa de mortalidade infantil, existente na época, e que precisava ser combatida. Essas mudanças fizeram com que alguns seguimentos da sociedade incentivassem a instalação das Instituições pré-escolares, que iriam suprir as necessidades das crianças consideradas carentes e substituir as Casas dos Expostos 1 que recebiam as crianças abandonadas. As Instituições criadas se diferenciavam pela clientela atendida nas creches: 0 a 3 anos, tendo como principal característica o cuidado. A creche era destinada às mães trabalhadoras com caráter assistencialista. Os Jardins-de-Infância atendiam as crianças de 4 a 6 anos, de classe média, privilegiando o desenvolvimento cognitivo. Quanto ao caráter educacional, durante sua história, a Educação Infantil sofreu com avanços e retrocessos, segundo Batista (1998, p. 3) “[...] de assistencialista passou a espontaneísta, depois, compensatório educacional. À procura de sua identidade vem se constituindo para romper com os aspectos citados acima, de acordo com Batista, Cerisara, Oliveira e Rivero (2004, p. 3): através de pesquisas realizadas por estudiosos da área, que procuram compreender e construir uma pedagogia própria para atender as crianças de 0 a 6 anos, respeitando as peculiaridades dessa modalidade de ensino, visando centrar o trabalho pedagógico na criança e não no adulto. Como a Educação Infantil e a concepção de infância vêm mudando ao longo da história do ocidente, de acordo com Ariès (1981), a criança já foi vista como adulto em miniatura, como um ser angelical, como incompleta, com um vir a ser, frágil com a necessidade de ser protegida e vigiada, podemos entender este processo como construído socialmente. Hoje, a Educação Infantil procura olhar as crianças, como sujeitos de direito ativo e construtores da própria história que produz e reproduz cultura, sendo mediados pelo 1 Instituição encontrada em quase todo o mundo nos séculos XVIII e XIX que atendia as crianças abandonadas (CIVILETTI,1991). 16 meio cultural onde vive: familiar e institucional. Como afirma Batista, Cerisara, Oliveira e Rivero (2004, p. 3),quanto ao atual olhar sobre a infância: [...] Esse outro olhar que estamos nos propondo construir exige a compreensão de que as crianças à sua moda compreendem o mundo que as cerca. Portanto, são sujeitos completos em si mesmos, que pensam, se expressam criativamente sobre o espaço institucional onde são educadas e cuidadas. São sujeitos conscientes de sua condição e situação e se expressam de múltiplas formas. Compreender a infância com suas particularidades exige dos profissionais dessa modalidade de ensino, repensar sua prática, através de um olhar que privilegie alteridade, conceito este, que torna fundamental perceber a criança em sua hetereogenidade, percebê-la como o outro, diferente do adulto, realizar o exercício de se colocar no lugar do outro, compreendendo-o. Segundo Coutinho (2002), somente depois de compreendermos as diferenças, e refletirmos sobre nós mesmos, conseguiremos, de fato, repensar a instituição de Educação Infantil e proporcionar uma educação onde a criança é protagonista dentro de sua diversidade. Para respeitarmos suas particularidades, precisamos compreender que não existe uma única infância, mas sim, várias, até mesmo dentro de um mesmo contexto, cada uma com sua história específica, com diversos fatores que contribuem em sua diversidade como a família a cultura que a cerca, e outros. De acordo com Bob Franklin (1995 apud SARMENTO E PINTO 1997, p. 17): A infância é uma experiência universal de qualquer duração fixa, mas diferentemente construída, exprimindo as diferenças individuais relativas à inserção de gênero, classe, etnia e história. Distintas culturas, bem como, as histórias individuais, constroem diferentes mundos de infância. Ainda na intenção de entender a infância, Rocha (2008), afirma a necessidade de que o adulto exercite a auscultação, ou seja, ouvir a criança na intenção de compreender e perceber as suas necessidades e anseios, não somente o que ela fala, mas o que ela expressa nas outras linguagens. Partindo dessas leituras, orientar a prática pedagógica e promover uma relação de troca com a criança, tendo-a como igual rompendo com o adultocêntrismo. Proporcionar às crianças a possibilidade de se expressar não só através da fala, mas também, através das cem linguagens tão presentes neste cotidiano, significa oferecer as crianças a oportunidade de significar o mundo e a si própria. Conforme Junqueira Filho (1999, p. 40): Nesta perspectiva, cantar, dançar, brincar, jogar, falar, conversar, contar e ouvir histórias, cozinhar, modelar, pintar, recortar e colar, classificar, quantificar, seriar, pesquisar e discutir sobre fenômenos da natureza e assuntos diversos de seu interesse, ler, escrever, fazer combinados, entender o sentido das regras e respeitálas... são todas linguagens: são todos funcionamentos das crianças para (se) lerem e (se) escreverem (no) o mundo; são todos funcionamentos das crianças para se 17 produzirem crianças e produzirem o mundo; são todos os conteúdos curriculares em ação pelas crianças, na sua busca de produção de sentido sobre si mesma e o mundo, que podem e precisam ser intencionalmente sugeridos, articulados e acompanhados pela professora, no dia-a-dia das crianças, na escola de educação infantil. (grifo do autor). Não se pode falar de Educação Infantil sem mencionar o binarismo indissociável de cuidar e educar, quando se trata dos pequenos, esses dois eixos devem estar presentes na prática cotidiana. As crianças que são atendidas nessa modalidade de ensino, chegam a passar até 12 horas na Instituição, sendo assim, é de responsabilidade dos profissionais, que ali atuam, os cuidados básicos como: atenção com o corpo e alimentação adequada, tarefa essa que pensada e planejada é educativa, não em uma perspectiva escolarizante, mas sim, com relação à interação entre a professora e a criança. Nessa perspectiva, segundo Kramer (2001, p. 159): Todas as crianças pequenas têm o direito de serem educadas e cuidadas, sem hierarquias, pois as duas dimensões são essenciais para a possibilidade de viver infâncias voltadas para a emancipação. Assim, contar uma historinha e trocar as fraldas de um bebê não são atividades incompatíveis ou de valor diferenciado, mas complementares, em uma perspectiva de criança inteira, completa. Sendo assim, na Educação Infantil, é necessário que o profissional, que nela atua, reflita constantemente sobre sua prática, para proporcionar às crianças o desenvolvimento integral em todos os aspectos: cognitivos, psicológicos e físico, para isso, o principal instrumento é o registro, a partir dele é que os professores poderão refletir e direcionar seu trabalho, respeitando as necessidades e interesses das crianças que com ele convivem. Como afirma Gandini e Goldhaber (2002, p.152): “Toda essa documentação acaba tornando-se uma fonte indispensável de materiais de que nos utilizamos diariamente, a fim de poder “ler” e refletir criticamente, de forma individual e coletiva, sobre a experiência que estamos vivendo e os projetos que estamos explorando”. Dentro dessa breve reflexão, tentamos abordar os principais aspectos de uma Educação Infantil que privilegie a criança, que a tenha como centro do trabalho pedagógico, que a entenda como sujeito de direito, por isso, devemos proporcionar a elas, oportunidades de se desenvolverem plenamente. 6.2 Culturas infantis e a brincadeira Nos últimos anos, as culturas infantis vêm sendo tema de vários estudos das áreas da Sociologia e da Antropologia, ciências essas, que junto com a Pedagogia, procuram 18 compreender a infância na sociedade. Segundo Sarmento e Pinto (1997), esse interesse não só dos pesquisadores, mas também das autoridades, aumentou conforme o número de crianças diminuiu, ou seja, na medida em que a taxa de natalidade diminui, é atribuída uma maior importância à infância. Alguns estudos fazem referência a como a infância é vista na sociedade, nos realizados por Perrotti (1990), os pequenos estão à margem da sociedade, marginalizados sem direitos políticos, seres incompletos, na perspectiva do vir a ser um dia um adulto. Ainda refletindo sobre a criança dentro da sociedade, Sarmento e Pinto (1997), mostra-nos as diversas incongruências da sociedade com relação à infância. Ao mesmo tempo que criança é o foco de políticas sociais, na tentativa de protegê-las, e tem sua importância reconhecida, continua sendo a que mais sofre com a desigualdade social, com a fome, com doenças, com o trabalho infantil, com as guerras entre outras contradições. Os autores também ressaltam que a aprovação dos Direitos das Crianças e a delimitação da duração da infância a constituíram como categoria social, mas esses aspectos sozinhos não são suficientes para reverter a sua situação na sociedade. Conforme Sarmento e Pinto (1997, p. 18): eles esbarram em outros fatores da estrutura social “[...] a inobservância dos aspectos fundamentais dos direitos das crianças repousa no cruzamento de variáveis econômicas, sociais e culturais”. Os mesmos autores enfatizam a importância do direito da infância, a participação na tomada de decisões sobre sua vida, na família ou em Instituições em que compartilhem suas vivências. O direito à participação concede a criança o estatuto de atores sociais, embora, muitas vezes este, lhe seja negado, por entrar em confronto com o direito à proteção, necessário por ser considerada a criança, imatura, sem capacidade de tomar decisões por si só em um mundo hostil. Dentro de uma perspectiva reducionista da infância, Perrotti (1990), critica a idéia naturalizada de que a criança somente recebe a cultura pronta e acabada, que não é capaz de interferir na mesma, ou seja, é um receptor que apreende o mundo criado pelo adulto, sem que nele possa exercer qualquer modificação, portanto, não existe produção cultural por parte da infância. As críticas se estendem também ao conceito de cultura, inicialmente apresentado, relacionado à infância no contexto de uma sociedade capitalista. Para Perrotti (1990, p.15), nesse conceito, a cultura aparece: “[...] como sendo simplesmente o resultado de um processo, a herança social, um dado acabado, o objeto estático. Os produtos culturais seriam a expressão de um modo de vida determinado que, enquanto tal, se explicam e se justificam”. 19 Para contrapor a perspectiva acima citada, o autor pensa a criança como ser social e histórico, que modifica o meio em que vive, sendo modificado por ele, em uma cultura entendida como em constante transformação dos sujeitos que nela atuam e do mundo. Nessa visão de infância Perrotti (1990, p. 23) considera que “[...] a criança não é um ser passivo culturalmente. Ela cria cultura, ainda que seu trabalho não seja reconhecido pelos adultos [...]”. Na concepção de infância, que tem a criança como sujeito ativo socialmente e valoriza a produção cultural infantil, Sarmento e Pinto (1997, p. 20) entendem que: A consideração das crianças como actores sociais de pleno direito, e não como menores ou como componente acessório ou meio da sociedade dos adultos, implica o reconhecimento da capacidade de produção simbólica por parte das crianças e a constituição das suas representações e crenças em sistemas organizados, isto é, em cultura. Nessa perspectiva, para entender a criança como produtora cultural, é necessário compreender a heterogeneidade da infância, pois diferentes fatores contribuem para gerar essa diversidade, desde os mais amplos, como a cultura, a classe social, o tempo histórico até o mais pessoal, como: a família, o gênero sexual que contribuem na constituição da criança. Conforme Sarmento e Pinto (1997, p. 17): [...] Assim “ser criança” varia entre sociedades, culturas e comunidades, pode variar no interior de toda a fratria de uma mesma família e varia de acordo com a estratificação social. Do mesmo modo, varia com a duração histórica e com a definição institucional da infância dominante em cada época. Perceber a heterogeneidade infantil nos deixa compreender que a cultura produzida por ela também sofre interferência dessa diversidade, por isso, precisamos considerar não uma cultura, mas sim várias. Segundo Coutinho (2002, p. 109): “[...] O caráter plural da infância, levantado por Sarmento, leva-nos a considerar que não existe “infância” e sim “infâncias”; sendo assim, a cultura produzida nessas infâncias será diversa, não tendo como característica a homogeneidade”. Perrotti (1990), não só considera a mediação da cultura adulta, que aparece na produção infantil depois de ressignificada, como defende que a criança é capaz de intervir de forma ampla no processo cultural. Todas essas reflexões sobre a produção cultural infantil tornam-se mais claras se a consideramos conforme a concepção de cultura de Geertz (1989 apud COUTINHO, 2002, p. 106): [...] o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu e continua: assumo a cultura como sendo essas teias e sua análise; portanto não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado. 20 Para a autora, no conceito de cultura de Geertz, é encontrado o principal aspecto dos estudos sobre cultura, ou seja, a cultura é considerada um “sistema simbólico”, caracterizada pela construção de sentidos e significados compartilhados historicamente, sendo assim, possui diferenças causadas pelas diversidades de contextos existentes, o significado dado vai depender de aspectos relacionados especificamente a cada grupo ou indivíduo. A brincadeira infantil, de acordo com Wajskop (2007), é apreendida pela criança por intermédio de uma cultura própria da infância, que também é permeada pela cultura adulta. Dessa forma, a brincadeira é uma produção da cultura infantil. Historicamente, a brincadeira nem sempre recebeu a importância que tem hoje, segundo Gilles Brougère (2008), no princípio do século XIX, era vista pela sociedade como algo menor, sem valor. Para o autor, essa visão do brincar está diretamente ligada à concepção de criança que se tinha na época. Conforme Brougère (2008, p.90): “[...] O conceito dominante de criança não podia dar o menor valor a um comportamento que encontrava sua origem na própria criança, através de um comportamento espontâneo”. Durante o Romantismo, os conceitos de infância e de natureza sofreram mudanças. A criança passa a ser vista como portadora da verdade, sua espontaneidade a aproximava dos artistas, consequentemente, a brincadeira foi valorizada por ser própria da criança, sendo assim, neste período, a brincadeira passa a ser considerada algo bom. Na sociedade capitalista, Perrotti (1990), a brincadeira é vista como algo próprio da criança, já que ela não está apta para produzir, ou seja, o lúdico é considerado o oposto do trabalho. Brougère, refere-se também à psicologia de Claparède e Stantey Hall que no início do século XX enfatizam a brincadeira como preciosa para a aprendizagem e indicada pela natureza. Segundo Brougère (2008, p. 92): [...] a alegação da natureza como boa educadora da criança [...] brincadeira como modelo educativo proposto pela natureza, que deve ser seguido na medida em que a natureza, melhor do que o homem, sabe o que é bom para criança. Outra perspectiva abordada pelo autor sobre a importância da brincadeira é a de K. Roos, que baseado em experimentos com filhotes de animais, destaca o papel da brincadeira no desenvolvimento destes, pautado em Darwin, em sua teoria da evolução, ele justifica a contribuição biológica, da brincadeira considerada como forma de prática para desenvolver aptidões necessárias para a sobrevivência da espécie. 21 Para Brougère (2008), os estudos da etologia a respeito da brincadeira foram colocados em dúvida, depois de pesquisas empíricas com animais, que apesar de terem sido impedidos de brincar, não apresentaram nenhuma deficiência em seu instinto de caça, e nenhum ganho a mais naqueles em que o brincar foi estimulado. O autor aponta que, em suas leituras, não conseguiu encontrar argumentos suficientes que comprovassem a real importância da brincadeira no desenvolvimento da criança dentro das perspectivas citadas anteriormente, pois nenhuma delas considera a dimensão simbólica da brincadeira infantil, que para o autor é o seu principal aspecto. Na perspectiva defendida pelo autor, a brincadeira não é algo natural, inato para ele, a brincadeira é aprendida pela criança, em interação com outras pessoas, por isso, social e cultural. De acordo com Brougère (2008, p. 97): [...] A criança está inserida, desde seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnadas por essa imersão inevitável. Não existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relação interindividuais, portanto de cultura. O processo de aprendizagem dá, brincadeira se da inicialmente, com as pessoas mais próximas ao bebê, no início, a criança participa mais como brinquedo do adulto, depois ela passa a participação atuante, junto ao adulto, no momento seguinte, passa a interferir na brincadeira de sua forma. Essa troca só é possível se os parceiros conseguirem se comunicar de alguma forma. Segundo Bateson (1977, apud BROUGÈRE 2008, p. 99): “A brincadeira só é possível, se os seres que a ela se dedicam forem capaz de certo grau de metacomunicação, ou seja, se forem capazes de trocar sinais que veiculem a mensagem isto é brincadeira”. (grifo do autor) A brincadeira infantil é mediada pela cultura adulta, a criança tira subsídios para elaborar o faz-de-conta, das suas vivências em sociedade. Para Brougère (2008), cada cultura possui um “banco de imagens” de onde a criança retira aspectos que iram fundamentar e servir de referenciais para a organização de brincadeiras de ficção, a criança recria ações e comportamentos do cotidiano, da vida social, durante o brincar, vivenciando outros personagens, vivendo novas experiências, criando regras que devem ser compartilhadas pelos participantes. Para a brincadeira acontecer, é necessário um repertório acumulado durante a vida da criança, transmitido pela cultura infantil, brincadeiras das quais participou ou observou outros brincarem. Wajskop (2007), contempla a brincadeira como possibilidade de troca entre os participantes e apreensão da realidade pelas crianças, podendo ser fonte de aprendizado para a infância, possibilitando a constituição do brincar como função pedagógica. Ela valoriza a pré- 22 escola como espaço privilegiado para apreender conhecimentos, a partir da brincadeira, através da interação entre os pares, e com o ambiente preparado de acordo com os objetivos a serem alcançados. Para a autora, por meio da brincadeira, a criança pode ir além do que é proposto, superar obstáculos, pode conjeturar sobre a realidade da qual pertence, compreendêla e agir sobre ela. Segundo Wajskop (2007, p. 35): Portanto, a brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela negociação de regras de convivência e de conteúdo temático. Nessa perspectiva a autora considera que a brincadeira contribui para o desenvolvimento infantil, já que proporciona momentos de interação que auxiliam na constituição da criança, sujeito histórico fruto e criador de cultura. Para Vygotsky (2007), a brincadeira é de grande importância para o desenvolvimento cognitivo, já que possibilita mudanças na relação entre o pensamento e a realidade. A brincadeira propicia à criança entrar no mundo da imaginação, permitindo que ela assuma papéis que a levem além do que é, a criança se apropria de comportamentos que não são frequentes nas suas vivências, dessa forma, o pesquisador acredita que a brincadeira gera, o que ele chama de zona do desenvolvimento proximal, a diferença entre o que a criança sabe e até onde ela pode aprender com ajuda. 6.3 A matemática e as múltiplas linguagens Este sub-capítulo pretende abordar a forma como a criança apreende os conceitos matemáticos, a prática pedagógica na Educação Infantil com relação ao ensino-aprendizagem da Matemática e a utilização das linguagens como suporte do trabalho do professor neste contexto. Pensar a Matemática na Educação Infantil origina incertezas a respeito de como trabalhar-la com as crianças desse segmento da Educação Básica, atendendo às suas necessidades e proporcionando a elas, o desenvolvimento integral que a mesma se propõe. Partindo do pressuposto que a intenção seja de que as crianças se desenvolvam em todos os aspectos, a Matemática não pode ser deixada de lado. Segundo Moura (s/d), ela faz parte do conjunto cultural ao qual a criança tem contato. Entretanto, o referido autor chama atenção para o fato de que não basta que a criança tenha contato superficial com o conhecimento 23 matemático. É preciso que ela domine seus conceitos de forma a ser capaz de utilizá-la como instrumento na melhoria de qualidade de sua vida. Ainda de acordo com Moura (s/d, p.14): A construção do conhecimento matemático é, como já assinalamos, resultado da busca constante por controlar o movimento das quantidades, das formas e das relações entre elas e os números. O motivo de ensinar a lidar com conhecimentos matemáticos e o modo de se construir estes conhecimentos são o de que é preciso dar condições para que os sujeitos realizem uma de suas necessidades básicas desde o início da humanidade: comunicar-se para dividir ações que propiciem melhores condições de vida. Para o autor, é por intermédio do desenvolvimento da linguagem que o ser humano passa a significar o concreto em palavras, possibilitando assim, a abstração, Moura (s/d), vê a Matemática como um “instrumento simbólico” (p. 3) gerado pelo processo de “abstração da realidade” (p.4) na busca de soluções para problemas encontrados na constante procura de uma vida melhor para o coletivo. Já que esta pesquisa se refere a como ensinar a Matemática, torna-se necessário abordar como a criança apreende ou constrói os conhecimentos matemáticos, mesmo que seja de forma breve. Com relação aos conceitos numéricos, Senna e Bedin (2007), consideram que a criança, em suas vivências diárias, tem contato com situações de contagem a qual compreendem como sendo o primeiro contato desta com o “sentido numérico”. Em seus estudos, as autoras trazem pesquisadores como Butterworth (2005), Gaspar (2004), Stves (2002), Devlin (2004), Kamii (1991) Morin (1986) e Vygotsky (1987), e concluem que a partir das interações com os outros e com o meio, as crianças encontram sua própria compreensão do mundo que as cerca. Além disso, desenvolvem a linguagem, o que as leva a significação deste mundo e ao desenvolvimento cognitivo e a apreensão dos saberes construídos pela humanidade historicamente. Este contexto propiciará à criança, o contato com diversas representações que a levarão os conceitos de generalização a respeito do universo em que vivem. De acordo com Senna e Bedin (2007, p. 11): Para que a criança alcance o conceito de numerosidade, faz-se necessário construir (organização/ reorganização cognitiva) a partir de capacidades básicas como o raciocínio para a transferência de quantidades, de conservação da quantidade dos componentes e suas mudanças, a partir da adição ou da subtração de elementos; cabe salientar que a habilidade básica fundamental para a formação do conceito de número é a ignorância, pelo sujeito, dos atributos perceptuais do conjunto (cor, forma, tamanho, características particulares dos objetos). Ligado ao conceito de numerosidade, as mesmas autoras afirmam que a contagem abre o caminho para o entendimento do conceito de quantidade, para isso, é necessário que a criança tenha conhecimento da nomenclatura dos números e de suas respectivas ordens. Diante disso, a criança consegue realizar a contagem de objetos de um conjunto sem repetir nenhum deles, além de ser capaz de perceber que o último número da contagem equivale ao 24 total de objetos no conjunto. A aquisição desses “princípios”, como as autoras sugerem, pode ocorrer durante o período dos dois aos seis anos, aproximadamente. Conforme Butterworth (2005 apud SENNA, BEDIN. 2007, p.12): [...] o domínio dos “princípios” segue progressivamente, ficando a primeira aquisição a cargo da “ordem estável” (ou seja, a seqüência da nomeação sempre seguirá a mesma ordem); já a segunda aquisição pela criança refere-se à correspondência nome – objeto (um a um), ficando para mais tarde o princípio da cardinalidade, com a última nomeação do total de objetos do conjunto o que definirá sua quantidade. Esta habilidade auxiliará a criança na tarefa de resolução de problemas aritméticos. (grifos do autor) As autoras avaliam que para que haja o aprendizado da Matemática é necessária a capacidade de realizar a abstração na construção dos conceitos, proporcionada por fatores biológicos e culturais que vão fornecer subsídios para a apreensão das “ferramentas matemáticas” (p.9). Moura (s/d) apoiado nos estudos de Leontiev (1988) e Vygotsky (1979), considera que a criança se desenvolve através da sua relação com o mundo que a cerca e pela interação que estabelece com os adultos. Essa relação com o seu universo cultural, permite interpretar e significar seu contexto e a brincadeira a auxilia neste aprendizado. Conforme Moura (s/n, p. 4) “[...] ao estar no mundo o homem se relaciona com ele de forma objetiva e nesta lida são desenvolvidas as funções superiores, a abstração, a memória, o raciocínio lógico, o pensamento e a linguagem”. Contrapondo essa lógica vygotskyana, e baseada na perspectiva de Piaget Constance Kamii (2005) aponta que ele identificou três tipos de conhecimentos: conhecimento físico, que surge da observação do objeto concreto; conhecimento social, que como o próprio nome já diz é uma convenção social, e o conhecimento lógico-matemático, gerado por relações feitas na mente de cada pessoa. Sendo assim, para Kamii (2005), o conhecimento lógicomatemático é construído pela criança por intermédio das relações que ela estabelece com o objeto concreto e com outras relações anteriores, ou seja, este conhecimento é construído internamente. A interação nesta concepção entende que a criança repensar, suas conclusões através da comparação da solução do outro. Com relação à prática do ensino da Matemática na Educação Infantil o mesmo Moura (s/d) avalia e crítica duas dimensões: na primeira, que não se deve trabalhar a matemática nessa modalidade de ensino; na segunda que para atender as exigências da sociedade necessita trabalhar esses conhecimentos por meio de exercícios, os quais não garantem um aprendizado significativo. Para Moura (s/d), nenhumas das duas dimensões seriam adequadas para a aprendizagem da Matemática, pois na primeira, estaríamos negando às crianças uma educação 25 intencional que lhe proporcione o desenvolvimento integral, já que, nesse período da vida ela está ressignificando o mundo em constante processo de ensino-aprendizagem. Já, na segunda dimensão estaríamos tirando dela o direito de viver a sua infância plenamente, antecipando vivências que só teria na escola. Nessa mesma perspectiva, Mello (2005), critica a antecipação da escolarização na Educação Infantil, concepção que ela nota como muito presente na prática dos professores que atuam nesta área, essa escolarização tão pretendida também pelos pais “rouba” das crianças o direito à brincadeira no ambiente escolar. A autora sugere que se faça o inverso, que se leve o espaço da brincadeira para o Ensino Fundamental. Com uma proposta para o ensino da Matemática na Educação Infantil através de brincadeiras, Smole, Diniz e Cândido (2000), acreditam que nesta modalidade de ensino a criança deva receber oportunidade de aprender, a partir do contato com conceitos matemáticos variados, promovendo a apreensão dos conhecimentos e a curiosidade para novas descobertas. Esse aprendizado deve ocorrer por meio da realidade da criança e de sua “linguagem natural”, valorizando a sua forma de pensar e seus aprendizados anteriores. As autoras também consideram que os conceitos matemáticos não são aprendidos com rapidez, por isso, devem ser trabalhados em diferentes contextos para que ela possa estabelecer relações, resolver problemas e refletir apreendendo noções matemáticas mais complexas. O planejamento e a organização do espaço da sala também são pensados por Smole, Diniz e Cândido (2000), quanto ao planejar, elas avaliam que deve ser constante, privilegiando a todas as percepções da criança e não somente os conhecimentos matemáticos. Com relação ao espaço, este deve ser organizado de forma que proporcione para a criança o sentimento de pertencimento, onde ela possa, conforme Smole, Diniz e Cândido (2000, p. 11) [...] “agir, discutir, decidir, realizar e avaliar com seu grupo, a criança adquire condições e vive situações favoráveis para a aprendizagem”. Faria (2000), acredita que o espaço nas Instituições que educam as crianças pequenas deve propiciar a elas desafios, e atender as diferentes facetas do desenvolvimento infantil, através do acesso a uma grande variedade de materiais e a todas as linguagens possíveis, criando nesse espaço características próprias. Conforme Wajskop (2007), o espaço educacional deve ser organizado, de forma que a criança possa interagir com seus pares e com os materiais oferecidos na intenção de que ela apreenda os conhecimentos construídos socialmente. Para Moura (s/d), a aprendizagem da matemática na Educação Infantil deve ocorrer por meio do jogo, é por intermédio dele que as crianças expõem as suas interpretações sobre o 26 papel de cada sujeito no mundo em que vivem e agem de acordo com seu entendimento a respeito deste, assim, o aprendizado da Matemática torna-se mais significativo. Nesse seguimento da educação não existe a obrigação de aprender como na escola, por isso, as crianças podem lidar com o conhecimento de forma lúdica, a motivação para o aprendizado vem da vontade de desempenhar a brincadeira, significando seus atos. Por meio do jogo, o autor sugere a criação de situações que possibilitem às crianças, a construção de conhecimentos matemáticos situações-problema propondo que elas encontrem a resolução no coletivo com os recursos que dispõem. Dessa forma, elas encontrarão formas de agir que serão utilizadas em outras ocasiões. Concordando com Moura (s/d) Kishimoto (2005) considera importante o lúdico como ponto de partida para o aprendizado significativo da Matemática, pois o jogo faz com que a criança apreenda as noções matemáticas, por meio de suas experiências, tornando-as mais significativas. Na perspectiva de uma Educação Infantil que privilegie a infância, Rocha (2008), propõe “núcleos de ação” para orientar a ação pedagógica no cotidiano institucional com relação aos conteúdos, os núcleos são divididos em três: 1. Linguagem: gestual-corporal,oral, sonoro-musical, plástica e escrita; 2. Relações Sociais e Culturais: contexto espacial e temporal, identidade e origens culturais e sociais; 3. Natureza: manifestações, dimensões, elementos, fenômenos físicos e naturais. Sendo que ela avalia que é impossível trabalhar qualquer um dos núcleos separadamente ou parcialmente. Quanto às linguagens, a autora ressalta que elas têm papel fundamental no trabalho pedagógico destes núcleos. Já que é através destas, que as crianças significam e expressam o mundo no qual vivem, interagindo com outros e apreendendo a cultura. Quanto a oferecer as crianças o contato com as diferentes linguagens, Rocha (2008, p. 5-6): A diversificação das linguagens objetiva: 1. a expressão e as manifestações das culturas infantis em relação com o universo cultural que lhe envolve; 2. o domínio de signos, símbolos e materiais; 3. a apreciação e a experiência literária e estética com a música (na escuta e produção de sons, ritmos e melodias); com as artes plásticas e visuais (na observação, exploração e criação, no desenho, na escultura, na pintura, e outras formas visuais como a fotografia, o cinema, etc.); 4. com a linguagem escrita, no sentido de uma gradual apropriação desta representação (no momento, com ênfase na compreensão de sua função social e suas estruturas convencionais em situações reais) em que se privilegie a narrativa, as histórias, a conversação, apoiadas na diversificação do acesso a um repertório literário e poético. Defendendo as linguagens como instrumento de apreensão do mundo e sua ampla utilização na Educação Infantil, Junqueira Filho (1999), em seu trabalho, concorda com Peirce, que através das linguagens as crianças expõem o que “lhes é mais significativo”, 27 expressa partes de si, ou seja, comunica elementos sobre ela mesma em suas produções ao mesmo tempo em que é constituída pelo que cria. Se lermos essa produção como linguagem, um desenho, segundo Junqueira Filho (1999, p. 39) “[...] revela, significa, comunica, traz informações sobre essa criança, através dos signos ali registrados por ela”. O professor deve ficar atento a essa expressão e tentar colher informações sobre essa criança, conhecê-la melhor, perceber seus interesses, suas necessidades e seu aprendizado. Para Mello (2005), a criança apreende os conhecimentos que lhe tiver sentido e se for possibilitado a ela a oportunidade de interpretar e exprimir esse aprendizado através de uma das linguagens seja qual for. Para a autora, oportunizar à criança possibilidades de se expressar nessas formas, provocam nela necessidade de se comunicar, que vai mais tarde, dar sentido ao aprendizado da linguagem escrita. Para Vygotsky (2007, p.126), a escrita é “[...] um sistema particular de símbolos e signos cuja dominação prenuncia um ponto crítico em todo desenvolvimento cultural infantil”. Esses símbolos e signos representam a linguagem oral, que, por sua vez, significam elementos culturais, que mais tarde, com a apreensão da escrita, serão representados por ela. Segundo o pesquisador, esse aprendizado acontece por meio de um processo longo e cheio de evoluções e retrocessos, relacionado ao “desenvolvimento de funções comportamentais complexas”. Seu início acontece pela representação através dos gestos que são “signo visual” (p. 128), outro fator que contribui para o aprendizado da escrita é a brincadeira, por intermédio dela, a criança se apropria dos signos, no início pelos gestos e depois pela fala. Outro elemento considerado por Vygotsky (2007) como suporte da apreensão da escrita é o desenho que no início será a tentativa da criança em reproduzir esses gestos no papel e, mais tarde, passam a criar formas de representar a fala de maneira mais complexa, chegando à escrita. 28 7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 7.1 Tipo de pesquisa Por se tratar de uma pesquisa da área da Pedagogia, a abordagem escolhida foi uma aproximação do método etnográfico, pois os aspectos investigados referem-se ao cotidiano em uma sala de Educação Infantil. Conforme André (1995), a pesquisa do tipo etnográfica permite um estudo mais aprofundado do contexto escolar, pois requer uma aproximação maior do pesquisador, através da observação participante,por intermédio da qual é possível observar o dia a dia da prática escolar e perceber a dinâmica da interação que lá existe, possibilitando as interpretações dos aspectos encontrados através de base teórica. Ao mesmo tempo em que permite a pesquisadora interagir diretamente com os participantes da pesquisa, já que este é um instrumento fundamental da coleta de dados. Segundo André (1995, p.41) “A pesquisa do tipo etnográfico, que se caracteriza fundamentalmente por um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada, permite reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência escolar diária”. Para a autora, esse tipo de pesquisa considera todos os elementos culturais no contexto pesquisado, tendo como foco, o sentido que os atos e episódios têm para os participantes. Procura desvendar, perceber, entender e descobrir novas relações, conceito e compreensões a respeito da realidade. 7.2 Participantes A efetivação dessa pesquisa aconteceu com a participação de uma turma de terceiro período, composta de 19 crianças entre 5 e 6 anos, que permanecem na Instituição durante período integral. A turma é constituída de 11 meninos e 8 meninas, sendo que um dos meninos é portador de deficiência visual. Quanto à formação das profissionais que trabalham com a turma, uma é formada em Pedagogia e tem pós-graduação, a outra profissional, está em processo de conclusão do curso de Magistério. O grupo conta também com uma profissional que trabalha especificamente com o menino portador de deficiência visual. Por se tratar de uma turma, em que algumas crianças, no próximo ano, estarão indo para o 1ª ano do Ensino Fundamental já demonstram interesse pela escrita das letras e dos números. O grupo tem uma dinâmica boa, participam das atividades e tem uma relação sem conflitos, o relacionamento com as professoras é tranquilo, elas são atenciosas com as crianças, sendo que durante as 29 observações, estavam ainda em processo de adaptação, a brincadeiras em grupo propostas pelos adultos e coordenadas por eles e também as livres onde elas brincam sem a interferência das professoras fazem parte das preferências do grupo. Esta pesquisa teve o intuito de investigar como acontece a apreensão da Matemática no cotidiano da Educação Infantil e a forma como as crianças revelam esse conhecimento em suas linguagens e cultura. Para tanto, foquei as observações nas relações e interações estabelecidas pelas crianças durante as brincadeiras. Baseado nos relatos de Kramer (2002), procurando preservar o anonimato dos envolvidos nesta pesquisa, optei por não revelar os verdadeiros nomes, sendo assim, nos referir-me aos participantes por nomes fictícios escolhidos pela pesquisadora. 7.3 Instrumentos de coleta de dados Por se tratar de uma pesquisa com aproximação com a etnográfica optei, por utilizar a observação participante e registros fotográficos para a coleta de dados, pois considero que esses instrumentos propiciariam uma maior proximidade dos aspectos que observei. Sendo que todas as passagens ocorridas, relacionadas com a pesquisa, durante as observações, foram registradas em um diário de campo. Gandini e Goldhaber (2002), consideram o registro como tendo grande importância para reflexão e estruturação do caminho a ser percorrido na elaboração de novas teorias, considerando todo o contexto e os sujeitos envolvidos. Ao realizar as observações, procurei estar atenta a concepção de criança a qual compartilhamos com autoras como Kramer (2002, p.43) [...] “visão da criança como cidadã, sujeito criativo, indivíduo social, produtora de cultura e da história”. Através desta visão de infância procurei orientar esta pesquisa, tendo como apoio as perspectivas das autoras Ferreira (2003) e Kramer (2002), referentes à forma como perceber e me posicionar diante do contexto que pesquisamos. Permitindo a criança expressar-se, estando atento ao que ela diz para realmente se pôr em posição de auscultação e exercitando a alteridade, olhar e escutar a criança com a intenção de perceber e entender o contexto em que vive suas especificidades, suas necessidades e sua história tentando interpretá-la. Esta pesquisa tem como foco, a forma como a Matemática é apreendida e expressada pelas crianças na Educação Infantil, por isso, direcionamos a observação e os registros para a investigação pautada nos seguintes questionamentos: 30 • Como ocorre a utilização dos jogos na sala? • Como os professores utilizam esses jogos? • Como as crianças se apropriam dos conhecimentos matemáticos? • Qual a contribuição do lúdico na aprendizagem? • Por meio de quais linguagens as crianças expressam os conhecimentos matemáticos? 7.4 Situação ambiente No dia 01 de abril de 2009, cheguei à Instituição para meu primeiro contato. Fui bem acolhida pela pessoa responsável. Participei de uma breve reunião com a orientadora e mais duas colegas acadêmicas que também realizariam a pesquisa. A seguir comunicamos a nossa intenção e o tema das respectivas pesquisas. Em seguida, saímos para conhecer as dependências do estabelecimento. Entramos em algumas salas, e fomos apresentadas as profissionais e às crianças que ali estavam, fomos informadas de que devido à demora na contratação de professores para a Instituição, as turmas ainda não estavam formadas, por isso, os grupos que encontramos não eram ainda os definidos para o resto do ano. Durante a visita, conhecemos também o refeitório que é utilizado também como auditório. Espaço aberto, todo gramado, com árvores enormes e plantas bem cuidadas. Nosso primeiro pensamento foi organizar uma contação de histórias naquele local maravilhoso. Quanto ao espaço, além da área aberta com vários jardins que é de 248.992,50 m² há também a área construída que é composta de 3.734m² e está dividida em 1 sala da direção, 2 salas para a orientação, 1 sala para secretaria, 1 recepção, 2 salas para serviço social, 2 salas para serviço de saúde, 1 gabinete odontológico, 1 sala de costura, 1 almoxarifado, 1 lavanderia, 1 sala de descanso para funcionários, 1 biblioteca, 6 dormitórios, 1 palco para apresentações, 1 cozinha tipo industrial, 1 cozinha para lactário, 3 refeitórios, 2 garagens, 3 parques, 2 salas de recreação, 1 solarium, 9 banheiros completos, 15 reservados de banheiros. Quanto às salas de aula são 21 no total sendo: 2 salas de berçário 12 salas para maternais e I períodos, 4 salas para II períodos, 3 salas para III períodos. A Instituição também possui para transporte 1 micro ônibus, 1 Kombi e 1 tobata. (Retirado do Projeto Político Pedagógico da instituição pesquisada) 31 Depois desse agradável passeio pela Instituição combinamos que iniciarmos nossa pesquisa de campo no dia 08 de abril de 2009, e permaneceríamos durante 10 dias no período da tarde. Iniciaríamos quando o quadro de funcionários já estivesse completo e uma semana de adaptação dos grupos. No dia marcado retornamos a Instituição para dar início às observações. Fomos encaminhadas pela pessoa responsável até as salas das respectivas turmas. Ao entrarmos na sala do III Período a pessoa responsável apresentou-me para as professoras que já sabiam da visita. Fui convidada por elas a sentar próximo a mesa das professoras. A sala estava mobilhada com seis mesas pequenas, de quatro lugares com suas cadeiras, uma mesa e duas cadeiras grandes para as profissionais, um armário de madeira com portas de correr, uma caixa de madeira grande para os brinquedos, duas prateleiras de ferro para guardar brinquedos e outra de madeira, em forma de triângulo, onde era guardado o material de desenho. O tema da decoração era palhaço e havia também um painel de tecido que continham, as além das letras do alfabeto que utilizamos, também na língua dos sinais, e em braile. Permaneci sentada durante algum tempo, aguardando que as crianças terminassem a atividade que estavam fazendo para que a professora fizesse as apresentações. Durante esse tempo, senti como se estivesse invadindo o espaço daquele grupo de crianças, o que me fez pensar sobre a importância da aceitação do grupo nos remetendo a situação vivida por Manoela Ferreira (2002). As crianças, a principio não demonstram muito interesse na visitante, provavelmente porque como veria no futuro, nesta Unidade Educacional, a circulação de pessoas de fora é bem frequente, durante o período no qual estivemos lá, além das estagiárias de Pedagogia recebemos duas vezes a visita de adolescentes que participam de um projeto de profissionalização de uma grande empresa localizada no município. Outro fator que pode ter contribuído para esta naturalização da professora e crianças em relação a presença da pesquisadora , pode ter sido a tarefa que elas estavam realizando, pintar e recortar um coelho para colocar na cesta de garrafa que as professora estavam fazendo para as crianças levarem os doces da páscoa para casa. Durante esse período, algumas crianças olharam em direção da pesquisadora, mas não passou disso. Enquanto isso, aproveitei para conversar com as profissionais e esclarecer com detalhes a minha vinda à Instituição, que não se tratava de um estágio, mas sim de uma pesquisa para trabalho de conclusão de curso. Que não haveria regência e que a intenção era somente observar as crianças e perceber como elas expressam a Matemática durante as brincadeiras, mantendo-me próxima, mas interferindo menos possível na dinâmica do grupo, 32 pois permaneceria durante dez dias somente no período da tarde, intervalo de tempo curto para criar algum tipo de relação mais profunda. Aproveitando para falar também a respeito das autorizações de imagem que seriam enviadas aos pais. Embora não tenhamos recebido retorno de alguns pais às que conseguimos se encontram no apêndice deste trabalho. Durante o período em que convivi com o grupo, vivenciei a falta de interesse por parte das crianças, inicialmente sendo substituídas no decorrer do tempo por interações cheias de curiosidade, desconfianças e até cumplicidade em algumas ocasiões. Como no momento em que as crianças estavam acabando a atividade de pintar e recortar o coelho da Páscoa, a professora pediu para uma das meninas colocar o coelho sobre a mesa que eu estava. Depois de atender ao pedido da professora, continuou ali, mexendo no que estava sobre a mesa sem muito interesse, até que tomou coragem e perguntou o nome da acadêmica, recebendo a resposta. Percebendo que nós duas estavam conversando, um menino que estava parado ali próximo, esperando a oportunidade para se aproximar, começa a fazer perguntas: “Qual o seu nome? O que você veio fazer aqui?” Esse episódio me suscitou as discussões de Manuela Ferreira (2003), ao comentar que as crianças procuram certificar-se do que eu estava fazendo ali, a que ela veio demonstrando que esta também é passível de observação e interpretação. Quando a profissional da sala ouviu a conversa, lembrou-se que não havia feito as apresentações, pediu que as crianças sentassem para falar com elas, finalmente apresentou-me para o grupo. A minha fala com as crianças procurou explicar o porquê de estar ali e pedir autorização das mesmas para desfrutar da companhia delas durante as tardes e tirar algumas fotos. As crianças mostraram-se receptivas e não se opuseram as fotos, até gostaram da idéia. Durante a apresentação procurei portar-me conforme Ferreira (2003), respeitando o grupo considerando sua dinâmica e procurando não estar nesse lugar de professora. Depois da atividade, fomos para o refeitório, durante a espera pelo lanche, algumas crianças olharam, por mais tempo, dessa vez demonstrando curiosidade com relação à pesquisadora, mas não esboçaram qualquer intenção de aproximação. A acadêmica permaneceu sentada no final da mesa, observando até que Arthur lhe fez uma pergunta, sobre uma música que cantarolava, demonstrando que, de certa forma, pelo menos para ele, estava sendo integrada ao grupo. Durante as observações, Arthur se tornou a criança com a qual mais interagi junto com a menina Carla e outro menino Gabriel, os quais demonstraram certa afinidade. Apesar de se manter, de certa forma, ao lado, pois colocava-me em posição de observadora para que pudesse ouvir e ver o que as crianças estavam fazendo, procurava não 33 intervir a não ser que estas me procurassem. Estabelecendo assim, interação com as crianças que se interessassem em se relacionar. Nas últimas observações, já estava interagindo com todo o grupo, entretanto; quando fui aceita por todos, acabou o tempo de convivência. A relação com as profissionais da sala, apesar de, no início uma delas se mostrar um tanto distante no decorrer da convivência, aos poucos, foi mudando, ao perceber que a acadêmica, não estava ali para avaliar, nem interferir no trabalho dela, que a pesquisadora atua na mesma área, seu comportamento mudou e passou a se relacionar de forma mais aberta. Segundo Ferreira (2003, p. 165): [...] construção de uma relação de amizade implica reflectir o que neles os diferentes actores fazem acontecer e detalhar algumas das formar de interacção social ocorridas entre o adulto investigador e as crianças, por forma de evidenciar nos processos sociais que envolvem relações de poder, de saber e afectivas (desiguais e diferenciadas) uma multiplicidade de papéis e estatutos sociais, cuja expressão oscila entre a reciprocidade e encontro de sentidos partilhados, e também a revelar as suas desinteligências mutuas, desafinações e ritmos alternados. A citação acima, em minha opinião, expressa a reflexão feita a partir do texto da autora, os fatores que estão envolvidos nas relações de que participamos em nossas vivências diárias das quais não nos damos conta, principalmente, quando nos colocamos na posição de adentrar em um grupo que não conhecemos e não temos certeza de como agir diante destes. Todos os encontros e desencontros aos quais nos sujeitamos, quando nos propomos a interagir com o outro, podem passar despercebidos. A partir dessa reflexão, tomei consciência de tudo que está envolvido nas relações estabelecidas com o grupo, a forma como as crianças e os adultos me perceberam e quais os papéis assumidos com relação a eles: o de cúmplice, adulto, amiga, autoridade, forasteira e outros que subjetivamente apareceram somente para uns e não para outros , construindo esse curta relação mas que deixaram marcas na pesquisadora. 7.5 Organização, tratamento e análise dos dados A presente pesquisa foi inicialmente organizada a partir de uma “pré-análise” (BARDIN, 1977, p. 95) de leituras de referenciais bibliográficos, as quais no decorrer do processo, estruturaram a fundamentação teórica desta e seu direcionamento com relação aos objetivos do mesmo. Quanto aos dados, estes foram coletados através de registros realizados 34 em observação participante, tendo seus focos direcionados, previamente, pelas categorias que, por sua vez, foram orientadas em função dos objetivos desta pesquisa. A “exploração do material” (BARDIN, 1977, p.95), acontece a partir dos registros do diário de campo sendo que estes foram separados por meio de categorização, sendo analisados por intermédio de diálogo com os (as) autores (as) que contribuíram para fundamentação teórica apresentadas neste trabalho. 35 8 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Este capítulo tem como objetivo apresentar descrição e análise dos dados coletados durante as observações. Está dividido em três sub-capítulos, relacionados com os objetivos específicos da pesquisa, sendo que estes, foram desenvolvidos a partir de categorias, a fim de analisar os episódios registrados no diário de campo. O primeiro objetivo, questiona a forma como o jogo e a brincadeira ocorre na prática dos professores no cotidiano da Educação Infantil, e foi dividido nas categorias: espaço, interação entre pares e a proposição da professora. Quanto ao segundo objetivo, busca identificar como as crianças de 5 a 6 anos se apropriam dos conceitos matemáticos através do lúdico tendo como referência as categorias: interação entre pares, mediação, tempo, contagem, quantidade e número. O último objetivo, aborda em quais linguagens as crianças expressam seus conhecimentos matemáticos a partir das categorias: o imaginário, a linguagem oral, o desenho, a escrita e as culturas infantis. 8.1 Jogos e brincadeiras na prática dos professores A Educação Infantil é o cenário privilegiado para a utilização de jogos na prática pedagógica, pois é organizado de forma diferente da escola, o aprendizado pode ocorrer através da brincadeira, sem pressão, sem conteúdos estabelecidos, de forma estática. Este capítulo procura abordar esse aspecto relacionado à aprendizagem da matemática e a forma como os profissionais que atuam nesse contexto, utilizam esta valiosa estratégia. Os episódios registrados nas observações possibilitam tratar vários aspectos, sendo que, no primeiro relato, abordaremos mais de uma categoria. Iniciaremos com a categoria espaço. No episódio citado a seguir fica claro que, ao disponibilizar materiais na organização do espaço, pode-se possibilitar a aprendizagem de forma intencional, através do contato com materiais e das interações entre os pares. Dessa forma, abordo espaço e as interações entre os pares como uma categoria de análise. Quanto à sala que o grupo de crianças ocupa na Instituição, podemos dizer que é pequena para vinte crianças, não possibilita a criação de muitos espaços para a brincadeira. Durante as observações, pudemos perceber que, na maioria das vezes, elas brincavam 36 sentadas nas seis mesas, que ocupam boa parte do espaço da sala, somente em duas ocasiões, elas levaram os brinquedos para o chão e articularam-se pela sala. Os jogos ficam sobre uma prateleira de metal, são poucas as opções, encontramos algumas peças de montar (lego), um dominó incompleto, um dominó de frutas, um dominó de objetos, dois jogos de memória e um jogo de quebra-cabeça envolvendo números. Pelo menos em duas ocasiões de brincadeira, a professora relembrou as crianças de que, ou usavam os brinquedos, ou os jogos, pois conforme as regras do grupo, só poderiam brincar com um tipo de brinquedo. A hora da brincadeira livre acontecia geralmente depois da atividade e antes do lanche, não que fosse todos os dias assim. Apesar de oferecer algumas opções: brinquedos e jogos, os espaços da sala não priorizam as brincadeiras. No entanto, elas acontecem, como pode ser observado no episódio abaixo: De volta à sala, Clara e Cláudio, pegam o jogo de dominó e sentam no chão de frente um para o outro e derramando as peças entre eles, começaram a jogar juntando as quantidades de forma correta 3 com 3, 6 com 6. Em um certo momento, Clara coloca 4 junto de um 3 e Cláudio faz não com a cabeça e retira a peça, colocando outra com a quantidade igual. Enquanto isso, a professora Vera comenta “eles não sabem jogar dominó“ a professora Fátima responde “é tem que sentar e ensinar”. Comentei com a professora Fernanda que eles estavam juntando as peças e relacionando-as a quantidades de forma correta. (DIÁRIO DE CAMPO: 08/04/ 09). Percebemos no registro acima, que as crianças demonstraram que, caso disponibilizarmos materiais no ambiente da sala para que interajam com eles e com seus pares, momentos de aprendizagem surgem naturalmente. Conforme Faria (2000), o espaço deve ser organizado de maneira que atenda aos diversos aspectos do desenvolvimento infantil. Possibilitando às crianças o contato com os mais variado tipos de materiais e linguagens, favorecendo a ampliação de seu conhecimento, saindo de uma perspectiva onde o espaço da Educação Infantil imita outros, como o da escola. A necessidade de oferecer o espaço para a brincadeira, apresentada por Wajskop (2007), onde esta aponta a importância de oportunizar para as crianças, formas de significar o mundo que as cerca, através de vivências, por isso, que o espaço educacional deve proporcionar momentos de interação e contato com materiais que possibilitem apreensão dos conhecimentos construídos pela humanidade. Como vimos no episódio citado anteriormente, por intermédio do jogo de dominó e da interação, a menina obteve o contato com a contagem, a noção de quantidade. Neste contexto, o jogo será tratado de forma a ressaltar a sua contribuição na interação entre as crianças, sendo que este trabalho o entende jogo como sinônimo de brincadeira. 37 Como vimos acima, o jogo provocou a interação entre as crianças, o que para Wajskop (2007), faz com que a brincadeira adquira sua colocação como prática pedagógica, na medida em que privilegia essa interação entre ao pares e contribui para que a criança apreenda o mundo que a cerca. A próxima categoria que abordei trata a proposição da professora, no período em que observamos o grupo de crianças. Por três vezes, a professora propôs às crianças brincadeiras. Neste episódio, em particular, utilizou-se de uma que traz números. Como as crianças não conheciam a brincadeira, e esse episódio aconteceu no nosso primeiro dia de pesquisa, acreditamos que tenha sido intencional, já que a profissional havia tomado conhecimento do tema do trabalho. A brincadeira é chamada de “Seu lobo tá em casa” o grupo em roda, uma criança fica dentro e outra fora, o grupo combina uma hora para o seu lobo chegar, a criança que está fora pergunta quando ele vai chegar, seguindo ou não a sequência numérica até acertar a hora combinada. Quando acertar, a criança que está dentro da roda sai, e tenta pegar o amigo que está fora, depois de certa confusão para aprender as regras da brincadeira, essa durou pouco tempo, logo, as crianças desistiram e pediram para brincar livres no parque. A brincadeira tem um papel importante, proporcionando à criança o contato com os conceitos matemáticos. Essa questão nos remete as contribuições de Senna e Bedin (2007), que consideram esses jogos como “ferramentas culturais” (p. 10) assim como as músicas infantis e o cotidiano doméstico, o contato com o dinheiro, proporcionam às crianças a apropriação informal destes conceitos. Para Butterworth (2005 apud SENNA, BEDIN, 2007 p.10) “O tempo para desenvolver um entendimento de conceitos matemáticos e princípios é aplicar os mesmos de forma significativa, isto é, provavelmente, influenciado fortemente pelas práticas educacionais as quais a criança é submetida”. O episódio que mostrarei a seguir, traz a participação da professora em uma brincadeira proposta por ela, momentos este que as crianças demonstraram gostar. A brincadeira cantada, pareceu divertir todas as crianças, pois participaram com entusiasmo. Pretendo abordar essa passagem, a partir da posição das profissionais perante e dentro do grupo de crianças: Retornamos à sala e a professora Fátima propõe a brincadeira cantada da “Serpente” abrimos espaço para começar a brincadeira, a professora andando pele sala canta: Essa é a história da serpente Que desceu do morro Para procurar um pedaço do seu rabo Você também (bate palmas duas vezes e aponta para uma criança) Você também (bate palmas duas vezes e aponta para uma criança) Faz parte do meu rabão.... 38 As crianças escolhidas passam por baixo das pernas da professora e dos colegas e juntam-se ao rabo da cobra. (DIÁRIO DE CAMPO 14/04/09). A participação dos adultos nas brincadeiras com as crianças, segundo Smole, Diniz e Cândido (2000), desde que seja prazeroso para a professora, colocando-a no papel de parceira mais experiente, além de ajudar a criança a apreender a brincadeira, sendo ressignificada por elas. Outro fator favorável é a oportunidade de conhecer melhor o grupo e seus relacionamentos e as características de cada criança. No primeiro episódio relatado, a professora demonstra o conhecimento da importância da mediação para o aprendizado das crianças. Este aspecto fica claro em sua fala, quando comenta: “tem que sentar e ensinar” (Diário de campo 08/04/09). A análise deste sub-capítulo procurou dialogar com os autores sobre os registros e demonstrar a importância de oferecer às crianças um espaço que provoquem a brincadeira, e possibilite a utilização de jogos, favorecendo à interação entre os pares e o aprendizado no cotidiano da Instituição de Educação Infantil. O que percebemos é que no grupo de crianças observado, esse aspecto relaciona a organização do espaço que propicia o brincar não é uma prioridade, apesar de as profissionais oferecerem alguns momentos que possibilitam à brincadeira, o trabalho pedagógico é mais direcionado para a apreensão da escrita através de atividades em papel. Acredito que este fato se deve a questão de que as crianças, no próximo ano já freqüentarão o primeiro ano do Ensino Fundamental, já que o incentivo a aquisição da escrita é constante. Em várias passagens, as crianças são estimuladas a escreverem os seus nomes em atividades voltadas diretamente para a escrita ou de desenhos livres, são utilizados também crachás com os nomes. Considero que a criança deve ter contato com a escrita, desde que este contato ocorra de forma natural, através de um contexto que respeite seu tempo de ser criança, não em uma perspectiva escolar de atividades que não estimulem, nas crianças, a necessidade de se expressar em forma de escrita. Avalio, de certa forma, que a proposta de trabalho pedagógico oferecida ao grupo, como uma perda, para este, já que a utilização do lúdico como prática pedagógica pôde proporcionar a eles esse aprendizado mais significativo. 8.2 O lúdico e o aprendizado da matemática O presente sub - capítulo aborda a forma como ocorre o aprendizado da Matemática pelas crianças de 5 a 6 anos com a utilização do lúdico. Como já ressaltamos na análise anterior, a brincadeira torna o aprendizado mais significativo. Os episódios que vamos relatar 39 a seguir, possibilitam problematizarmos as categorias: interação entre os pares, a mediação, e as noções matemáticas de tempo, número, contagem, quantidade e distribuição. Durante um dos períodos em que a professora disponibilizou os jogos para as crianças, surgiu uma situação em que este, novamente, aparece como fonte de aprendizado através da interação entre os pares, categoria que desta vez buscaremos analisar sobre a perspectiva vygotskyana: Logo em seguida, Arthur chega com um jogo de quebra-cabeça “Brincar de contar” coloca sobre a mesa que está no meu lado, o jogo consiste em peças com o símbolo numérico, a quantidade expressa em conjuntos de objetos e o número escrito em três idiomas Português, Inglês e Espanhol. Logo se juntam ao menino, Carla e Juliana. Arthur já reconhece os números e realiza a contagem dos objetos sem errar, nem repetir o mesmo objeto, ele junta com facilidade as peças com o símbolo e as quantidades só precisa de ajuda com as peças que trazem as palavras escritas, Juliana e Carla têm dificuldades. Carla pega a peça que traz 8 sorvetes e junta com a peça que tem o número 5, peço para ela contar quantos sorvetes têm e ela conta, pulando alguns, chega ao total de seis, convido “vamos contar junto” inicio a contagem apontando com o dedo até o 8, ela pergunta “qual é o oito?” Arthur, bem depressa, entrega a peça para ela. Aos poucos, os três seguem juntando as peças, solicitando ajuda somente para colocar os números escritos. (DIÁRIO DE CAMPO 13/04/09). Na passagem acima, as crianças interagem, de forma que o menino e a pesquisadora que possuem mais domínio e conhecimento das quantidades e dos símbolos – interferem, mostrando para as meninas a forma correta de juntar as peças e realizarem a contagem. Essa mediação entre os pares nos suscita as questões apresentadas por Vygotsky (2007), pois o mesmo aponta que a interação com parceiros mais experientes pode contribuir para o aprendizado e para o desenvolvimento do sujeito, pois com ajuda, a criança parte do que sabe, avança até onde pode chegar, o que o pesquisador chama de “zona de desenvolvimento proximal”. (p. 97). Dessa forma, as meninas que não tinham domínio sobre os conhecimentos que envolviam o quebra-cabeça por intermédio do colega e da pesquisadora tomaram conhecimento dos signos numéricos e suas respectivas quantidades, o que para elas torna-se significativo por ocorrer durante uma brincadeira. Essa mediação segundo Vygotsky (2007), é uma das formas privilegiadas de aprendizagem para a criança. Na perspectiva de Moura (s/d), é importante oportunizarmos às crianças, desafios que possibilitam a resolução de problemas para a construção de conceitos matemáticos que permita partilhar sentidos. O mesmo episódio acima citado, possibilita analisarmos as categorias número e quantidade. O jogo proporcionou a interação com os pares, pois uma menina demonstrou não conhecer bem os números (símbolo) e suas quantidades, e essa brincadeira foi uma oportunidade de entrar em contato com estes conhecimentos, favorecendo seu aprendizado. Senna e Bedin (2007), afirmam que apreensão pela criança da denominação dos números e 40 reconhecimento de suas respectivas quantidades ocorre por intermédio da apropriação, que passa a ser significada individualmente, e das diferentes formas em que ela entra em contato com símbolos, através da cultura em que vivem. Conforme Morin (2002, p.61 apud SENNA, BEDIN 2007, p.9): [...] o conhecimento cerebral necessita, evidentemente, dos estímulos do meio para se pôr em ação e se desenvolver. Mais profundamente necessita da presença organizacional do meio no interior da sua própria organização [...] Assim, o inato é ao mesmo tempo um adquirido e um construído do processo evolutivo cerebral. Além do aprendizado da quantidade na brincadeira, elenquei no próximo relato questões que evidenciam a aquisição do conceito matemático, por meio da categoria: a contagem. A professora disponibiliza os brinquedos, um dos meninos convida a pesquisadora para jogar dominó. Esta o incentiva a realizar a contagem das peças do jogo, ao chegar ao número 13, ele pára de contar com se houvesse esquecido o número a seguir, a pesquisadora continua a contagem e o menino retoma nos números seguintes, por mais duas vezes ela mantém a mesma atitude e a criança consegue chegar ao final da contagem. Senna e Bedin (2007), dialogando com Butteworth (2005), as pesquisadoras consideram a contagem como um dos primeiros conceitos matemáticos dos quais a criança tem contato por intermédio do lúdico no seu cotidiano. As autoras apontam também que esse conhecimento é passado por meio da linguagem através da cultura. A aquisição da contagem necessita da memória imediata que é mais exigida na Língua Portuguesa, já que, na nomenclatura dos números de 1 a 15, a seqüência não é lógica, nem regular e estes conhecimentos também são apreendidos a partir do contato e em diferentes momentos, da possibilidade de exercitar este aprendizado. De acordo com Gaspar (2004, p.127 apud SENNA, BEDIN 2007, p. 7): “[...] a habilidade das crianças dizerem a sequência correta das palavras numéricas é fortemente influenciada pelas oportunidades que lhes são dadas de aprender e praticar essa sequência”. Esta autora assegura que os símbolos numéricos possuem vários sentidos e a criança deve ter contato com esses diversos significados diferenciados pela forma de utilização do símbolo. Para a autora, o sistema numérico faz parte da cultura e como ferramenta cultural deve ser apreendida pela criança. A próxima passagem que irei apresentar conta com a participação de um adolescente que frequenta um projeto social2. Os integrantes do projeto fazem trabalho voluntariado 2 O adolescente participa do Projeto Pesca mantido pela empresa sediada no município que oferece aos jovens, curso profissionalizante e promove o trabalho voluntário. 41 visitando e interagindo através de brincadeiras e passeios com as crianças da Instituição uma vez por semana. Na análise deste relato, vamos abordar a categoria mediação concentrando o a análise na perspectiva da intervenção, necessária para ampliar os conhecimentos da criança. Iniciamos o jogo, Arthur colocou a primeira peça e já olhou para as minhas e falou: “tu tens o quarto?” e pegou a peça, colocando-a no lugar certo, olhou para o adolescente e disse “tu tens?”, tomando o comando da brincadeira até que o jogo ficou “trancado”, isto é, tínhamos peças nas mãos, mas elas não continham a quantidade certa para continuarmos jogando. Assim começamos uma nova partida, novamente ele dividiu as peças de forma desigual, questionei “não é melhor você dar a mesma quantidade para todos? Assim nós três vamos jogar o mesmo número de vezes” ele concordou parou e em seguida distribuiu uma para cada um até que as peças terminassem (quatro para cada um). Jogamos mais duas partidas, ele se cansou. (DIÁRIO DE CAMPO 23/04/09). No registro acima, no momento em que a pesquisadora sugere a distribuição das peças em igual número para os jogadores, ela propõe um problema para o menino que logo encontra a solução. Fazer a distribuição das peças uma a uma foi a resposta encontrada por ele. Segundo Lorenzato (2006) a mediação do professor não deve valorizar as respostas “erradas”, deve sempre fazer com que a criança pense sobre a resposta que encontrou e, se necessário, volte atrás, provocar novas descobertas é a construção de conhecimentos. As respostas “erradas” podem ser a Zona de Desenvolvimento Real (Vygotsky, 2007), pois esse nos dá pistas para saber até onde a criança chegou sozinha e qual questão necessita de uma mediação qualificada do (a) professor (a). Em relação à categoria tempo apontadas neste sub-capítulo, vai será analisada na perspectiva de apropriação deste conceito. Conforme Staves (2002 apud SENNA e BEDIN 2007), a forma como a criança explora e concebe o conceito de tempo, e a maneira que significa o mundo, são subjetivos, e contribuem para a sua inteligência matemática. Portanto, é a partir de suas experiências e as relações que estabelece com as mudanças no seu cotidiano que ela vai apreender este conceito. Alfredo cantarolava uma música que não consegui ouvir por causa do barulho do refeitório, olhou para mim e falou “você conhece essa música?” respondi que não, pois não sabia que música ele estava cantando, ele continuou “eu conheço faz tempo, desde que eu tinha 4 anos” (mostrando 4 dedos) “des do ano passado?” Perguntei e ele respondeu “é agora tenho 5 (mostrando 5 dedos) e vou continuar conhecendo até eu fazer 6, 7, 8, 9,10 vai demorar um tempão”. Enquanto contava utilizava os dedos para ajudar. (DIÁRIO DE CAMPO: 08/04/09). No relato acima, o menino tenta demonstrar sua compreensão com relação à noção de tempo de duração de um determinado período, relacionado com a sua idade, ele expressa o fato de gostar tanto da música que cantava que continuaria a cantar por muito tempo ainda. No decorre deste sub-capítulo, procuramos analisar a contribuição da interação para o aprendizado, e como ocorre a apreensão das noções matemáticas de tempo, de número, de 42 contagem, de quantidade e de distribuição. Percebemos que a apreensão destas noções está relacionada com as oportunidades de contato que a criança tem com as mesmas no seu cotidiano, e a significação que fará destas vivências, ou seja, trata-se de um aprendizado adquirido socialmente. Sendo assim, considero importante ressaltar a necessidade de proporcionar às crianças da Educação Infantil, o maior número possível de contato com as noções matemáticas com o objetivo de contribuir para a apreensão dos mesmos. Através da interação e de materiais que tragam estes conceitos, propor a elas problemas que as façam avançar no processo, questionando, refletindo, levantando hipóteses, adquirindo os conhecimentos prévios para uma aprendizagem da Matemática, no futuro. 8.3 As linguagens e a Matemática As múltiplas linguagens fazem parte do cotidiano infantil, sendo assim, utilizadas na apreensão dos conceitos matemáticos que torna o aprendizado mais prazeroso, proporcionar para as crianças oportunidades de se utilizar essas linguagens e enriquecer as suas e as nossas vidas. Este sub-capítulo pretende abordar a forma como as crianças expressam os conhecimentos matemáticos, através das linguagens. Para isso, elencamos 6 categorias, que são: o imaginário, a linguagem oral, o desenho, a escrita e as culturas infantis. Abordo, agora, a categoria imaginário. O primeiro episódio surge, no momento em que entrando na sala, com uma caixa de doces de Páscoa para serem distribuídos para as crianças, a professora pede para elas adivinharem o que tem dentro dela. Para isso, comenta que tudo que tem dentro estraga os dentes. Um dos meninos Gabriel C. comenta que é só escovar os dentes, no mesmo momento, Augusto sentado ao lado, relata, que quando caiu um dos seus dentes ele colocou embaixo do travesseiro e, no dia seguinte, ele encontrou seis reais no lugar, juntando com o valor que já possuía, agora estava com trinta reais. O menino Augusto relata para o amigo conhecimentos adquiridos no contexto familiar, apesar de não se referir a “fada dos dentes” fica claro que a família adotou este ritual cultural, ao expressar o imaginário, a criança mostra o conhecimento sobre o dinheiro que também foi adquirido durante suas vivências. Nessa perspectiva, Cerisara (2002) afirma que o imaginário infantil é alimentado pela cultura e pelas relações estabelecidas com as pessoas com quem convivem, o real e a fantasia estão interligados. Aqui vale reiteramos que Vygotsky parafraseado por Cerisara (2002, p. 124): 43 [...] os processos criadores encontrados desde os primeiros anos da infância se refletem basicamente em suas brincadeiras ou jogos e são produtos de um tipo de impulso criativo, entendido como aquele que possibilita ao sujeito reordenar o real em novas combinações. A próxima categoria, o desenho, como uma das linguagens mais utilizadas pelas crianças na Educação Infantil. Junqueira Filho (1999), acredita que um desenho pode nos mostrar vários aspectos sobre a criança que o produziu, como sua identidade e, inclusive, seu aprendizado. Observamos o relato a seguir: Ao chegarmos à sala, algumas crianças pediram folhas para desenhar e a professora atendeu ao pedido delas. Carla, Adriana e Bethe estavam sentadas á mesma mesa, Carla desenhou um quadrado azul que ocupa mais ou menos a metade da folha, perguntei “o que você desenhou aí?” ela responde “uma piscina” em seguida ela desenha quatro bonecas ao lado da “piscina” Adriana pergunta: “quem é essa aqui?” apontando para a boneca do meio Carla responde “sou eu”, “e essa?” aponta a boneca da esquerda, Camila responde “é você”, as outras duas bonecas elas cochicharam no ouvido uma da outra e não consegui entender. Carla exclama “ah! se eu tivesse desenhado uma bóia” bem depressa, Bethe fala “desenha agora”. Carla “é mesmo, vou fazer agora”, desenhando cinco círculos dentro da piscina, Adriana conta “uma, duas, três, quatro, cinco, mas só tem quatro bonecas”. Carla desenha mais duas bolas Adriana fala “mais duas agora são...” contando novamente “sete”. Carla responde “não faz mal”. (DIÁRIO DE CAMPO: 22/04/09). No episódio acima, a menina expressa os sentimentos com relação às companheira, pois representou no desenho, com também lembrou que para brincar na piscina é preciso usar a bóia. A partir desse desenho, a colega relaciona as quantidades, avisando que não são iguais, que pela resposta dada, foi intencional, demonstrando que elas reconhecem as diferenças entre as quantidades expressas no desenho. Leite (1998), reforça a perspectiva do desenho como linguagem e ressignificação do mundo. Para a autora, a criança, por meio do desenho, expressa sentimentos, coloca sua perspectiva da realidade, ou seja, consegue interpretar o mundo e representá-lo no papel, à sua maneira. Diante disso o (a) professor (a) deve proporcionar às crianças momentos em que elas possam se expressar e se desenvolver, descobrindo e compartilhando suas vivências. A categoria linguagem oral, será aborda na perspectiva do sócio-histórico. Nessa passagem, as crianças estão fazendo “ovos de Páscoa” de massa de modelar, um dos meninos chama a pesquisadora para contar que ganhou “um monte de coisas de Páscoa” a pesquisadora indaga de quem, ele responde “das madrinhas”, usando o plural. A acadêmica ficou curiosa e perguntou quantas madrinhas ele tinha, utilizando os dedos, conta uma madrinha e um padrinho, duas vezes, e mostra 4 dedos. A linguagem oral é muito utilizada pelas crianças para se expressarem. Vygotsky (2007), considera que, para a criança, inicialmente, a linguagem serve para a interação com o outro, assim ela compartilha os significados e significa o mundo que a cerca. É através da fala que a criança organiza o 44 pensamento, planeja e soluciona problemas. Para o pesquisador, o momento de maior avanço no desenvolvimento da inteligência se dá quando a linguagem falada e a atividade prática se unem, ocorrendo o desenvolvimento da inteligência prática e abstração. No próximo relato, a categoria escrita, será abordada tendo como foco, a relação do contato e da necessidade das crianças da apreensão dos signos. Para Vygotsky (2007), a aquisição da linguagem escrita é um processo irregular que tem relação com o desenvolvimento intelectual da criança que passa por outras formas de representação da fala, como os gestos, a brincadeira e o desenho que evoluem até a escrita. O desenvolvimento da escrita, ocorre, inicialmente, quando a criança simboliza a fala através de rabisco que, em seguida, passa para o desenho, chegando até as letras “signos” (p.139). O pesquisador aponta a possibilidade de a escrita ter surgido a partir da necessidade de registrar as quantidades. Sendo que para o pesquisador, o aprendizado da escrita deve ocorrer apoiado na necessidade da criança de aprendê-lo. Comecei a andar por entre as mesas e parei atrás do Vinícius que havia copiado os números que estavam na parte de cima do quadro. Ele percebe que eu estou olhando e pergunta “o que está escrito aqui?” e aponta para os números que copiou na sua folha. Colocando o dedo embaixo dos números, falando seus nomes 0, 1, 2, 3, até o 9. ( DIÁRIO DE CAMPO:16/04/09). Para contextualizar esta passagem, é necessário relatar o cenário em que ela ocorreu. Neste momento, as crianças estavam algumas desenhando e outras copiando seus nomes e das professoras que estavam escritos em seus crachás e no quadro. Como apreensão da escrita está dentro do interesse da maioria do grupo, e as professora procuram incentivar, passou a ser uma necessidade para a integração com o grupo. Mello (2005), considera que a aquisição da escrita é importante para o progresso cultural e psíquico da criança, já que, sua apreensão, representa a evolução de formas mais complexas de pensamentos. Para a autora a necessidade da criança em aprender a escrever pode ser gerada se criarmos na criança a necessidade de se expressar através de suas vivências. Em dois registros, presenciamos as crianças representando seus conhecimentos matemáticos através da brincadeira com massa de modelar. No primeiro, elas faziam a relação entre tamanho e quantidade. Quando a menina fala para os colegas que se eles fizerem as bolinhas menores, o número delas vai ser maior. No outro episódio, as crianças relacionam o tamanho das “cobras” com a idade, quanto maior a “cobra”, mais velha. O modelar é citado por Junqueira Filho (1999), como uma das diversas linguagens às quais a crianças deve ter acesso,de se expressarem e representarem o mundo em que vivem. 45 Linguagens estas que vão fazer parte do trabalho pedagógico e são imprescindíveis para o processo de aprendizado da criança. Um dos episódios citados acima será resgatado aqui, para abordar as culturas infantis as crianças estavam sentadas brincando de massa de modelar, quando começaram a emitir sons de animais (rugidos) isto nos chamou a atenção e fez com que nos aproximássemos para poder ouvir melhor. Elas estavam brincando, fazendo de conta que as cobras que tinham feito de massa de modelar, estavam em uma floresta. Em outra mesa estão sentados Arthur, Carla, Gabriel C., e Bethe, eles estavam brincando com as “cobras” de vários tamanhos. Gabriel C. disse que a maior era o “rei da selva” e a menor a que tomava mamadeira. A professora Fátima pergunta quantos anos a cobra menor tem?e Arthur responde “tem dois” Gabriel C. corrige “não tem quatro anos”, Arthur insiste “não tem dois e meio”. A professora comenta “ah mais mesmo assim é muito grande pra tomar mamadeira, não é?”. Gustavo C. ainda insiste “não ela já tem quatro anos, já é uma criança”. (DIÁRIO de CAMPO 15/04/09). As crianças, nesta passagem através dos animais que construíram, entram na brincadeira, agregando suas interpretações sobre a convenção cultural de o maior ser sempre o mais velho, e isso demonstra como as elas expressam a cultura através do imaginário, durante as brincadeiras. Sendo que para Sarmento e Pinto (1997), a cultura infantil não é uma simples reprodução da cultura adulta, a criança em sua produção cultural, também ressignifica e significa a o mundo adulto, produzindo à sua própria cultura. Para Wajskop (2007), a brincadeira integra a cultura infantil, nessa perspectiva, consideramos a brincadeira como uma produção cultural. Durante a análise deste sub-capítulo,contemplamos nos registros, momentos em que as crianças expressaram seus conhecimentos matemáticos, categorizamos somente quatro, mas com certeza, se passássemos mais tempo em campo, teríamos elencado outras linguagens que possibilitariam essa expressão. Trouxemos também, a produção cultural infantil. Constatamos que as linguagens são, como vimos, em nossas leituras, relevantes no processo de aprendizagem não só na Educação Infantil, mas também, em outras modalidades de ensino e que estas devem ser exercitadas. Quanto à cultura infantil, podemos constatar que, por meio dela, a criança expressa também seus aprendizados e que esta comunicação pode ser feita de várias maneiras, como através do imaginário. 46 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Perceber a Matemática na Educação Infantil foi a proposta inicial desta pesquisa, mais especificamente, como as crianças de 5 e 6 anos apreendem e expressam os conceitos matemáticos em suas brincadeira e interações, através das múltiplas linguagens. Esse questionamento surgiu, a partir da preocupação com o ensino da Matemática nos anos iniciais, relacionado diretamente à dificuldade do processo ensino-aprendizagem destes conhecimentos. Tendo em mente que a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, por consequência, um dos lugares onde a criança terá contato com os conceitos matemáticos antes da escola, e por entender a aprendizagem como um processo que parte das experiências do sujeito, percebi a necessidade de investigar como a matemática acontece nas vivências durante a educação dos pequenos, para refletir a esse respeito. No cotidiano da Instituição de Educação Infantil, a Matemática está inserida, porém, não está no planejamento, o que não quer dizer que ela deva ser trabalhada como é na escola, mas os profissionais desta área precisam ter em mente que as crianças necessitam da apreensão destes conhecimentos para viver em sociedade. No decorrer da análise, busquei minha compreensão sobre o contexto do grupo observado, refletindo sobre vários aspectos, tais como: falta de espaço na sala, carência de material, a visão de educação das pessoas envolvidas influenciam na realidade que encontrei, fazendo com que esta esteja longe do almejado por nós, quando nos baseamos na teoria. A começar pelo espaço físico da sala que não oferece às crianças os estímulos, a oportunidade de criação e interação com a riqueza merece, ou seja, esses aspectos são limitados pela rotina diária, limitando a produção cultural infantil, por meio da brincadeira. Apesar desses problemas, como vimos nos episódios relatados, as crianças encontram formas de expressar seus conhecimentos, sendo que esse aspecto foi o que mais nos chamou a atenção. Outro fato que considero relevante, é que em várias passagens, as crianças trouxeram conceitos matemáticos, esses momentos não foram utilizados pelas professoras para intervir na intenção de ampliar estes conhecimentos, sendo que, oportunidades desse tipo, que surgem do interesse das crianças, se bem aproveitadas, tornam-se momentos de aprendizado significativo. 47 Como vimos as noções matemáticas são internalizadas pelas crianças e de maneira subjetiva e partir do contato estabelecido com estes conhecimentos de diversas formas. Nessa perspectiva, proporcionar a elas essas relações de forma intencional significa possibilitar seu desenvolvimento integral. Vale ressaltar que a utilização das múltiplas linguagens pode propor momentos de interação com esses conhecimentos, pois, como vimos, espontaneamente, as crianças já se utilizam delas para expressar e compartilhar seus aprendizados. De acordo com os dados levantados, concluo que o aprendizado da Matemática na Educação Infantil pode e deve acontecer de forma que aproveite momentos de brincadeira através da interação com os pares e com o meio, mas também, deve proporcionar desafios às crianças na resolução de problemas. Essa questão passa a ser importante, na medida em que compreendo que o trabalho pedagógico do professor tem que ser intencional, pois ele deve oportunizar essas interações através da organização do espaço e do material ofertado às crianças e da mediação para ampliar estes conhecimentos. A realidade que encontrei no dia a dia das Instituições, nem sempre é favorável, por isso devemos encontrar formas de trabalharmos com o que temos, não se pode limitar pela falta de espaço ou recursos. Durante as pesquisa novos questionamentos foram formulados com relação à posição dos educadores participantes desde contexto e sua pratica pedagógica. Assim ressalto a relevância de pesquisar e propor formas de como proporcionarmos as crianças da Educação Infantil o contato com a matemática, afim de que elas tenham aos conhecimentos prévios e o desenvolvimento do raciocínio necessário para que o aprendizado da Matemática ocorra de forma prazerosa. Sugiro investigar como os educadores desta modalidade de ensino compreendem a Matemática? Como eles entendem que deva ser propiciado às crianças este aprendizado? Se estes pensam que a matemática deva ser trabalhada na educação infantil ou não? Entender estes aspectos pode nos dizer que caminhos poderemos seguir para oferecermos as nossas crianças uma educação de qualidade, que privilegie o desenvolvimento de todas as suas dimensões e proporcione a elas todos os conhecimentos que contribuíram par este crescimento no processo de torná-las cidadãos do mundo. 48 10 REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995. BATISTA, Rosa. 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Formação Social da Mente. O Desenvolvimento dos Processos Psicológicos Superiores. Martins Fontes. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 53 APÊNDICE 54 APÊNDICE I - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO: PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ – CURSO DE PEDAGOGIA TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO: Eu___________________________________________________________, declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa cujo tema é “A Matemática na Educação Infantil”. Estou ciente de que a pesquisa será realizada obedecendo aos seguintes critérios: a- Os instrumentos para a coleta de dados se darão através das narrativas das crianças, dos profissionais que nela atuam e através de imagens fotográficas. b- Nossos encontros serão de dez dias durante o período que compreende ao mês de abril de 2009. Declaro que fui informada sobre todos os procedimentos da pesquisa e que recebi, de forma clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que todos os dados a meu respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo as medições dos experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas por mim. E que poderei ter acesso às informações da pesquisa a qualquer momento. Nome por extenso: ______________________________________________________ RG: __________________________________________________________________ Local e data: ___________________________________________________________ Assinatura: ____________________________________________________________ PESSOAS PARA CONTATO: PESQUISADOR RESPONSÁVEL: Regina Ingrid Bragagnolo ALUNA RESPONSÁVEL: Bianca Aparecida T. Bez Batti NÙMERO DO TELEFONE: (048) 8427-5751 ENDEREÇO ELETRÔNICO [email protected] NÚMERO DO TELEFONE: (048) 99672980 ENDEREÇO ELETRÔNICO: [email protected] 55 1, 2, 3... TUDO DE UMA VEZ. PENSAR, BRINCAR E APRENDER A MATEMÁTICA NO COTIDIANO DA EDUCAÇÃO INFANTIL Bianca Aparecida Taufenbach Bez Batti3 Regina Ingrid Bragagnolo4 Resumo: O presente trabalho procura abordar como a Matemática é trabalhada pelos professores na Educação Infantil através do lúdico. Além disso, procurou-se descobrir em que linguagens as crianças expressam os conceitos matemáticos. A metodologia escolhida foi a aproximação etnográfica, a coleta dos dados foi realizada por meio de observação participante e registro no diário de campo dos momentos de brincadeiras. Durante dez dias, compartilhamos da companhia do grupo de crianças no período vespertino, na intenção de compreender seu contexto. A análise das informações colhidas foi realizada por meio de fundamentação teórica que aborda as culturas infantis, a brincadeira, a matemática e as múltiplas linguagens, dialogando com os registros. A realidade do cotidiano estudado, aponta para reflexões a respeito da forma como oferecer às crianças, o contato com os conhecimentos matemáticos e as implicações que devemos considerar, para efetivar uma educação de qualidade. Levantando também novos questionamentos relacionados ao posicionamento dos profissionais, no que diz respeito ao ensino da Matemática, nesta modalidade de ensino. Palavras-chave: Educação Infantil. Brincadeira. Matemática. Linguagem. Abstract The present work seeks to broach how mathematics is worked by teachers on children’s education through waggish. Besides, was tried to find in which language children express mathematical concepts. The method chosen was the ethnographic approach, data collection was guided through participant observation and register funny moments in the class book. For ten days, we shared the group of children’s company in the evening period, in order to understand their context. The analysis of the collected information was performed by using the theoretical foundation that addresses the children's cultures, jokes, the mathematics and the multiple languages, dialoging with the registers. The reality of daily studied, points to reflections on the way to offer children, contact with the mathematical knowledge and the implications that we should consider, to carry out a quality education. Pointing also new questions related to the placement of professionals in regard to the teaching of mathematics, in this modality of teaching. Keywords: Upbringing. Joke. Mathematics. Language. 3 Acadêmica da 8ª fase do Curso de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José USJ. 4 Professora Orientadora. 56 1 INTRODUÇÃO Verificar a visibilidade da Matemática no cotidiano da Educação Infantil e apresentar a pesquisa realizada para a elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso é a finalidade desse artigo. Pesquisa essa, que tem por objetivo, perceber como as crianças expressam seus conhecimentos matemáticos adquiridos no seu cotidiano, já que estamos em um mundo, onde a matemática está presente em todos os momentos das nossas vivências diárias, ressaltando o quanto essa visualização pode ser significativa para a prática pedagógica dos educadores da Educação Infantil. O conhecimento prévio superficial e a busca por um maior aprofundamento sobre a temática através de aporte teórico, trouxeram este tema para a conclusão da minha caminhada na Pedagogia. Na pesquisa prévia, realizada para o direcionamento do projeto, poucos trabalhos foram encontrados, demonstrando que esse assunto, apesar de interessante e importante para o trabalho pedagógico na Educação Infantil, é pouco explorado, destacando a importância de novos estudos nessa área para a fomentação dessa discussão no âmbito acadêmico. Tendo como problema de pesquisa o questionamento: Como ocorre a manifestação dos aprendizados matemáticos no lúdico entre as crianças de 5 a 6 anos no cotidiano da Educação Infantil? Procurei ir a campo com a intenção de perceber como as crianças se utilizam de suas diversas linguagens para expressar as noções matemáticas. Minha pesquisa foi apoiada em uma fundamentação teórica que descreve, com auxílio da teoria, a concepção de infância de Batista, Cerisara, Oliveira e Rivero (2004) que percebem as crianças como sujeitos de direito, capazes de refletir e tomar decisões, que têm seu próprio entendimento do mundo, que se expressam de diferentes formas, produtoras de cultura, que constroem a história e é construída por ela. As mesmas autoras percebem as crianças como protagonistas do trabalho pedagógico que rompe com o adultocentrismo em Instituições de Educação Infantil que buscam a construção de uma pedagogia da infância, que compreenda as diversidades das infâncias procurando estabelecer outras formas de percebermos e entendermos essas crianças. Através de um olhar de alteridade e a auscultação, que de acordo com Rocha (2008), permite-nos considerar de fato, as necessidades e anseios das infâncias. Nesse contexto, Wajskop (2007), aponta a brincadeira como importante forma de desenvolvimento infantil e interação entre os pares, por isso, com função pedagógica no cotidiano da Educação Infantil, sendo também, uma forma de produção cultural, por meio da qual, a criança significa e ressignifica a cultura que a cerca. A autora considera que o espaço tem relevância na questão de propiciar os momentos de brincadeira e interação, além do contato com diferentes materiais. A Matemática, abordei com o auxilio de Moura (s/d), que a considera como ferramenta cultural, que tem seus conceitos adquiridos socialmente, no cotidiano, através do contato com os conceitos matemáticos, das interações entre os pares e o meio em que vive, sendo importante para o desenvolvimento integral das crianças que estão inseridas em uma sociedade em que a Matemática está presente a todo o momento. No seu cotidiano, as crianças se utilizam de diferentes linguagens, conforme Junqueira Filho (1999), por meio dessas, as crianças expressam e contam para quem estiver disposto a parar e interpretar o que têm a dizer, nessa perspectiva, as múltiplas linguagens, tem o papel de dar visibilidade aos seus conhecimentos, seus anseios, suas necessidades permitindo ás crianças mostrarem partes de si mesma. 57 Metodologia A pesquisa foi realizada com a participação de um grupo de 19 crianças de 5 e 6 anos em uma Instituição de Educação Infantil da grande Florianópolis, durante de 10 dias do mês de abril de 2009, no período vespertino. A turma é constituída de 11 meninos e 8 meninas, sendo que, um dos meninos, é portador de deficiência visual. Quanto à formação das profissionais que trabalham com a turma, uma é formada em Pedagogia e tem pós-graduação, a outra profissional, está em processo de conclusão do Curso de Magistério. O grupo conta também com uma profissional que trabalha especificamente com o menino portador de deficiência visual. Ressalto que, na intenção de preservar a identidade das crianças utilizei nomes fictícios nos registros apresentados neste trabalho. Por se tratar de um curto período de tempo, escolhi como metodologia a aproximação etnográfica na tentativa de perceber os fragmentos do contexto estudado. Por meio de observação-participante e registros em um diário de campo, procurei documentar episódios de brincadeiras ocorridos durante o período em que permaneci com o grupo de crianças. Com o olhar focado em categorizações criadas através de questionamentos baseados nos objetivos da pesquisa. Os registros foram posteriormente divididos em categorias, palavras-chave, que estruturaram a análise, e o diálogo com os autores da fundamentação teórica. A aprendizagem da Matemática a brincadeira e as linguagens A análise da minha pesquisa foi dividida em várias categorias. Por serem muitas apresentarei somente algumas, pois a estrutura do artigo não permite apresentá-las todas. Iniciarei com a categoria espaço. Quanto à sala que o grupo de crianças ocupa na Instituição, podemos dizer que é pequena para vinte crianças, não possibilita a criação de muitos espaços para a brincadeira. Durante as observações, pudemos perceber que, na maioria das vezes, elas brincam sentadas nas seis mesas, que ocupam boa parte do espaço da sala. Somente em duas ocasiões, elas levaram os brinquedos para o chão e articularam-se pela sala. Os jogos ficam sobre uma prateleira de metal, são poucas as opções. Encontramos algumas peças de montar (lego), um dominó incompleto, um dominó de frutas, um dominó de objetos, dois jogos de memória e um jogo de quebra-cabeça envolvendo números. Pelo menos em duas ocasiões de brincadeira, a professora relembrou as crianças de que, ou usavam os brinquedos, ou os jogos, pois conforme as regras do grupo, só poderiam brincar com um tipo de brinquedo. A hora da brincadeira livre, acontecia geralmente depois da atividade e antes do lanche, não que fossem todos os dias assim, mas está bem presente, nesse cotidiano, a questão da rotina da Instituição, principalmente, os horários de alimentação, que acabam por limitar e organizar o tempo para outras atividades. Apesar de oferecer algumas opções: brinquedos e jogos, os espaços da sala não priorizam as brincadeiras, pois o contexto da realidade estudada, uma Instituição filantrópica que se mantém com convênios e doações para investir em materiais, o que não chega a justificar já que há possibilidade de construír jogos e brinquedos com sucatas. No entanto, apesar dessa dificuldade, os momentos de brincadeiras acontecem, como pode ser observado no episódio a seguir: De volta à sala, Clara e Cláudio, pegam o jogo de dominó e se sentam no chão, de frente um para o outro e derramando as peças entre eles, começaram a jogar juntando as quantidades de forma correta 3 com 3, 6 com 6. Em certo momento, 58 Clara coloca 4 junto de um 3 e Cláudio faz não com a cabeça e retira a peça, colocando outra com a quantidade igual. Enquanto isso, a professora Vera comenta “eles não sabem jogar dominó“. A professora Fátima responde “é tem que sentar e ensinar”. Comentei com a professora Fernanda que eles estavam juntando as peças relacionando as quantidades de forma correta. (DIÁRIO DE CAMPO: 08/04/ 09). Percebemos no registro acima, que as crianças demonstraram que, caso disponibilizarmos materiais no ambiente da sala para que interajam com eles e com seus pares, momentos de aprendizagem surgem espontaneamente. No diálogo com as autoras como Faria (2000) e Wajskop (2007), o espaço deve ser organizado de maneira que atenda aos diversos aspectos do desenvolvimento infantil, possibilitando às crianças o contato com os mais variados tipos de materiais e linguagens, a interação e favorecendo a ampliação de seu conhecimento. A próxima categoria que vou abordar é a interação, na perspectiva de sua contribuição para o desenvolvimento e aprendizado. No episódio a seguir, as crianças e um adulto trocam seus conhecimentos sobre o jogo, a fim de resolver o problema proposto pelo quebra- cabeça. Na perspectiva de Moura (s/d), é importante oportunizarmos às crianças, desafios que possibilitem a resolução de problemas para a construção de conceitos matemáticos que permita partilhar sentidos. Por intermédio do colega e da pesquisadora, as crianças tomaram conhecimento dos signos numéricos e suas respectivas quantidades. Logo em seguida, Arthur chega com um jogo de quebra-cabeça “Brincar de contar” coloca sobre a mesa que está no meu lado, o jogo consiste em peças com o símbolo numérico, a quantidade expressa em conjuntos de objetos e o número escrito em três idiomas Português, Inglês e Espanhol. Logo se juntam ao menino, Carla e Juliana. Arthur já reconhece os números e realiza a contagem dos objetos sem errar, nem repetir o mesmo objeto, ele junta com facilidade as peças com o símbolo e as quantidade; só precisa de ajuda com as peças que trazem as palavras escritas, Juliana e Carla têm dificuldades. Carla pega a peça que traz 8 sorvetes e junta com a peça que tem o número 5, peço para ela contar quantos sorvetes têm e ela conta, pulando alguns, chega ao total de seis, convido “vamos contar junto” inicio a contagem apontando com o dedo até o 8, ela pergunta “qual é o oito?” Arthur, bem depressa, entrega a peça para ela. Aos poucos, os três seguem juntando as peças, solicitando ajuda somente para colocar os números escritos. (DIÁRIO DE CAMPO: 13/04/09). No episódio acima, a interação entre os pares nos suscita as questões apresentadas por Vygotsky (2007), pois o mesmo aponta que a interação com parceiros mais experientes pode contribuir para o aprendizado e para o desenvolvimento do sujeito, pois com ajuda, a criança parte do que sabe, avança até onde pode chegar, o que o pesquisador chama de “zona de desenvolvimento proximal”. (p. 97). Sendo esse, um aprendizado significativo por ocorrer durante uma brincadeira. Com base nos autores citados, acredito que possibilitar esses momentos de troca entre os pares, pode resultar em um avanço para as crianças envolvidas com relação ao seu desenvolvimento. O adulto nessas trocas, deve estar sempre pronto a intervir de forma intencional para proporcionar às crianças novos desafios. O mesmo episódio acima citado possibilita analisarmos as categorias número e quantidade. O jogo proporcionou a interação com os pares e a oportunidade de entrar em contato com estes conhecimentos, favorecendo o aprendizado. Senna e Bedin (2007), afirmam que a apreensão pela criança da denominação dos números e o reconhecimento de suas respectivas quantidades ocorre por intermédio da apropriação, que passa a ser significada individualmente, e das diferentes formas em que ela entra em contato com símbolos, através da cultura em que vivem. A categoria contagem também pode ser analisada nesse relato, 59 quando a menina é estimulada pela pesquisadora a realizar a contagem está proporcionando à criança a possibilidade de exercitar esse conhecimento, sendo que, para Gaspar (2004, apud SENNA, BEDIN 2007), a aquisição dessa habilidade acontece a medida que a criança a prática. Senna e Bedin (2007), dialogando com Butteworth (2005), as pesquisadoras consideram a contagem como um dos primeiros conceitos matemáticos dos quais a criança tem contato, por intermédio do lúdico no seu cotidiano. As autoras apontam também que esse conhecimento é passado por meio da linguagem através da cultura. Sendo assim, nessa perspectiva, o contato com os conhecimentos matemáticos, contribui para que as crianças apreendam. O desenho como uma das diversas linguagens da infância e forma de expressar seus conhecimentos é a categoria que vou abordar no episódio a seguir: Ao chegarmos à sala, algumas crianças pediram folhas para desenhar e a professora atendeu ao pedido delas. Carla, Adriana e Bethe estavam sentadas à mesma mesa. Carla desenhou um quadrado azul que ocupa mais ou menos a metade da folha, perguntei “o que você desenhou aí?” ela responde “uma piscina”. Em seguida ela desenha quatro bonecas ao lado da “piscina”. Adriana pergunta: “quem é essa aqui?” apontando para a boneca do meio, Carla responde “sou eu”, “e essa?” aponta a boneca da esquerda, Camila responde: “é você”, as outras duas bonecas elas cochicharam no ouvido uma da outra e não consegui entender. Carla exclama “ah! se eu tivesse desenhado uma bóia:” bem depressa, Bethe fala: “desenha agora”. Carla “é mesmo, vou fazer agora”, desenhando cinco círculos dentro da piscina, Adriana conta “uma, duas, três, quatro, cinco, mas só tem quatro bonecas”. Carla desenha mais duas bolas. Adriana fala “mais duas agora são...” contando novamente “sete”. Carla responde: “não faz mal”. (DIÁRIO DE CAMPO: 22/04/09). Junqueira Filho (1999), acredita que um desenho pode nos mostrar vários aspectos sobre a criança que o produziu, como sua identidade e, inclusive, seu aprendizado. É nessa perspectiva que procuro analisar este registro. Compreendendo que a menina que fez o desenho, utilizou-o para expressar seus sentimentos e conhecimentos culturais e matemáticos. O fato de ter desenhado as colegas, revela seu afeto por suas amigas, desenhar as bóias demonstra que a menina já foi orientada a não entrar na piscina sem elas, além de fazer a relação entre as quantidades de bonecas com as de bóias. Essa é só uma das interpretações que pode ser criada a partir desse desenho, outro olhar pode trazer novos fatores a essa interpretação. O importante é que diante disso o (a) professor (a) deve proporcionar às crianças momentos em que elas possam se expressar e se desenvolver, descobrindo e compartilhando suas vivências. Analisando de forma geral o contexto do grupo de crianças observado por meio do diálogo com os autores, considero a importância de oferecer não só na Educação Infantil um espaço que provoque a brincadeira, e possibilite a utilização de jogos, favorecendo assim interação entre os pares e o aprendizado. Percebemos que no grupo de crianças observado, esse aspecto relaciona a organização do espaço que não prioriza o brincar, apesar de as profissionais oferecerem alguns momentos que possibilitem a brincadeira, o trabalho pedagógico que é subordinado à rotina da Instituição e mais direcionado a apreensão da escrita através de atividades em papel. Provavelmente, este fato deve-se a questão que as crianças, no próximo ano, já freqüentarão o primeiro ano do Ensino Fundamental. Em vários momentos, as crianças são estimuladas pelas professoras a escreverem os seus nomes em atividades voltadas diretamente para a escrita ou em desenhos livres. Considero que a criança deve ter contato com a escrita, desde que este contato ocorra de várias formas, de preferência, através de brincadeiras, que criem a necessidade da escrita, respeitando seu tempo de ser criança, não em uma perspectiva escolar de atividade sem significados. Pondero, de certa forma, a proposta de trabalho pedagógico oferecida ao grupo, como uma perda, pois negligência uma das principais características da Educação Infantil: a brincadeira. A 60 utilização do lúdico como prática pedagógica pôde proporcionar a eles esse aprendizado mais significativo. A partir da análise e da parte teórica apresentada, ressalto a importância da interação para o desenvolvimento do aprendizado na perspectiva sócio-histórica, para a apreensão das noções matemáticas de tempo, de número, de contagem, de quantidade e de distribuição. Pois a apreensão dessas noções está relacionada com as oportunidades de contato que a criança tem com as mesmas no seu cotidiano e significação que fará dessas vivências, ou seja, trata-se de um aprendizado adquirido socialmente através da interação com o outro e com o meio em que vive. Baseada na pesquisa que realizei, percebi que as noções matemáticas são internalizadas pelas crianças e de maneira subjetiva, e partir do contato estabelecido com estes conhecimentos de diferentes formas. Sendo assim, avalio ser importante proporcionarmos às crianças da Educação Infantil, o maior número possível de contatos com as noções matemáticas com o objetivo de contribuir para a apreensão dos mesmos. Através da interação e de materiais que tragam esses conceitos, propor a elas problemas que as façam avançar no processo, questionando, refletindo, levantando hipóteses, adquirindo os conhecimentos prévios para uma aprendizagem da Matemática, no futuro. Por meio dos registros, constatei vários momentos em que as crianças expressaram seus conhecimentos matemáticos, Durante a análise da pesquisa, consegui elencar quatro, mas com certeza, se passássemos mais tempo em campo, teria outras linguagens para analisar, que possibilitam as crianças se expressarem. Constatei que as linguagens são relevantes no processo de aprendizagem não só na Educação Infantil, mas também, em outros seguimentos da Educação Básica e que estas devem ser exercitadas. Considerações Finais Perceber a visibilidade da Matemática na Educação Infantil foi a proposta inicial da minha pesquisa, mais especificamente, como as crianças de 5 e 6 anos apreendem e expressam os conceitos matemáticos em suas brincadeiras e interações, através das múltiplas linguagens. Por entender a aprendizagem como um processo que parte das experiências do sujeito, percebi a necessidade de investigar como a Matemática acontece nas vivências durante a educação dos pequenos, para refletir a esse respeito. No cotidiano da Instituição de Educação Infantil, a Matemática está inserida, porém, muitas vezes não está no planejamento, não quero dizer que esses conhecimentos devam ser abordados na educação dos pequenos, da mesma forma que na escola sistematizada e sem significado, mas os profissionais desta área precisam ter em mente que as crianças necessitam da apreensão destes conhecimentos pois vivem em uma sociedade na qual a Matemática é utilizada a todo o momento. No decorrer da análise, busquei a compreensão do contexto do grupo observado, refletindo sobre vários aspectos, tais como: falta de espaço na sala, carência de material, a intencionalidade dos profissionais e qual a visão de educação das pessoas envolvidas influencia na realidade que encontrei, fazendo com que esta esteja longe do almejado por nós, quando nos baseamos na teoria. Considero relevante ressaltar que em várias passagens, as crianças trouxeram conceitos matemáticos, esses momentos não foram utilizados pelas professoras para intervir na intenção de ampliar esses conhecimentos, sendo que, oportunidades desse tipo, que surgem do interesse das crianças, se bem aproveitadas, tornam-se momentos de aprendizado significativo. 61 Durante a pesquisa novos questionamentos foram formulados com relação a posição dos educadores participantes desde o contexto, até e sua pratica pedagógica. Assim, ressalto a relevância de pesquisar e levantar formas de como proporcionarmos às crianças da Educação Infantil o contato com a Matemática. Para que elas tenham os conhecimentos prévios e o desenvolvimento do raciocínio necessário para que o aprendizado da matemática ocorra de forma prazerosa. Sugiro investigar como os educadores desta modalidade de ensino compreendem a Matemática? Como eles entendem que deva ser propiciado às crianças este aprendizado? Se estes pensam que a Matemática deva ser trabalhada na educação infantil ou não? Entender esses aspectos pode nos dizer que caminhos poderemos seguir para oferecermos às nossas crianças uma educação de qualidade que privilegie o desenvolvimento de todas as suas dimensões e proporcione a elas todos os conhecimentos que contribuam para este crescimento no processo de torná-las cidadãs do mundo. 62 REFERÊNCIAS BATISTA, Rosa. A rotina no dia-a-dia da creche: entre o proposto e o vivido. Florianópolis, SC. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal de Santa Catarina, 1998. BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. 7ª Ed. São Paulo: Cortez. 2008. (revisão técnica e versão brasileira adaptado por Gisela Wajskop) CERISARA, Ana Beatriz; ROSA, Rosa; OLIVEIRA, Alessandra M. R. de; RIVERO, Andréa S. Partilhando olhares sobre as crianças pequenas: reflexões sobre o estágio na Educação Infantil. IN: 12º Encontro Nacional de Prática de Ensino (ENDIPE), Curitiba. Conhecimento Universal. CD Room. 2004. FARIA, Ana Lúcia Goulart. O Espaço Físico como um dos Elementos Fundamentais para uma Pedagogia da Educação Infantil. IN: FARIA, A. L. G. PALHARES, M. S. (orgs) Educação Infantil Pós-LDB: rumos e desafios. 2ª ed. Campinas SP: Autores Associados, 2000, p. 67 – 97. JUNQUEIRA FILHO, Gabriel de Andrade. Educação Infantil e Linguagens: Coreografias do Cotidiano. IN: Anais do Seminário Nacional de Arte Educação – 14ª Edição: Abordagens Contemporâneas em Educação e Cultura. FUNDARTE. Montenegro / RG. 1999. KRAMER, Sônia. Cuidar e Educar: verbos que definiram ou fragmentaram a Educação Infantil. Disponível em: http://www.ced.ufs.br/~nee0a6/anped2001.html. Acesso em: 04 de março de 2008. MOURA, Manoel Oriosvaldo .Matemática na Infância. Texto escrito como subsidio para a participação no 1º Fórum de educação matemática na educação infantil realizado em São João da Madeira Portugal. São José. In.mimeo USJ. Maio de 2008. ROCHA, Eloisa Acires Candal. 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Pensar, brincar e aprender a Matemática no cotidiano da Educação Infantil, resultante do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José–USJ de autoria de : Bianca Aparecida Taufenbach Bez Batti foi devidamente revisado por um profissional da Língua Portuguesa, assim como a tradução do resumo foi revisada por um profissional com domínio da Língua Inglesa. São José, 06 de Junho de 2009. ____________________________________ Nome do acadêmico