Mecânica dos Fluidos I Aula prática 2 EXERCÍCIO 1 Considere o jacto aproximadamente bidimensional de saı́da do aspersor representado na figura 1, que oscila transversalmente com uma frequência angularh constante, ω. i A velocidade da água que sai do aspersor é dada por v = u0 sin ω (t − y/v0 ) e x + v0 e y , onde u0 e v0 são constantes e e x e e y são versores. Deste modo, a componente da velocidade do fluido na direcção y permanece constante, vy = v0 . À saı́da do aspersor, em y = 0, a componente da velocidade da água na direcção x coincide com a velocidade da própria cabeça do aspersor, vx = u0 sin(ω t). saída do aspersor ω Figura 1: Esquema das linhas de corrente num determinado instante de tempo. 1. Obtenha a equação da linha de corrente que passa pela origem nos instantes t = 0 e t = π/(2 ω). 2. Determine a trajectória da partı́cula que passa na origem num instante genérico t0 . Sugestões: Neste escoamento, a componente vy = v0 da velocidade da partı́cula não depende da posição da partı́cula, o que permite calcular a sua coordenada y num determinado instante, independentemente da coordenada x. Uma vez conhecida y(t) com generalidade, é possı́vel substituir o seu valor na expressão de vx e obter x(t). 3. Represente graficamente um conjunto de trajectórias iniciadas na origem em sucessivos instantes. Com base nesse desenho, trace de forma qualitativa, para um determinado instante, a forma da linha de emissão que passa na origem. 2 Soluções: Por definição, uma linha de corrente é, em cada ponto, tangente ao vector velocidade. Num escoamento bidimensional, ao longode uma linha de correntetem-se ωy vy u0 ωy dy π u0 = . Donde x(t = 0) = sin cos − 1 e x t= = . dx vx ω v0 2ω ω v0 Define-se trajectória como o lugar geométrico dos pontos sucessivamente ocupados por uma partı́cula de fluido. A trajectória pode ser calculada a partir da relação entre a velocidade e o deslocamento, ou seja, dx/dt = vx e dy/dt = vy . Repare que se trata de derivadas totais, não parciais, e, portanto, as duas equações constituem, em geral, um sistema acoplado (tanto vx como vy são função de x, y e t). Contudo, neste caso particular, v0 é uniforme no espaço, pelo que vy se torna independente da posição. Assim, a coordenada y(t) da trajectória da partı́cula que passa na origem (y(t0 ) = 0) num instante t0 é y(t) = y(t0 ) + vo (t − t0 ) = vo (t − t0 ). Substituindo na expressão da outra componente da velocidade, vem vx = u0 sin(ω t0 ), que, por coincidência, também é uniforme no espaço. Deste modo, pode obter-se x(t) por simples integração a partir da origem (x(t0 ) = 0), tanto mais que vx é constante no tempo: x(t) = x(t0 ) + u0 sin(ω t0 ) (t − t0 ) = u0 sin(ω t0 ) (t − t0 ). # " v0 x. Conclui-se que as trajectórias das partı́culas são as rectas y = u0 sin(ω t0 ) As linhas de emissão ou de fumo mostram a posição instantânea (como uma fotografia) de todas as partı́culas que foram passando por um mesmo ponto do espaço ao longo do tempo. EXERCÍCIO 2 nário é dado por O campo de velocidades de determinado escoamento estacio- v (x, y, z) = 2 vx = +5 x y vy = −3 y vz = −10 x y z + 3 z sendo as coordenadas x, y e z expressas em m e as componentes da velocidade em m/s. 1. Escreva a intersecção da superfı́cie de corrente que passa pelo ponto genérico (x0 , y0 , z0 ) com o plano z = z0 . 2. Desenhe no plano z = 0 as linhas de corrente que passam pelos pontos (1, −4), (1, −2), (1, 0), (1, 2), (1, 4) e (1, 6). Represente as linhas de corrente apenas no domı́nio x ∈ [0, +5] m e y ∈ [−5, +5] m. Soluções: Num plano z = constante, as superfı́cies de corrente têm uma inclinação tal que 3 dy/dx = vy /vx . Neste caso, a equação é dy/dx = −3/(5 x2 ), que se pode inte−1 grar facilmente por separação de variáveis: (y1 − y0 ) = 3 (x−1 1 − x0 )/5. As linhas de corrente deste plano podem traçar-se fixando os valores de x0 e y0 e calculando y1 em função de x1 (ou vice-versa, x1 em função de y1 ). A figura 2 ilustra o resultado para as linhas de corrente pedidas no enunciado. y (m) 5 4 3 2 1 x (m) 0 0 1 2 3 4 5 -1 -2 -3 -4 -5 Figura 2: Linhas de corrente que passam nos pontos referidos no enunciado. EXERCÍCIO 3 Considere um campo de velocidades bidimensional dado por: 1 sin[(t + 1)2 ] vx (x, y, t) = 7 (x + 0, 5) 2 (y + 0, 5) v (x, y, t) = 1 vy (x, y, t) = 0.6 (x + y + 1) (t + 1)2 t+1 em que as coordenadas estão em m, o tempo em s e as velocidades em m/s. Sugere-se que resolva este problema com integrações numéricas. 1. Desenhe a linha de trajectória da partı́cula que passa na origem no instante t = 0, durante 5 s. 2. Desenhe as linhas de corrente que passam pela origem, nos instantes t = 0 s e t = 1 s. 4 3. Represente a linha de emissão que passa pela origem, no instante t = 5 s. Soluções: A figura 3 foi produzida com uma folha de cálculo Excel. As linhas de corrente foram obtidas integrando vx e vy em t = 0 e em t = 1 s, com diferenças progressivas de primeira ordem: passo 0 1 2 ... coordenadas da linha de corrente x y x0 y0 = x0 + vx (x0 , y0 ) δ = y0 + vy (x0 , y0 ) δ = x1 + vx (x1 , y1 ) δ = y1 + vy (x1 , y1 ) δ ... ... velocidades sempre em t=0 vx vy = vx (x0 , y0 ) = vy (x0 , y0 ) = vx (x1 , y1 ) = vy (x1 , y1 ) = vx (x2 , y2 ) = vy (x2 , y2 ) ... ... A linha de trajectória obteve-se com uma integração material no tempo, também com um esquema simples de diferenças progressivas de primeira ordem, com passo constante no tempo δt: tempo t0 t1 t2 ... coordenadas da trajectória x y x0 y0 = x0 + vx (x0 , y0 , t0 ) δt = y0 + vy (x0 , y0 , t0 ) δt = x1 + vx (x1 , y1 , t1 ) δt = y1 + vy (x1 , y1 , t1 ) δt ... ... velocidade da partı́cula vx vy = vx (x0 , y0 , t0 ) = vy (x0 , y0 , t0 ) = vx (x1 , y1 , t1 ) = vy (x1 , y1 , t1 ) = vx (x2 , y2 , t2 ) = vy (x2 , y2 , t2 ) ... ... Repare-se a diferença: para calcular a linha de corrente integra-se o campo de velocidade de um determinado instante; para calcular a linha de trajectória de uma partı́cula integra-se a velocidade da partı́cula no ponto em que ela está nesse instante. A linha de emissão representada na figura 3 resultou de integrar diversas linhas de trajectória começando na origem, desde t0 = 0, t0 = 0, 1 s, t0 = 0, 2 s, etc., até t = 5 s. O conjunto das posições de todas estas partı́culas no instante t = 5 s define a linha de emissão nesse instante. 5 1 y 0.75 0.5 0.25 0 -0.5 -0.25 0 0.25 0.5 0.75 1 x Figura 3: A negro, a linha de trajectória da partı́cula que passa na origem em t = 0, no intervalo t ∈ [0, 5] s; a vermelho, a linha de corrente que contém a origem, no instante t = 0; a laranja, a linha de corrente que contém a origem, no instante t = 1 s, ambas representadas no domı́nio x ∈ [−0, 5, 1] m, y ∈ [0, 1] m; a azul, a linha de emissão ou de fumo no instante t = 5 s.