Slides Periodização da literatura brasileira O século XVI no Brasil Imagem 45130352 pag. 3 O Barroco O Arcadismo O índio é tema recorrente em toda a história da literatura brasileira, desde a Carta de Caminha até o modernismo no século XX, ora como selvagem a ser catequizado, ora como o homem edênico, ora como bom selvagem, ora como herói nacional, ora como herói sem nenhum caráter. Na tela, o pintor romântico Vítor Meireles retrata de forma idealizada a índia Moema, personagem do poema épico árcade Caramuru, de Santa Rita Durão. MOEMA DE VÍTOR MEIRELES, 1866. ÓLEO SOBRE TELA 129x199 CM. MASP – MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO A Literatura no Brasil Colonial Periodização da literatura brasileira História da literatura, períodos e estilos Arte literária História da literatura 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. x 2. O conjunto de trabalhos literários de um país ou de uma época. Objetos de estudo da história da literatura: obras e não livros, movimentos e manifestações literárias. Cabe ao historiador da literatura destacar esses movimentos e obras, relacionando-os a determinado momento histórico, isto é, a um momento econômico, político e social. Toda obra é única, uma vez que cada autor imprime um tratamento particular e pessoal às características genéricas de um período literário, resultando em um estilo individual adaptado ao estilo de época. • • A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras: Era Colonial e Era Nacional Periodização da literatura brasileira Painel histórico-literário brasileiro Era Colonial Quinhentismo: séc. XVI, denominação genérica de um conjunto de textos sobre o Brasil, que evidenciam a condição brasileira de terra nova a ser conquistada. Seiscentismo ou Barroco: O Barroco literário brasileiro desenvolveu-se na Bahia, tendo como pano de fundo a economia açucareira. Setecentismo ou Arcadismo: Os principais autores estiveram ligados ao movimento da Inconfidência, em Minas Gerais. Teve como pano de fundo a economia ligada à exploração de ouro e pedras preciosas. Período de transição: Pode-se afirmar que a turbulência dos acontecimentos políticos dominou a cena a ponto de não se encontrar uma única obra literária significativa Panorama brasileiro Panorama Mundial Estilo de época ou escolas literárias • Datas Literatura informativa • Grandes Navegações • Companhia de Jesus • Literatura dos Jesuítas • Contrarreforma • Invasão holandesa • Portugal sob domínio • Grupo Baiano • Ciclo da Mineração • Inconfidência Mineira • Grupo Mineiro • • • Corte Portuguesa no RJ Independência Regências 1500 1601 espanhol • • • • Iluminismo Revolução Industrial Revolução Francesa Independência dos Estados Unidos • Guerra Napoleônica 1768 1808 1836 Periodização da literatura brasileira Painel histórico-literário brasileiro Estilo de época ou escolas literárias Panorama Mundial Romantismo: primeira escola literária com traços genuinamente nacionais, iniciou-se com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. Burguesia no poder • Era Nacional Simbolismo / Pré-modernismo: período que se iniciou com a publicação dos livros Missal e Broquéis, de Cruz e Souza; estendeu-se até as primeiras décadas do séc. XX, projetando algumas das principais características da poesia moderna. Modernismo: a Semana de Arte Moderna realizada em fevereiro de 1922 constitui o grande divisor de águas da literatura brasileira. • • • • Segundo Império Guerra do Paraguai Lutas abolicionistas Literatura nacional Datas 1836 1881 Realismo / Naturalismo: o que denominamos aqui de época realista constitui um amplo movimento literário com três tendências distintas: romance realista, romance naturalista e poesia parnasiana. Iniciou-se com a publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas e O Alienista, ambos de Machado de Assis. Panorama brasileiro Socialismo Evolucionismo Positivismo Lutas antiburguesas Segunda Revolução Industrial • • • • • • • • • • Abolição República Romance realista Romance naturalista Poesia Parnasiana 1893 Pré-Guerra Primeira Guerra Mundial Freud e a psicanálise Revolução Russa Vanguardas artísticas • • • • • • • • Nazismo Fascismo Segunda Guerra Mundial • Governo Floriano • Revolta Armada • Revolta de Canudos • • • Ditadura Vargas Semana de Arte Moderna As gerações Modernistas 1922 1945 O século XVI no Brasil A expansão ultramarina e o Brasil “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade” ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago, 1928. IN ANDRADE, Oswald de. A utopia antropofágica. São Paulo: Globo/Secretaria da Cultura do Estado, 1990. p.47. • • A Carta de Caminha pode ser considerada o marco da história da literatura brasileira. A Carta reflete uma visão de mundo do homem português-europeu, que irá dominar os três primeiros séculos de nossa literatura. • Texto-documento da literatura portuguesa ligada à expansão ultramarina. • Em 1500, sob o governo de D. Manuel, Portugal vivia o momento mais glorioso de sua história. Trecho da Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral. [Quarta feira, 22 de abril] (...) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buxos. E neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra de Vera Cruz. CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil. Introdução, atualização do texto e notas de N. Viegas Guerreiro. Lisboa: Imprensa Nacional, 1974. p.33 O século XVI no Brasil A Literatura Anchieta O Quinhentismo brasileiro jesuítica de José de Quando, no Espírito Santo, se recebeu uma relíquia das onze mil virgens • Quinhentismo é a denominação genérica que se dá a todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI. • Introdução da cultura terras brasileiras. • Não é uma literatura do Brasil e sim uma literatura no Brasil. • europeia em Manifestações literárias: literatura informativa, voltada para as riquezas materiais da nova terra; literatura dos jesuítas, dirigida ao trabalho de catequese, Padre José de Anchieta foi seu principal representante. ANJO – Ó peçonhento dragão e pai de toda a mentira, que procuras perdição, com mui furiosa ira, contra a humana geração! Tu, nesta povoação, não tens mando nem poder, pois todos pretendem ser, de todo seu coração inimigos de Lúcifer. DIABO – Ó que valentes soldados! Agora me quero rir!...Os quais, com armas da fé, te resistem e te espantam, porque Deus com eles é. Que com excessivo amor lhes manda suas esposas, - onze mil virgens formosas,- cujo contínuo favor dará palmas gloriosas. (...) ANCHIETA, José de. José de Anchieta: poesia. 3 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1977. p.33-4. • Como estilo de época, Barroco designa o conjunto de manifestações artísticas (literatura, pintura, arquitetura, música) produzidas desde o final do século XVI até o início do século XVIII. • Representou uma sensível transformação do conceito renascentista de arte. • No Brasil, as manifestações artísticas barrocas surgem com um século de atraso, por volta de 1702, tanto na Bahia como em Minas, graças à exploração do ouro. • Alguns representantes da época: na arquitetura e na pintura, Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho; na música José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita. A imagem à direita(teto da igreja São Francisco de Assis) é representativa da ostentação e do rebuscamento típicos da Arte Barroca. Antonio Milena/Editora Abril O Barroco nas artes Madeira Policromada, 36x25x29 cm. Acervo do Museu da Inconfidência, Ouro Preto-MG O Barroco O Barroco O Barroco na literatura • O estilo barroco desenvolveu-se, na Península Ibérica, no contexto da crise dos valores renascentistas ocasionadas pelas lutas religiosas, pela crescente importância da Companhia de Jesus e, no caso português, pela tragédia de Alcácer-Quibir (batalha no Marrocos, onde desapareceu D. Sebastião e a nata da aristocracia portuguesa). • Ao mesmo tempo, afloravam heranças renascentistas do início do século anterior. • O homem seiscentista vivia um estado de tensão e desequilíbrio, do qual tentou evadir-se pelo culto exagerado da forma. • Os escritores barrocos produziram textos extremamente torneados e sobrecarregando a poesia de figuras de linguagem, como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria=> “Discurso engenhoso”. da cultura medieval e persistiam conquistas A linguagem do Barroco Todo o rebuscamento que aflora na arte barroca é reflexo de um dilema que muito atormentou o homem do século XVI: o conflito entre o terreno e o celestial. A arte assume uma tendência sensorial, ligada ao mundo físico, ao mundo das percepções, que resulta em um exagerado rebuscamento formal. Daí o apelo às figuras de linguagem, a um vocabulário rico e raro e aos jogos sonoros. Dois estilos convivem no período barroco, influenciados pelos espanhóis Luís de Góngora y Argote e Francisco de Quevedo y Villegas: o Cultismo e o Conceptismo. O Barroco O Conceptismo ou Quevedismo: O Cultismo ou Gongorismo: • • • encontra na poesia sua melhor forma de expressão; • encontra na prosa sua melhor forma de expressão; • intenção educativa pelo convencimento e pelo raciocínio lógico; • teor argumentativo, conceptual; • valorização do conteúdo, relação lógica das ideias; intenção moralizante, por meio dos sentidos; teor descritivo; • valorização da forma de expressão; • estilo opulento e suntuoso; • estilo conciso e ordenado; • rebuscamento vocabular, figuras de sintaxe e figuras de linguagem. • aproveitamento das nuances semânticas: duplo sentido, associações inesperadas e engenhosas, paradoxos, comparações inusitadas. O Barroco Exemplo de poesia cultista Ao braço do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas, a quem infiéis despedaçaram* O todo sem a parte não é todo; A parte sem o todo não é parte; Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo o todo. Em todo o Sacramento está Deus todo, E todo assiste inteiro em qualquer parte, E feito em partes todo em toda parte, Em qualquer parte sempre fica o todo. O braço de Jesus não seja parte, Pois que feito Jesus em partes todo, Assiste cada parte em sua parte. Não se sabendo parte deste todo, Um braço que lhe acharam, sendo parte, Nos diz as partes todas deste todo. MATOS, Gregório de. In AMADO, James (Org.). Gregório de Matos: obra poética. Rio de Janeiro: Record, 1992. v.1. p.67. *As poesias barrocas têm, normalmente, longos títulos explicativos. Uma crítica conceptista ao estilo cultista Se gostas da afetação e pompa de palavras e do estilo que chamam culto, não me leias. Quando este estilo florescia, nasceram as primeiras verduras do meu; mas valeu-me tanto sempre a clareza, que só porque me entendiam comecei a ser ouvido. [...]Este desventurado estilo que hoje se usa, os que condenam chamam-lhe escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, é negro, e negro boçal e muito cerrado. É possível que somos portugueses, e havemos de ouvir um pregador em português, e não havemos de entender o que diz?! VIEIRA, Padre Antônio. Vieira: sermões. Rio de Janeiro: Agir, 1960. p.110 O Barroco Principais características da estética barroca Dualismos: razão x fé paganismo renascentista x religiosidade medieval antropocentrismo x teocentrismo matéria x espírito efêmero x eterno vida terrena x vida celestial vida x morte pecado x perdão Jogo dos contrastes: claro x escuro luz x sombra Valorização do detalhe, rebuscamento formal Sensualismo: apelo aos sentidos do leitor / espectador Principais figuras de linguagem presentes no texto barroco: metáfora, antítese, hipérbato, hipérbole, paradoxo Desenganos da vida humana, metaforicamente É a vaidade, Fábio, nesta vida, Rosa, que da manhã lisonjeada, Púrpuras mil, com ambição dourada, Airosa rompe, arrasta presumida. É planta, que de abril favorecida, Por mares de soberba desatada, Florida galeota empavesada, Sulca ufana, navega destemida. É nau enfim, que em breve ligeireza Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza: Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa De que importa, se aguarda sem defesa Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? Atribuído a: MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção de José Miguel Wisnik. São Paulo: Cltrix, 1976. p.321. O Arcadismo O veneziano Antonio Canova (1757-1822) produziu as melhores esculturas neoclássicas, recuperando a simplicidade, a pureza e o equilíbrio das estátuas da Antiguidade. Neste detalhe de Cupido e Psique, que retoma a mitologia, podemos perceber o absoluto domínio da estética clássica, com destaque para a Imagem 45130352 textura que Canova deu à pele das figuras e para a Pág. 38 suavidade e idealização dos traços das figuras humanas. “Doces invenções da Arcádia! Delicada primavera: Pastoras, sonetos, liras, -entre as ameaças austeras de mais impostos e taxas que uns protelam e outros negam.” MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. p.68. Museu do Louvre O Arcadismo nas artes Imagem 45130352 Pág. 39 Escultura de mármore "Cupido e Psique", do escultor italiano Antonio Canova, exposta no Museu do Louvre, Paris, França. O Arcadismo O Arcadismo na literatura • Em meados do séc. XVIII, na Inglaterra e na França a Burguesia passa a dominar a economia do Estado. • A velha-nobreza arruína-se; a Igreja enfrenta crises. • A influência do pensamento burguês se alastra. • Nesse momento, geram-se duas manifestações distintas, mas complementares, como muito bem observou o crítico Alfredo Bosi: Importa, porém distinguir dois momentos ideais na literatura dos Setecentos para não se incorrer no equívoco de apontar contraste onde houve apenas justaposição: a) O momento poético que nasce de um encontro, embora ainda amaneirado, com a natureza e os afetos comuns do homem, refletidos através da tradição clássica e de formas bem definidas, julgadas dignas de imitação (Arcadismo); b) O momento ideológico, que se impõe no meio do século, e traduz a crítica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero (Ilustração). BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3 ed. São Paulo: Cultrix, 1989. p.61. O Arcadismo Imagem 45130352 Pág. 40 Editora Martins Fontes O Arcadismo na literatura • Em 1748 Montesquieu publica O espírito das leis e propõe a divisão do governo em três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). • Em 1751 surge o Discurs préliminaires de l’Encyclopédie, cultuando a razão, o progresso e a ciência. Importante papel desempenhou Jean-Jacques Rousseau (O contrato social: Emílio). Para Rousseau o homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe, o homem deveria voltar-se para o refúgio da natureza pura. • É dentro desse quadro que se desenvolve o Iluminismo europeu, marcado pelo racionalismo e pela defesa do despotismo esclarecido, um governo forte que daria segurança ao capitalismo mercantil da burguesia. Rousseau dá samba Capa do Livro "Emílio ou Da Educação", de J. J. Rousseau Tradução de Roberto Leal Ferreira Editora Martins Fontes - Primeira edição maio de 1995. Segunda edição setembro de 1999 Paulinho da Viola canta um samba intitulado “Chico Brito”, de Wilson Batista e Afonso Teixeira, que incorpora o pensamento rousseauniano: Quando menino esteve na escola era aplicado, tinha religião quando jogava bola era escolhido para capitão mas a vida tem os seus reveses diz sempre, Chico, defendendo teses se o homem nasceu bom e bom não se conservou a culpa é da sociedade que o transformou VIOLA, Paulinho da. Chico Brito. In: O talento de Paulinho da Viola (CD). Emi Odeon, 1995 Chico Brito O Arcadismo O Brasil no século XVIII • O Arcadismo tem espírito reformista. • Influência francesa. • Reforma no ensino: o ministro marquês de Pombal expulsa a Companhia de Jesus de Portugal e das colônias. • • A influência de Horácio: carpe diem • Um dos maiores influenciadores do pensamento e das Atitudes do Arcadismo foi o poeta latino Horácio. • O carpe diem horaciano consiste no princípio de viver o presente, “gozar o dia”, foi uma postura comumente assumida durante o arcadismo. Nota-se a adoção dessa postura no poema Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga: Minha bela Marília, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça. A cultura jesuítica cede lugar ao Neoclassicismo. O pensamento Iluminista francês encontrou ampla repercussão no crescente sentimento de nativismo e na nova mentalidade dominante, provinda da área de mineração. • O Arcadismo brasileiro é também denominado Escola Mineira, uma vez que seus poetas tinham ligação direta com Minas Gerais. • 1789: no Brasil eclode a Inconfidência mineira. (...) Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de são amores. • Também por influência de Horácio, os árcades adotam a aurea mediocritas (“mediocridade dourada”), que consiste na exaltação do meio-termo, da simplicidade, buscada no contato com a natureza. Se sou pobre pastor, se não governo Reinos, nações, províncias, mundo e gentes; Se em frio, calma, e chuvas inclementes Passo o verão, outono, estio, inverno; Versos: In: COSTA, Cláudio Manuel da; GONZAGA, Tomás Antônio; PEIXOTO, Alvarenga. A poesia dos inconfidentes: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 53 e 597. O Arcadismo A linguagem do Arcadismo • • • A visão de mundo dos poetas árcades e a estética neoclássica se manifestam num “estilo simples”, em nítida oposição ao estilo barroco. A linguagem da nova poesia do Arcadismo perde o rebuscamento e os torneios verbais típicos do século XVII; agora prevalece a ordem direta, a expressão clara, inteligível; as frases adquirem uma suave melodia. Predominam os adjetivos que expressam suavidade e harmonia: tudo é ameno, suave, calmo, alegre, aprazível. • A seleção vocabular prende-se a alguns campos lexicais: palavras que retomam à Antiguidade Clássica; exaltação à natureza (árvores, riachos, pastores). • Amor idealizado e convencional. Principais características da estética Árcade: • antigongorismo: cortar os exageros, o rebuscamento e a extravagância característicos do Barroco, retomando a um estilo literário mais simples, em que prevalecesse o realismo burguês. • neoclassicismo: os modelos seguidos eram os clássicos greco-latinos e os renascentistas; a mitologia pagã foi retomada como elemento estético. • valorização da natureza: busca de uma vida simples, bucólica, pastoril. • fingimento poético: fato que transparece no uso dos pseudônimos pastoris. • aspecto formal: sonetos, versos decassílabos, rima optativa, poesia épica. O Arcadismo A tradição da poesia épica A influência clássica não se revela apenas na poesia lírica, os autores neoclássicos brasileiros também retomam o modelo da poesia épica. Foi o caso de Santa Rita Durão (1722-1784), autor de Caramuru. Conheça alguns dados dessa obra: • Caramuru: Poema épico do descobrimento da Bahia. • herói: o português Diogo Álvares Correia, vítima de naufrágio no litoral da Bahia; ficou conhecido pela alcunha de Caramuru (“Filho do Trovão), por possuir uma arma de fogo. • argumento: as façanhas de Diogo Álvares Correia entre os índios e seus amores com Paraguaçu (com quem se casa e viaja para paris) e Moema (que morre ao tentar acompanhar o navio em que viaja Diogo) • presença de forte religiosidade (Santa Rita Durão era padre agostiniano). • marcas árcades: exaltação da natureza, o indígena visto como bom selvagem. • estrutura: 6.672 versos distribuídos em 10 Cantos. Divisão clássica em cinco partes: Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo. Trechos do Canto VI do Caramuru: Caramuru Copiosa multidão da nau francesa Corre a ver o espetáculo, assombrada; E ignorando a ocasião da estranha empresa, Pasma da turba feminil, que nada. Uma que às mais precede em gentileza, Não vinha menos bela, do que irada; Era Moema, que de inveja geme, E já vizinha à nau se apega ao leme. [...] -”Bárbaro (a bela diz:) tigre e não homem... Porém, o tigre, por cruel que brame, Acha forças no amor, que enfim o domem; Só a ti não domou, por mais que eu te ame. Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem, Como não consumis aquele infame? Mas pagar tanto amor com tédio e asco... Ah! que corisco és tu...raio...penhasco! [...] DURÃO, Santa Rita. Caramuru. Rio de Janeiro: Agir, 1977. p. 84-6