ARCADISMO NEOCLASSICISMO “Aproveite-se o tempo, antes que faça/ O estrago de roubar ao corpo as forças/ E ao semblante a graça!” Arcadismo Séc. XVIII Arte ligada ao Iluminismo. Recusa do sistema barroco. Declínio do absolutismo monárquico. Capitalismo comercial. Ascensão da burguesia. Desenvolvimento tecnocientífico. Despotismo esclarecido. Enciclopedismo. O Arcadismo, ou Neoclassicismo é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII, rompendo com a solenidade do Barroco, seus exageros e excessos, tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa. É o Século das Luzes, do Iluminismo burguês, que prepara o caminho para a Revolução Francesa. Arcadismo ou Neoclassicismo = movimento literário inspirado em uma lendária região da Grécia antiga, a Arcádia, lugar montanhoso que, segundo a mitologia, teria sido o berço de Zeus e dominada pelo deus Pã, amante das fontes, das sombras dos bosques e da companhia das Ninfas, e habitada por pastores, que viviam de modo simples e espontâneo e se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer. Os poetas árcades, ou neoclássicos demonstravam em sua literatura uma espécie de delírio consciente: embora fossem todos eles, como indivíduos da vida real, habitantes das cidades do período, burgueses, funcionários da burocracia administrativa ou judiciária, na poesia projetavam um mundo de sonhos e de perfeição, onde eram humildes pastores que levavam uma vida agradável e amorosa, deliciando-se com os prazeres da vida simples do campo. Viviam em campos verdejantes e bucólicos, com fontes límpidas e cristalinas, entre ovelhinhas e a figura de uma pastora, parceira no desejo de aproveitar o dia e a vida (carpe diem). Assim, a obra literária desvincula-se da realidade e se desnuda num universo lúdico de espíritos ociosos que encontraram na estilizada natureza pastoril um paraíso perdido, um Éden, onde esquecem sua frustrações de homens citadinos e se deliciam com a aurea mediocritas. Com efeito, esses ideais de vida simples e natural, correspondiam aos anseios do novo público consumidor em formação naquele momento, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes. O Século das Luzes foi decisivo para a disputa política entre a burguesia e a nobreza. A burguesia havia atingido a hegemonia econômica e a nobreza, cada vez mais decadente, era alvo do descrédito por parte da população. Fortalecida, a burguesia impunha-se como classe de prestígio e exigia participação nas decisões políticas. Engajado no processo de luta ideológica e política que levaria a burguesia ao poder em 1789, o Arcadismo pode ser visto, sob o ponto de vista ideológico, como uma arte revolucionária. Contudo, do ponto de vista estético, é uma arte conservadora, pois ainda se liga aos modelos clássicos, tanto tempo cultivados pelas cortes aristocráticas. Arcadismo = idealização da VIDA NATURAL, em oposição à vida urbana; a HUMILDADE, em oposição aos gastos exorbitantes da nobreza; o RACIONALISMO, em oposição a fé; a LINGUAGEM SIMPLES E DIRETA, em oposição à linguagem complexa e elitista do Barroco. ARCADISMO NEOCLASSICISMO NO BRASIL Séc. XVIII No Brasil, o Arcadismo encontrou expressão num grupo de poetas que viviam em Minas Gerais, mais precisamente em Vila Rica (hoje Ouro Preto), o principal centro econômico do país, no século XVIII, em razão da descoberta de ouro e diamante. As cidades mineiras cresciam, favorecendo tanto a divulgação de idéias políticas quanto o florescimento da literatura. Os jovens brasileiros das camadas privilegiadas daquela sociedade costumavam concluir seus estudos em Coimbra, uma vez que a colônia não lhes oferecia cursos superiores. E, ao retornarem de lá, traziam idéias iluministas que agitavam a vida cultural portuguesa. Em Vila Rica, essas idéias levaram vários intelectuais e escritores a sonhar com a independência do Brasil, principalmente após a repercussão do movimento de independência dos Estados Unidos da América (1776). Tais sonhos culminaram na frustada Inconfidência Mineira (1789). Nossos poetas procuravam obedecer aos princípios estabelecidos pelas academias literárias européias, buscando inspiração em certos escritores clássicos consagrados, como Camões, Virgílio , Teócrito, Petrarca e Horácio, visando elevar a literatura da colônia ao nível das literaturas ocidentais e conferir a ela maior universalidade, tentando eliminar os vestígios pessoais ou locais. Porém, acabaram por apresentar em suas obras alguns aspectos diferentes do modelo importado. A natureza, por exemplo, aparece na poesia de Claudio Manuel da Costa mais bruta e selvagem do que na poesia européia; o mito do “homem natural” culminou, entre nós, na figura do índio, presente nas obras de Basílio da Gama e Santa Rita Durão; a expressão dos sentimentos, em Tomás Antonio Gonzaga e Silva Alvarenga, é mais espontânea e menos convencional. Esses aspectos característicos da poesia árcade nacional foram mais tarde recuperados e aprofundados pelo Romantismo, movimento que buscou definir uma identidade nacional em nossa literatura. OS ÁRCADES E A INCONFIDÊNCIA “O país da Arcádia,/súbito, escurece,/em nuvens de lágrimas.../pelas nuvens baixas,/a tormenta cresce.” Os escritores árcades mineiros, tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. Chegados de Coimbra com idéias enciclopedistas e iluministas e influenciados pela independência dos EUA, eles não apenas se somaram aos revoltosos contra o erário régio, que confiscava a maior parte do ouro extraído na colônia, mas também ajudaram a divulgar os sonhos de um Brasil independente e contribuíram para a organização do grupo inconfidente. Esses escritores eram Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa. O ILUMINISMO “O Século das luzes” - XVIII - O conjunto de idéias do Iluminismo no século XVIII chocava-se frontalmente com duas instituições poderosas da estrutura social de então: o Estado absolutista e a Igreja. No plano político, os iluministas rejeitaram o autoritarismo dos reis absolutistas que tinham poder absoluto -, argumentando que todos os homens são igualmente dotados da razão e só a ela devem obedecer. Negavam assim os privilégios da nobreza, herdados pelo nascimento, e propunham igualdade de direitos e deveres entre os homens. Começaram então a se estabelecer as idéias de democracia e igualdade social que envolvem o mundo contemporâneo. No plano religioso, os iluministas acabaram por chocar-se com as idéias dogmáticas da Igreja, que se sustentavam no princípio da fé. A fé pressupõe crer sem examinar, e os iluministas, contrariando esse pressuposto, queriam submeter todas as questões que envolvem a realidade à análise da Razão. CARACTERÍSTICAS DO NEOCLASSICISMO ARCADISMO Os modelos seguidos são os clássicos greco-romanos e os renascentitas; a mitologia pagã é retomada como elemento estético. Daí a escola ser também conhecida como Neoclassicismo. Das arcádias emanavam vários preceitos do “bem escrever”: a impessoalidade era um deles; acreditava-se que o fluxo desenfreado da emoção poderia comprometer tecnicamente a arte poética. O amor carnal sobrepôsse ao neoplatônico, já que o antropocentrismo, o materialismo e a razão eram a base do pensamento neoclássico. Na poesia árcade, as situações são artificiais, não é o próprio poeta que fala de si e de seus reais sentimentos. Nos poemas, quase sempre um pastor confessa o seu amor a uma pastora e a convida para aproveitarem a vida junto à natureza. Tem-se, porém, a impressão de que se trata sempre de um mesmo homem, de uma mesma mulher e de um mesmo tipo de amor. Não há variações emocionais de um poema para o outro nem de poeta para poeta. Isso ocorre devido ao convencionalismo amoroso, que impede a livre expressão dos sentimentos. Ou seja, o que mais importava ao poeta árcade era seguir a convenção, fazer poemas de amor como os poetas clássicos e não expressar os sentimentos. O distanciamento amoroso entr os amantes que se verificava na poesia clássica se mantém, e a mulher continua sendo vista como um ser superior, inalcançável e imaterial. Será que nunca ocorre sentimentalismo na poesia neoclássica? “Os teus olhos espalham luz divina,...” “Irás a divertir-te na floresta, Sustentada, Marília, no meu braço; Aqui descansarei a quente sesta, Dormindo um leve sono em teu regaço Enquanto a luta jogam os Pastores, E emparelhados correm nas campinas, Toucarei teus cabelos de boninas, Nos troncos gravarei os teus louvores.” (...) “CLICHÊS ÁRCADES” “ Inutilia truncat” Sejam abolidas as inutilidades Divisa da Arcádia Lusitana FUGERE URBEM. “Fugir da cidade”. O “mito do bom selvagem” (“o homem nasce naturalmente bom, a sociedade é que o corrompe”) de Rousseau aliado à expansão constante do meio urbano provocou o bucolismo, ou seja, a evocação nostálgica do campo e da natureza, o viver de modo simples e natural, no campo, longe dos centros urbanos. Durante o Arcadismo, os autores adotaram pseudônimos pastoris inspirados na Arcádia grega. O cenário campestre é constantemente usado como pano de fundo. Na verdade o Neoclassicismo criou um “universo artificial” de enfoque bucólico e pastoril, em que os poetas assumiam “personas” poéticas, adotando pseudônimos que remontavam à velha Arcádia. INUTILIA TRUNCAT. “Corta o inútil”. Esse clichê é uma reação aos excessos formais barrocos. Ao contrário do rebuscamento da escola anterior, os árcades preferiam a clareza, a simplicidade e a ordem direta na linguagem. CARPE DIEM. “Colher o dia”. Os árcades, como os barrocos, tinham consciência da fugacidade do mundo material, da efemeridade da vida. Vale lembrar que esse clichê também fazia parte do ideário barroco, mas por razões diferentes. Enquanto aqueles procuravam viver intensamente, embora com o peso da culpa cristã sobre suas cabeças, em função da angustiante certeza da decrepitude da morte, os árcades o fazem por serem materialistas e racionais: se a vida é fugaz, aproveitemo-la. Vale a pena! LOCUS AMOENUS. “Lugar ameno”. Os neoclássicos viam a natureza como um lugar ameno, aprazível, onde o homem poderia encontrar equilíbrio e paz interior. AUREA MEDIOCRITAS. (o dourado meio-termo, a dourada mediania). A tradução literal desse clichê não conduz à idéia que ele busca expressar. Seria algo como “equilíbrio de ouro”, baseado na máxima latina In medio est virtus, ou seja, “a virtude está no meio”. Os árcades pregavam o ideal de vida simples, feliz, sem miséria, nem riqueza, em que a posse do essencial à manutenção física do homem proporcionasse tempo para a virtude e a arte. É a oposição a vida luxuosa e triste da cidade e a proposta de uma vida medíocre materialmente mas rica em realizações espirituais.