Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2 INCLUSÃO SOCIAL POR MEIO DA INOVAÇÃO COM ETIQUETAS EM BRAILLE Camila Letícia Brustoloni Fausto Rodrigo Toloi Gabriela Akemi Duarte Yamaguti Mayumi Kamizono Mac-Culloch Paula Rodrigues Napo Pedro Rogério da Silva Batista Renan Mateus Picanço Nascimento Especialistas em Gestão do Design – Universidade Estadual de Londrina. RESUMO Com uma proposta inovadora de criar condições de inclusão social, e atender as necessidades de deficientes visuais, este trabalho baseia-se em produtos existentes e nas reais necessidades de seus usuários. O estudo foi feito no Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos, com seus alunos e professores, foi realizado um levantamento fotográfico dos ambientes existentes e das disposições dos objetos, alem de suas adaptações. Os resultados coletados foram com relação às condições de trabalho e ensino, tendo com ponto forte o mobiliário e utensílios utilizados no cotidiano da instituição. Ao fim do levantamento de dados e de toda a pesquisa feita no mercado, foi proposto uma nova solução para uma comunicação visual, como forma de integração social e independência, de pessoas com deficiência visual. Introdução Analisando a dificuldade enfrentada pelos portadores de deficiência visual em realizar tarefas do cotidiano devido à escassez de produtos contendo informações em Braille, identificamos a necessidade de desenvolver um produto que os auxiliasse na percepção não apenas de objetos/produtos como também na melhor interação com o ambiente. Conforme SENAI (2005) embora já registrada diversas tentativas em inúmeros países de criar um sistema que possibilitasse a integração de deficientes visuais à educação e na sociedade em si, somente no ano de 1784, em Paris, foi inaugurada a primeira escola para deficientes visuais no mundo, o Instituto Real dos Jovens Cegos. O processo utilizado nesta instituição era uma adaptação das representações dos caracteres comuns (textos em alto relevo), idealizadas pelo seu fundador, o francês Valetin Haüy. Embora este tenha sido um marco fundamental, o sistema apresentava restrições à medida que dava acesso à leitura do deficiente visual, mas não à comunicação escrita deste. Foi trabalhando a fim de buscar essa melhoria que o jovem aluno do Instituto, Louis Braille, em 1825, pesquisou e criou um sistema universal que possibilitou a leitura e escrita para pessoas com deficiência visual. Esse sistema foi denominado Braille. O público deste trabalho constitui-se dos deficientes visuais em suas diferentes faixas etárias, e também instituições, empresas e órgãos públicos ambientados no contexto. Trata-se de um mercado consumidor numeroso e que possui dificuldades ao realizar tarefas domésticas e do Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2 cotidiano. Isso se dá não por falta de capacidade deste cidadão, mas pelo fator tecnológico que, embora esteja se desenvolvendo de modo acelerado, não contribui proporcionalmente para atender a demanda deste público. Por meio deste, objetivamos apresentar os estudos e análise de viabilidade da criação de etiquetas em Braille, a SENSE – comunicação em Braille, que foca em dois setores de produção: na comercialização de etiquetas para uso doméstico; e na encomenda de etiquetas de interfaces instituição-usuário. Trata-se de um produto inovador, diferenciado pela forma, amplitude de mercado e inserção social. Método De acordo com Cervo (2002) “Nas ciências, entende-se por método o conjunto de processos empregados na investigação e na demonstração da verdade”. Para alcançar a veracidade almejada no estudo foi empregado um sistema de coleta de dados na forma de entrevistas diretas e com perguntas fechadas. A pesquisa teve como público-alvo professores e alunos do Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos para se ter uma visão global da real situação predominante no local. Foram aplicadas entrevistas para uma amostra de 07 (sete) professores do total de 14 (catorze) do colegiado, o que corresponde a 50%. As perguntas direcionadas para o público de estudantes tiveram um espaço amostral de 14 (catorze) pessoas de um total de 131 (cento e trinta e um) equivalendo a 10,7%. Os alunos abordados têm como característica a ausência parcial da visão ou absoluta (cegos), e pertencem aos programas Braille, Soroban, Educação Física e Oficina Pedagógica, sistemas adotados pela instituição para divisão das classes de estudantes. As perguntas mostradas a ambos os públicos tiveram como objetivo o levantamento de dados sobre os problemas enfrentados quanto à questão da sinalização local e quais os tipos e técnicas utilizados na leitura e identificação dos portadores de deficiência visual. Foi realizado um levantamento fotográfico dos ambientes existentes no ILITC e das disposições dos objetos para averiguar a situação da sinalização dos compartimentos e dos itens pelo seu interior. As fotografias e observações feitas in loco foram todas anotadas e enumeradas. Por último foi feito um levantamento bibliográfico sobre os direitos legais dos portadores de deficiência e sobre as normas técnicas para adequação de locais públicos às necessidades dos portadores. Resultado Por meio da metodologia aplicada obteve-se o seguinte panorama acerca do Instituto: o ILITC conta com profissionais das áreas de fonoaudiologia, fisioterapia e psicologia, além de professores que atuam através de atividades concordantes com as necessidades específicas de cada aluno, como ocorre nos Programas Braille, Soroban, Educação Física, Oficina Pedagógica e Informática, voltados também à complementação da educação escolar. Os materiais de ensino são recebidos pelo Instituto na forma de kits enviados pelo Governo do Estado do Paraná, contendo ferramentas direcionadas aos portadores de deficiência visual como soroban (ábaco), reglete (régua com os pontos do Braille), papel sulfite, assinador (régua vazada com espaço delimitado para a assinatura) e punsão (marcador de ferro para ser utilizado no reglete); Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2 Além do Governo, que fornece os kits e recursos a serem aplicados nos demais materiais didáticos, o ILITC conta com mais dois agentes que atuam como parceiros: a Secretaria do Estado de Educação Especial do Paraná, que disponibiliza verba para ser aplicados diretamente em recursos humanos, como pagamento de funcionários, e os sócios colaboradores da comunidade que contribuem com valores aleatórios; As parcerias não amenizam, no entanto, problemas latentes encontrados no ILICT. Os livros didáticos e literários fornecidos não são impressos em Braille inviabilizando a legibilidade dos alunos portadores de deficiência visual; e também o alto custo desse material, que em sua maioria vem de outros como São Paulo e Rio Grande do Sul, impossibilita a aquisição pelos portadores, que não dispõe de capital suficiente para o custeio. A locomoção no interior do instituto é comprometida devido à inexistência de sinalização interna, como pôde ser verificado pela falta de etiquetas em relevo, com luminescência e impressas em Braille que deveriam ser direcionadas à sinalização das áreas e setores existentes. Os objetos também sofrem com uma indicação ineficiente por não haver etiquetação correta que vislumbre os produtos mais acessados. Esses pontos explicitam o não cumprimento da legislação nacional, tanto do ILITC quanto das empresas fabricantes, como ocorre com a Lei Estadual do Paraná nº. 15.430, na qual os produtos industriais fabricados no Paraná devem conter informações em Braille; e da Lei Federal nº. 10.098 que rege os parâmetros de acessibilidade a pessoas portadoras de deficiência. Figura 01 – Corredor do primeiro andar Figura 02 – Carteiras dos alunos Discussão Tecnologia Assistiva Em conformidade aos estudos de Heidrich (2004), notamos que a capacidade de alunos com deficiência visual em interagir com quaisquer ambientes – seja em sala de aula ou fora dela – é dificultada devido à escassez de recursos acessíveis e do interesse de uma parcela Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2 minoritária da população, referente ao auxílio e suporte adequado aos deficientes visuais. Uma das alternativas propostas neste artigo sugere a viabilização educativa por modalidade de recursos em comunicação alternativa, por meio da Tecnologia Assistiva. A Tecnologia Assistiva trata-se de qualquer item, peça de equipamento ou sistema de produtos, adquirido comercialmente, desenvolvido artesanalmente, produzido em série, modificado ou feito sob medida, que é usado para aumentar, manter ou melhorar habilidades de pessoas com limitações funcionais, seja física ou sensorial. Segundo Sassaki (2003), a Tecnologia Assistiva deve apresentar como características o auxílio no desempenho funcional de atividades, reduzindo incapacidades para a realização de atividades da vida diária e da vida prática. As mesmas devem ser classificadas como: Individualizada, se produzida para atender um caso específico; Simples ou complexa, dependendo dos materiais e da tecnologia empregada; Geral, quando é aplicada à maioria das atividades que o usuário desenvolve (tal como um sistema que permita a identificação dos recursos do ambiente), ou Específica, quando utilizada em uma única atividade. Heidrich (2004) complementa afirmando que a Tecnologia Assistiva engloba tanto a tecnologia concreta (o objeto, equipamento ou instrumento) como também a tecnologia teórica, representada pelo conhecimento requerido no processo de avaliação, criação, escolha e prescrição. Abordagem de solução Os resultados apresentados neste trabalho demonstram a carência de uma solução objetiva para os problemas enfrentados por portadores de deficiência visual; o custeio de aquisição e preparação acadêmica para realizar uma nova estrutura no modelo de ensino aplicado a estas pessoas, dificulta que escolas venham a implementar modelos comerciais disponíveis e a importância relacionada à utilização de material adequado para acometer o aprendizado. Segundo Vygotsky (1989) em seu estudo sobre a capacidade cognitiva e como o ser humano se comporta diante as expressões do meio, a utilização de recursos materiais e técnicas de aprendizado estão correlacionadas. Não obstante, este modelo pragmático deve coexistir com o processo de ensino aplicado, sendo necessária na formação cultural de diferentes tipos de pessoas com deficiência. Para um deficiente visual a percepção do mundo externo passa a ocorrer por meio da capacidade auditiva, tátil e olfativa, enaltecendo o campo sensorial do indivíduo. Assim, é necessário um sistema aplicado ao atual modelo sócio-cultural que represente benefício às carências do indivíduo com deficiência visual, para que ocorra a inclusão social e a equivalência no âmbito comportamental. Propõem-se então a produção de etiquetas auto-adesivas de polímeros (de alta ou baixa intensidade, maior ou menor flexibilidade) impressas em séries e comercializadas em cartelas e sob encomendas, tanto para pessoas físicas quanto as pessoas jurídicas (e.g. redes de supermercados e magazines) possibilitando a redução de custos, tornando-as acessíveis à população. A confecção de tais etiquetas se daria por meio da utilização de tecnologias já existentes, como impressoras especiais. Conclusão Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2 Este trabalho partiu da necessidade de uma sinalização eficiente no ILICT com a finalidade de aperfeiçoar a interação do deficiente visual ao meio que não mais se restringirá a ambientes previamente conhecidos por estes. Por meio da pesquisa bibliográfica é que se formou o embasamento teórico e através de pesquisas de campo, comprovou-se a necessidade da realização deste projeto. A interpretação e aplicação dos resultados obtidos foram de extrema importância para solucionar questões referentes à falta de sinalização e como sugerir a produção de um produto como as etiquetas Sense. O levantamento de dados possibilitou um conhecimento aprofundado da instituição que, juntamente com metodologias de projeto, e a teoria adquirida no referencial bibliográfico, auxiliaram na compreensão das necessidades dos deficientes visuais e seu cotidiano. Ao término deste trabalho, conclui-se que a inclusão social será realizada no momento que, permitir ao portador de deficiência visual participar de atividades cotidianas (tais como fazer compras, ir sozinho a um restaurante) com maior segurança, conforto e, principalmente, independência. Da mesma forma, a inserção deles no mercado de trabalho, medida prevista no Decreto Federal nº. 3.298, poderá ser cumprida de forma eficiente e qualitativa. A confecção das etiquetas auto-adesivas Sense permitirá aos deficientes visuais uma nova forma enxergarem o mundo. Figura 03 - Cartela de etiquetas Referências bibliográficas: BRASIL. Decreto nº. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e consolida as normas de proteção. Disponível em: <http://www.trt02.gov.br/geral/tribunal2/Legis/Decreto/3298_99.html>. Acesso em: 05 ago. 2007. Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 – ISBN 978-85-99643-11-2 BRASIL. 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