1 O DESENHO COMO FATOR PRIMORDIAL NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL1 Aline Aparecida Silva* Helenice Maria Tavares** RESUMO O presente artigo tem por objetivo levar aos educadores a repensar sobre sua prática, concepções e metodologias aplicadas no dia-a-dia. Mediante a pesquisa bibliográfica, se faz necessário compreender o exercício do desenho das crianças e suas evoluções, e o quanto é importante ter um olhar diferenciado sobre as produções infantis e a importância do papel do professor para que os alunos através do desenho possam revelar o seu grande desenvolvimento intelectual, social, emocional e perceptivo. O desenho representa para a criança a sua visão de mundo e a consciência de si mesmo, sendo o retrato das experiências anteriormente vivenciadas como objeto. Para que isso aconteça o professor precisa ter um olhar aguçado sobre o desenho feito pela criança que reflete sua estruturação mental e o nível de seu desenvolvimento cognitivo afetivo-emocional, podendo ser um diferencial no contexto educacional. Palavras-chave: Educação Infantil. Desenvolvimento. Desenho. Procuramos enfocar neste artigo o desenho na Educação Infantil, o qual contribui na formação artística da criança, revelando o seu grau de desenvolvimento intelectual, social, emocional e perspectivo. O desenho será um dos caminhos que nos possibilita ver como a criança inicia seu processo de adaptação à realidade, através de um conquista física, prática e funcional. A disciplina de Pesquisa e Práticas Pedagógicas (PPP), do curso de Pedagogia tem por finalidade desenvolver a competência técnica pedagógica, a capacidade criativa e de investigação, formar um profissional apto a coordenar trabalhos em equipe, organizar metodologicamente processos de interação e aprendizagem e os educadores não estão preparados para a importância do desenho no desenvolvimento infantil. Então se faz necessário pesquisar o tema, na tentativa de levar os educadores a refletir sobre a representação do desenho, com um novo olhar, pois na maioria das vezes apoiou-se em 1 Artigo elaborado para a conclusão do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. * Graduanda do curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia, email: [email protected]. ** Professora Orientadora do curso de licenciatura em Pedagogia da Faculdade Católica de Uberlândia. Email: [email protected]. 2 conceitos, atividade ou perfeição. É grande a responsabilidade do professor na construção de um ambiente favorável ao desenvolvimento da criança, que se inicia na educação infantil. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material jáelaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exibido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisa desenvolvida exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (GIL, 1993, p. 65). Antes de adentrar no mundo do desenho infantil, faz-se necessário conceituar o termo Educação Infantil e refletirmos sobre as propostas curriculares e pedagógicas neste segmento da Educação. Esta é uma fase que se quer profunda atenção no que se refere às peculiaridades e esquemas de conhecimento próprio a cada faixa etária e nível de desenvolvimento. Isso significa que o pensamento, sensibilidade, imaginação, percepção, intuição e cognição da criança devem ser trabalhadas de forma integrada, visando favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianças. Segundo Oliveira (2002), durante muito tempo, não havia escola e instituições para as crianças. A educação era responsabilidade da família ou grupo social a qual pertencia, convivendo com as diferenças sociais. Nos séculos XVI e XVII a igreja teve um papel na alfabetização, com o objetivo de garantir seus fiéis. Com a implantação da sociedade industrial surgem novas exigências educativas para dar conta das novas ocupações no mundo do trabalho. Para o nascimento da escola houve a necessidade de organizar um espaço e ter especialistas para educar as crianças. A mesma relata que as creches e pré-escolas surgiram depois das escolas com as mudanças econômicas, políticas e sociais. No Brasil, os primeiros jardins de infância eram públicos. No Rio de Janeiro e São Paulo já haviam surgido os primeiros jardins de infância, mas eram privados. Tanto o privado ou público apresentavam uma proposta em comum: caráter educativo e assistencialista sendo o último substituído pela função compensatória. Nas décadas de 1970 e 1980 o Brasil passou por uma transformação na educação a mulher surge no mercado de trabalho, possibilitando a ampliação do atendimento educacional, principalmente as crianças de 4 a 6 anos de idade, em seguida as de 0 a 3 anos de idade. Nesse período a educação ganha impulso, tanto na área da pesquisa e do debate teórico quanto no plano legal. Podemos destacar a promulgação da Constituição Federal (BRASIL, 1988), do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB nº 9.394/96 (BRASIL, 1996). A Constituição Federal (BRASIL, 1988) passa, então, a reconhecer o dever do Estado e o direito da criança a ser atendida, em creches e pré-escolas. A partir da 3 promulgação da LDB, a Educação Infantil e institucionaliza, fazendo parte do currículo escolar da Educação Básica, junto com o Ensino Fundamental e o Médio, desligando-se, assim das secretárias de assistência social e atrelando-se as secretarias de educação municipais. Conforme Brasil (1998a), a Educação Infantil constitui a primeira etapa, promovendo o desenvolvimento integral das crianças até 06 anos de idade. Isso significa construir um conjunto de conhecimentos que abrange tanto os aspectos físicos biológicos quanto aspectos emocionais, afetivos, cognitivos e sociais de cada criança, considerando que ela é um ser completo e singular e único. No artigo 29 da LDB a Educação Infantil se define como “desenvolvimento integral da criança até 06 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996, p. 9). Hoje o sistema de ensino encontra-se em plena fase de transição, seja em relação à incorporação de todo atendimento de crianças de 0 a 06 anos ao sistema educacional, como em relação à definição da identidade desta etapa da educação básica. Cada época tem a sua maneira própria de considerar o que é ser criança e de caracterizar as mudanças que ocorrem com ela ao longo da infância. Segundo Brasil (1998), o desenho ao longo da história foi visto pelos educadores como uma mera atividade de passatempo. Na prática só se via desenhos mimeografados os quais eram usados como exercício de coordenação motora para fixação e memorização de números e letras. O trabalho mimeografado comprovava que o professor, apesar de atender a sua ansiedade e a dos pais, o caderno de seus filhos era repleto de atividades. Vários deles ensinam a criança a desenhar dando modelos prontos, ou trabalhos massificados, com isso a criança inibe sua expressão livre para atender uma solicitação do meio, e o processo de desenvolvimento fica prejudicado. O professor tendo um papel fundamental no desenvolvimento infantil, precisa observar o quanto e como a capacidade de desenvolvimento, de concentração e de prazer em criar está presente em um simples desenhar. A criança que faz tudo que a professora manda precisa de mais oportunidade para se expressar, estando ansioso em compensar sua insegurança interna. O ponto de partida para o desenvolvimento estético e artístico é o ato simbólico que permite reconhecer que os desejos persistem independentemente de sua presença física e imediata. Operar no mundo dos símbolos é perceber e interpretar elementos que se refere a alguma coisa que esta fora dos próprios objetos. Os símbolos representam o mundo a partir das relações que a criança estabelece consigo mesma, nação e com a cultura. (BRASIL, 1988b, p. 91). 4 É através do desenho que o professor obtém dados sobre o desenvolvimento geral, levantando hipóteses de comprometimento afetivo-emocional, intelectual, perceptivo e motor. A criança que se expressa de forma livre confia mais em si e no meio arriscando a criar e a se envolver com o que faz, tornando as atividades prazerosas e conseguindo identificar nas suas representações. O desenho é como um instrumento valioso de compreensão pelo adulto do entendimento que a criança tem de mundo. De acordo com Lowenfeld; Brittain (1977), a garatuja é vista como inicio do desenvolvimento da criança representando o emocional e o intelectual em seus trabalhos criadores. Explora os desenhos de rabiscos livremente por intermédios dos sentidos quando começa dar nome o que representa. Por volta dos dois anos de idade os seus movimentos passam a ser controlados. Esse processo será acelerado quando a criança começa a lidar e conhecer as cores relaciona o eu com o mundo visto de outra forma. O professor terá um papel muito importante nessa fase de estimular e motivar a criança, a produção artística passa a ser uma comunicação significativa consigo mesma, com meio e o novo. Arte da criança é a primeira representação de suas experiências que teve tanto em seu eu físico como na sua fantasia ou imaginação. È na escola que começa as primeiras tentativas de representação, a criança deve ter por si mesmo as experiências da vida, como entidade – o individuo que pode, deve e irá pensar por si mesmo. Pillar (1990) aborda que o desenho é um sistema de representação, sendo um trabalho gráfico, construindo e interpretando o objeto conforme o que sente e pensa. A criança não nasce sabendo desenhar o meio que propicia este conhecimento a partir das estruturas mentais que possibilitam a criança interpretarem o mundo. Dessa forma o conhecimento não resulta da relação da criança como os objetos, mas da sua interpretação e representação. A autora vincula arte-educação com a alfabetização que se filia a uma orientação cognitiva. Relata que quando a criança desenha expressa o seu nível intelectual, emocional e perspectivo, mas com sua forma particular, por isso desenha a sua família casa, escola, planeta, etc.; que são representações inseridas num dado contexto cultural informando suas experiências individuais. Depois a criança faz uma serie de rabiscos até chegar a forma circular que vai sintetizar uma pessoa ou, por exemplo, um objeto. Gradativamente essas formas gráficas vão 5 se aproximando do real, há cada vez que volta ao objeto que quer desenhar, ela acrescenta novos elementos que antes não havia representado. Este círculo agora pode ser composto por um novo olhar ou um braço que traz um novo significado para essa representação simbólica. Moreira (1993) aponta que o desenho infantil é a marca da criança, pois antes de aprender a escrever, ela serve do desenho como escrita. Desenha para falar de seus medos, descobertas, alegrias e tristezas. No ato de desenhar percebe-se que os pensamentos e sentimentos caminham juntos. A sua marca possui características próprias que varia conforme a idade e a cultura. Quando desenha diz algo importante, pois as suas representações materializam imagens mentais do que a criança conhece e registra em sua memória. Entende-se por desenho o traço que a criança faz no papel ou qualquer superfície, e também a maneira como a criança concebe seu espaço de jogo com materiais de que dispõe, ou seja, a maneira como organiza as pedras e folhas ao redor do castelo de areia, ou como organiza as panelinhas, os pratos, as colheres na brincadeira de casinha, tornando-se uma possibilidade de conhecer a criança através de uma outra linguagem: o desenho de seu espaço lúdico. (MOREIRA, 1993, p.16). Para Derdyk (1990), é a partir do desenho que a criança faz ma relação entre o “eu” e o outro, mesmo não tendo consciência do que faz. Ora desenha o pai, ora desenha a mãe ou os dois, pois são autores de suas fantasias, e representações, busca em seus primeiros desenhos compreender a sua essência e suas experiências que provem do mundo natural, sensível e visível. Segundo Piaget (1971, 1973) a criança ao desenhar elabora conceitualmente objetos e eventos. O desenho é precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo assimila com outros objetos dando significado. A primeira fase é de 01 a 03 anos chamada garatuja que são simples rabiscos desprovidos de controle motor para a criança não há limite, ao desenhar usa a folha inteira, as linhas são longitudinais com o tempo torna circular. Nessa fase a criança diz o que desenha, não havendo relação entre oobjeto e sua representação. Por isso diz que um risco é uma arvore e antes de terminar o desenho fala que é uma casa. O autor ressalta também de 03 a 04 anos, ela já conquista uma forma havendo algum limite no papel, existindo uma intenção. Dos 04 aos 05 anos os seus desenhos buscam uma lógica de certo realismo ao desenhar a figura humana já coloca pé, cabelo e mão. Já entre 05 e 06 anos envolve cores, iniciando o processo de agrupar coisas em classes e formular 6 generalizações. As cores representam os significados estabelecidos os primeiros contatos com o mundo e sua coordenação motora. Dos 07 aos 08 anos o desenho é sua marca, precisa conhecer outros desenhos clássicos como pinturas de artes, assim reformulará suas idéias e conhecimentos, pois essa fase é de observação. Assim, na prática, os professores têm desconhecido o modo de ser a criança como ela é: como sujeito que vive num momento em que predominam o sonho, a fantasia, a afetividade, a brincadeira, as manifestações de caráter subjetivo. Enfim para muitos autores, o desenho infantil é uma reconstrução do seu universo a ser interpretado e explorado dependendo do professor para o processo, pois o desenho revela o grande desenvolvimento intelectual, social, emocional e perceptivo. Considerações Finais Segundo Brasil (1998), o desenho foi visto na pré-escola por muitos anos como uma mera atividade de passatempo, mas ao longo dos tempos essa concepção vem mudando. Mudança em que o professor precisa assumir uma postura questionadora e investigadora, levando a criança a questionar e investigar. No contexto escolar, a formação precisa ser contínua e sistemática para que haja um aprendizado gradativo e significativo na vida de cada criança. Mas, analisando de forma crítica e reflexiva, o professor ainda precisa ter um novo olhar sobre a práxis educativa, para melhorar o contexto educacional e nele adaptar-se e interferir de forma consciente e efetiva. Reconhecendo a sua importância, atribui o seu papel que vai além de mediador no processo de ampliação da ação dos diferentes sujeitos sociais, contribuindo para torná-los protagonista das suas próprias histórias. Hoje felizmente a prática leva o professor e alunos a definirem estratégias próprias de busca, análise e interpretação de informações construindo conhecimentos novos de forma autônoma. Estratégias que podem ser definidas em atividades criativas que estimulem o prazer de forma dialética e reflexiva, em uma relação aluno/professor, em um ambiente escolar bom e nos recursos didáticos oferecidos. Enfim, percebemos que o professor é responsável para que ocorra o desenvolvimento infantil. E o desenho será um fator primordial nessa compreensão do desenvolvimento influenciando no cognitivo, intelectual e emocional da criança, pois a educação infantil envolve simultaneamente cuidar e educar. 7 REFERÊNCIAS BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC/SEF, 1996. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998a. ______. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular para a Educação Infantil: Formação Pessoal e Social. Brasília: MEC/SEF, v. 3, 1998b. DERDYK, Edith. A representação da figura humana no desenho infantil. São Paulo: Scipione, 1990. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1993. LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN, W. Lambert. Desenvolvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou, 1977. MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação do educador. 8. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1993. OLIVEIRA, Z. R. Novos tópicos na Educação Infantil: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. PIAGET, J. A Formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1971. ______. INHELDER, B. A psicologia da criança. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973. PILLAR, A. D. Fazendo artes na alfabetização. 3. ed. Porto Alegre: Kuarup, 1990.