O DESENVOLVIMENTO DA CAPACIDADE DE ATENÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL LUIZA FRANCO DUARTE1 ANDREIA NAKAMURA BONDEZAN2 RESUMO: O presente artigo, de caráter bibliográfico, é parte de uma pesquisa em andamento, que tem como objeto a capacidade de atenção da criança da Educação Infantil. A atenção é fundamental para que o aprendizado ocorra e também se encontra na base do desenvolvimento das outras capacidades psíquicas, como a memória, o raciocínio, a imaginação, motivos que impulsionam o desenvolvimento deste trabalho. O desenvolvimento infantil acontece em vários ambientes, mas se forem providos de mediações adequadas, como deve ser o espaço da Escola de Educação Infantil, a criança terá mais condições de desenvolver qualidades humanas, que envolve a aquisição ao longo das experiências, como sistematização de hábitos, organização do pensamento, entre outras. É na Educação Infantil, compreendida por atendimento educacional de crianças entre zero a cinco anos, que o professor tem a possibilidade de propiciar uma formação superior ao educando. Esse período é muito propício para oportunizar as conquistas máximas da humanidade, pois a criança desenvolve-se como um todo, suas capacidades psíquicas, seu sistema biológico, a apropriação cultural que ela abstrai da realidade. É com base na abordagem Histórico-Cultural, que defende que é pela mediação entre pessoas e entre pessoas e objetos que o conhecimento acumulado no decorrer da história pode ser interiorizado pelo indivíduo, que se busca compreender como a ação mediadora do professor pode promover o alargamento da atenção nos alunos da Educação Infantil. Dos estudos até aqui realizados tem-se que o ensino pode em muito contribuir com o desenvolvimento da atenção a depender da qualidade da mediação que se estabelece entre o professor/conhecimento/aluno. Na Educação Infantil destacam-se o uso dos jogos, dos desenhos, das brincadeiras, das cores e das formas, como instrumentos importantes neste processo formativo. A aprendizagem de crianças move-se a partir do interesse, da tensão emocional, do aspecto lúdico e, sobretudo, da significação pessoal que ela proporciona à criança. PALAVRAS-CHAVES: Atenção. Mediação. Educação Infantil. 1 Unioeste, campus Foz do Iguaçu, acadêmica do curso de Pedagogia e participante PIC-V, E-mail: [email protected] 2 Unioeste, campus Foz do Iguaçu, doutoranda em Educação pela Universidade Estadual de Maringá/PR. E-mail: [email protected] 2 Ao ingressar na Educação Infantil a criança encontra uma realidade nova, repleta de estímulos, de cores e de conhecimentos. Neste contexto a capacidade de atenção é extremamente importante na medida em que é necessária em todas as atividades escolares, tais como pintar, desenhar, escrever, participar de brincadeiras. Além de sua importância no ambiente escolar, outro fator de extrema relevância é que a atenção, juntamente com a percepção, se encontra na base das demais capacidades psíquicas, que são as capacidades caracteristicamente humanas, formadas no processo histórico. Isso significa, que sem o desenvolvimento da atenção e da percepção, a memória, o raciocínio, a imaginação, o pensamento, dentre outros, não se desenvolvem. Tais fatores justificam a preocupação no aprofundamento do estudo acerca desta função. Com base nos escritos de autores da abordagem Histórico-Cultural, dentre eles L. S. Vigotski, A. N. Luria e A. R. Leontiev, se buscou compreender como a atenção é desenvolvida em cada criança e como o professor pode participar deste processo. Assim, o presente artigo, parte de uma pesquisa não concluída, primeiramente apresenta a gênese e o desenvolvimento das capacidades psíquicas superiores, destacando a atenção neste contexto e em seguida tece algumas considerações da importância do professor no desenvolvimento da atenção da criança na Educação Infantil. 1. Gênese das capacidades psíquicas superiores: a atenção em especial Vigotski, Luria e Leontiev tomam como premissa que toda a história humana organiza-se pelo trabalho e suas estreitas relações; também enfatiza a formação da consciência por meio de manifestações: cultural, histórica e instrumental (GOULART, 2007). O aparecimento da consciência humana para Leontiev (1969), pressupõe uma evolução qualitativa sobre o modo de refletir a realidade objetiva, sendo necessário, estudo dos condicionantes que conduziram esse processo de humanização. Para Engels (1986) o passo decisivo desse processo que é a transição do macaco ao homem se deu com a posição ereta, sem o uso das mãos para as mesmas atividades que os pés, a vivência em grupo, a ingestão de carne. A mão do homem aperfeiçoou-se com o trabalho, adquirindo destreza e habilidades. El desarollo de su cerebro y de la actividad de este depende de dos particularidades de régimen de vida: de su conducta adaptativa, con un alto 3 desarollo de la motilidad, y del alto desarollo de los reflejos de orientación o de ‘investigación’, de su actividad para orientarse (LEONTIEV, 1969, p. 7778)3. Desse modo, o homem graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro tornou-se o único animal com capacidade e com iniciativa própria de mudanças de habitação e sedentarismo, adquirindo, com isso, necessidades naturais e culturais. Em síntese, os homens, ao mesmo tempo, distanciaram-se dos animais devido à possibilidade de realizar atos com consciência e premeditação, de agir com intencionalidade, de forma planejada e, principalmente, pelo caráter histórico que atribui e impregna nas situações em que vive (ENGELS, 1986). A linguagem, neste processo, formada a partir das necessidades que se deram em função do trabalho, foi o fator que propiciou o desenvolvimento das funções psíquicas superiores. Segundo Leontiev (1969), enquanto os animais difundiam suas experiências por meio dos instintos, o homem criou uma nova modalidade que foi o ensino de métodos e modos de trabalho. Dentro do processo de trabalho, desenvolveu-se a linguagem como um recurso que permitiu a formação e a ampliação das funções psíquicas superiores. Por meio do desenvolvimento da linguagem, enquanto denominação verbal de objetos e fenômenos, tornou-se possível a transmissão consciente dos conhecimentos, das representações, dos pensamentos que se elaboraram na prática social da humanidade. Segundo Pino (2005), Vigotski compreende as funções psicológicas superiores, como as particularidades específicas do homem, e além de tudo demarcam o espaço humano, e as identifica com a cultura, que é fruto do próprio homem. É nesse sentido que esse autor traz o termo ‘humano’ assinalado como o ponto indescritível no relacionamento do homem com a natureza do qual emerge a consciência. [...] o homem é a única espécie de que se tem notícia que consegue transformar a natureza para criar seu próprio meio em função de objetivos previamente definidos por ele e que, ao fazê-lo, transforma-se ele mesmo, assumindo assim o controle da própria evolução. É essa dupla transformação, da natureza e dele mesmo, que chamamos de história propriamente dita, da qual passa a fazer parte a história da natureza (PINO, 2005, p. 29-30). Na Teoria histórico-cultural as capacidades psíquicas dos homens não nascem com eles, 3 O desenvolvimento de se seu cérebro e da atividade deste depende das particularidades do regime de vida: de sua conduta adaptativa, com um alto desenvolvimento da mobilidade, e do alto desenvolvimento dos reflexos de orientação ou de investigação, de sua atividade para orientar-se (Tradução Nossa). 4 [...] se formam na medida em que são inseridas e estimuladas no grupo social, e o desenvolvimento de suas características individuais, inclusive a plasticidade cerebral, depende da interação com os demais e das mediações a que foram submetidas (GOULART, 2007, p. 54). As funções psíquicas superiores se desenvolvem em cada indivíduo pela mediação, pela vivência social, pela interiorização da linguagem. Este desenvolvimento se dá de forma correlacionada, ou seja, juntamente com o desenvolvimento da percepção, por exemplo, as demais funções são ampliadas ao mesmo tempo. No entanto, com fins didáticos, em seguida, a atenção será abordada separadamente, na medida em que, esta função é extremamente relevante para a educação escolar. 1.1 Sobre a atenção No início da vida, o bebê possui uma atenção reflexológica, ou seja, aquela que atende as necessidades instintivas, como se voltar na direção de um barulho em meio ao silêncio, ou o volver-se a uma luz num ambiente escuro. Mas esta espécie de atenção é a mesma dos demais animais. A atenção caracteristicamente humana é formada na relação com as pessoas, com a internalização da linguagem e o uso dos objetos físicos. Rubinstein (1973) conceitua atenção humana como forma de representação vinculada a ação consciente e dirigida com um determinado objeto, ou seja, um momento de concentração regular. Sobre o ser humano operam muitos objetos e fenômenos que têm diferentes qualidades, somente alguns desses objetos conseguem exercer influência, e assim prolongar o tempo de atenção sobre determinado acontecimento, o resto passa despercebido pela percepção. Como disseram Smirnov e Gonobolin (1969), as percepções são seletivas por isso refletem escolhas de acontecimentos e elementos de uma totalidade. Comungando com Engels, Rubinstein (1973) compreende as capacidades psíquicas superiores, em especial a atenção voluntária, como produtos e resultados de um processo histórico, sendo elaboradas no homem com o processo do trabalho. Sendo o trabalho visto como orientação à satisfação das necessidades humanas, concomitantemente, o resultado do trabalho é de interesse imediato e direto, exigindo para sua execução a passagem da atenção involuntária à voluntária. Logo, “o trabalho exige e educa para as formas evoluídas da atenção voluntária” (RUBINSTEIN, 1973, p.110). 5 Os principais tipos de atenção são: atenção involuntária e atenção voluntária. A atenção involuntária está intrinsecamente relacionada com os instintos, necessidade ou interesses imediatos, sendo uma forma primitiva de atenção. Enquanto a atenção voluntária tem sempre um caráter mediado e o sujeito tem consciência da direção orientada de sua atenção (RUBINSTEIN, 1973). Cabe frisar que a atenção voluntária desenvolve-se a partir da atenção involuntária, por isso são sempre necessários os dois tipos de atenção, pois o seu confronto só se dá no campo teórico. A atenção involuntária, segundo Smirnov e Gonobolin (1969), motiva-se por estímulos externos, determinando-se pelo estado de ânimo do indivíduo, além dos interesses e necessidades da pessoa. Em contrapartida, a atenção voluntária se faz presente na execução de uma tarefa com fins conscientes, que foram planejados. As bases da atenção voluntária são as conexões que se formam por meio da experiência já vivida e o que a caracteriza é a organização da tarefa. Nesse sentido, a organização de condições habituais de trabalho são premissas imprescindíveis para que a atenção seja concentrada. A atenção voluntária respalda-se na consciência do significado e relevância de aplicação. “[...] a atenção representa a vinculação da consciência com um determinado objeto, isto é, a sua concentração no mesmo, o problema que se nos apresenta de imediato é o do nível da concentração desta atenção” (RUBINSTEIN, 1973, p. 100). A Teoria Histórico-Cultural aborda a atenção involuntária como função psicológica elementar, e atenção voluntária como função psicológica superior. As principais características da atenção, segundo Rubinstein (1973), são a concentração, o volume e a constância que refletem o caráter da atividade em que se fixará a capacidade psíquica. A concentração da atenção implica que a atividade mental consciente se recolha em determinado espaço psíquico, envolvendo a intensidade e a limitação da atenção. Essa relação entre intensidade e limitação da atenção parte da condição de que eles são inversamente proporcionais entre si. Smirnov e Gonobolin (1969) compreendem a concentração da atenção pela seleção de um círculo limitado de objetos direcionados. Quanto mais reduzido o círculo, mais concentrada é a atenção. O volume de atenção é determinado pela quantidade de objetos envolvidos na percepção simultânea, ao mesmo tempo, depende das peculiaridades do objeto a ser percebido, como material, forma; além dos fins da atividade a ser executada (SMIRNOV; GONOBOLIN, 1969). O volume da atenção tem amplitude variável, pois 6 depende do grau de vinculação entre os conteúdos que atraíram a atenção, e também a relação lógica entre os dados. Há consideráveis divergências entre o volume de atenção de um adulto, que capta em média de quatro a no máximo seis objetos. Nas crianças, a captação não passa de três objetos. Na prática escolar é preciso cuidados em relação ao volume da atenção, para que não seja apresentado uma quantidade grande de elementos em uma determinada atividade em que não seja possível o desenvolvimento da capacidade de atenção do aluno (RUBINSTEIN, 1973). Desse modo, a capacidade de atenção, e as demais capacidades psíquicas superiores submete-se a diversas leis “e isto em função do material no qual se forma, fato que se verifica plastificamente na constância da atenção” (RUBINSTEIN, 1973, p. 103). A constância determina-se pelo tempo durante o qual se pode manter atenção sobre determinado objeto. Depende de certas condições como peculiaridades da matéria, o seu grau de dificuldade, a familiarização, o interesse do indivíduo e também as características da personalidade (RUBINSTEIN, 1973). De acordo com Smirnov e Gonobolin (1969), o tempo é o aspecto central da atenção constante, já que esta é a fixação prolongada sobre um objeto; contudo isso não significa que a atenção está dirigida todo o tempo para o mesmo objeto. Segundo Vygotsky (2001) a diferença potencial entre criança e adulto se dá no campo da atitude porque no início da vida, a atenção é instintivo-reflexiva, e após adaptação complexa transforma-se em atitude arbitrária com orientação. Esclarecendo que a atenção infantil orienta-se e dirige-se pelo interesse. Em princípio, a atenção das crianças é involuntária e depende do caráter dos estímulos externos como objetos brilhantes, de cores vivas ou em movimento, os sons fortes, entre outros incentivos. Aos seis meses de idade, o bebê já demonstra interesses em relação aos objetos que o rodeia; com o tempo advém a possibilidade de manipulação do objeto, permitindo ao indivíduo a ampliação do círculo de objetos de sua atenção. Movendo-se por interesses imediatos, assim que algo lhe chama a atenção pede para si o contato com aquele objeto, mas se mostram a ele um novo objeto, este já adquiriu a preferência. Cabe ressaltar que não são somente as pessoas e os objetos que cativam a atenção das crianças pequenas, mas também as palavras que começam a ter compreensão no mundo infantil. Com dois anos, a criança tem muitas possibilidades de manuseio que o andar lhe propiciou, assim são os motivos de sua atenção as coisas utilizadas em suas atividades. Aparecendo os rudimentos da atenção voluntária (SMIRNOV e GONOBOLIN, 1969). 7 À medida que se amplia seu olhar ao mundo que a rodeia, o interesse das crianças se expande dos objetos em si para sua função social. A imitação dos adultos em suas relações sociais é o objeto do faz-de-conta que se constitui como atividade principal até próximo aos seis anos (MELLO, 2007, p. 17). A intervenção do adulto é qualitativa do modo com que a criança se relaciona com o mundo e realiza a ampliação de suas impressões, organizando e reorganizando seu pensamento, além de interpretar e conhecer a realidade que vivencia. E principalmente, quando a criança solicita auxílio, ou seja, em outras situações por determinadas condições ela mesma pode realizar sozinha a atividade (MELLO, 2007). As crianças de Educação Infantil, ressaltam Smirnov e Gonobolin (1969), podem demonstrar uma atenção intensa e constante sobre determinada atividade, por exemplo, durantes jogos e brincadeiras que cativam sua atenção; escutam com atenção as histórias contadas pelos adultos. As crianças de pré-escola não sabem ainda manter a atenção intencionalizada durante muito tempo e na mesma direção sobre um mesmo objeto, distraem-se facilmente por ruídos e movimentos de objetos. Para o desenvolvimento da atenção em crianças pequenas é imprescindível os jogos, uma atividade essencial na faixa etária entre quatro e cinco anos. O jogo, as brincadeiras, o desenho infantil, esse mundo lúdico desenvolve a concentração, a intensidade e a constância da atenção na criança. Promove o desenvolvimento da capacidade de atenção, e das outras capacidades psíquicas, como a memória, a imaginação, a percepção, o raciocínio, o pensamento, a linguagem oral. Para as crianças de três anos como atividade orientada, os jogos não devem durar mais que vinte a vinte e cinco minutos. Com a ultrapassagem desse tempo numa prática educativa pressupõe o desconhecimento do desenvolvimento infantil; já que as crianças de seis anos fixam sua atenção em jogos durante uma hora ou até mais, conforme a mediação do professor (SMIRNOV e GONOBOLIN, 1969). A criança ao final da infância encontra-se preparada para ingressar na escola formal, possui certo controle sobre a própria atenção. A escola se faz muito exigente no que se refere à atenção do aluno, este deve escutar atentamente as explicações de sala de aula, não captando somente aqueles conteúdos que o interessaram, mas todos porque de alguma forma eles terão que ser demonstrados publicamente. Nos primeiros anos da escola formal, de acordo com Smirnov e Gonobolin (1969), ainda há predominância da atenção involuntária, que é dependente do interesse do aluno, do caráter do ensino e das influências de aspecto emotivo. Nem sempre a 8 fixação da atenção em uma atividade da sala de aula se dá em objetos fundamentais, pode sim, relacionar-se em elementos secundários, por exemplo, na realização de uma atividade que é exigido do estudante a contagem de objetos representados num desenho, a criança pode prolongar sua atenção não na quantidade, mas no colorido, no ambiente exterior, em coisas sem importância para aquela atividade. O aluno ainda não sabe distribuir sua atenção, assim, se ele se propõe a escrever, provavelmente pouco ou nada notará de que não está sentado numa postura correta ou que não segura bem o lápis, entre outras situações. Conforme Smirnov e Gonobolin (1969), a atenção voluntária insuficiente é a causa de uma percepção superficial, por exemplo, a leitura de uma palavra não significa a compreensão da mesma e muito menos o entendimento contextual daquele significado. O desenvolvimento do volume da atenção vincula-se ao desenvolvimento geral da inteligência da criança. A intelectualização produzida no processo do desenvolvimento espiritual da criança é de suma relevância para o desenvolvimento da atenção infantil. Pois desde cedo a criança já manifesta uma capacidade de atenção prolongada para atos elementares que estão repletos de tensão emocional (RUBINSTEIN, 1973). Uma condição fundamental para fixar a atenção da criança de Educação Infantil é a diversificação das atividades, pois tudo que é monótono rapidamente diminui a atenção, e vice-versa, o que demora demais dispersa facilmente o interesse do indivíduo. Desse modo, é essencial uma ação direta com o objeto: a manipulação tem grande significado para a criança, enriquecendo suas impressões, a percepção e os conhecimentos relacionados com aquele objeto tornam-se mais completos (SMIRNOV; GONOBOLIN, 1969). De acordo com Smirnov e Gonobolin (1969), na Educação da Atenção voluntária é de suma relevância que o professor, enquanto mediador do processo educativo acostume as crianças a ver e escutar, de modo que conheçam melhor e com mais amplitude a realidade. Para que haja o desenvolvimento da atenção humana o significado da ação é muito importante. A atenção é, em grau elevado, uma função do interesse. A atenção está relacionada com as aspirações e os desejos da personalidade, com sua orientação geral, mas também com os objetivos que esta se propõe. A aptidão do ser humano para se propor objetivos e tarefas é outra das premissas 9 essenciais da atenção. Ela condiciona a passagem da atenção involuntária à voluntária (RUBINSTEIN, 1973, p. 94-95). Rubinstein (1973) explicita que a atenção necessita de um conteúdo especial, pois se manifesta no campo da percepção e do pensamento. Assim, a existência da atenção pressupõe uma modificação na estrutura do processo psíquico resultando em uma sensibilização, vinculando-se a um conteúdo que se apresenta ao indivíduo a partir do momento de concentração. Então, a atenção é um processo consciente, tipicamente humano. Com isso, o objeto de atenção pode ser tudo que carrega em si um significado pessoal. 2. A função do professor da educação infantil no desenvolvimento da atenção A teoria Histórico-Cultural possibilita que as práticas educativas sejam refletidas a partir das conquistas das crianças pequenas. Nesse sentido cabe ao professor apresentar o mundo para as crianças de modo lúdico e, ao mesmo tempo, científico. [...] a atenção infantil é orientada e dirigida quase exclusivamente pelo interesse, e por isso a causa natural da distração da criança é sempre a falta da de coincidência de duas linhas na questão pedagógica: do interesse propriamente dito e daquelas ocupações que são propostas como obrigatórias (VIGOTSKI, 2001, p. 162). Na Educação Infantil desenvolve-se nas crianças tanto a atenção involuntária como, em especial, a atenção voluntária, e este desenvolvimento depende do modo como são proporcionadas as atividades no intento de alargar os interesses da criança e de sua habituação aos estudos organizados, sistemáticos (SMIRNOV e GONOBOLIN, 1969). O desenvolvimento da atenção infantil, para Rubinstein (1973), constitui-se em condição essencial para a maturidade escolar, porque a distração da criança de dois aos quatro anos pode ser até três vezes maior a de que uma criança de quatro aos seis anos, pois nesse curto período a capacidade de concentração da atenção aumenta muito. [...] O desenvolvimento da atenção realiza-se na criança dentro do processo formativo e educativo. Por isso é de importância decisiva para a formação da atenção a arte de apresentar e sugerir o problema ou tarefa de tal forma que seja aceito pelo sujeito (RUBINSTEIN, 1973, p. 113). Segundo Smirnov e Gonobolin (1969), com o intuito de manter a atenção voluntária, sempre devem ser ofertados novos conteúdos que se vinculem com os 10 conhecimentos anteriores, já apropriados. Nesse sentido, o professor em sua prática educativa deve aproveitar a atenção involuntária do aluno, ao mesmo tempo, já favorecendo a atenção voluntária, por meio de aspectos emocionais e de interesse infantil. Ambos relacionados conscientemente da importância do objeto de ensino que é a atividade do próprio trabalho. Por isso a ação educativa que é estabelecida com a criança determina-se por uma concepção de criança, de sociedade e de educação (GOULART, 2007). Desse modo, para que se tenha qualidade na atenção é necessário que a atividade que será executada seja significativa, e assim, promova um desejo de fazê-la. Os dois tipos de atenção, involuntária e voluntária, não se separam completamente, fato muito observado no ambiente escolar. Para Smirnov e Gonobolin (1969) é condição essencial da atenção voluntária na criança da Educação infantil a existência do interesse e da emoção no processo de aprendizagem. Com isso, a qualidade das explicações do professor tem um papel significativo para fixar a atenção voluntária. Desse modo, a atenção da criança até um novo tema aparece quando o professor o expõe de maneira concreta, viva, compreensiva e dinâmica. Então a utilização de materiais demonstrativos implica intencionalidade, alguns são a organização da percepção, o planejamento das tarefas, dentre outras. Afinal, “[...] la atención se fija mejor cuando se exige del alumno un trabajo mental a su alcance, pero que le obliga, sin embargo, a un cierto esfuerzo por su parte” (SMIRNOV; GONOBOLIN, 1969, p. 197)4. Outro aspecto essencial da Educação da Atenção é o plano cultural geral das crianças que se dá com a ampliação de suas aspirações de saberes, além do enriquecimento de seus conhecimentos e hábitos. Para o desenvolvimento da atenção voluntária pela criança da Educação Infantil é condição necessária propiciar ao aluno uma atitude consciente e organizada de como estudar e cumprir suas obrigações. Para reforçar a atenção do aluno em idade de pré-escola, é necessário estabelecer um ritmo de trabalho individual (SMIRNOV; GONOBOLIN, 1969). Desde já, ressalta-se que o cansaço físico ou mental influi sobre a atenção, e que as atividades físicas e os esportes ajudam no desenvolvimento dessa capacidade psíquica. 4 [...] a atenção se mantém melhor quando é exigido do aluno um trabalho mental ao seu alcance, mas que o obrigue, no entanto, a um certo esforço de sua parte (Tradução Nossa) 11 Segundo Vigotski (2001) o êxito do ensino e da aprendizagem está na ação pedagógica do professor em propiciar todas as condições para o desenvolvimento correto das reações, e ainda uma atitude correta. Antes de tudo, é necessário que o material esteja organizado de modo correspondente com o funcionamento rítmico da atividade. É necessário organizar a aula de modo tão pedagógico, desmembrar de tal forma o material que sobre os momentos de ascensão da força da atenção recaiam as passagens mais importantes e de choque e aos momentos de redução da onda da atenção coincidam as partes da exposição que são menos importantes e não antecipam o processo (VIGOTSKI, 2001, p. 168). Algumas atitudes necessárias do professor da Educação infantil que pretende em sua prática educativa propiciar o desenvolvimento das funções psicológicas, em especial da capacidade de atenção, são: planejamento das atividades, considerando o tempo que a criança fixa a atenção sobre determinado objeto; perceber a relação das crianças com os outros e com o mundo dos objetos; La atención voluntaria es ante todo una atención organizada, y como el estudio es una actividad conciente, organizada y con un fio determinado, resulta que la enseñanza en las escuelas es el medio para educar la atención voluntaria. Sin embargo, es imprescindible que al estudiante comprenda la importancia que tiene la atención para el aprendizaje. Es importante conseguir que él se dé cuenta de todas las tareas que se le plantean. Si el escolar comprende con claridad lo que el maestro quiere y para que es tal o cual cosa, está mucho más atento (SMIRNOV; GONOBOLIN, 1969, p. 197)5. O professor de Educação Infantil deve preocupar-se com a criação e a elaboração de um número significativo de estímulos externos para a criança, com a intencionalidade de promover o desenvolvimento da atenção e a transformação da atenção involuntária externa em atenção voluntária (VIGOTSKI, 2001). A Educação Infantil, de acordo com Goulart (2007), deve realizar um trabalho educativo junto às crianças de zero a cinco anos. É nesse ‘ambiente’ orientado por uma ação pedagógica que a criança se desenvolve adquirindo características do comportamento humano por meio de instrumentos de mediações, por exemplo, a linguagem que o professor utiliza. 5 A atenção voluntária é antes de tudo uma atenção organizada, e como o estudo é uma atividade consciente, organizada com um fim determinado, resulta que o ensino nas escolas é o meio para educar a atenção voluntária. No entanto é imprescindível ao estudante que compreenda a importância que tem a atenção para a aprendizagem. É importante conseguir que ele se dê conta de todas as tarefas que estão planejadas para ele. Se o aluno compreende com clareza o que o professor quer e para que é tal coisa, estará muito mais atento (Tradução Nossa). 12 É possível ao professor de educação infantil proporcionar uma aprendizagem significativa por meio de medições específicas, tais como: criar espaços de interação; estar atento às necessidades de cada aluno; auxiliá-lo a buscar outras vias de acesso para desenvolver as funções ainda não consolidadas; utilizar diferentes formas de linguagem (recepção e compreensão); privilegiar situações lúdicas; trabalhar com conceitos científicos e ajudar o aluno a perceber a e identificar a sua aplicação de pensamento; respeitar o tempo do aluno, necessário para que aprenda, reforçando seus êxitos, suas competência, os motivos de seus sucessos (auto-conceito) (GOULART, 2007, p. 54). Nesse sentido é um desafio imposto para a área de Educação Infantil que as propostas ao seu respeito sejam elaboradas em conjunto com os profissionais, instituições educacionais, pais e comunidade escolar, ou seja, ações compartilhadas e compromissadas que implicam o conhecimento dessa etapa de desenvolvimento e respostas às necessidades infantis de modo correlacionado. CONCLUSÃO O desenvolvimento da capacidade de atenção para a criança da Educação Infantil, e posteriormente quando se tornar um adulto, tem a finalidade de orientar conscientemente o indivíduo pelo mundo, por meio da ampliação de suas impressões e aplicação de seus conhecimentos adquiridos na escola no cotidiano (VIGOTSKI, 2001). Nesse sentido, é uma necessidade do professor em conhecer e compreender as necessidades da criança, desde as biológicas como as culturais, para que ele se faça presente nesse processo de formação das capacidades psíquicas superiores, com uma mediação pedagógica intencional e organizada. Para Vygotsky o professor é responsável pelo desenvolvimento de seus alunos, ou seja, dependendo da qualidade de sua mediação, será o desenvolvimento das capacidades dos alunos alargados ou não. Nas palavras do autor “[...] o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer” (VYGOTSKY, 1998, p. 118). A atenção involuntária é condicionada por interesses imediatos, enquanto a atenção voluntária exige esforço por parte da criança (RUBINSTEIN, 1973). Assim, é premissa para o desenvolvimento da capacidade de atenção no indivíduo os fatores emocionais, o interesse, a significação pessoal. 13 A organização do espaço infantil, frisa Mello (2007), faz referência aos saberes sobre a infância, desde a organização do espaço, do tempo para realização das atividades; não se restringe ao espaço da sala de aula, mas abarca-se todo o espaço da Escola de Educação infantil, sempre visando proporcionar aulas com diferentes experiências para a criança. Smirnov e Gonobolin (1969) enfatizam que a atenção voluntária se desenvolve quando a atividade é significativa e interessante, ao mesmo tempo, que provoca interesse imediato na execução de determinado trabalho. Este interesse depende do significado que tal trabalho tem para a criança. É da natureza da criança encantar-se com o colorido dos objetos, com os sons, com os movimentos; gostar de jogos, de brincadeiras, de canções, de escutar histórias, de se expressar por meio de desenhos; tem o interesse de se contextualizar na sociedade por meio da imitação dos adultos, faz-de-conta; e em todas as situações possíveis sempre opta pelo manuseio com o objeto. Em outras palavras, integra o mundo infantil a ludicidade, a manipulação dos objetos, a formação e o desenvolvimento de qualidades humanas, como as funções psíquicas superiores, que é condição de seu desenvolvimento enquanto humano. Nesse contexto, o papel do professor de Educação Infantil é de transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e, mais que isso, possibilitar que as crianças pequenas tornem-se ‘humanos’, por meio do desenvolvimento das capacidades mentais, em especial da atenção e percepção que formam as bases das demais capacidades. REFERÊNCIAS ENGELS, F. O papel do trabalho na transformação do macaco em homem. São Paulo: Global, 1986. GOULART, A. M. P. L. Educação infantil e mediação pedagógica. In: RODRIGUES, E.; ROSIN, S. M. (orgs.) Infância e práticas educativas. Maringá: Eduem, 2007. p. 4755. LEONTIEV, A. R. Desarollo de la psiquis. La conciencia humana. In: SMIRNOV, A. A. et alii. Psicologia. México: Grijalbo, 1969. p. 74-92. 14 MELLO, S. A. As práticas educativas e as conquistas de desenvolvimento das crianças pequenas. In: RODRIGUES, E.; ROSIN, S. M. (orgs.) Infância e práticas educativas. Maringá: Eduem, 2007. p. 11-22. PINO, A. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da criança na perspectiva de Lev S. Vigotski. São Paulo: Cortez, 2005 RUBINSTEIN, S. L. Princípios de Psicologia Geral. v 5. Lisboa: Estampa, 1973. p. 85115. SMIRNOV, A. A; GONOBOLIN, F. N. La atención. In: SMIRNOV, A. A. et alii. Psicologia. México: Grijalbo, 1969. p. 177-200. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998. VIGOTSKI, L. S. A psicologia e a pedagogia da atenção. In: VIGOTSKI, L. S. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 149-180.