III SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS AGROPECUÁRIOS E AGROINDUSTRIAIS 12 A 14 DE MARÇO DE 2013 – SÃO PEDRO - SP EFEITO DA PROFUNDIDADE NA REMOÇÃO DE NUTRIENTES EM LAGOAS DE MATURAÇÃO TRATANDO EFLUENTE DE SUINOCULTURA 1* 1 1 Ana Cristina Araujo Pinto ; Luciano dos Santos Rodrigues ; Israel José da Silva , Bruna 1 1 1 Coelho Lopes ; Sarah Antonieta de Oliveira Verissimo ; Marianna Rosa Resende 1 Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte – Minas Gerais – Brasil. *[email protected] RESUMO: Uma série de três lagoas de maturação antecedidas por uma lagoa facultativa, foram utilizadas para tratar o efluente de dois reatores anaeróbios (reator anaeróbio compartimentado e reator UASB) em série de uma suinocultura. As lagoas de maturação foram trabalhadas em três profundidades distintas: 0,40 m, 0,60 m e 0,80 m objetivando avaliar qual melhor profundidade para remoção de nitrogênio e fósforo. Os parâmetros analisados foram: nitrogênio amoniacal (N-am.); nitrogênio total Kjeldahl (NTK); nitrato (NO3-); nitrogênio total (Nt); fósforo total (Pt). Nas três profundidades as lagoas foram eficientes na remoção de fósforo, mas não de amônia. Palavras-chave: lagoas de maturação, profundidade, nutrientes. EFFECT OF DEPTH ON NUTRIENTS REMOVAL IN MATURATION PONDS TREATING SWINE EFFLUENT ABSTRACT: A series of three maturation ponds preceded by a facultative pond were used to treat the swine effluent of two anaerobic reactors (anaerobic baffled reactor and uasb reactor) in series. the maturation ponds were worked in three different depths: 0,40 m, 0,60 and 0,80 m, for evaluate the best depth for the removal of nitrogen and phosphorus. The parameters analyzed were: ammonia (N-am.), Kjeldahl nitrogen (TKN), nitrate, total nitrogen (N) total phosphorus (P), The three depths were efficient for removing phosphorus, but not ammonia. Keywords: maturation ponds, depth, nutrients. INTRODUÇÃO Os dejetos de suínos apresentam grande concentração de matéria orgânica, nutrientes, minerais e vários compostos oriundos de sua alimentação. Esses constituintes podem levar a sérias consequências quando lançados no solo ou em corpos d’água sem qualquer tratamento e controle como eutrofização de lagos e represas, morte de peixes, problemas de odor, doenças em seres humanos e animais, contaminação e saturação do solo. As elevadas concentrações de nutrientes presentes no efluente de suinocultura costumam ser uma grande vantagem quando utilizado para fertirrigação, não se objetivando a remoção destes no sistema de tratamento. No entanto, quando o efluente é lançado em algum corpo receptor, a remoção do nitrogênio e do fósforo é fundamental para evitar problemas ao ambiente e à saúde do homem e de animais. Segundo Cavalcanti et al. (2001), lagoas convencionais não apresentam ambiente adequado para remoção de nutrientes, sendo necessário criar condições favoráveis através do consumo biológico de CO2, elevando o pH das lagoas, permitindo a remoção por processos físicos e químicos. O nitrogênio pode ser removido fisicamente da fase líquida por dessorção, por meio do desprendimento de gás amônia (NH3), que é a forma nitrogenada predominante em valores elevados de pH. Uma remoção significativa de III SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS AGROPECUÁRIOS E AGROINDUSTRIAIS 12 A 14 DE MARÇO DE 2013 – SÃO PEDRO - SP fósforo só é possível mediante a precipitação de sais insolúveis de fosfato, tais como apatita e a estruvita. A associação de pré-tratamento anaeróbio com lagoas de polimento é indicada quando se pretende remover nitrogênio e fósforo do efluente final, em função das condições favoráveis de pH (Van Haandel e Lettinga, 1994; Cavalcanti et al., 2001). A menor produção de co2 devido à baixa carga orgânica, associada à maior atividade de fotossíntese que o consome, pode resultar em elevado valor de ph (até 9 ou mais) nas lagoas de polimento, favorecendo a formação de amônia molecular que pode se desprender da fase líquida o que ira favorecer a maior concentração de íon fosfato e a sua precipitação na forma de fosfato de cálcio (kato e florencio, 2001). Esse trabalho tem como objetivo avaliar a eficiência de remoção de nutrientes com as lagoas de maturação operando em três diferentes profundidades (0,40 m, 0,60 m e 0,80m). MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado nas instalações da suinocultura da Fazenda Experimental da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), localizada no município de Igarapé, Minas Gerais. A fazenda possui uma granja de ciclo completo com 40 matrizes. O sistema de tratamento constitui-se de tratamento preliminar composto por uma peneira com furos de seção circular de 3,0 mm de diâmetro para retenção de sólidos sedimentáveis, e de tratamento secundário, em escala real, constituído de um reator anaeróbio compartimentado (RAC) seguido de um reator UASB. O sistema em escala piloto compõe o tratamento terciário, constituído a partir do efluente do reator UASB, formado por uma lagoa facultativa de dimensões 2,00 x 4,00 x 1,10 m, e por três lagoas de maturação com dimensões 3,00 x 0,60 m cada, operadas com as profundidades de 0,40 m, 0,60 m e 0,80m. O trabalho foi dividido em três fases separadas em função das diferentes profundidades das lagoas de maturação, como pode ser observado na Tabela 1. As alturas foram distintas para verificação do comportamento das lagoas em cada fase, sendo que, consequentemente, o TDH também foi alterado. Os parâmetros analisados foram: nitrogênio amoniacal (N-am.); nitrogênio total Kjeldahl (NTK); nitrato (NO3-); nitrogênio total (Nt); fósforo total (Pt). As análises foram realizadas conforme descrito no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA/ AWWA /WEF, 2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO As concentrações médias iniciais (Tabela 2) de amônia variaram de 202 a 268 mg L-1, se elevando nos reatores anaeróbios pela amonificação. Nas lagoas as concentrações de N-am. diminuíram, provavelmente em função da nitrificação, pois as concentrações de nitrito e nitrato se elevaram nestes reatores. A volatilização também pode ter ocorrido, mesmo com as lagoas não tendo valores elevados de pH, chegando a médias próximas ou acima de 8,0 e atingindo, na 1ª fase, máxima de 9,15. Outro fator que pode ter contribuído com a redução da amônia foi a assimilação pelas algas, principalmente na 1ª fase, onde provavelmente a quantidade de algas era maior, sendo observado a maior eficiência na redução da amônia nas LM neste período. A redução do NTK também sugere que a amônia foi removida ou sofreu nitrificação, principalmente na fase 1. Mesmo com a higienização das baias duas vezes ao dia, a concentração de nitrato foi elevada no afluente, o qual pode ter sido proveniente da ração. O aumento do nitrato III SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS AGROPECUÁRIOS E AGROINDUSTRIAIS 12 A 14 DE MARÇO DE 2013 – SÃO PEDRO - SP nas lagoas com redução do NTK sugere que ocorreu a nitrificação da amônia. A desnitrificação também pode ter ocorrido devido à presença de nitrato nas lagoas e a redução do nitrogênio total, visto que no período da manhã, muitas vezes, as lagoas estavam em anaerobiose (principalmente na fase 2 e 3) mostrando que tiveram períodos anóxicos. As lagoas de maturação não contribuíram muito na remoção (Tabela 3) da amônia, apresentando melhores resultados na fase 1, mostrando que conforme a profundidade aumentava menor era a eficiência. O afluente apresentou concentrações médias de Pt variando de 100 a 125 mg L-1, sendo que o efluente da lagoa facultativa variou de 29 a 38 m L-1. As lagoas de maturação tiveram eficiência de 37,9%, 41,9% e 36,8% com TDH total de 5,7, 9,9 e 14,1 dias, nas fases 1, 2 e 3, respectivamente, sendo que a LM1 foi a maior responsável pela remoção nas 3 fases. O efluente final apresentou concentração variando entre 18 e 24 mg L-1 nas 3 fases. Mesmo com a menor profundidade da fase 1, o que favorece a elevação do pH em função da fotossíntese, a 2ª fase é que teve maior eficiência. As baixas eficiências destas lagoas se devem aos baixos TDH e, provavelmente, ao grande decaimento das algas no fundo das lagoas favorecendo a ressolubilização do fósforo, principalmente no período da noite, pelo aumento da camada anaeróbia. CONCLUSÃO Apesar das lagoas terem apresentado maior remoção com 0,40 m de profundidade, elas não foram eficientes na remoção da amônia em nenhuma profundidade, provavelmente pelo baixo tempo de detenção hidráulica. As lagoas foram eficientes na remoção de fósforo, mas o resultado não foi influenciado pela profundidade. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) pela bolsa de doutorado concedida e pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA/AWWA/WEF. Standard Methods for the Examination of water and wastewater, 21. ed. Washington, D. C. 2005. 1600 p. CAVALCANTI, P.F.F.; VAN HAANDEL, A.C.; KATO, M.T. et al. Pós-tratamento de efluentes anaeróbios em lagoas de polimento. In: CHERNICHARO, C.A.L. (Coordenador). Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Coletânea de Trabalhos Técnicos. Belo Horizonte: PROSAB, 2001,vol.2, 105-170p. KATO, M.T.; FLORENCIO, L. Pós-tratamento de efluente anaeróbio em lagoa de polimento. In: CHERNICHARO, C.A.L. (coodenador). Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Coletânea de Trabalhos Técnicos. Belo Horizonte: PROSAB, 2001. v.2, p. 59-68. VAN HAANDEL, A. C.; LETTINGA, G. Tratamento anaeróbio de esgotos: um manual para regiões de clima quente. Campina Grande, Paraíba: Universidade Federal da Paraíba, 1994, 208 p. III SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS AGROPECUÁRIOS E AGROINDUSTRIAIS 12 A 14 DE MARÇO DE 2013 – SÃO PEDRO - SP Tabela 1 - Fases do experimento, profundidade das lagoas de maturação, TDH, período e número de coletas. Profundidade das Nº de TDH Fase Período Meses (dias) LM (m) coletas 5,66 1 0,40 23/02/2010 a 6 22 31/08/2010 9,93 2 0,60 28/09/2010 a 5 22 28/02/2011 14,09 3 0,80 12/12/2011 a 2 15 29/02/2012 Tabela 2 - Concentração média e desvio padrão do nitrogênio amoniacal (N-am.), NTK, nitrato (NO3) e nitrogênio total (Nt) do afluente e dos efluentes do RAC, reator UASB, lagoa facultativa e lagoas de maturação, das fases 1, 2 e 3. Parâmetro N-am. -1 (mg L ) NTK -1 (mg L ) NO3 -1 (mg L ) Nt -1 (mg L ) Fase Afluente RAC UASB 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 202+131 268+123 254+103 1594+322 1666+155 1490+65 10+04 07+04 06+04 1760+68 1713+34 1496+67 315+188 318+158 396+144 630+157 629+755 600+24 06+12 0+0 02+02 715+28 659+86 602+24 309+166 242+134 407+73 558+194 588+161 608+16 01+01 0,1+01 01+01 664+78 598+133 586+82 LF 247+154 231+103 347+97 344+132 370+112 296+33 02+02 02+03 01+01 422+134 381+130 314+08 LM 1 164+102 206+81 317+96 279+99 343+62 295+39 05+09 02+02 01+01 309+300 337+40 285+63 LM 2 LM 3 149+129 189+106 313+95 264+99 306+78 276+77 08+10 02+03 02+02 300+74 331+57 309+07 140+129 163+106 279+92 241+110 293+89 268+84 06+06 07+06 01+02 252+119 335+40 253+86 Tabela 3 – Eficiências médias de remoção do N-am., NTK e Nt nas 3 fases do experimento. Parâmetro Fase LM1 1 33,6 N-am. 2 10,8 3 8,6 1 18,9 NTK 2 7,3 3 0,3 1 26,8 Nt 2 11,5 3 9,2 * Eficiência calculada a partir do efluente do RAC. Eficiência de remoção LM2 9,1 8,3 1,3 5,4 10,8 6,4 2,9 1,8 -8,4 LM3 6,0 13,8 2,9 8,7 4,2 2,9 16,0 -1,2 18,1 Série LM 43,3 29,4 19,6 29,9 20,8 9,5 40,3 12,1 19,4