SISTEMA ECONÔMICO FUNCIONAL (séculos VI a XIII) UNICURITIBA Curso de Relações Internacionais História Econômica Professor Renato Carneiro SISTEMA ECONÔMICO FUNCIONAL O desaparecimento de Roma em fins do V aprofundou a decadência econômica no Mediterrâneo: anarquia. Nestes 700 anos, a economia baseou-se na ruralização ocorrida no fim do Império e no abandono das antigas cidades romanas. Baseava-se num sistema de 3 funções interligadas. Nele todos que executavam tarefas manuais tinham a perda de liberdade individual, pois suas atividades os vinculavam à propriedade. Por outro lado, esse trabalho gerava condições de manter outras atividades: a defesa militar e a religião. O guerreiro protegia o trabalhador e o religioso; o trabalhador produzia alimentos e o excedente ia para o convento e a caserna, enquanto o religioso intercedia junto a Deus para o sucesso dos demais, nas guerras e nas colheitas. PERÍODO DE GRANDE ESCASSEZ Algumas características que geraram a decadência: hereditariedade das funções profissionais; vinculação dos homens às terras que cultivavam; a pouca importância social do trabalho físico, que não a guerra ou os cargos elevados da administração; situação privilegiada da Igreja, que manteve posição de destaque mesmo depois do fim de Roma; bárbaros germânicos monopolizaram o comando das atividades bélicas; herdeiros do império desfeito (Igreja e germânicos) detiveram largas extensões de terra, cultivadas por massas de trabalhadores compulsórios. ECONOMIA DOMINIAL E SENHORIAL Dois períodos distintos podem ser considerados: Economia Dominial (Antiguidade Tardia, séculos VI a X) e Economia Senhorial (Baixa Idade Média, séculos XI a XIII). O primeiro (Domínios) era de grandes extensões de terra que variavam de 100 a 1.000 ha., com predomínio da produção agrícola, apesar de técnicas rudimentares de cultivo, mão-de-obra dependente, baixo índice tecnológico, ferramentas rudimentares de madeira e tração de bois. As terras eram utilizadas à exaustão e abandonadas ou, ainda, divididas em 2 grandes áreas: uma de plantio, outra de pousio. Este conjunto de técnicas gerava baixíssima produtividade. RECUO DEMOGRÁFICO Necessidade crescente de mão-de-obra para incorporação de outras áreas à produção esbarrava no esvaziamento demográfico da Europa. Por guerras seguidas, invasões, incertezas e epidemias de peste, a população passou de 70mi no século III para menos de 30mi por volta do 700. Isso e mais as invasões bárbaras causaram verdadeiros vazios demográficos em diversas regiões. Com a expansão da vinculação do homem à terra, até mesmo a palavra “escravo” (servus, em latim) passou a ser entendida, não mais como trabalhador-mercadoria, mas como trabalhador servil, preso à condição de camponês sobre um pedaço de terra. ESTRUTURA DOS DOMÍNIOS Os Domínios compreendiam duas áreas distintas: a reserva senhorial, com casa do senhor, oficinas, manufaturas, estábulos, celeiros, moinhos, pastagens, bosques e terras cultiváveis, ocupando até 50% do total; outra metade era dividida em pequenas parcelas exploradas pelos camponeses e chamadas de “mansos” e possuíam, em média, 15 ha. que incluíam a casa, terras aráveis e horta. Em troca da concessão dessa área em caráter hereditário e indivisível, o camponês tinha 2 obrigações: pagamento de parcelas de sua produção, em espécie e dinheiro e a prestação de serviços gratuitos na reserva senhorial. Essas obrigações faziam com que os camponeses apenas sobrevivessem. A produção na reserva senhorial era toda do proprietário, sem ônus pela mão-de-obra que usava. AUTO-SUFICIÊNCIA DOS DOMÍNIOS Os Domínios tendiam à sua auto-suficiência, com manufaturas têxteis, carpinteiros, ferreiros, armeiros, sapateiros, fundidores, pedreiros etc. Como nem sempre dispunham de todas as matériasprimas, não se pode desprezar o comércio entre as diferentes unidades dominiais. Desde o século VI, existe documentação sobre a feira de Saint Denis e os séculos seguintes (VIII e IX) conheceram uma multiplicação de feiras e mercados, no período carolíngio. Alguns produtos, como sal, eram largamente comercializados, pois, escassos na maioria dos lugares e presente em poucas regiões costeiras. TRANSPORTES E COMÉRCIO As dificuldades de transporte, nas velhas estradas romanas, lentidão e pouca capacidade das carroças fizeram com que as principais vias de comércio fossem os rios ou canais, ou mesmo a navegação de costeira no Mediterrâneo e no Mar do Norte. Esta comercialização de excedentes era feita sobre base monetária, bimetalista (outra herança de Roma), que se disseminou por vários domínios até a época carolíngia, quando passou a ser monopólio real. O comércio externo era bastante limitado à época, concentrando-se em produtos de luxo, destinados a parcelas da nobreza e do clero. Como exportação a Europa fornecia apenas ao Império Bizantino madeiras, peles e escravos – estes últimos direcionados aos mundo muçulmano. PESO DA URBANIZAÇÃO Cidades com pouco peso econômico, comércio externo limitado e monetarização deficiente foram reflexos de um sistema econômico exíguo, baseado na produção agrícola. As cidades continuaram a existir nesse período, com peso econômico e importância política reduzida. Mesmo Carlos Magno não impulsionou a urbanização, apesar da restauração do Império ter trazido novas funções às cidades existentes (impostos e administração). MUDANÇAS NOS SÉCULOS IX E X Mudanças começaram a partir séculos IX e X qdo. novas técnicas agrícolas começaram a ser introduzidas, como: sistema trienal de cultivo; difusão do moinho de água; uso da charrua (arado com lâminas de metal); atrelagem de animais com arnês; utilização de cavalos; alargamento da fronteira agrícola, com derrubada de florestas e drenagem de pântanos. Isso possibilitou maior oferta de alimentos que estancou o recuo demográfico e proporcionou a expansão da população.