Sistema Econômico Funcional Economia Senhorial (séculos XI a XIII) UNICURITIBA Curso de Relações Internacionais História Econômica Professor Renato Carneiro Mudanças à Vista Por volta do século XI, a Europa começou a superar a frustrada centralização econômica e administrativa do Império Carolíngio. Após as grandes transformações na produção agrícola e a necessidade de incorporação de novas terras, a Europa da economia funcional expandiu-se: ao norte, alcançando a Inglaterra; ao sul, a Itália meridional, a Sicília, Palestina e partes da Síria; a oeste, a Espanha central e, a leste, a planície centroeuropéia até o rio Oder e o litoral do mar Báltico. A suavização do clima europeu por volta do ano 1000, tornandose mais seco e quente, permitiu o plantio em regiões até então consideradas como impróprias: vinhas na Inglaterra e cereais na Escandinávia. Progresso nos Séculos X a XIII Todo este surto de progresso foi ajudado pela ausência de epidemias entre os séculos X e XIII, que junto às relativamente poucas mortes das guerras feudais, possibilitou o crescimento constante da população européia. Mais gente, em áreas mais extensas, levou a uma suavização dos regimes compulsórios de trabalho. Com isso, a escravidão praticamente desapareceu e os senhores laicos e eclesiásticos deixaram pouco a pouco de basear a extração de seus excedentes econômicos no trabalho compulsório do camponês dependente de suas reservas senhoriais. Excedentes Comprando Liberdade Permaneciam com obrigações para seus senhores e não se libertaram do jugo do trabalho manual, mas os camponeses passariam a ter apropriado o resultado de seu trabalho e não mais o trabalho em si. Passou a não importar a forma jurídica da propriedade – se feudal ou alodial ou, ainda, administrada: todos os camponeses pagavam sobre sua produção, limitando a prestação de serviços compulsórios em obras de uso comum, como construção e manutenção de estradas, pontes, celeiros etc. A partir de determinado momento, os trabalhadores que deviam gerar excedentes para o pagamento de várias obrigações, muitas vezes conseguiam gerar parcelas não apropriadas, recursos para a compra de sua condição servil, passando a ser trabalhadores livres. Sistema Fundiário Os senhores fundiários eram descendentes dos antigos domínios de origem romana, com sua divisão entre reserva dominial e áreas de manso. Passaram a explorar o pagamento de taxas, em produtos ou dinheiro, ao invés da utilização do trabalhador gratuitamente em suas terras. Com isso, as terras agricultáveis da reserva senhorial seriam subdivididas em lotes cada vez menores, entregues hereditariamente, em troca de quantias fixas (censo) e partes da produção obtida (como um meeiro). Por outro lado, as áreas tradicionais de mansos passaram também a ser intensamente subdivididas em função da pressão demográfica, deixando de lado seu caráter de unidade familiar. Concentrou-se nas áreas do Império Carolíngio. Sistema Banal O sistema banal estendeu-se pela Europa Ocidental, chegando ao oriente pela ação dos cruzados. Teve origem na desagregação do Império Carolíngio, quando os senhores mais poderosos de sua periferia asseguravam proteção a várias aldeias camponesas e pequenos territórios senhoriais, com poderes políticos, militares e econômicos. Concentrou-se, a partir do século XI, a cobrar sobre a produção, dispensando o trabalho compulsório em sua propriedade. As cobranças chegavam a 50% do que produziam. Havia pedágios, taxas de comercialização, talhas (produção), ajudas excepcionais (resgates ou dotes), multas, taxas para utilização de moinhos, lagares e fornos, todos privilégios do senhor, conhecidos por “banalidades”. Outras Taxas Existiam outras 3 taxas sobre os servos: a chevage (anual, em dinheiro, pela dependência ao senhor); a formariage (quando do casamento com pessoa livre ou residente em outro senhorio); main morte (paga pelos herdeiros para receberem bens de servos falecidos - animais, ferramentas, implementos etc.). Dízimo. Anualmente 10% da produção agrícola e animal era entregue à Igreja. Originalmente era indenização à Igreja por perda de terras entregues a vassalos militares e restrito apenas a estas terras, mas depois por toda Europa ocidental. Na prática o camponês podia ser onerado por uma tripla tributação (senhor fundiário, banal e Igreja). Aumento da Atividade Comercial O crescimento demográfico e a baixa produtividade agrícola gerou alta nos preços e maior excedente ao camponês, principalmente quando os encargos ficaram fixos. Anos de abundância permitiam acumular reservas monetárias para pagamento de resgate da servidão. Essa condição de uma economia comercial monetarizada ampliou o nº de trabalhadores livres, com salários. A atividade comercial, vista como um “mal necessário”, ganhou impulso no período e passou a ser fundamental ao processo econômico senhorial. Dependiam dos comerciantes para a importação de produtos de luxo do oriente e para conversão dos excedentes em dinheiro. A existência de inúmeros pedágios junto às rotas terrestres fez com que o comércio de longas distâncias utilizasse o transporte marítimo no Mediterrâneo e Norte. Domínio das Rotas Comerciais No sul, as cidades italianas lutaram entre si pelo domínio de rotas de ligação com o oriente. Veneza conservou ligações com Bizâncio, e transformou-se em distribuidora de artigos de luxo (especiarias, tecidos de seda, perfumes), concentrando também o comércio de colônias no Mediterrâneo que forneciam trigo, azeite, vinho, açúcar, madeiras, alume, mel e cera. Gênova, no século XIII, dominou o mar Negro, porto terminal do extremo Oriente distribuindo cereais, peles, cera, pescado e escravos. Norte europeu cidades alemães formaram associação para proteger seus negócios chamada Liga Hanseática. Dominaram a rota entre Novgorod, Reval, Lübek, Hamburgo, Bruges e Londres, com comércio de peles, mel, cera, trigo, madeira, pescado, cobre, ferro, sal, lã, tecidos e vinho. Urbanização A reativação geral do comércio na Europa fez com que as cidades ao redor das fortalezas (burgus) experimentassem um súbito crescimento político e econômico, mas que, apesar disso, não chegavam a passar de alguns milhares de habitantes. Mesmo as maiores cidades (Nápoles, Veneza, Gênova, Milão, Florença e Paris), no fim do século XIII, não ultrapassavam 100 mil moradores. Sua importância cresceu, no entanto, pelo volume de homens livres que trabalhavam mediante salários, principalmente na manufatura têxtil e na construção. Além de moradias, esse período vai estimular a construção de edifícios públicos, como palácios e catedrais. Corporações de Ofício A produção têxtil, da lã e do linho, foi a mais importante atividade urbana, concentrando-se em Flandres, no norte da Itália e na Inglaterra. Os tecidos de lã comportavam 30 operações, com especialidades e salários diferenciados e 60% dos custos de produção eram do pagamento aos trabalhadores. Ainda assim, havia um rígido controle dos mestres mantendo salários baixos e abortando quaisquer tentativas de greves ou rebeliões. Os mestres organizavam-se nas corporações de ofício e suas oficinas eram empresas individuais, onde controlavam as matérias-primas e ferramentas. As corporações regulamentavam todas as fases do processo produtivo, controlando sua observância e mesmo dificultando que novos trabalhadores tivessem acesso à atividade que tendia a ser hereditária. Atividades Financeiras O comércio gerou expansão da base monetária. Havia diversidade de moedas, com baixo valor intrínseco, desde a fragmentação do Império Carolíngio. Aliança burguesia-realeza centralizou a cunhagem de moedas, na França. Reservas de ouro norte africano e tesouros armazenados desde Idade Média. Em 1252, Gênova e Veneza cunharam as primeiras moedas de ouro. A expansão do crédito e o desenvolvimento bancário eram dificultados pela mentalidade da Igreja, no combate à usura: o dinheiro existia para atender necessidades, não frutificar. Encaravam o comércio como difusão do bem estar geral, com preço justo, ou seja, as mercadorias em troca deveriam conter a mesma quantidade de trabalho e custo. Lombardia e os de Cahors, não se importavam com a proibição do lucro, emprestando dinheiro sob penhora de bens imóveis e juros de 40%. Os judeus ficavam com o pequeno comércio camponês. Bancos possibilitaram o comércio entre diferentes praças e moedas. Superação do Sistema Funcional Para a superação da forma funcional de extração do excedente econômico (trabalhador, soldado e sacerdote) era preciso, no entanto, superar a mentalidade da rígida especialização do trabalho. Isso aconteceu quando surgiram as ordens religiosas militares, onde se uniam a fé e a ação, e da aceitação da remuneração generalizada do serviço militar dos cavaleiros feudais e posterior especialização do serviço militar de arqueiros, mineiros e sapadores, mediante o pagamento de soldos.