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CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA GERAL E
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
PSICOLOGIA CLÍNICA NA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
RELAÇÕES AMOROSAS
Gislaine Naiara da Silva
Daniela Cristina Oliveira
Os sentimentos caracterizam-se como eventos comportamentais atribuídos à pessoa
e determinados pelo ambiente; a nomeação de tais sentimentos é um produto de
aprendizagem e tem origem social (Baum, 1999). Nessa perspectiva, quando se obstina
compreender o amor no ser humano há que se voltar à sua história de contingências de
reforçamento, engendrada a partir das relações sociais primeiras, íntimas, pautadas por
afeto ou ausência dele.
Com as mudanças ocorridas socialmente, a mudança do papel de homens e
mulheres em nossa sociedade, os valores, os desejos e anseios de cada um também houve
uma grande transformação na compreensão e na vivência do amor. A busca pela pessoa
amada exige muitas vezes um trabalho árduo de homens e mulheres que muitas vezes não
conseguem conciliar as expectativas pessoais e próprias com suas necessidades e
obrigações. O amor romântico da época atual é diferente do que se via a algumas décadas
atrás, bem como as demandas para mantê-lo ou conquistá-lo.
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Apesar dessas transformações, algumas exigências sociais ainda se mantêm no que
diz respeito aos relacionamentos amorosos, o que ocasiona muitas vezes, uma insatisfação
enorme nas pessoas, ao passo que também deixam certa sensação de “descompasso com o
que se quer e o que socialmente é aprendido a se querer”. As pessoas que não se casam
estão expostas a frustrações por não se casarem, a pressões sociais para o casamento, a
preconceitos por estarem solteiras e ao sofrimento por acreditarem que a felicidade está
relacionada ao encontro do parceiro ideal.
Para se compreender a importância dos relacionamentos amorosos e as dificuldades
que permeiam esse assunto deve-se compreender inicialmente que o amor é um
reforçamento mútuo de comportamentos, Skinner (1991); que em sua maioria são
positivos. Assim, o reforçamento positivo tem dois efeitos: de fortalecimento e de prazer
(Skinner, 1987, p.17); a conjunção dessas duas funções aumenta à probabilidade de
emissão de classes variáveis de respostas (aumenta a variabilidade), tornando mais
provável a obtenção de consequências reforçadoras positivas.
Estudos com neuroimagem comprovam essa compreensão do amor, os quais
sugerem que o sistema de recompensa é aquele que mais é ativado quando se mostra a foto
de uma pessoa amada (Aron, Fisher, Mashek, Strong, Li, & Brown, 2005). Dessa forma,
pode se compreender o "amor como um estado"; é uma disposição para agir em relação ao
outro de maneiras reforçadoras, mas "sem atentar para nenhuma contingência"
(Skinner,1980 p. 132).
É a partir dessa perspectiva que se pode compreender a funcionalidade e as
variáveis que estão envolvidas quando se fala em relacionamentos amorosos. Porem, devese compreender também que ao que tange esse assunto, macro e micro contingências são
indispensáveis a compreensão dos fatores que levam as pessoas a se relacionarem e se
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manterem em uma relação; bem como fatores de ordem individuais, que por suas
especificidades devem ser compreendidos caso a caso.
Dentro do tema relações amorosas iremos abordar a questão referente ao dito
popular “antes mal acompanhado do que só”, com base nessa proposta iremos verificar
quais os motivos que levam determinadas pessoas a se manter em relacionamentos que não
lhes fazem bem.
De forma geral os motivos para tal comportamento variam bastante e dependem de
todo o repertório e história do indivíduo, no entanto de acordo com Carvalho e Medeiros
(2005) alguns destes determinantes mais comuns são: reforço social, aversão ao risco e
relação sexual disponível. Veremos agora cada um deles.
Reforço social: vivemos em uma sociedade na qual estar em um relacionamento
promove status, e ainda não estar em um relacionamento se desdobra em punição, as
pessoas sozinhas geralmente são ridicularizadas em sociedade, com termos pejorativos,
filmes novelas e seriados também reforçam essa idéia, de que se uma pessoa esta sozinha é
por um fracasso ou problema característico dela, por exemplo “ela é chata demais por isso
não arruma namorado”. Assim nesta sociedade ficar sozinho pode ser visto como algo
aversivo. Dessa forma o reforço social torna-se um importante reforçador dentro de um
relacionamento, a pressão social pode então também se tornar um dos fatores
determinantes tanto para se manter em um relacionamento, como forma de esquiva, quanto
para entrar em um relacionamento, como forma de fuga.
Aversão ao risco: se expor à novas contingências, as quais não se
consegue
discriminar se serão reforçadoras ou punitivas, pode ser visto como algo extremamente
aversivo. Uma vez que mesmo dentro de um relacionamento em que há poucos
reforçadores, pode-se descriminar quais são as contingências envolvidas, por conhecer o
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relacionamento no qual esta envolvido, nesse caso o medo do novo pode ser mais um
determinante mantenedor desse tipo de relacionamento.
Relação sexual disponível: o acesso fácil ao sexo proveniente dos
relacionamentos amorosos pode ser muitas vezes encarado como um dos determinantes
para se manter um relacionamento, mesmo que nesse não exista outras formas de reforço.
O sexo casual poderia nesse caso ser um alternativa, mas a busca por um parceiro pode ser
vista como custosa pelo individuo.
Outras variáveis certamente estão presentes na manutenção de relacionamentos
amorosos com poucos reforçadores, deve-se ressaltar que há inúmeras possibilidades em
que as variáveis descritas não são únicas e determinantes, que uma permeia a outra de
forma que os reforçadores sociais podem estar presentes em cada uma delas e que pode
haver casos compostos por mais de uma dessas variáveis, por isso deve ser visto como um
processo complexo e que o enfoque da intervenção deve sempre levar em consideração o
histórico e repertório de cada individuo.
No Brasil existem grupos, que têm como objetivo ajudar as pessoas que sofrem por
estarem em relacionamentos pouco reforçadores e ás vezes “destrutivos”, como exposto no
site do Grupo MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas), esse é um grupo de
apoio, que se baseia no A.A. (Alcoólicos Anônimos), os objetivos do MADA, podem ser
encontrados em seu site (http://www.grupomada.com.br) dentre eles: “objetivo primordial
se recuperar da dependência de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se relacionar
de forma saudável consigo mesma e com os outros.”. Outras informações sobre o grupo
também podem, ser encontrados no site como localização do grupo mais próximo e alguns
textos de ajuda à pessoas que enfrentam essa situação.
Assim pode-se perceber que apesar de muitas vezes ser visto como algo normal ou
uma escolha do individuo, se manter em relacionamentos que trazem algum tipo de
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sofrimento e que são pouco reforçadores, têm se mostrado um tema relevante e com grande
demanda clinica e ao trabalhar com esse tema pode-se observar que ainda há pouca
literatura a respeito de relações amoras e especificamente sobre relacionamentos pouco
reforçadores.
Referências:
BAUM, W. M. (1999). Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura.
Tradução de M. T.A. Silva et al. Porto Alegre: ARTMED.
CARVALHO, M. C. G. B. e MEDEIROS, C. A. (2005). Determinantes do seguimento da
regra: “antes mal acompanhado do que só”. In Universitas Ciências da Saúde – vol.03
n.01 - pp. 47-64. Visitado em 18/05/2012 em
http://publicacoes.uniceub.br/index.php/cienciasaude/article/view/545/365
FISCHER, H. (2005). Por que amamos. Rio de Janeiro: Record, 2005.
SKINNER, B. F. (1991). Questões recentes na análise comportamental. Campinas: Ed.
Papirus.
SKINNER, B. F. (1980). Reforçadores não contingentes. In R. Epstein (Ed.) Notebooks
B. F. Skinner. Englewood Cliffs, N. J: Prentice-Hall.
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