AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil Análise da Balança Comercial Brasileira 2010 Ano de 2010 terminou com recordes nas exportações e nas importações, mas superávit comercial diminui No ano de 2010 terminou com as exportações atingindo recorde histórico de US$ 202 bilhões, superando o melhor resultado até então de US$ 198 bilhões obtido em 2008. As compras externas também foram recordes, situando-se em US$ 182 bilhões. Igualmente recorde foi a corrente de comércio (exportações + importações) de US$ 384 bilhões. O saldo da balança comercial brasileira, no entanto, teve queda de 20,1% ante 2009, e ficou em US$ 20 bilhões. Gráfico 1: Balança Comercial Brasileira 400 350 300 250 200 150 100 50 0 2001 2002 2003 EXP 2004 IMP 2005 2006 SALDO 2007 2008 2009 2010 CORRENTE Fonte: MDIC/SECEX Esses números demonstram que houve uma recuperação dos estragos provocados pela crise financeira iniciada em fins de 2008 e que levou a um forte declínio do comércio internacional em 2009. Mas, em termos de corrente de comércio, denota -se que o crescimento observado em 2010 foi puxado de forma mais expressiva pelas importações, que tiveram taxa de aumento de 41,6%, do que pelas exportações, com taxa de expansão de 31,4%, ambas em comparação aos valores de 2009. Os níveis alcançados em 2010, tanto pelas importações como pelas exportações, superaram os patamares de 2008, melhor resultados até então: importação + 5% e exportação + 2%. 1 AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil Gráfico 2: Balança Comercial Brasileira 210 180 150 120 90 60 30 0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 -30 EXP IMP SALDO Fonte: MDIC/SECEX Embora tenha caído 20%, o saldo comercial de 2010 pode ser considerado surpreendente, já que todos as projeções indicavam um valor entre US$ 16 e 17 bilhões. Esse resultado foi possível em face do excepcional saldo obtido no mês de dezembro de US$ 5,4 bilhões, representando mais de 26% do superávit comercial do ano (US$ 20,3 bilhões). Gráfico 3: Exportação e Importação pela média mensal – US$ milhões – FOB 1000 900 800 EXPORTAÇÃO 700 600 500 400 IMPORTAÇÃO jan / m 07 ar/ 0 m 7 ai/ 07 jul /07 se t/0 no 7 v/0 jan 7 / m 08 ar /0 m 8 ai/ 08 ju l/0 se 8 t/0 no 8 v/0 jan 8 m /09 ar/ 09 m ai/ 09 jul /09 se t/0 no 9 v/0 jan 9 / m 10 ar/ 1 m 0 ai/ 10 jul /1 se 0 t/1 0 no v/1 0 300 Fonte: MDIC/SECEX 2 AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil As médias diárias das exportações e importações apresentaram-se ascendentes em praticamente todo o período iniciado em janeiro de 2010, cabendo registrar que a média diária das importações, depois de atingir o nível recorde em novembro de 2010, declinou vertiginosamente no último mês do ano para o nível mais baixo desde março de 2010. Exportações brasileiras Analisando o comportamento das exportações brasileiras por fator agregado, consolidou-se o quadro de maior participação dos produtos básicos, deslocando os manufaturados para segundo plano, fundamentalmente em virtude da elevação dos preços das commodities, especialmente do minério de ferro que isoladamente contribuiu para um aumento de US$ 15,4 bilhões nas vendas externas do País, ou 31% do aumento absoluto das exportações totais brasileiras em 2010. Já a perda de dinamismo das exportações de produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados) está relacionada com o chamado custo Brasil (excesso de burocracia e tributos, insuficiência de infraestrutura e logística deficiente). Gráfico 4: Exportação Brasileira por Fator Agregado – Participação % 90 80 70 Manufaturado 60 50 40 Básico 30 20 Semimanufat. 10 0 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2008 2009 2010 Fonte: MDIC/SECEX Este cenário confirma o fenômeno da reprimarização da pauta exportadora brasileira, levando o perfil das exportações a retornar ao que vigorava antes de 1980. No ano de 2010, as vendas de produtos industrializados aumentaram 22,2% (semimanufaturados, 37,1%; e manufaturados, 17,7%), ao passo que as de produtos básicos cresceram 44,7%, sobretudo em função da elevação de preços e das vendas de minério de ferro, puxadas pela forte demanda chinesa, petróleo, café em grãos e carnes “in natura”. Já nos semimanufaturados os destaques foram: açúcar em bruto , celulose e produtos de ferro e aço. No 3 AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil grupo dos manufaturados sobressaem automóveis, açúcar refinado, autopeças e motores para veículos. Principais grupos e produtos exportados Confirmou-se o quadro já apontado de forte concentração da pauta exportadora em termos de produto. Em 2010, as exportações brasileiras cresceram 32%. Mas, apenas três produtos responderam por 54% desse crescimento: minério de ferro, petróleo e açúcar (bruto e refinado). Esses produtos, que representavam 20,1% da pauta em 2009, passaram a responder por 28,3% das exportações brasileira em 2010. Tabela 1: Exportação brasileira por fator agregado US$ milhões FOB Produto Básicos Minério de ferro Petróleo em bruto Soja em grão Carne de frango Café em grão Farelo de soja Carne bovina Fumo em folhas Milho em grão Demais básicos Semimanufaturados Açúcar em bruto Celulose Produtos semimanuf. de ferro ou aço Ferro-ligas Ouro semimanufaturado Demais semimanufaturados Manufaturados Automóveis de passageiros Aviões Açúcar refinado Autopeças Óleos combustíveis Motores e geradores elétricos Laminados planos de ferro ou aços Óxidos e hidróxidos de alumínio Veículos de carga Polímeros plásticos Motores e geradores Demais manufaturados Operações Especiais Total Janeiro/Dezembro Variação 2010 2009 % 90.005 61.958 45,3 28.910 13.246 118,3 16.151 9.152 76,5 11.042 11.424 -3,3 5.788 4.817 20,2 37,7 5.180 3.761 4.718 4.592 2,7 3.860 3.022 27,7 2.704 2.991 -9,6 2.212 1.302 69,9 9.440 7.651 23,4 28.207 20.499 37,6 43,9 8.605 5.978 4.750 3.308 43,6 2.590 1.734 49,4 2.037 1.427 42,7 1.785 1.400 27,5 8.440 6.652 26,9 79.563 67.349 18,1 4.415 3.244 36,1 3.971 3.860 2,9 3.452 2.399 43,9 3.422 2.417 41,6 28,5 2.577 2.006 2.474 1.458 69,7 1.812 1.629 11,2 1.740 1.303 33,5 1.684 961 75,2 1.656 1.426 16,1 1.622 1.783 -9,0 13,1 50.738 44.863 4.141 3.189 29,9 201.916 152.995 32,0 Part.% 2010 2009 44,6 14,3 8,0 5,5 2,9 2,6 2,3 1,9 1,3 1,1 4,7 14,0 4,3 2,4 1,3 1,0 0,9 4,2 39,4 2,2 2,0 1,7 1,7 1,3 1,2 0,9 0,9 0,8 0,8 0,8 25,1 2,1 100,0 40,5 8,7 6,0 7,5 3,1 2,5 3,0 2,0 2,0 0,9 5,0 13,4 3,9 2,2 1,1 0,9 0,9 4,3 44,0 2,1 2,5 1,6 1,6 1,3 1,0 1,1 0,9 0,6 0,9 1,2 29,3 2,1 100,0 Fonte: MDIC/SECEX 4 AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil Importações brasileiras O valor das compras externas nacionais cresceu expressivos 42,2% no ano de 2010, refletindo o aquecimento da economia doméstica e a maior competitividade dos produtos importados em face da apreciação do real. Em termos de categoria de uso, o grupo que mais cresceu foi o de “combustíveis e lubrificantes” (51,4%), em virtude da elevação das cotações do petróleo; em seguida, a maior expansão foi de “bens de consumo” (45,9%), com destaque para as compras de automóveis com expansão de 56,2%. O grupo “matérias-primas e produtos intermediários” teve aumento de 40,4% e o grupo “bens de capital” registrou elevação de 38,1%. Tabela 2: Importação brasileira por categoria de uso US$ milhões FOB Categoria / Produto Bens de Capital Matérias Primas e Intermediários Bens de Consumo - Não-duráveis - Duráveis - Automóveis Combustíveis e Lubrificantes - Petróleo - Demais Total Janeiro/Dezembro Variação 2010 2009 % 40.993 29.690 38,1 83.890 59.762 40,4 31.411 21.523 45,9 12.833 9.910 29,5 18.578 11.613 60,0 8.542 5.467 56,2 25.344 16.745 51,4 10.098 9.066 11,4 15.246 7.679 98,5 181.638 127.720 42,2 Part.% 2010 2009 22,6 46,2 17,3 7,1 10,2 4,7 14,0 5,6 8,4 100,0 23,2 46,8 16,9 7,8 9,1 4,3 13,1 7,1 6,0 100,0 Fonte: MDIC/SECEX Intercâmbio comercial brasileiro por regiões do mundo China se consolida como maior parceiro comercial do Brasil A China consolidou a condição de maior parceiro comercial do Brasil e passou a responder por 14,7% da corrente de comércio do País com o mundo, deixando aos Estados Unidos, tradicionalmente o maior parceiro comercial brasileiro, a segunda colocação, com participação de 12,2%. Em termos de mercado de destino, em 2010 15,0% dos embarques do Brasil seguiram para a China, com a expressiva taxa de expansão de 52,5% sobre o ano anterior. O segundo maior destino das exportações foram os EUA, com participação de 9,7%, mas com uma taxa de crescimento bem menor, de 25,0%. Pelo lado das importações brasileiras, os Estados Unidos permanecem com maiores fornecedores, respondendo por 15% e uma taxa de aumento de 36,0% em relação ao ano de 2009. Contudo, a China vem crescendo a um ritmo mais rápido (61,0%) e sua participação já alcança 14,1%, porta nto, está muito próxima de ultrapassar os EUA. 5 AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil Além da concentração do intercâmbio comercial brasileiro com a China, cabe frisar outro aspecto que diz respeito à qualidade do comércio, uma fez que o chineses compram do Brasil basicamente commodities e vendem uma gama diversificada de produtos industrializados. Balança comercial e Balanço de pagamento Cresce saldo negativo em Transações Correntes A redução do saldo comercial e o aumento dos déficits de serviços e rendas, ocasionou a ampliação do resultado negativo na conta corrente do País. Em Janeiro – Novembro de 2009, apesar da queda no volume de comércio, houve uma ampliação do superávit da balança comercial (US$ 23,1 bilhões), que acrescido dos US$ 3,0 bilhões das transferências externas, minimizou o impacto negativo do déficit de US$ 44,5 bilhões do Balanço de Serviços e Rendas, levando a que a conta transações correntes fechasse com saldo negativo de US$ 18,4 bilhões. Já em janeiro – novembro de 2010 (último dado divulgado pelo Banco Central), o déficit em transações correntes aumentou significativamente , atingindo US$ 43,5 bilhões, decorrente do aumento do resultado negativo nas contas de serviços e rendas (US$ 61,0 bilhões) e do menor superávit da balança comercial (US$ 14,9 bilhões). Tabela 4: Balanço de Pagamentos em Transações Correntes US$ bilhões FOB Período 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 jan/nov 2009 jan/nov 2010 Balança comercial (a) 24,9 33,8 44,9 46,5 40,0 24,7 25,3 23,1 14,9 Saldo Transferências Unilaterais Correntes (b) 2,9 3,2 3,6 4,3 4,0 4,2 3,3 3,0 2,6 Serviços e Transações Rendas correntes (c) (a+b+c+d) -23,5 4,3 -25,2 11,8 -34,3 14,2 -37,1 13,7 -42,5 1,5 -57,3 -28,4 -52,9 -24,3 -44,5 -18,4 -61,0 -43,5 Fonte: BACEN Até o momento, o País não tem encontrado dificuldades em financiar esse déficit, mas a sua continuada expansão pode trazer riscos para a estabilidade das contas externas, só conquistada em razão dos sucessivos e expressivos superávits obtidos na balança comercial no período 2003 a 2008. Para o futuro, a perda de dinamismo das exportações brasileiras de manufaturados, apontam para uma constante redução do saldo comercial. AEB 07/01/2011 6