EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ
VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG
COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD
Coleção Educação a Distância
Série Livro-Texto
Marivane da Silva
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS:
Abordagem Estrutural
Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil
2009
1
EaD
 2009, Editora Unijuí
Marivane da Silva
Rua do Comércio, 1364
98700-000 - Ijuí - RS - Brasil
Fone: (0__55) 3332-0217
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www.editoraunijui.com.br
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
S586e
Silva, Marivane.
Estud os organiz acionais : abordag em estrutural /
Marivane Silva. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2009. – 130 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto).
978-85-7429-761-3
1. Administração. 2. Teoria da administração. 3. Teoria
das organizações. 4. Estudos organizacionais. 5. Gestão.
I. Título. II. Título: Abordagem estrutural. III. Série.
CDU : 65
65.014
658
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ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Sumário
CONHECENDO A PROFESSORA ............................................................................................... 5
UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA
ENTENDER OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS ......................................... 7
Seção 1.1 – Distinção Entre Teoria da Administração,
Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais .........................................11
Seção 1.2 – Concepção de Organizações ...................................................................................17
Seção 1.3 – Concepção de Administração e de Gestão ............................................................25
Seção 1.4 – Desenvolvimento: uma concepção em construção ..............................................35
UNIDADE 2 – BREVE HISTÓRICO DOS PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO ...........37
Seção 2.1 Concepções de Paradigmas ........................................................................................38
Seção 2.2 – Um Novo Olhar Para a Teorização da Administração:
paradigmas de administração .................................................................................49
Seção 2.3 – Escolas de Administração e Categorias de Análise .............................................54
UNIDADE 3 – PARADIGMA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO ................................................61
Seção 3.1 – Taylorismo ..................................................................................................................65
Seção 3.2 – Fayolismo ...................................................................................................................71
3.2.1 – Processo Administrativo e Seus Elementos .............................................79
3.2.2 Áreas Funções da Organização ou Funções Organizacionais ................90
Seção 3.3 – Fordismo e a Produção de Massa ..........................................................................93
UNIDADE 4 – PARADIGMA ORGANIZACIONAL ............................................................... 101
Seção 4.1 – Weber e a Organização Burocrática ................................................................... 102
Seção 4.2 – Tipologias das Organizações: uma visão de Etzioni, Blau e Scott ................ 110
Seção 4.3 – Administração por Objetivos ............................................................................... 118
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 125
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Marivane da Silva
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Conhecendo a Professora
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
MARIVANE DA SILVA
Sou natural de Jóia/RS, tenho 33 anos e moro em Ijuí desde
1989, quando concluí o 1º Grau. O 2º Grau cursei na Escola Estadual de 2º Grau Ruy Barbosa.
Em 1993 ingressei na Universidade Regional do Noroeste do
Estado do RS – Unijuí – para cursar Administração de Empresas.
Em 1994 iniciei minhas atividades profissionais na Unijuí como
técnico-administrativo e de apoio no Departamento de Estudos da
Administração, atuando na área administrativa.
Em 1998 curse i minha pós-graduação lato s en su e m
Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas, modalidade a distância, na Universidade Federal de Lavras – Ufla/MG. Foi uma experiência única em termos de conhecer uma nova forma de aprender e de socialização de experiências, com vários profissionais que
buscam agregar conhecimentos.
A partir de 2000 tive a oportunidade de participar do Conselho Regional de Administração – CRA/RS –, ao qual me filiei como
profissional da área.
Em 2002 fiz concurso para docente horista no Departamento de Estudos de Administração, tendo minha inserção acadêmica
no curso de Administração da Unijuí, com atuação nas áreas de
Estágios e Teorias da Administração.
Ingressei no Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí em
2005, desenvolvendo a dissertação intitulada “O egresso como
parceiro institucional numa universidade regional: o caso da
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Marivane da Silva
Unijuí”, obtendo a titulação de mestre em 2007. Em 2005 atuei
como assessora da Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e, em 2006, assumi função administrativa na Secretaria dos
Conselhos da Unijuí.
Tenho conciliado minhas atividades acadêmicas e administrativas, o que me permite ter uma interação maior com os diversos
públicos da Universidade e construir uma caminhada profissional
na academia.
Na Unijuí constituí minha formação acadêmica e profissional e consolido minhas experiências de docência na Educação a
Distância, nos cursos de tecnólogos e Administração.
Espero poder contribuir para a construção do seu conhecimento nesta sua caminhada!
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Unidade 1
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA ENTENDER
OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
OBJETIVO DESTA UNIDADE
• Aprender os conceitos básicos para o estudo da Administração.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 1.1 – Distinção Entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos
Organizacionais
Seção 1.2 – Concepção de Organizações
Seção 1.3 – Concepção de Administração e de Gestão
Seção 1.4 – Desenvolvimento: uma concepção em construção
Para darmos início aos estudos organizacionais, vamos fazer um breve passeio pelos
conceitos que consideramos fundamentais para o entendimento dos conteúdos e a construção de seu aprendizado.
A Unidade I está subdividida em quatro seções e após estudá-las, você deverá entender:
1. a distinção entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos
Organizacionais;
2. a concepção de Organizações;
3. a concepção de Administração e de Gestão;
4. o desenvolvimento como uma constante na Administração: uma concepção em construção.
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Marivane da Silva
Para compreender os estudos organizacionais é necessário fazer um exercício de voltar
no tempo e no espaço e indagar:
– Quando começamos a estudar, ouvir, ler e saber sobre a existência da Administração?
É algo recente? Em que século começou?
Vamos descobrir...
Estamos falando de voltar no tempo, na História, na construção de uma linha do
tempo da Administração para entender quando começamos a falar em Teoria da Administração, Teoria das Organizações e, mais recentemente, Estudos Organizacionais. Como a
terminologia “estudos organizacionais” é um conceito muito recente, podemos dizer que
ainda está em processo de construção, porém enquanto Administração pode-se afirmar que
já era conhecido desde as Escrituras Sagradas.
O exercício da Administração sempre fez parte da história das civilizações, desde as
comunidades primitivas até a sociedade do conhecimento ou em transformação para a sociedade do espetáculo, que marca o século 21, cuja “alma é a experimentação, a encenação,
a capacidade de criar sensações memoráveis para as pessoas, e não “apenas” ofertar bens
ou serviços de qualidade comprovada e de forma customizada” (Souza, 2002, p. 23).
Para explicar melhor, vamos nos reportar a Maximiano (2002), quando este afirma
que a Administração era praticada desde as sociedades primitivas, quando eram organizadas expedições para a caça de animais, como forma de sobrevivência dos povos dessa época,
ocasião em que os membros dessas sociedades se organizavam coletivamente mediante o
planejamento, divisão de trabalho, tomadas de decisão e definição da rota das migrações e
preparo das armas. Essas expedições eram compreendidas e consideradas o embrião de empresas, de comunidades, de líderes que, por sua vez, eram os protótipos do gerente.
As teorias da Administração, que vamos focalizar nesta seção, são muito mais recentes que as expedições da era primitiva, porém também se aprimoraram e evoluíram continuamente à medida que os administradores do passado e do presente buscam solucionar problemas, e a partir de técnicas conseguem resolvê-los. Técnicas que já existiam desde os
princípios de Administração, propostas por Jesus na Bíblia e posteriormente, por Taylor, que
serão apresentadas na Unidade 3.
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ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Até meados do século 18 os indivíduos conviviam com várias restrições, entre elas a da agricultura, pois produziam para
seu próprio consumo e só consumiam o que conseguiam produzir. Trata-se de um período que evoluiu da revolução agrícola para
Ciência
Provém do latim scire, que
significa tão-somente conhecer. Seu objetivo é descrever
os fenômenos do mundo real
(Caravantes, 1999, p. 21).
a revolução urbana, por volta de 4000 a.C., quando começam a
surgir as cidades e os Estados. Essas primeiras organizações formais demandaram a criação de práticas administrativas que se
estabilizariam e evoluiriam ao longo dos tempos.
A partir do final do século XVIII, com a invenção da máquina a
vapor por James Watt e sua posterior aplicação à produção, uma
nova forma de vida passou a dominar, dando início à Revolução
Industrial, na qual ocorreu um novo sistema de produção, com a
invenção e o uso de novos instrumentos, processos, novas fontes de
energia (o motor a vapor pelo uso do carvão e máquinas de fabricação). Esses novos desenvolvimentos surgiram como resultado
direto do aumento do conhecimento durante o período de grande
atividade intelectual na Renascença (Muniz; Faria, 2007, p. 4).
Como você acabou de ler, a Revolução Industrial sublevou o
sistema de produção e de trabalho, em meados do século 18, com dois
grandes fatos: o surgimento das fábricas e a invenção das máquinas a
vapor. A partir daí ocorrem várias mudanças no ambiente tecnológico,
econômico, político e social, levando ao surgimento de novos conceitos e técnicas para administrar as complexas organizações.
Maximiano (2002, p. 91) observa que o desenvolvimento da
Administração foi influenciado pelo surgimento da empresa industrial, conseqüentemente, no final do século 19 as preocupações
em estudar de forma autônoma e sistemática as organizações e as
melhores maneiras de obter resultados se concretizaram.
Sendo assim, começou-se o estudo da Administração como
uma ciência capaz de propiciar eficiência, eficácia e efetividade
ao sistema fabril. Veja na Figura 1 esquema representando essas
concepções.
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EFICIÊNCIA
Fazer bem as coisas.
Preocupação
com
meios.
EFICÁCIA
Fazer as coisas certas.
os Preocupação com os fins.
Maximização dos objetivos
Minimização dos recursos alcançados.
utilizados.
Ênfase nos resultados.
Ênfase nos processos.
Escolha dos objetivos mais
Ausência de
apropriados.
EFICÁCIA
Realização de objetivos
EFICIÈNCIA
Utilização de recursos
Marivane da Silva
desperdícios.
EFETIVIDADE – é a medida da utilidade do produto ou serviço considerandose a sociedade como um todo e não apenas o consumidor ou a organização.
É a capacidade de produzir um efeito, que pode ser positivo ou negativo.
Figura 1: Concepções de eficiência, eficácia e efetividade
Fonte: Sobral e Peci (2008, p. 6).
Como já referimos, as contribuições do advento da industrialização e da produção em
massa levaram ao desenvolvimento das grandes organizações, que exigiam práticas de administração formalizada. Neste sentido, tornou-se necessária uma teoria formal para orientar os gerentes a administrar tais organizações. Vem daí a importância da teoria.
Você deve estar se questionando: o que é teoria?
Teoria é “o conjunto de princípios e conhecimentos fundamentais e especulativos, mas
racionais, de uma ciência – ou arte –, gerando opiniões sistematizadas a respeito do assunto
considerado” (Oliveira, 2008, p. 8).
Ou então: teoria é a “tentativa de associar e integrar os dados coletados através da
experimentação e observação em um sistema explanatório compreensível” (Caravantes,
Panno; Kloeckner, 2005, p. 39).
Ou ainda:
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ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Teorias podem ser vistas como um conjunto coerente de suposições
elaboradas para explicar a relação entre dois ou mais fatos
observáveis e prover uma base sólida para prever eventos futuros.
São afirmações que predizem quais ações vão levar aos resultados
Indutiva
Começa com a análise de
observações específicas e
depois procura generalizar
para situações mais amplas.
e por quê. As teorias nos permitem fazer previsões acerca do futuro,
assim como interpretar o presente (Sobral; Peci, 2008, p. 32).
Na verdade, sempre que decidimos e agimos existe uma teoria por trás, ou seja, a teoria e a prática são sempre inseparáveis.
Dedutiva
Inicia com uma infinidade de
conceitos inter-relacionados e
só então procura chegar a
conclusões específicas sobre a
realidade observada.
A partir dessa explicações supomos que você está pronto para
entender o que significa Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais. Então, sigamos adiante!
Seção 1.1
Distinção Entre Teoria da Administração,
Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais
Quero lembrá-los que a “formulação de uma teoria inicia
com observações da realidade” (Caravantes, 1999, p. 24) – prática ou vivência – com graus diferentes de complexidade. Para relatar uma realidade empregamos o critério científico, ou seja, nós
o fazemos de forma ordenada, sistemática, realizando pesquisas
e mensurações que permitem uma abordagem indutiva e dedutiva da realidade, ambas utilizadas no campo da Teoria da Administração.
TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO – são teorias administrativas que “ajudam a compreender os processos fundamentais, o
funcionamento das organizações, o ambiente organizacional e
as decisões da administração nos diferentes momentos e situações do cotidiano empresarial” (Muniz; Faria, 2007, p. 10).
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Marivane da Silva
Descritiva
Que descreve, expõe fatos.
Preditiva
Que prevê fatos e/ou variáveis
no ambiente organizacional.
Tendo esta compreensão será possível avançarmos nos estudos para examinar uma espécie do gênero da teoria: a teoria
organizacional, que trata do estudo/observação de um objeto específico – AS ORGANIZAÇÕES.
A Teoria das Organizações preocupa-se com “aquilo que
uma organização é e o que ocorrerá sob certas espécies de arranjos interpessoais ou estruturais-interpessoais” (Caravantes;
Panno; Kloeckner, 2005, p. 48).
Em outras palavras, os objetivos das teorias encontradas
no campo da Administração relacionam-se com o próprio objeto
de estudo citado: as organizações, sabendo-se que estas organizações possuem duas conotações: a) como entidade social (que
estudaremos na seção 1.2); e b) como forma de organizar uma
organização/função ou elemento do processo administrativo (que
estudaremos na seção 3.2).
Cabe destacar que é objetivo das teorias administrativas e
organizacionais compreender as organizações como um fenômeno social, mas também, como toda teoria, o caráter normativo e
prescritivo está presente na proposta dos modelos que sugerem o
melhor modo de organizá-los e instrumentalizá-los para a prática organizacional.
TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES – é descritiva e/ou preditiva.
É o caminho trilhado para compreensão do homem moderno e da
sociedade, que conduziu ao estudo das organizações complexas
(Oliveira; Silva, 2006, p. 47).
Tendo claro suas diferenças, é necessário explicitar que num
determinado momento da história da Administração houve a transição da Teoria da Administração para a Teoria das Organizações, como tudo aquilo que sofre mudança, há uma fase de passagem, o que não foi diferente no estudo da Administração.
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ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Este fato é explicado por Motta (2001, p.11) como sendo “a
tentativa de estudar o sistema social em que a administração se
exerce com vistas à sua maior eficiência em face das determinações estruturais e comportamentais” provocando a passagem. Essa
fase de transição foi marcada pela publicação do livro Organizations
Teorias
São explicações, interpretações
ou proposições sobre a
realidade. Por exemplo: teoria da
burocracia, teorias da motivação. A própria definição de
administração como processo
de planejar, organizar, executar e
controlar é uma teoria.
(1958) de March e Simon, em que a preocupação com a produtividade dá lugar à preocupação com a eficiência do sistema.
Talvez você esteja se perguntando: mas no fundo, o que
muda mesmo da Teoria da Administração para a Teoria das Organizações? O que muda é o objeto de estudo, que passa a ser as
organizações, com a articulação de diversos fatores estruturais e
comportamentais, para os quais a teoria procura dar conta – pensando o desenvolvimento de um sistema social.
Antes de se deparar com outra dúvida conceitual, alertamos
que você encontrará na literatura e nos discursos dos estudiosos
da área outra distinção importante, que precisa ser compreendida, evitando a confusão mental – trata-se da diferença entre “Teoria da Administração” e “Teoria Geral da Administração”.
Para esclarecer esta diferenciação recorremos aos conhecimentos de Maximiano (2002, p. 29), que nos explica:
Enfoque
Também chamado de pensamento, abordagem ou
perspectiva, é um aspecto
particular das organizações ou
do processo administrativo,
selecionado para o estudo e
produção de conhecimentos. É
uma forma de interpretar as
organizações e o processo
administrativo. Ex.: enfoque
comportamental e enfoque
sistêmico.
Escola
É uma linha de pensamento ou
conjunto de autores que
usaram o mesmo enfoque,
escolheram o mesmo aspecto
específico para analisar, ou
adotaram o mesmo raciocínio:
escola de relações humanas. A
escola do processo administrativo, às vezes chamada de
escola funcional, compreende
os autores que adotam a
definição de Fayol.
Modelo de gestão
Teorias da Administração são conhecimentos organizados,
produzidos pela experiência prática das organizações.
Teoria Geral da Administração é o conjunto dessas teorias, que
são designadas por meio de diferentes termos – teorias, enfoque,
Ou de administração, é um
conjunto de características que
definem organizações e a
forma como são administradas. Modelo de administração
é o produto de utilização de
determinadas doutrinas e
técnicas: Por exemplo: modelo
burocrático (ou mecanicista).
escola, modelo de gestão, modelo de organização, doutrina,
técnica, ou seja, a mesma idéia pode ser, e normalmente é, de-
Modelo de Organização
signada de diferentes maneiras, dependendo do seu contexto
É um padrão de organização,
estabelecido pela sua estrutura
organizacional.
histórico e da própria situação da organização.
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EaD
Marivane da Silva
Doutrina
Ou preceito, é um princípio de
conduta que contém valores,
implícitos e explícitos. As
doutrinas recomendam como
agir, orientando os julgamentos e as decisões dos administradores. Ex.: o movimento da
administração científica tinha
uma doutrina de eficiência dos
recursos; o movimento da
qualidade tem uma doutrina de
satisfação do cliente.
Prosseguindo nas discussões da diversidade de perspectivas
utilizadas para estudar a Administração e as organizações, Sobral
e Peci (2008) afirmam que o desenvolvimento teórico no campo
da Administração avançou, apresentando uma visão mais
abrangente: os estudos organizacionais.
Sobral e Peci (2008) reportam-se a Harold Koontz (1961)
para justificar tal fato e dizem existir uma “selva” de teorias administrativas para explicar a Administração e as organizações,
Técnicas
São soluções para problemas.
Exemplos: organogramas,
metodologias de planejamento,
estudos de tempos e movimentos e sistemas de controle.
Os princípios são permanentes, ao passo que as técnicas
tendem a ser transitórias
(Maximiano, 2002, p. 29-30).
mesmo tendo claro que a maioria dos livros e manuais de Administração publicados possuem uma perspectiva de processo, abordada por Fayol e, para muitos, considerada como a mais
abrangente e adequada para o estudo da Administração.
É importante reconhecer, contudo, que com o passar dos
tempos os teóricos foram evoluindo nas discussões de um enfoque
Pós-modernismo
É entendido como o período
contemporâneo, geralmente
identificado com mudanças na
ordem econômica, cultural,
demográfica e social, atribuída a
fatores como: a) fim da
dicotomia ideológica comunismo
x capitalismo; b) impacto da
globalização; c) a crescente
importância do setor de serviços;
o amplo uso das tecnologias da
informação; o crescimento do
terceiro setor e das organizações
sem fins lucrativos. Também está
associado a uma mudança
profunda nas formas de
pensamento, que apresenta-se,
especialmente, como crítica aos
valores do Iluminismo, com sua
crença na racionalidade e no
progresso científico, e como
descrença relativa às verdades
absolutas apresentadas por
metanarrativas (Sobral; Peci,
2008, p. 60). O pós-modernismo foi marcado pela
descontinuidade, indeterminação
e transcendência (Clegg; Hardy;
Nord, 1998, p. 29).
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mais clássico para um enfoque mais contextual, destacando uma
visão multidisciplinar e para além das contribuições da teoria da
contingência, com temas mais contemporâneos, tais como
globalização, diversidade da força de trabalho, desenvolvimento
sustentável e ética em Administração.
Sobral e Peci (2008) afirmam que os fatores que influenciaram o estágio atual de desenvolvimento teórico em Administração são basi came nte o pós-modernismo e o pl ura l ismo
paradigmático no campo das idéias. Até 1960 constatava-se a
predominância de um único paradigma intelectual para explicar
as organizações, mas este processo começa a ser repensado à
medida que surgem novas publicações com perspectivas diferentes sobre as organizações.
As novas perspectivas mostraram a importância dos processos de
organizar em vez de focar em entidades fixas denominadas organizações, do processo de construção dos objetivos organizacionais
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ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
por parte de seus membros, dos conflitos e lutas de poder, presentes no espaço organizacional e outras questões até então ignoradas no estudo da administração e das organizações. A contribuição de idéias e conceitos trazidos por outras disciplinas, tais como
economia, sociologia, psicologia e filosofia, também foram importantes para a construção de novas perspectivas teóricas. O
resultado deste processo foi a pluralidade de alternativas à visão
funcionalista (Sobral; Peci, 2008, p. 61).
Com esta nova perspectiva de pluralidade tiveram início as
discussões sobre os paradigmas em estudos organizacionais, que
tomando por base a obra organizada por Caldas e Bertero (2007,
p. 6), tiveram seu marco inicial por volta de 1980, com Gareth
Morgan, que utilizou o trabalho de Gibson Burrell (1979) na sua
publicação, expondo a nova perspectiva pouco convencional sobre teoria organizacional.
Pluralismo paradigmático
no campo das idéias
Até a década de 60 o campo
dos estudos administrativos e
organizacionais era relativamente simples, com o desenvolvimento principalmente no
contexto anglo-saxão, dotado
de unidade, homogeneidade e
coerência, sendo o foco de
análise as grandes organizações burocráticas inseridas na
sociedade moderna. A teoria
das organizações vivia o seu
desenvolvimento controlado
dentro de um único paradigma
intelectual (funcionalista e
positivista), baseado em um
acordo tácito de métodos,
metodologias, perspectivas de
análise e base epistemológica.
A partir desse período
começam a ser publicadas
obras com base em perspectivas diferentes sobre as
organizações.
Burrell e Morgan (1979) apresentaram à academia de Administração norte-americana um modelo de categorização dos cam-
Campos paradigmáticos
pos paradigmáticos, em dois eixos: um representaria os pressu-
Trata-se do estudo dos
paradigmas no campo da
Administração.
postos metateóricos sobre a natureza da ciência, opondo a ciência “objetivista” à ciência “subjetivista”, enquanto o outro simbolizaria as premissas metateóricas sobre a natureza da sociedade,
contrastando uma sociologia da “ regulação” a uma sociologia
da “mudança radical” (Caldas; Bertero, 2007, p. 7).
O modelo apresentado por Burrell e Morgan (1996, apud
Clegg; Hardy; Nord, 1998) define quatro paradigmas que fundame ntari a m ou que pode ri a m fundame ntar a análi se
organizacional.
Outra contribuição importante de Morgan para consolidar
sua conce i tuação sobre a v i são me tafóri ca da te ori a
organizacional e da realidade organizacional, em termos de discutir os estudos organizacionais, foi a publicação no Brasil do
Metateórico
Significa no âmbito das
reconstruções metodológicas;
é um processo que ocorre
após uma teoria ter sido criada
e a considerada como objeto
de estudo.
Paradigmas
Os paradigmas poderão ser
estudados na obra Clegg,
Stewart R.; Hardy, Cynthia;
Nord, Walter R. Handbook de
Estudos Organizacionais:
modelos de análise e novas
questões em estudos
organizacionais. São Paulo:
Atlas, 1998.
livro “Imagens da organização”, em 1996.
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EaD
Marivane da Silva
Multidisciplinaridade
Que aborda ou apresenta a
contribuição de várias
disciplinas.
Para aprofundar seus estudos nestas descobertas sugerimos
a leitura das duas obras:
Caldas, Miguel P.; Bertero, Carlos O. (Coord.). Teoria das
organizações. São Paulo: Atlas, 2007.
Morgan, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996.
Imagino que você deve estar se perguntando: afinal, o que
esta Unidade queria mesmo nos informar? Espero que você não
esteja perdido nesse nosso passeio conceitual!
Queremos esclarecer que os fatos mencionados anteriormente são importantes para explicar o início das discussões e do uso
da expressão “estudos organizacionais”. Conceitualmente, podese afirmar que:
Os Estudos Organizacionais se encontram hoje em uma fronteira
de
in ve st iga çã o da
or ga niza çã o
human a b as ea da n a
multidisciplinaridade, reconhecendo o seu objeto como fenômeno social e caracterizando a Administração como espaço e oportunidade de aprendizagem – abordagem epistemológica (Cavalcante, 2008, p. 1).
Neste sentido, é correto afirmar que
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – são uma proposição mais
explicativa do que prescritiva, própria de uma abordagem de
natureza epistemológica, ou seja, do estudo da Administração.
Abordar a Administração concebendo-a como “estudos
organizacionais” significa reconhecer a perda da supremacia do
funcionalismo, que entendemos ser uma abordagem apoiada em
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EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
suposições sobre a natureza unitária e ordenada das organizações (que enfatiza o consenso
e a coerência) para se colocar cada vez mais na zona híbrida da multidisciplinaridade, flertando com a Sociologia, a Psicologia, a Antropologia, a Psicanálise, a Economia, a Comunicação, e admitindo a existência da mudança, da diversidade e da diferença.
Como o próprio grupo de pesquisadores Clegg, Hardy e Nord (1998, p. 30) afirmam:
Definir os estudos organizacionais hoje não é, por nenhum meio, tarefa fácil. Nossa abordagem
é conceituar os estudos organizacionais como uma série de conversações, em particular aquelas
dos pesquisadores dessa área que ajudam a constituir as organizações por meio de termos derivados de paradigmas, métodos e suposições, todos decorrentes de conversações prévias.
Sendo assim, como mencionamos inicialmente nesta Unidade, a discussão dos estudos organizacionais é algo muito recente e em construção. É uma nova forma de refletir as
organizações a partir de conversações, que se referem às organizações como “objetos empíricos
à organização, como discurso teórico e ao organizar como processo social e às interseções e
hiatos entre elas e em seu interior ” (Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 30).
Para chegar à compreensão das novas concepções de estudos organizacionais, entretanto, é necessário antes compreender as origens e evoluções das organizações, as quais
serão explicadas na seção 1.2.
Seção 1.2
Concepção de Organizações
Cury (2007) defende que não podemos negar que vivemos numa sociedade
essensialmente organizacional. “O homem, em todas as etapas de sua vida, desde o nascimento até a morte, depende de organizações, é controlado por organizações e nelas passa a
maior parte de seu tempo” (p. 103).
17
EaD
Marivane da Silva
Nesse sentido, parece clara a resposta à pergunta: Por que estudar as organizações?
Inicialmente, porque as organizações são um componente predominante da sociedade, desde
os feudos, o advento da Revolução Industrial até as redes virtuais. Ironicamente, Hall (2004)
afirma que é impossível escapar delas; que são inevitáveis assim como a morte e os impostos.
As organizações estão por toda a parte e moldam nossas vidas de diversas maneiras,
considerando que:
(...) são grupos estruturados de pessoas que se juntam para alcançar objetivos comuns. Surgem
como respostas à necessidade dos indivíduos de alcançar metas que, isoladamente, não conseguiriam atingir, em virtude da complexidade e da variedade de tarefas inerentes ao trabalho a se
efetuar (Sobral; Peci, 2008, p. 5).
Façamos o seguinte exercício mental para comprovar como as organizações são parte
presente e constante em nossas vidas:
Se você estiver lendo este Livro-Texto, isso pode parecer um assunto pessoal e acadêmico; no entanto ele foi preparado e publicado por uma organização – a Editora Unijuí –, e
você, provavelmente, está lendo em obediência a algum tipo de exigência organizacional
– da professora do componente curricular que cursa na EaD. Escrevi este Livro-Texto
em um contexto organizacional – a Unijuí. Nossos interesses por aprofundamentos
teóricos e práticos são impulsionados por dicas, informações e indicações obrigatórias. Assim como na nossa vida pessoal, em termos de alimentos ou roupas, são moldados por organizações. Os produtos com os quais entramos em contato, como automóveis, mesas, cadeiras, computadores, etc., são fabricados em ambientes organizacionais.
Os serviços dos quais dependemos, tais como polícia, bancos, companhias seguradoras e conhecimento, são nitidamente organizacionais. Trabalhamos em organizações.
O mundo do comércio eletrônico é formado por organizações. Nossas atividades de
lazer e oração ocorrem em algum tipo de ambiente organizacional. As grandes transformações sociais da História têm sido essencialmente baseadas em organizações. Percebam que não se trata de apenas um exercício acadêmico. O mundo e nossas vidas
giram em torno de organizações.
Fonte: Adaptado de Hall (2004).
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EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
É importante destacar que as organizações que satisfazem à maior variedade de necessidades sociais e pessoais de seus cidadãos não o realizam sem custo social e humano. A
esse respeito Etzioni (1967, p. 9) observa que “o racionalismo da organização e a felicidade
humana são concomitantes”. Ou seja, “os empregados satisfeitos trabalham mais e melhor
do que os frustrados. (...) a felicidade eleva a eficiência nas organizações e, inversamente,
sem organizações eficientes, não há que pensar em nossa felicidade” (Cury, 2007, p. 104).
O desafio apresentado às organizações é como constituir agrupamentos humanos tão
racionais quanto possível e, ao mesmo tempo, produzir um mínimo de efeitos indesejáveis e
um máximo de satisfação (Etzioni, 1967).
Com o desenvolvimento da sociedade e conseqüentemente da organização percebeuse o avanço de um caráter meramente burocrático para um caráter de instituição social.
Uma instituição é caracterizada por um sistema de crenças e lealdade dentro da sociedade,
como a família e a propriedade privada. Já uma instituição social é um conjunto de pessoas que,
usando um aparato técnico, obedecendo a um conjunto de normas e ligada a uma parte do meio
ambiente, está realizando uma tarefa ou tarefas comuns (Cury, 2007, p. 104).
O que significa dizer que a simples criação da estrutura formal não determinará a
criação e a sobrevivência de uma organização. É necessário que sua origem tenha sido dada
pelas necessidades da coletividade. Por isso, as organizações são conceituadas como “unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a
fim de atingir objetivos específicos” (Talcott Parsons, apud Etzioni, 1967, p. 9).
Compreendendo as concepções, podemos afirmar que as “organizações podem ser formais, no caso de um exército ou de uma empresa; ou informais, como um grupo de amigos
que se junta para jogar vôlei na praia” (Sobral; Peci, 2008, p. 5). Independentemente da sua
forma ou atividade, no entanto, as organizações partilham características comuns, ou seja,
são uma entidade que possui um propósito; são compostas por pessoas e têm uma estrutura
organizacional.
Etzioni (1967) caracteriza as organizações formais por:
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EaD
Marivane da Silva
a) divisões de trabalho, poder e responsabilidades de comunicação, que não são casuais ou
estabelecidas pela tradição, mas planejadas intencionalmente a fim de proporcionar o
alcance de objetivos específicos;
b) a presença de um ou mais centros de poder que controlam os esforços combinados da
organização e os dirigem para seus objetivos; esses centros de poder precisam, também,
reexaminar continuamente a execução e, quando necessário, reordenar sua estrutura, a
fim de aumentar sua eficiência;
c) substituição do pessoal, isto é, as pessoas pouco satisfatórias podem ser demitidas e designadas outras para as suas tarefas. A organização também pode recombinar seu papel,
mediante transferências e promoções.
Organizações informais são entendidas como aquelas que surgem espontânea e naturalmente entre as pessoas que ocupam cargos nas organizações formais e a partir dos relacionamentos entre ocupantes de cargos; surgem a partir das relações de amizades e que não
aparecem em documentos formais (Chiavenato, 2003). Organização informal é a rede de
relacionamentos espontâneos dos grupos sociais informais que se constituem ao redor da
organização formal (Chiavenato, 1999, p. 66).
Agora você talvez esteja se indagando: Por que temos as organizações? Hall (2004, p. 4)
apresenta uma resposta simples para explicar: “Para que as coisas sejam feitas”. Moraes (2001, p.
37) complementa mostrando os motivos para a existência das organizações, conforme a Figura 2.
ORGANIZAÇÕES
servem à sociedade
realizam objetivos
preservam o conhecimento
proporcionam carreiras
influenciam o ambiente
criam valor
administram a força de trabalho
diversificada
promovem a sinergia
Figura 2: Motivos para a existência das organizações
Fonte: Moraes (2001, p. 38).
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EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Além de entendermos as organizações como sistemas sociais,
precisamos entendê-las como um sistema aberto, que consiste em
um conjunto de elementos (partes do sistema ou subsistemas),
dinami camente inte r-relaci onados (interde pendente s e
interatuantes) tendo relação com o ambiente e desenvolvendo
uma atividade ou função para atingir um ou mais objetivos
Layout
É um arranjo dos diversos
postos de trabalho nos
espaços existentes na organização, preocupados em
adaptar as pessoas ao
ambiente de trabalho, e
natureza da atividade desempenhada, o arranjo de máquinas,
equipamentos e matériasprimas (Cury, 2007, p. 396).
(Moraes, 2001). Significa perceber as organizações no seu todo,
com todas as implicações e relações estabelecidas com o meio
interno e externo.
No entender de Katz e Kahn, a organização, como sistema, tem
uma produção, um resultado ou um produto, mas este, no entanto, não é necessariamente idêntico às finalidades individuais dos
membros dos grupos. Os conceitos teóricos de abordagem das
organizações devem começar com o insumo, o produto e o funcionamento da organização, como sistema e não com os propósitos
racionais de seus líderes. O modelo teórico para a compreensão
da organização é de um sistema de energia insumo-produto, no
qual o retorno da energia do produto reativa o sistema. As organizações sociais são, neste sentido, sistemas abertos, porque o
insumo de energias e a conversão do produto em novo insumo de
energia consiste em transações entre a organização e seu meio
ambiente (Cury, 2007, p. 118).
As organizações criam e desenvolvem seu próprio caráter,
sua própria cultura ou clima organizacional, com suas normas,
tabus, regras, costumes e cre nças. O caráter do si ste ma
organizacional, que distingue uma organização da outra, reflete
tanto as normas e valores do sistema formal quanto sua
reinterpretação no sistema informal, assim como a cultura reflete
a história das lutas internas e externas, dos tipos de pessoas que
a organização recruta, dos métodos, dos processos de trabalho e
do layout físico que adota, bem como do sistema de comunicação e do exercício da autoridade dentro do sistema.
21
EaD
Marivane da Silva
Tendo em mente que a organização partilha do mesmo sistema de valores da sociedade, e tendo esta uma herança cultural, subentende-se que as organizações sociais –
subsistemas destas sociedades – possuem padrões distintos de sentimentos e crenças coletivos que são transmitidos aos novos membros do grupo (Cury, 2007).
O enfoque da organização como sistema aberto evidencia a importação de insumos do
ambiente, o processamento desses insumos por meio de sistemas internos (tecnológico, social
e gerencial), gerando os produtos organizacionais, que são exportados para o ambiente.
Sociedade = Macrossistema
1. Ambiente
Impactos
2. Tecnologia
Sistema
Tecnológico
Insumos
Recursos humanos
Matéria-prima
Rec .financeiros
Rec. Energéticos
Rec. Científicos
Rec. Tecnológicos
Etc.
Sistema
Social
Sistema
Gerencial
Produtos
Processamento = Transformação
(Organização = Microssistema)
Bens
Serviços
Clima de trabalho
Satisfação do pessoal
Interações individuais e
grupais
Atitude dos empregados
Produtividade
Qualidade do produto
Lucratividade
Etc.
Feedback interno
Feedback externo
Figura 3: A organização como um sistema aberto
Fonte: Cury (2007, p. 120).
O microssistema organizacional (organização), por meio do feedback externo, deve
avaliar permanentemente sua efetividade, diagnosticando os impactos exógenos (reflexos
no sistema interno), para poder internalizar e adaptar-se às mudanças ditadas pelo
macrossistema social (sociedade) – advindas do ambiente e/ou da tecnologia, reativando o
ciclo vital da organização.
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EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Como bem explica Cury (2007), a organização parte da sociedade, é o microssistema,
estruturado em sistemas tecnológico, social e gerencial. Os insumos são os recursos importados do ambiente (recursos humanos, materiais, energéticos, financeiros, científicos,
tecnológicos, etc.) e os produtos resultam do trabalho final da organização, como bens,
produtos e serviços.
Numa explicação mais simplificada, Moraes (2001, p. 39) apresenta o mesmo sistema
como sendo constituído de:
a) entradas (inputs): recursos humanos, financeiros e materiais necessários ao funcionamento do sistema;
b) operações ou processamento: representa a etapa de transformação dos recursos em produtos ou serviços, por meio da tecnologia e do conhecimento;
c) saídas (outputs): compreendem as mercadorias, serviços e realizações que contribuirão
para alcançar os objetivos ou propósitos do sistema;
d) retroação (feedback): é o mecanismo responsável pela promoção do equilíbrio e da estabilidade do sistema, possibilitando a homeostasia (equilíbrio dinâmico do sistema). A ausência da retroação pode levar à entropia, processo pelo qual o sistema tende à
deteriorização. Seu elemento básico é a informação;
e) subsistemas: são partes do sistema em que se desenvolvem as atividades interdependentes
e interatuantes. Nas organizações estas partes são especializadas (divisão do trabalho) e
interligadas por uma rede de comunicação.
Sintetizando:
As organizações são sistemas abertos e social que se relacionam com o ambiente externo, retirando daí os insumos, que, uma vez processados, são devolvidos ao ambiente na
forma de produtos e/ou serviços. Se a sociedade absorve e aceita o que é produzido, é porque
dele necessita para satisfazer suas necessidades, então a organização está cumprindo uma
função social.
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EaD
Marivane da Silva
“Uma organização nunca constitui uma unidade pronta e acabada, mas um organismo social vivo que está sujeito a constantes mudanças e transformações em seu caminho de
desenvolvimento e busca de excelência” (Chiavenato, 2008, p. 5).
Como já referenciamos, as organizações podem ser: a) com finalidade lucrativa (empresas); b) sem finalidade lucrativa (organizações não-empresariais). Essas organizações
apresentam características e funcionamento dos sistemas abertos, porém são constituídas
por subsistemas em que as funções específicas necessárias à sua sobrevivência são desempenhadas.
Os subsistemas organizacionais podem ser subdivididos em subsistema hierárquico e
funcional, conforme Figura 4.
Nível institucional ou estratégico
SUBSISTEMA
HIERÁRQUICO
Nível intermediário ou gerencial
Nível operacional ou técnico
Produção: matéria -prima, espaço físico, processo
produtivo, máquinas/equipamentos
Financeira: capital, fluxo monetário, crédito e receita,
investimentos, contábil-financeira
SUBSISTEMA
FUNCIONAL
Marketing e Vendas
: mercado de clientes,
consumidores, pesquisa de mercado, promoção,
propaganda, distribuição, desenvolvimento de produto
e definição de preços
RH ou Gestão de Pessoas:
planejamento, atração,
seleção, recrutamento, treinamento e desenvolvimento
de pessoas
Administração: funções do administrador – planejar,
organizar, comandar e liderar, coordenar e controlar
Figura 4: Subsistemas da Organização
Fonte: Adaptado de Moraes (2001).
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EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Pela lógica, podemos concluir que com o aparecimento das organizações surgiu a
necessidade de administrá-las. As organizações constituíram-se no cenário da Administração e o palco no qual se faz a gestão, garantindo, desta forma, o papel importante do profissional em Administração. Vamos aprofundar essa discussão na seção 1.3.
Seção 1.3
Concepção de Administração e de Gestão
Ao evoluir no estudo da Administração, cabe entender a origem desta palavra. Administração vem do latim ad (direção, tendência) e minister (subordinação ou obediência),
significa “aquele que realiza uma função sob o comando de outrem, ou seja, aquele que
presta um serviço a outro” (Chiavenato, 2003, p. 11).
Diferentemente das demais profissões, o sucesso do(a) administrador(a) depende mais
do seu desempenho e da maneira como lida com pessoas e situações do que de seus traços
particulares de personalidade. O seu desempenho é resultado de certas habilidades que possui e da sua capacidade de transformar conhecimento em ação, que resulte em um desempenho desejado.
Como a Administração é uma Ciência Social, o profissional da área precisa lidar com
pessoas, fato que incorpora a subjetividade e o talento de influenciação no desenvolvimento
de suas atividades, ou seja, administrar uma organização implica ter conhecimentos (teoria), habilidades (prática) e atitudes (aptidões) (Figura 5).
Em outra forma de expressão:
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EaD
Marivane da Silva
Know-how
Ou conhecimento processual
é o conhecimento de como
executar alguma tarefa. Uma
vantagem do conhecimento
processual é que pode
envolver mais sentidos, tais
como a experiência manual,
prática em resolver problemas,
compreensão das limitações de
uma solução específica, etc.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Know-how>).
Conhecimentos (C) + Habilidades (H) + Atitudes (A) = CHA.
Conhecimento
Saber
Know-how. Informação.
Atualização profissional.
Reciclagem constante.
Habilidade
Saber fazer
Visão pessoal das coisas.
Maneira prática de aplicar
o conhecimento na solução
de problemas e situações.
Atitude
Saber fazer acontecer
Comportamento ativo e proativo.
Ênfase na ação e no fazer
acontecer.
Espírito empreendedor e de
equipe.
Liderança e comunicação.
Figura 5: Competências do(a) administrador(a)
Fonte: Chiavenato (2003, p. 5).
Entende-se habilidades como sendo as destrezas específicas para transformar conhecimento em ação, levando ao resultado positivo para o alcance dos objetivos. Há basicamente três
tipos de habilidades necessárias, segundo Katz (apud Silva, 2002,
p. 14), para que o administrador possa atuar eficazmente no processo das suas atividades: habilidades técnica, humana e
conceitual. Oliveira e Silva (2006, p.143), no entanto, agregam
mais duas habilidades importantes: diagnóstica e política.
Vamos explicá-las mais detalhadamente:
a) Habilidade técnica: significa compreensão e competência em
uma atividade específica; consiste no conhecimento, métodos
técnicos e equipamentos para a realização de tarefas específicas do campo de sua especialização.
b) Habilidade humana: é uma habilidade administrativa para trabalhar com outras pessoas, entendê-las e compreendê-las,
motivá-las como indivíduos e membros de grupo, a fim de em26
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
preender esforços cooperativos na unidade organizacional. A habilidade da comunicação e
da liderança são componentes importantes. Outro subconjunto da habilidade humana fundamental ao contexto globalizado e sem fronteiras do nosso tempo é o multiculturalismo,
ou habilidade de trabalhar com eficiência e conduzir negócios com pessoas de diferentes
culturas. Estar capacitado a conversar em uma segunda língua tem se tornado um importante recurso no ambiente de trabalho global e muticultural da atualidade.
c) Habilidade conceitual: é a capacidade de coordenar e integrar todos os interesses e atividades de uma organização. Implica ver a organização como um todo e entender suas
complexidades promovendo o ajustamento do comportamento dos participantes e integrando os objetivos individuais aos organizacionais.
d) Habilidade diagnóstica: ter habilidade para investigar um problema, decidir e procurar uma
solução. Na maioria das vezes exige outras habilidades – técnica, humana, conceitual ou
política para resolver os problemas. Quase que elementar na profissão do administrador.
e) Habilidade política: ser eficaz é, sobretudo, conseguir uma fatia de poder e impedir que
outros a tomem de você. Envolve a competência de adquirir o poder necessário para
atingir os objetivos. Nesta habilidade está a capacidade de estabelecer conexões adequadas e impressionar as pessoas certas.
É importante ressaltar que na formação de gerentes eficientes e eficazes, a experiência
é tão importante quanto a educação formal. Esses dois fatores não estão co-relacionados,
porém a existência desta combinação é benéfica para os profissionais.
Apesar das cinco habilidades serem essenciais, sua importância depende principalmente do nível que o gerente ocupa na organização. A habilidade técnica é mais importante nos níveis mais
baixos. A habilidade humana, ao contrário, é importante para gerentes em todos os níveis. E a
habilidade conceitual, política e diagnóstica aumenta à medida que os indivíduos galgam os
níveis do sistema administrativo, com base em princípios hierárquicos e responsabilidade (Oliveira; Silva, 2006, p. 144).
Já mencionamos anteriormente que a Administração é uma ciência social, portanto
estamos reafirmando que se trata de uma ciência, pois lida com fenômenos complexos e
recebe influências de outras diferentes ciências, tais como a Filosofia, Sociologia, Psicologia e Economia. Sendo assim, enquanto campo de estudos, é possível afirmar que a Administração é ciência, arte e profissão.
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EaD
Marivane da Silva
Sugerimos pesquisar na literatura específica a fundamentação de conceitos que auxiliem na compreensão da Administração como uma ciência, uma arte e uma profissão.
ADMINISTRAÇÃO
Ciência
Arte
Profissão
De forma objetiva podemos afirmar:
CONTEXTO DA ADMINISTRAÇÃO
Ciência: é o conjunto organizado de conhecimentos administrativos obtidos pela leitura, pela observação, pelas metodologias e técnicas administrativas desenvolvidas,
bem como pela prática nas organizações.
Arte: é a capacidade sustentada pelo conhecimento dos conceitos, metodologias e
técnicas administrativas, que os profissionais têm condições de aplicar, de maneira
adequada, nas organizações.
Profissão: é o exercício das atividades de administrador, visando otimizadas satisfação e realização pessoal e profissional.
Figura 6: Contexto da Administração
Fonte: Oliveira (2008, p. 32).
Segundo Motta (1998, p. 9), “para que um determinado campo de conhecimento
seja considerado ciência é necessário que se tenha um objeto próprio, e isso a Administração possui”. Com as fundamentações de Andrade e Amboni (2007, p. 7), vamos entender que:
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EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
A Administração é uma ciência, pois lida com fenômenos complexos,
Inexata
sobre os quais o administrador tem pouco conhecimento. Por ser uma
Falta de exatidão; que não é
precisa.
ciência inexata, o administrador toma decisões com base em informações incontroláveis, devido aos limites cognitivos de racionalidade
e por serem os negócios altamente mutáveis e circunstanciais.
A administração enquanto ciência recebe influências de
diferentes ciências e vice-versa:
Treinamento
Sugiro substituir por
capacitação das habilidades,
para sermos mais coerentes
com a concepção humanista.
Partindo do pressuposto de que arte é conseguir um resultado
desejado por meio da aplicação de habilidades, pode-se dizer que
a Administração é uma arte no sentido de proporcionar o desenvolvimento por meio do treinamento educativo das habilidades
necessárias para que o administrador realize com desenvoltura
as atividades nas organizações. Neste sentido, Administração é a
arte de liderar pessoas e gerir recursos escassos e valiosos dentro
e fora das organizações (Andrade; Amboni, 2007, p. 8).
Administração enquanto arte significa entender que:
(...) o profissional do campo de Administração tem de ter a capacidade/habilidade de saber fazer (arte) para traduzir todo o conhecimento
(saber) em ações práticas que proporcionem resultados significativos
para as organizações e a sociedade (Andrade; Amboni, 2007, p. 8).
Para o(a) administrador(a) “praticar a arte (fazer), ele deve ter
diferentes capacidades/habilidades” (Andrade; Amboni, 2007, p. 9), ou
seja, assume vários e diferentes papéis em suas atividades. Mintzberg
(apud Chiavenato, 2008, p. 22) identificou três categorias de papéis,
que podem ser desdobradas em dez papéis específicos, a saber:
Papéis
Interpessoais
Papéis
Interação: representação, liderança e ligação.
Processa a informação: monitoração,
Informacionais
Papéis
disseminação, porta-voz
Como utiliza a informação: empreende, resolve
Decisórios
conflitos, alocação de recursos e negociação
Figura 7: Papéis do(a) administrador(a)
Fonte: Adaptado de Chiavenato (2008).
29
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Marivane da Silva
A administração enquanto profissão tem sua história. Sua comemoração nacional
ocorre no dia 9 de setembro – Dia do(a) Administrador(a):
A Administração enquanto profissão, iniciou-se, no Brasil, a ser disseminada em 1931, pelo
Instituto de Organização Racional do Trabalho – IDORT, em São Paulo. Em 1938, com a criação
do Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP, foram difundidos os métodos administrativos, visando principalmente à capacitação do servidor público (...).
O processo de industrialização no Brasil ocorrido nos anos 30 e a necessidade de procedimentos
administrativos no setor público motivaram a criação da Fundação Getúlio Vargas, em 1944, e
em seguida, a implantação da Escola Brasileira de Administração Pública – Ebap – no Rio de
Janeiro, em 1952, e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo – EAESP –, em 1954.
Toda essa evolução fomentou a criação da profissão do administrador no Brasil, que se deu com
a edição da Lei nº 4.769, de 09/09/1965 (Andrade; Amboni, 2007, p. 9).
A exemplo de outras profissões liberais, a profissão de administrador(a) é regulamentada por um órgão, que disciplina e fiscaliza o exercício profissional: o Conselho Federal de
Administração – CFA – http://www.cfa.org.br e os Conselhos Regionais de Administração –
CRAs – http://www.crars.org.br.
Além de saber qual é o dia que homenageia esse profissional, também é importante
você conhecer o símbolo da profissão do(a) administrador(a):
Figura 8: Símbolo do(a) administrador(a)
Fonte: <http://www.cfa.org.br>
Perceba que esse símbolo é, na verdade, uma junção de outros símbolos:
A justificativa da constituição gráfica do símbolo que representa a profissão do(a)
administrador(a) é:
30
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
O quadro como ponto de partida: uma forma básica, pura, onde o processo de tensão
de linhas é recíproco. Sendo assim, os limites verticais/horizontais entram em processo
recíproco de tensão.
“Uma justificativa para a profissão, que possui também certos limites em seus objetivos: organizar, dispor para funcionar, reunir, centralizar, orientar, direcionar, coordenar, arbitrar, relatar, planejar, dirigir, encaminhar os diferentes aspectos de uma questão para o objetivo comum”.
“O quadro é regularidade, possui sentido estático quando apoiado em seu lado, e sentido dinâmico quando apoiado em seu vértice (a posição escolhida)”.
“As flechas indicam um caminho, uma meta, a partir de uma premissa, de um princípio
de ação (o centro)”.
“As flechas centrais se dirigem para um objetivo comum, baseado na regularidade (...)
as laterais, as metas a serem atingidas”.
Fonte: <http://www.cfa.org.br>
Para além de um dia destinado a lembrar dos administradores e de um símbolo que
remete à profissão, também foi criado um juramento para formalizar o momento da colação
de grau (formatura) desse profissional.
O juramento foi oficializado pela Resolução Normativa do Conselho Federal de Administração nº 201, de 19/12/97.
Prometo dignificar minha profissão, consciente de minhas responsabilidades legais, observar o
Código de Ética, objetivando o aperfeiçoamento da Ciência da Administração, o desenvolvimento das Instituições e a grandeza do Homem e da Pátria.
Após conhecer um pouco mais as origens da Administração, é preciso entender que a
Administração se consolidou como um processo, por meio do pensamento administrativo
(que surgiu como conseqüência da consolidação do capitalismo e ao mesmo tempo do
processo de modernização das sociedades ocidentais), ou seja, foi constituído a partir do
planejamento, da organização, da direção e do controle.
31
EaD
Marivane da Silva
A Administração enquanto processo pressupõe uma “seqüência de funções que caracterizam o trabalho do(a) administrador(a), independente do nível hierárquico em que se
situe e do tipo de organizações em que atue, com ou sem finalidade lucrativa, pública ou
privada, manufatura ou de prestação de serviços” (Moraes, 2001, p. 13).
Planeja
Organiza
Esforços grupais
Alcança
objetivos
Administrador(a)
Dirige
Recursos
organizacionais
Controla
Figura 9: Funções do(a) Administrador(a)
Fonte: Moraes (2001, p. 13).
Essas funções integradas constituem o processo administrativo (que será estudado de
forma detalhada na Unidade III) e são conceituadas por Silva (2002, p. 10) como:
a) Planejamento: determinação de objetivos e metas para o desempenho organizacional
futuro, e decisão das tarefas e recursos utilizados para o alcance de objetivos.
b) Organização: processo de designação de tarefas, de agrupamento de tarefas em departamentos e de alocação de recursos para os departamentos.
c) Direção: influencia para que outras pessoas realizem suas tarefas de modo a alcançar
os objetivos estabelecidos, envolvendo energização, ativação e persuasão daquelas
pessoas.
d) Controle: função que se encarrega de comparar o desempenho atual com os padrões
predeterminados, isto é, com o planejado.
32
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
A Administração desempenha o papel de suporte ou meio técnico e organizado para o
desenvolvimento de empresas e organizações. Como afirma Nogueira (2007, p. 30) “planejar, organizar e controlar os meios ou recursos materiais e humanos para atingir resultados
foi, e continua sendo, a principal tarefa da gestão e da Administração”. Este autor distingue
a empresa pela sua finalidade de produzir bens e serviços para o mercado, tendo em vista o
retorno sobre o investimento realizado ou a obtenção do lucro.
É preciso ressaltar que muitos autores que escrevem sobre “gestão” e “administração”, consideram ambas as expressões como sinônimos. Associando-se à expressão de
Siedenberg (2008), gestão e administração são uma espécie de primos-irmãos; e cada vez
mais, o termo gestão é mais utilizado contemporaneamente do que administração.
Nogueira (2007) também salienta que a gestão ou a administração é um modo racional e calculado de ordenar os meios para atingir resultados (objetivos a alcançar).
Conceitualmente, entende-se que:
Gestão, do latim gestio, é o ato de conduzir, dirigir ou governar. Administração, do latim
administratio, tem aplicação específica: administrar um bem, um negócio ou uma área. Logo,
administração seria, a rigor, uma aplicação de gestão.
O uso atual do termo inglês management aproxima-se mais da idéia de gestão empresarial, ao
passo que administration (administração) refere-se principalmente à administração pública. Em
francês, há também essa diferença: gestion está mais associada à gestão de empresas;
administration diz mais respeito à administração pública.
No caso brasileiro, a gestão pressupõe algo mais abrangente. Gestão empresarial compreende
pensar no conjunto da gestão da empresa. “Administração” tem um sentido mais específico, de
atenção a determinado aspecto da produção ou do trabalho.
A palavra gestor, assim, relaciona-se com o cargo máximo de uma organização (às vezes, é usada
para identificar o proprietário). Já o administrador é o profissional, técnico, analista ou gerente
assalariado da empresa (Nogueira, 2007, p. 30).
O mesmo autor justifica que na era contemporânea, em decorrência das transformações no mundo do trabalho e das organizações, a tarefa do gestor é identificada muito com
a do(a) administrador(a), o que não leva a distingui-los com tanta rigidez.
33
EaD
Marivane da Silva
Noção de racionalidade
Existe uma distinção entre a
racionalidade – racionalidade
funcional ou instrumental x
racional substantiva, respectivamente, é o processo
organizacional que visa
alcançar objetivos prefixados,
ou seja, é uma razão com
relação a fins na qual vai
predominar a
instrumentalização da ação
social dentro das organizações, predomínio centrado na
formalização mecanicista das
relações sociais em que a
divisão do trabalho é o
imperativo; enquanto que a
substantiva preconiza a ação
racional com relação a fins.
Tendo a inserção da
racionalidade comunicativa que
promove uma mediação por
meio do dialogo entre os
agentes sociais do processo
(Tenório, 2002, p. 36).
Em sua teorização ele explicita que a administração está
relacionada com a modernidade que conecta as pessoas (com seus
sonhos e paixões) ao mundo real, na medida em que verifica as
condições econômicas, sociais e políticas da existência e auxilia
na realização destes sonhos e paixões coletivas; também percebe
que a gestão está em todos os lugares.
Nogueira (2007, p. 31) ainda afirma que o fundamento da
gestão ou da administração “é a noção de racionalidade, isto é,
o uso da inteligência, da razão, para encontrar os meios mais
adequados com vista à realização de resultados. (...) Não há gestão sem administração e vice-versa”.
Nesse sentido, o autor ressalta que é preciso preocupar-se
em formar um profissional com um perfil
(...) voltado para o futuro, atento às mudanças, tem de estar capacitado a aprender, pesquisar e investigar, articulando os conhecimentos adquiridos na escola com aqueles exigidos nas organizações. (...) oferecer não respostas prontas, mas questões que, exigindo pesquisa e reflexão, levem o estudante a encontrar soluções
com criatividade (p. 17).
Em termos práticos, a Administração é uma área aplicada
na busca de resultados concretos que visem à melhoria de gestão, fundamentada no compromisso com as pessoas, o trabalho,
o desenvolvimento nacional e a preocupação com o ambiente.
Sendo assim, vamos instigar você a pesquisar, refletir e analisar o
que é “gestão para o desenvolvimento”, ou seja, considerando os
desafios da profissão, do trabalho, das organizações e da sociedade do século XXI, o que faz o profissional bacharel em Administração?
34
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Seção 1.4
Desenvolvimento: uma concepção em construção
Sugestão de leitura:
Você deve estar se questionando: o que o desenvolvimento
tem a ver com a Administração? É uma preocupação da Admi-
FURTADO, Celso. A fantasia
organizada. Rio de Janeiro: Ed
Paz e Terra, 1985.
nistração pensar e se envolver com a problemática do desenvolvimento?
São questões sobre as quais todos nós, estudiosos da Administração, estamos a refletir, dado que o desenvolvimento é uma
preocupação de todas as áreas do conhecimento, mesmo que seja
algo como pano de fundo do seu grande arsenal teórico e prático.
Se analisarmos as referências bibliográficas disponíveis para
o estudo da gestão vamos nos deparar com a constatação de que
grande parte das contribuições são norte-americanas e que poucas obras têm foco na realidade brasileira. Se no estudo da gestão nos deparamos com esta carência, no que se refere ao estudo
da Administração encontramos uma dificuldade ainda maior em
encontrar literatura que faça correlação direta desta com o foco
no desenvolvimento.
Nesse sentido, informamos e orientamos ao estudo da obra
de Nogueira, que está nas referências, posto que representa uma
inovação pela sua sistematização de importantes contribuições
teóricas e empíricas da Academia Brasileira de Administração,
seja pela forma de expressão ou pela reflexão que incorpora aos
paradigmas apresentados a preocupação da gestão para o desenvolvimento sustentável.
Tendo a compreensão de que desenvolvimento não significa apenas crescimento econômico, mas uma sinergia entre os
outros fatores da sociedade, principalmente os sociais e os
ambientais, ainda não foi possível construir um conceito universal e definitivo de desenvolvimento, por isso ele ainda é visto como
algo em construção e que exige estudo.
35
EaD
Marivane da Silva
É preciso, porém, compreender o desenvolvimento para além da questão terminológica,
dando amplitude aos estudos e interpretações, bem como ter a perspectiva clara que Amartya
Sen (2000) apresenta em sua obra quando considera as liberdades substantivas das pessoas
e os modos e meios de promovê-las como expansão do “papel constitutivo” e do “papel
instrumental” da liberdade.
Em outras palavras, significa considerar o desenvolvimento para além da análise de
produto interno bruto e renda, ampliando esse entendimento para a busca constante ao
problema da desigualdade, da significação que as pessoas dão a sua dignidade humana, da
ética, da moralidade, da credibilidade, e pensar em qualidade de vida. As pessoas precisam
se conscientizar da necessidade de agirem como atores sociais, participantes ativos dessa
mudança, e vistos como agentes do processo de atendimento às necessidades humanas, ou
seja, da expansão da liberdade como desenvolvimento que deveria ser uma bandeira natural
de todos os administradores ao gerir uma organização.
Muitos autores optam por adjetivar o conceito, como é o caso de Nogueira (2007),
que deixa clara uma preocupação da gestão voltada ao desenvolvimento sustentável da
sociedade, a responsabilidade social das empresas e o cuidado com o meio ambiente, em
nome das gerações futuras. Afinal, jovens universitários, qual é o papel da gestão para um
desenvolvimento sustentável? Arrisque-se e anote sua opinião. Mais tarde, quando estivermos mais avançados no estudo desse tema, será muito interessante voltar aos seus apontamentos e constatar o que mudou e o que se transformou seu conceito!
O objetivo é estimular essa discussão e inspirar novos parâmetros para análise, pesquisa e aplicações práticas a Administração.
SÍNTESE DA UNIDADE 1
Ao concluir os estudos da Unidade 1 você deve ter claro que há uma
distinção entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e
Estudos Organizacionais, cuja explicação está no objeto de estudo.
As organizações permeiam nossas vidas de modo que na sociedade
são elas que executam quase todas as atividades, vistas como sistemas abertos, e podendo ser formais ou informais.
Também poderá compreender que não há distinção clara entre
Administração e Gestão. Administração é do campo de estudos das
Ciências Sociais, entendida como ciência, arte e profissão.
Considerando os desafios da profissão do(a) administrador(a) cabe
a preocupação da gestão para o desenvolvimento sustentável.
36
EaD
Unidade 2
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
BREVE HISTÓRICO DOS PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO
OBJETIVO DESTA UNIDADE
• Conhecer as concepções de paradigmas, a nova possibilidade de análise dos paradigmas
de Administração, bem como estudar as Escolas de Administração e as categorias de
análise.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 2.1 – Concepções de Paradigmas
Seção 2.2 – Um Novo Olhar Para a Teorização da Administração: paradigmas de administração
Seção 2.3 – Escolas de Administração e Categorias de Análise
Após a leitura e reflexão desta Unidade, você deverá estar capacitado a entender uma
nova visão multidisciplinar dos estudos organizacionais.
Antes de qualquer coisa você precisa conhecer, entender e se permitir tentar construir
a sua concepção do que seja paradigma. Desta forma, vamos ao estudo da primeira seção
desta Unidade 2.
37
EaD
Marivane da Silva
Seção 2.1
Concepções de Paradigmas
Iniciaremos esta seção com uma pergunta: O que você entende por paradigma? Reflita
sobre suas concepções e faça anotações sobre seu entendimento.
Você tem dúvidas se seu entendimento é correto? Não se preocupe, pois vamos ajudar
você nesta descoberta!
Muito se ouve falar: “é necessário quebrar paradigmas”; “trata-se de um paradigma”,
“é uma mudança de paradigma”, mas afinal, o que é um paradigma?
“Paradigma é uma forma de ver o mundo. É um padrão. Ele informa às pessoas como
analisar e interpretar fatos, eventos ou determinadas situações” (Araújo, 2001, p. 45).
Vários professores, de diversas universidades nacionais e internacionais, aprofundam
suas pesquisas, reflexões e compreensões sobre os paradigmas e Godoi, Mello e Silva (2006)
sintetizam apresentando suas percepções sobre os paradigmas. Vamos resgatar algumas idéias
que consideramos pertinentes ao seu conhecimento geral e específico.
Parece incipiente este discurso, em razão de que você ainda é iniciante nos estudos
organizacionais, mas também não podemos deixá-lo de fora de um contexto extremamente
recente e atual. O objetivo deste resgate é meramente contextual, para entender as mudanças que ocorreram, ao longo dos séculos, para se pensar o paradigma.
38
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Nesse contexto, inicialmente apresentamos as bases teóricas que revelam a trajetória
evolutiva da concepção de paradigma:
(...) nas ciências sociais as ideologias, as teorias mais duradouras e os “paradigmas” têm sido
associados às obras dos clássicos, como Marx (marxismo), Weber (weberianismo) e Durkheim
(funcionalismo, positivismo); diversas escolas, como a de Frankfurt ou a de Chicago, são tomadas eventualmente como paradigmas ou fonte de referencial teórico-metodológico (Godoi; Mello;
Silva, 2006, p. 18-19).
As obras clássicas referenciadas não poderiam deixar de ser sugeridas para estudo e,
se possível, orientadas como uma leitura obrigatória aos estudiosos da Administração. São
as bases de todas as fundamentações construídas ao longo dos tempos.
Paradigma é a visão de mundo, ou seja, a forma como a realidade social é percebida,
sobre a influência do paradigma filosófico adotado, seja ele:
1) FUNCIONALISTA – a realidade é concreta – objetiva; ou
2) INTERPRETATIVISTA – a realidade é subjetiva; ou
3) MARXISTA – a realidade é histórica.
É importante destacar que ao estudarmos “paradigmas”, encontramos em muitas referências bibliográficas de teorias organizacionais ou estudos organizacionais, como a grande referência ao tema a concepção de Thomas Kuhn, como linha de pensamento da
racionalidade científica.
Godoi, Mello e Silva (2006), no entanto, chamam a atenção para o fato de que, na
verdade, ele não reconheceu a existência de paradigmas no campo das Ciências Sociais,
apenas para as Ciências Naturais e por isso sua concepção é considerada pelos teóricos de
Administração como em seu estágio imaturo ou pré-paradigmático. Com base neste fato
reexaminaram o conceito proposto por Kuhn e desaconselham sua utilização no campo dos
estudos organizacionais.
39
EaD
Marivane da Silva
Pré-paradigmático
Anterior ao paradigma
conceitual proposto pela
modernidade.
O conceito de Kuhn sobre paradigma apresenta-se como
sendo o fornecedor dos fundamentos para a prática de muitas
ciências; “de prover modelos, não somente para identificação de
problemas, mas também de sua resolução” (Araújo, 2001, p. 45).
É a visão de que o conhecimento do mundo evolui no tempo de
forma cumulativa, gradual e linear; que propicia limites, padrões,
e permite dar coerência e relevância a um fenômeno.
Considerando que Godoi, Mello e Silva (2006, p. 31)
reelaboraram o conceito de Kuhn, apresentamos uma nova compreensão de paradigma:
Paradigma é uma constelação de crenças, valores e técnicas compartilhadas pelos membros de uma determinada comunidade científica.
Ou melhor:
Paradi gma po de se r e mpre gado num s e nti do mai s
globalizante, abarcando todos os esforços compartilhados
por uma dada comunidade científica; ou num sentido que
isola um conjunto mais específico de esforços, que se torna
um subconjunto do primeiro.
Morin (1991, apud Godoi; Mello; Silva, 2006, p. 36) critica
e revisa o conceito de paradigma proposto por Thomas Kuhn, de
maneira a reafirmar que “os sistemas de idéias são radicalmente
organizados em virtude dos paradigmas”, ou seja, propõe uma
nova linha de pensamento – chamada pensamento complexo.
Assim, entende que:
40
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Paradigma da complexidade
“[...] os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo os
paradigmas internalizados em suas culturas” (Godoi; Mello;
Silva, 2006, p. 36).
Trata-se de um ir-e-vir constante entre certezas e incertezas, entre o elementar e o global, entre o separável e o inseparável,
entendido posteriormente como o paradigma da complexidade.
Defende que a lógica que
percebe o mundo é passível de
ser estudada sob a perspectiva
da construção de certezas,
herdada da construção de
certezas, da tradição
cartesiana, que busca explicações racionais para os
fenômenos naturais e sociais, a
partir de sua complexidade que
envolve incerteza,
indeterminação e subjetividade
como critérios (Neto, 2001).
Na tentativa de compreender melhor a relação entre as teorias organizacionais e o paradigma da complexidade buscamos a
contribuição de três autores – Guerreiro Ramos, Edgar Morin e
Gareth Morgan. Vamos fazer um recorte dos principais discursos
para que você possa analisar o processo evolutivo das concep-
Epistemologia
Que estuda a origem, a
estrutura, os métodos e a
validade do conhecimento; que
se refere às bases que
sustentam o conhecimento
acerca do objeto de estudo.
ções de paradigmas.
Guerreiro Ramos (citado em Godoi; Mello; Silva, 2006), um
sociólogo brasileiro, em sua obra A nova ciência das organizações (1981) considera que a teoria organizacional dominante não desenvolveu a capacidade analítica necessária
ao exame crítico de seus alicerces epistemológicos e teóricos. Em sua opinião, as organizações são ao mesmo tempo
sistemas cognitivos, sistemas epistemológicos e cenários
sociais. Elas têm sido interpretadas, predominantemente,
como sistemas fundados na razão instrumental, no contexto de sociedades centradas na regulação do mercado (explicados na seção 2.3, quando abordamos o modelo de análise proposto por Reed (1998, apud Clegg; Hardy; Nord,
1998).
No seu entendimento, os cenários sociais desenhados sem
inclusão de considerações substantivas acabam deformando a linguagem e os conceitos mediante os quais a realida41
EaD
Racionalidade substantiva
É a percepção individualracional da interação de fatos
em determinado momento.O
ator social dentro da organização deveria desenvolver suas
relações de forma a produzir
segundo a sua maneira
particular de perceber a ação
racional com relação a fins
(Tenório, 2002, p. 33).
Marivane da Silva
de é aprendida, assim como demonstra ser incapaz de analisar a teoria organizacional diante da complexidade dos
sistemas sociais organizados.
Reed propõe um novo paradigma em que o cerne está na
noção de delimitação organizacional, evidenciando a “diversidade na unidade das formas organizacionais”, que designam atividades criativas, automotivadas, autônomas e
gratificantes, numa perspectiva de racionalidade substantiva, que envolve:
(a) uma visão da sociedade como uma variedade de enclaves
(dos quais o mercado é apenas um), na qual o homem se
empenha em tipos diferentes de atividades substantivas;
(b) um sistema de governo social capaz de formular e
implementar as políticas e decisões distributivas requeridas
para a promoção do tipo ótimo de transações entre tais
enclaves sociais.
Morin, por sua vez, procura mostrar seu modelo como unidade na diversidade de pensar o fenômeno organizacional,
as interações e retroações entre ordem, desordem e reorganização, visando à emancipação ou auto-realização humana,
numa sociedade também multicêntrica, em equilíbrio dinâmico e coevolutivo com as demais espécies de ecossistemas.
Sintetizando: seu objetivo é compreender as formas
organizacionais constituídas pelas sociedades humanas em
seu conjunto e contexto (sociedade, indivíduo, espécie).
Cabe esclarecer que razão substantiva e pensamento complexo condensam aspectos éticos, críticos, científicos e políticos, embora não redutíveis uns aos outros.
42
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Perspectiva funcionalista
A abordagem que busca a complementaridade entre a teoria da delimitação de sistemas sociais (Ramos, 1981) e o
paradigma da complexidade (Morin, 2003) apresenta proximidade com a obra de Morgan (1996), que faz uma critica multifacetada às idéias predominantes nos estudos
organizacionais.
Considera a organização como
entidade única na qual os
membros buscam atingir
objetivos e interesses comuns,
visando atingir a eficiência e a
eficácia organizacional. Morgan
(1996) enfatiza que a perspectiva funcionalista tem sido a
criação e elaboração de uma
linguagem que crie e sustente
um sistema de valores que
prega a concepção de objetividade.
Morgan, na obra Imagens na Organização (1996), critica a
construção da teoria organizacional por ter sido dominada
pelas perspectivas funcionalistas, segundo as quais as organizações são concebidas como máquinas ou organismos
vivos. Desta forma, apresenta novos campos de visão ao
Metáforas
São artifícios para embelezar o
discurso, mas seu significado
implica um modo de pensar e
uma forma de ver que permeia
a maneira pela qual entendemos nosso mundo em geral
(Morin, 1996, p. 16).
conceber organizações simultaneamente como máquinas,
organismos, culturas, cérebros, sistemas políticos, prisões
Saiba mais:
psíquicas, fluxo e transformação e instrumentos de dominação.
Este autor apresenta sua concepção através de imagens ou
metáforas, que são “teorias” ou “arcabouços conceituais”,
e “a prática não está nunca livre da teoria, uma vez que se
encontra sempre orientada por uma imagem ou por aquilo
que está tentando fazer ”. Defende a posição de que a realidade é, ao mesmo tempo, subjetiva e objetiva; e procura
compreender a complexidade das organizações produtivas
como unidades nucleares das sociedades, mesmo que paradoxais e multidimensionais (Godoi; Mello; Silva, 2006, p.
42-47).
Complementando os conceitos já apresentados Boog afirma que:
Kuhn, T. A estrutura das
revoluções científicas. 5. ed.
São Paulo: Perspectiva, 1970.
Ramos, A. G. A nova ciência
das organizações: uma
reconceituação da riqueza das
nações. Rio de Janeiro: FGV,
1981.
Morin, E. A inteligência da
complexidade. 3. ed. São
Paulo: Peirópolis, 2004.
Morin, E. Introdução ao
pensamento complexo. 4. ed.
Lisboa: Instituto Piaget, 2003.
Morgan, Gareth. Imagens da
Organização. São Paulo: Atlas,
1996.
Silva, A. B.; Rebelo, L. A
emergência do pensamento
nas organizações. Revista de
Administração Pública, Rio de
Janeiro, v. 37 (4), p. 777-796,
jul./ago. 2003. Disponível em:
<http://www.ebape.fgv.br/
academico/asp/
dsp_rap_resumos.asp?cd_artigo=2289>.
Acesso em: 7 jan. 2009.
43
EaD
Marivane da Silva
Paradigmas são referenciais que usamos continuamente para balizar nossas decisões. Paradigmas
são “lentes” que condicionam a nossa visão de mundo, dando-lhe as suas cores e formas. Por
estarem tão incorporados ao nosso dia-a-dia, muitas vezes nem nos damos conta de que os
paradigmas existem e são tão determinantes em nossa forma de perceber o mundo. Os paradigmas
são, num certo sentido, altamente positivos, pois trata-se de um referencial que nos ajuda e nos
apoia. Por outro lado, ao definirem uma forma rígida de ver e perceber, podem nos causar uma
cegueira que nos impede enxergar o que não se ajusta aos pressupostos básicos (apud Heloani,
2003, p. 180).
Nogueira (2007, p. 103), por sua vez, assim se expressa:
Paradigma é um conceito que vem da Grécia antiga, onde significa “mostrar lado a lado”. O
filósofo Platão usava-o para designar a idéia de “modelo”. Esse conceito foi retomado e popularizado, nos anos 1970-1980, pelo físico, filósofo e historiador da ciência americana Thomas
Kuhn (1922-1996) no livro A estrutura das revoluções científicas (grifo do autor).
Vamos tentar objetivar os conceitos, para que você possa ter a exemplificação do que
estamos falando e perceber que a expressão “paradigma” está cada vez mais popularizada
no meio acadêmico da Administração.
A primeira Revolução Industrial teve como paradigma a máquina a vapor e suas modificações internas e externas; a segunda Revolução Industrial, o motor elétrico; e, a terceira, a tecnologia da informação.
Um paradigma administrativo é uma referência ou matriz de condutas que inclui as atividades
de planejamento, organização, execução e controle, as técnicas e os procedimentos aceitos e
adotados pelas empresas ao longo do tempo. Às vezes, o paradigma administrativo permanece
como dogma e obstáculo ao desenvolvimento de novos conhecimentos e práticas, apenas para
manter o poder e o controle de um grupo (Nogueira, 2007, p. 104).
Motta (2001, p. 59) explica em sua obra “Transformação organizacional: a teoria e
a prática de inovar ” que “administração é tanto uma prática social e profissional quanto
um campo de conhecimento com intenções científicas”; ou seja, está centrada na dimensão científica da gestão, apesar de ser útil mostrar como a teoria e a prática se interligam.
44
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Na perspectiva prática, o conhecimento da gestão se valida pela aplicabilidade. Porém, os produtores da teoria só a validam pelo consenso obtido junto à comunidade científica. Nesta perspectiva se valorizam instrumentos de inovação; preocupam-se com atitudes, intenções, comportamentos e significados individuais e coletivos em relação a projetos específicos. A prática ensina a conciliar os interesses e significados da mudança tendo em vista o impacto futuro.
Na perspectiva teórica, procura-se compreender a organização em seu todo e como parte de uma
estrutura social maior; buscar causalidades, inter-relações sociais, institucionais e significados
capazes de formar uma coerência de pensamento sobre um objeto de análise.
Pela teoria se aprende uma nova maneira de pensar, de ver o mundo e de acreditar na mudança.
Todos os paradigmas revelam a tensão entre teoria e prática. (Motta, 2001, p. 60).
A prática da gerência não é uma atividade isolada da formação do conhecimento;
possui formas de sistematização, explicação, compreensão e reprodução para outras realidades, ou seja, é possível afirmar: “a experiência prática pode ser uma valiosa experiência
teórica” (p. 61).
A construção teórica é social e influenciada por fatos, experiências e demandas das
organizações que formam a sociedade. Como estudamos na Unidade 1, estas organizações
são constituídas de três elementos básicos: técnicos e administrativos; psicológicos, pessoais e sociais; e contextuais, que informam a razão da existência da organização na sociedade. “A ênfase em um ou em outro conjunto de elementos caracteriza o paradigma ou matriz
disciplinar de uma organização, que se refere aos padrões desejados de ação e de resultado
(Nogueira, 2007, p. 105).
Os elementos constituintes da organização são compostos de subsistemas ou
subelementos – em que cada um deles, impacta na funcionalidade integrada do sistema –,
conforme ilustrado na Figura 1.
45
EaD
Marivane da Silva
Técnico-Administrativo
Recursos materiais,
planejamento, objetivos,
regras e processos
(capacidade de produzir
resultados).
Subelementos
Econômico-socialpolítico e o mercado
(no qual a organização é
reconhecida e realiza seus
objetivos)
Social
Membros da organização;
valores, cultura e
comportamentos,
com atribuições de execução,
coordenação e planejamento
(eficiência real e resultados
concretos) Liderança e
comunicação.
Figura 1: Elementos básicos de uma organização
Fonte: Nogueira (2007, p. 105).
Para além de seus elementos é essencial conhecer os modelos de gestão adotados por
estas organizações considerando sua época e contexto.
O conjunto de expressões “taylorismo, fordismo, fayolismo, humanismo, modelo burocrático ou orgânico, abordagem sociotécnica, abordagem estratégica, qualidade e participação, toyotismo ou modelo japonês, reestruturação flexível...”, com as quais você irá se
deparar ao ler este Livro-Texto ou na seqüência de seus estudos; representam componentes
de formação de paradigmas na Administração, ou seja, “um conjunto de esforços, métodos
e técnicas, princípios e valores, teorias e práticas, doutrinas ou modelos de ação que marcam uma contribuição no campo da gestão” (Nogueira, 2007, p. 105).
Sendo assim, vamos avançando em nossas contribuições, fazendo um breve histórico
dos paradigmas em Administração, num período que vai do início até a primeira metade do
século 20, em que ocorrem a consolidação e o declínio da segunda Revolução Industrial.
Já os paradigmas contemporâneos se desenvolveram na segunda metade do século 20
até final do século, e no início do século 21, em que se verificam a emergência e a consolidação da terceira Revolução Industrial, que foi mais uma revolução tecnológica (informática,
telecomunicações e robótica).
46
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Antes de apresentarmos o quadro dos paradigmas em Administração, entendo pertinente ilustrar para você o quadro da evolução dos paradigmas considerando a fonte de
riqueza, o tipo de organização e os princípios utilizados para o seu desenvolvimento, conforme Quadro 1.
ERA
FONTES DE
RIQUEZA
TIPO DE
ORGANIZAÇÃO
PRÍNCIPIOS
CONCEITUAIS
AGRICULTURA
ARTESANATO
INDUSTRIALIZAÇÃO
INFORMAÇÃO
Terra
Trabalho
Capital
Conhecimento
Feudal
Propriedade
Burocracia
Improvisão
Ausência de
métodos
Desperdícios
Despreparo
Divisão do
trabalho
Especialização
Método de
trabalho
Pagto por
tarefas
Confinamento
Divisão da
administração
Separação gerência/
Propriedade
Separação
pensar/fazer
Unidade de comando
Hierarquia
Comunicação
vertical/ formal
Redes humanas
virtuais
Cadeia
horizontal
Processos
interativos
Equipes virtuais
focalizadas por
tarefas
Comunicação
lateral
Trabalho como
diálogo
Complexidade e
mudança
Quadro 1: Evolução dos paradigmas considerando era, riqueza e organização
Fonte: Nuniz; Faria (2007, p. 9).
Vicente (2004, p. 1) reforça a passagem de um paradigma para outro e o importante
impacto da Revolução Industrial para a administração e a gestão:
Até o final da Idade Média, o paradigma da produção de bens era a produção artesanal, com
produtos feitos sob encomenda por artesãos qualificados, conhecedores de todo o processo produtivo. Muita variedade, baixíssimo volume. Os produtos eram sempre distintos, mesmo que o
artesão desejasse fazer um par de itens iguais. A partir da revolução industrial, a produção em
massa foi se consolidando, alterando pouco a pouco os pressupostos sobre como produzir.
Agora, por meio da linha temporal, vamos apresentar as teorias da Administração e
permitir que você conheça a época de cada uma delas (Quadro 2).
47
EaD
Marivane da Silva
Anos
Teorias Administrativas
1903
Administração Científica*
1909
Teoria Burocrática*
1916
Administração Clássica*
1932
Teoria de Relações Humanas
1947
Teoria Estruturalista*
1951
Teoria de Sistema
1953
Abordagem Sociotécnica
1954
Teoria Neoclássica
1957
Teoria Comportamental
1962
Desenvolvimento Organizacional
1972
Teoria Contingencial
1980
Novos Paradigmas
Quadro 2: Linha temporal das Teorias da Administração
Fonte: Muniz; Faria (2007, p. 10).
(*) Teorias que serão foco de estudo no componente curricular Estudos Organizacionais:
abordagem estrutural
O estudo dos paradigmas da Administração ajuda a compreender os processos
fundamentais, o funcionamento das organizações, o ambiente organizacional e as decisões de Administração nos diferentes momentos, contemplando sempre o contexto e
a época. Cabe destacar que os paradigmas de Administração também podem ser divididos em “subparadigmas”, uma vez que compreendem diversos pressupostos para atender e realizar cada uma das funções básicas da organização (a serem estudadas na
Unidade 3).
Assim sendo, vamos aprofundar nossas investigações bibliográficas sobre os
paradigmas de Administração – uma “nova forma de ver o mundo” da Administração na
seção 2.2.
48
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Seção 2.2
Um Novo Olhar Para a Teorização da Administração:
paradigmas de administração
Esta seção tem o propósito de apresentar uma maneira diferente de estudar a Administração, ou seja, por meio dos paradigmas da Administração é possível reconstruir a história
da Administração e resgatar seus fundamentos principais, dividindo-os em dois grandes
blocos:
a) paradigmas formadores da administração;
b) paradigmas contemporâneos da Administração, que são apresentados no Quadro 3, como
parâmetros para a formação do conhecimento administrativo.
Paradigma técnicoadministrativo
Paradigmas
formadores da
administração
Paradigma humanista e
comportamental
Paradigma
organizacional
Paradigma sistêmico e
estratégico
Paradigmas
contemporâneos
da administração
Paradigma da qualidade
e da participação
Paradigma da
reestruturação flexível
aprendizagem e
conhecimento
Composto pe las contribuições de Taylor, Ford,
Fayol e Weber.
Formado pelas contribuições iniciais de Elton Mayo
e pelas abordagens psicológicas e sociais que
influenciam as noções de motivação e liderança.
Constituído pelas teorias e pelo estudo do poder,
das modalidades e da dinâmica das organizações.
Composto pela teoria dos sistemas, pela
administração estratégica e pela abordagem
sociotécnica.
Formado pela administração da qualidade total,
pela administração participativa e pelo modelo
japonês de administração, que sintetizou de forma
eficaz as duas noções no que se refere a
resultados operacionais para o mundo global dos
negócios.
Originado fundamentalmente da extensão do
modelo japonês para o mundo por meio da
reestruturação produtiva, da busca da flexibilidade
organizacional e da competitiv idade como diretriz
estratégica.
Quadro 3: Paradigmas da administração
Fonte: Nogueira (2007, p. 106).
A partir de agora vamos tentar explicar cada um dos paradigmas destacados por Nogueira (2007, p. 106), a saber:
49
EaD
Marivane da Silva
a) Ênfase nos aspectos técnicos e administrativos (meios de produção, sistemas de controle, metas e objetivos, eficiência e produtividade, etc), que remete às premissas econômicas, técnicas e racionais de seus fundadores no início do século 20.
b) Ênfase no entendimento da organização no contexto social, econômico e político do
pós-guerra (2ª Guerra Mundial), que discute e complementa os paradigmas anteriores.
Constitui o momento de maior estruturação e burocratização das organizações das sociedades capitalistas e das sociedades socialistas em expansão.
c) Ênfase nos elementos psicológicos, pessoais e sociais (como comportamentos, atitudes,
formas de relacionamento no trabalho, grupos informais, motivação e liderança), que
complementa o paradigma técnico-administrativo com experiências e propostas desenvolvidas a partir da década de 30 do século 20.
d) Ênfase nas mudanças estruturais e nos valores da sociedade – chamada de sociedade das
organizações. Neste contexto, a noção de homem organizacional ganha espaço na teoria
da Administração e o indesejável conflito de interesses dos paradigmas anteriores passa a
ser encarado como natural e administrável. O homem organizacional é aquele que tem
capacidade de formar uma visão múltipla e integrada das organizações e mostra habilidade
nos relacionamentos interno e externo das diversas modalidades de organização.
Com essas referências apresentadas, construiu-se uma visão relativamente consensual
do significado da Administração e da gestão. “Na teoria, são doutrinas e modelos gerados
para planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades empresariais e, na prática, maneiras de tomar decisões sobre recursos disponíveis a fim de atingir objetivos” (Nogueira, 2007,
p. 107).
É importante destacar que neste componente curricular não serão aprofundados os
estudos de todos os paradigmas apresentados no Quadro 3, porém neste momento é importante que você tenha uma visão sistêmica e global do que abrange o estudo dos
paradigmas da Administração. Sendo assim, vamos resumidamente dar a dimensão do
que trata cada um deles. O paradigma técnico-administrativo e organizacional será discutido na Unidade 3.
50
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
O primeiro momento da gestão relaciona-se com a transferência do conhecimento dos
trabalhadores sobre o processo de execução do trabalho e da produção para a instância da
gerência, dividindo, assim, as atividades de planejamento, organização, execução e controle. Esta foi a principal tarefa iniciada pelo taylorismo e desenvolvida pelo fordismo e fayolismo,
cujas contribuições formam um paradigma centrado no controle sobre o trabalho e sobre a
empresa para maximizar os resultados econômicos.
A administração das organizações tem como foco a recompensa econômica,
que se resume aos salários dos trabalhadores.
Com a formação do paradigma humanista, a ênfase desloca-se da recompensa material para a recompensa social e simbólica, sem significar uma ruptura com o paradigma técnico-administrativo. O trabalhador passa a ser visto como pessoa, com necessidades que incluem relações interpessoais, o sentir-se bem no grupo e o reconhecimento social.
A partir de então as escolas de gestão começam a responder de modo mais sofisticado
aos problemas do trabalho e das organizações na consecução de seus objetivos.
As abordagens estruturalistas, comportamentais e sistêmicas consideram que as pessoas são adaptáveis às empresas e às funções, ou seja, os objetivos individuais podem se
adaptar e compartilhar interesses pessoais com os objetivos organizacionais. Neste momento se admite que o conflito entre capital e trabalho existe, e passa a ser administrável, refletindo-se na proposta de recompensas mistas ao trabalhador: aspectos materiais, simbólicos
de reconhecimento, atitude e comportamento.
No âmbito dessa abordagem a “organização é o espaço da integração cooperativa e
sistêmica, aberta ao contexto externo, ou seja, ao mercado e à sociedade, que se tornam o
alvo e o problema da gestão” (Nogueira, 2007, p. 108).
O paradigma sistêmico e estratégico (pertencente ao bloco do paradigma contemporâneo) desenvolve parâmetros cuja finalidade é adaptar a empresa ao contexto externo em
que ela se insere. Entende que o subsistema social, composto pelas pessoas e por sua forma
51
EaD
Marivane da Silva
Escopo
É um conjunto de quesitos em
que se quer atuar, podendo
ser implícito (associado às
expectativas e desejos) ou
explícito, controlável pelos
processos, apoiado em
documentos (projeto).
de comportamento, deve integrar-se ao subsistema técnico, constituído pelos aspectos visíveis e identificáveis nas organizações,
como estrutura, máquinas e equipamentos, hierarquia e regras
explícitas.
Ou
Escopo: especificação do limite
dentro do qual os recursos de
sistema podem ser utilizados.
Este paradigma tem seu foco em obter a integração
funcional no contexto interno das empresas para garantir
seu desempenho no contexto externo do mercado e da
sociedade.
A teoria dos sistemas (paradigma sistêmico e estratégico)
entende a organização pela interação das partes componentes
dos subsistemas, como recursos humanos, produção, tecnologia,
finanças e marketing. Cada uma das partes deve contribuir para
o alcance do objetivo geral do sistema, que é criar uma relação
positiva com o contexto externo, ocorrendo sempre a avaliação e
o retorno de informações sobre o funcionamento do “sistema empresa” no “sistema mercado”, o que se chama de feedback.
Destacam-se, no paradigma sistêmico, as abordagens
sociotécnica, contingencial e estratégica, que, por sua importância, acabam por se definir como subparadigmas de gestão.
No paradigma contemporâneo as organizações tendem a
se descentralizar e a desenvolver mecanismos de participação, tornando suas formas de gerência e liderança mais consultivas e
democráticas e promovendo a formação de grupos de trabalho na
produção.
É neste momento que ocorre a passagem do paradigma técnico-administrativo (taylorista e fordista) para o paradigma
humanista e participativo, que amplia o escopo do trabalho.
52
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Se analisarmos os modelos de gestão dos americanos, europeus e japoneses teremos o registro das seguintes características, expressas no Quadro 4.
Enriquecimento
Americano
de
cargos
e
tarefas,
comportamento organizacional cooperativo e
sistema participativo.
Europeu
Formação de grupos semi-autônomos, cuja
experiência mais avançada foi o volvismo.
Toyotismo,
caracterizado pelos
grupos de
controle de qualidade e pela participação,
flexibilidade
Japonês
toyotismo
e
polivalência
preconiza
no
trabalho.
a organização
O
enxuta,
flexível e de qualidade, voltada para a demanda
Volvismo
Também se trata de um
modelo de produção, que se
assemelha a um cérebro e cria
ao mesmo tempo: a)
conectividade e redundância;
b) especialização e generalização. A organização é vista
como um sistema de
processamento de informações; um sistema holográfico
(consiste na reconstrução de
ondas, o que possibilita uma
espécie de fotografia inteira e
tridimensional – Crema, 1989)
e com capacidade de autoregulação. O objetivo do
modelo é dotar a organização
do máximo de flexibilidade e
capacidade de inovação. Deste
modelo surgiu a empresa
automobilística Volvo.
(o cliente), determinada pela introdução intensiva
das tecnologias microeletrônicas.
Quadro 4: Foco no modelo de gestão
Fonte: Elaborado com base em Nogueira (2007, p. 109).
Agora que você já te m uma vi são mai s ampla dos
paradigmas formadores e contemporâneos da Administração, vamos apresentar as contribuições de Fernando Prestes Motta para
identificar os paradigmas e os modos de gestão, a partir de cinco
categorias de análise teórica para delimitar os movimentos das
Toyotismo
É um sistema japonês de
gerenciamento do modelo da
indústria automobilística do
engenheiro japonês, dos anos
50, chamado Eiji Toyoda e de
seu especialista em produção,
Taichi Ohno. Neste sistema de
produção as mercadorias
deveriam ter um giro rápido,
eliminando estoques e adotando o conceito de produção
flexível. Desta forma foi que
nasceu a mais eficiente
empresa automobilística –
Toyota.
escolas de Administração, conforme a seção 2.3.
53
EaD
Marivane da Silva
Seção 2.3
Escolas de Administração e Categorias de Análise
As diversas escolas da Administração sustentadas pelas teorias que lhes proporcionam
a melhor base de apoio neste processo de entendimento e de aplicação da Administração
foram classificadas em cinco categorias de análise teórica (Quadro 5): a concepção da organização, as relações entre Administração e empregados, os sistemas de incentivos ou recompensas, a concepção da natureza humana e os resultados esperados.
E stas cate gorias foram defini das pelos enfoque s teóri cos e me todológi cos
caracterizadores das escolas de Administração:
a) enfoque prescritivo e normativo: os elementos da Administração são uma norma ou um
dever-ser;
b) enfoque explicativo: combina elementos para explicar os fenômenos organizacionais;
c) enfoque prescritivo e explicativo: leva em conta as mudanças tanto nos aspectos estruturais e objetivos quanto nos comportamentais e subjetivos.
Administração
Escolas
Científica e
Clássica
Foco/enfoque
Conceito
Organização
Relação
EmpresaTrabalhador
Incentivos e
Recompensas
Conceito de
Homem
Resultados
Prescritivo
Formal
Teoria
Relações
Burocrática
Humanas
Padronizada
Prescritivo
Formal
Informal
Identidade
Teoria
Estruturalismo
Comportamental
Sistemas
Explicativo
Misto
Cooperação
Explicativo
Teorias da
Contingência
Prescritivo e
Explicativo
Sistema
Situacional e
Aberto
variável
Conflito de
Identidade de
Mecanicista
Interesses
e normativa
Materiais
Materiais
Sociais
Mistos
Mistos
Mistos
Variáveis
Econômico
Burocrata
Social
Organizacional
Administrativo
Funcional
Situacional
Máximos
Máximos
Máximos
Máximos
Satisfatórios
Máximos
Variável
de
Interesses
Conflito
Explicativo
Inevitável
Conflito Inevitável
papéis
socais
Quadro 5: Escolas de administração e suas características
Fonte: Adaptado de Nogueira (2007, p. 111).
54
dos
Conflito
variável
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
No estudo dos paradigmas, das escolas e dos modos de Administração, é importante
realizar pesquisas sobre empresas específicas e, porque não, em empresas em que você está
inserido, focando estudos de caso – para identificar como operam nos contextos internos e
externos. É relevante para a construção de seu conhecimento a prática reflexiva de um caso
prático, tendo como base o instrumento do Quadro 6. Faça a escolha de uma organização e
tente sistematizar essa análise.
Estudo de Caso
O que observar na organização?
Práticas organizacionais formais e informais.
Estruturas e regras.
MODOS DE GESTÃO – PARADIGMAS
Cargos e a hierarquia.
Divisão do trabalho.
Modos de recompensa e de motivação.
Contexto Interno
Visão sobre as pessoas.
(voltada para si)
Valorização do trabalho.
Estilo de trabalho da empresa – políticas organizacionais
relativas ao corpo social, ao meio técnico e à tecnologia.
Formas de condução, direção e liderança.
Modos de controlar os processos, de tomar decisões e de
avaliar os resultados.
Instalações físicas, pelos produtos e/ou serviços e pelo
relacionamento
Contexto Externo
com
consumidores,
fornecedores,
sindicatos, governo e comunidade.
Identificação do papel econômico e social da organização na
sociedade e no mercado.
Quadro 6: Esquema para realização de estudo de caso em organização
Fonte: Construído a partir de Nogueira (2007, p. 112).
Da mesma forma, é importante ter claro que não existe uma única forma de estudar e
analisar os paradigmas da Administração. Por exemplo, iniciamos os estudos focalizando a
lógica de Nogueira (2007), mas poderíamos adotar as percepções mais críticas e complexas
propostas por Reed (apud Clegg; Hardy; Nord, 1998) e Morgan (1996). Apesar de não nos
aprofundarmos no estudo destas propostas, iremos apresentar uma síntese de cada uma delas
para que você possa ampliar suas possibilidades de leitura teórica dos estudos organizacionais.
55
EaD
Marivane da Silva
Dialética
É a arte de raciocinar; lógica;
arte de argumentar ou discutir;
argumentação dialogada.
Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/
definir_resultados.aspx>.
Acesso em: 10 jan. 2009.
Reed (apud Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 66) em sua proposta revela os conflitos históricos em que a análise organizacional
se desenvolveu – um campo deve ser mapeado e atravessado levando-se em consideração as inter-relações entre os fatores processuais e contextuais em torno dos quais a área emergiu, desenvolvendo uma relação dialética com processos históricos e sociais,
como formas contestadas e pouco estruturadas de conceitualizar
e debater aspectos-chave da organização.
A discussão inicia-se a partir das metanarrativas ou narrativas analíticas estratégicas (Quadro 7), por meio das quais o
campo de estudos organizacionais é constituído enquanto prática intelectual dinâmica, permeada de controvérsias teóricas e
conflitos ideológicos em torno da questão de como a “organização” pode e deve ser. Este modelo de análise é bastante complexo
e atual.
Modelo de
metanarrativa
interpretativa
Problemática
principal
Racionalidade
Ordem
Integração
Consenso
Mercado
Liberdade
Poder
Dominação
Conhecimento
Controle
Justiça
Participação
Perspectivas ilustrativas/exemplos
Teoria das organizações clássicas,
administração científica, teoria da decisão,
Taylor, Fayol e Simon.
Relações humanas, neo-RH,
funcionalismo, teoria da
contingência/sistêmica, cultura corporativa,
Durkheim, Barnard, Mayo, Parsons.
Teoria da firma, economia institucional,
custos de transação, teoria da atuação,
dependência de recursos, ecologia
populacional, teoria organizacional liberal.
Weberianos neo-radicais, marxismo
crítico-estrutural, processo de trabalho,
teoria institucional, Weber e Marx.
Etnométodo, símbolo/cultura
organizacional, pós-estruturalista, pósfordista/moderno, Foucault, Garfinkel,
teoria do ator-rede.
Ética de negócios, moralidade, democracia
industrial, teoria participativa, teoria crítica,
Habermas.
Transições contextuais
De Estado guarda-noturno
a Estado industrial
De capitalismo empresarial
a capitalismo de bem-estar
De capitalismo gerencial a
capitalismo neoliberal
De coletivismo liberal a
corporativismo negociado
De industrialismo/
modernidade a pósindustrialismo/pósmodernidade
Da democracia repressiva
à democracia participativa
Quadro 7: Metanarrativas em análise organizacional, propostas por Reed (1993 apud Clegg; Hardy; Nord, 1998).
Fonte: Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 65.
56
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Para maiores estudos e orientações de aprofundamento teórico sugere-se a leitura da
obra Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais, de Clegg, Hardy e Nord, 1998, vol. 1.
A lógica das metáforas proposta e discutida por Morgan (1996), supõe que cada uma
delas não pode capturar a natureza total da vida organizacional e as referidas metáforas
são explicitadas resumidamente no Quadro 8.
Metáforas
Fundamentos de sua dimensão
Sua base é a racionalidade instrumental, utiliza concepções mecânicas
e o desenho organizacional é comparado à máquina. As pessoas são
valorizadas
Mecânica
pelas
habilidades
instrumentais.
Na
definição
das
características organizacionais dá ênfase aos conceitos de estrutura
formal e tecnologia. A organização é avaliada pela eficiência e visualizaa como um sistema fechado. Valoriza os objetivos operacionais
específicos e os princípios organizacionais, ou melhor, a maneira de
administrar.
As organizações são constituídas de partes mutuamente conectadas e
dependentes para compartilhar uma vida em comum. Seu foco está em
sua atividade vital, entendendo ser um sistema aberto, enfatizando as
relações organização/ambiente e a continuidade da vida organizacional.
Por ser considerada a organização uma entidade viva, compreende-se o
Orgânica
fluxo constante de mudança e interação com o ambiente. Enfatiza a
flexibilidade gerencial, a importância do uso e da aquisição de recursos
e a relevância do processo organizativo mais que o simples alcance dos
objetivos
organizacionais.
Valoriza
aspectos
contingenciais
na
Administração, com destaque à inovação como meio para atingir a
flexibilidade e garantir a sua sobrevivência. Preocupa-se com a ecologia
das organizações e com as relações interorganizacionais.
As organizações são sistemas de informações, que dependem do seu
processamento. Elas são vistas como cérebros processadores de
informações e ao mesmo tempo sistemas de comunicação e sistemas
de tomadas de decisão. Por meio do processamento de informações é
Cérebro
possível
compreender
as organizações e
identificar
as formas
organizacionais. Esta metáfora favorece o aprendizado organizacional e
a compreensão das capacidades de auto-organização; contribuições da
Administração estratégica para o aprender a aprender; utilização dos
meios para ir além da limitada racionalidade que caracteriza muitas
organizações.
57
EaD
Marivane da Silva
A organização é vista como o lugar onde residem idéias, valores,
normas, rituais e crenças que a sustentam como realidade socialmente
construída. O contexto cultural é decisivo na natureza das organizações
Cultural
e sua cultura delineia o seu caráter organizacional. Sua ênfase está no
significado simbólico ou em alguns aspectos racionais da vida
organizacional. Centraliza sua atenção no lado humano da organização
que outras metáforas ignoram ou encobrem e contribui para a
compreensão da mudança organizacional.
Uma organização política deve ser entendida como aquela que mensura
os conflitos existentes e as várias maneiras de manifestação de poder
consolidadas entre os grupos de interesses que a compõem. Fornece o
conhecimento necessário para que se avalie o comportamento humano
Política
na organização baseada em interesses, conflitos e poder. Ajuda a
aceitar a realidade da política como algo inevitável à vida organizacional,
bem como reconhece as tensões entre os interesses dos indivíduos, dos
grupos e das organizações, assim como reconhece as implicações
sociopolíticas dos diferentes tipos de organizações e dos papéis que
estas desempenham na sociedade.
É entendida como os aspectos inconscientes, afetivos, defensivos,
ameaçadores e individuais de cada um, entrelaçados com os
conscientes e racionais, de forma que, muitas vezes, os primeiros criam
“prisões” que influenciam diretamente as atividades e as direções das
organizações. Esta metáfora apresenta perspectivas para a exploração
do significado oculto dos nossos mundos tidos como verdadeiros.
Encorajam a conhecer o mundo do inconsciente e respectivo modelo de
Prisão
controle que aprisionam as pessoas e as empresas em modelos não
Psíquica
saudáveis. Alertando para a racionalização ocorrida em excesso nas
organizações e chama a atenção às bases éticas da organização ao
reforçar que esta é humana no sentido mais complexo. Incentiva lidar
com as relações de poder estabelecidas na vida organizacional e que
todos nós desempenhamos um papel na construção destas relações
inconscientes de poder e como este conhecimento pode ter um efeito
fortalecedor. Ajuda a identificar as barreiras existentes ao caminho da
inovação e da mudança.
58
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Significa compreender a lógica da mudança que dá forma à vida social.
Enfatiza como as organizações são sistemas autoprodutores, que se
criam nas suas próprias imagens. Propõe o entendimento da
transformação ou da evolução dos sistemas vivos como resultados de
mudanças geradas internamente. Enfatiza a maneira pela qual o sistema
global de interações acaba por moldar seu próprio futuro. A outra lógica
refere-se aos resultados de fluxos circulares de feedback positivo e
negativo. Necessidade de pensar a mudança como círculos e não linhas
Fluxo e da
e substitui a idéia da causalidade mecânica. A lógica seguinte sugere
transformação
que a mudança seja o produto de uma lógica dialética por meio da qual
todos os fenômenos tendem a gerar o seu oposto. Três princípios
dialéticos podem explicar a mudança: 1) processos de mudanças
autogerados, em que os fenômenos mudam a si próprios como
resultado de tensões ante seus opostos; 2) explica como a mudança
pode assumir um caráter de desenvolvimento, no sentido de que cada
negação rejeita uma forma anterior (cultura anterior); 3) processos de
mudança revolucionários em que um tipo de organização social dá lugar
a outro.
As organizações são vistas como instrumentos de dominação, visando a
satisfazer os interesses das elites a expensas da maioria. Há sempre um
elemento de dominação em todas as organizações. Enfatiza as ligações
Dominação
existentes entre organização, classe social e controle organizacional.
Esta metáfora questiona a ação racional e sugere ser a posse da
racionalidade um modo de dominação. Salienta a importância dos
valores e das premissas ideológicas na utilização de técnicas
organizacionais. Valoriza a ação social.
Quadro 8: Metáforas discutidas por Morgan
Fonte: Elaborado com base em Andrade; Amboni, 2007, p. 27-28.
Será que você não está curioso para saber qual das oito metáforas é foco central de
discussão deste componente curricular? Caso não tenha descoberto, informamos-lhes que
se trata da metáfora mecânica, em que as organizações são comparadas à máquinas. Para
ajudar na sua compreensão, sugerimos ver o filme: O nascimento da Ford, que possibilitará
analisar as características de um modelo extremamente mecânico.
59
EaD
Marivane da Silva
Com base neste resgate teórico vamos a partir deste momento focar a discussão sobre
o paradigma técnico-administrativo (Nogueira, 2007), deixando como pano de fundo para
reflexão – a metanarrativa da racionalidade (Reed, 1998) e a metáfora mecânica (Morgan,
1996). O objeto de estudo a partir de agora serão as contribuições do paradigma técnico e
administrativo, que serão apresentadas em detalhes na Unidade 3.
SÍNTESE DA UNIDADE 2
Como na Wikipédia está definido, paradigma é um modelo, é a representação de um padrão a ser seguido”, com um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o
estudo de um campo científico chamado de estudos organizacionais.
Nesta unidade foi estudado o paradigma com base filosófica
funcionalista que retrata uma realidade organizacional objetiva. Para
compreensão das bases teóricas é possível adotar vários modelos ou
paradigmas de Administração, dependendo do autor.
Nesta unidade apresentamos três possibilidades de análise do modelo teórico das Ciências Sociais para compreender o objeto em
estudo – AS ORGANIZAÇÕES: a) Nogueira (2007) com a apresentação dos paradigmas formadores da Administração e os
paradigmas contemporâneos da Administração; b) Reed (1998) pelo
modelo da metanarrativa interpretativa (racionalidade, integração,
mercado, poder, conhecimento e justiça); c) Morgan, pelas oito
metáforas (mecânica, orgânica, cérebro, cultural, política, prisão,
psíquica, fluxo e da transformação); focando a discussão ao modelo de Nogueira que apresenta a concepção do paradigma técnico-administrativo e organizacional.
Esta Unidade teve ainda o propósito de apresentar as concepções,
as possibilidades de construção de modelos de análise do paradigma
de Administração e as escolas de Administração e situá-lo para as
discussões das Unidades 3 e 4, que vêm a seguir.
60
EaD
Unidade 3
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
PARADIGMA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO
OBJETIVOS DESTA UNIDADE
• Conhecer as contribuições de Fayol, Taylor e Ford ao paradigma técnico-administrativo.
• Entender em que consiste o taylorismo, o fayolismo e o fordismo.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 3.1 – Taylorismo
Seção 3.2 – Fayolismo
Seção 3.3 – Fordismo e a Produção em Massa
O paradigma técnico-administrativo proposto por Nogueira (2007) será o foco de estudo desta Unidade, tendo como referência as principais contribuições e as figuras históricas – Taylor, Fayol e Ford.
Antes de descrevermos o que representa este paradigma, vamos por meio de Chanlat
(1999) ajudá-lo a relembrar o movimento histórico da evolução da Administração, cuja trajetória se sucedeu em três momentos:
a) do fim do século 19 até a 2ª Guerra Mundial, período em que, com a sistematização das
experiências e das técnicas desenvolvidas, “a gestão da empresa já não quer ser simplesmente uma arte técnica, mas aspira a transformar-se em uma ciência”;
61
EaD
Marivane da Silva
b) dos fins dos anos 40 até os anos 80, período que corresponde à era do management moderno, com a ascensão do modelo americano, envolvido por uma fase de consumo em
massa, crescimento das empresas e terceirização da economia; e,
c) a partir dos anos 80, quando se inicia a fase da gestão estratégica, período no qual tanto
a teoria quanto a forma de gestão se transformam continuamente, e as empresas precisam buscar eficácia em uma economia cada vez mais globalizada, tornando-se cada vez
mais competitivas, flexíveis e informatizadas.
Da mesma forma, lembramos de que estaremos estudando o primeiro momento da
história e com relação às escolas e aos paradigmas enquadrados pelos estudiosos da Administração, conforme estudado na Unidade 2, por meio da síntese no Quadro 1. O foco de
discussão desta Unidade, porém, está mais centrado na proposta de Nogueira.
ESCOLAS
Clássica – Teoria da Administração Científica, Clássica e da
Burocracia.
Paradigma formador da Administração chamado técnico-
Nogueira (2007)
administrativo, composto pelas contribuições de Taylor, Fayol,
Ford e Weber.
Morgan (1996)
Reed (1993) apud Clegg,
Hardy e Nord (1998)
Metáfora mecânica – as organizações vistas como máquinas –
racionalidade instrumental.
Metanarrativa da racionalidade e do poder.
Quadro 1: Foco de estudo
Fonte: Elaboração da autora.
Dando seqüência às explicações, podemos dizer que o “taylorismo”, “fayolismo” e
“fordismo” têm origem no início do século 20, nos trabalhos dos pioneiros que deram os
primeiros passos para a construção da denominada Teoria da Administração.
Observe que as três expressões em destaque estão associadas aos nomes das três figuras clássicas (Taylor, Fayol e Ford) do pensamento administrativo, acrescidos do sufixo “ismo”,
que indica movimento ou paradigma e integra os enfoques técnico-científico e administrati62
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
vo-burocrático, voltados à organização e ao controle racional do
Frederick Winslow Taylor
trabalho industrial e operacional, bem como para a administração geral das empresas. Um paradigma complementa o outro e
ajuda-nos a entender o pensamento racional do Ocidente.
(1856-1915), que desenvolveu
a Administração Científica.
Vimos na Unidade 2 que para compor um paradigma é importante levar em conta uma realidade concreta, analisada sob
Imagem disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Frederick_Taylor.
Acesso em: 29 jan. 2009.
suas condições econômicas, sociais e políticas, às quais as organizações estão estruturadas, e de forma a permitir a aplicação das
Henry Fayol
idéias dos clássicos para fundamentar um conjunto de práticas
empresariais, que posteriormente foram sistematizadas (teorias) e
que hoje constituem-se a marca do nascimento da administração
(1841-1925), um dos fundadores da Escola Clássica.
técnica e científica, dando origem à figura do(a) administrador(a).
Imagem disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fayol.
Acesso em: 29 jan. 2009.
Da mesma forma, tais pensadores colocaram em prática a
noção de burocracia de Max Weber e aplicaram o racionalismo
Henry Ford
científico e experimental aos controles dos processos de produção e trabalho nas primeiras décadas do século 20.
Você sabe que mudanças ocorreram nesse período? Tratava-se de mudanças tecnológicas, com a introdução dos motores
elétricos, com exploração e o uso do petróleo e seus derivados e
com a expansão dos transportes e comunicações, entre outros
aspectos da segunda Revolução Industrial.
A formação do pensamento administrativo decorre de deter-
(1863–1947), que revolucionou
a gestão com a linha de montagem no processo de produção
de automóveis Ford Modelo T,
padronizados e baratos,
consolidando o processo de
produção em massa.
Imagem disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Henry_Ford.
Acesso em: 29 jan. 2009.
Max Weber
minada racionalidade econômica e financeira que envolve noções
de tempo, eficiência, organização, controle e produtividade, aplicadas aos aspectos da organização técnica e social das empresas.
É importante lembrar que a organização é constituída de
duas dimensões – objetiva e subjetiva –, que se distinguem entre
si pelos elementos apresentados na Figura 1.
(1864-1920) notabilizou-se
pela teoria da burocracia.
Imagem disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Max_weber.
Acesso em: 29 jan. 2009.
63
EaD
Marivane da Silva
Taylorismo ou
Administração científica
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/
Taylorismo.
Acesso em 3 dez. 2008.
Dimensão
Objetiva
(DO)
Técnicos, administrativos e econômicos – composto pela parte física e
material: máquinas, sistemas, produtos, registros e dinheiro – tanto
quanto por itens como regras, ordem, planejamento, objetivos, estrutura,
etc.
Formam a ESTRUTURA EXPLÍCITA, aparente e operacional, pela
qual a sociedade reconhece, identifica e dimensiona a empresa.
Dimensão
Subjetiva
(DS)
É o modelo de administração
desenvolvido pelo engenheiro
estadunidense Frederick
Winslow Taylor (1856-1915),
que é considerado o pai da
administração científica.
Caracteriza-se pela ênfase nas
tarefas, objetivando-se
aumentar a eficiência da
empresa aumentando-se a
eficiência ao nível operacional.
Elementos
Subordina-se a este processo a DS de uma organização, composta
pelo meio social (formado pelas pessoas que realizam o trabalho). Os
aspectos pessoais, comportamentais e sociais dessas dimensões são
simplificados por uma redução à noção de RECURSO ou FATOR DE
PRODUÇÃO, segundo a teoria econômica posta em prática pela
administração.
Os elementos da Dimensão OBJETIVA precedem os elementos da Dimensão
Subjetiva, que se referem às pessoas. O alerta e o ponto fraco do paradigma eram: as
pessoas eram vistas como instrumentos de produção para alcançar a eficiência para a
organização.
Figura 1: Dimensão preponderante no paradigma técnico-administrativo
Fonte: Elaborado com base em Nogueira (2007).
Depois de ter claro que existem duas dimensões do pensamento administrativo (objetivo e subjetivo) e que há prevalência
dos elementos técnicos e objetivos na Administração deste
paradigma, é possível afirmar que, este “defende a racionalização da produção, a divisão de tarefas em múltiplas etapas, a supervisão cerrada e a obediência hierárquica” (Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 14).
Este paradigma foca a racionalidade como variável funcional, ou seja, é um processo contingente, pressupõe um objetivo
preeestabelecido, concentrando a aplicação dos meios; enfatiza
o processo e ignora o conteúdo, e ainda, subordina os objetivos
humanos aos requisitos operacionais da sociedade, caracterizando-se pela racionalidade funcional ou instrumental.
Vamos agora aprofundar nossos estudos nas contribuições
clássicas do paradigma técnico-administrativo, de forma separada, a começar pelo taylorismo na Seção 3.1.
64
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Seção 3.1
Taylorismo
O cenário econômico daquela época era capitalista e industrial, marcado pelo avanço
da industrialização, fato que levou à preocupação com o aumento da eficiência econômica
e a redução dos desperdícios; é a razão principal da origem do modelo taylorista.
A contribuição de Taylor foi pensar na maximização da eficiência e da
produtividade por meio da racionalização e do controle de trabalho.
Imagino que você esteja se perguntando: Quem era Frederick Winslow Taylor? Qual sua
origem? Vou contar um pouco dele para você, tendo como fonte os dados de Silva (2002, p. 117):
Frederick Winslow Taylor nasceu na Filadélfia, Pensilvânia/Estados Unidos em 20 de março de
1856, de uma família Quaker, e teve uma educação básica rígida e disciplinada, com conhecimentos clássicos de francês e de alemão e viagens ocasionais pela Europa.
Aos 18 anos, apesar de aprovado nos exames de Harvard para o curso de Direito, Taylor resolveu
iniciar seu aprendizado como operário, numa pequena metalúrgica da Filadélfia, aí permanecendo por quatro anos.
Em 1878, Taylor mudou-se para a Midvale Steel Co., também na Filadélfia, como trabalhador
comum de uma indústria metalúrgica. Nesta empresa, Taylor passou de operário a engenheiro
chefe, em 1884, por ter-se graduado no Stevens Institute of Technology de Hoboken, New Jersey,
em 1883.
Seus doze anos na Midvale (1978-1889) serviram de base para as suas idéias sobre administração de oficinas. Sua personalidade era analisada como:
a) experimentador e pesquisador;
b) autor e divulgador dos seus experimentos;
c) formador de uma equipe e linha de pensamento.
Taylor revolucionou os processos tradicionais dos métodos de trabalho através da aplicação de
“métodos científicos” a muitas empresas norte-americanas. Ele não possuia treinamento em
Administração e se baseava somente nas suas investigações sobre o que deveria ser feito.
Faleceu em 21 de março de 1915.
65
EaD
Marivane da Silva
Agora que você já sabe um pouco do clássico da Administração, conhecido como o
“pai da Administração Científica”, vamos dar continuidade à exposição do que é este
paradigma!
Silva (2002) afirma que os estudos de Taylor se dividem em duas fases, cada uma
correspondendo à publicação de um livro:
1ª) Administração de Oficinas (1903), que tratava exclusivamente de técnicas de racionalização do trabalho do operário, por meio do estudo dos tempos e movimentos;
2ª) Princípios de Administração Científica (1911), apresentava os seus estudos sobre Administração geral, que denominou Administração Científica, sem deixar, contudo, a preocupação com relação às tarefas dos operários. Não se tratava apenas de um modo de administrar, mas de um desejo de universalização dos princípios e normas administrativas.
Na primeira obra Taylor relatou a experiência de análise e construção de técnicas para
racionalizaçaõ do trabalho. Com um cronômetro constatava quanto tempo era gasto na
realização de uma tarefa, como ela era feita e a que preço, o que serviu de base para redefinir
como o trabalho deveria ser realizado e medir a produtividade.
As conclusões finais de sua obra “Administração de Oficinas” sintetizam:
Objetivo de uma boa administração: pagar altos salários e ter baixos custos de produção;
Administraçâo: deveria aplicar métodos científicos de pesquisa e experimento, a fim de formular princípios e estabelecer processos de padronização para o controle das operações de produção;
Empregados: deveriam ser cientificamente colocados em postos em que os materiais e condições de trabalho também fossem cientificamente selecionados, para que as normas fossem cumpridas;
Alta direção: deveria desenvolver uma atmosfera de cooperação para com os trabalhadores, de
modo a garantir um ambiente de trabalho adequado (adaptado de Silva, 2002, p. 120).
A obra “Princípios de Administração Científica” sintetiza quatro princípios básicos e
sete secundários, conforme Chiavenato (1999, p. 39):
66
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Princípios básicos de Taylor:
1. Princípio do planejamento: substituir o trabalho individual do operário pelo trabalho em
conjunto (em série), a improvisão e a atuação empírico-prática por métodos baseados nos procedimentos científicos. Este princípio é de responsabilidade da gerência e o operário tem apenas o
papel de executor da tarefa.
2. Príncipio do preparo: selecionar cientificamente os trabalhadores e prepará-los e treiná-los
para produzirem mais e melhor, sendo esta uma incumbência da gerência.
3. Príncipio do controle: controlar o trabalho para se certificar de que ele está sendo executado
de acordo com as normas estabelecidas e segundo o plano previsto. O controle deve focalizar as
exceções ou desvios de padrões. A gerência deve verificar as ocorrências que se afastam dos
padrões para corrigi-las adequadamente.
4. Princípio da execução: distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades para
que a execução do trabalho seja a mais disciplinada possível.
Princípios secundários de Taylor:
1. Estudo de tempos e movimentos: para eliminar movimentos inúteis e racionalizar o trabalho do operário e estabelecer o método ideal de trabalho, ou seja, a melhor maneira de executar
o trabalho.
2. Seleção científica do trabalhador: processo seletivo para adequar as pessoas às tarefas
especializadas a serem executadas.
3. Preocupação com a fadiga: movimentos mal planejados produzem cansaço e redução da
eficiência do operário. A preocupação é determinar qual é a lei da fadiga, ou seja, como ela
ocorre e como pode ser evitada. Embora não reconhecesse a importância das pessoas como seres
humanos, foi pioneiro da ergonomia do trabalho, isto é, do estudo dos meios mais adequados
para um equilíbro saudável entre a postura corporal e a atividade profissional.
4. Padrão de produção: corresponde à eficiência = 100%. É o padrão normal de produção de
um operário médio no seu trabalho. Não reconhece o ambiente da empresa, vista como um
sistema fechado.
5. Plano de incentivo salarial: remunerar o operário por peça produzida. Quando ele ultrapassar o padrão de produção, deve receber prêmios adicionais, para ser incentivado a produzir
acima do padrão. Prevalecia o conceito homo economicus: as pessoas são motivadas exclusivamente por dinheiro (fatores econômicos).
6. Supervisão funcional: entendia que a supervisão também deveria ser especializada, de modo
que cada operário se subordinasse a diversos superiores, cada qual especializado em determinada área e atividade. A supervisão funcional é o oposto do comando único que prevaleceria na
Teoria Clássica de Administração.
67
EaD
Marivane da Silva
7. Condições ambientais de trabalho: para reduzir a fadiga, os
engenheiros se preocuparam com aspectos físicos como iluminação adequada, baixo ruído, temperatura razoável, porém pecando com os trabalhadores na medida que tinham uma visão
Sugestão de Leitura:
mecanicista do ser humano. O homem era mera engrenagem no
Outra possibilidade de
aumentar seu conhecimento
sobre a Administração
Científica é a leitura de artigos
publicados em revistas
especializadas ou em livros.
Um exemplo:
corpo da empresa, tendo desrespeitada sua condição de ser huma-
HELOANI, R. Tempos modernos: o contexto
socioeconômico gerador do
taylorismo. In: ______.
Gestão e organização no
capitalismo globalizado. São
Paulo: Atlas, 2003. p. 24-40.
no (adaptado de Chiavenato, 1999, p. 39; Ferreira; Reis; Pereira,
2002; Nogueira, 2007).
Com base nos princípios, como imagina você que seja a
administração taylorista? Vou ajudá-los nesta descrição.
Taylor acreditava que:
(...) a natureza humana é indolente, preguiçosa e motivada pelo
interesse econômico; por isso o trabalho deve ser treinado e controlado. Observando que o trabalhador produzia muito menos do
que realmente poderia, focou sua abordagem na produtividade
individual como resultado de um estudo do meio físico e material
da empresa e dos aspectos fisiológicos do trabalho (Nogueira,
2007, p. 117).
Taylor tinha fama de ser um cientista insensível e desumano, que tratava os operários como objetos de estudo isolados, em
favor de estudos que favoreciam a elite empresarial, que embora
tivesse críticas ao seu estilo de gestão, muitas de suas conclusões
continuam sendo válidas e aplicáveis ao moderno processo produtivo.
Esta realidade é retratada no filme “Tempos Modernos”,
estrelado por Charles Chaplin. Assista-o! Não é aceitável ao administrador formar-se sem ver este filme!! A partir deste clássico
você poderá refletir sobre a teoria tratada anteriormente. Também pode assistir “Metropolis”, um filme alemão de ficção científica produzido em 1927 pelo cineasta austríaco Fritz Lang.
68
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Nogueira (2007, p. 117) afirma que o principal ensinamento do taylorismo foi:
O(a) administrador(a) ou o(a) gerente precisa agir de modo técnico, científico e planejado, racionalizando o trabalho com os objetivos: primeiro – analisar como o trabalho é realizado; segundo – visar à padronização, para maximizar a produtividade. Assim, a administração se destaca
das demais atividades organizacionais pelas atribuições técnicas de planejamento, organização
e controle na execução do trabalho.
Outros pesquisadores, considerados seus seguidores, soma as idéias de Taylor em seus
estudos e práticas administrativas, sendo os principais referendados:
a) Frank Gilbreth (1868 – 1924) e Lilian Gilbreth (1878 – 1972)
Este casal fez grandes contribuições ao desenvolvimento dos sistemas administrativos
e são considerados contemporâneos de Taylor.
Frank seguiu uma trajetória semelhante, embora independente de Taylor. Tornou-se
aprendiz de pedreiro e, dez anos depois, tornou-se superintendente-chefe da Whidden
Company, uma empresa de construção, aos 27 anos. Foi defensor de grande parte dos princípios da Administração Científica, como a divisão do trabalho. Seu objetivo era descobrir a
melhor forma de trabalhar e eliminar os desperdícios, impulsionando a produtividade. Entre
seus vários trabalhos destacavam-se os estudos de tempos e movimentos.
Lilian, após casar-se com Frank, em 1904, mudou seus interesses acadêmicos para a
Psicologia e desenvolveu seus estudos acerca do homem na indústria para acompanhar o
trabalho do marido. Sua preocupação era com o ambiente e as oportunidades oferecidas aos
trabalhadores, essenciais para aprimorar a produtividade. O trabalho mais importante que
desenvolveu por meio de suas pesquisas foi o estudo da fadiga humana, que visou a descobrir uma maneira de realizar a atividade e aumentar a eficiência do operário.
Ambos, preocupados em minimizar a fadiga, propuseram o redesenho do ambiente de
trabalho, a redução das horas diárias de trabalho e o estabelecimento ou o aumento de dias
de descanso remunerado.
69
EaD
Marivane da Silva
b) Henry Gantt (1861-1919)
Gantt obteve reconhecimento por atuar como engenheiro mecânico. Trabalhou com
Taylor (que na época era engenheiro-chefe de produção) na Midvale Steel Company, como
assistente no departamento de engenharia e posteriormente ambos foram trabalhar na
Bethlehem. Anos depois apresentou um trabalho no qual descreveu um método gráfico de
acompanhar os fluxos de produção, ficando este conhecido no mundo todo como o Gráfico
de Gantt; a mais importante das técnicas de planejamento e controle. Também apresentou
um sistema de tarefa/bonificação.
Gantt criou o controle da produção com o objetivo de acompanhar diariamente os
fluxos da produção para obter a eficiência. Na Figura 2 vamos ilustrar um exemplo de Gráfico de Gantt.
ETAPAS/TAREFAS
MESES
ATIVIDADES
SEMANAS
2009
AGO
1
2
3
SET
4
5
1
2
3
OUT
4
5
1
2
3
NOV
4
5
1
2
3
DEZ
4
5
1
2
3
Atividade 1
Atividade 2
Atividade 3
NOTA:
----------- = período previsto para a realização da atividade
= período em que efetivamente foi realizada a atividade
Figura 3.2 Gráfico de Gantt
Fonte: Elaboração da autora
Os três principais elementos do Gráfico de Gantt eram planejamento, custo e tempo.
Você poderá encontrar outros seguidores nas referências bibliográficas de Administração. Pesquise! Aprofunde suas descobertas sobre outras contribuições aos estudos e práticas administrativas.
A seguir vamos abordar o fayolismo, na seção 3.2, que “paralelamente aos estudos de
Taylor, defendia os princípios semelhantes na Europa, baseado em sua experiência na alta
administração” (Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 21).
70
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Seção 3.2
Fayolismo
Suas idéias foram marcadas pelos acontecimentos do último quarto do século 19, especialmente na França, em que ocorreu um período de crises econômicas e revoltas sociais que resul-
Fayolismo ou Teoria Clássica
É o modelo de administração
desenvolvido pelo engenheiro
francês Jules Henri Fayol
(1841-1925), que é considerado o pai da Administração
moderna. Carateriza-se pela
ênfase na estrutura formal,
objetivando aumentar a
eficiência da organização por
meio da especialização dos
operários (Silva, 2002, p.
143).
taram em um clima de instabilidade e mudança política.
Na seqüência, no início do século 20, explode a 1ª Guerra
Mundial (1914-1918), exigindo do governo a realização de investimentos no campo militar e no controle sobre as organizações, marcando sua visão de que princípios, regras e processos
da doutrina administrativa poderiam corresponder tanto às necessidades do exército como às da indústria ou das organizações
em geral.
Enquanto Taylor estudava a empresa do ponto de vista do
chão de fábrica (enfoque: produção), Fayol estudava a administração (enfoque: gerência).
A contribuição de Fayol foi, inicialmente, separar a habilidade administrativa do conhecimento tecnológico; em
seguida propôs 14 princípios de administração e, principalmente, deu origem a função administrativas, que com seus
elementos em conjunto formam o processo administrativo.
Mais uma vez imagino que você esteja se perguntando:
Quem era Henri Fayol? Está curioso para saber um pouco da
vida dele? Muito bem, vou satisfazer sua curiosidade.
71
EaD
Marivane da Silva
Jules Henri Fayol nasceu em Istambul, Paris, em 29 de julho de
1841, de uma família francesa; formou-se em engenharia na escola de minas de Saint-Etienne. Seu pai era André Fayol, um contramestre em metalurgia. Casou-se com Adélaïde Saulé e teve
Sugestão de Leitura:
Fayol, Henri. Administração
industrial e geral: previsão,
organização, comando,
coordenação, controle. 10. ed.
São Paulo: Atlas, 1989. No
prefácio já revela que a
Administração constitui fator
de grande importância na
direção de todos os negócios:
grandes, pequenos, industriais, comerciais, políticos e
religiosos.
três filhos, Marie Henriette, Madeleine e Henri Joseph, o último
sempre hostil às idéias do pai.
Foi trabalhar nas atividades de mineração de carvão e fundição
de f er ro do co ns ór cio f ra ncê s Co mme nt ry- Fo ur cha mb au lt
Company.
Fayol passou sua vida inteira trabalhando na mesma empresa. De
1860 a 1866 trabalhou como engenheiro, fazendo notáveis avanços na técnica de combate aos incêndios subterrâneos que ocorriam na companhia.
Seu trabalho foi recompensado com a promoção a gerente das minas Commentry, aos 25 anos. Seis anos mais tarde foi promovido a
gerente de um grupo. Em 1888 Fayol foi nomeado diretor-geral,
começando a revitalizar a companhia. Ele fechou a fundição de
Fourchambault, centralizando a produção em Montluçon, outro local
de atividade de consórcio, para ganhar em economia de escala.
Fayol adquiriu novos depósitos de carvão em Bressac, Decazeville
e em Jondreville. A nova companhia, denominada Comambautl,
se recuperou sob a direção de Fayol e continua até hoje como
parte do Creusot Loire, o maior grupo de mineração e metalurgia
na França central. Foi a partir destas experiências na Comambault
que Fayol desenvolveu sua proposta de administração. Foi um
dos mais influentes teóricos da perspectiva clássica da ciência da
Administração, sendo o criador da Teoria Clássica da Administração e autor da clássica obra Administração Industrial e Geral
(1916), resultado de 58 anos de estudo.
Por causa do desconhecimento do seu trabalho, mesmo na França, pela maior divulgação do trabalho de Frederick Taylor (Teoria da Administração Científica), os Estados Unidos levaram 40
anos para apreciar suas idéias.
Da sua aposentadoria, em 1918, até 1925, Fayol fundou e presidiu
o Centro de Estudos Administrativos, um grupo formado para promover o avanço do fayolismo. Pouco antes da sua morte, em 19 de
novembro de 1925, este grupo de fayolismo, liderado por Henry Le
Chatelier e Charles de Fréminville, formou o Comitê Nacional de
Organização Francesa. Esta fusão foi significativa pela junção das
duas principais escolas francesas de Administração.
72
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Uma avaliação prematura de Fayol colocou o seu trabalho em
competição ou contraste com o trabalho de Taylor. Fayol insistia
que não era assim e que os trabalhos eram complementares, no
sentido de que ambos procuravam a melhoria administrativa por
diferentes caminhos de análise (Silva, 2002, p. 143).
Depois de saber um pouco sobre Fayol, o “pai da Administração”, vamos ampliar o conhecimento de suas contribuições,
que fortaleceram e complementaram o paradigma técnico-administrativo.
Do ponto de vista de Fayol, “investir na capacidade administrativa era essencial para que a economia francesa competisse
em pé de igualdade com as demais nações industrializadas” (Nogueira, 2007, p. 119) em particular os Estados Unidos, em que o
taylorismo se desenvolvia vorazmente.
Na obra Administração Industrial e Geral, o fayolismo é
apresentado como doutrina ou escola de chefes, com base na
necessidade de organizar a empresa e as pessoas de um modo
racional, ou seja, enquanto a preocupação de Taylor estava voltada para organizar as tarefas dos trabalhadores, Fayol se dedicava aos chefes e às funções administrativas.
Fazendo um contraponto às idéias apresentadas na Unidade 2, Nogueira (2007) afirma que Fayol colocou em prática,
no campo da Admi ni stração, as pre ocupaçõe s de É mile
Durkheim:
A crença no racionalismo e no método experimental e o desejo de
institucionalizar a ordem e impor as regras na organização trazem para o campo da administração o positivismo e o funcionalismo, que também se inspiram no modelo biológico de estudo do
funcionamento do corpo humano e sua aplicação na administração das organizações (Nogueira, 2007, p. 119).
Émile Durkheim
(Épinal, 15 de abril de 1858 —
Paris, 15 de novembro de
1917) é considerado um dos
pais da Sociologia moderna.
Durkheim foi o fundador da
escola francesa de Sociologia,
posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com
a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos
melhores teóricos do conceito
da coesão social. O mérito de
Durkheim aumenta ainda mais
quando publica seu livro “As
regras do método sociológico”,
em que define uma
metodologia de estudo, que
embora sendo em boa parte
extraída das Ciências Naturais,
dá seriedade à nova ciência.
Era necessário revelar as leis
que regem o comportamento
social, ou seja, o que comanda
os fatos sociais.
Positivismo
É uma palavra com diferentes significados, englobando
tanto perspectivas filosóficas e
científicas do século 19 quanto
outras do século 20. Do seu
início, com Augusto Comte
(1798-1857) na primeira
metade do século 19 até o seu
apogeu e crise no século 20, o
sentido da palavra mudou
radicalmente, incorporando
diferentes sentidos, muitos
deles opostos ou contraditórios entre si. O método geral do
Positivismo consiste na
observação dos fenômenos,
subordinando a imaginação à
observação (ou seja: mantémse a imaginação), mas há
outras características igualmente importantes: real, útil,
certo, preciso, relativo,
orgânico e simpático. Duas
características são hoje
reconhecidas por todos: a
visão de conjunto, ou o
holismo (orgânico), e o relativo
(embora haja uma curiosa e
73
EaD
Marivane da Silva
extremamente difundida versão
que afirma que o Positivismo
nega tanto a visão de conjunto
quanto o relativismo). Além
disso, o “simpático” implica
afirmar que as concepções e
ações humanas são modificadas pelos afetos das pessoas
(individuais e coletivos); mais
do que isso, em diversas obras
Augusto Comte indicou como
a subjetividade é um traço
característico e fundamental do
ser humano, que deve ser
respeitado e desenvolvido.
Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/
Positivismo>.
Acesso em: 3 dez. 2008.
Resumindo: Henri Fayol estabeleceu os princípios e regras
para a Administração geral, especialmente no que se refere à estrutura organizacional como um todo. Sua abordage m é
corporativa e estabelece, na prática, a organização burocrática
proposta por Max Weber (que você irá conhecer na Unidade 4).
Fayol é o mentor da moderna função administrativa, destacada e diferenciada das demais – técnica, comercial, financeira,
de segurança e contábil, conforme ilustra a Figura 3. Ele avança
em relação à proposta de Taylor, na formação do paradigma técnico-administrativo, ao conceber “a administração aplicada no
conjunto da organização, em que o todo é mais importante que
Técnica:
relacionadas com a transformação e
produção de bens (produtos e serviços).
Comerciais
relacionadas com as transações de
compra, venda e permuta.
Financeiras:
relacionadas com a captação e uso do
capital.
Prever
Organizar
Comandar
Coordenar
Controlar
Processo Administrativo
Administrativas: relacionadas com a
integração de todas as operações da
organização; as atividades
administrativas coordenam e sincronizam
as demais atividades listadas.
Função Administrativa
(do latim corporis e actio,
corpo e ação), é um grupo de
pessoas que agem como se
fossem um só corpo, uma só
pessoa, buscando a consecução de objetivos em comum.
Num sentido amplo é um
grupo de pessoas submetidas
às mesmas regras ou estatutos.
Disponível em:
< http://pt.wikipedia.org/wiki/
Corporativa>.
Acesso em: 3 dez. 2008.
as partes” (Nogueira, 2007, p. 120).
Funções básicas da empresa
Corporação
De Segurança:
relacionadas com a preservação e proteção
das pessoas e dos bens.
Contábeis:
relacionadas com os controles e registros
das despesas organizacionais.
Figura 3: Atividades da empresa
Fonte: Adaptado de Silva (2002) e Chiavenato (1999).
No entendimento de Fayol, os objetivos gerais da organização deveriam prevalecer sobre os objetivos específicos e estes cabiam aos dirigentes e chefes do topo da hierarquia, ou seja, buscar a colaboração dos funcionários para obter uma empresa integrada.
74
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
À função administrativa caberia a tarefa fundamental de formular o programa geral de ação da
empresa, constituir seu corpo social, coordenar esforços e harmonizar ações. O administrador é
o chefe geral de um grupo, e não apenas seu supervisor funcional. Para Fayol, não se deve
confundir administração com direção, que conduz a empresa e comanda todas as suas funções,
incluindo a administrativa. Outra contribuição importante do fayolismo é a distinção entre
gestão, mais próxima da idéia de direção geral, e administração, voltada para contextos específicos e situações conjunturais (Nogueira, 2007, p. 120).
Você observou que Nogueira (2007), em seu discurso anterior resgatou o conceito de
gestão e de Administração (focado na Unidade 1). É sempre importante relembrar e refletir
sobre suas concepções.
O modelo organizacional de Fayol universalizou-se e seus princípios levaram ao modelo burocrático (a ser apresentado na Unidade 4), corporativo e funcional de organização
que foi objeto de análise crítica e descritiva de Max Weber. “Deliberadamente, pelo caminho
do positivismo e do funcionalismo, Fayol alicerçou a organização burocrática moderna”
(Nogueira, 2007, p. 121).
Fayol defendia a idéia de que as atividades administrativas obedeciam a uma seqüência lógica e racional de cinco etapas, concebendo um dos conceitos de administrar, conforme explicado por Nogueira (2007, p. 121) e ilustrado na Figura 3.
Administrar é prever (futuro por meio de plano), organizar (constituir o organismo material e
social da empresa), comandar (dirigir as pessoas), coordenar (unir e harmonizar todos os atos e
esforços) e controlar (velar para que aconteça de acordo com ordens e princípios estabelecidos).
Cabe destacar que o processo administrativo sugerido por Henri Fayol identifica o
administrador pelo exercício conjunto dos procedimentos ou funções, independentemente
do grau hierárquico que ocupa no interior da empresa.
Sintetizando:
O estudo da Administração envolveria o desenvolvimento das habilidades de planejar
antecipadamente os objetivos futuros da organização, de organizar os recursos humanos e materiais, de dirigir o corpo social no rumo dos objetivos preestabelecidos e de
controlar para que as metas sejam de fato cumpridas.
75
EaD
Marivane da Silva
Contemporâneo
É o período específico atual da
história do mundo ocidental,
iniciado a partir da Revolução
Francesa (1789). O seu início
foi bastante marcado pela
corrente filosófica iluminista,
que elevava a importância da
razão. Atualmente está
havendo uma especulação a
respeito de quando essa era
irá acabar, e, por tabela, a
respeito da eficiência atual do
modelo europeu da divisão
histórica.
Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/
Idade_Contempor%C3%A2nea>.
Acesso em: 3 dez. 2008.
Você sabe qual a diferença no uso do instrumento principal
adotado por Taylor e Fayol? Deve estar se questionando primeiro:
afinal, a que instrumento estou me referindo? É uma constatação
curiosa.
Taylor
Fayol
1
Cronômetro
2
Organização racional e planejada
Ao identificar as tarefas do administrador com as do chefe,
Fayol enumera os 14 princípios, considerados ainda úteis na prática administrativa contemporânea:
Princípios de Fayol:
1. Divisão do trabalho: promove a especialização e aumenta os
resultados, tornando os empregados mais eficientes.
2. Autoridade: concede ao gerente o direito de dar as ordens. A
responsabilidade é o dever ou obrigação de cumprir as ordens. A
autoridade e a responsabibilidade devem ser proporcionais.
3. Disciplina: os empregados devem obedecer e respeitar as regras que governam a organização. A disciplina é resultado de
uma liderança eficaz e uma clara compreensão quanto às regras
da organização e o uso judicioso das penalidades pelas infrações.
4. Unidade de comando: cada empregado deve se subordinar a
apenas um superior.
5. Unidade de direção: cada grupo de atividades organizacionais
deve ter o mesmo objetivo e ser dirigido por um gerente por meio
de um plano.
1
Disponível em: <http://images.google.com.br>. Acesso em: 13 jan. 2009.
2
Disponível em: <http://images.google.com.br>. Acesso em: 13 jan. 2009.
76
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
6. Subordinação dos interesses individuais aos gerais: os interesses de um empregado ou
grupo não devem preceder os interesses superiores da organização como um todo
7. Remuneração: os trabalhadores devem ser pagos com salários adequados.
8. Centralização: refere-se ao grau em que os subordinados estão envolvidos nas tomadas de
decisão. As tomadas de decisão devem ser centralizadas na administração.
9. Cadeia escalar: é a linha de autoridade que vai ao topo da orgnização, e o planejamento do
pessoal deve fazer com que as substituições sejam feitas rapidamente.
10.Ordem: pessoas e materiais devem estar no lugar certo e no tempo certo.
11.Eqüidade: o gerente deve ser atencioso e justo com seus subordinados.
12.Estabilidade na permanência do pessoal: a rotatividade elevada de pessoal é ineficiente. As
pessoas devem permanecer o máximo possível na organização, e o planejamento de pessoal deve
fazer com que as substituições sejam feitas rapidamente.
13.Iniciativa: os empregados imcumbidos de executar planos devem manifestar esforço pessoal.
14.Espírito de equipe: promover o espírito de equipe cria harmonia e unidade na organização
(Chiavenato, 1999, p. 42).
Sugiro que você assista ao filme indicado a seguir, que o ajudará na reflexão da teoria
clássica da Administração:
Vida de Inseto – No mundo dos insetos, as formigas são manipuladas pelos gafanhotos, que todos os anos exigem uma quantidade de comida. Se as formigas não cumprirem
essa exigência, os gafanhotos ameaçam atacar o formigueiro. Em um certo ano, porém,
houve um problema com a “oferenda”. É quando Flik, uma formiga cansada de ser oprimida, sai em busca de outros insetos dispostos a ajudar o formigueiro a combater os gafanhotos. Elenco: Kevin Spacey – Hopper (voz); Dave Foley – Flik (voz); Julia Louis-Dreyfus –
Atta (voz); Hayden Panettiere – Dot (voz); Phyllis Diller – Queen (voz); Richard Kind – Molt
(voz). Disponível em: <http://www.cineplayers.com/filme.php?id=488>. Acesso em: 13 jan.
2009.
Outros estudiosos considerados seguidores de Fayol explicitaram seus pontos de vista,
durante as décadas de 20 e 30, às práticas consultivas administrativas e sistemtizadas por
Silva (2002, p.150-151):
77
EaD
Marivane da Silva
a) Luther Gulick, que desenvolveu POSDCORB, sua visão das funções administrativas:
Planning (planejamento), Organizing (organização), Staffing (assessoria), Directing (direção), Coordination (coordenação), Reporting (informação);
b) Lyndall F. Urwick, deu ênfase a alguns princípios de organização da escola clássica, como
o princípio de especialização, da autoridade e o princípio da amplitude administrativa;
c) James D. Mooney e Alan C. Reiley, para os quais a organização eficiente era baseada no
formalismo.
Em muitas obras você encontra o uso indistinto dos termos – Administração científica
e Administração clássica. Existe diferença entre elas? Sim, existe.
Administração científica surgiu no chão de fábrica e preconiza a adoção de métodos racionais e padronizados, a máxima divisão de tarefas e o enfoque centrado na produção.
Administração clássica teve origem na alta Administração, enfatiza a estrutura formal
da organização e a adoção de princípios e funções administrativas necessárias à realização do trabalho.
Existe outra concepção que é relevante abordar: você acha que existe diferença entre
as funções administrativas e as funções organizacionais? Pense, reflita e pesquise (se achar
necessário).
São distinções importantes no campo da gestão e como vários autores utilizam tais
expressões, vamos fornecer o conceito de função administrativa e função organizacional.
As funções administrativas (planejar, organizar, dirigir e controlar) diferenciam-se das funções organizacionais (marketing, operações, finanças, recursos humanos). A soma de todas
as funções administrativas se constitui no processo administrativo e, são aplicáveis a qualquer das funções organizacionais e da mesma forma, todas as funções organizacionais são
aplicáveis a qualquer dos elementos básicos (pessoas, estrutura, tecnologia e tarefas (Pereira; Santos, 2001).
78
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Compreendendo as diferenças é importante aprofundarmos as pesquisas e estudos sobre o processo administrativo (3.2.1) e funções organizacionais e/ou áreas/funções da organização (3.2.2).
3.2.1 – PROCESSO ADMINISTRATIVO E SEUS ELEMENTOS
Na ótica da Administração existem várias ferramentas para analisar um contexto
organizacional. Nesta seção será abordada uma destas ferramentas: o processo administrativo.
Um(a) administrador(a) lida com pessoas que executam os trabalhos ou serviços para
os quais foram contratadas. Ao coordenar o trabalho dessas pessoas, o(a) administrador(a)
desempenha suas funções pelo menos por meio de quatro elementos do processo administrativo: planejamento, organização, direção e controle. Em outras palavras, “ele planeja,
organiza, dirige pessoas, gerencia e controla recursos materiais, financeiros, de informação
e tecnologia visando à realização de determinados objetivos” (Chiavenato, 1999, p. 9).
Observe a Figura 4 que trata do sistema organizacional e apresenta as concepções
tratadas nesta seção.
Figura 4: Sistema Organizacional
Fonte: Pereira e Santos (2001, p. 43).
79
EaD
Marivane da Silva
Henri Fayol e Taylor, dois autores clássicos pertencentes à época do grande desenvolvimento industrial, contribuíram significativamente para o surgimento da história da Administração.
Fayol nessa época conceituou administrar como sendo numa seqüência de prever,
organizar, comandar, coordenar, controlar. Entendia também que o conjunto das funções
de toda empresa poderia ser dividido em seis grupos, a saber, conforme já apresentamos
nesta unidade:
• funções técnicas: produção, fabricação, transformação;
• funções comerciais: compras, vendas, permutas;
• funções financeiras: procura e gerência de capitais;
• funções de segurança: proteção de bens e de pessoas;
• funções de contabilidade: inventários, balanços, preços de custos, estatística, etc;
• funções administrativas: previsão, organização, direção, coordenação e controle.
Esses grupos de funções essenciais existem em qualquer empresa, seja ela simples ou
complexa, pequena ou grande.
Observo, no entanto, que o destaque deste estudo será direcionado à função administrativa.
Na literatura moderna os autores abordam as funções como sendo áreas funcionais
ou função organizacional, dentre as quais se destacam: a função de produção e operações,
a função financeira, a função marketing e vendas, a função recursos humanos e a função
administrativa.
Retomando: a função administrativa é composta dos elementos – planejamento,
organização, comando/direção e controle, que formam o processo administrativo
– PA.
80
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Vamos ao estudo de cada um dos elementos.
Embora possa ocorrer que o planejamento não esteja formalizado, documentado e
explícito nas atividades da organização, é pertinente afirmar que ele existe e é extremamente importante para o sucesso da empresa.
Lacombe e Heilborn (2003, p. 49) conceituam planejar como:
Pensar antecipadamente o que se deseja alcançar e determinar os meios e recursos para concretizar esse desejo. Isto envolve coletar informações e diagnosticar a situação; estabelecer objetivos, para orientar as decisões; elaborar e implantar planos, programas e projetos para alcançar
as metas e montar seus respectivos cronogramas para acompanhar a execução. Manter-se sempre informado de modo a atualizar permanentemente o diagnóstico.
Masiero (2007, p. 73) complementa caracterizando o elemento de planejamento como
o ato de “descobrir novas oportunidades, antecipar e evitar problemas, desenvolver um efetivo curso de ação; além de compreender as incertezas e os riscos das várias opções que se
oferecem”.
Dependendo da abrangência e do impacto que têm sobre a empresa, os planos podem
ser classificados em diferentes níveis: estratégico, tático e operacional.
Alguns autores dão muito destaque ao planejamento estratégico, outros se preocupam com o planejamento operacional, assim como nas organizações pode ocorrer ênfase em
um ou outro nível organizacional, dependendo da sua atividade ou seu porte.
No planejamento define-se: visão, missão, objetivos, metas, estratégias e alternativas,
políticas, análise do ambiente interno e externo, instituição dos planos de ação e realimentação. Enfim, tomam-se as decisões do que fazer e como fazer.
Masiero (2007, p. 73) apresenta as principais etapas para a elaboração do planejamento estratégico:
a) desenvolvimento da missão e dos objetivos da organização;
b) diagnóstico das oportunidades e ameaças;
81
EaD
Marivane da Silva
PERT/CPM
São técnicas que foram
independentemente desenvolvidas para o Planejamento e
Controle de projetos em torno
de 1950, porém a grande
semelhança entre estas fez
com que o termo PERT/CPM
fosse utilizado corriqueiramente como apenas uma técnica.
Os termos PERT e CPM são
acrônimos de Program
Evaluation and Review
Technique (PERT) e Critical
Path Method (CPM), bastante
utilizados para controle na
construção civil.
c) diagnóstico dos pontos fracos e fortes da organização;
d) desenvolvimento de estratégias de ação;
e) preparação de um plano estratégico (executivos de alto nível
estratégico);
f) preparação de planos táticos (gerência das áreas/funções);
g) instituição, controle e acompanhamento dos resultados;
h) reajustes e continuidade do processo.
Alguns instrumentos de planejamento abordados pelos autores contemporâneos são: procedimentos (entre os quais se destacam os diagnósticos, o tratamento de dados, a análise); os programas (estabelecimento de orçamentos, calendários, gráfico de
Gantt, PERT/CPM ...), as regras e regulamentos.
Na função da Administração, o elemento organização implica em criar as condições para melhor se compreender a empresa, como está organizada e estruturada, reunindo as pessoas e os
equipamentos necessários ao trabalho. Significa trabalhar
harmonicamente os elementos: estrutura, pessoas, tarefas e
tecnologia da organização. É, portanto, é a atividade de organizar a ORGANIZAÇÃO.
Lacombe e Heilborn (2003, p. 49) conceituam organizar
como:
[...] processo de identificar, dividir e alocar o trabalho. Isto envolve identificar, dividir e grupar o trabalho a ser realizado; definir
responsabilidades e autoridades e estabelecer as relações entre os
grupos de modo a possibilitar que as pessoas trabalhem eficazmente para atingir os objetivos.
82
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Oliveira (2008) explica que o elemento – organização – corresponde à alocação dos
diversos recursos para consolidar o planejamento, estudar a divisão do trabalho, definir corretamente a alocação e as responsabilidades nas unidades ou departamentos organizacionais
e definir os níveis de autoridade.
Estudar o elemento organização significa entender sua estrutura e seu processo. “A
estrutura consiste em uma rede de relacionamento específico entre indivíduos, posições e
tarefas. Processo refere-se às funções gerenciais pela quais as organizações são criadas,
adaptadas e mudadas continuamente” (Kwasnicka, 1995, p. 185).
Segundo Moraes (2001, p. 89), no desempenho do elemento organização o(a)
administrador(a) deve:
– listar o trabalho que precisa ser realizado para alcançar os objetivos da empresa – divisão
do trabalho;
– dividir o trabalho em tarefas que possam ser realizadas de modo lógico e eficiente, por
indivíduos ou grupos – especialização;
– agrupar as tarefas segundo um critério determinado, criando as unidades organizacionais
(órgãos) chamados de departamentalização;
– criar mecanismos de integração de esforços dos indivíduos, grupos e órgãos da empresa
para facilitar o alcance dos objetivos. Desse modo, seria estabelecida a hierarquia, quando
essa integração envolvesse a determinação de relações de autoridade, e a coordenação,
quando interligasse unidades organizacionais do mesmo nível hierárquico.
Em outras palavras, no ele mento organização você vai analisar o desenho
organizacional, o desenho departamental e o desenho de cargos e tarefas.
Logo, a divisão do trabalho propicia o aumento da produtividade por meio da especialização, que é a forma de o indivíduo conhecer apenas uma parte do processo produtivo
global, pois é impossível uma única pessoa adquirir toda a capacitação necessária para a
realização total do trabalho.
83
EaD
Marivane da Silva
Uma das características da estrutura organizacional diretamente relacionada à divisão do trabalho é a diferenciação, classificada de três maneiras: diferenciação horizontal
(as divisões ou departamentos), diferenciação vertical (a hierarquia) e diferenciação em
tarefas especializadas.
Quanto ao desenho departamental – a departamentalização – refere-se à diferenciação horizontal da organização – divisão, filiais, unidades regionais, subsidiárias e similiares,
assim como os departamentos divididos em funções principais, tais como marketing e vendas, produção e operações, recursos humanos, financeira e administrativa. Partindo deste
pressuposto, apresentam-se os organogramas, fluxogramas, layout.
As abordagens tradicionais são a departamentalização funcional, a divisional e a
matricial, nas quais a cadeia de comando define agrupamentos departamentais e relações
de subordinação ao longo da hierarquia. Segundo Chiavenato (1999), as cinco abordagens
existentes são:
• Funcional: as pessoas são agrupadas em departamentos pelas suas habilidades similiares
e atividades comuns de trabalho: departamento de contabilidade, de compras, engenharia ou finanças.
• Divisional: os departamentos são agrupados em divisões separadas e auto-suficientes baseadas em um produto comum, projeto ou programa ou região geográfica. Ela está baseada
em habilidades conjuntas, em produtos/serviços, clientes e em processos.
• Matricial: as cadeias de comando funcional e divisional são instituídas simultaneamente
e se sobrepõem umas às outras nos mesmos departamentos. As pessoas se subordinam a
dois chefes.
• De equipes: a empresa cria equipes multifuncionais para cumprir tarefas específicas e
coordenar grandes departamentos.
• De redes: a organização torna-se um pequeno centro intermediário, conectado eletronicamente a outras organizações que desempenham funções vitais ao negócio. Os departamentos são independentes para contratar serviços intermediários e podem estar localizados em qualquer lugar do mundo.
84
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
A estrutura organizacional e o estilo gerencial de seus administradores podem ser classificados como:
1 – centralizadores x descentralizadores (delegação de autoridade);
2 – formalizados x informais;
3 – integradores x dispersivos.
Assim, a DIREÇÃO corresponde ao terceiro elemento que compõe o processo administrativo e está relacionado com a maneira pelo qual os objetivos devem ser alcançados, por
intermédio das atividades de pessoas e da aplicação de recursos que compõem a organização. Após definir os objetivos, traçar as estratégias para alcançá-los, estabelecer o planejamento e estruturar a organização, cabe à atividade e aos processos de direção por tudo isso
para funcionar, de forma eficaz.
Alguns autores tratam a direção como sendo a soma do comando e da coordenação.
Sendo assim, Chiavenato (1999, p. 478) conceitua dirigir como sendo o ato de interpretar os
planos para as pessoas e dar as instruções e orientação sobre como executá-los e garantir o
alcance dos objetivos. Numa visão mais participativa e descentralizadora, seria criar as condições para que as pessoas decidam conjuntamente.
Lacombe e Heilborn (2003, p. 49-50) conceituam:
Prover recursos humanos é formar uma equipe competente, integrada e motivada, disposta a
agir para o conjunto. Isto inclui saber recrutar, selecionar e treinar as pessoas certas, capazes de
assumir responsabilidades para atingir os objetivos. Inclui ainda a avaliação dessas pessoas e o
esforço para manter alta a moral do grupo, de modo a ter sempre as pessoas certas nos lugares
certos.
Liderar é conduzir um grupo, influenciando seu comportamento, para atingir objetivos e metas
de interesse comum do grupo, de acordo com uma visão do futuro baseada num conjunto coerente de idéias e princípios. O líder empresarial deve ser capaz de alcançar objetivos por meio dos
liderados e, para isso, conforme o tipo de liderado e ocasião, age de diferentes maneiras: ordena,
comanda, motiva, persuade, compartilha dificuldades e ações, ou delega e cobra resultados,
alterando a forma de agir conforme a necessidade de cada momento e o tipo de liderado, visando
alcançar os objetivos da empresa.
85
EaD
Marivane da Silva
Coordenar é cooperar com todas as demais unidades da organização para que as atividades
sejam executadas de forma: balanceada (equilibrada, isto é, na quantidade correta); sincronizada (isto é, no momento certo) e integrada (isto é, na direção certa).
Faça sua reflexão sobre o que entende por direção/comando e, em seguida, continue
seus estudos.
Desta forma, criar condições para que as pessoas se motivem, bem como os processos
de comunicação e liderança, são fundamentais para a direção ocorrer de forma eficaz. Tente
fazer um exercício prático, observar em uma organização o seu estilo de gestão e perceber
como se estabelece o elemento direção.
Como já salientamos, o entendimento do elemento direção implica analisar como se
dá a comunicação, a liderança e a motivação nas organizações. Implica também entender o
significado do poder e do gerenciamento dos conflitos.
No atual contexto globalizado e competitivo, as organizações são obrigadas a aprimorar seus processos e, especialmente, qualificar o processo de comunicação, estudar os
tipos e as formas de comunicação:
O processo de comunicação começa como um estímulo (objetivo) para uma ou mais pessoas
(emissor) que irão procurar interagir com outra(s) pessoa(s) (receptor). O emissor vai transmitir
algo (mensagem) utilizando um ou mais recursos (meio) e espera que o receptor compreenda a
mensagem no sentido correto (significado) e adote o comportamento (resposta) esperando por
ele, emissor. Todo processo de comunicação acontece em circunstâncias peculiares (situação),
com certa duração (tempo) e exige investimentos e gastos (custos) (Arantes, 1994, p. 265).
86
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
O processo de comunicação na gestão é essencial para a efetiva realização das atividades e andamento contínuo e seguro das ações. Sendo assim, Oliveira (2008, p. 149) explicita
que comunicação é “um processo interativo e de entendimento, assimilação e operacionalização
de uma mensagem – dado, informação, ordem – entre o emissor e o receptor por um canal, em
determinado momento, e visando um objetivo específico da organização”.
Dentro da organização de uma empresa o processo de liderança tem a forma de um
gerente que estimula os subordinados a realizarem os objetivos definidos pela alta gerência.
Existem dois tipos diferentes de liderança em qualquer organização – lideres formais e líderes informais – e três abordagens teóricas a respeito da liderança. Primeiro, contudo, é necessário entender a natureza do poder dentro de uma organização, pois o uso eficaz do
poder individual é a base da liderança.
A motivação envolve um procedimento cuja origem e processamento se fazem dentro
da própria vida psíquica, sendo um fenômeno psicológico do sujeito.
Bergamini (1997, apud Silva; Rodrigues, 2007, p. 7) explica que motivação é “empregado como sinônimo de forças psicológicas, desejos, impulsos, instintos, necessidades, vontade, intenção”. Se analisarmos com atenção, verificaremos que o comportamento humano
é movido por “uma força interna que impulsiona as pessoas a agirem, seja no sentido de
busca, seja para fugir de determinadas situações”.
Silva e Rodrigues (2007, p. 9) ressaltam que o conhecimento da motivação humana é
indispensável para que o(a) administrador(a) possa realmente contar com a colaboração
irrestrita dos sujeitos. Existem muitas teorias da motivação a serem estudadas e conhecidas
para desenvolvimento da gestão. A mais conhecida e explicitada pelos autores é a Teoria de
Maslow.
Para aprofundamento das teorias sugiro a leitura da obra: Silva, Waldir R. da; Rodrigues,
Cláudia M. C. Motivação nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007.
Os conflitos entre os indivíduos, os grupos ou as organizações fazem parte do ambiente empresarial moderno. As pessoas e os grupos competem pelos recursos dentro de uma
empresa e estas competem entre si pelo mercado.
87
EaD
Marivane da Silva
A grande maioria dos autores inclui a coordenação como
uma das atividades inerentes à direção. Outros nem mesmo citam-na em seus estudos. O próprio Fayol encontrou dificuldades
Sugestão de Leitura:
Série Gestão de Pessoas,
publicada pela Editora da
Fundação Getúlio Vargas. Para
conhecer e adquirir acesse:
<http://www.editora.fgv.br>.
ao tentar explicá-la.
A coordenação é vista como um elemento que está presente, integra e ativa todos os demais elementos do processo administrativo, visando a dinamizá-los e ativá-los. Daí o entendimento de que é uma atividade típica de direção.
A coordenação requer, como passo inicial, a definição dos
objetivos da empresa. Assim, os objetivos da empresa representam o primeiro e fundamental meio de coordenação, visto como
um instrumento interno da organização.
E, conforme a metodologia adotada até então, abordar-se-á
o último dos elementos da função administrativa – o CONTROLE.
Lacombe e Heilborn (2003, p. 50) conceituam controlar
como:
[...] assegurar que as atividades da organização direcionam
aos objetivos. Isto envolve medir o desempenho, compará-lo
com o desejado, e tomar as medidas corretivas necessárias.
Como vimos anteriormente, o planejamento é um dos processos principais na administração das organizações, porém como
elas não operam na base da improvisação e nem ao acaso, precisam ser devidamente controladas. Elas requerem um esforço de
controle em suas várias operações e atividades.
Montana e Charnov (1998, p. 240-241) fazem as seguintes
considerações:
88
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
O processo pelo qual a administração implementa seus planos e avalia as realizações
organizacionais para medir o sucesso ou o fracasso é o controle. O controle consiste em ações
seqüenciais tomadas pela administração para estabelecer os padrões de desempenho, medir e
avaliar o desempenho e tomar ações corretivas quando necessário. Ele é absolutamente essencial
para o planejamento eficaz. A administração precisa saber de seu desempenho para poder fazer
uso eficiente dos recursos organizacionais. Deve avaliar como os recursos são usados, tomar ações
corretivas quando necessário e planejar eficazmente para usar os recursos com mais eficiência no
futuro. Existem três pontos principais no que diz respeito à importância do controle:
•
O controle é necessário para medir e avaliar o desempenho organizacional;
•
O controle é um processo dinâmico e contínuo;
•
O controle envolve todas as facetas da organização.
O processo de controle é praticado por todas as áreas (finanças, produção, marketing,
recursos humanos, administrativa) e níveis da administração (estratégico, tático e
operacional) da organização.
Segundo Chiavenato (1999), a finalidade do controle é assegurar que os resultados do
que foi planejado, organizado e dirigido se ajustem tanto quanto possível aos objetivos
previamente estabelecidos. A essência do controle consiste em verificar se a atividade controlada está ou não alcançando os objetivos ou resultados desejados. Nesse sentido, o controle consiste basicamente de um processo que guia a atividade exercida para um fim previamente determinado. O processo de controle apresenta quatro etapas ou fases:
• estabelecer objetivos e padrões de desempenho (padrões de quantidade, qualidade, tempo,
custo);
• avaliar o desempenho atual;
• comparar o desempenho atual com os objetivos ou padrões;
• adotar a ação corretiva se necessário.
Os instrumentos são basicamente os mesmos presentes no planejamento, mas cabe
salientá-los: gráficos, tabelas, controle de retorno sobre ativos, gráfico de Gantt, PERT e
CPM, análise do ponto de equilíbrio, ponto econômico do pedido, sistema ABC de custeio,
desvio-padrão, análise de variância, cronograma, orçamentos, fluxogramas, relatórios
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EaD
Marivane da Silva
Gráfico de Gantt
Constitui-se num método
esquemático que fornece
informações relativas à
programação da produção, à
carga nos departamentos ou
máquinas individuais e à
qualidade de pessoal e
equipamentos. Também serve
para descrever atividades,
conforme ilustrado na Figura 2
desta Unidade.
contábeis, auditoria, observação pessoal, inspeção, controle por
relatórios, avaliação de performance, políticas, desempenho humano, sistema de informação, etc.
A integração dos elementos da função administrativa pode
ser compreendida da seguinte forma:
O planejamento serve para definir os objetivos, traçar as
Pert/CPM
É um conjunto de processos e
técnicas para planejamento,
programação e controle de um
projeto que indica, dentre as
várias seqüências
operacionais, aquela que
possui duração máxima, além
de graus de prioridade
relativos, a distribuição de
recursos e a interdependência
entre as ações.
Fluxogramas
São gráficos que representam
o fluxo ou seqüência de
procedimentos e rotinas.
estratégias para alcançá-los e estabelecer os planos de ação.
A organização serve para estruturar as linhas de poder e
decisão, divisão do trabalho, fluxos de comunicação e recursos, de maneira a se trabalhar de forma organizada e racional. A direção mostra os rumos e dinamiza os espaços de
atuação e incentiva as pessoas para que utilizem os recursos da melhor maneira possível. Por fim, o controle serve para
que tudo funcione da maneira certa e no tempo certo, desde
que haja um acompanhamento constante e corretivo.
Na prática, os elementos da função administrativa são executados de uma forma inter-relacionada e não seqüencial, havendo a interação do planejamento, da organização, da direção
e do controle – PODC.
3.2.2 – ÁREAS FUNÇÕES DA ORGANIZAÇÃO
OU FUNÇÕES ORGANIZACIONAIS
As
organi zaçõe s,
normalme nt e ,
quando
departamentalizadas são divididas em áreas funcionais, e se não
são divididas formalmente, as funções organizacionais acontecem da mesma forma no espaço organizacional. Essas áreas representam atividades e tarefas especializadas que são desempenhadas por unidades ou departamentos da organização.
90
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Você já ouviu falar em áreas funcionais? Vamos conhecê-las.
As áreas mais comuns de existentes nas organizações são cinco e sintetizam algumas considerações que permitirão conhecer minimamente as atribuições de cada uma
delas.
ÁREAS
CONSIDERAÇÕES
A principal razão de ser de uma organização é a produção de bens ou a
prestação de serviços, por isso consideradas o coração de sua atividade. O
sistema de operações é o conjunto de atividades e operações inter-
Produção ou
Operações
relacionadas envolvidas na produção de bens ou prestação de serviços de
uma organização, representando como esta transforma os insumos em
produtos e serviços, agregando valor de forma a alcançar os objetivos
organizacionais. Essa área envolve: planejamento de produto, instalações,
processo produtivo, organização do trabalho, planejamento da produção,
administração de estoques e controle e compras.
Seu objetivo é captar e manter os clientes da organização. Seu foco é a
satisfação do cliente, procurando influenciar seu comportamento e, assim,
alcançar seus objetivos. A área é responsável por pesquisa de mercado,
Comercial e
pensar e desenvolver produtos, estabelecer preços, planejar a distribuição dos
Marketing
produtos ou serviços, estabelecer a comunicação com seu público-alvo por
meio da publicidade, promoção, propaganda e relações públicas, administrar
as transações entre a organização e os clientes – vendas (em algumas
organizações ela é independente).
Se a produção é o coração da organização, então a área financeira é o
sangue, que lida com todos os aspectos que envolvem recursos financeiros. É
uma área de apoio, não sendo a atividade principal da organização. Seu
objetivo consiste em captar e utilizar, de maneira eficaz, os recursos
financeiros de forma a alcançar os objetivos organizacionais. É responsável
Financeira
pela produção de relatórios e documentos contábeis que traduzem a situação
econômica e patrimonial da organização; análise e controle do seu
desempenho em termos de rentabilidade, equilíbrio financeiro; define as
políticas de investimentos, escolhendo melhores alternativas para a aplicação
dos recursos financeiros; define políticas de financiamento, selecionando os
melhores recursos e as fontes de recursos para o crescimento e a
administração da organização.
Um dos recursos mais importantes da organização são as pessoas. Também
91
EaD
Marivane da Silva
Um dos recursos mais importantes da organização são as pessoas. Também
chamado de gestão de pessoas, tem como objetivo a administração de
comportamentos individuais em função dos objetivos organizacionais. A
organização deve atrair, preparar e desenvolver as pessoas de forma que
consigam contribuir para o alcance dos objetivos organizacionais. A função
desta área é: estabelecer políticas que regulem as relações da organização
com seus membros; fazer diagnóstico das necessidades em termos de
Recursos
Humanos
pessoal; organizar processo de localização, atração e contratação de
candidatos qualificados para ocupar cargos na estrutura organizacional;
desenvolver programas e ações para reforçar as competências individuais e
melhorar o desempenho e a produção coletiva; desenvolver mecanismos de
avaliação formal, sistemática e periódica dos resultados alcançados pelos
membros da organização; definir sistemas de recompensas e de benefícios
para os membros da organização; pensar melhorias das condições no local de
trabalho, e realizar a gestão administrativa de pessoal, que trata do
processamento de salários, arquivos de pessoal, controle de horários, gestão
de contratos e demais processos burocráticos.
Os administradores no âmbito geral da organização planejam, organizam,
Administrativa
dirigem e controlam todas as demais áreas funcionais da organização. Na
verdade, fazem a interação e interligação com todas as outras áreas:
produção e operações, comercial e marketing, financeira e recursos humanos.
Quadro 2: Áreas funcionais de uma organização
Fonte: Elaborado a partir de Sobral; Peci, 2008.
Temos convicção de que os estudos não se restringem ao teor desenvolvido no Quadro
2, por isso sugerimos a leitura de outras obras para complementar seu conhecimento de
forma mais detalhada e, em seguida, vamos ao estudo do paradigma fordista.
92
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Na próxima seção será abordado o paradigma fordista, um
modelo administrativo que se caracteriza pelo trabalho dividido,
repetido, contínuo e baseado nos princípios da produtividade da
intensificação e da economicidade.
Seção 3.3
Sugestões de Leitura
KWASNICKA, E. L. Introdução
à administração. 6 ed. São
Paulo: Atlas, 2006.
SANTOS, R. da C. (Org.).
Manual de Gestão empresarial: conceitos e aplicações nas
empresas brasileiras. São
Paulo: Atlas, 2007.
Fordismo e a Produção de Massa
Fordismo
A política de Ford se alicercou na produção em massa, em
série e em cadeia contínua; no pagamento de altos salários, organização eficiente do trabalho e na fixação de preços mínimos para
os bens produzidos. Ford foi o “maior exemplo de administração
eficiente individual que a história conhece” (Silva, 2002, p.131).
A contribuição de Ford foi a linha de montagem no processo de
produção de automóveis Ford Modelo T, padronizados e baratos.
Ao atender à crescente demanda da sociedade de consumo, seu
sistema de produção em massa parecia a fórmula ideal para ga-
É a produção em grande
quantidade de automóveis a
baixo custo por meio da
utilização do artifício conhecido
como “linha de montagem”, o
qual tinha condições de
fabricar um carro a cada 98
minutos, além dos altos
salários oferecidos a seus
operários — notavelmente o
valor de 5 dólares por dia,
adotado em 1914.
Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/
Henry_Ford>.
Acesso em: 3 dez. 2008.
rantir a satisfação e a prosperidade do homem moderno (Nogueira, 2007, p. 123).
Vamos agora conhecer um pouco mais de Henry Ford, conhecido mundialmente como o “pai do carro popular ”.
Henry Ford nasceu em Springwells, em uma fazenda próxima a um
município rural a oeste de Detroit, no Estado do Michigan (EUA),
em 30 de julho de 1863, filho de fazendeiro irlandeses. O engenheiro
americano foi um dos mais famosos industriais da história.
Ford iniciou sua trajetória com motores, digamos assim, na fazenda de seu pai. Ele era responsável pelos reparos nas máquinas
da fazenda, mostrava muita habilidade para inovar e sua principal intenção era observar o funcionamento mecânico das máqui-
93
EaD
Marivane da Silva
nas e equipamentos. A vida na fazenda era difícil, exigia serviços pesados feitos à mão. Por causa
disso, desde menino Ford já demonstrava interesse em diminuir o trabalho manual com o uso de
máquinas. No ano de 1875, com 12 anos, o contato com um locomóvel a vapor o levou a estudar
os carros automotores.
Aos 15, ele tinha a reputação de reparador de relógios, tendo desmantelado e remontado as
peças de relógios de amigos e vizinhos dezenas de vezes. Em 1879, com 16 anos, ele deixou sua
casa e foi para a cidade vizinha Detroit, para trabalhar como aprendiz de operador de máquinas,
primeiro na empresa James F. Flower & Bros., e mais tarde na Detroit Dry Dock Co.
Em 1882 ele retornou a Dearborn para trabalhar na fazenda da família e se tornar experiente na
operação dos motores a vapor portáteis da Westinghouse. Aos 19, Ford entrou para a Companhia
Westinghouse, no conserto e na montagem de locomóveis a vapor. Em 1885, trabalhando como
mecânico das oficinas da Eagle Motor Works, em Detroit, seu interesse se concentra nos motores
à explosão. Dois anos depois Ford construiu seu primeiro motor desse tipo, movido à gasolina.
Ford se casou com Clara Jane Bryant (1865-1950) em abril de 1888, e se sustentava com a
exploração da fazenda e mantendo uma serraria. Eles tiveram um único filho, Edsel Bryant Ford
(1893-1943) e adotaram um da China.
Por volta do ano de 1890 Ford assumiu o lugar de engenheiro maquinista na cidade de Detroit na
Edison Illuminating Company. Em 1893, após sua promoção ao cargo de engenheiro chefe, Ford
passou a ter bastante tempo e dinheiro para dedicar-se às suas experiências pessoais com motores à gasolina. Estes experimentos culminaram em 1896 com a conclusão de seu próprio veículo
automotor denominado Quadriciclo, que ele dirigiu em teste em 4 de junho. Depois de vários
testes, Henry Ford planejou formas de melhorar o quadriciclo.
Sua primeira empresa foi a Detroit Automobile Company, sob a responsabilidade de ser engenheiro chefe, entretanto a fábrica fechou devido à discordância com os outros diretores em relação à
adoção da produção em massa como modelo padrão. Anos mais tarde montou outra empresa,
esta voltada para carros de corrida, contudo a produção desses carros não obteve êxito. Mesmo
assim, Ford persistiu com a idéia e juntamente com o projetista Harold Wills montou o chamado
carro 999, com o qual Barney Oldfield se tornou campeão, divulgando o carro em todo país. Esse
passo foi importante, pois o rendimento financeiro proveniente do sucesso de seu carro deu
suporte financeiro a suas idéias e assim a Ford Motors Company foi fundada, em 1903, juntamente
com outros 11 investidores e 28.000,00 dólares de capital.
Ford maravilhou o mundo em 1914, oferecendo o pagamento de 5 dólares por dia, o que
mais do que duplicou o salário da maioria dos seus trabalhadores. O movimento foi extremamente rentável; no lugar da constante rotatividade de empregados, os melhores mecânicos
de Detroit afluíram para a Ford, trazendo seu capital humano e sua habilidade, aumentando
a produtividade e reduzindo os custos de treinamento. Ford chamou isso de “salário de motivação”. O uso da integração vertical pela empresa também provou ser bem-sucedida quando Ford construiu uma fábrica gigantesca, onde entravam matérias-primas e de onde saíam
automóveis acabados.
94
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
O Ford Modelo T foi apresentado no dia 1º de outubro de 1908. Por volta de 1918, metade dos
carros na América do Norte eram Modelos T. A alta produção conseguida por Ford tem como
característica marcante a escolha de uma única cor de veículo, a preta.
Ford criou um sólido sistema de publicidade em Detroit para garantir que cada jornal transmitisse notícias e anúncios sobre o novo produto. A rede de concessionários locais de Ford tornou o
carro onipresente em praticamente todas as cidades da América do Norte. Como revendedores
independentes, as franquias enriqueceram e fizeram a propaganda não apenas de Ford, mas
também do próprio conceito de automobilismo; clubes locais de automóveis surgiram para
ajudar novos motoristas e para explorar o campo. Ford foi sempre ávido para vender aos fazendeiros, que viram no veículo um dispositivo comercial para ajudar em seus negócios.
As vendas subiram rapidamente – vários anos tiveram 100% de lucros em relação ao ano
anterior. Sempre na busca de maior eficiência e menores custos, em 1913 Ford introduziu a
montagem em esteiras em movimento nas suas instalações, o que permitiu um enorme aumento da produção.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford>. Acesso em: 13 jan. 2009.
A consolidação do fordismo como um processo de produção em massa por meio da
linha de montagem, a partir de 1914, confunde-se com o estilo de vida e o padrão de consumo desenvolvido no mundo ocidental durante todo o século 20.
Inspirado na visão taylorista sobre especialização e divisão do trabalho, Ford visualizava
sua força de trabalho (trabalhadores) não apenas como mão-de-obra, mas como um público-alvo de consumo. Por isso, inovou no incentivo monetário ou do interesse econômico do
trabalhador como meio de controle e gestão.
Ao pagar salários acima da média do mercado permitiu aos trabalhadores terem um
padrão de vida e de consumo elevado, impulsionando significativamente o progresso econômico e social dos EUA. Com isso, Ford agrega às visões taylorista e fayolista, acrescentando:
“O trabalhador é um consumidor ” (Nogueira, 2007, p. 123).
A principal obra publicada no Brasil denomina-se “Os princípios da prosperidade”, em
1967, traduzida por Monteiro Lobato, que o considera um gênio, pela seguinte razão: Ford
“enriqueceu enriquecendo a humanidade, enriquecendo e tornando feliz o operário, enriquecendo e facilitando a vida do consumidor ” (Lobato, apud Nogueira, 2007, p. 124).
95
EaD
Marivane da Silva
Se analisarmos os produtos e serviços de nosso cotidiano perceberemos que os fundamentos do fordismo ainda estão presentes na sociedade contemporânea, globalizada e capitalista.
O ensinamento do paradigma fordista é o controle sobre o processo de trabalho e produção. Ele foi capaz de determinar o ritmo e o tempo do processo de produção, quase sem
levar em conta o desempenho de cada trabalhador. A compensação financeira por dia de
trabalho refletia-se em filas intermináveis por emprego na Ford, que chegou a ter 80 mil
trabalhadores em uma única fábrica.
O resultado prático do modelo fordista foi uma redução radical no custo do processo
produtivo e dos automóveis, bem como no tempo despendido na realização das tarefas. Com
a adoção da linha de montagem, o tempo necessário para fabricar um automóvel caiu de 12
horas e 30 minutos para 1 hora e 30 minutos, o que elevou a produtividade e permitiu
aumentar os salários dos trabalhadores.
Na década de 30, porém, o sistema deu mostras de esgotamento, o mercado se retraiu,
o desemprego cresceu e a Ford enfrentou a primeira greve da sua história. Nessa epoca
consolida-se o sindicalismo nos Estados Unidos e se reconhecia o direito de negociação pela
classe trabalhadora. A partir deste fato ficaram evidentes os limites do fordismo e as contradições do modelo, apesar de ser mundialmente socializado e com reflexos visíveis nas áreas
de prestação de serviços públicos e privados.
Sintetizando a Unidade, podemos afirmar que a combinação dos elementos do
taylorismo e do fordismo, somada ao conceito da função administrativa de Henri Fayol e aos
princípios de organização burocrática (ainda a ser estudado), forma o paradigma técnicoadministrativo, constituinte da abordagem (ou escola) clássica da Administração.
O trio Taylor, Fayol e Ford são inesquecíveis no campo da Administração, prevalecendo por quase todo o século 20 e ainda muito presente na mentalidade de todos os gestores e
estudiosos da atualidade.
Ainda cabe destacar que outros modelos ou paradigmas foram importantes para a
indústria automobilística brasileira, tais como o toyotismo e o volvismo.
96
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Se voltar à leitura da obra de Morgan (1996) você vai encontrar suas metáforas para explicar a complexidade da organização e
da administração e identificá-las aos paradigmas como:
Sugestão de Leitura:
a) Fordismo = máquina; b) Toyotismo = organismo; c)
Volvismo = cérebro.
A imagem das organizações vista como máquinas colocam
as pessoas nesta mesma metáfora e moldam o trabalho com princípios mecânicos; horários rígidos; rotinas predeterminadas; tarefas repetitivas; estreito controle e, findando, o processo de produção manual.
O sistema Toyota de produção pode ser associado à metáfora do organismo, pois compreende as relações entre a organização e o meio, enfocando a sobrevivência, valorizando a inovação e a busca pela harmonia entre estrutura, tecnologia e dimen-
Para construir seu aprendizado
com maior profundidade nos
três “ismos” – Fordismo,
Toyotismo e Volvismo –
proponho a leitura de dois
artigos:
WOOD JR., Thomaz. Fordismo,
toyotismo e volvismo. In: ______.
Mudança organizacional. 4. ed.
São Paulo: Atlas, 2004.
WOOD JR., Thomaz. Fordismo,
toyotismo e volvismo: os
caminhos da indústria em
busca do tempo perdido.
Revista de Administração de
Empresas, São Paulo, v. 32, n.
4, set./out. 1992. Disponível
em: <http://www.rae.com.br/
rae/index.cfm?FuseAction
=Artigo&ID=757&Secao=ARTIGOS
&Volume=32&numero=4&Ano=1992>.
Acesso em: 13 jan. 2009.
sões humanas.
Já o sistema volvismo está mais vinculado à metáfora do
cérebro, porque chama a atenção para o processamento de informações, aprendizagem e inteligência, caracterizado o contexto
organizacional com alto grau de flexibilidade e inovação.
Tendo a visão dos paradigmas apresentados como técnicoadministrativo será possível avaliar as mudanças e os processos
de transformação da indústria automobilística e da administração, nas décadas de 50 a 70.
97
EaD
Marivane da Silva
Você sabe que os paradigmas históricos sofreram críticas. Você pode citar alguma crítica ao paradigma técnico-administrativo apresentado na Unidade 3? Reflita.
Para contribuir citamos a partir da obra de Nogueira (2007, p. 127) algumas críticas
que serviram de base para o avanço dos estudos e das contribuições à Administração.
• O modelo prioriza o aspecto quantitativo em detrimento do qualitativo, e com base na
leitura de Nogueira (2007) a superação só é possível por meio de uma ruptura radical
com o sistema capitalista.
• Apresenta uma necessidade de identificar aspectos no modelo taylorista-fordista e mais
adiante burocrático, que possam ser incorporados a um novo paradigma de gestão, relacionado com o desenvolvimento sustentável.
• Compreende-se que poucos elementos do modelo de gestão técnico-administrativo sobreviveriam a um sistema que priorizasse a busca da sustentabilidade, justificado pelas agressões que provocaram ao meio ambiente, à limitação da capacidade criativa do trabalhador e à perda de identidade profissional.
• Há a percepção de que se trata de um padrão comprometido com a construção de um
mundo objetivo, instrumental e automático, que considera o trabalho humano objeto de
exploração, e não de realização; a finalidade econômica desestrutura a estabilidade social e põe em risco o meio ambiente, destruindo-o para satisfazer necessidades de consumo
e geração de lucro.
98
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
SÍNTESE DA UNIDADE 3
Trata-se do paradigma técnico-administrativo que é composto pelas contribuições do modelo taylorista, fayolista e fordista.
Taylor era considerado o pai da Administração Científica, marcado pelo estudo dos tempos e movimentos, cujo foco era a racionalização da produção.
Fayol era considerado o pai da Administração, marcado pelos princípios e regras para a Administração, mentor da função administrativa.
A função administrativa é composta dos elementos: planejar, organizar, dirigir e controlar, que em conjunto formam o processo
administrativo.
As funções organizacionais ou áreas funcionais são as áreas que
constituem a organização: marketing, produção e operações, recursos humanos, financeiro e administrativo.
Ford foi outro clássico importante que deu origem à linha de montagem e à idéia de produção de massa, conhecido como o pai do
carro popular – Ford Modelo T.
Weber, com os princípios de organização burocrática, complementa
outros modelos ou paradigmas importantes para a indústria automobilística, como toyotismo (produção flexível) e volvismo (flexibilidade criativa).
99
EaD
100
Marivane da Silva
EaD
Unidade 4
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
PARADIGMA ORGANIZACIONAL
OBJETIVO DESTA UNIDADE
• Conhecer as contribuições ao paradigma organizacional de Max Weber, Amitai Etzioni,
Blau e Scott.
• Conhecer um estilo de gestão – Administração por Objetivos – Peter Drucker.
AS SEÇÕES DESTA UNIDADE
Seção 4.1 – Weber e a Organização Burocrática
Seção 4.2 – Tipologias das Organizações: uma visão de Etzioni, Blau e Scott
Seção 4.3 – Administração por Objetivos
O paradigma organizacional teve origem na abordagem estruturalista da Administração e da Sociologia das organizações, desenvolvida principalmente por Amitai Etzioni, que
considera que o “todo social é formado por uma sociedade de organizações” (Nogueira, 2007,
p. 153). Dessa forma, será abordada nesta Unidade esta perspectiva organizacional, que é
considerada avançada pelo fato de integrar as dimensões técnico-administrativa e psicossocial.
Cabe lembrar, no entanto, que alguns autores consideram Max Weber como o primeiro teórico das organizações, por meio de seus estudos sobre burocracia, sendo incorporado
nesta unidade como objeto de estudo, juntamente com as tipologias das organizações a
partir de Etzioni e a dupla Blau e Scott e, para finalizar, as contribuições de Peter Drucker,
com a Administração por Objetivos – APO –, como uma forma de encaminhar a gestão nas
organizações.
101
EaD
Marivane da Silva
Seção 4.1
Weber e a Organização Burocrática
Na perspectiva de Weber, o Estado é um tipo de organização diferente porque representa uma comunidade que detém o monopólio do uso legítimo da força física dentro de
determinado território. Logo, para que exista Estado é preciso que a sociedade o reconheça
como autoridade legítima e acate suas decisões.
Você já conheceu a figura de Max Weber na Unidade 3, mas agora vamos apresentar
um pouco mais de sua história.
Emil Maximillian Weber, mais conhecido como Max Weber, nasceu em Erfurt,
Turíngia, parte da Alemanha, em 21 de abril de 1864. Foi um intelectual, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. A esposa de Max Weber,
Marianne Schnitger, era socióloga e historiadora do Direito.
Era o mais velho dos sete filhos de Max Weber e Helene Fallenstein. Seu pai, protestante, era uma figura autocrata. Ele foi, juntamente com Karl Marx, Vilfredo Pareto e
Émile Durkheim, um dos modernos fundadores da Sociologia. É conhecido sobretudo
pelo seu trabalho sobre a Sociologia da religião.
De importância extrema, Max Weber escreveu a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Este é um ensaio fundamental sobre as religiões e a afluência dos seus
seguidores. Subjacente a Weber está a realidade econômica da Alemanha do princípio
do século 20.
Weber também é conhecido pelo seu estudo da burocratização da sociedade. No seu
trabalho, Weber delineia a famosa descrição da burocratização como uma mudança
da organização baseada em valores e ação (a chamada autoridade tradicional) para
uma organização orientada para os objetivos e ação (chamada legal-racional). O resultado, segundo Weber, é uma “noite polar de frio glacial” na qual a crescente
burocratização da vida humana a coloca numa gaiola de metal de regras e de controle
102
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
racional. Seus estudos sobre a burocracia da sociedade tiveram grande importância
no estudo da Teoria da Burocracia, dentro do campo de estudo da Administração de
empresas.
Max Weber morreu de pneumonia em Munique, Alemanha, a 14 de junho de 1920.
Quando morreu seus estudos encontravam-se em estado caótico e nenhum dos seus
trabalhos estava disponível em inglês. Seu trabalho sobre burocracia permaneceu não
reconhecido nos Estados Unidos até os anos 40.
Quando as organizações começaram a crescer em tamanho e em complexidade, a procura por uma teoria das organizações apontou Max Weber e seu modelo burocrático.
Os estudos e trabalhos de Weber estavam cronologicamente paralelos aos estudos de
Taylor e Fayol (Silva, (2002, p. 160, e em parte disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Max_Weber>. Acesso em: 12 jan. 2009.
Agora vamos descobrir o que era a burocracia de Weber.
Weber concebeu o que seria a burocracia ideal, cujo modelo procura estabelecer estrutura, estabilidade e ordem nas organizações por meio de uma hierarquia integrada de atividades especializadas, definidas por regras sistemáticas, ou seja, o paradigma burocrático
surgiu da “necessidade de criar um modelo organizacional que considerasse todos os aspectos organizacionais, humanos e estruturais” (Oliveira; Silva, 2006, p. 82).
Entendendo a afirmativa, você saberia listar as características da burocracia?
Vamos buscar o apoio de Silva (2002, p. 161) para ajudá-lo a defini-las:
103
EaD
Marivane da Silva
a) Divisão do trabalho: as atividades são desmembradas em tarefas simples, de tal modo que
qualquer pessoa, de qualquer tipo de organização, poderia se tornar especializada num
tempo mínimo; a especialização torna o trabalho humano intercambiável e gera eficiência organizacional. Cada posição possui suas funções de responsabilidades e delegação
de autoridade competentes definidas claramente.
b) Hierarquia de autoridade: posições ou empregados são organizados de modo a formar a
hierarquia (cadeia de comando) na qual a organização está estruturada; cada posição
apresenta responsabilidades e deveres específicos, bem como privilégios.
c) Racionalidade: todos os membros da organização são selecionados com base na qualificação técnica para um desempenho adequado; as promoções ocorrem por desempenho e
capacitação técnica (mérito);
d) Regras e padrões: as decisões gerenciais são guiadas por regras, disciplina e controles,
relacionados à conduta dos deveres oficiais, aplicados de forma impessoal tanto aos empregados da organização quanto aos clientes, fora dela.
e) Compromisso profissional: os administradores trabalham por salários fixos e não são os
donos dos negócios que administram; os gerentes são treinados para as atividades administrativas visando à melhor qualificação para o alcance da eficiência organizacional e
para o controle das atividades dos empregados.
f) Registros escritos: com o objetivo de estabelecer continuidade organizacional e uniformidade de ação, as burocracias mantêm registros, elaborados para detalhamento das transações da organização.
g) Impessoalidade: as regras e os procedimentos são aplicados de modo uniforme e imparcial; todos os funcionários são avaliados de acordo com regras objetivas, de tal
modo que não se permita ao superior fazer considerações pessoais ou emocionais
nas avaliações.
Com base nestas características é possível fazer a seguinte constatação:
104
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Ao analisar o tipo ideal de burocracia verificou-se que se tratava de técnicos ou administradores profissionais que se dedicavam a seus cargos mesmo não possuindo o domínio
dos meios administrativos que determinam as funções e competências desses cargos. Esse
poder é da burocracia e não dos ocupantes dos cargos.
As organizações modernas são estruturas burocráticas, de poder e de autoridade. A autoridade
tradicional apóia-se em procedimentos legitimados pelo uso continuado; a autoridade
carismática centra-se na figura de um líder pessoal; a autoridade moderna tem como base a
racionalidade legal (Nogueira, 2007, p. 154).
Resumindo as características apresentadas anteriormente, pode-se afirmar que o modelo burocrático de Weber decorre de seu estatuto legal e de sua competência funcional
baseada em regras racionais, nos limites técnicos dessa competência e em uma ordem impessoal e universalista.
A autoridade racional-legal é a forma de dominação legítima,
fundamentada em regras, que caracteriza a organização burocrática.
No Quadro 1 vamos apresentar as diferenças entre os tipos de autoridade.
Tipos de
Autoridade
Autoridade
racional-legal
Autoridade
tradicional
Autoridade
carismática
Concepções
Envolve um corpo administrativo
organizado e toma a forma de
burocracia.
É imposta por procedimentos
considerados legítimos em nome da
tradição.
Depende da legitimidade do líder
diante de seus seguidores, envolve
lealdade pessoal e geralmente se
opõe à ordem estabelecida.
Poder
Sociedade
Mérito (regras,
padrões)
Normas impessoais
(empresas e
exército)
Herdado
(tradição,
costume)
Patriarcal (família,
medieval)
Delegável
(“heroísmo”)
Personalística
(partidos)
Quadro 1: Diferenças entre os tipos de autoridade
Fonte: Adaptado de Nogueira (2007, p. 155); Neto (2001, p. 38).
105
EaD
Marivane da Silva
Robert K. Merton
Nasceu em 4 de julho de 1910
e morreu em 23 de fevereiro
de 2003. Nascido Meyer R.
Schkolnick, foi um sociólogo
americano, importante como
teórico da burocracia, da
sociologia, da ciência e da
comunicação em massa.
Muniz e Faria (2007, p. 56) afirmam que a burocracia não
deixa de ser:
(.. .) uma forma de organ ização huma na qu e se b aseia na
racionalidade adequada dos meios para atingir objetivos pretendidos, a fim de prestar a máxima eficiência no alcance dos
objetivos. (...) um sistema social organizado mediante normas
escritas, visando à racionalidade e à igualdade no tratamento
de seu público.
Weber preocupou-se apenas com as relações formais entre
os elementos da burocracia, ignorando a organização informal e
os fatores humanos e sociais do comportamento, gerando, desta
forma, o homem burocrata (volte ao Quadro 5 da Unidade 2),
cujo comportamento é padronizado, previsto e funcional, pois o
rigor das normas institucionais não permite um comportamento
espontâneo, criativo e inovador .
A percepção da função das organizações burocratas é:
Reproduzir o sistema político-econômico dominante, seja
ele capitalista ou socialista (Nogueira, 2007, p. 156).
Robert K. Merton criticou o modelo de Weber afirmando
que apresentava muitas disfunções e que este:
(...) idealizou uma organização que na prática não consegue
funcionar com o rigor determinado pelas características essenciais da burocracia, gerando, assim, imprevisões ou disfunções,
cujo prejuízo está no desempenho das tarefas e na inexecução
total ou parcial dos objetivos organizacionais (Muniz; Faria,
2007, p. 57).
106
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Desta forma, Merton criou a teoria das disfunções estruturais fundadas, também conhecidas como “fontes estruturais da superconformidade”, defendendo que as disfunções estavam ligadas ao comportamento do funcionário e poderiam ser compreendidas pela aplicação
do conceito de incapacidade treinada, psicose ocupacional e deformação profissional.
Muniz e Faria (2007) apresentam as disfunções de Merton caracterizadas por:
a) maior internalização das regras e exagerado apego aos regulamentos;
b) excesso de formalismo e de papelada;
c) resistências a mudanças;
d) despersonalização do relacionamento;
e) categorização como base do processo decisorial;
f) superconformidade às rotinas e aos procedimentos;
g) exibição de sinais de autoridade (uso da força hierárquica do cargo, uniforme, localização da sala, banheiro privativo, refeitório, tipo de mesa);
h) dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público;
i) imprevisibilidade de comportamento, impedindo a inovação e a criatividade e
desconsideração à chamada “organização informal”.
Cabe destacar outros dois nomes também considerados importantes para o estudo do
modelo burocrático:
a) Philip Selznick, também sociólogo, propôs outro modelo com destaque à delegação de
autoridade. Ele mostrou como o emprego da delegação gera uma série de conseqüências
imprevistas que, geralmente, originam-se de problemas ligados à manutenção de sistemas altamente interligados, de relações interpessoais.
107
EaD
Marivane da Silva
Produtividade
É uma relação entre esforço e
resultado.
b) Alvin W. Gouldner, sociólogo americano, realizou pesquisas e
concluiu que existe uma variedade de graus de burocratização
e não um único modelo de burocracia, os quais resgatam parte das contribuições de Merton e Selznick. Ele se ocupou com
as conseqüências que as diretrizes administrativas trazem para
a manutenção da estrutura organizacional.
É necessário avançar nas pesquisas e descobrir mais detalhes dos modelos de Merton (que identificou as anomalias de funcionamento do processo de Weber), de Selznick (que estudou a
delegação de autoridade), de Gouldner (que defende a existência
de diferentes graus de burocratização).
Sem dúvida, também é importante resgatar algumas observações feitas por Motta e Pereira (1986) na obra Introdução à
organização burocrática:
As organizações neste período histórico são indiscutivelmente o
tipo de sistema social predominante das sociedades industriais;
abandonando o campo de vista puramente científico para aderir
à crítica social.
O homem da organização burocrática é o homem que pensa em
grupo, que toma decisões em grupo, que trabalha e se diverte em
grupo, é o homem cujas crenças e valores são os valores e as crenças
das organizações de que participa, é o homem cujo comportamento
é condicionado pela organização, de forma a tornar mínima, senão
inexistente, sua área de autonomia individual e, dando origem ao
homem burocrata e organizacional (quadro 5 da Unidade 2).
Outra explicação para a importância das organizações burocráticas no mundo moderno é que elas são condições para o desenvolvimento econômico, político e social. Lembrando de nossos
conceitos de desenvolvimento, abordado na Unidade I, agregando a visão de que é um processo integrado de transformação social que tem nas organizações um de seus principais instrumentos.
O princípio fundamental que rege a vida das organizações neste
modelo é o princípio da eficiência – condição fundamental para
sua existência.
“Sem eficiência, sem produtividade, não há organizações; sem
aumento de eficiência, não existe desenvolvimento” (p.17).
108
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Os filmes “O processo” e “Brazil” permitem aprender sobre os conceitos da teoria sobre a burocracia.
O Processo
Sugestões de leitura:
SAUSEN, Jorge O. Reconceitualização da organização
burocrática: a busca de um novo arcabouço organizacional.
Revista de Estudos da Administração, Ijuí: Ed. Unijuí, ano
1, n. 1, jul./dez, 2000.
MOTTA, Fernando C. P.; PEREIRA, Luiz C. B. Introdução à
organização burocrática. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986.
WEBER, Max et al. Sociologia da burocracia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966.
Cabe destacar que, em muitos momentos, a burocracia era
sinônimo de ineficiência, excesso de regras e exigências que eram
vistas como impedimento para o avanço, ou seja, tinha fama de
imperar o sistema organizacional.
A fila é um subproduto da burocracia e que necessitaria ser
Joseph K. (Anthony Perkins) é
um homem reservado, que
vive na pensão da senhora
Grubach (Madeleine Robinson)
e se dá
bem com
todos os
demais
moradores do
local. Um
dia ele é
acordado
por um
inspetor
de polícia
(Arnoldo Foà), que lhe informa
que está preso, mas não o leva
sob custódia. Durante o
processo Joseph segue com
suas atividades normais, tendo
apenas que ficar à disposição
das autoridades a qualquer
hora do dia. Incomodado por
não saber do que está sendo
acusado, ele decide investigar
em busca de uma resposta.
Disponível em:
<http://www.interfilmes.com/
filme_14253_O.Processo(Le.Proces).html>.
Acesso em: 20 jan. 2008.
resolvida, porém os maiores impedimentos, segundo Ribeiro (2003,
p. 92), são: custo dos investimentos para melhorar a operação; a
indolência de profissionais e a mentalidade burocrática. Neste
se nti do, apre se nta-se na l i te ratura a ne ce s si dade de
desburocratização da organização.
Você saberia explicar o que significa desburocratização?
Vamos descobrir juntos?
Desburocratizar é administrar de forma mais humana e eficaz, confiando mais e punindo os que não correspondem à confiança, dando mais valor às palavras e aos fatos do que aos docu-
Brazil
Em um futuro caótico e
perturbador, uma cidade inteira
é monitorada por meio de
computadores e
leis
burocráticas ao
extremo.
É nesse
infeliz
mundo
que Sam
Lowry se
apaixona
por Jill, uma terrorista local.
Disponível em:
<http://cineplayers.com/
filme.php?id=99>.
Acesso em: 20 jan. 2008.
109
EaD
Marivane da Silva
Organização informal
Surge como derivação do
sistema burocrático após a
constatação da impossibilidade
de impor padrões de comportamento humano a uma
organização
(Neto, 2001, p. 93).
mentos. Pode ser vista como uma redução das atividades e trabalhos que não agregam valor ao produto ou serviço e que atendam
apenas às exigências internas da organização, sem considerar o
cliente, o ambiente e a organização informal.
Na concepção de Ribeiro (2003, p. 91) desburocratizar é
Amitai Etzioni
“delegar poder decisório aos subordinados”.
A conclusão a que chegamos após o estudo do paradigma
organizacional burocrático é que, apesar de todas as críticas, limitações e restrições, ainda é um modelo confiável para gerir uma
Imagem disponível em:
<http://aasa.files.cmsplus.com/images/SA/2008/
May08/Etzioni1.jpg>.
Acesso em: 20 jan. 2009.
organização. Sabemos que, sem o mínimo de burocracia, uma
organização não funcionaria com eficiência.
A seguir vamos conhecer as contribuições de Etzioni, Blau
e Scott para as organizações e o paradigma organizacional.
Seção 4.2
Tipologias das Organizações:
uma visão de Etzioni, Blau e Scott
Amitai Etzioni classificou os meios de controle aplicados por
uma organização em três categorias de análise (Nogueira, 2007):
1) Meios físicos: atingem o corpo das pessoas e podem ser representados por armas, equipamentos de coerção e tortura, prisões, etc. Normalmente empregados pelo poder coercitivo.
2) Meios materiais: consistem em recompensas materiais – o principal é o dinheiro – que permitem adquirir bens e serviços e são
amplamente utilizados pelo poder manipulativo;
110
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
3) Meios sociais e simbólicos: estão relacionados com prestígio, estima e consideração, aceitação social no grupo, afeto, etc., e constituem estratégias do poder normativo ou poder
normativo-social.
Para melhor compreender suas categorias vamos resgatar os conceitos das formas de
poder exercidas pelas organizações (Quadro 2).
Tipos de Poder
Coercitivo
Normativo
Manipulativo
Conceitos
Típico de organizações cujo objetivo é o controle do
comportamento: forças armadas, prisões, campos de
concentração.
Caracteriza as organizações que têm como meta a comunhão de
idéias e o senso de missão: organizações religiosas, políticas,
sociais e sindicais.
Empregado por organizações utilitárias para controlar seu corpo
social por meio de recompensas econômicas: organizações
empresariais e profissionais.
Quadro 2: Formas de poder exercidas pelas organizações, segundo Etzioni
Fonte: Nogueira (2007, p. 157).
Lendo este quadro, você deve estar se questionando: afinal, o que é poder? Como Etzioni
conceitua poder? Para respondê-lo, vamos nos reportar ao seu próprio discurso:
O poder de uma organização para controlar os membros apóia-se em posições específicas (chefe
de departamento), numa pessoa (um homem convincente) ou numa combinação dos dois (um
chefe convincente de departamento). O poder pessoal é sempre normativo; baseia-se no controle
de símbolos e pode favorecer o aparecimento do compromisso com a pessoa que o possui. O
poder de posição, de outro lado, pode ser normativo, coercitivo ou utilitário (1967, apud Nogueira, 2007, p. 157).
Em outra perspectiva, Nogueira (2007, p. 157) afirma que “poder é a capacidade de
obter resultados por consenso ou coerção. Quando há poder, alguém exerce domínio sobre
alguém – e esse poder depende tanto da maneira como a parte dominante o exerce quanto
do modo como a parte dominada se submete a ele”.
Vamos retomar algumas questões que já estudamos na Unidade 1, porém abordando
com uma abrangência mais ampla.
111
EaD
Marivane da Silva
Peter Michael Blau
Há uma classificação das organizações considerando o público-alvo e desenvolvida por Peter Michael Blau, criador da
Sociologia Organizacional, e Richard Scott:
a) clubes, associações, partidos políticos, sindicatos e cooperativas são organizações que visam ao favorecimento de seus sócios ou integrantes;
Nasceu em 7 de fevereiro de
1918 e morreu em 12 de
março de 2002, de síndrome
do desconforto respiratório
agudo. Era sociólogo e sua
especialidade era realizar
análises organizacional e da
estrutura social, em particular
da burocracia.
Disponível em:
<http://data360.files.wordpress.com/
2007/03/blau.jpg>.
Acesso em: 20 jan. 2009.
b) empresas são, em geral, organizações privadas com fins lucrativos e visam ao favorecimento de seus proprietários ou
acionistas;
c) hospitais, serviços de saúde, escolas e universidades são organizações que visam a beneficiar seus clientes e usuários diretos;
d) organizações públicas ou governamentais visam a favorecer a
sociedade.
Desta forma, tendo como parâmetro esta classificação proposta, podemos identificar que existem organizações empresariais (propriedade privada individual, familiar ou de sócios e acionistas), cujo interesse é o lucro, e não-empresariais. Assim, é possível também classificar as organizações públicas e estatais como
parte do primeiro setor da economia; as empresas privadas industriais, de serviços e comerciais como do segundo setor e as
organizações sem fins lucrativos como de terceiro setor.
As organizações do terceiro setor são escolas, universidades,
organizações não-governamentais (ONGs), fundações privadas
com fins públicos, clubes, associações, organizações filantrópicas,
organizações religiosas, associações de bairro, fundações ligadas
a sindicatos, etc. Elas podem receber apoio tanto do poder público
quanto por doações ou cotas de participação de caráter privado –
são organizações não-lucrativas, públicas e sociais.
112
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
A seguir você irá encontrar uma síntese referente às organizações vinculadas aos setores econômico, no Quadro 3.
SECUNDÁRIO
ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS
ORGANIZAÇÕES
SINDICAIS
ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS
Tipo
TERCIÁRIO
PRIMÁRIO
Setor
Considerações importantes
Constituído de organizações estatais, geridas pela administração ou gestão pública.
Considerando o caráter público e estatal, as organizações sustentadas pelo Estado
podem funcionar como:
a) administração estatal direta e exclusiva (organizações dos poderes Executivo,
Judiciário e Legislativo);
b) administração indireta e organizações prestadoras de serviços públicos
(instituições de saúde, hospitais, empresas públicas de água e saneamento,
companhias de fornecimento de energia, etc.)
c) empresas que seguem a lógica do modo de produção capitalista (bancos,
empresas produtivas, empresas de prestação de serviços, etc.);
d) as organizações públicas da administração direta: são consideradas mais formais
e reguladoras do que as empresas privadas, pois se mantêm com tributos, impostos
e taxas cuja administração é exclusivamente estatal.
Há organizações públicas nos três poderes:
a) Executivo: organizações estatais prestadoras de serviços (áreas de saúde,
educação, transporte, previdência, etc.); arrecadadoras e fiscalizadoras
(receita, fiscalização, autorizações) e as detentoras do poder de polícia e
segurança pública (exército, polícia militar e civil, sistema penitenciário).
b) Legislativo: as organizações se distribuem nas esferas municipal, estadual,
regional e federal, cada uma delas com estrutura administrativa própria cujo
acesso se dá por meio de concurso público.
c) Judiciário: aplicam e interpretam a lei de acordo com a Constituição
Federal.
Esse tipo de organização visa acima de tudo ao retorno econômico. As empresas
privadas configuram-se estruturando a dimensão social subordinada à dimensão
técnico-administrativo – custo/benefício.
Racionalidade capitalista é classificada em três setores:
a) setor agrícola ou primário: grandes propriedades agrícolas de lavouras
extensivas, a agroindústria, o agronegócio e a pequena propriedade rural;
b) setor industrial ou secundário: com as indústrias de transformação e as
fábricas, as indústrias extrativas e da construção civil;
c) setor de serviços ou terciário: com as empresas comerciais e de serviços,
os bancos, os supermercados, as lojas em geral, os shopping centers e as
lojas de departamentos.
Embora saibamos que os aspectos sociais são importantes na organização, neste
caso prevalecem os critérios financeiros e mercadológicos, objetos da gestão e da
Administração.
Uma característica da empresa privada é que o poder de decisão é exercido por
quem detém a autoridade e a responsabilidade na organização – proprietário,
acionistas, administradores e gestores. Uma evolução em termos de modelo de
gestão foi a possibilidade de os empregados participarem dos lucros e resultados
da empresa.
Cabe lembrar que o mercado de trabalho no campo de Administração e de gestão
não depende exclusivamente da empresa privada.
Acumulam poder em decorrência da expansão no século 20, sendo construídas por
meio de cooperativas, organizações de ajuda mútua, união de trabalhadores,
mobilizações grevistas e reivindicatórias durante o processo de formação e
consolidação do capitalismo.
Você sabe qual é o papel dos sindicatos? Eles exercem o papel de reguladores
do mercado de trabalho, porque representam os trabalhadores na determinação de
salários e na melhoria geral das condições do exercício de suas atividades.
Ao mesmo tempo são consideradas organizações profissionais de negociação
coletiva e passam a reivindicar do Estado a adoção de políticas de bem-estar
social.
113
ORGANIZAÇÕES
POLÍTICAS
Marivane da Silva
ORGANIZAÇÕES
SOCIAIS
TERCIÁRIO
EaD
São agrupamentos políticos e ideológicos, movimentos propriamente políticos e
grupos organizados por mudanças políticas ao longo da História.
Os partidos políticos acabaram por quase monopolizar os movimentos políticos e se
transformaram em organizações profissionais que disputam o poder e os cargos
nos parlamentos e congressos. Transformaram-se em organizações burocráticas e
máquinas de arrecadação de dinheiro para as campanhas eleitorais. À medida que
foram se burocratizando, perderam muita força, principalmente nas bases e no
conjunto dos cidadãos, que cada vez mais se desinteressam pela política.
Trata-se dos movimentos sociais da sociedade civil que tÊm constituído distintas
modalidades de organizações de interesses e representação ao longo da História
das nações.
Produziram organizações de todos os tipos, acompanhando a mudança social
formando as organizações de mulheres e feministas; raciais e étnicas; de paz; em
defesa do meio ambiente, contra as armas nucleares, de homossexuais, etc.
Organizações religiosas também influenciam a organização da sociedade – igrejas
e associações.
Quadro 3: Considerações das organizações classificadas por setor e tipo
Fonte: Elaborado com base em Nogueira (2007).
Síntese reflexiva:
Influenciados pelos paradigmas formadores da Administração, os primeiros modelos
de organização pretendiam funcionar como uma máquina. O paradigma técnico-administrativo prescrevia um modelo de organização predominantemente burocrático,
autoritário, hierarquizado, formal, piramidal, com decisões de cima para baixo, unidade de comando, divisão pormenorizada do trabalho, etc. (Nogueira, 2007, p. 163).
Para Peter Michael Blau a burocracia ocorre principalmente nas grandes organizações, mas elas não são estáticas, podendo ocorrer mudanças de forma programada ou espontânea, decorrentes das influências externas e internas das organizações. Ele não criticou Weber, apenas propôs um esquema alternativo, que compreende quatro categorias
estruturadas de acordo com o beneficiário principal da organização (Quadro 4).
114
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Beneficiário
Exemplo
Próprios membros da organização
Clubes, associações, cooperativas.
Proprietários ou dirigentes
Empresas de forma geral.
Clientes
Hospitais, agências sociais, universidades.
Sociedade em geral
Organizações do Estado e do governo.
Quadro 4: Categorias estruturadas das organizações, segundo Blau e Scott
Fonte: Nogueira (2007, p. 157).
Voltando às contribuições de Morgan (1996), explicitadas na Unidade 3, perceberemos que a imagem de organismo remete à idéia de um sistema vivo que se relaciona com o
ambiente. Neste sentido, as metáforas propostas por Morgan constituem-se num importante método de análise de organizações e nos permitem fazer um diagnóstico organizacional.
Lembramos que para fazê-lo é preciso, em primeiro lugar, saber que tipo de organizações se
está pesquisando ou estudando, ou ainda, administrando.
Uma das razões ou explicações dadas por Nogueira (2007) para o esgotamento do
paradigma organizacional foi pela própria dinâmica do mercado capitalista exigir maior
liberdade de ação das organizações.
Vamos sintetizar no quadro a seguir as principais idéias dos três autores e suas contribuições ao estudo das organizações deste modelo (Quadro 5) para recuperar sua essência.
Autores
Principais idéias
Max Weber
Tipo ideal de burocracia
Amitai Etzioni
Tipologia das organizações com base nos tipos de poder
Blau e Scott
Tipologia das organizações com base nos tipos de beneficiários
Quadro 5: Principais contribuições ao estudo das organizações
Fonte: Adaptado de Maximiano (2002, p. 133).
Tendo presente as contribuições dos clássicos ao estudo das organizações, vamos
explicitar a síntese das três principais teorias – científica, administrativa e burocrática (Quadro 6) – ao estudo do paradigma técnico-administrativo e organizacional, salientando que
Etzioni, Blau e Scott não possuem uma teoria específica que os represente e sim
complementam os estudos do paradigma organizacional.
115
EaD
Marivane da Silva
TAYLOR
Administração
Científica
FAYOL
Teoria
Administrativa
WEBER
Teoria
Burocrática
Prescritiva
Prescritiva
Descritiva
Organização como
sistema fechado.
Existem princípios gerais
de administração, com
capacidade de
universalização
Organização como sistema
fechado.
Existem princípios gerais de
administração, com
capacidade de
universalização
Organização como um
todo.
Estrutura da organização –
Gerente
Estrutura definida
Profissionalização dos
papéis gerenciais
Organização como
sistema fechado
Burocracia é um
modelo ideal,
impossível de ser
encontrado na prática
Principais
autores
Orientação ao
modelo teórico
Pressupostos
básicos
Foco de análise
Processos operacionais
de trabalho –
empregados
Benefícios
Principal
conclusão
Principal crítica
Produtividade
Eficiência
Há uma melhor maneira
de administrar e
organizar
Foco interno, em
detrimento da análise do
ambiente.
Não consideração das
necessidades sociais
Organização como um
todo
Consistência
Eficiência
Há uma melhor maneira de
administrar e organizar
A burocracia é a forma
organizacional mais
eficiente
Foco interno, em detrimento
da análise do ambiente.
Excessiva ênfase ao
comportamento racional
Foco interno, em
detrimento da análise
do ambiente
Rigidez e lentidão
Quadro 6: Comparação entre os principais autores
Fonte: Sobral; Peci, 2008, p. 47; Silva, 2002.
Entre as críticas da burocracia podemos fazer referência à visão dos empresários, dos
empregados e da academia, conforme Silva (1990):
Empresários
– expressão burocracia soa como sinônimo de empresa pública;
– utilizam a burocracia para dinamizar a empresa, melhorando o controle de qualidade e
instituindo ficha de descrição de cargos;
– confronto entre a ficha de descrição de cargo e o formulário de realização de tarefas;
– afirmam que a burocracia trouxe mais benefícios do que desvantagens à empresa privada;
– contribuição de Weber é singular para os objetivos dominante (ideológico) e da exploração (da produção).
116
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Empregados
– definem a burocracia como um obstáculo ao crescimento pessoal, por inibir e reprimir, em
sua concepção, a liberdade;
– ao escrever e assinar está formulando uma posição que não poderá reverter;
– se percebem como pouco espontâneos, inibidos e extremamente programados.
Academia
– analisam o eterno “vigiar ” e “punir ” decorrente da luta entre capital e trabalho;
– disciplina com função econômica (produtividade), política (obediência) – por meio da vigilância hierárquica (controle da atividade, sanção normatizadora, exame);
– possuem ao seu favor a CLT – Consolidações das Leis do Trabalho;
– níveis de penalidades: tempo (horários de trabalho), atividade, discurso, maneira de ser
(desavenças), comportamento, desvio...;
– a fragmentação do trabalho torna o empregado infeliz.
Um outro tema importante, em decorrência desse modelo, é a Administração por Objetivos, que significou um marco importante na gestão, deslocando a atenção das “atividades-meio” para os objetivos ou finalidades da organização. O enfoque no processo passou a
ser substituído por um enfoque nos resultados e objetivos alcançados (fins), ou seja, a preocupação de “como” administrar passou à preocupação do “por que” ou “para que” administrar. Vamos aprofundar nossos estudos deste paradigma na seção 4.3.
117
EaD
Marivane da Silva
Seção 4.3
Administração por Objetivos
Pode-se afirmar que a Administração por Objetivos (APO) tem seu nascedouro a partir
da reestruturação socioeconômica do mundo ocorrida no período pós-Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), em que, durante a década de 50, as empresas buscavam se reorganizar e se fortalecer para satisfazer os anseios cada vez mais materialistas e consumistas das
pessoas (produção em massa).
A APO, portanto, emerge da necessidade de as organizações adotarem princípios capazes de aprimorar as práticas até então desenvolvidas, o que permite uma melhoria significativa na avaliação dos resultados.
Peter Drucker, em 1954, já traçava as primeiras idéias acerca do enfoque APO,
também conhecido como gestão por objetivos ou Administração por Resultados, com o
lançamento da obra “A prática da Administração de Empresas”, que apresentava seus
princípios.
Vamos conhecer um pouco mais de Peter Drucker?
Peter Ferdinand Drucker nasceu a 19 de novembro
de 1909 em Viena, Áustria. Foi filósofo e economista.
De origem austríaca, é considerado por todos o pai da
gestão moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenômeno dos efeitos da globalização na economia em geral e em particular nas organizações. Ainda hoje, mesmo após a sua morte, permanece inquestionavelmente como “único” pai
da gestão, subentendendo-se a gestão moderna como a ciência que trata sobre pessoas nas organizações, como afirmava ele.
118
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Peter Drucker argumentava que a empresa que conseguir vender o produto/serviço
certo, para o cliente certo, com a distribuição adequada, por um preço adequado e no
momento oportuno, verá seus esforços de venda reduzirem-se a quase zero, ou seja, a
venda tornar-se-á automática em função de a demanda ter sido corretamente
equacionada e trabalhada.
Presidente honorário da Drucker Foundation e professor de Ciências Sociais da
Claremont Graduate University, Califórnia, EUA, escreveu muitos artigos e mais de 30
livros. O pensador produziu ao longo de sua carreira uma mistura única de rigor intelectual, popularização, praticidade e profundo conhecimento das tendências cruciais,
como definiu Robert Heller, fundador e editor de uma das maiores revistas de negócios
inglesas, a Management Today.
Pode-se afirmar que não há management theory (teoria da administração) que não
parta da obra de Drucker. Entre seus livros mais recentes figuram Desafios Gerenciais
para o Século XXI, Administrando em Tempos de Grandes Mudanças e Sociedade PósCapitalista, todos publicados pela editora Pioneira, atualmente Thomson.
Quinze anos depois de publicar Administrando para o Futuro, e 12 depois de Administrando em Tempos de Grandes Mudanças, em seu livro Managing in the Next Society,
Peter Drucker explorou as tarefas imprescindíveis da alta gerência nas primeiras décadas do século 21.
Faleceu em 11 de novembro de 2005, em Claremont, Califórnia, EUA.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Drucker>. Acesso em: 15 jan. 2009.
Administração por Objetivos pode ser definida como “um estilo ou sistema de administração que relaciona as metas organizacionais com o desempenho e desenvolvimento individual, por meio do envolvimento de todos os níveis administrativos” (Silva, 2002, p. 433).
A APO apresenta as seguintes características (Chiavenato, 2000, p. 273):
119
EaD
Marivane da Silva
a) estabelecimento conjunto de objetivos entre o executivo e seu
superior;
Sugestões de leitura:
Conheça os clássicos estudiosos da APO!
ODIORNE, George S. Administração por Objetivos. Rio de
Janeiro: Livros Técnicos e
Cientificos, 1981.
LODI, João B. Administração
por Objetivos. 5. ed. São
Paulo: Pioneira, 1976,
SILVA, Jairo S. da. Administração por Objetivos: uma
abordagem prática. São Paulo:
Atlas, 1979.
b) estabelecimento conjunto de objetivos para cada departamento ou cargo;
c) interligação dos objetivos departamentais;
d) elaboração de planos táticos e operacionais, com ênfase na
mensuração e no controle dos resultados;
e) contínua avaliação, revisão e reciclagem dos planos;
f) participação atuante das gerências;
g) apoio intenso do staff.
A Administração por Objetivos envolve um processo cíclico
(Figura 1) de tal forma que o resultado de um ciclo permite correções e ajustamentos no ciclo seguinte, por meio da retroação ou
feedback proporcionado pela avaliação dos resultados.
120
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Fixação dos objetivos
globais da empresa
Elaboração do
planejamento
estratégico
Fixação dos objetivos
departamentais
Avaliação dos resultados
alcançados em comparação com
os objetivos departamentais
Elaboração do plano tático do
departamento
Revisão nos planos ou alteração
nos objetivos departamentais
Desdobramento do plano tático
em planos operacionais
Avaliação dos resultados
alcançados em comparação
com os objetivos
departamentais
Figura 1: O ciclo da APO
Fonte: Faria (2002, p. 93).
A aplicação do modelo coloca a empresa diante de uma série de desafios. Você consegue imaginar quais seriam esses obstáculos? Alguns fatores são destacados por Ribeiro (2003):
a) falta de apoio;
b) resistência às mudanças;
c) dificuldades no estabelecimento de metas e objetivos;
d) deficiências na comunicação, em sentido vertical e horizontal;
e) mensuração e controle – medir objetivos e resultados nem sempre é possível ter precisão
em termos quantitativos e, se não há como medi-lo, não há como verificar a eficiência dos
resultados alcançados sem comparar com os objetivos propostos.
O sistema de gestão por objetivos pode ser descrito como um processo pelo qual os
gestores superiores e subordinados de uma organização identificam em conjunto os seus
objetivos comuns, definem o campo de responsabilidade de cada um, em termos de resultados, e adotam essas medidas como guias para a operação da unidade e para avaliar a contribuição de cada um dos seus membros.
121
EaD
Marivane da Silva
Os objetivos, segundo Ribeiro (2003), podem ser classificados em:
a) internos: lucratividade, crescimento, liderança, produtividade e harmonia na equipe;
b) externos: satisfação do cliente, prestígio na comunidade;
c) objetivos reais e declarados: os reais são aqueles que motivam na geração de bens de
consumo e serviço, visando ao lucro,; enquanto os declarados são os subjetivos, nos
quais a empresa se pauta ideológica e legalmente.
Outros autores contribuíram para a evolução da Administração por Objetivos. Vamos
saber como estes estudiosos contribuíram? Oliveira (2008, p. 278) nos auxilia nesta síntese:
a) George Odiorne (1965) defende que a administração adote objetivos não como um modelo teórico, mas enquanto técnica, com experimentação e sucesso prático comprovados,
tanto que aperfeiçoou a medição quantitativa dos objetivos das organizações.
b) Douglas Murray McGregor (1967) introduziu a abordagem qualitativa na Administração por Objetivos, visando ao desenvolvimento profissional das pessoas.
c) John W. Humble (1969) alocou os objetivos no contexto do planejamento e das estratégias das organizações.
Lodi (apud Chiavenato, 2000) refere à vantagem ou ameaça dos objetivos. Afirma que
para aplicar a APO exige de cada um esforço e interesse e que as pessoas devem estar preparadas para receber o método e para poder aplicá-lo criteriosamente. Sintetiza-se no Quadro
7 os benefícios e os problemas com a APO.
Benefícios da APO
Problemas com a APO
Clarifica os objetivos
Coerção sobre subordinados
Melhoria do planejamento
Aprovação de objetivos incompatíveis
Padrões claros para controle
Papelada em excesso
Aumento de motivação do pessoal
Focalização sobre resultados mais facilmente mensuráveis do
Avaliação mais objetiva
que sobre resultados mais importantes
Melhoria da moral
Perseguição rígida de objetivos que poderiam ser abandonados
Quadro 7: Benefícios e problemas com a APO
Fonte: Chiavenato (2000, p. 293).
122
EaD
ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural
Oliveira e Silva (2006, p. 100) reportam-se ao foco do desenvolvimento afirmando:
No fundo, administração por objetivos – APO – procura integrar os objetivos de lucro e desenvolvimento na organização com os objetivos individuais dos incumbidos de sua execução. Mais
ainda, o desenvolvimento da organização deve ser conduzido paralelamente ao desenvolvimento dos gerentes e de todo o pessoal envolvido.
Inclusive ressaltam que a ênfase exagerada nos resultados pode levar os funcionários
a se esforçarem demais para obter resultados importantes, porém de difícil consecução. Muitas
vezes podem não se dar conta da necessidade de rever os objetivos conforme as condições
possíveis de serem alcançadas.
Algumas abordagens apresentam contestações à APO pelo fato de esta dar grande
ênfase na definição do trabalho individual com uma estrutura de autoridade administrativa,
e não considerar a hipótese de haver conflito entre as metas individuais e as metas
organizacionais.
Apesar das críticas, os autores reconhecem que se for um processo bem aplicado pode
ser eficaz na busca dos objetivos organizacionais.
Resumindo:
APO é comparado a uma forma moderna de aplicação da Administração Científica.
Ao finalizar os estudos da Unidade 4 estaremos supostamente aptos ao conhecimento
inicial da Administração ou Estudos Organizacionais com foco na estrutura, ou seja, os
paradigmas representados por Taylor, Fayol, Ford e Weber mostram no seu conjunto uma
preocupação focada nas tarefas e na estrutura, com uma visão mais econômica da organização – eficiência, eficácia e produtividade.
Você agora tem clareza do papel do administrador ou gestor de uma organização?
Espero ter contribuído para sua reflexão conceitual e teórica da Administração, das teorias,
dos paradigmas, das organizações e dos modelos de gestão.
123
EaD
Marivane da Silva
SÍNTESE DA UNIDADE 4
Ao concluir o estudo da Unidade 4 você deve ter presente que o
paradigma organizacional é composto pelas contribuições de Max
Weber, com o tipo ideal de burocracia; de Amitai Etzioni, com as
tipologias das organizações, vinculadas ao tipo de poder estabeleci do na o rgani zação forma l, e de Blau e S cott, que
complementaram os estudos de Etzioni com a visão de que o tipo
de organização pode ser estabelecido pelo seu beneficiário e, ainda apresenta as críticas ao paradigma da burocracia.
Para findar a Unidade 4 apresentamos uma forma de administrar
que fica classificada dentro do paradigma organizacional cuja proposta de Peter Drucker é o enfoque na Gestão por Objetivos ou
Administração por Objetivos.
124
EaD
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EaD
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Marivane da Silva
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