EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Marivane da Silva ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2009 1 EaD 2009, Editora Unijuí Marivane da Silva Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: [email protected] www.editoraunijui.com.br Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí S586e Silva, Marivane. Estud os organiz acionais : abordag em estrutural / Marivane Silva. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2009. – 130 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). 978-85-7429-761-3 1. Administração. 2. Teoria da administração. 3. Teoria das organizações. 4. Estudos organizacionais. 5. Gestão. I. Título. II. Título: Abordagem estrutural. III. Série. CDU : 65 65.014 658 2 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Sumário CONHECENDO A PROFESSORA ............................................................................................... 5 UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA ENTENDER OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS ......................................... 7 Seção 1.1 – Distinção Entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais .........................................11 Seção 1.2 – Concepção de Organizações ...................................................................................17 Seção 1.3 – Concepção de Administração e de Gestão ............................................................25 Seção 1.4 – Desenvolvimento: uma concepção em construção ..............................................35 UNIDADE 2 – BREVE HISTÓRICO DOS PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO ...........37 Seção 2.1 Concepções de Paradigmas ........................................................................................38 Seção 2.2 – Um Novo Olhar Para a Teorização da Administração: paradigmas de administração .................................................................................49 Seção 2.3 – Escolas de Administração e Categorias de Análise .............................................54 UNIDADE 3 – PARADIGMA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO ................................................61 Seção 3.1 – Taylorismo ..................................................................................................................65 Seção 3.2 – Fayolismo ...................................................................................................................71 3.2.1 – Processo Administrativo e Seus Elementos .............................................79 3.2.2 Áreas Funções da Organização ou Funções Organizacionais ................90 Seção 3.3 – Fordismo e a Produção de Massa ..........................................................................93 UNIDADE 4 – PARADIGMA ORGANIZACIONAL ............................................................... 101 Seção 4.1 – Weber e a Organização Burocrática ................................................................... 102 Seção 4.2 – Tipologias das Organizações: uma visão de Etzioni, Blau e Scott ................ 110 Seção 4.3 – Administração por Objetivos ............................................................................... 118 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 125 3 EaD 4 Marivane da Silva EaD Conhecendo a Professora ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural MARIVANE DA SILVA Sou natural de Jóia/RS, tenho 33 anos e moro em Ijuí desde 1989, quando concluí o 1º Grau. O 2º Grau cursei na Escola Estadual de 2º Grau Ruy Barbosa. Em 1993 ingressei na Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS – Unijuí – para cursar Administração de Empresas. Em 1994 iniciei minhas atividades profissionais na Unijuí como técnico-administrativo e de apoio no Departamento de Estudos da Administração, atuando na área administrativa. Em 1998 curse i minha pós-graduação lato s en su e m Gerenciamento de Micro e Pequenas Empresas, modalidade a distância, na Universidade Federal de Lavras – Ufla/MG. Foi uma experiência única em termos de conhecer uma nova forma de aprender e de socialização de experiências, com vários profissionais que buscam agregar conhecimentos. A partir de 2000 tive a oportunidade de participar do Conselho Regional de Administração – CRA/RS –, ao qual me filiei como profissional da área. Em 2002 fiz concurso para docente horista no Departamento de Estudos de Administração, tendo minha inserção acadêmica no curso de Administração da Unijuí, com atuação nas áreas de Estágios e Teorias da Administração. Ingressei no Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí em 2005, desenvolvendo a dissertação intitulada “O egresso como parceiro institucional numa universidade regional: o caso da 5 EaD Marivane da Silva Unijuí”, obtendo a titulação de mestre em 2007. Em 2005 atuei como assessora da Vice-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e, em 2006, assumi função administrativa na Secretaria dos Conselhos da Unijuí. Tenho conciliado minhas atividades acadêmicas e administrativas, o que me permite ter uma interação maior com os diversos públicos da Universidade e construir uma caminhada profissional na academia. Na Unijuí constituí minha formação acadêmica e profissional e consolido minhas experiências de docência na Educação a Distância, nos cursos de tecnólogos e Administração. Espero poder contribuir para a construção do seu conhecimento nesta sua caminhada! 6 EaD Unidade 1 ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural CONCEITOS FUNDAMENTAIS PARA ENTENDER OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS OBJETIVO DESTA UNIDADE • Aprender os conceitos básicos para o estudo da Administração. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 1.1 – Distinção Entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais Seção 1.2 – Concepção de Organizações Seção 1.3 – Concepção de Administração e de Gestão Seção 1.4 – Desenvolvimento: uma concepção em construção Para darmos início aos estudos organizacionais, vamos fazer um breve passeio pelos conceitos que consideramos fundamentais para o entendimento dos conteúdos e a construção de seu aprendizado. A Unidade I está subdividida em quatro seções e após estudá-las, você deverá entender: 1. a distinção entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais; 2. a concepção de Organizações; 3. a concepção de Administração e de Gestão; 4. o desenvolvimento como uma constante na Administração: uma concepção em construção. 7 EaD Marivane da Silva Para compreender os estudos organizacionais é necessário fazer um exercício de voltar no tempo e no espaço e indagar: – Quando começamos a estudar, ouvir, ler e saber sobre a existência da Administração? É algo recente? Em que século começou? Vamos descobrir... Estamos falando de voltar no tempo, na História, na construção de uma linha do tempo da Administração para entender quando começamos a falar em Teoria da Administração, Teoria das Organizações e, mais recentemente, Estudos Organizacionais. Como a terminologia “estudos organizacionais” é um conceito muito recente, podemos dizer que ainda está em processo de construção, porém enquanto Administração pode-se afirmar que já era conhecido desde as Escrituras Sagradas. O exercício da Administração sempre fez parte da história das civilizações, desde as comunidades primitivas até a sociedade do conhecimento ou em transformação para a sociedade do espetáculo, que marca o século 21, cuja “alma é a experimentação, a encenação, a capacidade de criar sensações memoráveis para as pessoas, e não “apenas” ofertar bens ou serviços de qualidade comprovada e de forma customizada” (Souza, 2002, p. 23). Para explicar melhor, vamos nos reportar a Maximiano (2002), quando este afirma que a Administração era praticada desde as sociedades primitivas, quando eram organizadas expedições para a caça de animais, como forma de sobrevivência dos povos dessa época, ocasião em que os membros dessas sociedades se organizavam coletivamente mediante o planejamento, divisão de trabalho, tomadas de decisão e definição da rota das migrações e preparo das armas. Essas expedições eram compreendidas e consideradas o embrião de empresas, de comunidades, de líderes que, por sua vez, eram os protótipos do gerente. As teorias da Administração, que vamos focalizar nesta seção, são muito mais recentes que as expedições da era primitiva, porém também se aprimoraram e evoluíram continuamente à medida que os administradores do passado e do presente buscam solucionar problemas, e a partir de técnicas conseguem resolvê-los. Técnicas que já existiam desde os princípios de Administração, propostas por Jesus na Bíblia e posteriormente, por Taylor, que serão apresentadas na Unidade 3. 8 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Até meados do século 18 os indivíduos conviviam com várias restrições, entre elas a da agricultura, pois produziam para seu próprio consumo e só consumiam o que conseguiam produzir. Trata-se de um período que evoluiu da revolução agrícola para Ciência Provém do latim scire, que significa tão-somente conhecer. Seu objetivo é descrever os fenômenos do mundo real (Caravantes, 1999, p. 21). a revolução urbana, por volta de 4000 a.C., quando começam a surgir as cidades e os Estados. Essas primeiras organizações formais demandaram a criação de práticas administrativas que se estabilizariam e evoluiriam ao longo dos tempos. A partir do final do século XVIII, com a invenção da máquina a vapor por James Watt e sua posterior aplicação à produção, uma nova forma de vida passou a dominar, dando início à Revolução Industrial, na qual ocorreu um novo sistema de produção, com a invenção e o uso de novos instrumentos, processos, novas fontes de energia (o motor a vapor pelo uso do carvão e máquinas de fabricação). Esses novos desenvolvimentos surgiram como resultado direto do aumento do conhecimento durante o período de grande atividade intelectual na Renascença (Muniz; Faria, 2007, p. 4). Como você acabou de ler, a Revolução Industrial sublevou o sistema de produção e de trabalho, em meados do século 18, com dois grandes fatos: o surgimento das fábricas e a invenção das máquinas a vapor. A partir daí ocorrem várias mudanças no ambiente tecnológico, econômico, político e social, levando ao surgimento de novos conceitos e técnicas para administrar as complexas organizações. Maximiano (2002, p. 91) observa que o desenvolvimento da Administração foi influenciado pelo surgimento da empresa industrial, conseqüentemente, no final do século 19 as preocupações em estudar de forma autônoma e sistemática as organizações e as melhores maneiras de obter resultados se concretizaram. Sendo assim, começou-se o estudo da Administração como uma ciência capaz de propiciar eficiência, eficácia e efetividade ao sistema fabril. Veja na Figura 1 esquema representando essas concepções. 9 EaD EFICIÊNCIA Fazer bem as coisas. Preocupação com meios. EFICÁCIA Fazer as coisas certas. os Preocupação com os fins. Maximização dos objetivos Minimização dos recursos alcançados. utilizados. Ênfase nos resultados. Ênfase nos processos. Escolha dos objetivos mais Ausência de apropriados. EFICÁCIA Realização de objetivos EFICIÈNCIA Utilização de recursos Marivane da Silva desperdícios. EFETIVIDADE – é a medida da utilidade do produto ou serviço considerandose a sociedade como um todo e não apenas o consumidor ou a organização. É a capacidade de produzir um efeito, que pode ser positivo ou negativo. Figura 1: Concepções de eficiência, eficácia e efetividade Fonte: Sobral e Peci (2008, p. 6). Como já referimos, as contribuições do advento da industrialização e da produção em massa levaram ao desenvolvimento das grandes organizações, que exigiam práticas de administração formalizada. Neste sentido, tornou-se necessária uma teoria formal para orientar os gerentes a administrar tais organizações. Vem daí a importância da teoria. Você deve estar se questionando: o que é teoria? Teoria é “o conjunto de princípios e conhecimentos fundamentais e especulativos, mas racionais, de uma ciência – ou arte –, gerando opiniões sistematizadas a respeito do assunto considerado” (Oliveira, 2008, p. 8). Ou então: teoria é a “tentativa de associar e integrar os dados coletados através da experimentação e observação em um sistema explanatório compreensível” (Caravantes, Panno; Kloeckner, 2005, p. 39). Ou ainda: 10 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Teorias podem ser vistas como um conjunto coerente de suposições elaboradas para explicar a relação entre dois ou mais fatos observáveis e prover uma base sólida para prever eventos futuros. São afirmações que predizem quais ações vão levar aos resultados Indutiva Começa com a análise de observações específicas e depois procura generalizar para situações mais amplas. e por quê. As teorias nos permitem fazer previsões acerca do futuro, assim como interpretar o presente (Sobral; Peci, 2008, p. 32). Na verdade, sempre que decidimos e agimos existe uma teoria por trás, ou seja, a teoria e a prática são sempre inseparáveis. Dedutiva Inicia com uma infinidade de conceitos inter-relacionados e só então procura chegar a conclusões específicas sobre a realidade observada. A partir dessa explicações supomos que você está pronto para entender o que significa Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais. Então, sigamos adiante! Seção 1.1 Distinção Entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais Quero lembrá-los que a “formulação de uma teoria inicia com observações da realidade” (Caravantes, 1999, p. 24) – prática ou vivência – com graus diferentes de complexidade. Para relatar uma realidade empregamos o critério científico, ou seja, nós o fazemos de forma ordenada, sistemática, realizando pesquisas e mensurações que permitem uma abordagem indutiva e dedutiva da realidade, ambas utilizadas no campo da Teoria da Administração. TEORIA DA ADMINISTRAÇÃO – são teorias administrativas que “ajudam a compreender os processos fundamentais, o funcionamento das organizações, o ambiente organizacional e as decisões da administração nos diferentes momentos e situações do cotidiano empresarial” (Muniz; Faria, 2007, p. 10). 11 EaD Marivane da Silva Descritiva Que descreve, expõe fatos. Preditiva Que prevê fatos e/ou variáveis no ambiente organizacional. Tendo esta compreensão será possível avançarmos nos estudos para examinar uma espécie do gênero da teoria: a teoria organizacional, que trata do estudo/observação de um objeto específico – AS ORGANIZAÇÕES. A Teoria das Organizações preocupa-se com “aquilo que uma organização é e o que ocorrerá sob certas espécies de arranjos interpessoais ou estruturais-interpessoais” (Caravantes; Panno; Kloeckner, 2005, p. 48). Em outras palavras, os objetivos das teorias encontradas no campo da Administração relacionam-se com o próprio objeto de estudo citado: as organizações, sabendo-se que estas organizações possuem duas conotações: a) como entidade social (que estudaremos na seção 1.2); e b) como forma de organizar uma organização/função ou elemento do processo administrativo (que estudaremos na seção 3.2). Cabe destacar que é objetivo das teorias administrativas e organizacionais compreender as organizações como um fenômeno social, mas também, como toda teoria, o caráter normativo e prescritivo está presente na proposta dos modelos que sugerem o melhor modo de organizá-los e instrumentalizá-los para a prática organizacional. TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES – é descritiva e/ou preditiva. É o caminho trilhado para compreensão do homem moderno e da sociedade, que conduziu ao estudo das organizações complexas (Oliveira; Silva, 2006, p. 47). Tendo claro suas diferenças, é necessário explicitar que num determinado momento da história da Administração houve a transição da Teoria da Administração para a Teoria das Organizações, como tudo aquilo que sofre mudança, há uma fase de passagem, o que não foi diferente no estudo da Administração. 12 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Este fato é explicado por Motta (2001, p.11) como sendo “a tentativa de estudar o sistema social em que a administração se exerce com vistas à sua maior eficiência em face das determinações estruturais e comportamentais” provocando a passagem. Essa fase de transição foi marcada pela publicação do livro Organizations Teorias São explicações, interpretações ou proposições sobre a realidade. Por exemplo: teoria da burocracia, teorias da motivação. A própria definição de administração como processo de planejar, organizar, executar e controlar é uma teoria. (1958) de March e Simon, em que a preocupação com a produtividade dá lugar à preocupação com a eficiência do sistema. Talvez você esteja se perguntando: mas no fundo, o que muda mesmo da Teoria da Administração para a Teoria das Organizações? O que muda é o objeto de estudo, que passa a ser as organizações, com a articulação de diversos fatores estruturais e comportamentais, para os quais a teoria procura dar conta – pensando o desenvolvimento de um sistema social. Antes de se deparar com outra dúvida conceitual, alertamos que você encontrará na literatura e nos discursos dos estudiosos da área outra distinção importante, que precisa ser compreendida, evitando a confusão mental – trata-se da diferença entre “Teoria da Administração” e “Teoria Geral da Administração”. Para esclarecer esta diferenciação recorremos aos conhecimentos de Maximiano (2002, p. 29), que nos explica: Enfoque Também chamado de pensamento, abordagem ou perspectiva, é um aspecto particular das organizações ou do processo administrativo, selecionado para o estudo e produção de conhecimentos. É uma forma de interpretar as organizações e o processo administrativo. Ex.: enfoque comportamental e enfoque sistêmico. Escola É uma linha de pensamento ou conjunto de autores que usaram o mesmo enfoque, escolheram o mesmo aspecto específico para analisar, ou adotaram o mesmo raciocínio: escola de relações humanas. A escola do processo administrativo, às vezes chamada de escola funcional, compreende os autores que adotam a definição de Fayol. Modelo de gestão Teorias da Administração são conhecimentos organizados, produzidos pela experiência prática das organizações. Teoria Geral da Administração é o conjunto dessas teorias, que são designadas por meio de diferentes termos – teorias, enfoque, Ou de administração, é um conjunto de características que definem organizações e a forma como são administradas. Modelo de administração é o produto de utilização de determinadas doutrinas e técnicas: Por exemplo: modelo burocrático (ou mecanicista). escola, modelo de gestão, modelo de organização, doutrina, técnica, ou seja, a mesma idéia pode ser, e normalmente é, de- Modelo de Organização signada de diferentes maneiras, dependendo do seu contexto É um padrão de organização, estabelecido pela sua estrutura organizacional. histórico e da própria situação da organização. 13 EaD Marivane da Silva Doutrina Ou preceito, é um princípio de conduta que contém valores, implícitos e explícitos. As doutrinas recomendam como agir, orientando os julgamentos e as decisões dos administradores. Ex.: o movimento da administração científica tinha uma doutrina de eficiência dos recursos; o movimento da qualidade tem uma doutrina de satisfação do cliente. Prosseguindo nas discussões da diversidade de perspectivas utilizadas para estudar a Administração e as organizações, Sobral e Peci (2008) afirmam que o desenvolvimento teórico no campo da Administração avançou, apresentando uma visão mais abrangente: os estudos organizacionais. Sobral e Peci (2008) reportam-se a Harold Koontz (1961) para justificar tal fato e dizem existir uma “selva” de teorias administrativas para explicar a Administração e as organizações, Técnicas São soluções para problemas. Exemplos: organogramas, metodologias de planejamento, estudos de tempos e movimentos e sistemas de controle. Os princípios são permanentes, ao passo que as técnicas tendem a ser transitórias (Maximiano, 2002, p. 29-30). mesmo tendo claro que a maioria dos livros e manuais de Administração publicados possuem uma perspectiva de processo, abordada por Fayol e, para muitos, considerada como a mais abrangente e adequada para o estudo da Administração. É importante reconhecer, contudo, que com o passar dos tempos os teóricos foram evoluindo nas discussões de um enfoque Pós-modernismo É entendido como o período contemporâneo, geralmente identificado com mudanças na ordem econômica, cultural, demográfica e social, atribuída a fatores como: a) fim da dicotomia ideológica comunismo x capitalismo; b) impacto da globalização; c) a crescente importância do setor de serviços; o amplo uso das tecnologias da informação; o crescimento do terceiro setor e das organizações sem fins lucrativos. Também está associado a uma mudança profunda nas formas de pensamento, que apresenta-se, especialmente, como crítica aos valores do Iluminismo, com sua crença na racionalidade e no progresso científico, e como descrença relativa às verdades absolutas apresentadas por metanarrativas (Sobral; Peci, 2008, p. 60). O pós-modernismo foi marcado pela descontinuidade, indeterminação e transcendência (Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 29). 14 mais clássico para um enfoque mais contextual, destacando uma visão multidisciplinar e para além das contribuições da teoria da contingência, com temas mais contemporâneos, tais como globalização, diversidade da força de trabalho, desenvolvimento sustentável e ética em Administração. Sobral e Peci (2008) afirmam que os fatores que influenciaram o estágio atual de desenvolvimento teórico em Administração são basi came nte o pós-modernismo e o pl ura l ismo paradigmático no campo das idéias. Até 1960 constatava-se a predominância de um único paradigma intelectual para explicar as organizações, mas este processo começa a ser repensado à medida que surgem novas publicações com perspectivas diferentes sobre as organizações. As novas perspectivas mostraram a importância dos processos de organizar em vez de focar em entidades fixas denominadas organizações, do processo de construção dos objetivos organizacionais EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural por parte de seus membros, dos conflitos e lutas de poder, presentes no espaço organizacional e outras questões até então ignoradas no estudo da administração e das organizações. A contribuição de idéias e conceitos trazidos por outras disciplinas, tais como economia, sociologia, psicologia e filosofia, também foram importantes para a construção de novas perspectivas teóricas. O resultado deste processo foi a pluralidade de alternativas à visão funcionalista (Sobral; Peci, 2008, p. 61). Com esta nova perspectiva de pluralidade tiveram início as discussões sobre os paradigmas em estudos organizacionais, que tomando por base a obra organizada por Caldas e Bertero (2007, p. 6), tiveram seu marco inicial por volta de 1980, com Gareth Morgan, que utilizou o trabalho de Gibson Burrell (1979) na sua publicação, expondo a nova perspectiva pouco convencional sobre teoria organizacional. Pluralismo paradigmático no campo das idéias Até a década de 60 o campo dos estudos administrativos e organizacionais era relativamente simples, com o desenvolvimento principalmente no contexto anglo-saxão, dotado de unidade, homogeneidade e coerência, sendo o foco de análise as grandes organizações burocráticas inseridas na sociedade moderna. A teoria das organizações vivia o seu desenvolvimento controlado dentro de um único paradigma intelectual (funcionalista e positivista), baseado em um acordo tácito de métodos, metodologias, perspectivas de análise e base epistemológica. A partir desse período começam a ser publicadas obras com base em perspectivas diferentes sobre as organizações. Burrell e Morgan (1979) apresentaram à academia de Administração norte-americana um modelo de categorização dos cam- Campos paradigmáticos pos paradigmáticos, em dois eixos: um representaria os pressu- Trata-se do estudo dos paradigmas no campo da Administração. postos metateóricos sobre a natureza da ciência, opondo a ciência “objetivista” à ciência “subjetivista”, enquanto o outro simbolizaria as premissas metateóricas sobre a natureza da sociedade, contrastando uma sociologia da “ regulação” a uma sociologia da “mudança radical” (Caldas; Bertero, 2007, p. 7). O modelo apresentado por Burrell e Morgan (1996, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998) define quatro paradigmas que fundame ntari a m ou que pode ri a m fundame ntar a análi se organizacional. Outra contribuição importante de Morgan para consolidar sua conce i tuação sobre a v i são me tafóri ca da te ori a organizacional e da realidade organizacional, em termos de discutir os estudos organizacionais, foi a publicação no Brasil do Metateórico Significa no âmbito das reconstruções metodológicas; é um processo que ocorre após uma teoria ter sido criada e a considerada como objeto de estudo. Paradigmas Os paradigmas poderão ser estudados na obra Clegg, Stewart R.; Hardy, Cynthia; Nord, Walter R. Handbook de Estudos Organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1998. livro “Imagens da organização”, em 1996. 15 EaD Marivane da Silva Multidisciplinaridade Que aborda ou apresenta a contribuição de várias disciplinas. Para aprofundar seus estudos nestas descobertas sugerimos a leitura das duas obras: Caldas, Miguel P.; Bertero, Carlos O. (Coord.). Teoria das organizações. São Paulo: Atlas, 2007. Morgan, Gareth. Imagens da organização. São Paulo: Atlas, 1996. Imagino que você deve estar se perguntando: afinal, o que esta Unidade queria mesmo nos informar? Espero que você não esteja perdido nesse nosso passeio conceitual! Queremos esclarecer que os fatos mencionados anteriormente são importantes para explicar o início das discussões e do uso da expressão “estudos organizacionais”. Conceitualmente, podese afirmar que: Os Estudos Organizacionais se encontram hoje em uma fronteira de in ve st iga çã o da or ga niza çã o human a b as ea da n a multidisciplinaridade, reconhecendo o seu objeto como fenômeno social e caracterizando a Administração como espaço e oportunidade de aprendizagem – abordagem epistemológica (Cavalcante, 2008, p. 1). Neste sentido, é correto afirmar que ESTUDOS ORGANIZACIONAIS – são uma proposição mais explicativa do que prescritiva, própria de uma abordagem de natureza epistemológica, ou seja, do estudo da Administração. Abordar a Administração concebendo-a como “estudos organizacionais” significa reconhecer a perda da supremacia do funcionalismo, que entendemos ser uma abordagem apoiada em 16 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural suposições sobre a natureza unitária e ordenada das organizações (que enfatiza o consenso e a coerência) para se colocar cada vez mais na zona híbrida da multidisciplinaridade, flertando com a Sociologia, a Psicologia, a Antropologia, a Psicanálise, a Economia, a Comunicação, e admitindo a existência da mudança, da diversidade e da diferença. Como o próprio grupo de pesquisadores Clegg, Hardy e Nord (1998, p. 30) afirmam: Definir os estudos organizacionais hoje não é, por nenhum meio, tarefa fácil. Nossa abordagem é conceituar os estudos organizacionais como uma série de conversações, em particular aquelas dos pesquisadores dessa área que ajudam a constituir as organizações por meio de termos derivados de paradigmas, métodos e suposições, todos decorrentes de conversações prévias. Sendo assim, como mencionamos inicialmente nesta Unidade, a discussão dos estudos organizacionais é algo muito recente e em construção. É uma nova forma de refletir as organizações a partir de conversações, que se referem às organizações como “objetos empíricos à organização, como discurso teórico e ao organizar como processo social e às interseções e hiatos entre elas e em seu interior ” (Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 30). Para chegar à compreensão das novas concepções de estudos organizacionais, entretanto, é necessário antes compreender as origens e evoluções das organizações, as quais serão explicadas na seção 1.2. Seção 1.2 Concepção de Organizações Cury (2007) defende que não podemos negar que vivemos numa sociedade essensialmente organizacional. “O homem, em todas as etapas de sua vida, desde o nascimento até a morte, depende de organizações, é controlado por organizações e nelas passa a maior parte de seu tempo” (p. 103). 17 EaD Marivane da Silva Nesse sentido, parece clara a resposta à pergunta: Por que estudar as organizações? Inicialmente, porque as organizações são um componente predominante da sociedade, desde os feudos, o advento da Revolução Industrial até as redes virtuais. Ironicamente, Hall (2004) afirma que é impossível escapar delas; que são inevitáveis assim como a morte e os impostos. As organizações estão por toda a parte e moldam nossas vidas de diversas maneiras, considerando que: (...) são grupos estruturados de pessoas que se juntam para alcançar objetivos comuns. Surgem como respostas à necessidade dos indivíduos de alcançar metas que, isoladamente, não conseguiriam atingir, em virtude da complexidade e da variedade de tarefas inerentes ao trabalho a se efetuar (Sobral; Peci, 2008, p. 5). Façamos o seguinte exercício mental para comprovar como as organizações são parte presente e constante em nossas vidas: Se você estiver lendo este Livro-Texto, isso pode parecer um assunto pessoal e acadêmico; no entanto ele foi preparado e publicado por uma organização – a Editora Unijuí –, e você, provavelmente, está lendo em obediência a algum tipo de exigência organizacional – da professora do componente curricular que cursa na EaD. Escrevi este Livro-Texto em um contexto organizacional – a Unijuí. Nossos interesses por aprofundamentos teóricos e práticos são impulsionados por dicas, informações e indicações obrigatórias. Assim como na nossa vida pessoal, em termos de alimentos ou roupas, são moldados por organizações. Os produtos com os quais entramos em contato, como automóveis, mesas, cadeiras, computadores, etc., são fabricados em ambientes organizacionais. Os serviços dos quais dependemos, tais como polícia, bancos, companhias seguradoras e conhecimento, são nitidamente organizacionais. Trabalhamos em organizações. O mundo do comércio eletrônico é formado por organizações. Nossas atividades de lazer e oração ocorrem em algum tipo de ambiente organizacional. As grandes transformações sociais da História têm sido essencialmente baseadas em organizações. Percebam que não se trata de apenas um exercício acadêmico. O mundo e nossas vidas giram em torno de organizações. Fonte: Adaptado de Hall (2004). 18 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural É importante destacar que as organizações que satisfazem à maior variedade de necessidades sociais e pessoais de seus cidadãos não o realizam sem custo social e humano. A esse respeito Etzioni (1967, p. 9) observa que “o racionalismo da organização e a felicidade humana são concomitantes”. Ou seja, “os empregados satisfeitos trabalham mais e melhor do que os frustrados. (...) a felicidade eleva a eficiência nas organizações e, inversamente, sem organizações eficientes, não há que pensar em nossa felicidade” (Cury, 2007, p. 104). O desafio apresentado às organizações é como constituir agrupamentos humanos tão racionais quanto possível e, ao mesmo tempo, produzir um mínimo de efeitos indesejáveis e um máximo de satisfação (Etzioni, 1967). Com o desenvolvimento da sociedade e conseqüentemente da organização percebeuse o avanço de um caráter meramente burocrático para um caráter de instituição social. Uma instituição é caracterizada por um sistema de crenças e lealdade dentro da sociedade, como a família e a propriedade privada. Já uma instituição social é um conjunto de pessoas que, usando um aparato técnico, obedecendo a um conjunto de normas e ligada a uma parte do meio ambiente, está realizando uma tarefa ou tarefas comuns (Cury, 2007, p. 104). O que significa dizer que a simples criação da estrutura formal não determinará a criação e a sobrevivência de uma organização. É necessário que sua origem tenha sido dada pelas necessidades da coletividade. Por isso, as organizações são conceituadas como “unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objetivos específicos” (Talcott Parsons, apud Etzioni, 1967, p. 9). Compreendendo as concepções, podemos afirmar que as “organizações podem ser formais, no caso de um exército ou de uma empresa; ou informais, como um grupo de amigos que se junta para jogar vôlei na praia” (Sobral; Peci, 2008, p. 5). Independentemente da sua forma ou atividade, no entanto, as organizações partilham características comuns, ou seja, são uma entidade que possui um propósito; são compostas por pessoas e têm uma estrutura organizacional. Etzioni (1967) caracteriza as organizações formais por: 19 EaD Marivane da Silva a) divisões de trabalho, poder e responsabilidades de comunicação, que não são casuais ou estabelecidas pela tradição, mas planejadas intencionalmente a fim de proporcionar o alcance de objetivos específicos; b) a presença de um ou mais centros de poder que controlam os esforços combinados da organização e os dirigem para seus objetivos; esses centros de poder precisam, também, reexaminar continuamente a execução e, quando necessário, reordenar sua estrutura, a fim de aumentar sua eficiência; c) substituição do pessoal, isto é, as pessoas pouco satisfatórias podem ser demitidas e designadas outras para as suas tarefas. A organização também pode recombinar seu papel, mediante transferências e promoções. Organizações informais são entendidas como aquelas que surgem espontânea e naturalmente entre as pessoas que ocupam cargos nas organizações formais e a partir dos relacionamentos entre ocupantes de cargos; surgem a partir das relações de amizades e que não aparecem em documentos formais (Chiavenato, 2003). Organização informal é a rede de relacionamentos espontâneos dos grupos sociais informais que se constituem ao redor da organização formal (Chiavenato, 1999, p. 66). Agora você talvez esteja se indagando: Por que temos as organizações? Hall (2004, p. 4) apresenta uma resposta simples para explicar: “Para que as coisas sejam feitas”. Moraes (2001, p. 37) complementa mostrando os motivos para a existência das organizações, conforme a Figura 2. ORGANIZAÇÕES servem à sociedade realizam objetivos preservam o conhecimento proporcionam carreiras influenciam o ambiente criam valor administram a força de trabalho diversificada promovem a sinergia Figura 2: Motivos para a existência das organizações Fonte: Moraes (2001, p. 38). 20 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Além de entendermos as organizações como sistemas sociais, precisamos entendê-las como um sistema aberto, que consiste em um conjunto de elementos (partes do sistema ou subsistemas), dinami camente inte r-relaci onados (interde pendente s e interatuantes) tendo relação com o ambiente e desenvolvendo uma atividade ou função para atingir um ou mais objetivos Layout É um arranjo dos diversos postos de trabalho nos espaços existentes na organização, preocupados em adaptar as pessoas ao ambiente de trabalho, e natureza da atividade desempenhada, o arranjo de máquinas, equipamentos e matériasprimas (Cury, 2007, p. 396). (Moraes, 2001). Significa perceber as organizações no seu todo, com todas as implicações e relações estabelecidas com o meio interno e externo. No entender de Katz e Kahn, a organização, como sistema, tem uma produção, um resultado ou um produto, mas este, no entanto, não é necessariamente idêntico às finalidades individuais dos membros dos grupos. Os conceitos teóricos de abordagem das organizações devem começar com o insumo, o produto e o funcionamento da organização, como sistema e não com os propósitos racionais de seus líderes. O modelo teórico para a compreensão da organização é de um sistema de energia insumo-produto, no qual o retorno da energia do produto reativa o sistema. As organizações sociais são, neste sentido, sistemas abertos, porque o insumo de energias e a conversão do produto em novo insumo de energia consiste em transações entre a organização e seu meio ambiente (Cury, 2007, p. 118). As organizações criam e desenvolvem seu próprio caráter, sua própria cultura ou clima organizacional, com suas normas, tabus, regras, costumes e cre nças. O caráter do si ste ma organizacional, que distingue uma organização da outra, reflete tanto as normas e valores do sistema formal quanto sua reinterpretação no sistema informal, assim como a cultura reflete a história das lutas internas e externas, dos tipos de pessoas que a organização recruta, dos métodos, dos processos de trabalho e do layout físico que adota, bem como do sistema de comunicação e do exercício da autoridade dentro do sistema. 21 EaD Marivane da Silva Tendo em mente que a organização partilha do mesmo sistema de valores da sociedade, e tendo esta uma herança cultural, subentende-se que as organizações sociais – subsistemas destas sociedades – possuem padrões distintos de sentimentos e crenças coletivos que são transmitidos aos novos membros do grupo (Cury, 2007). O enfoque da organização como sistema aberto evidencia a importação de insumos do ambiente, o processamento desses insumos por meio de sistemas internos (tecnológico, social e gerencial), gerando os produtos organizacionais, que são exportados para o ambiente. Sociedade = Macrossistema 1. Ambiente Impactos 2. Tecnologia Sistema Tecnológico Insumos Recursos humanos Matéria-prima Rec .financeiros Rec. Energéticos Rec. Científicos Rec. Tecnológicos Etc. Sistema Social Sistema Gerencial Produtos Processamento = Transformação (Organização = Microssistema) Bens Serviços Clima de trabalho Satisfação do pessoal Interações individuais e grupais Atitude dos empregados Produtividade Qualidade do produto Lucratividade Etc. Feedback interno Feedback externo Figura 3: A organização como um sistema aberto Fonte: Cury (2007, p. 120). O microssistema organizacional (organização), por meio do feedback externo, deve avaliar permanentemente sua efetividade, diagnosticando os impactos exógenos (reflexos no sistema interno), para poder internalizar e adaptar-se às mudanças ditadas pelo macrossistema social (sociedade) – advindas do ambiente e/ou da tecnologia, reativando o ciclo vital da organização. 22 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Como bem explica Cury (2007), a organização parte da sociedade, é o microssistema, estruturado em sistemas tecnológico, social e gerencial. Os insumos são os recursos importados do ambiente (recursos humanos, materiais, energéticos, financeiros, científicos, tecnológicos, etc.) e os produtos resultam do trabalho final da organização, como bens, produtos e serviços. Numa explicação mais simplificada, Moraes (2001, p. 39) apresenta o mesmo sistema como sendo constituído de: a) entradas (inputs): recursos humanos, financeiros e materiais necessários ao funcionamento do sistema; b) operações ou processamento: representa a etapa de transformação dos recursos em produtos ou serviços, por meio da tecnologia e do conhecimento; c) saídas (outputs): compreendem as mercadorias, serviços e realizações que contribuirão para alcançar os objetivos ou propósitos do sistema; d) retroação (feedback): é o mecanismo responsável pela promoção do equilíbrio e da estabilidade do sistema, possibilitando a homeostasia (equilíbrio dinâmico do sistema). A ausência da retroação pode levar à entropia, processo pelo qual o sistema tende à deteriorização. Seu elemento básico é a informação; e) subsistemas: são partes do sistema em que se desenvolvem as atividades interdependentes e interatuantes. Nas organizações estas partes são especializadas (divisão do trabalho) e interligadas por uma rede de comunicação. Sintetizando: As organizações são sistemas abertos e social que se relacionam com o ambiente externo, retirando daí os insumos, que, uma vez processados, são devolvidos ao ambiente na forma de produtos e/ou serviços. Se a sociedade absorve e aceita o que é produzido, é porque dele necessita para satisfazer suas necessidades, então a organização está cumprindo uma função social. 23 EaD Marivane da Silva “Uma organização nunca constitui uma unidade pronta e acabada, mas um organismo social vivo que está sujeito a constantes mudanças e transformações em seu caminho de desenvolvimento e busca de excelência” (Chiavenato, 2008, p. 5). Como já referenciamos, as organizações podem ser: a) com finalidade lucrativa (empresas); b) sem finalidade lucrativa (organizações não-empresariais). Essas organizações apresentam características e funcionamento dos sistemas abertos, porém são constituídas por subsistemas em que as funções específicas necessárias à sua sobrevivência são desempenhadas. Os subsistemas organizacionais podem ser subdivididos em subsistema hierárquico e funcional, conforme Figura 4. Nível institucional ou estratégico SUBSISTEMA HIERÁRQUICO Nível intermediário ou gerencial Nível operacional ou técnico Produção: matéria -prima, espaço físico, processo produtivo, máquinas/equipamentos Financeira: capital, fluxo monetário, crédito e receita, investimentos, contábil-financeira SUBSISTEMA FUNCIONAL Marketing e Vendas : mercado de clientes, consumidores, pesquisa de mercado, promoção, propaganda, distribuição, desenvolvimento de produto e definição de preços RH ou Gestão de Pessoas: planejamento, atração, seleção, recrutamento, treinamento e desenvolvimento de pessoas Administração: funções do administrador – planejar, organizar, comandar e liderar, coordenar e controlar Figura 4: Subsistemas da Organização Fonte: Adaptado de Moraes (2001). 24 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Pela lógica, podemos concluir que com o aparecimento das organizações surgiu a necessidade de administrá-las. As organizações constituíram-se no cenário da Administração e o palco no qual se faz a gestão, garantindo, desta forma, o papel importante do profissional em Administração. Vamos aprofundar essa discussão na seção 1.3. Seção 1.3 Concepção de Administração e de Gestão Ao evoluir no estudo da Administração, cabe entender a origem desta palavra. Administração vem do latim ad (direção, tendência) e minister (subordinação ou obediência), significa “aquele que realiza uma função sob o comando de outrem, ou seja, aquele que presta um serviço a outro” (Chiavenato, 2003, p. 11). Diferentemente das demais profissões, o sucesso do(a) administrador(a) depende mais do seu desempenho e da maneira como lida com pessoas e situações do que de seus traços particulares de personalidade. O seu desempenho é resultado de certas habilidades que possui e da sua capacidade de transformar conhecimento em ação, que resulte em um desempenho desejado. Como a Administração é uma Ciência Social, o profissional da área precisa lidar com pessoas, fato que incorpora a subjetividade e o talento de influenciação no desenvolvimento de suas atividades, ou seja, administrar uma organização implica ter conhecimentos (teoria), habilidades (prática) e atitudes (aptidões) (Figura 5). Em outra forma de expressão: 25 EaD Marivane da Silva Know-how Ou conhecimento processual é o conhecimento de como executar alguma tarefa. Uma vantagem do conhecimento processual é que pode envolver mais sentidos, tais como a experiência manual, prática em resolver problemas, compreensão das limitações de uma solução específica, etc. Fonte: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Know-how>). Conhecimentos (C) + Habilidades (H) + Atitudes (A) = CHA. Conhecimento Saber Know-how. Informação. Atualização profissional. Reciclagem constante. Habilidade Saber fazer Visão pessoal das coisas. Maneira prática de aplicar o conhecimento na solução de problemas e situações. Atitude Saber fazer acontecer Comportamento ativo e proativo. Ênfase na ação e no fazer acontecer. Espírito empreendedor e de equipe. Liderança e comunicação. Figura 5: Competências do(a) administrador(a) Fonte: Chiavenato (2003, p. 5). Entende-se habilidades como sendo as destrezas específicas para transformar conhecimento em ação, levando ao resultado positivo para o alcance dos objetivos. Há basicamente três tipos de habilidades necessárias, segundo Katz (apud Silva, 2002, p. 14), para que o administrador possa atuar eficazmente no processo das suas atividades: habilidades técnica, humana e conceitual. Oliveira e Silva (2006, p.143), no entanto, agregam mais duas habilidades importantes: diagnóstica e política. Vamos explicá-las mais detalhadamente: a) Habilidade técnica: significa compreensão e competência em uma atividade específica; consiste no conhecimento, métodos técnicos e equipamentos para a realização de tarefas específicas do campo de sua especialização. b) Habilidade humana: é uma habilidade administrativa para trabalhar com outras pessoas, entendê-las e compreendê-las, motivá-las como indivíduos e membros de grupo, a fim de em26 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural preender esforços cooperativos na unidade organizacional. A habilidade da comunicação e da liderança são componentes importantes. Outro subconjunto da habilidade humana fundamental ao contexto globalizado e sem fronteiras do nosso tempo é o multiculturalismo, ou habilidade de trabalhar com eficiência e conduzir negócios com pessoas de diferentes culturas. Estar capacitado a conversar em uma segunda língua tem se tornado um importante recurso no ambiente de trabalho global e muticultural da atualidade. c) Habilidade conceitual: é a capacidade de coordenar e integrar todos os interesses e atividades de uma organização. Implica ver a organização como um todo e entender suas complexidades promovendo o ajustamento do comportamento dos participantes e integrando os objetivos individuais aos organizacionais. d) Habilidade diagnóstica: ter habilidade para investigar um problema, decidir e procurar uma solução. Na maioria das vezes exige outras habilidades – técnica, humana, conceitual ou política para resolver os problemas. Quase que elementar na profissão do administrador. e) Habilidade política: ser eficaz é, sobretudo, conseguir uma fatia de poder e impedir que outros a tomem de você. Envolve a competência de adquirir o poder necessário para atingir os objetivos. Nesta habilidade está a capacidade de estabelecer conexões adequadas e impressionar as pessoas certas. É importante ressaltar que na formação de gerentes eficientes e eficazes, a experiência é tão importante quanto a educação formal. Esses dois fatores não estão co-relacionados, porém a existência desta combinação é benéfica para os profissionais. Apesar das cinco habilidades serem essenciais, sua importância depende principalmente do nível que o gerente ocupa na organização. A habilidade técnica é mais importante nos níveis mais baixos. A habilidade humana, ao contrário, é importante para gerentes em todos os níveis. E a habilidade conceitual, política e diagnóstica aumenta à medida que os indivíduos galgam os níveis do sistema administrativo, com base em princípios hierárquicos e responsabilidade (Oliveira; Silva, 2006, p. 144). Já mencionamos anteriormente que a Administração é uma ciência social, portanto estamos reafirmando que se trata de uma ciência, pois lida com fenômenos complexos e recebe influências de outras diferentes ciências, tais como a Filosofia, Sociologia, Psicologia e Economia. Sendo assim, enquanto campo de estudos, é possível afirmar que a Administração é ciência, arte e profissão. 27 EaD Marivane da Silva Sugerimos pesquisar na literatura específica a fundamentação de conceitos que auxiliem na compreensão da Administração como uma ciência, uma arte e uma profissão. ADMINISTRAÇÃO Ciência Arte Profissão De forma objetiva podemos afirmar: CONTEXTO DA ADMINISTRAÇÃO Ciência: é o conjunto organizado de conhecimentos administrativos obtidos pela leitura, pela observação, pelas metodologias e técnicas administrativas desenvolvidas, bem como pela prática nas organizações. Arte: é a capacidade sustentada pelo conhecimento dos conceitos, metodologias e técnicas administrativas, que os profissionais têm condições de aplicar, de maneira adequada, nas organizações. Profissão: é o exercício das atividades de administrador, visando otimizadas satisfação e realização pessoal e profissional. Figura 6: Contexto da Administração Fonte: Oliveira (2008, p. 32). Segundo Motta (1998, p. 9), “para que um determinado campo de conhecimento seja considerado ciência é necessário que se tenha um objeto próprio, e isso a Administração possui”. Com as fundamentações de Andrade e Amboni (2007, p. 7), vamos entender que: 28 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural A Administração é uma ciência, pois lida com fenômenos complexos, Inexata sobre os quais o administrador tem pouco conhecimento. Por ser uma Falta de exatidão; que não é precisa. ciência inexata, o administrador toma decisões com base em informações incontroláveis, devido aos limites cognitivos de racionalidade e por serem os negócios altamente mutáveis e circunstanciais. A administração enquanto ciência recebe influências de diferentes ciências e vice-versa: Treinamento Sugiro substituir por capacitação das habilidades, para sermos mais coerentes com a concepção humanista. Partindo do pressuposto de que arte é conseguir um resultado desejado por meio da aplicação de habilidades, pode-se dizer que a Administração é uma arte no sentido de proporcionar o desenvolvimento por meio do treinamento educativo das habilidades necessárias para que o administrador realize com desenvoltura as atividades nas organizações. Neste sentido, Administração é a arte de liderar pessoas e gerir recursos escassos e valiosos dentro e fora das organizações (Andrade; Amboni, 2007, p. 8). Administração enquanto arte significa entender que: (...) o profissional do campo de Administração tem de ter a capacidade/habilidade de saber fazer (arte) para traduzir todo o conhecimento (saber) em ações práticas que proporcionem resultados significativos para as organizações e a sociedade (Andrade; Amboni, 2007, p. 8). Para o(a) administrador(a) “praticar a arte (fazer), ele deve ter diferentes capacidades/habilidades” (Andrade; Amboni, 2007, p. 9), ou seja, assume vários e diferentes papéis em suas atividades. Mintzberg (apud Chiavenato, 2008, p. 22) identificou três categorias de papéis, que podem ser desdobradas em dez papéis específicos, a saber: Papéis Interpessoais Papéis Interação: representação, liderança e ligação. Processa a informação: monitoração, Informacionais Papéis disseminação, porta-voz Como utiliza a informação: empreende, resolve Decisórios conflitos, alocação de recursos e negociação Figura 7: Papéis do(a) administrador(a) Fonte: Adaptado de Chiavenato (2008). 29 EaD Marivane da Silva A administração enquanto profissão tem sua história. Sua comemoração nacional ocorre no dia 9 de setembro – Dia do(a) Administrador(a): A Administração enquanto profissão, iniciou-se, no Brasil, a ser disseminada em 1931, pelo Instituto de Organização Racional do Trabalho – IDORT, em São Paulo. Em 1938, com a criação do Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP, foram difundidos os métodos administrativos, visando principalmente à capacitação do servidor público (...). O processo de industrialização no Brasil ocorrido nos anos 30 e a necessidade de procedimentos administrativos no setor público motivaram a criação da Fundação Getúlio Vargas, em 1944, e em seguida, a implantação da Escola Brasileira de Administração Pública – Ebap – no Rio de Janeiro, em 1952, e da Escola de Administração de Empresas de São Paulo – EAESP –, em 1954. Toda essa evolução fomentou a criação da profissão do administrador no Brasil, que se deu com a edição da Lei nº 4.769, de 09/09/1965 (Andrade; Amboni, 2007, p. 9). A exemplo de outras profissões liberais, a profissão de administrador(a) é regulamentada por um órgão, que disciplina e fiscaliza o exercício profissional: o Conselho Federal de Administração – CFA – http://www.cfa.org.br e os Conselhos Regionais de Administração – CRAs – http://www.crars.org.br. Além de saber qual é o dia que homenageia esse profissional, também é importante você conhecer o símbolo da profissão do(a) administrador(a): Figura 8: Símbolo do(a) administrador(a) Fonte: <http://www.cfa.org.br> Perceba que esse símbolo é, na verdade, uma junção de outros símbolos: A justificativa da constituição gráfica do símbolo que representa a profissão do(a) administrador(a) é: 30 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural O quadro como ponto de partida: uma forma básica, pura, onde o processo de tensão de linhas é recíproco. Sendo assim, os limites verticais/horizontais entram em processo recíproco de tensão. “Uma justificativa para a profissão, que possui também certos limites em seus objetivos: organizar, dispor para funcionar, reunir, centralizar, orientar, direcionar, coordenar, arbitrar, relatar, planejar, dirigir, encaminhar os diferentes aspectos de uma questão para o objetivo comum”. “O quadro é regularidade, possui sentido estático quando apoiado em seu lado, e sentido dinâmico quando apoiado em seu vértice (a posição escolhida)”. “As flechas indicam um caminho, uma meta, a partir de uma premissa, de um princípio de ação (o centro)”. “As flechas centrais se dirigem para um objetivo comum, baseado na regularidade (...) as laterais, as metas a serem atingidas”. Fonte: <http://www.cfa.org.br> Para além de um dia destinado a lembrar dos administradores e de um símbolo que remete à profissão, também foi criado um juramento para formalizar o momento da colação de grau (formatura) desse profissional. O juramento foi oficializado pela Resolução Normativa do Conselho Federal de Administração nº 201, de 19/12/97. Prometo dignificar minha profissão, consciente de minhas responsabilidades legais, observar o Código de Ética, objetivando o aperfeiçoamento da Ciência da Administração, o desenvolvimento das Instituições e a grandeza do Homem e da Pátria. Após conhecer um pouco mais as origens da Administração, é preciso entender que a Administração se consolidou como um processo, por meio do pensamento administrativo (que surgiu como conseqüência da consolidação do capitalismo e ao mesmo tempo do processo de modernização das sociedades ocidentais), ou seja, foi constituído a partir do planejamento, da organização, da direção e do controle. 31 EaD Marivane da Silva A Administração enquanto processo pressupõe uma “seqüência de funções que caracterizam o trabalho do(a) administrador(a), independente do nível hierárquico em que se situe e do tipo de organizações em que atue, com ou sem finalidade lucrativa, pública ou privada, manufatura ou de prestação de serviços” (Moraes, 2001, p. 13). Planeja Organiza Esforços grupais Alcança objetivos Administrador(a) Dirige Recursos organizacionais Controla Figura 9: Funções do(a) Administrador(a) Fonte: Moraes (2001, p. 13). Essas funções integradas constituem o processo administrativo (que será estudado de forma detalhada na Unidade III) e são conceituadas por Silva (2002, p. 10) como: a) Planejamento: determinação de objetivos e metas para o desempenho organizacional futuro, e decisão das tarefas e recursos utilizados para o alcance de objetivos. b) Organização: processo de designação de tarefas, de agrupamento de tarefas em departamentos e de alocação de recursos para os departamentos. c) Direção: influencia para que outras pessoas realizem suas tarefas de modo a alcançar os objetivos estabelecidos, envolvendo energização, ativação e persuasão daquelas pessoas. d) Controle: função que se encarrega de comparar o desempenho atual com os padrões predeterminados, isto é, com o planejado. 32 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural A Administração desempenha o papel de suporte ou meio técnico e organizado para o desenvolvimento de empresas e organizações. Como afirma Nogueira (2007, p. 30) “planejar, organizar e controlar os meios ou recursos materiais e humanos para atingir resultados foi, e continua sendo, a principal tarefa da gestão e da Administração”. Este autor distingue a empresa pela sua finalidade de produzir bens e serviços para o mercado, tendo em vista o retorno sobre o investimento realizado ou a obtenção do lucro. É preciso ressaltar que muitos autores que escrevem sobre “gestão” e “administração”, consideram ambas as expressões como sinônimos. Associando-se à expressão de Siedenberg (2008), gestão e administração são uma espécie de primos-irmãos; e cada vez mais, o termo gestão é mais utilizado contemporaneamente do que administração. Nogueira (2007) também salienta que a gestão ou a administração é um modo racional e calculado de ordenar os meios para atingir resultados (objetivos a alcançar). Conceitualmente, entende-se que: Gestão, do latim gestio, é o ato de conduzir, dirigir ou governar. Administração, do latim administratio, tem aplicação específica: administrar um bem, um negócio ou uma área. Logo, administração seria, a rigor, uma aplicação de gestão. O uso atual do termo inglês management aproxima-se mais da idéia de gestão empresarial, ao passo que administration (administração) refere-se principalmente à administração pública. Em francês, há também essa diferença: gestion está mais associada à gestão de empresas; administration diz mais respeito à administração pública. No caso brasileiro, a gestão pressupõe algo mais abrangente. Gestão empresarial compreende pensar no conjunto da gestão da empresa. “Administração” tem um sentido mais específico, de atenção a determinado aspecto da produção ou do trabalho. A palavra gestor, assim, relaciona-se com o cargo máximo de uma organização (às vezes, é usada para identificar o proprietário). Já o administrador é o profissional, técnico, analista ou gerente assalariado da empresa (Nogueira, 2007, p. 30). O mesmo autor justifica que na era contemporânea, em decorrência das transformações no mundo do trabalho e das organizações, a tarefa do gestor é identificada muito com a do(a) administrador(a), o que não leva a distingui-los com tanta rigidez. 33 EaD Marivane da Silva Noção de racionalidade Existe uma distinção entre a racionalidade – racionalidade funcional ou instrumental x racional substantiva, respectivamente, é o processo organizacional que visa alcançar objetivos prefixados, ou seja, é uma razão com relação a fins na qual vai predominar a instrumentalização da ação social dentro das organizações, predomínio centrado na formalização mecanicista das relações sociais em que a divisão do trabalho é o imperativo; enquanto que a substantiva preconiza a ação racional com relação a fins. Tendo a inserção da racionalidade comunicativa que promove uma mediação por meio do dialogo entre os agentes sociais do processo (Tenório, 2002, p. 36). Em sua teorização ele explicita que a administração está relacionada com a modernidade que conecta as pessoas (com seus sonhos e paixões) ao mundo real, na medida em que verifica as condições econômicas, sociais e políticas da existência e auxilia na realização destes sonhos e paixões coletivas; também percebe que a gestão está em todos os lugares. Nogueira (2007, p. 31) ainda afirma que o fundamento da gestão ou da administração “é a noção de racionalidade, isto é, o uso da inteligência, da razão, para encontrar os meios mais adequados com vista à realização de resultados. (...) Não há gestão sem administração e vice-versa”. Nesse sentido, o autor ressalta que é preciso preocupar-se em formar um profissional com um perfil (...) voltado para o futuro, atento às mudanças, tem de estar capacitado a aprender, pesquisar e investigar, articulando os conhecimentos adquiridos na escola com aqueles exigidos nas organizações. (...) oferecer não respostas prontas, mas questões que, exigindo pesquisa e reflexão, levem o estudante a encontrar soluções com criatividade (p. 17). Em termos práticos, a Administração é uma área aplicada na busca de resultados concretos que visem à melhoria de gestão, fundamentada no compromisso com as pessoas, o trabalho, o desenvolvimento nacional e a preocupação com o ambiente. Sendo assim, vamos instigar você a pesquisar, refletir e analisar o que é “gestão para o desenvolvimento”, ou seja, considerando os desafios da profissão, do trabalho, das organizações e da sociedade do século XXI, o que faz o profissional bacharel em Administração? 34 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Seção 1.4 Desenvolvimento: uma concepção em construção Sugestão de leitura: Você deve estar se questionando: o que o desenvolvimento tem a ver com a Administração? É uma preocupação da Admi- FURTADO, Celso. A fantasia organizada. Rio de Janeiro: Ed Paz e Terra, 1985. nistração pensar e se envolver com a problemática do desenvolvimento? São questões sobre as quais todos nós, estudiosos da Administração, estamos a refletir, dado que o desenvolvimento é uma preocupação de todas as áreas do conhecimento, mesmo que seja algo como pano de fundo do seu grande arsenal teórico e prático. Se analisarmos as referências bibliográficas disponíveis para o estudo da gestão vamos nos deparar com a constatação de que grande parte das contribuições são norte-americanas e que poucas obras têm foco na realidade brasileira. Se no estudo da gestão nos deparamos com esta carência, no que se refere ao estudo da Administração encontramos uma dificuldade ainda maior em encontrar literatura que faça correlação direta desta com o foco no desenvolvimento. Nesse sentido, informamos e orientamos ao estudo da obra de Nogueira, que está nas referências, posto que representa uma inovação pela sua sistematização de importantes contribuições teóricas e empíricas da Academia Brasileira de Administração, seja pela forma de expressão ou pela reflexão que incorpora aos paradigmas apresentados a preocupação da gestão para o desenvolvimento sustentável. Tendo a compreensão de que desenvolvimento não significa apenas crescimento econômico, mas uma sinergia entre os outros fatores da sociedade, principalmente os sociais e os ambientais, ainda não foi possível construir um conceito universal e definitivo de desenvolvimento, por isso ele ainda é visto como algo em construção e que exige estudo. 35 EaD Marivane da Silva É preciso, porém, compreender o desenvolvimento para além da questão terminológica, dando amplitude aos estudos e interpretações, bem como ter a perspectiva clara que Amartya Sen (2000) apresenta em sua obra quando considera as liberdades substantivas das pessoas e os modos e meios de promovê-las como expansão do “papel constitutivo” e do “papel instrumental” da liberdade. Em outras palavras, significa considerar o desenvolvimento para além da análise de produto interno bruto e renda, ampliando esse entendimento para a busca constante ao problema da desigualdade, da significação que as pessoas dão a sua dignidade humana, da ética, da moralidade, da credibilidade, e pensar em qualidade de vida. As pessoas precisam se conscientizar da necessidade de agirem como atores sociais, participantes ativos dessa mudança, e vistos como agentes do processo de atendimento às necessidades humanas, ou seja, da expansão da liberdade como desenvolvimento que deveria ser uma bandeira natural de todos os administradores ao gerir uma organização. Muitos autores optam por adjetivar o conceito, como é o caso de Nogueira (2007), que deixa clara uma preocupação da gestão voltada ao desenvolvimento sustentável da sociedade, a responsabilidade social das empresas e o cuidado com o meio ambiente, em nome das gerações futuras. Afinal, jovens universitários, qual é o papel da gestão para um desenvolvimento sustentável? Arrisque-se e anote sua opinião. Mais tarde, quando estivermos mais avançados no estudo desse tema, será muito interessante voltar aos seus apontamentos e constatar o que mudou e o que se transformou seu conceito! O objetivo é estimular essa discussão e inspirar novos parâmetros para análise, pesquisa e aplicações práticas a Administração. SÍNTESE DA UNIDADE 1 Ao concluir os estudos da Unidade 1 você deve ter claro que há uma distinção entre Teoria da Administração, Teoria das Organizações e Estudos Organizacionais, cuja explicação está no objeto de estudo. As organizações permeiam nossas vidas de modo que na sociedade são elas que executam quase todas as atividades, vistas como sistemas abertos, e podendo ser formais ou informais. Também poderá compreender que não há distinção clara entre Administração e Gestão. Administração é do campo de estudos das Ciências Sociais, entendida como ciência, arte e profissão. Considerando os desafios da profissão do(a) administrador(a) cabe a preocupação da gestão para o desenvolvimento sustentável. 36 EaD Unidade 2 ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural BREVE HISTÓRICO DOS PARADIGMAS DA ADMINISTRAÇÃO OBJETIVO DESTA UNIDADE • Conhecer as concepções de paradigmas, a nova possibilidade de análise dos paradigmas de Administração, bem como estudar as Escolas de Administração e as categorias de análise. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 2.1 – Concepções de Paradigmas Seção 2.2 – Um Novo Olhar Para a Teorização da Administração: paradigmas de administração Seção 2.3 – Escolas de Administração e Categorias de Análise Após a leitura e reflexão desta Unidade, você deverá estar capacitado a entender uma nova visão multidisciplinar dos estudos organizacionais. Antes de qualquer coisa você precisa conhecer, entender e se permitir tentar construir a sua concepção do que seja paradigma. Desta forma, vamos ao estudo da primeira seção desta Unidade 2. 37 EaD Marivane da Silva Seção 2.1 Concepções de Paradigmas Iniciaremos esta seção com uma pergunta: O que você entende por paradigma? Reflita sobre suas concepções e faça anotações sobre seu entendimento. Você tem dúvidas se seu entendimento é correto? Não se preocupe, pois vamos ajudar você nesta descoberta! Muito se ouve falar: “é necessário quebrar paradigmas”; “trata-se de um paradigma”, “é uma mudança de paradigma”, mas afinal, o que é um paradigma? “Paradigma é uma forma de ver o mundo. É um padrão. Ele informa às pessoas como analisar e interpretar fatos, eventos ou determinadas situações” (Araújo, 2001, p. 45). Vários professores, de diversas universidades nacionais e internacionais, aprofundam suas pesquisas, reflexões e compreensões sobre os paradigmas e Godoi, Mello e Silva (2006) sintetizam apresentando suas percepções sobre os paradigmas. Vamos resgatar algumas idéias que consideramos pertinentes ao seu conhecimento geral e específico. Parece incipiente este discurso, em razão de que você ainda é iniciante nos estudos organizacionais, mas também não podemos deixá-lo de fora de um contexto extremamente recente e atual. O objetivo deste resgate é meramente contextual, para entender as mudanças que ocorreram, ao longo dos séculos, para se pensar o paradigma. 38 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Nesse contexto, inicialmente apresentamos as bases teóricas que revelam a trajetória evolutiva da concepção de paradigma: (...) nas ciências sociais as ideologias, as teorias mais duradouras e os “paradigmas” têm sido associados às obras dos clássicos, como Marx (marxismo), Weber (weberianismo) e Durkheim (funcionalismo, positivismo); diversas escolas, como a de Frankfurt ou a de Chicago, são tomadas eventualmente como paradigmas ou fonte de referencial teórico-metodológico (Godoi; Mello; Silva, 2006, p. 18-19). As obras clássicas referenciadas não poderiam deixar de ser sugeridas para estudo e, se possível, orientadas como uma leitura obrigatória aos estudiosos da Administração. São as bases de todas as fundamentações construídas ao longo dos tempos. Paradigma é a visão de mundo, ou seja, a forma como a realidade social é percebida, sobre a influência do paradigma filosófico adotado, seja ele: 1) FUNCIONALISTA – a realidade é concreta – objetiva; ou 2) INTERPRETATIVISTA – a realidade é subjetiva; ou 3) MARXISTA – a realidade é histórica. É importante destacar que ao estudarmos “paradigmas”, encontramos em muitas referências bibliográficas de teorias organizacionais ou estudos organizacionais, como a grande referência ao tema a concepção de Thomas Kuhn, como linha de pensamento da racionalidade científica. Godoi, Mello e Silva (2006), no entanto, chamam a atenção para o fato de que, na verdade, ele não reconheceu a existência de paradigmas no campo das Ciências Sociais, apenas para as Ciências Naturais e por isso sua concepção é considerada pelos teóricos de Administração como em seu estágio imaturo ou pré-paradigmático. Com base neste fato reexaminaram o conceito proposto por Kuhn e desaconselham sua utilização no campo dos estudos organizacionais. 39 EaD Marivane da Silva Pré-paradigmático Anterior ao paradigma conceitual proposto pela modernidade. O conceito de Kuhn sobre paradigma apresenta-se como sendo o fornecedor dos fundamentos para a prática de muitas ciências; “de prover modelos, não somente para identificação de problemas, mas também de sua resolução” (Araújo, 2001, p. 45). É a visão de que o conhecimento do mundo evolui no tempo de forma cumulativa, gradual e linear; que propicia limites, padrões, e permite dar coerência e relevância a um fenômeno. Considerando que Godoi, Mello e Silva (2006, p. 31) reelaboraram o conceito de Kuhn, apresentamos uma nova compreensão de paradigma: Paradigma é uma constelação de crenças, valores e técnicas compartilhadas pelos membros de uma determinada comunidade científica. Ou melhor: Paradi gma po de se r e mpre gado num s e nti do mai s globalizante, abarcando todos os esforços compartilhados por uma dada comunidade científica; ou num sentido que isola um conjunto mais específico de esforços, que se torna um subconjunto do primeiro. Morin (1991, apud Godoi; Mello; Silva, 2006, p. 36) critica e revisa o conceito de paradigma proposto por Thomas Kuhn, de maneira a reafirmar que “os sistemas de idéias são radicalmente organizados em virtude dos paradigmas”, ou seja, propõe uma nova linha de pensamento – chamada pensamento complexo. Assim, entende que: 40 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Paradigma da complexidade “[...] os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo os paradigmas internalizados em suas culturas” (Godoi; Mello; Silva, 2006, p. 36). Trata-se de um ir-e-vir constante entre certezas e incertezas, entre o elementar e o global, entre o separável e o inseparável, entendido posteriormente como o paradigma da complexidade. Defende que a lógica que percebe o mundo é passível de ser estudada sob a perspectiva da construção de certezas, herdada da construção de certezas, da tradição cartesiana, que busca explicações racionais para os fenômenos naturais e sociais, a partir de sua complexidade que envolve incerteza, indeterminação e subjetividade como critérios (Neto, 2001). Na tentativa de compreender melhor a relação entre as teorias organizacionais e o paradigma da complexidade buscamos a contribuição de três autores – Guerreiro Ramos, Edgar Morin e Gareth Morgan. Vamos fazer um recorte dos principais discursos para que você possa analisar o processo evolutivo das concep- Epistemologia Que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento; que se refere às bases que sustentam o conhecimento acerca do objeto de estudo. ções de paradigmas. Guerreiro Ramos (citado em Godoi; Mello; Silva, 2006), um sociólogo brasileiro, em sua obra A nova ciência das organizações (1981) considera que a teoria organizacional dominante não desenvolveu a capacidade analítica necessária ao exame crítico de seus alicerces epistemológicos e teóricos. Em sua opinião, as organizações são ao mesmo tempo sistemas cognitivos, sistemas epistemológicos e cenários sociais. Elas têm sido interpretadas, predominantemente, como sistemas fundados na razão instrumental, no contexto de sociedades centradas na regulação do mercado (explicados na seção 2.3, quando abordamos o modelo de análise proposto por Reed (1998, apud Clegg; Hardy; Nord, 1998). No seu entendimento, os cenários sociais desenhados sem inclusão de considerações substantivas acabam deformando a linguagem e os conceitos mediante os quais a realida41 EaD Racionalidade substantiva É a percepção individualracional da interação de fatos em determinado momento.O ator social dentro da organização deveria desenvolver suas relações de forma a produzir segundo a sua maneira particular de perceber a ação racional com relação a fins (Tenório, 2002, p. 33). Marivane da Silva de é aprendida, assim como demonstra ser incapaz de analisar a teoria organizacional diante da complexidade dos sistemas sociais organizados. Reed propõe um novo paradigma em que o cerne está na noção de delimitação organizacional, evidenciando a “diversidade na unidade das formas organizacionais”, que designam atividades criativas, automotivadas, autônomas e gratificantes, numa perspectiva de racionalidade substantiva, que envolve: (a) uma visão da sociedade como uma variedade de enclaves (dos quais o mercado é apenas um), na qual o homem se empenha em tipos diferentes de atividades substantivas; (b) um sistema de governo social capaz de formular e implementar as políticas e decisões distributivas requeridas para a promoção do tipo ótimo de transações entre tais enclaves sociais. Morin, por sua vez, procura mostrar seu modelo como unidade na diversidade de pensar o fenômeno organizacional, as interações e retroações entre ordem, desordem e reorganização, visando à emancipação ou auto-realização humana, numa sociedade também multicêntrica, em equilíbrio dinâmico e coevolutivo com as demais espécies de ecossistemas. Sintetizando: seu objetivo é compreender as formas organizacionais constituídas pelas sociedades humanas em seu conjunto e contexto (sociedade, indivíduo, espécie). Cabe esclarecer que razão substantiva e pensamento complexo condensam aspectos éticos, críticos, científicos e políticos, embora não redutíveis uns aos outros. 42 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Perspectiva funcionalista A abordagem que busca a complementaridade entre a teoria da delimitação de sistemas sociais (Ramos, 1981) e o paradigma da complexidade (Morin, 2003) apresenta proximidade com a obra de Morgan (1996), que faz uma critica multifacetada às idéias predominantes nos estudos organizacionais. Considera a organização como entidade única na qual os membros buscam atingir objetivos e interesses comuns, visando atingir a eficiência e a eficácia organizacional. Morgan (1996) enfatiza que a perspectiva funcionalista tem sido a criação e elaboração de uma linguagem que crie e sustente um sistema de valores que prega a concepção de objetividade. Morgan, na obra Imagens na Organização (1996), critica a construção da teoria organizacional por ter sido dominada pelas perspectivas funcionalistas, segundo as quais as organizações são concebidas como máquinas ou organismos vivos. Desta forma, apresenta novos campos de visão ao Metáforas São artifícios para embelezar o discurso, mas seu significado implica um modo de pensar e uma forma de ver que permeia a maneira pela qual entendemos nosso mundo em geral (Morin, 1996, p. 16). conceber organizações simultaneamente como máquinas, organismos, culturas, cérebros, sistemas políticos, prisões Saiba mais: psíquicas, fluxo e transformação e instrumentos de dominação. Este autor apresenta sua concepção através de imagens ou metáforas, que são “teorias” ou “arcabouços conceituais”, e “a prática não está nunca livre da teoria, uma vez que se encontra sempre orientada por uma imagem ou por aquilo que está tentando fazer ”. Defende a posição de que a realidade é, ao mesmo tempo, subjetiva e objetiva; e procura compreender a complexidade das organizações produtivas como unidades nucleares das sociedades, mesmo que paradoxais e multidimensionais (Godoi; Mello; Silva, 2006, p. 42-47). Complementando os conceitos já apresentados Boog afirma que: Kuhn, T. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1970. Ramos, A. G. A nova ciência das organizações: uma reconceituação da riqueza das nações. Rio de Janeiro: FGV, 1981. Morin, E. A inteligência da complexidade. 3. ed. São Paulo: Peirópolis, 2004. Morin, E. Introdução ao pensamento complexo. 4. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2003. Morgan, Gareth. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 1996. Silva, A. B.; Rebelo, L. A emergência do pensamento nas organizações. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 37 (4), p. 777-796, jul./ago. 2003. Disponível em: <http://www.ebape.fgv.br/ academico/asp/ dsp_rap_resumos.asp?cd_artigo=2289>. Acesso em: 7 jan. 2009. 43 EaD Marivane da Silva Paradigmas são referenciais que usamos continuamente para balizar nossas decisões. Paradigmas são “lentes” que condicionam a nossa visão de mundo, dando-lhe as suas cores e formas. Por estarem tão incorporados ao nosso dia-a-dia, muitas vezes nem nos damos conta de que os paradigmas existem e são tão determinantes em nossa forma de perceber o mundo. Os paradigmas são, num certo sentido, altamente positivos, pois trata-se de um referencial que nos ajuda e nos apoia. Por outro lado, ao definirem uma forma rígida de ver e perceber, podem nos causar uma cegueira que nos impede enxergar o que não se ajusta aos pressupostos básicos (apud Heloani, 2003, p. 180). Nogueira (2007, p. 103), por sua vez, assim se expressa: Paradigma é um conceito que vem da Grécia antiga, onde significa “mostrar lado a lado”. O filósofo Platão usava-o para designar a idéia de “modelo”. Esse conceito foi retomado e popularizado, nos anos 1970-1980, pelo físico, filósofo e historiador da ciência americana Thomas Kuhn (1922-1996) no livro A estrutura das revoluções científicas (grifo do autor). Vamos tentar objetivar os conceitos, para que você possa ter a exemplificação do que estamos falando e perceber que a expressão “paradigma” está cada vez mais popularizada no meio acadêmico da Administração. A primeira Revolução Industrial teve como paradigma a máquina a vapor e suas modificações internas e externas; a segunda Revolução Industrial, o motor elétrico; e, a terceira, a tecnologia da informação. Um paradigma administrativo é uma referência ou matriz de condutas que inclui as atividades de planejamento, organização, execução e controle, as técnicas e os procedimentos aceitos e adotados pelas empresas ao longo do tempo. Às vezes, o paradigma administrativo permanece como dogma e obstáculo ao desenvolvimento de novos conhecimentos e práticas, apenas para manter o poder e o controle de um grupo (Nogueira, 2007, p. 104). Motta (2001, p. 59) explica em sua obra “Transformação organizacional: a teoria e a prática de inovar ” que “administração é tanto uma prática social e profissional quanto um campo de conhecimento com intenções científicas”; ou seja, está centrada na dimensão científica da gestão, apesar de ser útil mostrar como a teoria e a prática se interligam. 44 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Na perspectiva prática, o conhecimento da gestão se valida pela aplicabilidade. Porém, os produtores da teoria só a validam pelo consenso obtido junto à comunidade científica. Nesta perspectiva se valorizam instrumentos de inovação; preocupam-se com atitudes, intenções, comportamentos e significados individuais e coletivos em relação a projetos específicos. A prática ensina a conciliar os interesses e significados da mudança tendo em vista o impacto futuro. Na perspectiva teórica, procura-se compreender a organização em seu todo e como parte de uma estrutura social maior; buscar causalidades, inter-relações sociais, institucionais e significados capazes de formar uma coerência de pensamento sobre um objeto de análise. Pela teoria se aprende uma nova maneira de pensar, de ver o mundo e de acreditar na mudança. Todos os paradigmas revelam a tensão entre teoria e prática. (Motta, 2001, p. 60). A prática da gerência não é uma atividade isolada da formação do conhecimento; possui formas de sistematização, explicação, compreensão e reprodução para outras realidades, ou seja, é possível afirmar: “a experiência prática pode ser uma valiosa experiência teórica” (p. 61). A construção teórica é social e influenciada por fatos, experiências e demandas das organizações que formam a sociedade. Como estudamos na Unidade 1, estas organizações são constituídas de três elementos básicos: técnicos e administrativos; psicológicos, pessoais e sociais; e contextuais, que informam a razão da existência da organização na sociedade. “A ênfase em um ou em outro conjunto de elementos caracteriza o paradigma ou matriz disciplinar de uma organização, que se refere aos padrões desejados de ação e de resultado (Nogueira, 2007, p. 105). Os elementos constituintes da organização são compostos de subsistemas ou subelementos – em que cada um deles, impacta na funcionalidade integrada do sistema –, conforme ilustrado na Figura 1. 45 EaD Marivane da Silva Técnico-Administrativo Recursos materiais, planejamento, objetivos, regras e processos (capacidade de produzir resultados). Subelementos Econômico-socialpolítico e o mercado (no qual a organização é reconhecida e realiza seus objetivos) Social Membros da organização; valores, cultura e comportamentos, com atribuições de execução, coordenação e planejamento (eficiência real e resultados concretos) Liderança e comunicação. Figura 1: Elementos básicos de uma organização Fonte: Nogueira (2007, p. 105). Para além de seus elementos é essencial conhecer os modelos de gestão adotados por estas organizações considerando sua época e contexto. O conjunto de expressões “taylorismo, fordismo, fayolismo, humanismo, modelo burocrático ou orgânico, abordagem sociotécnica, abordagem estratégica, qualidade e participação, toyotismo ou modelo japonês, reestruturação flexível...”, com as quais você irá se deparar ao ler este Livro-Texto ou na seqüência de seus estudos; representam componentes de formação de paradigmas na Administração, ou seja, “um conjunto de esforços, métodos e técnicas, princípios e valores, teorias e práticas, doutrinas ou modelos de ação que marcam uma contribuição no campo da gestão” (Nogueira, 2007, p. 105). Sendo assim, vamos avançando em nossas contribuições, fazendo um breve histórico dos paradigmas em Administração, num período que vai do início até a primeira metade do século 20, em que ocorrem a consolidação e o declínio da segunda Revolução Industrial. Já os paradigmas contemporâneos se desenvolveram na segunda metade do século 20 até final do século, e no início do século 21, em que se verificam a emergência e a consolidação da terceira Revolução Industrial, que foi mais uma revolução tecnológica (informática, telecomunicações e robótica). 46 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Antes de apresentarmos o quadro dos paradigmas em Administração, entendo pertinente ilustrar para você o quadro da evolução dos paradigmas considerando a fonte de riqueza, o tipo de organização e os princípios utilizados para o seu desenvolvimento, conforme Quadro 1. ERA FONTES DE RIQUEZA TIPO DE ORGANIZAÇÃO PRÍNCIPIOS CONCEITUAIS AGRICULTURA ARTESANATO INDUSTRIALIZAÇÃO INFORMAÇÃO Terra Trabalho Capital Conhecimento Feudal Propriedade Burocracia Improvisão Ausência de métodos Desperdícios Despreparo Divisão do trabalho Especialização Método de trabalho Pagto por tarefas Confinamento Divisão da administração Separação gerência/ Propriedade Separação pensar/fazer Unidade de comando Hierarquia Comunicação vertical/ formal Redes humanas virtuais Cadeia horizontal Processos interativos Equipes virtuais focalizadas por tarefas Comunicação lateral Trabalho como diálogo Complexidade e mudança Quadro 1: Evolução dos paradigmas considerando era, riqueza e organização Fonte: Nuniz; Faria (2007, p. 9). Vicente (2004, p. 1) reforça a passagem de um paradigma para outro e o importante impacto da Revolução Industrial para a administração e a gestão: Até o final da Idade Média, o paradigma da produção de bens era a produção artesanal, com produtos feitos sob encomenda por artesãos qualificados, conhecedores de todo o processo produtivo. Muita variedade, baixíssimo volume. Os produtos eram sempre distintos, mesmo que o artesão desejasse fazer um par de itens iguais. A partir da revolução industrial, a produção em massa foi se consolidando, alterando pouco a pouco os pressupostos sobre como produzir. Agora, por meio da linha temporal, vamos apresentar as teorias da Administração e permitir que você conheça a época de cada uma delas (Quadro 2). 47 EaD Marivane da Silva Anos Teorias Administrativas 1903 Administração Científica* 1909 Teoria Burocrática* 1916 Administração Clássica* 1932 Teoria de Relações Humanas 1947 Teoria Estruturalista* 1951 Teoria de Sistema 1953 Abordagem Sociotécnica 1954 Teoria Neoclássica 1957 Teoria Comportamental 1962 Desenvolvimento Organizacional 1972 Teoria Contingencial 1980 Novos Paradigmas Quadro 2: Linha temporal das Teorias da Administração Fonte: Muniz; Faria (2007, p. 10). (*) Teorias que serão foco de estudo no componente curricular Estudos Organizacionais: abordagem estrutural O estudo dos paradigmas da Administração ajuda a compreender os processos fundamentais, o funcionamento das organizações, o ambiente organizacional e as decisões de Administração nos diferentes momentos, contemplando sempre o contexto e a época. Cabe destacar que os paradigmas de Administração também podem ser divididos em “subparadigmas”, uma vez que compreendem diversos pressupostos para atender e realizar cada uma das funções básicas da organização (a serem estudadas na Unidade 3). Assim sendo, vamos aprofundar nossas investigações bibliográficas sobre os paradigmas de Administração – uma “nova forma de ver o mundo” da Administração na seção 2.2. 48 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Seção 2.2 Um Novo Olhar Para a Teorização da Administração: paradigmas de administração Esta seção tem o propósito de apresentar uma maneira diferente de estudar a Administração, ou seja, por meio dos paradigmas da Administração é possível reconstruir a história da Administração e resgatar seus fundamentos principais, dividindo-os em dois grandes blocos: a) paradigmas formadores da administração; b) paradigmas contemporâneos da Administração, que são apresentados no Quadro 3, como parâmetros para a formação do conhecimento administrativo. Paradigma técnicoadministrativo Paradigmas formadores da administração Paradigma humanista e comportamental Paradigma organizacional Paradigma sistêmico e estratégico Paradigmas contemporâneos da administração Paradigma da qualidade e da participação Paradigma da reestruturação flexível aprendizagem e conhecimento Composto pe las contribuições de Taylor, Ford, Fayol e Weber. Formado pelas contribuições iniciais de Elton Mayo e pelas abordagens psicológicas e sociais que influenciam as noções de motivação e liderança. Constituído pelas teorias e pelo estudo do poder, das modalidades e da dinâmica das organizações. Composto pela teoria dos sistemas, pela administração estratégica e pela abordagem sociotécnica. Formado pela administração da qualidade total, pela administração participativa e pelo modelo japonês de administração, que sintetizou de forma eficaz as duas noções no que se refere a resultados operacionais para o mundo global dos negócios. Originado fundamentalmente da extensão do modelo japonês para o mundo por meio da reestruturação produtiva, da busca da flexibilidade organizacional e da competitiv idade como diretriz estratégica. Quadro 3: Paradigmas da administração Fonte: Nogueira (2007, p. 106). A partir de agora vamos tentar explicar cada um dos paradigmas destacados por Nogueira (2007, p. 106), a saber: 49 EaD Marivane da Silva a) Ênfase nos aspectos técnicos e administrativos (meios de produção, sistemas de controle, metas e objetivos, eficiência e produtividade, etc), que remete às premissas econômicas, técnicas e racionais de seus fundadores no início do século 20. b) Ênfase no entendimento da organização no contexto social, econômico e político do pós-guerra (2ª Guerra Mundial), que discute e complementa os paradigmas anteriores. Constitui o momento de maior estruturação e burocratização das organizações das sociedades capitalistas e das sociedades socialistas em expansão. c) Ênfase nos elementos psicológicos, pessoais e sociais (como comportamentos, atitudes, formas de relacionamento no trabalho, grupos informais, motivação e liderança), que complementa o paradigma técnico-administrativo com experiências e propostas desenvolvidas a partir da década de 30 do século 20. d) Ênfase nas mudanças estruturais e nos valores da sociedade – chamada de sociedade das organizações. Neste contexto, a noção de homem organizacional ganha espaço na teoria da Administração e o indesejável conflito de interesses dos paradigmas anteriores passa a ser encarado como natural e administrável. O homem organizacional é aquele que tem capacidade de formar uma visão múltipla e integrada das organizações e mostra habilidade nos relacionamentos interno e externo das diversas modalidades de organização. Com essas referências apresentadas, construiu-se uma visão relativamente consensual do significado da Administração e da gestão. “Na teoria, são doutrinas e modelos gerados para planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades empresariais e, na prática, maneiras de tomar decisões sobre recursos disponíveis a fim de atingir objetivos” (Nogueira, 2007, p. 107). É importante destacar que neste componente curricular não serão aprofundados os estudos de todos os paradigmas apresentados no Quadro 3, porém neste momento é importante que você tenha uma visão sistêmica e global do que abrange o estudo dos paradigmas da Administração. Sendo assim, vamos resumidamente dar a dimensão do que trata cada um deles. O paradigma técnico-administrativo e organizacional será discutido na Unidade 3. 50 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural O primeiro momento da gestão relaciona-se com a transferência do conhecimento dos trabalhadores sobre o processo de execução do trabalho e da produção para a instância da gerência, dividindo, assim, as atividades de planejamento, organização, execução e controle. Esta foi a principal tarefa iniciada pelo taylorismo e desenvolvida pelo fordismo e fayolismo, cujas contribuições formam um paradigma centrado no controle sobre o trabalho e sobre a empresa para maximizar os resultados econômicos. A administração das organizações tem como foco a recompensa econômica, que se resume aos salários dos trabalhadores. Com a formação do paradigma humanista, a ênfase desloca-se da recompensa material para a recompensa social e simbólica, sem significar uma ruptura com o paradigma técnico-administrativo. O trabalhador passa a ser visto como pessoa, com necessidades que incluem relações interpessoais, o sentir-se bem no grupo e o reconhecimento social. A partir de então as escolas de gestão começam a responder de modo mais sofisticado aos problemas do trabalho e das organizações na consecução de seus objetivos. As abordagens estruturalistas, comportamentais e sistêmicas consideram que as pessoas são adaptáveis às empresas e às funções, ou seja, os objetivos individuais podem se adaptar e compartilhar interesses pessoais com os objetivos organizacionais. Neste momento se admite que o conflito entre capital e trabalho existe, e passa a ser administrável, refletindo-se na proposta de recompensas mistas ao trabalhador: aspectos materiais, simbólicos de reconhecimento, atitude e comportamento. No âmbito dessa abordagem a “organização é o espaço da integração cooperativa e sistêmica, aberta ao contexto externo, ou seja, ao mercado e à sociedade, que se tornam o alvo e o problema da gestão” (Nogueira, 2007, p. 108). O paradigma sistêmico e estratégico (pertencente ao bloco do paradigma contemporâneo) desenvolve parâmetros cuja finalidade é adaptar a empresa ao contexto externo em que ela se insere. Entende que o subsistema social, composto pelas pessoas e por sua forma 51 EaD Marivane da Silva Escopo É um conjunto de quesitos em que se quer atuar, podendo ser implícito (associado às expectativas e desejos) ou explícito, controlável pelos processos, apoiado em documentos (projeto). de comportamento, deve integrar-se ao subsistema técnico, constituído pelos aspectos visíveis e identificáveis nas organizações, como estrutura, máquinas e equipamentos, hierarquia e regras explícitas. Ou Escopo: especificação do limite dentro do qual os recursos de sistema podem ser utilizados. Este paradigma tem seu foco em obter a integração funcional no contexto interno das empresas para garantir seu desempenho no contexto externo do mercado e da sociedade. A teoria dos sistemas (paradigma sistêmico e estratégico) entende a organização pela interação das partes componentes dos subsistemas, como recursos humanos, produção, tecnologia, finanças e marketing. Cada uma das partes deve contribuir para o alcance do objetivo geral do sistema, que é criar uma relação positiva com o contexto externo, ocorrendo sempre a avaliação e o retorno de informações sobre o funcionamento do “sistema empresa” no “sistema mercado”, o que se chama de feedback. Destacam-se, no paradigma sistêmico, as abordagens sociotécnica, contingencial e estratégica, que, por sua importância, acabam por se definir como subparadigmas de gestão. No paradigma contemporâneo as organizações tendem a se descentralizar e a desenvolver mecanismos de participação, tornando suas formas de gerência e liderança mais consultivas e democráticas e promovendo a formação de grupos de trabalho na produção. É neste momento que ocorre a passagem do paradigma técnico-administrativo (taylorista e fordista) para o paradigma humanista e participativo, que amplia o escopo do trabalho. 52 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Se analisarmos os modelos de gestão dos americanos, europeus e japoneses teremos o registro das seguintes características, expressas no Quadro 4. Enriquecimento Americano de cargos e tarefas, comportamento organizacional cooperativo e sistema participativo. Europeu Formação de grupos semi-autônomos, cuja experiência mais avançada foi o volvismo. Toyotismo, caracterizado pelos grupos de controle de qualidade e pela participação, flexibilidade Japonês toyotismo e polivalência preconiza no trabalho. a organização O enxuta, flexível e de qualidade, voltada para a demanda Volvismo Também se trata de um modelo de produção, que se assemelha a um cérebro e cria ao mesmo tempo: a) conectividade e redundância; b) especialização e generalização. A organização é vista como um sistema de processamento de informações; um sistema holográfico (consiste na reconstrução de ondas, o que possibilita uma espécie de fotografia inteira e tridimensional – Crema, 1989) e com capacidade de autoregulação. O objetivo do modelo é dotar a organização do máximo de flexibilidade e capacidade de inovação. Deste modelo surgiu a empresa automobilística Volvo. (o cliente), determinada pela introdução intensiva das tecnologias microeletrônicas. Quadro 4: Foco no modelo de gestão Fonte: Elaborado com base em Nogueira (2007, p. 109). Agora que você já te m uma vi são mai s ampla dos paradigmas formadores e contemporâneos da Administração, vamos apresentar as contribuições de Fernando Prestes Motta para identificar os paradigmas e os modos de gestão, a partir de cinco categorias de análise teórica para delimitar os movimentos das Toyotismo É um sistema japonês de gerenciamento do modelo da indústria automobilística do engenheiro japonês, dos anos 50, chamado Eiji Toyoda e de seu especialista em produção, Taichi Ohno. Neste sistema de produção as mercadorias deveriam ter um giro rápido, eliminando estoques e adotando o conceito de produção flexível. Desta forma foi que nasceu a mais eficiente empresa automobilística – Toyota. escolas de Administração, conforme a seção 2.3. 53 EaD Marivane da Silva Seção 2.3 Escolas de Administração e Categorias de Análise As diversas escolas da Administração sustentadas pelas teorias que lhes proporcionam a melhor base de apoio neste processo de entendimento e de aplicação da Administração foram classificadas em cinco categorias de análise teórica (Quadro 5): a concepção da organização, as relações entre Administração e empregados, os sistemas de incentivos ou recompensas, a concepção da natureza humana e os resultados esperados. E stas cate gorias foram defini das pelos enfoque s teóri cos e me todológi cos caracterizadores das escolas de Administração: a) enfoque prescritivo e normativo: os elementos da Administração são uma norma ou um dever-ser; b) enfoque explicativo: combina elementos para explicar os fenômenos organizacionais; c) enfoque prescritivo e explicativo: leva em conta as mudanças tanto nos aspectos estruturais e objetivos quanto nos comportamentais e subjetivos. Administração Escolas Científica e Clássica Foco/enfoque Conceito Organização Relação EmpresaTrabalhador Incentivos e Recompensas Conceito de Homem Resultados Prescritivo Formal Teoria Relações Burocrática Humanas Padronizada Prescritivo Formal Informal Identidade Teoria Estruturalismo Comportamental Sistemas Explicativo Misto Cooperação Explicativo Teorias da Contingência Prescritivo e Explicativo Sistema Situacional e Aberto variável Conflito de Identidade de Mecanicista Interesses e normativa Materiais Materiais Sociais Mistos Mistos Mistos Variáveis Econômico Burocrata Social Organizacional Administrativo Funcional Situacional Máximos Máximos Máximos Máximos Satisfatórios Máximos Variável de Interesses Conflito Explicativo Inevitável Conflito Inevitável papéis socais Quadro 5: Escolas de administração e suas características Fonte: Adaptado de Nogueira (2007, p. 111). 54 dos Conflito variável EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural No estudo dos paradigmas, das escolas e dos modos de Administração, é importante realizar pesquisas sobre empresas específicas e, porque não, em empresas em que você está inserido, focando estudos de caso – para identificar como operam nos contextos internos e externos. É relevante para a construção de seu conhecimento a prática reflexiva de um caso prático, tendo como base o instrumento do Quadro 6. Faça a escolha de uma organização e tente sistematizar essa análise. Estudo de Caso O que observar na organização? Práticas organizacionais formais e informais. Estruturas e regras. MODOS DE GESTÃO – PARADIGMAS Cargos e a hierarquia. Divisão do trabalho. Modos de recompensa e de motivação. Contexto Interno Visão sobre as pessoas. (voltada para si) Valorização do trabalho. Estilo de trabalho da empresa – políticas organizacionais relativas ao corpo social, ao meio técnico e à tecnologia. Formas de condução, direção e liderança. Modos de controlar os processos, de tomar decisões e de avaliar os resultados. Instalações físicas, pelos produtos e/ou serviços e pelo relacionamento Contexto Externo com consumidores, fornecedores, sindicatos, governo e comunidade. Identificação do papel econômico e social da organização na sociedade e no mercado. Quadro 6: Esquema para realização de estudo de caso em organização Fonte: Construído a partir de Nogueira (2007, p. 112). Da mesma forma, é importante ter claro que não existe uma única forma de estudar e analisar os paradigmas da Administração. Por exemplo, iniciamos os estudos focalizando a lógica de Nogueira (2007), mas poderíamos adotar as percepções mais críticas e complexas propostas por Reed (apud Clegg; Hardy; Nord, 1998) e Morgan (1996). Apesar de não nos aprofundarmos no estudo destas propostas, iremos apresentar uma síntese de cada uma delas para que você possa ampliar suas possibilidades de leitura teórica dos estudos organizacionais. 55 EaD Marivane da Silva Dialética É a arte de raciocinar; lógica; arte de argumentar ou discutir; argumentação dialogada. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/ definir_resultados.aspx>. Acesso em: 10 jan. 2009. Reed (apud Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 66) em sua proposta revela os conflitos históricos em que a análise organizacional se desenvolveu – um campo deve ser mapeado e atravessado levando-se em consideração as inter-relações entre os fatores processuais e contextuais em torno dos quais a área emergiu, desenvolvendo uma relação dialética com processos históricos e sociais, como formas contestadas e pouco estruturadas de conceitualizar e debater aspectos-chave da organização. A discussão inicia-se a partir das metanarrativas ou narrativas analíticas estratégicas (Quadro 7), por meio das quais o campo de estudos organizacionais é constituído enquanto prática intelectual dinâmica, permeada de controvérsias teóricas e conflitos ideológicos em torno da questão de como a “organização” pode e deve ser. Este modelo de análise é bastante complexo e atual. Modelo de metanarrativa interpretativa Problemática principal Racionalidade Ordem Integração Consenso Mercado Liberdade Poder Dominação Conhecimento Controle Justiça Participação Perspectivas ilustrativas/exemplos Teoria das organizações clássicas, administração científica, teoria da decisão, Taylor, Fayol e Simon. Relações humanas, neo-RH, funcionalismo, teoria da contingência/sistêmica, cultura corporativa, Durkheim, Barnard, Mayo, Parsons. Teoria da firma, economia institucional, custos de transação, teoria da atuação, dependência de recursos, ecologia populacional, teoria organizacional liberal. Weberianos neo-radicais, marxismo crítico-estrutural, processo de trabalho, teoria institucional, Weber e Marx. Etnométodo, símbolo/cultura organizacional, pós-estruturalista, pósfordista/moderno, Foucault, Garfinkel, teoria do ator-rede. Ética de negócios, moralidade, democracia industrial, teoria participativa, teoria crítica, Habermas. Transições contextuais De Estado guarda-noturno a Estado industrial De capitalismo empresarial a capitalismo de bem-estar De capitalismo gerencial a capitalismo neoliberal De coletivismo liberal a corporativismo negociado De industrialismo/ modernidade a pósindustrialismo/pósmodernidade Da democracia repressiva à democracia participativa Quadro 7: Metanarrativas em análise organizacional, propostas por Reed (1993 apud Clegg; Hardy; Nord, 1998). Fonte: Clegg; Hardy; Nord, 1998, p. 65. 56 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Para maiores estudos e orientações de aprofundamento teórico sugere-se a leitura da obra Handbook de estudos organizacionais: modelos de análise e novas questões em estudos organizacionais, de Clegg, Hardy e Nord, 1998, vol. 1. A lógica das metáforas proposta e discutida por Morgan (1996), supõe que cada uma delas não pode capturar a natureza total da vida organizacional e as referidas metáforas são explicitadas resumidamente no Quadro 8. Metáforas Fundamentos de sua dimensão Sua base é a racionalidade instrumental, utiliza concepções mecânicas e o desenho organizacional é comparado à máquina. As pessoas são valorizadas Mecânica pelas habilidades instrumentais. Na definição das características organizacionais dá ênfase aos conceitos de estrutura formal e tecnologia. A organização é avaliada pela eficiência e visualizaa como um sistema fechado. Valoriza os objetivos operacionais específicos e os princípios organizacionais, ou melhor, a maneira de administrar. As organizações são constituídas de partes mutuamente conectadas e dependentes para compartilhar uma vida em comum. Seu foco está em sua atividade vital, entendendo ser um sistema aberto, enfatizando as relações organização/ambiente e a continuidade da vida organizacional. Por ser considerada a organização uma entidade viva, compreende-se o Orgânica fluxo constante de mudança e interação com o ambiente. Enfatiza a flexibilidade gerencial, a importância do uso e da aquisição de recursos e a relevância do processo organizativo mais que o simples alcance dos objetivos organizacionais. Valoriza aspectos contingenciais na Administração, com destaque à inovação como meio para atingir a flexibilidade e garantir a sua sobrevivência. Preocupa-se com a ecologia das organizações e com as relações interorganizacionais. As organizações são sistemas de informações, que dependem do seu processamento. Elas são vistas como cérebros processadores de informações e ao mesmo tempo sistemas de comunicação e sistemas de tomadas de decisão. Por meio do processamento de informações é Cérebro possível compreender as organizações e identificar as formas organizacionais. Esta metáfora favorece o aprendizado organizacional e a compreensão das capacidades de auto-organização; contribuições da Administração estratégica para o aprender a aprender; utilização dos meios para ir além da limitada racionalidade que caracteriza muitas organizações. 57 EaD Marivane da Silva A organização é vista como o lugar onde residem idéias, valores, normas, rituais e crenças que a sustentam como realidade socialmente construída. O contexto cultural é decisivo na natureza das organizações Cultural e sua cultura delineia o seu caráter organizacional. Sua ênfase está no significado simbólico ou em alguns aspectos racionais da vida organizacional. Centraliza sua atenção no lado humano da organização que outras metáforas ignoram ou encobrem e contribui para a compreensão da mudança organizacional. Uma organização política deve ser entendida como aquela que mensura os conflitos existentes e as várias maneiras de manifestação de poder consolidadas entre os grupos de interesses que a compõem. Fornece o conhecimento necessário para que se avalie o comportamento humano Política na organização baseada em interesses, conflitos e poder. Ajuda a aceitar a realidade da política como algo inevitável à vida organizacional, bem como reconhece as tensões entre os interesses dos indivíduos, dos grupos e das organizações, assim como reconhece as implicações sociopolíticas dos diferentes tipos de organizações e dos papéis que estas desempenham na sociedade. É entendida como os aspectos inconscientes, afetivos, defensivos, ameaçadores e individuais de cada um, entrelaçados com os conscientes e racionais, de forma que, muitas vezes, os primeiros criam “prisões” que influenciam diretamente as atividades e as direções das organizações. Esta metáfora apresenta perspectivas para a exploração do significado oculto dos nossos mundos tidos como verdadeiros. Encorajam a conhecer o mundo do inconsciente e respectivo modelo de Prisão controle que aprisionam as pessoas e as empresas em modelos não Psíquica saudáveis. Alertando para a racionalização ocorrida em excesso nas organizações e chama a atenção às bases éticas da organização ao reforçar que esta é humana no sentido mais complexo. Incentiva lidar com as relações de poder estabelecidas na vida organizacional e que todos nós desempenhamos um papel na construção destas relações inconscientes de poder e como este conhecimento pode ter um efeito fortalecedor. Ajuda a identificar as barreiras existentes ao caminho da inovação e da mudança. 58 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Significa compreender a lógica da mudança que dá forma à vida social. Enfatiza como as organizações são sistemas autoprodutores, que se criam nas suas próprias imagens. Propõe o entendimento da transformação ou da evolução dos sistemas vivos como resultados de mudanças geradas internamente. Enfatiza a maneira pela qual o sistema global de interações acaba por moldar seu próprio futuro. A outra lógica refere-se aos resultados de fluxos circulares de feedback positivo e negativo. Necessidade de pensar a mudança como círculos e não linhas Fluxo e da e substitui a idéia da causalidade mecânica. A lógica seguinte sugere transformação que a mudança seja o produto de uma lógica dialética por meio da qual todos os fenômenos tendem a gerar o seu oposto. Três princípios dialéticos podem explicar a mudança: 1) processos de mudanças autogerados, em que os fenômenos mudam a si próprios como resultado de tensões ante seus opostos; 2) explica como a mudança pode assumir um caráter de desenvolvimento, no sentido de que cada negação rejeita uma forma anterior (cultura anterior); 3) processos de mudança revolucionários em que um tipo de organização social dá lugar a outro. As organizações são vistas como instrumentos de dominação, visando a satisfazer os interesses das elites a expensas da maioria. Há sempre um elemento de dominação em todas as organizações. Enfatiza as ligações Dominação existentes entre organização, classe social e controle organizacional. Esta metáfora questiona a ação racional e sugere ser a posse da racionalidade um modo de dominação. Salienta a importância dos valores e das premissas ideológicas na utilização de técnicas organizacionais. Valoriza a ação social. Quadro 8: Metáforas discutidas por Morgan Fonte: Elaborado com base em Andrade; Amboni, 2007, p. 27-28. Será que você não está curioso para saber qual das oito metáforas é foco central de discussão deste componente curricular? Caso não tenha descoberto, informamos-lhes que se trata da metáfora mecânica, em que as organizações são comparadas à máquinas. Para ajudar na sua compreensão, sugerimos ver o filme: O nascimento da Ford, que possibilitará analisar as características de um modelo extremamente mecânico. 59 EaD Marivane da Silva Com base neste resgate teórico vamos a partir deste momento focar a discussão sobre o paradigma técnico-administrativo (Nogueira, 2007), deixando como pano de fundo para reflexão – a metanarrativa da racionalidade (Reed, 1998) e a metáfora mecânica (Morgan, 1996). O objeto de estudo a partir de agora serão as contribuições do paradigma técnico e administrativo, que serão apresentadas em detalhes na Unidade 3. SÍNTESE DA UNIDADE 2 Como na Wikipédia está definido, paradigma é um modelo, é a representação de um padrão a ser seguido”, com um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico chamado de estudos organizacionais. Nesta unidade foi estudado o paradigma com base filosófica funcionalista que retrata uma realidade organizacional objetiva. Para compreensão das bases teóricas é possível adotar vários modelos ou paradigmas de Administração, dependendo do autor. Nesta unidade apresentamos três possibilidades de análise do modelo teórico das Ciências Sociais para compreender o objeto em estudo – AS ORGANIZAÇÕES: a) Nogueira (2007) com a apresentação dos paradigmas formadores da Administração e os paradigmas contemporâneos da Administração; b) Reed (1998) pelo modelo da metanarrativa interpretativa (racionalidade, integração, mercado, poder, conhecimento e justiça); c) Morgan, pelas oito metáforas (mecânica, orgânica, cérebro, cultural, política, prisão, psíquica, fluxo e da transformação); focando a discussão ao modelo de Nogueira que apresenta a concepção do paradigma técnico-administrativo e organizacional. Esta Unidade teve ainda o propósito de apresentar as concepções, as possibilidades de construção de modelos de análise do paradigma de Administração e as escolas de Administração e situá-lo para as discussões das Unidades 3 e 4, que vêm a seguir. 60 EaD Unidade 3 ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural PARADIGMA TÉCNICO-ADMINISTRATIVO OBJETIVOS DESTA UNIDADE • Conhecer as contribuições de Fayol, Taylor e Ford ao paradigma técnico-administrativo. • Entender em que consiste o taylorismo, o fayolismo e o fordismo. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 3.1 – Taylorismo Seção 3.2 – Fayolismo Seção 3.3 – Fordismo e a Produção em Massa O paradigma técnico-administrativo proposto por Nogueira (2007) será o foco de estudo desta Unidade, tendo como referência as principais contribuições e as figuras históricas – Taylor, Fayol e Ford. Antes de descrevermos o que representa este paradigma, vamos por meio de Chanlat (1999) ajudá-lo a relembrar o movimento histórico da evolução da Administração, cuja trajetória se sucedeu em três momentos: a) do fim do século 19 até a 2ª Guerra Mundial, período em que, com a sistematização das experiências e das técnicas desenvolvidas, “a gestão da empresa já não quer ser simplesmente uma arte técnica, mas aspira a transformar-se em uma ciência”; 61 EaD Marivane da Silva b) dos fins dos anos 40 até os anos 80, período que corresponde à era do management moderno, com a ascensão do modelo americano, envolvido por uma fase de consumo em massa, crescimento das empresas e terceirização da economia; e, c) a partir dos anos 80, quando se inicia a fase da gestão estratégica, período no qual tanto a teoria quanto a forma de gestão se transformam continuamente, e as empresas precisam buscar eficácia em uma economia cada vez mais globalizada, tornando-se cada vez mais competitivas, flexíveis e informatizadas. Da mesma forma, lembramos de que estaremos estudando o primeiro momento da história e com relação às escolas e aos paradigmas enquadrados pelos estudiosos da Administração, conforme estudado na Unidade 2, por meio da síntese no Quadro 1. O foco de discussão desta Unidade, porém, está mais centrado na proposta de Nogueira. ESCOLAS Clássica – Teoria da Administração Científica, Clássica e da Burocracia. Paradigma formador da Administração chamado técnico- Nogueira (2007) administrativo, composto pelas contribuições de Taylor, Fayol, Ford e Weber. Morgan (1996) Reed (1993) apud Clegg, Hardy e Nord (1998) Metáfora mecânica – as organizações vistas como máquinas – racionalidade instrumental. Metanarrativa da racionalidade e do poder. Quadro 1: Foco de estudo Fonte: Elaboração da autora. Dando seqüência às explicações, podemos dizer que o “taylorismo”, “fayolismo” e “fordismo” têm origem no início do século 20, nos trabalhos dos pioneiros que deram os primeiros passos para a construção da denominada Teoria da Administração. Observe que as três expressões em destaque estão associadas aos nomes das três figuras clássicas (Taylor, Fayol e Ford) do pensamento administrativo, acrescidos do sufixo “ismo”, que indica movimento ou paradigma e integra os enfoques técnico-científico e administrati62 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural vo-burocrático, voltados à organização e ao controle racional do Frederick Winslow Taylor trabalho industrial e operacional, bem como para a administração geral das empresas. Um paradigma complementa o outro e ajuda-nos a entender o pensamento racional do Ocidente. (1856-1915), que desenvolveu a Administração Científica. Vimos na Unidade 2 que para compor um paradigma é importante levar em conta uma realidade concreta, analisada sob Imagem disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Frederick_Taylor. Acesso em: 29 jan. 2009. suas condições econômicas, sociais e políticas, às quais as organizações estão estruturadas, e de forma a permitir a aplicação das Henry Fayol idéias dos clássicos para fundamentar um conjunto de práticas empresariais, que posteriormente foram sistematizadas (teorias) e que hoje constituem-se a marca do nascimento da administração (1841-1925), um dos fundadores da Escola Clássica. técnica e científica, dando origem à figura do(a) administrador(a). Imagem disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fayol. Acesso em: 29 jan. 2009. Da mesma forma, tais pensadores colocaram em prática a noção de burocracia de Max Weber e aplicaram o racionalismo Henry Ford científico e experimental aos controles dos processos de produção e trabalho nas primeiras décadas do século 20. Você sabe que mudanças ocorreram nesse período? Tratava-se de mudanças tecnológicas, com a introdução dos motores elétricos, com exploração e o uso do petróleo e seus derivados e com a expansão dos transportes e comunicações, entre outros aspectos da segunda Revolução Industrial. A formação do pensamento administrativo decorre de deter- (1863–1947), que revolucionou a gestão com a linha de montagem no processo de produção de automóveis Ford Modelo T, padronizados e baratos, consolidando o processo de produção em massa. Imagem disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Henry_Ford. Acesso em: 29 jan. 2009. Max Weber minada racionalidade econômica e financeira que envolve noções de tempo, eficiência, organização, controle e produtividade, aplicadas aos aspectos da organização técnica e social das empresas. É importante lembrar que a organização é constituída de duas dimensões – objetiva e subjetiva –, que se distinguem entre si pelos elementos apresentados na Figura 1. (1864-1920) notabilizou-se pela teoria da burocracia. Imagem disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Max_weber. Acesso em: 29 jan. 2009. 63 EaD Marivane da Silva Taylorismo ou Administração científica Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Taylorismo. Acesso em 3 dez. 2008. Dimensão Objetiva (DO) Técnicos, administrativos e econômicos – composto pela parte física e material: máquinas, sistemas, produtos, registros e dinheiro – tanto quanto por itens como regras, ordem, planejamento, objetivos, estrutura, etc. Formam a ESTRUTURA EXPLÍCITA, aparente e operacional, pela qual a sociedade reconhece, identifica e dimensiona a empresa. Dimensão Subjetiva (DS) É o modelo de administração desenvolvido pelo engenheiro estadunidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915), que é considerado o pai da administração científica. Caracteriza-se pela ênfase nas tarefas, objetivando-se aumentar a eficiência da empresa aumentando-se a eficiência ao nível operacional. Elementos Subordina-se a este processo a DS de uma organização, composta pelo meio social (formado pelas pessoas que realizam o trabalho). Os aspectos pessoais, comportamentais e sociais dessas dimensões são simplificados por uma redução à noção de RECURSO ou FATOR DE PRODUÇÃO, segundo a teoria econômica posta em prática pela administração. Os elementos da Dimensão OBJETIVA precedem os elementos da Dimensão Subjetiva, que se referem às pessoas. O alerta e o ponto fraco do paradigma eram: as pessoas eram vistas como instrumentos de produção para alcançar a eficiência para a organização. Figura 1: Dimensão preponderante no paradigma técnico-administrativo Fonte: Elaborado com base em Nogueira (2007). Depois de ter claro que existem duas dimensões do pensamento administrativo (objetivo e subjetivo) e que há prevalência dos elementos técnicos e objetivos na Administração deste paradigma, é possível afirmar que, este “defende a racionalização da produção, a divisão de tarefas em múltiplas etapas, a supervisão cerrada e a obediência hierárquica” (Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 14). Este paradigma foca a racionalidade como variável funcional, ou seja, é um processo contingente, pressupõe um objetivo preeestabelecido, concentrando a aplicação dos meios; enfatiza o processo e ignora o conteúdo, e ainda, subordina os objetivos humanos aos requisitos operacionais da sociedade, caracterizando-se pela racionalidade funcional ou instrumental. Vamos agora aprofundar nossos estudos nas contribuições clássicas do paradigma técnico-administrativo, de forma separada, a começar pelo taylorismo na Seção 3.1. 64 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Seção 3.1 Taylorismo O cenário econômico daquela época era capitalista e industrial, marcado pelo avanço da industrialização, fato que levou à preocupação com o aumento da eficiência econômica e a redução dos desperdícios; é a razão principal da origem do modelo taylorista. A contribuição de Taylor foi pensar na maximização da eficiência e da produtividade por meio da racionalização e do controle de trabalho. Imagino que você esteja se perguntando: Quem era Frederick Winslow Taylor? Qual sua origem? Vou contar um pouco dele para você, tendo como fonte os dados de Silva (2002, p. 117): Frederick Winslow Taylor nasceu na Filadélfia, Pensilvânia/Estados Unidos em 20 de março de 1856, de uma família Quaker, e teve uma educação básica rígida e disciplinada, com conhecimentos clássicos de francês e de alemão e viagens ocasionais pela Europa. Aos 18 anos, apesar de aprovado nos exames de Harvard para o curso de Direito, Taylor resolveu iniciar seu aprendizado como operário, numa pequena metalúrgica da Filadélfia, aí permanecendo por quatro anos. Em 1878, Taylor mudou-se para a Midvale Steel Co., também na Filadélfia, como trabalhador comum de uma indústria metalúrgica. Nesta empresa, Taylor passou de operário a engenheiro chefe, em 1884, por ter-se graduado no Stevens Institute of Technology de Hoboken, New Jersey, em 1883. Seus doze anos na Midvale (1978-1889) serviram de base para as suas idéias sobre administração de oficinas. Sua personalidade era analisada como: a) experimentador e pesquisador; b) autor e divulgador dos seus experimentos; c) formador de uma equipe e linha de pensamento. Taylor revolucionou os processos tradicionais dos métodos de trabalho através da aplicação de “métodos científicos” a muitas empresas norte-americanas. Ele não possuia treinamento em Administração e se baseava somente nas suas investigações sobre o que deveria ser feito. Faleceu em 21 de março de 1915. 65 EaD Marivane da Silva Agora que você já sabe um pouco do clássico da Administração, conhecido como o “pai da Administração Científica”, vamos dar continuidade à exposição do que é este paradigma! Silva (2002) afirma que os estudos de Taylor se dividem em duas fases, cada uma correspondendo à publicação de um livro: 1ª) Administração de Oficinas (1903), que tratava exclusivamente de técnicas de racionalização do trabalho do operário, por meio do estudo dos tempos e movimentos; 2ª) Princípios de Administração Científica (1911), apresentava os seus estudos sobre Administração geral, que denominou Administração Científica, sem deixar, contudo, a preocupação com relação às tarefas dos operários. Não se tratava apenas de um modo de administrar, mas de um desejo de universalização dos princípios e normas administrativas. Na primeira obra Taylor relatou a experiência de análise e construção de técnicas para racionalizaçaõ do trabalho. Com um cronômetro constatava quanto tempo era gasto na realização de uma tarefa, como ela era feita e a que preço, o que serviu de base para redefinir como o trabalho deveria ser realizado e medir a produtividade. As conclusões finais de sua obra “Administração de Oficinas” sintetizam: Objetivo de uma boa administração: pagar altos salários e ter baixos custos de produção; Administraçâo: deveria aplicar métodos científicos de pesquisa e experimento, a fim de formular princípios e estabelecer processos de padronização para o controle das operações de produção; Empregados: deveriam ser cientificamente colocados em postos em que os materiais e condições de trabalho também fossem cientificamente selecionados, para que as normas fossem cumpridas; Alta direção: deveria desenvolver uma atmosfera de cooperação para com os trabalhadores, de modo a garantir um ambiente de trabalho adequado (adaptado de Silva, 2002, p. 120). A obra “Princípios de Administração Científica” sintetiza quatro princípios básicos e sete secundários, conforme Chiavenato (1999, p. 39): 66 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Princípios básicos de Taylor: 1. Princípio do planejamento: substituir o trabalho individual do operário pelo trabalho em conjunto (em série), a improvisão e a atuação empírico-prática por métodos baseados nos procedimentos científicos. Este princípio é de responsabilidade da gerência e o operário tem apenas o papel de executor da tarefa. 2. Príncipio do preparo: selecionar cientificamente os trabalhadores e prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, sendo esta uma incumbência da gerência. 3. Príncipio do controle: controlar o trabalho para se certificar de que ele está sendo executado de acordo com as normas estabelecidas e segundo o plano previsto. O controle deve focalizar as exceções ou desvios de padrões. A gerência deve verificar as ocorrências que se afastam dos padrões para corrigi-las adequadamente. 4. Princípio da execução: distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades para que a execução do trabalho seja a mais disciplinada possível. Princípios secundários de Taylor: 1. Estudo de tempos e movimentos: para eliminar movimentos inúteis e racionalizar o trabalho do operário e estabelecer o método ideal de trabalho, ou seja, a melhor maneira de executar o trabalho. 2. Seleção científica do trabalhador: processo seletivo para adequar as pessoas às tarefas especializadas a serem executadas. 3. Preocupação com a fadiga: movimentos mal planejados produzem cansaço e redução da eficiência do operário. A preocupação é determinar qual é a lei da fadiga, ou seja, como ela ocorre e como pode ser evitada. Embora não reconhecesse a importância das pessoas como seres humanos, foi pioneiro da ergonomia do trabalho, isto é, do estudo dos meios mais adequados para um equilíbro saudável entre a postura corporal e a atividade profissional. 4. Padrão de produção: corresponde à eficiência = 100%. É o padrão normal de produção de um operário médio no seu trabalho. Não reconhece o ambiente da empresa, vista como um sistema fechado. 5. Plano de incentivo salarial: remunerar o operário por peça produzida. Quando ele ultrapassar o padrão de produção, deve receber prêmios adicionais, para ser incentivado a produzir acima do padrão. Prevalecia o conceito homo economicus: as pessoas são motivadas exclusivamente por dinheiro (fatores econômicos). 6. Supervisão funcional: entendia que a supervisão também deveria ser especializada, de modo que cada operário se subordinasse a diversos superiores, cada qual especializado em determinada área e atividade. A supervisão funcional é o oposto do comando único que prevaleceria na Teoria Clássica de Administração. 67 EaD Marivane da Silva 7. Condições ambientais de trabalho: para reduzir a fadiga, os engenheiros se preocuparam com aspectos físicos como iluminação adequada, baixo ruído, temperatura razoável, porém pecando com os trabalhadores na medida que tinham uma visão Sugestão de Leitura: mecanicista do ser humano. O homem era mera engrenagem no Outra possibilidade de aumentar seu conhecimento sobre a Administração Científica é a leitura de artigos publicados em revistas especializadas ou em livros. Um exemplo: corpo da empresa, tendo desrespeitada sua condição de ser huma- HELOANI, R. Tempos modernos: o contexto socioeconômico gerador do taylorismo. In: ______. Gestão e organização no capitalismo globalizado. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24-40. no (adaptado de Chiavenato, 1999, p. 39; Ferreira; Reis; Pereira, 2002; Nogueira, 2007). Com base nos princípios, como imagina você que seja a administração taylorista? Vou ajudá-los nesta descrição. Taylor acreditava que: (...) a natureza humana é indolente, preguiçosa e motivada pelo interesse econômico; por isso o trabalho deve ser treinado e controlado. Observando que o trabalhador produzia muito menos do que realmente poderia, focou sua abordagem na produtividade individual como resultado de um estudo do meio físico e material da empresa e dos aspectos fisiológicos do trabalho (Nogueira, 2007, p. 117). Taylor tinha fama de ser um cientista insensível e desumano, que tratava os operários como objetos de estudo isolados, em favor de estudos que favoreciam a elite empresarial, que embora tivesse críticas ao seu estilo de gestão, muitas de suas conclusões continuam sendo válidas e aplicáveis ao moderno processo produtivo. Esta realidade é retratada no filme “Tempos Modernos”, estrelado por Charles Chaplin. Assista-o! Não é aceitável ao administrador formar-se sem ver este filme!! A partir deste clássico você poderá refletir sobre a teoria tratada anteriormente. Também pode assistir “Metropolis”, um filme alemão de ficção científica produzido em 1927 pelo cineasta austríaco Fritz Lang. 68 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Nogueira (2007, p. 117) afirma que o principal ensinamento do taylorismo foi: O(a) administrador(a) ou o(a) gerente precisa agir de modo técnico, científico e planejado, racionalizando o trabalho com os objetivos: primeiro – analisar como o trabalho é realizado; segundo – visar à padronização, para maximizar a produtividade. Assim, a administração se destaca das demais atividades organizacionais pelas atribuições técnicas de planejamento, organização e controle na execução do trabalho. Outros pesquisadores, considerados seus seguidores, soma as idéias de Taylor em seus estudos e práticas administrativas, sendo os principais referendados: a) Frank Gilbreth (1868 – 1924) e Lilian Gilbreth (1878 – 1972) Este casal fez grandes contribuições ao desenvolvimento dos sistemas administrativos e são considerados contemporâneos de Taylor. Frank seguiu uma trajetória semelhante, embora independente de Taylor. Tornou-se aprendiz de pedreiro e, dez anos depois, tornou-se superintendente-chefe da Whidden Company, uma empresa de construção, aos 27 anos. Foi defensor de grande parte dos princípios da Administração Científica, como a divisão do trabalho. Seu objetivo era descobrir a melhor forma de trabalhar e eliminar os desperdícios, impulsionando a produtividade. Entre seus vários trabalhos destacavam-se os estudos de tempos e movimentos. Lilian, após casar-se com Frank, em 1904, mudou seus interesses acadêmicos para a Psicologia e desenvolveu seus estudos acerca do homem na indústria para acompanhar o trabalho do marido. Sua preocupação era com o ambiente e as oportunidades oferecidas aos trabalhadores, essenciais para aprimorar a produtividade. O trabalho mais importante que desenvolveu por meio de suas pesquisas foi o estudo da fadiga humana, que visou a descobrir uma maneira de realizar a atividade e aumentar a eficiência do operário. Ambos, preocupados em minimizar a fadiga, propuseram o redesenho do ambiente de trabalho, a redução das horas diárias de trabalho e o estabelecimento ou o aumento de dias de descanso remunerado. 69 EaD Marivane da Silva b) Henry Gantt (1861-1919) Gantt obteve reconhecimento por atuar como engenheiro mecânico. Trabalhou com Taylor (que na época era engenheiro-chefe de produção) na Midvale Steel Company, como assistente no departamento de engenharia e posteriormente ambos foram trabalhar na Bethlehem. Anos depois apresentou um trabalho no qual descreveu um método gráfico de acompanhar os fluxos de produção, ficando este conhecido no mundo todo como o Gráfico de Gantt; a mais importante das técnicas de planejamento e controle. Também apresentou um sistema de tarefa/bonificação. Gantt criou o controle da produção com o objetivo de acompanhar diariamente os fluxos da produção para obter a eficiência. Na Figura 2 vamos ilustrar um exemplo de Gráfico de Gantt. ETAPAS/TAREFAS MESES ATIVIDADES SEMANAS 2009 AGO 1 2 3 SET 4 5 1 2 3 OUT 4 5 1 2 3 NOV 4 5 1 2 3 DEZ 4 5 1 2 3 Atividade 1 Atividade 2 Atividade 3 NOTA: ----------- = período previsto para a realização da atividade = período em que efetivamente foi realizada a atividade Figura 3.2 Gráfico de Gantt Fonte: Elaboração da autora Os três principais elementos do Gráfico de Gantt eram planejamento, custo e tempo. Você poderá encontrar outros seguidores nas referências bibliográficas de Administração. Pesquise! Aprofunde suas descobertas sobre outras contribuições aos estudos e práticas administrativas. A seguir vamos abordar o fayolismo, na seção 3.2, que “paralelamente aos estudos de Taylor, defendia os princípios semelhantes na Europa, baseado em sua experiência na alta administração” (Ferreira; Reis; Pereira, 2002, p. 21). 70 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Seção 3.2 Fayolismo Suas idéias foram marcadas pelos acontecimentos do último quarto do século 19, especialmente na França, em que ocorreu um período de crises econômicas e revoltas sociais que resul- Fayolismo ou Teoria Clássica É o modelo de administração desenvolvido pelo engenheiro francês Jules Henri Fayol (1841-1925), que é considerado o pai da Administração moderna. Carateriza-se pela ênfase na estrutura formal, objetivando aumentar a eficiência da organização por meio da especialização dos operários (Silva, 2002, p. 143). taram em um clima de instabilidade e mudança política. Na seqüência, no início do século 20, explode a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), exigindo do governo a realização de investimentos no campo militar e no controle sobre as organizações, marcando sua visão de que princípios, regras e processos da doutrina administrativa poderiam corresponder tanto às necessidades do exército como às da indústria ou das organizações em geral. Enquanto Taylor estudava a empresa do ponto de vista do chão de fábrica (enfoque: produção), Fayol estudava a administração (enfoque: gerência). A contribuição de Fayol foi, inicialmente, separar a habilidade administrativa do conhecimento tecnológico; em seguida propôs 14 princípios de administração e, principalmente, deu origem a função administrativas, que com seus elementos em conjunto formam o processo administrativo. Mais uma vez imagino que você esteja se perguntando: Quem era Henri Fayol? Está curioso para saber um pouco da vida dele? Muito bem, vou satisfazer sua curiosidade. 71 EaD Marivane da Silva Jules Henri Fayol nasceu em Istambul, Paris, em 29 de julho de 1841, de uma família francesa; formou-se em engenharia na escola de minas de Saint-Etienne. Seu pai era André Fayol, um contramestre em metalurgia. Casou-se com Adélaïde Saulé e teve Sugestão de Leitura: Fayol, Henri. Administração industrial e geral: previsão, organização, comando, coordenação, controle. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1989. No prefácio já revela que a Administração constitui fator de grande importância na direção de todos os negócios: grandes, pequenos, industriais, comerciais, políticos e religiosos. três filhos, Marie Henriette, Madeleine e Henri Joseph, o último sempre hostil às idéias do pai. Foi trabalhar nas atividades de mineração de carvão e fundição de f er ro do co ns ór cio f ra ncê s Co mme nt ry- Fo ur cha mb au lt Company. Fayol passou sua vida inteira trabalhando na mesma empresa. De 1860 a 1866 trabalhou como engenheiro, fazendo notáveis avanços na técnica de combate aos incêndios subterrâneos que ocorriam na companhia. Seu trabalho foi recompensado com a promoção a gerente das minas Commentry, aos 25 anos. Seis anos mais tarde foi promovido a gerente de um grupo. Em 1888 Fayol foi nomeado diretor-geral, começando a revitalizar a companhia. Ele fechou a fundição de Fourchambault, centralizando a produção em Montluçon, outro local de atividade de consórcio, para ganhar em economia de escala. Fayol adquiriu novos depósitos de carvão em Bressac, Decazeville e em Jondreville. A nova companhia, denominada Comambautl, se recuperou sob a direção de Fayol e continua até hoje como parte do Creusot Loire, o maior grupo de mineração e metalurgia na França central. Foi a partir destas experiências na Comambault que Fayol desenvolveu sua proposta de administração. Foi um dos mais influentes teóricos da perspectiva clássica da ciência da Administração, sendo o criador da Teoria Clássica da Administração e autor da clássica obra Administração Industrial e Geral (1916), resultado de 58 anos de estudo. Por causa do desconhecimento do seu trabalho, mesmo na França, pela maior divulgação do trabalho de Frederick Taylor (Teoria da Administração Científica), os Estados Unidos levaram 40 anos para apreciar suas idéias. Da sua aposentadoria, em 1918, até 1925, Fayol fundou e presidiu o Centro de Estudos Administrativos, um grupo formado para promover o avanço do fayolismo. Pouco antes da sua morte, em 19 de novembro de 1925, este grupo de fayolismo, liderado por Henry Le Chatelier e Charles de Fréminville, formou o Comitê Nacional de Organização Francesa. Esta fusão foi significativa pela junção das duas principais escolas francesas de Administração. 72 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Uma avaliação prematura de Fayol colocou o seu trabalho em competição ou contraste com o trabalho de Taylor. Fayol insistia que não era assim e que os trabalhos eram complementares, no sentido de que ambos procuravam a melhoria administrativa por diferentes caminhos de análise (Silva, 2002, p. 143). Depois de saber um pouco sobre Fayol, o “pai da Administração”, vamos ampliar o conhecimento de suas contribuições, que fortaleceram e complementaram o paradigma técnico-administrativo. Do ponto de vista de Fayol, “investir na capacidade administrativa era essencial para que a economia francesa competisse em pé de igualdade com as demais nações industrializadas” (Nogueira, 2007, p. 119) em particular os Estados Unidos, em que o taylorismo se desenvolvia vorazmente. Na obra Administração Industrial e Geral, o fayolismo é apresentado como doutrina ou escola de chefes, com base na necessidade de organizar a empresa e as pessoas de um modo racional, ou seja, enquanto a preocupação de Taylor estava voltada para organizar as tarefas dos trabalhadores, Fayol se dedicava aos chefes e às funções administrativas. Fazendo um contraponto às idéias apresentadas na Unidade 2, Nogueira (2007) afirma que Fayol colocou em prática, no campo da Admi ni stração, as pre ocupaçõe s de É mile Durkheim: A crença no racionalismo e no método experimental e o desejo de institucionalizar a ordem e impor as regras na organização trazem para o campo da administração o positivismo e o funcionalismo, que também se inspiram no modelo biológico de estudo do funcionamento do corpo humano e sua aplicação na administração das organizações (Nogueira, 2007, p. 119). Émile Durkheim (Épinal, 15 de abril de 1858 — Paris, 15 de novembro de 1917) é considerado um dos pais da Sociologia moderna. Durkheim foi o fundador da escola francesa de Sociologia, posterior a Marx, que combinava a pesquisa empírica com a teoria sociológica. É reconhecido amplamente como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social. O mérito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro “As regras do método sociológico”, em que define uma metodologia de estudo, que embora sendo em boa parte extraída das Ciências Naturais, dá seriedade à nova ciência. Era necessário revelar as leis que regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais. Positivismo É uma palavra com diferentes significados, englobando tanto perspectivas filosóficas e científicas do século 19 quanto outras do século 20. Do seu início, com Augusto Comte (1798-1857) na primeira metade do século 19 até o seu apogeu e crise no século 20, o sentido da palavra mudou radicalmente, incorporando diferentes sentidos, muitos deles opostos ou contraditórios entre si. O método geral do Positivismo consiste na observação dos fenômenos, subordinando a imaginação à observação (ou seja: mantémse a imaginação), mas há outras características igualmente importantes: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático. Duas características são hoje reconhecidas por todos: a visão de conjunto, ou o holismo (orgânico), e o relativo (embora haja uma curiosa e 73 EaD Marivane da Silva extremamente difundida versão que afirma que o Positivismo nega tanto a visão de conjunto quanto o relativismo). Além disso, o “simpático” implica afirmar que as concepções e ações humanas são modificadas pelos afetos das pessoas (individuais e coletivos); mais do que isso, em diversas obras Augusto Comte indicou como a subjetividade é um traço característico e fundamental do ser humano, que deve ser respeitado e desenvolvido. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Positivismo>. Acesso em: 3 dez. 2008. Resumindo: Henri Fayol estabeleceu os princípios e regras para a Administração geral, especialmente no que se refere à estrutura organizacional como um todo. Sua abordage m é corporativa e estabelece, na prática, a organização burocrática proposta por Max Weber (que você irá conhecer na Unidade 4). Fayol é o mentor da moderna função administrativa, destacada e diferenciada das demais – técnica, comercial, financeira, de segurança e contábil, conforme ilustra a Figura 3. Ele avança em relação à proposta de Taylor, na formação do paradigma técnico-administrativo, ao conceber “a administração aplicada no conjunto da organização, em que o todo é mais importante que Técnica: relacionadas com a transformação e produção de bens (produtos e serviços). Comerciais relacionadas com as transações de compra, venda e permuta. Financeiras: relacionadas com a captação e uso do capital. Prever Organizar Comandar Coordenar Controlar Processo Administrativo Administrativas: relacionadas com a integração de todas as operações da organização; as atividades administrativas coordenam e sincronizam as demais atividades listadas. Função Administrativa (do latim corporis e actio, corpo e ação), é um grupo de pessoas que agem como se fossem um só corpo, uma só pessoa, buscando a consecução de objetivos em comum. Num sentido amplo é um grupo de pessoas submetidas às mesmas regras ou estatutos. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/ Corporativa>. Acesso em: 3 dez. 2008. as partes” (Nogueira, 2007, p. 120). Funções básicas da empresa Corporação De Segurança: relacionadas com a preservação e proteção das pessoas e dos bens. Contábeis: relacionadas com os controles e registros das despesas organizacionais. Figura 3: Atividades da empresa Fonte: Adaptado de Silva (2002) e Chiavenato (1999). No entendimento de Fayol, os objetivos gerais da organização deveriam prevalecer sobre os objetivos específicos e estes cabiam aos dirigentes e chefes do topo da hierarquia, ou seja, buscar a colaboração dos funcionários para obter uma empresa integrada. 74 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural À função administrativa caberia a tarefa fundamental de formular o programa geral de ação da empresa, constituir seu corpo social, coordenar esforços e harmonizar ações. O administrador é o chefe geral de um grupo, e não apenas seu supervisor funcional. Para Fayol, não se deve confundir administração com direção, que conduz a empresa e comanda todas as suas funções, incluindo a administrativa. Outra contribuição importante do fayolismo é a distinção entre gestão, mais próxima da idéia de direção geral, e administração, voltada para contextos específicos e situações conjunturais (Nogueira, 2007, p. 120). Você observou que Nogueira (2007), em seu discurso anterior resgatou o conceito de gestão e de Administração (focado na Unidade 1). É sempre importante relembrar e refletir sobre suas concepções. O modelo organizacional de Fayol universalizou-se e seus princípios levaram ao modelo burocrático (a ser apresentado na Unidade 4), corporativo e funcional de organização que foi objeto de análise crítica e descritiva de Max Weber. “Deliberadamente, pelo caminho do positivismo e do funcionalismo, Fayol alicerçou a organização burocrática moderna” (Nogueira, 2007, p. 121). Fayol defendia a idéia de que as atividades administrativas obedeciam a uma seqüência lógica e racional de cinco etapas, concebendo um dos conceitos de administrar, conforme explicado por Nogueira (2007, p. 121) e ilustrado na Figura 3. Administrar é prever (futuro por meio de plano), organizar (constituir o organismo material e social da empresa), comandar (dirigir as pessoas), coordenar (unir e harmonizar todos os atos e esforços) e controlar (velar para que aconteça de acordo com ordens e princípios estabelecidos). Cabe destacar que o processo administrativo sugerido por Henri Fayol identifica o administrador pelo exercício conjunto dos procedimentos ou funções, independentemente do grau hierárquico que ocupa no interior da empresa. Sintetizando: O estudo da Administração envolveria o desenvolvimento das habilidades de planejar antecipadamente os objetivos futuros da organização, de organizar os recursos humanos e materiais, de dirigir o corpo social no rumo dos objetivos preestabelecidos e de controlar para que as metas sejam de fato cumpridas. 75 EaD Marivane da Silva Contemporâneo É o período específico atual da história do mundo ocidental, iniciado a partir da Revolução Francesa (1789). O seu início foi bastante marcado pela corrente filosófica iluminista, que elevava a importância da razão. Atualmente está havendo uma especulação a respeito de quando essa era irá acabar, e, por tabela, a respeito da eficiência atual do modelo europeu da divisão histórica. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Idade_Contempor%C3%A2nea>. Acesso em: 3 dez. 2008. Você sabe qual a diferença no uso do instrumento principal adotado por Taylor e Fayol? Deve estar se questionando primeiro: afinal, a que instrumento estou me referindo? É uma constatação curiosa. Taylor Fayol 1 Cronômetro 2 Organização racional e planejada Ao identificar as tarefas do administrador com as do chefe, Fayol enumera os 14 princípios, considerados ainda úteis na prática administrativa contemporânea: Princípios de Fayol: 1. Divisão do trabalho: promove a especialização e aumenta os resultados, tornando os empregados mais eficientes. 2. Autoridade: concede ao gerente o direito de dar as ordens. A responsabilidade é o dever ou obrigação de cumprir as ordens. A autoridade e a responsabibilidade devem ser proporcionais. 3. Disciplina: os empregados devem obedecer e respeitar as regras que governam a organização. A disciplina é resultado de uma liderança eficaz e uma clara compreensão quanto às regras da organização e o uso judicioso das penalidades pelas infrações. 4. Unidade de comando: cada empregado deve se subordinar a apenas um superior. 5. Unidade de direção: cada grupo de atividades organizacionais deve ter o mesmo objetivo e ser dirigido por um gerente por meio de um plano. 1 Disponível em: <http://images.google.com.br>. Acesso em: 13 jan. 2009. 2 Disponível em: <http://images.google.com.br>. Acesso em: 13 jan. 2009. 76 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural 6. Subordinação dos interesses individuais aos gerais: os interesses de um empregado ou grupo não devem preceder os interesses superiores da organização como um todo 7. Remuneração: os trabalhadores devem ser pagos com salários adequados. 8. Centralização: refere-se ao grau em que os subordinados estão envolvidos nas tomadas de decisão. As tomadas de decisão devem ser centralizadas na administração. 9. Cadeia escalar: é a linha de autoridade que vai ao topo da orgnização, e o planejamento do pessoal deve fazer com que as substituições sejam feitas rapidamente. 10.Ordem: pessoas e materiais devem estar no lugar certo e no tempo certo. 11.Eqüidade: o gerente deve ser atencioso e justo com seus subordinados. 12.Estabilidade na permanência do pessoal: a rotatividade elevada de pessoal é ineficiente. As pessoas devem permanecer o máximo possível na organização, e o planejamento de pessoal deve fazer com que as substituições sejam feitas rapidamente. 13.Iniciativa: os empregados imcumbidos de executar planos devem manifestar esforço pessoal. 14.Espírito de equipe: promover o espírito de equipe cria harmonia e unidade na organização (Chiavenato, 1999, p. 42). Sugiro que você assista ao filme indicado a seguir, que o ajudará na reflexão da teoria clássica da Administração: Vida de Inseto – No mundo dos insetos, as formigas são manipuladas pelos gafanhotos, que todos os anos exigem uma quantidade de comida. Se as formigas não cumprirem essa exigência, os gafanhotos ameaçam atacar o formigueiro. Em um certo ano, porém, houve um problema com a “oferenda”. É quando Flik, uma formiga cansada de ser oprimida, sai em busca de outros insetos dispostos a ajudar o formigueiro a combater os gafanhotos. Elenco: Kevin Spacey – Hopper (voz); Dave Foley – Flik (voz); Julia Louis-Dreyfus – Atta (voz); Hayden Panettiere – Dot (voz); Phyllis Diller – Queen (voz); Richard Kind – Molt (voz). Disponível em: <http://www.cineplayers.com/filme.php?id=488>. Acesso em: 13 jan. 2009. Outros estudiosos considerados seguidores de Fayol explicitaram seus pontos de vista, durante as décadas de 20 e 30, às práticas consultivas administrativas e sistemtizadas por Silva (2002, p.150-151): 77 EaD Marivane da Silva a) Luther Gulick, que desenvolveu POSDCORB, sua visão das funções administrativas: Planning (planejamento), Organizing (organização), Staffing (assessoria), Directing (direção), Coordination (coordenação), Reporting (informação); b) Lyndall F. Urwick, deu ênfase a alguns princípios de organização da escola clássica, como o princípio de especialização, da autoridade e o princípio da amplitude administrativa; c) James D. Mooney e Alan C. Reiley, para os quais a organização eficiente era baseada no formalismo. Em muitas obras você encontra o uso indistinto dos termos – Administração científica e Administração clássica. Existe diferença entre elas? Sim, existe. Administração científica surgiu no chão de fábrica e preconiza a adoção de métodos racionais e padronizados, a máxima divisão de tarefas e o enfoque centrado na produção. Administração clássica teve origem na alta Administração, enfatiza a estrutura formal da organização e a adoção de princípios e funções administrativas necessárias à realização do trabalho. Existe outra concepção que é relevante abordar: você acha que existe diferença entre as funções administrativas e as funções organizacionais? Pense, reflita e pesquise (se achar necessário). São distinções importantes no campo da gestão e como vários autores utilizam tais expressões, vamos fornecer o conceito de função administrativa e função organizacional. As funções administrativas (planejar, organizar, dirigir e controlar) diferenciam-se das funções organizacionais (marketing, operações, finanças, recursos humanos). A soma de todas as funções administrativas se constitui no processo administrativo e, são aplicáveis a qualquer das funções organizacionais e da mesma forma, todas as funções organizacionais são aplicáveis a qualquer dos elementos básicos (pessoas, estrutura, tecnologia e tarefas (Pereira; Santos, 2001). 78 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Compreendendo as diferenças é importante aprofundarmos as pesquisas e estudos sobre o processo administrativo (3.2.1) e funções organizacionais e/ou áreas/funções da organização (3.2.2). 3.2.1 – PROCESSO ADMINISTRATIVO E SEUS ELEMENTOS Na ótica da Administração existem várias ferramentas para analisar um contexto organizacional. Nesta seção será abordada uma destas ferramentas: o processo administrativo. Um(a) administrador(a) lida com pessoas que executam os trabalhos ou serviços para os quais foram contratadas. Ao coordenar o trabalho dessas pessoas, o(a) administrador(a) desempenha suas funções pelo menos por meio de quatro elementos do processo administrativo: planejamento, organização, direção e controle. Em outras palavras, “ele planeja, organiza, dirige pessoas, gerencia e controla recursos materiais, financeiros, de informação e tecnologia visando à realização de determinados objetivos” (Chiavenato, 1999, p. 9). Observe a Figura 4 que trata do sistema organizacional e apresenta as concepções tratadas nesta seção. Figura 4: Sistema Organizacional Fonte: Pereira e Santos (2001, p. 43). 79 EaD Marivane da Silva Henri Fayol e Taylor, dois autores clássicos pertencentes à época do grande desenvolvimento industrial, contribuíram significativamente para o surgimento da história da Administração. Fayol nessa época conceituou administrar como sendo numa seqüência de prever, organizar, comandar, coordenar, controlar. Entendia também que o conjunto das funções de toda empresa poderia ser dividido em seis grupos, a saber, conforme já apresentamos nesta unidade: • funções técnicas: produção, fabricação, transformação; • funções comerciais: compras, vendas, permutas; • funções financeiras: procura e gerência de capitais; • funções de segurança: proteção de bens e de pessoas; • funções de contabilidade: inventários, balanços, preços de custos, estatística, etc; • funções administrativas: previsão, organização, direção, coordenação e controle. Esses grupos de funções essenciais existem em qualquer empresa, seja ela simples ou complexa, pequena ou grande. Observo, no entanto, que o destaque deste estudo será direcionado à função administrativa. Na literatura moderna os autores abordam as funções como sendo áreas funcionais ou função organizacional, dentre as quais se destacam: a função de produção e operações, a função financeira, a função marketing e vendas, a função recursos humanos e a função administrativa. Retomando: a função administrativa é composta dos elementos – planejamento, organização, comando/direção e controle, que formam o processo administrativo – PA. 80 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Vamos ao estudo de cada um dos elementos. Embora possa ocorrer que o planejamento não esteja formalizado, documentado e explícito nas atividades da organização, é pertinente afirmar que ele existe e é extremamente importante para o sucesso da empresa. Lacombe e Heilborn (2003, p. 49) conceituam planejar como: Pensar antecipadamente o que se deseja alcançar e determinar os meios e recursos para concretizar esse desejo. Isto envolve coletar informações e diagnosticar a situação; estabelecer objetivos, para orientar as decisões; elaborar e implantar planos, programas e projetos para alcançar as metas e montar seus respectivos cronogramas para acompanhar a execução. Manter-se sempre informado de modo a atualizar permanentemente o diagnóstico. Masiero (2007, p. 73) complementa caracterizando o elemento de planejamento como o ato de “descobrir novas oportunidades, antecipar e evitar problemas, desenvolver um efetivo curso de ação; além de compreender as incertezas e os riscos das várias opções que se oferecem”. Dependendo da abrangência e do impacto que têm sobre a empresa, os planos podem ser classificados em diferentes níveis: estratégico, tático e operacional. Alguns autores dão muito destaque ao planejamento estratégico, outros se preocupam com o planejamento operacional, assim como nas organizações pode ocorrer ênfase em um ou outro nível organizacional, dependendo da sua atividade ou seu porte. No planejamento define-se: visão, missão, objetivos, metas, estratégias e alternativas, políticas, análise do ambiente interno e externo, instituição dos planos de ação e realimentação. Enfim, tomam-se as decisões do que fazer e como fazer. Masiero (2007, p. 73) apresenta as principais etapas para a elaboração do planejamento estratégico: a) desenvolvimento da missão e dos objetivos da organização; b) diagnóstico das oportunidades e ameaças; 81 EaD Marivane da Silva PERT/CPM São técnicas que foram independentemente desenvolvidas para o Planejamento e Controle de projetos em torno de 1950, porém a grande semelhança entre estas fez com que o termo PERT/CPM fosse utilizado corriqueiramente como apenas uma técnica. Os termos PERT e CPM são acrônimos de Program Evaluation and Review Technique (PERT) e Critical Path Method (CPM), bastante utilizados para controle na construção civil. c) diagnóstico dos pontos fracos e fortes da organização; d) desenvolvimento de estratégias de ação; e) preparação de um plano estratégico (executivos de alto nível estratégico); f) preparação de planos táticos (gerência das áreas/funções); g) instituição, controle e acompanhamento dos resultados; h) reajustes e continuidade do processo. Alguns instrumentos de planejamento abordados pelos autores contemporâneos são: procedimentos (entre os quais se destacam os diagnósticos, o tratamento de dados, a análise); os programas (estabelecimento de orçamentos, calendários, gráfico de Gantt, PERT/CPM ...), as regras e regulamentos. Na função da Administração, o elemento organização implica em criar as condições para melhor se compreender a empresa, como está organizada e estruturada, reunindo as pessoas e os equipamentos necessários ao trabalho. Significa trabalhar harmonicamente os elementos: estrutura, pessoas, tarefas e tecnologia da organização. É, portanto, é a atividade de organizar a ORGANIZAÇÃO. Lacombe e Heilborn (2003, p. 49) conceituam organizar como: [...] processo de identificar, dividir e alocar o trabalho. Isto envolve identificar, dividir e grupar o trabalho a ser realizado; definir responsabilidades e autoridades e estabelecer as relações entre os grupos de modo a possibilitar que as pessoas trabalhem eficazmente para atingir os objetivos. 82 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Oliveira (2008) explica que o elemento – organização – corresponde à alocação dos diversos recursos para consolidar o planejamento, estudar a divisão do trabalho, definir corretamente a alocação e as responsabilidades nas unidades ou departamentos organizacionais e definir os níveis de autoridade. Estudar o elemento organização significa entender sua estrutura e seu processo. “A estrutura consiste em uma rede de relacionamento específico entre indivíduos, posições e tarefas. Processo refere-se às funções gerenciais pela quais as organizações são criadas, adaptadas e mudadas continuamente” (Kwasnicka, 1995, p. 185). Segundo Moraes (2001, p. 89), no desempenho do elemento organização o(a) administrador(a) deve: – listar o trabalho que precisa ser realizado para alcançar os objetivos da empresa – divisão do trabalho; – dividir o trabalho em tarefas que possam ser realizadas de modo lógico e eficiente, por indivíduos ou grupos – especialização; – agrupar as tarefas segundo um critério determinado, criando as unidades organizacionais (órgãos) chamados de departamentalização; – criar mecanismos de integração de esforços dos indivíduos, grupos e órgãos da empresa para facilitar o alcance dos objetivos. Desse modo, seria estabelecida a hierarquia, quando essa integração envolvesse a determinação de relações de autoridade, e a coordenação, quando interligasse unidades organizacionais do mesmo nível hierárquico. Em outras palavras, no ele mento organização você vai analisar o desenho organizacional, o desenho departamental e o desenho de cargos e tarefas. Logo, a divisão do trabalho propicia o aumento da produtividade por meio da especialização, que é a forma de o indivíduo conhecer apenas uma parte do processo produtivo global, pois é impossível uma única pessoa adquirir toda a capacitação necessária para a realização total do trabalho. 83 EaD Marivane da Silva Uma das características da estrutura organizacional diretamente relacionada à divisão do trabalho é a diferenciação, classificada de três maneiras: diferenciação horizontal (as divisões ou departamentos), diferenciação vertical (a hierarquia) e diferenciação em tarefas especializadas. Quanto ao desenho departamental – a departamentalização – refere-se à diferenciação horizontal da organização – divisão, filiais, unidades regionais, subsidiárias e similiares, assim como os departamentos divididos em funções principais, tais como marketing e vendas, produção e operações, recursos humanos, financeira e administrativa. Partindo deste pressuposto, apresentam-se os organogramas, fluxogramas, layout. As abordagens tradicionais são a departamentalização funcional, a divisional e a matricial, nas quais a cadeia de comando define agrupamentos departamentais e relações de subordinação ao longo da hierarquia. Segundo Chiavenato (1999), as cinco abordagens existentes são: • Funcional: as pessoas são agrupadas em departamentos pelas suas habilidades similiares e atividades comuns de trabalho: departamento de contabilidade, de compras, engenharia ou finanças. • Divisional: os departamentos são agrupados em divisões separadas e auto-suficientes baseadas em um produto comum, projeto ou programa ou região geográfica. Ela está baseada em habilidades conjuntas, em produtos/serviços, clientes e em processos. • Matricial: as cadeias de comando funcional e divisional são instituídas simultaneamente e se sobrepõem umas às outras nos mesmos departamentos. As pessoas se subordinam a dois chefes. • De equipes: a empresa cria equipes multifuncionais para cumprir tarefas específicas e coordenar grandes departamentos. • De redes: a organização torna-se um pequeno centro intermediário, conectado eletronicamente a outras organizações que desempenham funções vitais ao negócio. Os departamentos são independentes para contratar serviços intermediários e podem estar localizados em qualquer lugar do mundo. 84 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural A estrutura organizacional e o estilo gerencial de seus administradores podem ser classificados como: 1 – centralizadores x descentralizadores (delegação de autoridade); 2 – formalizados x informais; 3 – integradores x dispersivos. Assim, a DIREÇÃO corresponde ao terceiro elemento que compõe o processo administrativo e está relacionado com a maneira pelo qual os objetivos devem ser alcançados, por intermédio das atividades de pessoas e da aplicação de recursos que compõem a organização. Após definir os objetivos, traçar as estratégias para alcançá-los, estabelecer o planejamento e estruturar a organização, cabe à atividade e aos processos de direção por tudo isso para funcionar, de forma eficaz. Alguns autores tratam a direção como sendo a soma do comando e da coordenação. Sendo assim, Chiavenato (1999, p. 478) conceitua dirigir como sendo o ato de interpretar os planos para as pessoas e dar as instruções e orientação sobre como executá-los e garantir o alcance dos objetivos. Numa visão mais participativa e descentralizadora, seria criar as condições para que as pessoas decidam conjuntamente. Lacombe e Heilborn (2003, p. 49-50) conceituam: Prover recursos humanos é formar uma equipe competente, integrada e motivada, disposta a agir para o conjunto. Isto inclui saber recrutar, selecionar e treinar as pessoas certas, capazes de assumir responsabilidades para atingir os objetivos. Inclui ainda a avaliação dessas pessoas e o esforço para manter alta a moral do grupo, de modo a ter sempre as pessoas certas nos lugares certos. Liderar é conduzir um grupo, influenciando seu comportamento, para atingir objetivos e metas de interesse comum do grupo, de acordo com uma visão do futuro baseada num conjunto coerente de idéias e princípios. O líder empresarial deve ser capaz de alcançar objetivos por meio dos liderados e, para isso, conforme o tipo de liderado e ocasião, age de diferentes maneiras: ordena, comanda, motiva, persuade, compartilha dificuldades e ações, ou delega e cobra resultados, alterando a forma de agir conforme a necessidade de cada momento e o tipo de liderado, visando alcançar os objetivos da empresa. 85 EaD Marivane da Silva Coordenar é cooperar com todas as demais unidades da organização para que as atividades sejam executadas de forma: balanceada (equilibrada, isto é, na quantidade correta); sincronizada (isto é, no momento certo) e integrada (isto é, na direção certa). Faça sua reflexão sobre o que entende por direção/comando e, em seguida, continue seus estudos. Desta forma, criar condições para que as pessoas se motivem, bem como os processos de comunicação e liderança, são fundamentais para a direção ocorrer de forma eficaz. Tente fazer um exercício prático, observar em uma organização o seu estilo de gestão e perceber como se estabelece o elemento direção. Como já salientamos, o entendimento do elemento direção implica analisar como se dá a comunicação, a liderança e a motivação nas organizações. Implica também entender o significado do poder e do gerenciamento dos conflitos. No atual contexto globalizado e competitivo, as organizações são obrigadas a aprimorar seus processos e, especialmente, qualificar o processo de comunicação, estudar os tipos e as formas de comunicação: O processo de comunicação começa como um estímulo (objetivo) para uma ou mais pessoas (emissor) que irão procurar interagir com outra(s) pessoa(s) (receptor). O emissor vai transmitir algo (mensagem) utilizando um ou mais recursos (meio) e espera que o receptor compreenda a mensagem no sentido correto (significado) e adote o comportamento (resposta) esperando por ele, emissor. Todo processo de comunicação acontece em circunstâncias peculiares (situação), com certa duração (tempo) e exige investimentos e gastos (custos) (Arantes, 1994, p. 265). 86 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural O processo de comunicação na gestão é essencial para a efetiva realização das atividades e andamento contínuo e seguro das ações. Sendo assim, Oliveira (2008, p. 149) explicita que comunicação é “um processo interativo e de entendimento, assimilação e operacionalização de uma mensagem – dado, informação, ordem – entre o emissor e o receptor por um canal, em determinado momento, e visando um objetivo específico da organização”. Dentro da organização de uma empresa o processo de liderança tem a forma de um gerente que estimula os subordinados a realizarem os objetivos definidos pela alta gerência. Existem dois tipos diferentes de liderança em qualquer organização – lideres formais e líderes informais – e três abordagens teóricas a respeito da liderança. Primeiro, contudo, é necessário entender a natureza do poder dentro de uma organização, pois o uso eficaz do poder individual é a base da liderança. A motivação envolve um procedimento cuja origem e processamento se fazem dentro da própria vida psíquica, sendo um fenômeno psicológico do sujeito. Bergamini (1997, apud Silva; Rodrigues, 2007, p. 7) explica que motivação é “empregado como sinônimo de forças psicológicas, desejos, impulsos, instintos, necessidades, vontade, intenção”. Se analisarmos com atenção, verificaremos que o comportamento humano é movido por “uma força interna que impulsiona as pessoas a agirem, seja no sentido de busca, seja para fugir de determinadas situações”. Silva e Rodrigues (2007, p. 9) ressaltam que o conhecimento da motivação humana é indispensável para que o(a) administrador(a) possa realmente contar com a colaboração irrestrita dos sujeitos. Existem muitas teorias da motivação a serem estudadas e conhecidas para desenvolvimento da gestão. A mais conhecida e explicitada pelos autores é a Teoria de Maslow. Para aprofundamento das teorias sugiro a leitura da obra: Silva, Waldir R. da; Rodrigues, Cláudia M. C. Motivação nas organizações. São Paulo: Atlas, 2007. Os conflitos entre os indivíduos, os grupos ou as organizações fazem parte do ambiente empresarial moderno. As pessoas e os grupos competem pelos recursos dentro de uma empresa e estas competem entre si pelo mercado. 87 EaD Marivane da Silva A grande maioria dos autores inclui a coordenação como uma das atividades inerentes à direção. Outros nem mesmo citam-na em seus estudos. O próprio Fayol encontrou dificuldades Sugestão de Leitura: Série Gestão de Pessoas, publicada pela Editora da Fundação Getúlio Vargas. Para conhecer e adquirir acesse: <http://www.editora.fgv.br>. ao tentar explicá-la. A coordenação é vista como um elemento que está presente, integra e ativa todos os demais elementos do processo administrativo, visando a dinamizá-los e ativá-los. Daí o entendimento de que é uma atividade típica de direção. A coordenação requer, como passo inicial, a definição dos objetivos da empresa. Assim, os objetivos da empresa representam o primeiro e fundamental meio de coordenação, visto como um instrumento interno da organização. E, conforme a metodologia adotada até então, abordar-se-á o último dos elementos da função administrativa – o CONTROLE. Lacombe e Heilborn (2003, p. 50) conceituam controlar como: [...] assegurar que as atividades da organização direcionam aos objetivos. Isto envolve medir o desempenho, compará-lo com o desejado, e tomar as medidas corretivas necessárias. Como vimos anteriormente, o planejamento é um dos processos principais na administração das organizações, porém como elas não operam na base da improvisação e nem ao acaso, precisam ser devidamente controladas. Elas requerem um esforço de controle em suas várias operações e atividades. Montana e Charnov (1998, p. 240-241) fazem as seguintes considerações: 88 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural O processo pelo qual a administração implementa seus planos e avalia as realizações organizacionais para medir o sucesso ou o fracasso é o controle. O controle consiste em ações seqüenciais tomadas pela administração para estabelecer os padrões de desempenho, medir e avaliar o desempenho e tomar ações corretivas quando necessário. Ele é absolutamente essencial para o planejamento eficaz. A administração precisa saber de seu desempenho para poder fazer uso eficiente dos recursos organizacionais. Deve avaliar como os recursos são usados, tomar ações corretivas quando necessário e planejar eficazmente para usar os recursos com mais eficiência no futuro. Existem três pontos principais no que diz respeito à importância do controle: • O controle é necessário para medir e avaliar o desempenho organizacional; • O controle é um processo dinâmico e contínuo; • O controle envolve todas as facetas da organização. O processo de controle é praticado por todas as áreas (finanças, produção, marketing, recursos humanos, administrativa) e níveis da administração (estratégico, tático e operacional) da organização. Segundo Chiavenato (1999), a finalidade do controle é assegurar que os resultados do que foi planejado, organizado e dirigido se ajustem tanto quanto possível aos objetivos previamente estabelecidos. A essência do controle consiste em verificar se a atividade controlada está ou não alcançando os objetivos ou resultados desejados. Nesse sentido, o controle consiste basicamente de um processo que guia a atividade exercida para um fim previamente determinado. O processo de controle apresenta quatro etapas ou fases: • estabelecer objetivos e padrões de desempenho (padrões de quantidade, qualidade, tempo, custo); • avaliar o desempenho atual; • comparar o desempenho atual com os objetivos ou padrões; • adotar a ação corretiva se necessário. Os instrumentos são basicamente os mesmos presentes no planejamento, mas cabe salientá-los: gráficos, tabelas, controle de retorno sobre ativos, gráfico de Gantt, PERT e CPM, análise do ponto de equilíbrio, ponto econômico do pedido, sistema ABC de custeio, desvio-padrão, análise de variância, cronograma, orçamentos, fluxogramas, relatórios 89 EaD Marivane da Silva Gráfico de Gantt Constitui-se num método esquemático que fornece informações relativas à programação da produção, à carga nos departamentos ou máquinas individuais e à qualidade de pessoal e equipamentos. Também serve para descrever atividades, conforme ilustrado na Figura 2 desta Unidade. contábeis, auditoria, observação pessoal, inspeção, controle por relatórios, avaliação de performance, políticas, desempenho humano, sistema de informação, etc. A integração dos elementos da função administrativa pode ser compreendida da seguinte forma: O planejamento serve para definir os objetivos, traçar as Pert/CPM É um conjunto de processos e técnicas para planejamento, programação e controle de um projeto que indica, dentre as várias seqüências operacionais, aquela que possui duração máxima, além de graus de prioridade relativos, a distribuição de recursos e a interdependência entre as ações. Fluxogramas São gráficos que representam o fluxo ou seqüência de procedimentos e rotinas. estratégias para alcançá-los e estabelecer os planos de ação. A organização serve para estruturar as linhas de poder e decisão, divisão do trabalho, fluxos de comunicação e recursos, de maneira a se trabalhar de forma organizada e racional. A direção mostra os rumos e dinamiza os espaços de atuação e incentiva as pessoas para que utilizem os recursos da melhor maneira possível. Por fim, o controle serve para que tudo funcione da maneira certa e no tempo certo, desde que haja um acompanhamento constante e corretivo. Na prática, os elementos da função administrativa são executados de uma forma inter-relacionada e não seqüencial, havendo a interação do planejamento, da organização, da direção e do controle – PODC. 3.2.2 – ÁREAS FUNÇÕES DA ORGANIZAÇÃO OU FUNÇÕES ORGANIZACIONAIS As organi zaçõe s, normalme nt e , quando departamentalizadas são divididas em áreas funcionais, e se não são divididas formalmente, as funções organizacionais acontecem da mesma forma no espaço organizacional. Essas áreas representam atividades e tarefas especializadas que são desempenhadas por unidades ou departamentos da organização. 90 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Você já ouviu falar em áreas funcionais? Vamos conhecê-las. As áreas mais comuns de existentes nas organizações são cinco e sintetizam algumas considerações que permitirão conhecer minimamente as atribuições de cada uma delas. ÁREAS CONSIDERAÇÕES A principal razão de ser de uma organização é a produção de bens ou a prestação de serviços, por isso consideradas o coração de sua atividade. O sistema de operações é o conjunto de atividades e operações inter- Produção ou Operações relacionadas envolvidas na produção de bens ou prestação de serviços de uma organização, representando como esta transforma os insumos em produtos e serviços, agregando valor de forma a alcançar os objetivos organizacionais. Essa área envolve: planejamento de produto, instalações, processo produtivo, organização do trabalho, planejamento da produção, administração de estoques e controle e compras. Seu objetivo é captar e manter os clientes da organização. Seu foco é a satisfação do cliente, procurando influenciar seu comportamento e, assim, alcançar seus objetivos. A área é responsável por pesquisa de mercado, Comercial e pensar e desenvolver produtos, estabelecer preços, planejar a distribuição dos Marketing produtos ou serviços, estabelecer a comunicação com seu público-alvo por meio da publicidade, promoção, propaganda e relações públicas, administrar as transações entre a organização e os clientes – vendas (em algumas organizações ela é independente). Se a produção é o coração da organização, então a área financeira é o sangue, que lida com todos os aspectos que envolvem recursos financeiros. É uma área de apoio, não sendo a atividade principal da organização. Seu objetivo consiste em captar e utilizar, de maneira eficaz, os recursos financeiros de forma a alcançar os objetivos organizacionais. É responsável Financeira pela produção de relatórios e documentos contábeis que traduzem a situação econômica e patrimonial da organização; análise e controle do seu desempenho em termos de rentabilidade, equilíbrio financeiro; define as políticas de investimentos, escolhendo melhores alternativas para a aplicação dos recursos financeiros; define políticas de financiamento, selecionando os melhores recursos e as fontes de recursos para o crescimento e a administração da organização. Um dos recursos mais importantes da organização são as pessoas. Também 91 EaD Marivane da Silva Um dos recursos mais importantes da organização são as pessoas. Também chamado de gestão de pessoas, tem como objetivo a administração de comportamentos individuais em função dos objetivos organizacionais. A organização deve atrair, preparar e desenvolver as pessoas de forma que consigam contribuir para o alcance dos objetivos organizacionais. A função desta área é: estabelecer políticas que regulem as relações da organização com seus membros; fazer diagnóstico das necessidades em termos de Recursos Humanos pessoal; organizar processo de localização, atração e contratação de candidatos qualificados para ocupar cargos na estrutura organizacional; desenvolver programas e ações para reforçar as competências individuais e melhorar o desempenho e a produção coletiva; desenvolver mecanismos de avaliação formal, sistemática e periódica dos resultados alcançados pelos membros da organização; definir sistemas de recompensas e de benefícios para os membros da organização; pensar melhorias das condições no local de trabalho, e realizar a gestão administrativa de pessoal, que trata do processamento de salários, arquivos de pessoal, controle de horários, gestão de contratos e demais processos burocráticos. Os administradores no âmbito geral da organização planejam, organizam, Administrativa dirigem e controlam todas as demais áreas funcionais da organização. Na verdade, fazem a interação e interligação com todas as outras áreas: produção e operações, comercial e marketing, financeira e recursos humanos. Quadro 2: Áreas funcionais de uma organização Fonte: Elaborado a partir de Sobral; Peci, 2008. Temos convicção de que os estudos não se restringem ao teor desenvolvido no Quadro 2, por isso sugerimos a leitura de outras obras para complementar seu conhecimento de forma mais detalhada e, em seguida, vamos ao estudo do paradigma fordista. 92 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Na próxima seção será abordado o paradigma fordista, um modelo administrativo que se caracteriza pelo trabalho dividido, repetido, contínuo e baseado nos princípios da produtividade da intensificação e da economicidade. Seção 3.3 Sugestões de Leitura KWASNICKA, E. L. Introdução à administração. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006. SANTOS, R. da C. (Org.). Manual de Gestão empresarial: conceitos e aplicações nas empresas brasileiras. São Paulo: Atlas, 2007. Fordismo e a Produção de Massa Fordismo A política de Ford se alicercou na produção em massa, em série e em cadeia contínua; no pagamento de altos salários, organização eficiente do trabalho e na fixação de preços mínimos para os bens produzidos. Ford foi o “maior exemplo de administração eficiente individual que a história conhece” (Silva, 2002, p.131). A contribuição de Ford foi a linha de montagem no processo de produção de automóveis Ford Modelo T, padronizados e baratos. Ao atender à crescente demanda da sociedade de consumo, seu sistema de produção em massa parecia a fórmula ideal para ga- É a produção em grande quantidade de automóveis a baixo custo por meio da utilização do artifício conhecido como “linha de montagem”, o qual tinha condições de fabricar um carro a cada 98 minutos, além dos altos salários oferecidos a seus operários — notavelmente o valor de 5 dólares por dia, adotado em 1914. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Henry_Ford>. Acesso em: 3 dez. 2008. rantir a satisfação e a prosperidade do homem moderno (Nogueira, 2007, p. 123). Vamos agora conhecer um pouco mais de Henry Ford, conhecido mundialmente como o “pai do carro popular ”. Henry Ford nasceu em Springwells, em uma fazenda próxima a um município rural a oeste de Detroit, no Estado do Michigan (EUA), em 30 de julho de 1863, filho de fazendeiro irlandeses. O engenheiro americano foi um dos mais famosos industriais da história. Ford iniciou sua trajetória com motores, digamos assim, na fazenda de seu pai. Ele era responsável pelos reparos nas máquinas da fazenda, mostrava muita habilidade para inovar e sua principal intenção era observar o funcionamento mecânico das máqui- 93 EaD Marivane da Silva nas e equipamentos. A vida na fazenda era difícil, exigia serviços pesados feitos à mão. Por causa disso, desde menino Ford já demonstrava interesse em diminuir o trabalho manual com o uso de máquinas. No ano de 1875, com 12 anos, o contato com um locomóvel a vapor o levou a estudar os carros automotores. Aos 15, ele tinha a reputação de reparador de relógios, tendo desmantelado e remontado as peças de relógios de amigos e vizinhos dezenas de vezes. Em 1879, com 16 anos, ele deixou sua casa e foi para a cidade vizinha Detroit, para trabalhar como aprendiz de operador de máquinas, primeiro na empresa James F. Flower & Bros., e mais tarde na Detroit Dry Dock Co. Em 1882 ele retornou a Dearborn para trabalhar na fazenda da família e se tornar experiente na operação dos motores a vapor portáteis da Westinghouse. Aos 19, Ford entrou para a Companhia Westinghouse, no conserto e na montagem de locomóveis a vapor. Em 1885, trabalhando como mecânico das oficinas da Eagle Motor Works, em Detroit, seu interesse se concentra nos motores à explosão. Dois anos depois Ford construiu seu primeiro motor desse tipo, movido à gasolina. Ford se casou com Clara Jane Bryant (1865-1950) em abril de 1888, e se sustentava com a exploração da fazenda e mantendo uma serraria. Eles tiveram um único filho, Edsel Bryant Ford (1893-1943) e adotaram um da China. Por volta do ano de 1890 Ford assumiu o lugar de engenheiro maquinista na cidade de Detroit na Edison Illuminating Company. Em 1893, após sua promoção ao cargo de engenheiro chefe, Ford passou a ter bastante tempo e dinheiro para dedicar-se às suas experiências pessoais com motores à gasolina. Estes experimentos culminaram em 1896 com a conclusão de seu próprio veículo automotor denominado Quadriciclo, que ele dirigiu em teste em 4 de junho. Depois de vários testes, Henry Ford planejou formas de melhorar o quadriciclo. Sua primeira empresa foi a Detroit Automobile Company, sob a responsabilidade de ser engenheiro chefe, entretanto a fábrica fechou devido à discordância com os outros diretores em relação à adoção da produção em massa como modelo padrão. Anos mais tarde montou outra empresa, esta voltada para carros de corrida, contudo a produção desses carros não obteve êxito. Mesmo assim, Ford persistiu com a idéia e juntamente com o projetista Harold Wills montou o chamado carro 999, com o qual Barney Oldfield se tornou campeão, divulgando o carro em todo país. Esse passo foi importante, pois o rendimento financeiro proveniente do sucesso de seu carro deu suporte financeiro a suas idéias e assim a Ford Motors Company foi fundada, em 1903, juntamente com outros 11 investidores e 28.000,00 dólares de capital. Ford maravilhou o mundo em 1914, oferecendo o pagamento de 5 dólares por dia, o que mais do que duplicou o salário da maioria dos seus trabalhadores. O movimento foi extremamente rentável; no lugar da constante rotatividade de empregados, os melhores mecânicos de Detroit afluíram para a Ford, trazendo seu capital humano e sua habilidade, aumentando a produtividade e reduzindo os custos de treinamento. Ford chamou isso de “salário de motivação”. O uso da integração vertical pela empresa também provou ser bem-sucedida quando Ford construiu uma fábrica gigantesca, onde entravam matérias-primas e de onde saíam automóveis acabados. 94 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural O Ford Modelo T foi apresentado no dia 1º de outubro de 1908. Por volta de 1918, metade dos carros na América do Norte eram Modelos T. A alta produção conseguida por Ford tem como característica marcante a escolha de uma única cor de veículo, a preta. Ford criou um sólido sistema de publicidade em Detroit para garantir que cada jornal transmitisse notícias e anúncios sobre o novo produto. A rede de concessionários locais de Ford tornou o carro onipresente em praticamente todas as cidades da América do Norte. Como revendedores independentes, as franquias enriqueceram e fizeram a propaganda não apenas de Ford, mas também do próprio conceito de automobilismo; clubes locais de automóveis surgiram para ajudar novos motoristas e para explorar o campo. Ford foi sempre ávido para vender aos fazendeiros, que viram no veículo um dispositivo comercial para ajudar em seus negócios. As vendas subiram rapidamente – vários anos tiveram 100% de lucros em relação ao ano anterior. Sempre na busca de maior eficiência e menores custos, em 1913 Ford introduziu a montagem em esteiras em movimento nas suas instalações, o que permitiu um enorme aumento da produção. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Henry_Ford>. Acesso em: 13 jan. 2009. A consolidação do fordismo como um processo de produção em massa por meio da linha de montagem, a partir de 1914, confunde-se com o estilo de vida e o padrão de consumo desenvolvido no mundo ocidental durante todo o século 20. Inspirado na visão taylorista sobre especialização e divisão do trabalho, Ford visualizava sua força de trabalho (trabalhadores) não apenas como mão-de-obra, mas como um público-alvo de consumo. Por isso, inovou no incentivo monetário ou do interesse econômico do trabalhador como meio de controle e gestão. Ao pagar salários acima da média do mercado permitiu aos trabalhadores terem um padrão de vida e de consumo elevado, impulsionando significativamente o progresso econômico e social dos EUA. Com isso, Ford agrega às visões taylorista e fayolista, acrescentando: “O trabalhador é um consumidor ” (Nogueira, 2007, p. 123). A principal obra publicada no Brasil denomina-se “Os princípios da prosperidade”, em 1967, traduzida por Monteiro Lobato, que o considera um gênio, pela seguinte razão: Ford “enriqueceu enriquecendo a humanidade, enriquecendo e tornando feliz o operário, enriquecendo e facilitando a vida do consumidor ” (Lobato, apud Nogueira, 2007, p. 124). 95 EaD Marivane da Silva Se analisarmos os produtos e serviços de nosso cotidiano perceberemos que os fundamentos do fordismo ainda estão presentes na sociedade contemporânea, globalizada e capitalista. O ensinamento do paradigma fordista é o controle sobre o processo de trabalho e produção. Ele foi capaz de determinar o ritmo e o tempo do processo de produção, quase sem levar em conta o desempenho de cada trabalhador. A compensação financeira por dia de trabalho refletia-se em filas intermináveis por emprego na Ford, que chegou a ter 80 mil trabalhadores em uma única fábrica. O resultado prático do modelo fordista foi uma redução radical no custo do processo produtivo e dos automóveis, bem como no tempo despendido na realização das tarefas. Com a adoção da linha de montagem, o tempo necessário para fabricar um automóvel caiu de 12 horas e 30 minutos para 1 hora e 30 minutos, o que elevou a produtividade e permitiu aumentar os salários dos trabalhadores. Na década de 30, porém, o sistema deu mostras de esgotamento, o mercado se retraiu, o desemprego cresceu e a Ford enfrentou a primeira greve da sua história. Nessa epoca consolida-se o sindicalismo nos Estados Unidos e se reconhecia o direito de negociação pela classe trabalhadora. A partir deste fato ficaram evidentes os limites do fordismo e as contradições do modelo, apesar de ser mundialmente socializado e com reflexos visíveis nas áreas de prestação de serviços públicos e privados. Sintetizando a Unidade, podemos afirmar que a combinação dos elementos do taylorismo e do fordismo, somada ao conceito da função administrativa de Henri Fayol e aos princípios de organização burocrática (ainda a ser estudado), forma o paradigma técnicoadministrativo, constituinte da abordagem (ou escola) clássica da Administração. O trio Taylor, Fayol e Ford são inesquecíveis no campo da Administração, prevalecendo por quase todo o século 20 e ainda muito presente na mentalidade de todos os gestores e estudiosos da atualidade. Ainda cabe destacar que outros modelos ou paradigmas foram importantes para a indústria automobilística brasileira, tais como o toyotismo e o volvismo. 96 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Se voltar à leitura da obra de Morgan (1996) você vai encontrar suas metáforas para explicar a complexidade da organização e da administração e identificá-las aos paradigmas como: Sugestão de Leitura: a) Fordismo = máquina; b) Toyotismo = organismo; c) Volvismo = cérebro. A imagem das organizações vista como máquinas colocam as pessoas nesta mesma metáfora e moldam o trabalho com princípios mecânicos; horários rígidos; rotinas predeterminadas; tarefas repetitivas; estreito controle e, findando, o processo de produção manual. O sistema Toyota de produção pode ser associado à metáfora do organismo, pois compreende as relações entre a organização e o meio, enfocando a sobrevivência, valorizando a inovação e a busca pela harmonia entre estrutura, tecnologia e dimen- Para construir seu aprendizado com maior profundidade nos três “ismos” – Fordismo, Toyotismo e Volvismo – proponho a leitura de dois artigos: WOOD JR., Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo. In: ______. Mudança organizacional. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. WOOD JR., Thomaz. Fordismo, toyotismo e volvismo: os caminhos da indústria em busca do tempo perdido. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 32, n. 4, set./out. 1992. Disponível em: <http://www.rae.com.br/ rae/index.cfm?FuseAction =Artigo&ID=757&Secao=ARTIGOS &Volume=32&numero=4&Ano=1992>. Acesso em: 13 jan. 2009. sões humanas. Já o sistema volvismo está mais vinculado à metáfora do cérebro, porque chama a atenção para o processamento de informações, aprendizagem e inteligência, caracterizado o contexto organizacional com alto grau de flexibilidade e inovação. Tendo a visão dos paradigmas apresentados como técnicoadministrativo será possível avaliar as mudanças e os processos de transformação da indústria automobilística e da administração, nas décadas de 50 a 70. 97 EaD Marivane da Silva Você sabe que os paradigmas históricos sofreram críticas. Você pode citar alguma crítica ao paradigma técnico-administrativo apresentado na Unidade 3? Reflita. Para contribuir citamos a partir da obra de Nogueira (2007, p. 127) algumas críticas que serviram de base para o avanço dos estudos e das contribuições à Administração. • O modelo prioriza o aspecto quantitativo em detrimento do qualitativo, e com base na leitura de Nogueira (2007) a superação só é possível por meio de uma ruptura radical com o sistema capitalista. • Apresenta uma necessidade de identificar aspectos no modelo taylorista-fordista e mais adiante burocrático, que possam ser incorporados a um novo paradigma de gestão, relacionado com o desenvolvimento sustentável. • Compreende-se que poucos elementos do modelo de gestão técnico-administrativo sobreviveriam a um sistema que priorizasse a busca da sustentabilidade, justificado pelas agressões que provocaram ao meio ambiente, à limitação da capacidade criativa do trabalhador e à perda de identidade profissional. • Há a percepção de que se trata de um padrão comprometido com a construção de um mundo objetivo, instrumental e automático, que considera o trabalho humano objeto de exploração, e não de realização; a finalidade econômica desestrutura a estabilidade social e põe em risco o meio ambiente, destruindo-o para satisfazer necessidades de consumo e geração de lucro. 98 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural SÍNTESE DA UNIDADE 3 Trata-se do paradigma técnico-administrativo que é composto pelas contribuições do modelo taylorista, fayolista e fordista. Taylor era considerado o pai da Administração Científica, marcado pelo estudo dos tempos e movimentos, cujo foco era a racionalização da produção. Fayol era considerado o pai da Administração, marcado pelos princípios e regras para a Administração, mentor da função administrativa. A função administrativa é composta dos elementos: planejar, organizar, dirigir e controlar, que em conjunto formam o processo administrativo. As funções organizacionais ou áreas funcionais são as áreas que constituem a organização: marketing, produção e operações, recursos humanos, financeiro e administrativo. Ford foi outro clássico importante que deu origem à linha de montagem e à idéia de produção de massa, conhecido como o pai do carro popular – Ford Modelo T. Weber, com os princípios de organização burocrática, complementa outros modelos ou paradigmas importantes para a indústria automobilística, como toyotismo (produção flexível) e volvismo (flexibilidade criativa). 99 EaD 100 Marivane da Silva EaD Unidade 4 ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural PARADIGMA ORGANIZACIONAL OBJETIVO DESTA UNIDADE • Conhecer as contribuições ao paradigma organizacional de Max Weber, Amitai Etzioni, Blau e Scott. • Conhecer um estilo de gestão – Administração por Objetivos – Peter Drucker. AS SEÇÕES DESTA UNIDADE Seção 4.1 – Weber e a Organização Burocrática Seção 4.2 – Tipologias das Organizações: uma visão de Etzioni, Blau e Scott Seção 4.3 – Administração por Objetivos O paradigma organizacional teve origem na abordagem estruturalista da Administração e da Sociologia das organizações, desenvolvida principalmente por Amitai Etzioni, que considera que o “todo social é formado por uma sociedade de organizações” (Nogueira, 2007, p. 153). Dessa forma, será abordada nesta Unidade esta perspectiva organizacional, que é considerada avançada pelo fato de integrar as dimensões técnico-administrativa e psicossocial. Cabe lembrar, no entanto, que alguns autores consideram Max Weber como o primeiro teórico das organizações, por meio de seus estudos sobre burocracia, sendo incorporado nesta unidade como objeto de estudo, juntamente com as tipologias das organizações a partir de Etzioni e a dupla Blau e Scott e, para finalizar, as contribuições de Peter Drucker, com a Administração por Objetivos – APO –, como uma forma de encaminhar a gestão nas organizações. 101 EaD Marivane da Silva Seção 4.1 Weber e a Organização Burocrática Na perspectiva de Weber, o Estado é um tipo de organização diferente porque representa uma comunidade que detém o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado território. Logo, para que exista Estado é preciso que a sociedade o reconheça como autoridade legítima e acate suas decisões. Você já conheceu a figura de Max Weber na Unidade 3, mas agora vamos apresentar um pouco mais de sua história. Emil Maximillian Weber, mais conhecido como Max Weber, nasceu em Erfurt, Turíngia, parte da Alemanha, em 21 de abril de 1864. Foi um intelectual, jurista, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. A esposa de Max Weber, Marianne Schnitger, era socióloga e historiadora do Direito. Era o mais velho dos sete filhos de Max Weber e Helene Fallenstein. Seu pai, protestante, era uma figura autocrata. Ele foi, juntamente com Karl Marx, Vilfredo Pareto e Émile Durkheim, um dos modernos fundadores da Sociologia. É conhecido sobretudo pelo seu trabalho sobre a Sociologia da religião. De importância extrema, Max Weber escreveu a Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Este é um ensaio fundamental sobre as religiões e a afluência dos seus seguidores. Subjacente a Weber está a realidade econômica da Alemanha do princípio do século 20. Weber também é conhecido pelo seu estudo da burocratização da sociedade. No seu trabalho, Weber delineia a famosa descrição da burocratização como uma mudança da organização baseada em valores e ação (a chamada autoridade tradicional) para uma organização orientada para os objetivos e ação (chamada legal-racional). O resultado, segundo Weber, é uma “noite polar de frio glacial” na qual a crescente burocratização da vida humana a coloca numa gaiola de metal de regras e de controle 102 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural racional. Seus estudos sobre a burocracia da sociedade tiveram grande importância no estudo da Teoria da Burocracia, dentro do campo de estudo da Administração de empresas. Max Weber morreu de pneumonia em Munique, Alemanha, a 14 de junho de 1920. Quando morreu seus estudos encontravam-se em estado caótico e nenhum dos seus trabalhos estava disponível em inglês. Seu trabalho sobre burocracia permaneceu não reconhecido nos Estados Unidos até os anos 40. Quando as organizações começaram a crescer em tamanho e em complexidade, a procura por uma teoria das organizações apontou Max Weber e seu modelo burocrático. Os estudos e trabalhos de Weber estavam cronologicamente paralelos aos estudos de Taylor e Fayol (Silva, (2002, p. 160, e em parte disponível em: <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Max_Weber>. Acesso em: 12 jan. 2009. Agora vamos descobrir o que era a burocracia de Weber. Weber concebeu o que seria a burocracia ideal, cujo modelo procura estabelecer estrutura, estabilidade e ordem nas organizações por meio de uma hierarquia integrada de atividades especializadas, definidas por regras sistemáticas, ou seja, o paradigma burocrático surgiu da “necessidade de criar um modelo organizacional que considerasse todos os aspectos organizacionais, humanos e estruturais” (Oliveira; Silva, 2006, p. 82). Entendendo a afirmativa, você saberia listar as características da burocracia? Vamos buscar o apoio de Silva (2002, p. 161) para ajudá-lo a defini-las: 103 EaD Marivane da Silva a) Divisão do trabalho: as atividades são desmembradas em tarefas simples, de tal modo que qualquer pessoa, de qualquer tipo de organização, poderia se tornar especializada num tempo mínimo; a especialização torna o trabalho humano intercambiável e gera eficiência organizacional. Cada posição possui suas funções de responsabilidades e delegação de autoridade competentes definidas claramente. b) Hierarquia de autoridade: posições ou empregados são organizados de modo a formar a hierarquia (cadeia de comando) na qual a organização está estruturada; cada posição apresenta responsabilidades e deveres específicos, bem como privilégios. c) Racionalidade: todos os membros da organização são selecionados com base na qualificação técnica para um desempenho adequado; as promoções ocorrem por desempenho e capacitação técnica (mérito); d) Regras e padrões: as decisões gerenciais são guiadas por regras, disciplina e controles, relacionados à conduta dos deveres oficiais, aplicados de forma impessoal tanto aos empregados da organização quanto aos clientes, fora dela. e) Compromisso profissional: os administradores trabalham por salários fixos e não são os donos dos negócios que administram; os gerentes são treinados para as atividades administrativas visando à melhor qualificação para o alcance da eficiência organizacional e para o controle das atividades dos empregados. f) Registros escritos: com o objetivo de estabelecer continuidade organizacional e uniformidade de ação, as burocracias mantêm registros, elaborados para detalhamento das transações da organização. g) Impessoalidade: as regras e os procedimentos são aplicados de modo uniforme e imparcial; todos os funcionários são avaliados de acordo com regras objetivas, de tal modo que não se permita ao superior fazer considerações pessoais ou emocionais nas avaliações. Com base nestas características é possível fazer a seguinte constatação: 104 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Ao analisar o tipo ideal de burocracia verificou-se que se tratava de técnicos ou administradores profissionais que se dedicavam a seus cargos mesmo não possuindo o domínio dos meios administrativos que determinam as funções e competências desses cargos. Esse poder é da burocracia e não dos ocupantes dos cargos. As organizações modernas são estruturas burocráticas, de poder e de autoridade. A autoridade tradicional apóia-se em procedimentos legitimados pelo uso continuado; a autoridade carismática centra-se na figura de um líder pessoal; a autoridade moderna tem como base a racionalidade legal (Nogueira, 2007, p. 154). Resumindo as características apresentadas anteriormente, pode-se afirmar que o modelo burocrático de Weber decorre de seu estatuto legal e de sua competência funcional baseada em regras racionais, nos limites técnicos dessa competência e em uma ordem impessoal e universalista. A autoridade racional-legal é a forma de dominação legítima, fundamentada em regras, que caracteriza a organização burocrática. No Quadro 1 vamos apresentar as diferenças entre os tipos de autoridade. Tipos de Autoridade Autoridade racional-legal Autoridade tradicional Autoridade carismática Concepções Envolve um corpo administrativo organizado e toma a forma de burocracia. É imposta por procedimentos considerados legítimos em nome da tradição. Depende da legitimidade do líder diante de seus seguidores, envolve lealdade pessoal e geralmente se opõe à ordem estabelecida. Poder Sociedade Mérito (regras, padrões) Normas impessoais (empresas e exército) Herdado (tradição, costume) Patriarcal (família, medieval) Delegável (“heroísmo”) Personalística (partidos) Quadro 1: Diferenças entre os tipos de autoridade Fonte: Adaptado de Nogueira (2007, p. 155); Neto (2001, p. 38). 105 EaD Marivane da Silva Robert K. Merton Nasceu em 4 de julho de 1910 e morreu em 23 de fevereiro de 2003. Nascido Meyer R. Schkolnick, foi um sociólogo americano, importante como teórico da burocracia, da sociologia, da ciência e da comunicação em massa. Muniz e Faria (2007, p. 56) afirmam que a burocracia não deixa de ser: (.. .) uma forma de organ ização huma na qu e se b aseia na racionalidade adequada dos meios para atingir objetivos pretendidos, a fim de prestar a máxima eficiência no alcance dos objetivos. (...) um sistema social organizado mediante normas escritas, visando à racionalidade e à igualdade no tratamento de seu público. Weber preocupou-se apenas com as relações formais entre os elementos da burocracia, ignorando a organização informal e os fatores humanos e sociais do comportamento, gerando, desta forma, o homem burocrata (volte ao Quadro 5 da Unidade 2), cujo comportamento é padronizado, previsto e funcional, pois o rigor das normas institucionais não permite um comportamento espontâneo, criativo e inovador . A percepção da função das organizações burocratas é: Reproduzir o sistema político-econômico dominante, seja ele capitalista ou socialista (Nogueira, 2007, p. 156). Robert K. Merton criticou o modelo de Weber afirmando que apresentava muitas disfunções e que este: (...) idealizou uma organização que na prática não consegue funcionar com o rigor determinado pelas características essenciais da burocracia, gerando, assim, imprevisões ou disfunções, cujo prejuízo está no desempenho das tarefas e na inexecução total ou parcial dos objetivos organizacionais (Muniz; Faria, 2007, p. 57). 106 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Desta forma, Merton criou a teoria das disfunções estruturais fundadas, também conhecidas como “fontes estruturais da superconformidade”, defendendo que as disfunções estavam ligadas ao comportamento do funcionário e poderiam ser compreendidas pela aplicação do conceito de incapacidade treinada, psicose ocupacional e deformação profissional. Muniz e Faria (2007) apresentam as disfunções de Merton caracterizadas por: a) maior internalização das regras e exagerado apego aos regulamentos; b) excesso de formalismo e de papelada; c) resistências a mudanças; d) despersonalização do relacionamento; e) categorização como base do processo decisorial; f) superconformidade às rotinas e aos procedimentos; g) exibição de sinais de autoridade (uso da força hierárquica do cargo, uniforme, localização da sala, banheiro privativo, refeitório, tipo de mesa); h) dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público; i) imprevisibilidade de comportamento, impedindo a inovação e a criatividade e desconsideração à chamada “organização informal”. Cabe destacar outros dois nomes também considerados importantes para o estudo do modelo burocrático: a) Philip Selznick, também sociólogo, propôs outro modelo com destaque à delegação de autoridade. Ele mostrou como o emprego da delegação gera uma série de conseqüências imprevistas que, geralmente, originam-se de problemas ligados à manutenção de sistemas altamente interligados, de relações interpessoais. 107 EaD Marivane da Silva Produtividade É uma relação entre esforço e resultado. b) Alvin W. Gouldner, sociólogo americano, realizou pesquisas e concluiu que existe uma variedade de graus de burocratização e não um único modelo de burocracia, os quais resgatam parte das contribuições de Merton e Selznick. Ele se ocupou com as conseqüências que as diretrizes administrativas trazem para a manutenção da estrutura organizacional. É necessário avançar nas pesquisas e descobrir mais detalhes dos modelos de Merton (que identificou as anomalias de funcionamento do processo de Weber), de Selznick (que estudou a delegação de autoridade), de Gouldner (que defende a existência de diferentes graus de burocratização). Sem dúvida, também é importante resgatar algumas observações feitas por Motta e Pereira (1986) na obra Introdução à organização burocrática: As organizações neste período histórico são indiscutivelmente o tipo de sistema social predominante das sociedades industriais; abandonando o campo de vista puramente científico para aderir à crítica social. O homem da organização burocrática é o homem que pensa em grupo, que toma decisões em grupo, que trabalha e se diverte em grupo, é o homem cujas crenças e valores são os valores e as crenças das organizações de que participa, é o homem cujo comportamento é condicionado pela organização, de forma a tornar mínima, senão inexistente, sua área de autonomia individual e, dando origem ao homem burocrata e organizacional (quadro 5 da Unidade 2). Outra explicação para a importância das organizações burocráticas no mundo moderno é que elas são condições para o desenvolvimento econômico, político e social. Lembrando de nossos conceitos de desenvolvimento, abordado na Unidade I, agregando a visão de que é um processo integrado de transformação social que tem nas organizações um de seus principais instrumentos. O princípio fundamental que rege a vida das organizações neste modelo é o princípio da eficiência – condição fundamental para sua existência. “Sem eficiência, sem produtividade, não há organizações; sem aumento de eficiência, não existe desenvolvimento” (p.17). 108 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Os filmes “O processo” e “Brazil” permitem aprender sobre os conceitos da teoria sobre a burocracia. O Processo Sugestões de leitura: SAUSEN, Jorge O. Reconceitualização da organização burocrática: a busca de um novo arcabouço organizacional. Revista de Estudos da Administração, Ijuí: Ed. Unijuí, ano 1, n. 1, jul./dez, 2000. MOTTA, Fernando C. P.; PEREIRA, Luiz C. B. Introdução à organização burocrática. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. WEBER, Max et al. Sociologia da burocracia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1966. Cabe destacar que, em muitos momentos, a burocracia era sinônimo de ineficiência, excesso de regras e exigências que eram vistas como impedimento para o avanço, ou seja, tinha fama de imperar o sistema organizacional. A fila é um subproduto da burocracia e que necessitaria ser Joseph K. (Anthony Perkins) é um homem reservado, que vive na pensão da senhora Grubach (Madeleine Robinson) e se dá bem com todos os demais moradores do local. Um dia ele é acordado por um inspetor de polícia (Arnoldo Foà), que lhe informa que está preso, mas não o leva sob custódia. Durante o processo Joseph segue com suas atividades normais, tendo apenas que ficar à disposição das autoridades a qualquer hora do dia. Incomodado por não saber do que está sendo acusado, ele decide investigar em busca de uma resposta. Disponível em: <http://www.interfilmes.com/ filme_14253_O.Processo(Le.Proces).html>. Acesso em: 20 jan. 2008. resolvida, porém os maiores impedimentos, segundo Ribeiro (2003, p. 92), são: custo dos investimentos para melhorar a operação; a indolência de profissionais e a mentalidade burocrática. Neste se nti do, apre se nta-se na l i te ratura a ne ce s si dade de desburocratização da organização. Você saberia explicar o que significa desburocratização? Vamos descobrir juntos? Desburocratizar é administrar de forma mais humana e eficaz, confiando mais e punindo os que não correspondem à confiança, dando mais valor às palavras e aos fatos do que aos docu- Brazil Em um futuro caótico e perturbador, uma cidade inteira é monitorada por meio de computadores e leis burocráticas ao extremo. É nesse infeliz mundo que Sam Lowry se apaixona por Jill, uma terrorista local. Disponível em: <http://cineplayers.com/ filme.php?id=99>. Acesso em: 20 jan. 2008. 109 EaD Marivane da Silva Organização informal Surge como derivação do sistema burocrático após a constatação da impossibilidade de impor padrões de comportamento humano a uma organização (Neto, 2001, p. 93). mentos. Pode ser vista como uma redução das atividades e trabalhos que não agregam valor ao produto ou serviço e que atendam apenas às exigências internas da organização, sem considerar o cliente, o ambiente e a organização informal. Na concepção de Ribeiro (2003, p. 91) desburocratizar é Amitai Etzioni “delegar poder decisório aos subordinados”. A conclusão a que chegamos após o estudo do paradigma organizacional burocrático é que, apesar de todas as críticas, limitações e restrições, ainda é um modelo confiável para gerir uma Imagem disponível em: <http://aasa.files.cmsplus.com/images/SA/2008/ May08/Etzioni1.jpg>. Acesso em: 20 jan. 2009. organização. Sabemos que, sem o mínimo de burocracia, uma organização não funcionaria com eficiência. A seguir vamos conhecer as contribuições de Etzioni, Blau e Scott para as organizações e o paradigma organizacional. Seção 4.2 Tipologias das Organizações: uma visão de Etzioni, Blau e Scott Amitai Etzioni classificou os meios de controle aplicados por uma organização em três categorias de análise (Nogueira, 2007): 1) Meios físicos: atingem o corpo das pessoas e podem ser representados por armas, equipamentos de coerção e tortura, prisões, etc. Normalmente empregados pelo poder coercitivo. 2) Meios materiais: consistem em recompensas materiais – o principal é o dinheiro – que permitem adquirir bens e serviços e são amplamente utilizados pelo poder manipulativo; 110 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural 3) Meios sociais e simbólicos: estão relacionados com prestígio, estima e consideração, aceitação social no grupo, afeto, etc., e constituem estratégias do poder normativo ou poder normativo-social. Para melhor compreender suas categorias vamos resgatar os conceitos das formas de poder exercidas pelas organizações (Quadro 2). Tipos de Poder Coercitivo Normativo Manipulativo Conceitos Típico de organizações cujo objetivo é o controle do comportamento: forças armadas, prisões, campos de concentração. Caracteriza as organizações que têm como meta a comunhão de idéias e o senso de missão: organizações religiosas, políticas, sociais e sindicais. Empregado por organizações utilitárias para controlar seu corpo social por meio de recompensas econômicas: organizações empresariais e profissionais. Quadro 2: Formas de poder exercidas pelas organizações, segundo Etzioni Fonte: Nogueira (2007, p. 157). Lendo este quadro, você deve estar se questionando: afinal, o que é poder? Como Etzioni conceitua poder? Para respondê-lo, vamos nos reportar ao seu próprio discurso: O poder de uma organização para controlar os membros apóia-se em posições específicas (chefe de departamento), numa pessoa (um homem convincente) ou numa combinação dos dois (um chefe convincente de departamento). O poder pessoal é sempre normativo; baseia-se no controle de símbolos e pode favorecer o aparecimento do compromisso com a pessoa que o possui. O poder de posição, de outro lado, pode ser normativo, coercitivo ou utilitário (1967, apud Nogueira, 2007, p. 157). Em outra perspectiva, Nogueira (2007, p. 157) afirma que “poder é a capacidade de obter resultados por consenso ou coerção. Quando há poder, alguém exerce domínio sobre alguém – e esse poder depende tanto da maneira como a parte dominante o exerce quanto do modo como a parte dominada se submete a ele”. Vamos retomar algumas questões que já estudamos na Unidade 1, porém abordando com uma abrangência mais ampla. 111 EaD Marivane da Silva Peter Michael Blau Há uma classificação das organizações considerando o público-alvo e desenvolvida por Peter Michael Blau, criador da Sociologia Organizacional, e Richard Scott: a) clubes, associações, partidos políticos, sindicatos e cooperativas são organizações que visam ao favorecimento de seus sócios ou integrantes; Nasceu em 7 de fevereiro de 1918 e morreu em 12 de março de 2002, de síndrome do desconforto respiratório agudo. Era sociólogo e sua especialidade era realizar análises organizacional e da estrutura social, em particular da burocracia. Disponível em: <http://data360.files.wordpress.com/ 2007/03/blau.jpg>. Acesso em: 20 jan. 2009. b) empresas são, em geral, organizações privadas com fins lucrativos e visam ao favorecimento de seus proprietários ou acionistas; c) hospitais, serviços de saúde, escolas e universidades são organizações que visam a beneficiar seus clientes e usuários diretos; d) organizações públicas ou governamentais visam a favorecer a sociedade. Desta forma, tendo como parâmetro esta classificação proposta, podemos identificar que existem organizações empresariais (propriedade privada individual, familiar ou de sócios e acionistas), cujo interesse é o lucro, e não-empresariais. Assim, é possível também classificar as organizações públicas e estatais como parte do primeiro setor da economia; as empresas privadas industriais, de serviços e comerciais como do segundo setor e as organizações sem fins lucrativos como de terceiro setor. As organizações do terceiro setor são escolas, universidades, organizações não-governamentais (ONGs), fundações privadas com fins públicos, clubes, associações, organizações filantrópicas, organizações religiosas, associações de bairro, fundações ligadas a sindicatos, etc. Elas podem receber apoio tanto do poder público quanto por doações ou cotas de participação de caráter privado – são organizações não-lucrativas, públicas e sociais. 112 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural A seguir você irá encontrar uma síntese referente às organizações vinculadas aos setores econômico, no Quadro 3. SECUNDÁRIO ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS ORGANIZAÇÕES SINDICAIS ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS Tipo TERCIÁRIO PRIMÁRIO Setor Considerações importantes Constituído de organizações estatais, geridas pela administração ou gestão pública. Considerando o caráter público e estatal, as organizações sustentadas pelo Estado podem funcionar como: a) administração estatal direta e exclusiva (organizações dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo); b) administração indireta e organizações prestadoras de serviços públicos (instituições de saúde, hospitais, empresas públicas de água e saneamento, companhias de fornecimento de energia, etc.) c) empresas que seguem a lógica do modo de produção capitalista (bancos, empresas produtivas, empresas de prestação de serviços, etc.); d) as organizações públicas da administração direta: são consideradas mais formais e reguladoras do que as empresas privadas, pois se mantêm com tributos, impostos e taxas cuja administração é exclusivamente estatal. Há organizações públicas nos três poderes: a) Executivo: organizações estatais prestadoras de serviços (áreas de saúde, educação, transporte, previdência, etc.); arrecadadoras e fiscalizadoras (receita, fiscalização, autorizações) e as detentoras do poder de polícia e segurança pública (exército, polícia militar e civil, sistema penitenciário). b) Legislativo: as organizações se distribuem nas esferas municipal, estadual, regional e federal, cada uma delas com estrutura administrativa própria cujo acesso se dá por meio de concurso público. c) Judiciário: aplicam e interpretam a lei de acordo com a Constituição Federal. Esse tipo de organização visa acima de tudo ao retorno econômico. As empresas privadas configuram-se estruturando a dimensão social subordinada à dimensão técnico-administrativo – custo/benefício. Racionalidade capitalista é classificada em três setores: a) setor agrícola ou primário: grandes propriedades agrícolas de lavouras extensivas, a agroindústria, o agronegócio e a pequena propriedade rural; b) setor industrial ou secundário: com as indústrias de transformação e as fábricas, as indústrias extrativas e da construção civil; c) setor de serviços ou terciário: com as empresas comerciais e de serviços, os bancos, os supermercados, as lojas em geral, os shopping centers e as lojas de departamentos. Embora saibamos que os aspectos sociais são importantes na organização, neste caso prevalecem os critérios financeiros e mercadológicos, objetos da gestão e da Administração. Uma característica da empresa privada é que o poder de decisão é exercido por quem detém a autoridade e a responsabilidade na organização – proprietário, acionistas, administradores e gestores. Uma evolução em termos de modelo de gestão foi a possibilidade de os empregados participarem dos lucros e resultados da empresa. Cabe lembrar que o mercado de trabalho no campo de Administração e de gestão não depende exclusivamente da empresa privada. Acumulam poder em decorrência da expansão no século 20, sendo construídas por meio de cooperativas, organizações de ajuda mútua, união de trabalhadores, mobilizações grevistas e reivindicatórias durante o processo de formação e consolidação do capitalismo. Você sabe qual é o papel dos sindicatos? Eles exercem o papel de reguladores do mercado de trabalho, porque representam os trabalhadores na determinação de salários e na melhoria geral das condições do exercício de suas atividades. Ao mesmo tempo são consideradas organizações profissionais de negociação coletiva e passam a reivindicar do Estado a adoção de políticas de bem-estar social. 113 ORGANIZAÇÕES POLÍTICAS Marivane da Silva ORGANIZAÇÕES SOCIAIS TERCIÁRIO EaD São agrupamentos políticos e ideológicos, movimentos propriamente políticos e grupos organizados por mudanças políticas ao longo da História. Os partidos políticos acabaram por quase monopolizar os movimentos políticos e se transformaram em organizações profissionais que disputam o poder e os cargos nos parlamentos e congressos. Transformaram-se em organizações burocráticas e máquinas de arrecadação de dinheiro para as campanhas eleitorais. À medida que foram se burocratizando, perderam muita força, principalmente nas bases e no conjunto dos cidadãos, que cada vez mais se desinteressam pela política. Trata-se dos movimentos sociais da sociedade civil que tÊm constituído distintas modalidades de organizações de interesses e representação ao longo da História das nações. Produziram organizações de todos os tipos, acompanhando a mudança social formando as organizações de mulheres e feministas; raciais e étnicas; de paz; em defesa do meio ambiente, contra as armas nucleares, de homossexuais, etc. Organizações religiosas também influenciam a organização da sociedade – igrejas e associações. Quadro 3: Considerações das organizações classificadas por setor e tipo Fonte: Elaborado com base em Nogueira (2007). Síntese reflexiva: Influenciados pelos paradigmas formadores da Administração, os primeiros modelos de organização pretendiam funcionar como uma máquina. O paradigma técnico-administrativo prescrevia um modelo de organização predominantemente burocrático, autoritário, hierarquizado, formal, piramidal, com decisões de cima para baixo, unidade de comando, divisão pormenorizada do trabalho, etc. (Nogueira, 2007, p. 163). Para Peter Michael Blau a burocracia ocorre principalmente nas grandes organizações, mas elas não são estáticas, podendo ocorrer mudanças de forma programada ou espontânea, decorrentes das influências externas e internas das organizações. Ele não criticou Weber, apenas propôs um esquema alternativo, que compreende quatro categorias estruturadas de acordo com o beneficiário principal da organização (Quadro 4). 114 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Beneficiário Exemplo Próprios membros da organização Clubes, associações, cooperativas. Proprietários ou dirigentes Empresas de forma geral. Clientes Hospitais, agências sociais, universidades. Sociedade em geral Organizações do Estado e do governo. Quadro 4: Categorias estruturadas das organizações, segundo Blau e Scott Fonte: Nogueira (2007, p. 157). Voltando às contribuições de Morgan (1996), explicitadas na Unidade 3, perceberemos que a imagem de organismo remete à idéia de um sistema vivo que se relaciona com o ambiente. Neste sentido, as metáforas propostas por Morgan constituem-se num importante método de análise de organizações e nos permitem fazer um diagnóstico organizacional. Lembramos que para fazê-lo é preciso, em primeiro lugar, saber que tipo de organizações se está pesquisando ou estudando, ou ainda, administrando. Uma das razões ou explicações dadas por Nogueira (2007) para o esgotamento do paradigma organizacional foi pela própria dinâmica do mercado capitalista exigir maior liberdade de ação das organizações. Vamos sintetizar no quadro a seguir as principais idéias dos três autores e suas contribuições ao estudo das organizações deste modelo (Quadro 5) para recuperar sua essência. Autores Principais idéias Max Weber Tipo ideal de burocracia Amitai Etzioni Tipologia das organizações com base nos tipos de poder Blau e Scott Tipologia das organizações com base nos tipos de beneficiários Quadro 5: Principais contribuições ao estudo das organizações Fonte: Adaptado de Maximiano (2002, p. 133). Tendo presente as contribuições dos clássicos ao estudo das organizações, vamos explicitar a síntese das três principais teorias – científica, administrativa e burocrática (Quadro 6) – ao estudo do paradigma técnico-administrativo e organizacional, salientando que Etzioni, Blau e Scott não possuem uma teoria específica que os represente e sim complementam os estudos do paradigma organizacional. 115 EaD Marivane da Silva TAYLOR Administração Científica FAYOL Teoria Administrativa WEBER Teoria Burocrática Prescritiva Prescritiva Descritiva Organização como sistema fechado. Existem princípios gerais de administração, com capacidade de universalização Organização como sistema fechado. Existem princípios gerais de administração, com capacidade de universalização Organização como um todo. Estrutura da organização – Gerente Estrutura definida Profissionalização dos papéis gerenciais Organização como sistema fechado Burocracia é um modelo ideal, impossível de ser encontrado na prática Principais autores Orientação ao modelo teórico Pressupostos básicos Foco de análise Processos operacionais de trabalho – empregados Benefícios Principal conclusão Principal crítica Produtividade Eficiência Há uma melhor maneira de administrar e organizar Foco interno, em detrimento da análise do ambiente. Não consideração das necessidades sociais Organização como um todo Consistência Eficiência Há uma melhor maneira de administrar e organizar A burocracia é a forma organizacional mais eficiente Foco interno, em detrimento da análise do ambiente. Excessiva ênfase ao comportamento racional Foco interno, em detrimento da análise do ambiente Rigidez e lentidão Quadro 6: Comparação entre os principais autores Fonte: Sobral; Peci, 2008, p. 47; Silva, 2002. Entre as críticas da burocracia podemos fazer referência à visão dos empresários, dos empregados e da academia, conforme Silva (1990): Empresários – expressão burocracia soa como sinônimo de empresa pública; – utilizam a burocracia para dinamizar a empresa, melhorando o controle de qualidade e instituindo ficha de descrição de cargos; – confronto entre a ficha de descrição de cargo e o formulário de realização de tarefas; – afirmam que a burocracia trouxe mais benefícios do que desvantagens à empresa privada; – contribuição de Weber é singular para os objetivos dominante (ideológico) e da exploração (da produção). 116 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Empregados – definem a burocracia como um obstáculo ao crescimento pessoal, por inibir e reprimir, em sua concepção, a liberdade; – ao escrever e assinar está formulando uma posição que não poderá reverter; – se percebem como pouco espontâneos, inibidos e extremamente programados. Academia – analisam o eterno “vigiar ” e “punir ” decorrente da luta entre capital e trabalho; – disciplina com função econômica (produtividade), política (obediência) – por meio da vigilância hierárquica (controle da atividade, sanção normatizadora, exame); – possuem ao seu favor a CLT – Consolidações das Leis do Trabalho; – níveis de penalidades: tempo (horários de trabalho), atividade, discurso, maneira de ser (desavenças), comportamento, desvio...; – a fragmentação do trabalho torna o empregado infeliz. Um outro tema importante, em decorrência desse modelo, é a Administração por Objetivos, que significou um marco importante na gestão, deslocando a atenção das “atividades-meio” para os objetivos ou finalidades da organização. O enfoque no processo passou a ser substituído por um enfoque nos resultados e objetivos alcançados (fins), ou seja, a preocupação de “como” administrar passou à preocupação do “por que” ou “para que” administrar. Vamos aprofundar nossos estudos deste paradigma na seção 4.3. 117 EaD Marivane da Silva Seção 4.3 Administração por Objetivos Pode-se afirmar que a Administração por Objetivos (APO) tem seu nascedouro a partir da reestruturação socioeconômica do mundo ocorrida no período pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em que, durante a década de 50, as empresas buscavam se reorganizar e se fortalecer para satisfazer os anseios cada vez mais materialistas e consumistas das pessoas (produção em massa). A APO, portanto, emerge da necessidade de as organizações adotarem princípios capazes de aprimorar as práticas até então desenvolvidas, o que permite uma melhoria significativa na avaliação dos resultados. Peter Drucker, em 1954, já traçava as primeiras idéias acerca do enfoque APO, também conhecido como gestão por objetivos ou Administração por Resultados, com o lançamento da obra “A prática da Administração de Empresas”, que apresentava seus princípios. Vamos conhecer um pouco mais de Peter Drucker? Peter Ferdinand Drucker nasceu a 19 de novembro de 1909 em Viena, Áustria. Foi filósofo e economista. De origem austríaca, é considerado por todos o pai da gestão moderna, sendo o mais reconhecido dos pensadores do fenômeno dos efeitos da globalização na economia em geral e em particular nas organizações. Ainda hoje, mesmo após a sua morte, permanece inquestionavelmente como “único” pai da gestão, subentendendo-se a gestão moderna como a ciência que trata sobre pessoas nas organizações, como afirmava ele. 118 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Peter Drucker argumentava que a empresa que conseguir vender o produto/serviço certo, para o cliente certo, com a distribuição adequada, por um preço adequado e no momento oportuno, verá seus esforços de venda reduzirem-se a quase zero, ou seja, a venda tornar-se-á automática em função de a demanda ter sido corretamente equacionada e trabalhada. Presidente honorário da Drucker Foundation e professor de Ciências Sociais da Claremont Graduate University, Califórnia, EUA, escreveu muitos artigos e mais de 30 livros. O pensador produziu ao longo de sua carreira uma mistura única de rigor intelectual, popularização, praticidade e profundo conhecimento das tendências cruciais, como definiu Robert Heller, fundador e editor de uma das maiores revistas de negócios inglesas, a Management Today. Pode-se afirmar que não há management theory (teoria da administração) que não parta da obra de Drucker. Entre seus livros mais recentes figuram Desafios Gerenciais para o Século XXI, Administrando em Tempos de Grandes Mudanças e Sociedade PósCapitalista, todos publicados pela editora Pioneira, atualmente Thomson. Quinze anos depois de publicar Administrando para o Futuro, e 12 depois de Administrando em Tempos de Grandes Mudanças, em seu livro Managing in the Next Society, Peter Drucker explorou as tarefas imprescindíveis da alta gerência nas primeiras décadas do século 21. Faleceu em 11 de novembro de 2005, em Claremont, Califórnia, EUA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Peter_Drucker>. Acesso em: 15 jan. 2009. Administração por Objetivos pode ser definida como “um estilo ou sistema de administração que relaciona as metas organizacionais com o desempenho e desenvolvimento individual, por meio do envolvimento de todos os níveis administrativos” (Silva, 2002, p. 433). A APO apresenta as seguintes características (Chiavenato, 2000, p. 273): 119 EaD Marivane da Silva a) estabelecimento conjunto de objetivos entre o executivo e seu superior; Sugestões de leitura: Conheça os clássicos estudiosos da APO! ODIORNE, George S. Administração por Objetivos. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientificos, 1981. LODI, João B. Administração por Objetivos. 5. ed. São Paulo: Pioneira, 1976, SILVA, Jairo S. da. Administração por Objetivos: uma abordagem prática. São Paulo: Atlas, 1979. b) estabelecimento conjunto de objetivos para cada departamento ou cargo; c) interligação dos objetivos departamentais; d) elaboração de planos táticos e operacionais, com ênfase na mensuração e no controle dos resultados; e) contínua avaliação, revisão e reciclagem dos planos; f) participação atuante das gerências; g) apoio intenso do staff. A Administração por Objetivos envolve um processo cíclico (Figura 1) de tal forma que o resultado de um ciclo permite correções e ajustamentos no ciclo seguinte, por meio da retroação ou feedback proporcionado pela avaliação dos resultados. 120 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Fixação dos objetivos globais da empresa Elaboração do planejamento estratégico Fixação dos objetivos departamentais Avaliação dos resultados alcançados em comparação com os objetivos departamentais Elaboração do plano tático do departamento Revisão nos planos ou alteração nos objetivos departamentais Desdobramento do plano tático em planos operacionais Avaliação dos resultados alcançados em comparação com os objetivos departamentais Figura 1: O ciclo da APO Fonte: Faria (2002, p. 93). A aplicação do modelo coloca a empresa diante de uma série de desafios. Você consegue imaginar quais seriam esses obstáculos? Alguns fatores são destacados por Ribeiro (2003): a) falta de apoio; b) resistência às mudanças; c) dificuldades no estabelecimento de metas e objetivos; d) deficiências na comunicação, em sentido vertical e horizontal; e) mensuração e controle – medir objetivos e resultados nem sempre é possível ter precisão em termos quantitativos e, se não há como medi-lo, não há como verificar a eficiência dos resultados alcançados sem comparar com os objetivos propostos. O sistema de gestão por objetivos pode ser descrito como um processo pelo qual os gestores superiores e subordinados de uma organização identificam em conjunto os seus objetivos comuns, definem o campo de responsabilidade de cada um, em termos de resultados, e adotam essas medidas como guias para a operação da unidade e para avaliar a contribuição de cada um dos seus membros. 121 EaD Marivane da Silva Os objetivos, segundo Ribeiro (2003), podem ser classificados em: a) internos: lucratividade, crescimento, liderança, produtividade e harmonia na equipe; b) externos: satisfação do cliente, prestígio na comunidade; c) objetivos reais e declarados: os reais são aqueles que motivam na geração de bens de consumo e serviço, visando ao lucro,; enquanto os declarados são os subjetivos, nos quais a empresa se pauta ideológica e legalmente. Outros autores contribuíram para a evolução da Administração por Objetivos. Vamos saber como estes estudiosos contribuíram? Oliveira (2008, p. 278) nos auxilia nesta síntese: a) George Odiorne (1965) defende que a administração adote objetivos não como um modelo teórico, mas enquanto técnica, com experimentação e sucesso prático comprovados, tanto que aperfeiçoou a medição quantitativa dos objetivos das organizações. b) Douglas Murray McGregor (1967) introduziu a abordagem qualitativa na Administração por Objetivos, visando ao desenvolvimento profissional das pessoas. c) John W. Humble (1969) alocou os objetivos no contexto do planejamento e das estratégias das organizações. Lodi (apud Chiavenato, 2000) refere à vantagem ou ameaça dos objetivos. Afirma que para aplicar a APO exige de cada um esforço e interesse e que as pessoas devem estar preparadas para receber o método e para poder aplicá-lo criteriosamente. Sintetiza-se no Quadro 7 os benefícios e os problemas com a APO. Benefícios da APO Problemas com a APO Clarifica os objetivos Coerção sobre subordinados Melhoria do planejamento Aprovação de objetivos incompatíveis Padrões claros para controle Papelada em excesso Aumento de motivação do pessoal Focalização sobre resultados mais facilmente mensuráveis do Avaliação mais objetiva que sobre resultados mais importantes Melhoria da moral Perseguição rígida de objetivos que poderiam ser abandonados Quadro 7: Benefícios e problemas com a APO Fonte: Chiavenato (2000, p. 293). 122 EaD ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural Oliveira e Silva (2006, p. 100) reportam-se ao foco do desenvolvimento afirmando: No fundo, administração por objetivos – APO – procura integrar os objetivos de lucro e desenvolvimento na organização com os objetivos individuais dos incumbidos de sua execução. Mais ainda, o desenvolvimento da organização deve ser conduzido paralelamente ao desenvolvimento dos gerentes e de todo o pessoal envolvido. Inclusive ressaltam que a ênfase exagerada nos resultados pode levar os funcionários a se esforçarem demais para obter resultados importantes, porém de difícil consecução. Muitas vezes podem não se dar conta da necessidade de rever os objetivos conforme as condições possíveis de serem alcançadas. Algumas abordagens apresentam contestações à APO pelo fato de esta dar grande ênfase na definição do trabalho individual com uma estrutura de autoridade administrativa, e não considerar a hipótese de haver conflito entre as metas individuais e as metas organizacionais. Apesar das críticas, os autores reconhecem que se for um processo bem aplicado pode ser eficaz na busca dos objetivos organizacionais. Resumindo: APO é comparado a uma forma moderna de aplicação da Administração Científica. Ao finalizar os estudos da Unidade 4 estaremos supostamente aptos ao conhecimento inicial da Administração ou Estudos Organizacionais com foco na estrutura, ou seja, os paradigmas representados por Taylor, Fayol, Ford e Weber mostram no seu conjunto uma preocupação focada nas tarefas e na estrutura, com uma visão mais econômica da organização – eficiência, eficácia e produtividade. Você agora tem clareza do papel do administrador ou gestor de uma organização? Espero ter contribuído para sua reflexão conceitual e teórica da Administração, das teorias, dos paradigmas, das organizações e dos modelos de gestão. 123 EaD Marivane da Silva SÍNTESE DA UNIDADE 4 Ao concluir o estudo da Unidade 4 você deve ter presente que o paradigma organizacional é composto pelas contribuições de Max Weber, com o tipo ideal de burocracia; de Amitai Etzioni, com as tipologias das organizações, vinculadas ao tipo de poder estabeleci do na o rgani zação forma l, e de Blau e S cott, que complementaram os estudos de Etzioni com a visão de que o tipo de organização pode ser estabelecido pelo seu beneficiário e, ainda apresenta as críticas ao paradigma da burocracia. Para findar a Unidade 4 apresentamos uma forma de administrar que fica classificada dentro do paradigma organizacional cuja proposta de Peter Drucker é o enfoque na Gestão por Objetivos ou Administração por Objetivos. 124 EaD Referências ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: Abordagem Estrutural ANDRADE, R. O. 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