Capítulo 2
Literatura é uma
linguagem
A linguagem da literatura
Conforme observamos na leitura dos fragmentos da pg. 33, há
diferentes modos de compreendermos um mesmo elemento.
Há o sentido figurado ou conotativo, no qual as palavras e
expressões utilizadas não devem ser interpretadas ao “pé da letra”,
visto que seu sentido inicial foi ampliado. Já no sentido literal ou
denotativo, predomina o significado “básico” (de dicionário) das
palavras.
Ex: Ele é um cara de pau. – sem vergonha, em sentido figurado
ou em sentido literal...
Alguém que tem o rosto de madeira.
A linguagem literária se caracteriza pela abundância do sentido
conotativo ou figurado.
Quando as palavras assumem diferentes significados no texto
literário, embora este fenômeno não se dê apenas nesta esfera,
ocorre o que nomeamos de plurissignificação.
Sentido figurado ou literal?
Plurissignificação
Trecho da música Cotidiano, de Chico Buarque - http://www.youtube.com/watch?v=FB4IaqWITB8
Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã
Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café
Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão
Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão
Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor
A palavra texto origina-se do latim textum que significa tecido.
Um tecido é formado por vários fios que se entrelaçam e formam
um todo. O texto é o entrelaçamento de unidades significativas
que compõem um todo significativo.
A força da Literatura
A força da literatura está na criação de um texto elaborado pelo
autor, que seleciona com cuidado e precisão combinações entre
os elementos sonoros e significativos, criando imagens por meio
do emprego da linguagem.
Descuidar do lixo é sujeira
Diariamente, duas horas antes da chegada do caminhão da prefeitura, a gerência
(de uma das filiais do McDonald’s) deposita na calçada, dezenas de sacos
plásticos recheados de papelão, isopor, retos de sanduíches. Isso acaba
proporcionando um lamentável banquete de mendigos. Dezenas deles vão ali
revirar o material e acabam deixando os restos espalhados pelo calçadão.
(Revista Veja, São Paulo, 23/12/92.)
O Bicho
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.
BANDEIRA, Manuel.
Recursos da linguagem literária
“O poder de sugestão e evocação do texto literário depende da capacidade de o escritor escolher
as palavras capazes de ‘desenhar’, para seus leitores, uma série de imagens. Por meio do
reconhecimento e da reelaboração dessas imagens, o leitor constrói, na imaginação, uma
representação dos mundos ficcionais apresentados nos textos.” (livro – p. 36)
Exemplo:
“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama
metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e,
ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras
arqueadas, no topo do qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas
numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo,
tremulavam desamparadas diante dos seus olhos. – O que aconteceu comigo ? – Pensou.”
KAFKA, Franz. A metamorfose – p. 5
A utilização de comparações e metáforas é constante em textos literários como
recurso para concretizar emoções e afirmar semelhanças inusitadas e subjetivas.
Hino à Beleza
Virás do céu profundo ou surges do abismo,
Beleza? O teu olhar, infernal e divino,
Gera confusamente o crime e o heroísmo,
E podemos, por isso, comparar-te ao vinho.
Conténs no teu olhar o poente e a aurora;
Expandes os teus odores qual noite de trovoada;
Teus beijos são um filtro e uma ânfora, a boca
Tornando o herói covarde e a criança arrojada.
(...)
De Satanás ou de Deus, que importa? Anjo ou Sereia,
Se tu tornas – ó fada de olhos de veludo,
Ritmo, perfume, luz, ó rainha perfeita! –
Mais leve cada instante e menos feio o mundo?
Baudelaire, Charles. Flores do Mal.1857.
Tradução: Fernando Pinto do Amaral
Atividades complementares
Trecho de Peixe grande – Tim Burton – Moderna Plus.
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