RAÇA E CLASSE:
LUTA INSTITUCIONAL CONTRA
O RACISMO
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Wilson Honório da Silva
Graduado em História e Mestre em Ciências da
Comunicação/Cinema
Professor universitário (História da Arte e Metodologia do
Ensino de História)
Militante do Movimento Nacional “Quilombo Raça e Classe” e
do GT LGBT da CSP-Conlutas
RAÇA E CLASSE:
LUTA INSTITUCIONAL CONTRA
O RACISMO
"A sociedade brasileira largou o negro ao seu próprio
destino, deitando sobre seus ombros a
responsabilidade de reeducar-se e de transformar-se
para corresponder aos novos padrões e ideais de
homem, criados pelo advento do trabalho livre, do
regime republicano e do capitalismo".
Florestan Fernandes.
A integração do negro na sociedade de classes: no limar de uma nova era.
(Vol. 1, 1978).
CONTRA O QUE LUTAMOS:
A construção social
dos abismos raciais
Raça é um conceito
político
ideológico construído
historicamente.
“NEGRO”, SEGUNDO O AURÉLIO:
Negro: (adjetivo). 1. De cor preta. 2. Diz-se
dessa cor, preto. 3. Diz-se do Indivíduo
de raça negra; preto. 4. Preto. 5. Sujo,
encardido, preto. (...) 7. Muito triste,
lúgubre. (...) 8. Melancólico, funesto. (...)
9. Maldito, sinistro (...) 10. Perverso,
nefando (...) (sinônimo) 11. Indivíduo de
raça negra. 12. Escravo.
“BRANCO” SEGUNDO O AURÉLIO:
Branco: (adjetivo) (...) 2. Da cor da neve, do leite,
do cal, alvo. 3. Diz-se das coisas que não sendo
brancas, têm cor mais clara que outras da mesma
espécie. (...) 4. Claro, transparente, translúcido. 5.
Pálido, descorado. (...) 6. Prateado, argentado.(...)
8. Diz-se do Indivíduo da raça branca. (figurativo) 9.
Sem mácula, Inocente, puro, cândido, Ingênuo
(sinônimo) 10. A cor branca.(...) 12. Homem de raça
branca.
SEGUNDO A IGREJA,
“DESALMADOS”
No Brasil, uma das versões mais bizarras da “lógica” católica foi formulada
pelo famoso padre Antonio Vieira, segundo o qual, “os negros foram
escolhidos por Deus e feitos à semelhança de Cristo para salvar a
humanidade através do sacrifício”, ou seja, “a escravidão era “um estado de
milagrosa felicidade, por meio do qual o africano podia se salvar do
inferno”[1]. Uma tese que o padre desenvolveu com todas as letras em seu
“Sermão 14”, pronunciado em 1633 aos escravos da Irmandade dos Pretos
de um engenho:
“Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado (...) porque padeceis
em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua
cruz, e em toda a sua paixão (...) Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas,
os nomes afrontosos, de tudo isso se compõe a vossa imitação, que se for
acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio”.
•
[1] Kok, Glória Porto. A escravidão no Brasil colonial. São Paulo: Saraiva.
1997 (Coleção “Que história é esta?”), pág. 19.
A REDENÇÃO DE CAN
(MODESTOS BROCOS, 1895)
Discursos feitos no Congresso, defendendo
subsídios para imigrantes europeus, no final do
século XIX.
Teses defendidas por João Batista Lacerda, no
Congresso Universal das Raças, em Londres
(1911).
A TEORIA DO
EMBRANQUECIMENTO
Nina Rodrigues, Silvio Romero e a teoria do
embranquecimento
O maranhense Nina Rodrigues destacou-se
particularmente pelos estudos sobre os
negros em livros como Os Africanos no Brasil
(1932) e por sua crença de que “a igualdade
de direitos era uma utopia”. Já o sergipano
Romero, tem uma vasta produção nas áreas
do “folclore” e literatura.
SÍLVIO ROMERO:
"A vitória lia luta pela vida, entre nós, pertencerá no porvir
(futuro), ao branco; mas para essa mesma vitória (o branco)
tem necessidade de aproveitar-se do que de útil as outras
duas raças lhe podem fornecer; máxime a preta, com que tem
mais
cruzado. Pela seleção natural, todavia depois de prestado
auxílio de que necessita, o tipo branco irá tomando a
preponderância até mostrar-se puro e belo como no velho
mundo. Será quando já estiver de todo aclimatado no
continente. Dois fatos contribuirão largamente para esse
resultado: de uma lado, a extinção do tráfico negreiro e o
desaparecimento constante dos índios, e de outro a
imigração europeia”
NINA RODRIGUES:
“OS AFRICANOS NO BRASIL”
"A raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus
incontestes serviços à nossa civilização, por mais justificadas
que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da
escravidão (...) há de constituir sempre um dos fatores da
nossa inferioridade como povo”.
"A constituição orgânica do negro, modelado pelo habitat
físico e moral em que se desenvolveu, não comporta uma
adaptação à civilização das raças superiores, produtos de
meios físicos e culturais diferentes”.
O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL
(CENA FAMILIAR, DEBRET, CERCA DE 1820)
GILBERTO FREYRE E O MITO DA
DEMOCRACIA RACIAL
“O intercurso sexual de brancos dos melhores estoques
— inclusive eclesiásticos, sem dúvida nenhuma, dos
elementos mais eugênicos na formação brasileira
— com escravas negras e mulatas foi formidável.
Resultou daí grossa multidão de filhos ilegítimos —
mulatinhos criados com a prole legítima, dentro do
liberal patriarcalismo das casas-grandes; outros à
sombra dos engenhos de frades; ou então nas
“rodas” e orfanatos”
(Freyre, 1987:91).
CONTINUA GILBERTO FREYRE:
“Híbrida desde o início, a sociedade brasileira
é de todas da América a que se construiu
mais harmoniosamente quanto às relações
raciais: dentro de um ambiente de quase
reciprocidade cultural que resultou no
máximo aproveitamento dos valores e
experiências dos povos mais atrasados pelo
adiantado; no máximo da contemporização
da cultura adventícia com a nativa, da do
conquistador com o conquistado”
(Freyre, 1987:91)
A IDEOLOGIA INTROJETADA:
Negros e negras
e a reprodução do
discurso racista
POPULAÇÃO BRASILEIRA,
POR RAÇA:
O CENSO E A COR,
PELA POPULAÇÃO
“A Identidade e a consciência étnica são penosamente
escamoteadas pelos brasileiros. Ao se auto-analisarem,
procuram sempre elementos de Identificação com os símbolos étnicos da
camada branca dominante”. No Censo de 1980, por exemplo, os não
brancos brasileiros, ao serem inquiridos pelos pesquisadores do IBGE
sobre sua cor, responderam que ela era acastanhada (...), alva escura (...)
amarela queimada (...), baiano (...), branca morena (...), branca
queimada (...), morena, morena bem chegada, morena bronzeada,
morena canelada, morena castanha, morena clara (...), mulata (...), parda
clara (...), pouco clara, pouco morena (...), puxa para branca, (...) regular
(...), quase negra (...). O total de 136 cores bem demonstra como o
brasileiro foge da sua verdade étnica, procurando, através de
simbolismos de fuga, situar-se o mais possível próximo do modelo tido
como superior“
(Retrato do Brasil, vol. 1, pág. 112)
Foras-da-lei:
marginalização como
lógica do racismo
DEPOIS DE 400 ANOS...
"Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil
moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o
mesmo homem negro é tangido para os porões do
capitalismo nacional, sórdido, brutesco. O senhor
liberta-se do escravo e traz ao seu domínio o
assalariado, migrante ou não.
Não se decretava oficialmente o exílio do ex-cativo,
mas este passaria a vivê-lo como um estigma na cor da
sua pele."
Alfredo Bosi (Dialética da colonização, 1992).
DEPOIS DE 400 ANOS....
Os negros escravos foram comparados a
instrumentos de trabalho e animais: era-lhes
negado o status de humanos. Com a abolição, o
negro foi relegado ao status de cidadão de segunda
classe, excluído dos direitos sociais
(inclusive jurídicos) e desconsiderado por uma
concepção de história branca e européia que
enfatizava o movimento operário na perspectiva do
branco imigrante europeu. .
UM ABISMO DE RAÇA E CLASSE
Média salarial – IBGE (2010)
Brancos...............R$ 1.538,00
Negros.........R$ 834,00
Pardos..........R$ 845,00
RENDIMENTO DOS OCUPADOS
NEGROS GANHAM 60% DO
SALÁRIO PAGO AOS BRANCOS
Pesquisa do Dieese/Seade mostra que 60,4% do valor pago a outros
grupos raciais. De acordo com o estudo elaborado em conjunto pelo
Dieese e pela Seade, um negro (grupo que inclui pretos e pardos) ganha,
em média, R$ 5,81 por hora trabalhada, contra R$ 9,62 pagos a um
nãonegro.
• O estudo mostra que o principal motivo dessa desigualdade é a
presença do negro em postos de trabalho menos especializados. Na
construção civil, por exemplo, estavam empregados, em 2010, 8,8% dos
negros e 5% dos não-negros. No serviço público, a desigualdade segue,
com a presença de 8,4% dos ocupados não-negros e 6,2% de negros.
• No grupo que inclui desde profissionais autônomos com ensino
superior até donos de negócios, o percentual é de 3,9% contra 9% de
outras camadas sociais.
ANALFABETISMO ENTRE
NEGROS(AS)
A taxa de analfabetismo é um dos indicadores em que a
existência de dois Brasis se revela com mais vigor. Entre 2000 e
2010, o número de analfabetos com 15 anos de idade ou mais
recuou de 13,63% para 9,6%. Enquanto na população branca
existem 5,9% de analfabetos com 15 anos ou mais, entre os
negros a proporção é de 14,4%, e entre os pardos, de 13%.
Nas cidades pequenas, com até 5.000 habitantes, o
analfabetismo entre os negros atinge 27,1%.
Em Salvador, brancos ganham 3,2 vezes mais que pretos. Na
comparação entre brancos e pardos, São Paulo aparece no
topo da lista da desigualdade, com rendimentos 2,7 vezes
maior.
RACISMO E MACHISMO EM CIFRAS
EU, RACISTA? NUNCA!!!
É comum dizer que não há racismo no Brasil.
Contudo, o preconceito é identificado e
reconhecido pela população brasileira. Prova
disso é a pesquisa de opinião realizada pela
Fundação Perseu Abramo em 2003. Nela, 87%
dos brasileiros admitem que há racismo no
Brasil. Destes, apenas 4% se reconhecem
como racistas.
DISCRIMINAÇÃO POLICIAL
Na pesquisa da Perseu Abramo, 51% dos negros
declararam que já sofreram discriminação da polícia,
percentual que cai para 15% quando a mesma pergunta
foi feita aos brancos
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MAPA DA VIOLÊNCIA 2010
A violência e racismo também aparecem
relacionados no Mapa da Violência 2010,
em que são analisados os homicídios entre
1997 e 2007. O estudo indica que um
negro tem 107,6% mais chances de morrer
assassinado do que uma pessoa branca.
Leis acompanham a
formação da ideologia
REFLEXOS DA TEORIA
Política de imigração na Velha República: Em 1890, por exemplo, o governo
republicano que recém havia tomado o poder baixou um decreto sobre
imigração que determinava que os asiáticos e africanos só poderiam ser
admitidos nos portos do país "mediante autorização do Congresso
Nacional".
• Eliminação do item “raça” em sucessivos censos, a partir de 1910.
• Em 18 de setembro de 1945, um decreto de Getúlio Vargas, sobre a política
de imigração no país, defendia que ela deveria obedecer à "necessidade de
preservar e desenvolver na composição étnica do País as características mais
convenientes de sua ascendência europeia”.
LEIS E DISCRIMINAÇÃO RACIAL
"A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, e
recompensará em proporção dos merecimentos de cada
um." (Art. 179, inciso XIII da Constituição Política do Império
do Brasil, de 25 de março de 1824)
"Todos são iguaes perante a lei." (Art. 72 § 2º da Constituição
da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de
fevereiro de 1891)
"Todos são iguaes perante a lei. Não haverá privilégios, nem
distincções, por motivos de nascimentos, sexo, raça,
profissões próprias ou dos paes, classe social, riqueza,
crenças religiosas ou ideas políticas." (Art. 113, § 6º da
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de
16 de julho de 1934)
LEIS E DISCRIMINAÇÃO RACIAL
A discriminação racial só foi reconhecida
oficialmente em 1951, coma aprovação da Lei Afonso
Arinos. Cem anos após a abolição da escravatura, o
Estado brasileiro, pela segunda vez, admitiria a
existência da discriminação contra os negros e
tipificaria tal procedimento como crime inafiançável e
imprescritível (artigo 5º, inciso XLII, da Constituição
de 1988), sujeitando os responsáveis à pena de
reclusão.
O ESTATUTO DA (DES)IGUALDADE
“É ‘extraordinária’ e uma ‘vitória fantástica’. Com
esse estatuto nós colocamos uma argamassa
poderosa na consolidação e sedimentação da nossa
democracia. Fora do ambiente democrático, nós
não teríamos
condições de discutir esse tipo de matéria sobre a
inclusão de negros e negras. Com a inclusão de
negros e negras damos um passo definitivo na
consolidação da democracia.”
Edson Santos Ministro da Seppir (2010)
O ESTATUTO DA (DES)IGUALDADE
O que poderia ter sido um avanço não passou de um acordo entre o PT, através do
Deputado Paulo Paim, a SEPPIR e representantes do agronegócio e ruralistas, por meio do
Senador Demóstenes Torres do DEM, relator da Comissão de Constituição e Justiça.
• Desta forma, o estatuto aprovado suprimiu pontos importantes como:
as cotas de negros nas universidades públicas, o que não tem nos causa espanto na
medida em que teve um relator que defende as cotas sociais e não raciais e que o acesso
à universidade deve ser baseado no “princípio do mérito e da capacidade de cada um”.
Da mesma forma, foi suprimida as cotas do mercado de trabalho, assim como a a
redução do percentual de 30% para 10% de cotas reservadas a participação de negros em
partidos políticos.
Outro aspecto importante excluído do texto original foi o que tratava da regularização de
terras para remanescentes de quilombos.
Há ainda neste estatuto erros gravíssimos do ponto de vista conceitual, a exemplo da
retirada das categorias raça, escravidão e identidade negra.
Nabuco e Luis Gama:
duas perspectiva na
luta contra o racismo
LUÍS GAMA
"O escravo que mata
o seu senhor pratica
um ato de legítima
defesa.“
Luís Gama (Salvador,1830
— São Paulo, 1882)
LUÍS GAMA
"Em nós, até a cor é um
defeito. Um imperdoável
mal de nascença,o
estigma de um crime.
Mas nossos críticos se
esquecem que essa cor é
a origem da riqueza de
milhares de ladrões que
nos insultam; que essa
cor convencional da
escravidão, tão
semelhante à da terra,
abriga sob sua superfície
escura, vulcões, onde
arde o fogo sagrado da
liberdade."
NABUCO E O “SUJEITO”
DA ABOLIÇÃO
"A propaganda abolicionista, com efeito, não se dirige aos
escravos.(...) A emancipação há de ser feita, entre nós,
por uma lei que tenha os requisitos, externos e internos,
de todas as outras. É, assim, no Parlamento e não em
fazendas ou quilombos do interior, nas ruas e praças das
cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da
liberdade. Em semelhante luta, a violência, o crime, o
desencadeamento de ódios acalentados, só pode ser
prejudicial ao lado que tem por si o direito, a justiça, a
procuração dos oprimidos e os votos da
humanidade toda.“
Nabuco
“O Abolicionismo”
NABUCO, PATROCÍNIO E A
“REDENTORA”
“Façamos nós, antes
que eles o faça”
LEI: BURLAR OU RESPEITAR
Utilizava-se das brechas existentes
nas próprias leis escravistas, que
não eram respeitadas pelos
fazendeiros. A principal delas era a
de 1831, pela qual foram declarados
livres todos os escravos que
ingressassem no país após aquela
data.
LUÍS GAMA
“Sou detestado pelos figurões da terra,
que já me puseram a vida em risco; mas
sou estimado em muito pela plebe.
Quando fui ameaçado pelos grandes, que
hoje encaram-me com respeito, e
admiram minha tenacidade, tive a casa
rondada e guardada pela gentalha”.
LUÍS GAMA
“Aos positivistas da macia escravidão, eu
anteponho o das revoluções da
liberdade; quero ser louco como John
Brown, como Espártacus, como Lincoln,
como Jesus; detesto, porém, a calma
farisaica de Pilatos”.
LUÍS GAMA
“Ciências e letras
Não são para ti
Pretinho da Costa
Não é gente aqui
(...)
Desculpa, meu caro amigo
Eu nada te posso dar;
Na terra que rege o branco,
Nos privam ‘té de pensar”
Luis Gama – No Álbum — do meu amigo J.A. da Silva Sobral - Trovas Burlescas de
Getulino.
Movimento negro
ea
quilombolagem
MOVIMENTO NEGRO E
QUILOMBOLAGEM
“Entre eles, tudo que é
produzido é distribuído
de acordo com o
trabalho e a
necessidade de cada
um”
(relato de espião enviado pelo
governador de Pernambuco, 1694)
MAPA DO QUILOMBO DOS
PALMARES
ZUMBI DOS PALMARES
HISTÓRIA DO NEGRO BRASILEIRO
“Entendemos por quilombagem o movimento de
rebeldia permanente organizado e dirigido pelos
próprios escravos que se verificou durante o escravismo
brasileiro em todo o território nacional.
Movimento de mudança social provocado, ele foi uma
força de desgaste significativa ao sistema escravista,
solapou as suas bases em diversos níveis – econômico,
social e militar – e influiu poderosamente para que esse
tipo de trabalho
entrasse em crise e fosse substituído pelo trabalho livre”.
Clóvis Moura
História do Negro Brasileiro (1989)
MARCOS DA “QUILOMBOLAGEM” E
DA REBELDIA NEGRAS
Rebeliões coloniais, como a "Inconfidência Baiana“ ou
Revolta dos Alfaiates, de 1798.
Participação ativa e militante na Cabagem, Balaiada,
Revolução dos Farrapos (Lanceiros Negros).Entre seus
dirigentes e participantes, contavam-se "negros
forros, negros escravos, pardos escravos, pardos
forros, artesãos, alfaiates, enfim componentes dos
estratos mais oprimidos, e/ou discriminados na
sociedade colonial da Bahia da época".
A REVOLTA DOS MALÊS
A Revolta foi planejada por um grupo de africanos muçulmanos —negros de origem haussa
e nagô, chamados de malês, devido ao fato de que, em ioruba, muçulmano é imale —
formado, dentre outros, por Ahuma, Pacífico Licutan , Luiza Mahin, Aprício, Pai Inácio, Luís
Sandim, Manuel Calafate, Elesbão do Carmo, Nicoti e Dissalu. A data escolhida, o amanhecer de 25 de janeiro,
coincidia com um dia importante do ponto de vista religioso: o fim do mês sagrado muçulmano, o Ramadã, e
dos tradicionais festejos religiosos dedicados a Nossa Senhora da Guia, que manteriam ocupados os católicos
• O objetivo da conspiração era libertar seus companheiros islâmicos e negros em geral e
matar brancos e mulatos considerados traidores. Uma meta que traduzia a complexa
combinação entre escravidão negra e perseguição religiosa, imposta pelos colonizadores
católicos.
• Dois aspectos singulares influenciaram todo o processo. Em primeiro lugar, diferentemente da grande
maioria dos negros (que compunham mais da metade dos cerca de 20 mil habitantes de Salvador) os malês
sabiam ler e escrever em árabe. Além disso, boa parte dos líderes da Revolta, era formada por “negros de
ganho” (escravos que faziam serviços urbanos, artesanato ou vendas, recebendo algo por isso) o que não só
facilitava sua
circulação pela cidade, mas também possibilitou que muitos deles comprassem sua alforria
e, nos meses que anteriores à Revolta, adquirissem armas.
• O número de pessoas envolvidas na preparação da rebelião (entre libertos, escravos,
islâmicos e gente que professa outras religiões) varia de acordo com a documentação entre
600 e 1.500, a grande esmagadora deles nascidos na própria África.
A REVOLTA DOS MALÊS
De forma desorganizada, a Revolta tomou a cidade, mas, devido à
inferioridade numérica e de armamentos, acabou sendo massacrada
pelas tropas da Guarda Nacional, pela polícia e por civis armados que
estavam apavorados ante a possibilidade do sucesso da rebelião
negra. Durante os confrontos, morreram cerca de 70 negros e
aproximadamente 10 soldados das forças repressoras. Com a derrota,
centenas foram presos, sendo condenados à deportação (muitos para
a África, algo até então inédito no Brasil), a brutais castigos ou à pena
de morte. Na seqüência do evento, instalou-se na Bahia, sobretudo
em Salvador e Santo Amaro, a mais generalizada e cruel repressão
contra os escravos que estendeu a perseguição a outros malês. O
temor provocado pela rebelião foi tamanho que a corte imperial
proibiu a transferência de qualquer escravo baiano para qualquer
outra região do país.
”
LUÍZA MAHIN:
MULHER GUERREIRA
Esta africana guerreira teve importante papel na Revolta dos Malês.
Pertencente à etnia jeje, alguns afirmam que ela foitransportada para o
Brasil, como escrava; outros se referem a ela como sendo natural da
Bahia e tendo nascido livre por volta de 1812. Em 1830 deu a luz a um
filho, Luis Gama, que mais tarde se tornaria poeta e abolicionista e
escreveria as seguintes palavras sobre sua mãe: ‘‘Sou filho natural de
uma negra africana, livre, da nação nagô, de nome Luiza Mahin, pagã,
que sempre recusou o batismo e a doutrina cristã’’. Luiza Mahin foi uma
mulher inteligente e rebelde. Sua casa
tornou-se quartel general das principais revoltas negras que
ocorreram em Salvador em meados do século XIX, dentre elas a
chamada Grande Insurreição, de 1835. Luiza conseguiu escapar da
violenta repressão desencadeada pelo Governo da Província e partiu
para o Rio de Janeiro, onde também parece ter participado de outras
rebeliões negras, sendo por isso presa e, possivelmente, deportada para
a África.
REVOLTA DA CHIBATA
"Revolta da Chibata" em 1910, capitaneada pelo
marinheiro João Cândido. Através da revolta da
Armada, Cândido conseguiu fazer com que a
Marinha de Guerra do Brasil deixasse de aplicar a
pena de açoite aos marujos (negros, em sua
maioria). Apesar da vitória e de uma promessa de
anistia, a liderança do movimento havia sido
praticamente exterminada um ano depois, e o
próprio João Cândido, embora tenha sobrevivido
ao expurgo, acabou seus dias esquecido e na
miséria. O Lulismo tem sido cúmplice de seu não
reconhecimento.
IMPRENSA NEGRA: O JORNAL COMO
ORGANIZADOR DO MOVIMENTO
Tendo como principais centros de mobilização as cidades
de São Paulo e Rio de Janeiro, os movimentos sociais
afro-brasileiros, a partir de meados dos anos 1910,tem
como principal expressão o surgimento da imprensa
negra paulista, cujo primeiro jornal, O Menelick, começa a
circular em 1915. Seguem-lhe A Rua (1916), O Alfinete (1918),
A Liberdade (1919), A Sentinela (1920) e o Clarim d' Alvorada
(1924). Esta onda perdura até 1963, quando foi fechado o
Correio d'Ébano. Conforme assinala Moura,[9] tratava-se de
"uma imprensa altamente setorizada nas suas
informações e dirigida a um público específico".
O CLARIM
O MENELICK
VOZ DA RAÇA
FRENTE NEGRA BRASILEIRA
Fundada em 16 de setembro de 1931, graças a uma forte organização
centralizada na figura de um "Grande Conselho" de 20 membros,
presidida por um "Chefe" (o que lhe valeu a acusação de movimento
fascista), e contando com milhares de associados e simpatizantes, a FNB
teve uma atuação destacada na luta contra a discriminação racial, tendo
sido, por exemplo, responsável pela inclusão de negros na Força Pública
de São Paulo. Depois dos êxitos obtidos, a FNB resolveu constituir-se
como partido político, e nesse sentido, deu entrada na Justiça Eleitoral
em 1936.
• Em 1937, com a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas, todos
os partidos políticos – inclusive a Frente Negra – foram declarados ilegais
e dissolvidos. A partir daí e praticamente até a Redemocratização, em
1945, os movimentos sociais negros tiveram de recuar para suas formas
tradicionais de resistência cultural.
TEATRO EXPERIMENTAL DO
NEGRO
Em 1944, Abdias do Nascimento fundou o Teatro
Experimental do Negro (TEN). Nascimento foi o
responsável por expressiva produção teatral onde
buscava dinamizar "a consciência da negritude
brasileira" e combater a discriminação racial. Durante
sua existência, até início dos anos 1950, publicou o
jornal “Quilombo”
QUILOMBO
A CULTURA COMO RESISTÊNCIA
Nas palavras de Clóvis Moura:“(…) durante a
escravidão o negro transformou não apenas a sua
religião, mas todos os padrões das suas culturas
em uma cultura de resistência social. Essa cultura
de resistência, que parece se amalgamar no seio da
cultura dominante, no entanto desempenhou
durante a escravidão (como desempenha até hoje)
um papel de resistência social que muitas vezes
escapa aos seus próprios agentes, uma função de
resguardo contra a cultura dos opressores.”
SOLANO TRINDADE
(RE CIF E 1908 – RIO DE JAN E IRO 1974)
Poeta brasileiro, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante
político.
• No ano de 1934 idealizou o I Congresso Afro-Brasileiro no Recife,
Pernambuco, e participou em 1936 do II Congresso Afro-Brasileiro em
Salvador, Bahia.
• Mudou-se para o Rio de Janeiro, nos anos 40 e logo depois para a São
Paulo, onde passou a maior parte de sua vida no convívio de artistas e
intelectuais. Participou de um grupo de artistas plásticos com Sakai de
Embu onde integrou na produção artística a cultura negra e tradições
afro-descendentes.
CANTARES AO MEU POVO
“Lá vem o navio negreiro
Com carga de resistência
Lá vem o navio negreiro
Cheinho de inteligência”
Solano Trindade
SOU NEGRO, A DIONE SILVA
Sou Negro
meus avós foram queimados
pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores atabaques, gonguês e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.
Depois meu avô brigou como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh'alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação...
”
GRAVATA COLORIDA
Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
CANTA AMÉRICA
Não o canto de mentira e falsidade
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos
derramadores de sangue
das utópicas novas ordens
de napoleônicas conquistas
mas o canto da liberdade dos povos
e do direito do trabalhador...
ROSA PARKS (DEZEMBRO DE 1955)
ROSA PARKS UM ANO DEPOIS
MARTIN LUTHER KING:
“EU TENHO UM SONHO...”
MALCOLM X:
“NÃO HÁ CAPITALISMO SEM
RACISMO”
PANTERAS NEGRAS
E O “BLACK POWER”
BAR STONEWALL:
BERÇO DO MOVIMENTO GLBT
REBELIÃO DE STONEWALL
28 DE JUNHO DE 1969
PRIMEIRA MARCHA
DO ORGULHO GLBT (1970)
Movimento negro
e a luta pela
democratização
O MNU E O ASCENSO DO FINAL DOS
ANOS 1970: A LUTA ANTI-REGIME
A ditadura militar brasileira inviabilizou todas as manifestações de cunho
racial. Os militares transformaram o mito da "democracia racial" em peça
chave da sua propaganda oficial, e tacharam os militantes (e mesmo
artistas) que insistiam em levantar o tema da discriminação como
"impatrióticos", "racistas" e "imitadores baratos" dos ativistas
estadunidenses que lutavam pelos direitos civis. Discutir raça era,
essencialmente, umaafronta ao caráter nacional.
O movimento negro, enquanto proposta política, só ressurgiria realmente
em 7 de Julho de 1978, quando um ato público organizado em São Paulo
contra a discriminação sofrida por quatro jovens negros no Clube de
Regatas Tietê, deu origem ao Movimento Negro Unificado Contra a
Discriminação Racial (MNU). A data, posteriormente, ficaria conhecida
como o Dia Nacional de Luta Contra o Racismo.
ATO PÚBLICO DO MNU:
07.07.1978
DEMOCRATIZAÇÃO E COOPTAÇÃO
Em 1984 foi criado o primeiro órgão público voltado
para o apoio dos movimentos sociais afrobrasileiros:
o Conselho de Participação e
Desenvolvimento da Comunidade Negra, no governo
Franco Montoro.
A Comissão Arinos, formada no interior do governo
Montoro, formatou a lei que criminalizou a
discriminação racial na Constituição brasileira de
1988. A tipificação do racismo como crime foi
estabelecida pela Lei Caó, de autoria do deputado
Carlos Alberto de Oliveira, promulgada em 1989.
MARCHA ZUMBI DOS PALMARES
(1995)
RAÇA E CLASSE
combate ao racismo
e luta anti-capitalista
J. P. CANNON
A esquerda revolucionária teve posições bastante
contraditórias (e geralmente equivocadas) no que diz
respeito à relação entre a luta contra o racismo e a
estratégia revolucionária. Como destacou o dirigente
trotskista James Cannon (em um artigo publicado
originalmente em 1959), “o movimento socialista anterior (...) jamais
reconheceu a necessidade de um programa especial para a questão
do negro. Esta era considerada pura e simplesmente um problema
econômico, uma parte da luta entre os operários e os capitalistas; a
idéia era que não se podia fazer nada sobre os problemas especiais
da discriminação e a desigualdade antes da chegada do socialismo”
(Cannon: 2000, 03)
J. P. CANNON
Como lembra Cannon, esta postura totalmente equivocada, além de impossibilitar a
incorporação de negros e negras à luta revolucionária, era e é um erro do ponto de vista
político e metodológico que, nos Estados Unidos, só começou a ser corrigido na década de
20, quando o partido, influenciado pela Revolução Russa e por Lênin, começou a atuar
poderosamente “para dar nova forma ao movimento operário e auxiliar os operários negros
a conseguir neste movimento o lugar que anteriormente lhes havia sido negado”. (Cannon:
2000, 10)
Foi esta concepção que permitiu aos revolucionários norte-americanos avaliar corretamente
as lutas de negros e negras norte-americanos na década de 50, no movimento pelos direitos
civis. Ressaltando que “a política do gradualismo [conquistas graduais, defendidas pelos
setores reformistas da época], de prometer a liberdade ao negro dentro do marco do
sistema social que o subordina e degrada, não está dando resultado”, Cannon alertou que,
exatamente por suas limitações e contradições, esse
processo poderia conduzir a militância negra para uma nova etapa que, em aliança com os
revolucionários, poderia cumprir um papel fundamental na construção do socialismo.
J. P. CANNON
“Na próxima etapa de seu desenvolvimento, o movimento
negro norte-americano se verá obrigado a orientar-se a uma
política mais combativa que a do gradualismo e buscar aliados mais
confiáveis que os políticos capitalistas do Norte (...) . Os negros, mais que
ninguém neste, tem motivo —e direito —para ser revolucionários.
As reformas e as concessões, muito mais importantes e significativas que
as obtidas até agora, serão subprodutos desta aliança revolucionária. Em
cada fase da luta se lutará a seu favor e elas serão seguidas. Porém, o novo
movimento não se deterá com as reformas, não será satisfeito com
concessões. O movimento do povo negro e o movimento operário
combativo, unificados e coordenados por um
partido revolucionário, resolverão a questão dos negros da única maneira
em que pode ser resolvida: mediante uma revolução social” (Cannon:
2000, 15)
GEORGE NOVACK
“Os marxistas são amiúde acusados por seus inimigos de negar, ignorar ou
subestimar as peculiaridades nacionais em favor das leis históricas
universais. Não é verdade. Não é correta essa crítica, embora alguns
marxistas individualmente possam ser acusados de tais erros. O marxismo
não nega a existência e a importância das peculiaridades nacionais. Seria
teoricamente estúpido e praticamente sem valor se o fizesse, dado que as
diferenças nacionais podem ser decisivas para orientar a política do
movimento operário, de uma luta nacional ou de um partido
revolucionário, durante certo período num dado país. (...) Os marxistas que
não levarem em conta este fator, como chave de sua orientação
organizativa, estarão violando o espírito do seu método. (...)”
(Novack, 1988: 37)
GEORGE NOVACK
“Nos Estados Unidos (...), a luta dos negros contra
seu caráter de cidadãos de segunda classe se
caracteriza por não ser um movimento pela
separação e sim pela demanda de integração
incondicional à vida americana, sobre bases iguais.
Sem ter em conta este caráter específico é
impossível compreender as principais tendências
da luta dos negros americanos na atual etapa.”
(Novack, 1988: 38).
GEORGE NOVACK
“Um dos maiores problemas que a revolução democrático burguesa dos
Estados Unidos deixou sem resolver foi a abolição dos velhos estigmas da
escravidão, com a integração sem restrições dos negros na vida norteamericana. (...) A questão que agora está colocada é se os atuais governantes
capitalistas ultra-reacionários dos EUA poderão levar a cabo um tarefa
nacional que foram incapazes de completar em sua época revolucionária.
Os porta vezes dos democratas e republicanos consideram necessário dizer
que poderão de fato cumprir esta tarefa; os reformistas de todo tipo juram
que o governo burguês poderá fazê-lo. É nossa opinião, contudo, que só a
luta conjunta do povo negro e das massas operárias contra os governantes
capitalistas será capaz de combater os restos da escravidão até sua conclusão
vitoriosa. Nesse sentido, a revolução socialista completará o que resta
realizar da revolução democrático-burguesa.”
(Novack, 1988: 64)
O “ESPÍRITO” DA
CONTRACULTURA
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Raça e Classe Wilson Honório 2012