1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA-CCEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA- PPGG O ENSINO-APRENDIZAGEM DAS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE RIACHO DAS ALMAS-PE MARIA REJANE DA SILVA João Pessoa 2010 2 MARIA REJANE DA SILVA O ENSINO-APRENDIZAGEM DAS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE RIACHO DAS ALMAS-PE Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Geografia. Orientador: Profº Dr. Sérgio Fernandes Alonso Co-Orientador: Profº Dr. Augusto de Amorim Cardoso João Pessoa 2010 Carlos 3 Catalogação na publicação Universidade Federal da Paraíba Biblioteca Setorial do CCEN S586e Silva, Maria Rejane da O ensino-aprendizagem das categorias geográficas nas séries iniciais do ensino.../ João Pessoa, 2010. 121 p.: il. Dissertação (Mestrado em Geografia) – UFPB/CCEN. Orientador: Profº Drº Sérgio Fernandes Alonso Inclui referências. 1. Educação geográfica 2. Ensino geográfico I. Título BS/CCEN CDU: 37:911(043) 4 “O Ensino-Aprendizagem das Categorias Geográficas nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental no Município de Riacho das Almas - PE” por Maria Rejane da Silva Dissertação apresentada ao Corpo Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia do CCEN-UFPB, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Geografia. Área de Concentração: Território, Trabalho e Ambiente Aprovada por: _______________________________________________ Profº Dr. Sergio Fernandes Alonso Orientador _______________________________________________ Profº Dr. Carlos Augusto de Amorim Cardoso Examinador interno ________________________________________________ Profº Dr. Eduardo Pazera Júnior Examinador externo ________________________________________________ Núria Hanglei Cacete Suplente Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Programa de Pós-Graduação em Geografia Curso de Mestrado em Geografia Novembro de 2010 5 Aos meus amores: Paulo Henrique, meu filho, Araã, meu esposo, e Rita, minha mãe. E em especial ao meu pai, Pedro, in memorian, que em sua simplicidade soube proporcionar a mim e a meus irmãos uma formação acadêmica. 6 AGRADECIMENTOS Ao longo destes dois anos de estudos e pesquisas nos deparamos com pessoas que de uma forma ou de outra contribuem para que nossos ideais prossigam firmes e nossos objetivos possam ser atingidos. São elas: Minha irmã Edijane, que me apoiou em todos os momentos. Minha irmã de coração, Kyara, que me apóia em tudo a que me proponho realizar A equipe gestora, professores e alunos da Escola Mário da Mota Limeira, que no ano de 2008, souberam na minha ausência da direção da escola, desempenhar suas funções de forma louvável. A equipe gestora, professores e alunos da Escola Manoel Bacelar, por estarem durante todo este tempo de curso, torcendo pelo meu sucesso e esperando meu regresso ao seu convívio. A Secretaria Municipal de Educação que nos momentos que se fizeram necessários, abriu mão do exercício de minhas funções me possibilitando a dedicação exigida à conclusão do trabalho. Aos parentes e amigos que com certeza estão felizes com esta minha conquista. Aos professores e funcionários do PPGG que se mostraram solidários e receptivos as nossas necessidades, especialmente: - Sonia Nascimento, Secretária do PPGG, que com sua simplicidade e disponibilidade, me ajudou inúmeras vezes respondendo aos meus emails e solicitações. - Profº Sergio Alonso que sempre me incentivou a prosseguir mesmo quando eu achava que não seria capaz. - Profº Carlos Augusto que no momento decisivo do trabalho se disponibilizou a colaborar com a orientação, dando contribuições valiosas no direcionamento da pesquisa e indicação de bibliografias. 7 ―Estudar Geografia é basicamente ler o mundo e construir a cidadania‖. Helena Copetti Callai 8 RESUMO O ensino-aprendizagem das categorias geográficas nas séries iniciais do ensino fundamental no município de Riacho das Almas – PE. A presente dissertação tem como objetivo verificar o ensino-aprendizagem das categorias geográficas nas séries iniciais, tomando como área de estudo as escolas municipais de Riacho das Almas - PE. Para desenvolver a pesquisa utilizou-se a aplicação de questionários a alunos e professores, sendo considerados os seguintes aspectos: metodologia utilizada em cada turma e o tipo de classe: multisseriadas ou regular, com o objetivo de se comparar os desempenhos das turmas. Buscou-se identificar as formas de abordagem das categorias geográficas em documentos oficias como PCNs, Proposta Curricular e Plano de Trabalho do Professor, fazendo uma correlação com a aprendizagem destas categorias por estes alunos. O estudo realizado trata também das teorias de ensino-aprendizagem aplicadas à Geografia e a evolução do pensamento geográfico associada aos pressupostos metodológicos das categorias geográficas. Palavras chave: categorias geográficas, ensino de Geografia, educação geográfica. 9 ABSTRACT Evaluation of teaching and learning of geographic categories in the early grades of elementary school in Riacho das Almas – PE This thesis aims to determine the teaching and learning of geographic categories in the initial series, taking as the study area public schools of Riacho das Almas – PE. To develop the research used the questionnaires to students and teachers being considered the following aspects: methodology used in each class and class type: multigrade or regular, with the objective of to compare the performances of the classes. We tried to see how the geographical categories are discussed in official documents as PCNs, curriculum and teacher's work plan, making a correlation with the learning of these students in these categories. The study also examines the theories of teaching and learning applied to geography and the evolution of geographic thought associated with the methodological assumptions of geographic categories. Keywords: geographic categories, teaching of geography, geographical education. 10 ILUSTRAÇÕES LISTA DE QUADROS Quadro 1- Avanços dos PCN segundo alguns autores 47 Quadro 2- Retrocessos dos PCN segundo alguns autores 48 Quadro 3- Saberes da disciplina de Geografia segundo Proposta Curricular 51 de Riacho das Almas - PE: Ensino Fundamental Quadro 4- Síntese das categorias geográficas nos documentos oficiais 53 Quadro 5- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 70 1ª série. Quadro 6- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 71 2ª série. Quadro 7- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 72 3ª série. Quadro 8- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 73 4ª série. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: 55 Educação Infantil Gráfico 2- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: 56 Ensino Fundamental Gráfico 3- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: 56 Ensino Médio Gráfico 4- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: 57 Educação Básica Gráfico 5- Abordagem das categorias geográficas nas séries iniciais do 68 município de Riacho das Almas - PE Gráfico 6- Carga horária por série 76 Gráfico 7- Função da Geografia 76 Gráfico 8- Procedimentos utilizados nas aulas de Geografia nas 77 11 metodologias trabalhadas no município de Riacho das Almas - PE Gráfico 9- Aprendizagens sobre rua 79 Gráfico 10- Aprendizagens sobre bairro 80 Gráfico 11- Aprendizagens sobre município 81 Gráfico 12- Compreensão dos elementos dos espaços rurais e urbanos 82 Gráfico 13- Aprendizagens sobre novas tecnologias 83 Gráfico 14- Aprendizagens sobre paisagem 84 Gráfico 15- Compreensão do conceito de território 85 Gráfico 16- Utilização de mapas 87 Gráfico 17- Utilização de gráficos 87 LISTAS DE SIGLAS PCNs Parâmetros Curriculares nacionais 14 PEADS Programa de Educação ambiental e Desenvolvimento sustentável 61 SERTA Serviço de Tecnologia Alternativa 61 DC Desempenho construído 75 DEC Desempenho em construção 75 DNC Desempenho não construído 75 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 13 CAPÍTULO 1: ENSINO-APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA 16 1.1 O processo de ensino-aprendizagem: algumas considerações 16 1.2 Teorias da aprendizagem aplicadas ao ensino e a tradição pedagógica 17 brasileira 1.2.1 Pedagogia tradicional 18 1.2.2 Pedagogia renovada 19 1.2.3 Tecnicismo educacional 20 1.2.4 Tendências pedagógicas críticas 21 1.2.4.1 O Construtivismo e a Geografia 23 CAPÍTULO 2: CATEGORIAS GEOGRÁFICAS E EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA 25 2.1 Categorias geográficas e suas abordagens metodológicas 33 2.1.1 O ensino de Geografia e as categorias geográficas segundo os PCNs 37 2.1.1.1 A inserção das categorias geográficas em cada série segundo os 43 PCNs 2.1.1.2 PCNs de Geografia: discussões sobre sua proposta teórico- 46 metodológica 2.1.2 O ensino de Geografia e as categorias geográficas segundo a proposta 49 curricular do município de Riacho das Almas – PE 2.1.3 O ensino de Geografia e as categorias geográficas segundo o 50 planejamento de ensino dos professores CAPÍTULO 3: CONTEXTUALIZAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE 54 RIACHO DAS ALMAS - PE 3.1 Escola Ativa 58 3.2 Proposta de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 59 3.3 Os PCNs no município de Riacho das Almas - PE 61 CAPÍTULO 4: GEOGRÁFICAS ENSINO NAS APRENDIZAGEM SÉRIES INICIAIS DAS DAS CATEGORIAS 66 ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE RIACHO DAS ALMAS – PE 4.1 A aprendizagem das categorias geográficas na 1ª série do ensino 78 fundamental 13 4.2 A aprendizagem das categorias geográficas na 2ª série do ensino 79 fundamental 4.3 A aprendizagem das categorias geográficas na 3ª série do ensino 82 fundamental 4.4 A aprendizagem das categorias geográficas na 4ª série do ensino 85 fundamental CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 92 APÊNDICES QUESTIONÁRIOS E QUADROS DE ANÁLISE 95 APÊNDICE A Questões gerais sobre o ensino de Geografia 95 APÊNDICE B Questões específicas da área de Geografia para a 1ª série 96 APÊNDICE C Questões específicas da área de Geografia para a 2ª série 99 APÊNDICE D Questões específicas da área de Geografia da 3ª série 102 APÊNDICE E Questões específicas da área de Geografia para 4ª série 105 APÊNDICE F Questionário do professor 108 APÊNDICE G Escolas Pesquisadas APÊNDICE H Quadro de análise sobre o ensino de Geografia 112 APÊNDICE I Quadro de análise sobre a área específica – 1ª série 113 APÊNDICE J Quadro de análise sobre a área específica – 2ª série 116 APÊNDICE K Quadro de análise sobre a área específica – 3ª série 117 APÊNDICE L Quadro de análise sobre a área específica – 4ª série 117 APÊNDICE M Quadro de análise do questionário do professor 118 14 INTRODUÇÃO O ato de ensinar Geografia coloca-nos em contato imediato com a realidade, cujo espaço é dinâmico e sofre alterações em função da ação do homem, sendo este um sujeito e agente que é parte do processo histórico. Essa consideração aponta-nos a direção da articulação entre o conteúdo específico e o processo de ensino-aprendizagem: a concepção que temos de Geografia deve estar relacionada à concepção de Educação. A educação geográfica proporciona ao estudante a compreensão de mundo tendo-se como escala uma perspectiva global, mas também representa uma possibilidade de compreender o seu entorno, o seu local de moradia, as relações que se estabelecem entre o global e o local e vice-versa. (ARAÚJO, 2009, p 10.) Desde as primeiras etapas da escolaridade, o ensino da Geografia pode e deve ter como objetivo mostrar ao aluno que cidadania é também o sentimento de pertencer a uma realidade na qual as relações entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado, constantemente em transformação, do qual ele faz parte e, portanto, precisa conhecer e sentir-se como membro participante, afetivamente ligado, responsável e comprometido historicamente. A Geografia é uma ciência social, que ao ser estudada, tem de considerar o aluno e a sociedade em que vive. Não pode ser uma coisa alheia, distante, desligada da realidade. Não pode ser um amontoado de assuntos, ou lugares (parte do espaço), onde os temas são soltos, sempre defasados ou de difícil (e muitas vezes inacessível) compreensão pelos alunos. Não pode ser feita apenas de descrições de lugares distantes ou fragmentos do espaço. [...] ―a Geografia que o aluno estuda deve permitir que ele se perceba como participante do espaço que estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem são resultados da vida e do trabalho dos homens que estão inseridos num processo de desenvolvimento. (CALLAI, 2005, p.247) Mas de que forma isto pode ocorrer? Quais conteúdos deveriam ser abordados para facilitar esta interação dos conhecimentos geográficos com a realidade do aluno? O que ensinar e em que momento? Neste trabalho far-se-á uma discussão das dimensões do processo de ensino-aprendizagem e a contribuição da Geografia neste contexto, sendo, portanto necessário enfocar as teorias de aprendizagem de forma a refletir sobre qual melhor se aplica ao campo de estudo da Geografia. Será este enfoque, portanto o ponto de partida deste trabalho. 15 Segundo Rigonato (2007) é necessário apropriar-se do conhecimento relativo à forma de aprender dos alunos, relacionando este conhecimento ao estudo do pensamento geográfico, para que se possa promover a interação do ensino da Geografia com a realidade do aluno. Em síntese, o ensino de Geografia nas séries iniciais precisa no mínimo (re)dimensionar as competências e as habilidade conforme os níveis cognitivos dos educandos para a formação de conceitos e, sobretudo, para a vida. Para isso faz-se necessário tanto conhecer as linhas pedagógicas como o pensamento geográfico. (RIGONATO, 2007, p. 4) Neste sentido o conhecimento das várias correntes do pensamento geográfico e das atuais abordagens do conhecimento geográfico brasileiro é necessário, para que os professores possam coerentemente fazer sua opção teórico-metodológica ao trabalhar a educação geográfica com seus alunos. Assim, a evolução das correntes geográficas será abordada neste estudo. Quanto às categorias geográficas, Cavalcanti (1998) destaca-as como fundamentais para o raciocínio espacial e são citadas como as mais elementares para o estudo da Geografia. Discutir a aprendizagem destas categorias é, portanto, verificar se há diferenças de abordagens e de níveis de aprendizagens destas categorias em cada metodologia ou programa vivenciado nas escolas. Qual contribui mais? Há diferenças de abordagens entre os professores? Os resultados são os mesmos? A Geografia consegue fazer seu papel de favorecer a compreensão da realidade, e nela intervir de maneira mais consciente e propositiva? Para tal far-se-á uma análise das propostas metodológicas adotadas nos documentos oficiais como PCNs, Propostas Pedagógicas e Planejamento Escolar. Concluindo com a verificação de como se dá o processo de ensino-aprendizagem das categorias geográficas pelos escolares das escolas públicas municipais de Riacho das Almas – PE. Dessa forma, tomou-se como campo de pesquisa para realização deste trabalho, nove escolas das séries iniciais do Ensino Fundamental do município de Riacho das Almas - PE. Como procedimento metodológico, se fez primeiramente, um levantamento bibliográfico interdisciplinar, cuja leitura no campo da Educação e, sobretudo, da Geografia contribuiu de maneira significativa para a contextualização desse levantamento. 16 Como instrumentos de pesquisa foram aplicados questionários a professores e alunos, a fim de dar-se o tratamento adequado às informações, ou seja, análise e levantamento de dados, na busca de obter-se subsídios necessários à elaboração das conclusões as quais serão norteadas pelos objetivos seguintes: - Identificar nos Parâmetros Curriculares Nacionais, Propostas Curriculares, Projetos Políticos Pedagógicos e Planejamento de Professores das escolas pesquisadas, as abordagens teórico-metodológicas apresentadas das categorias geográficas nas séries iniciais do ensino fundamental. - Identificar os recursos pedagógicos e os procedimentos metodológicos utilizados pelos professores das séries iniciais na abordagem destas categorias; -Verificar a compreensão das categorias geográficas pelos escolares das séries iniciais das escolas municipais de Riacho das Almas – PE; Considera-se que esta pesquisa poderá contribuir para reflexões dos docentes, sobre como se dá o processo de ensino-aprendizagem das categorias geográficas nas séries iniciais do ensino fundamental no município. Que metodologia é mais adequada e que recursos pedagógicos se apresentam mais eficientes no favorecimento da compreensão destas categorias. 17 CAPÍTULO 1: ENSINO-APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA Inicialmente, discute-se o conceito de ensino-aprendizagem. Para tal faz-se necessário enfocar-se algumas teorias ou referenciais explicativos que mais têm sido utilizados na educação brasileira e na Geografia escolar nos últimos tempos. Referenciais estes, que tratam de dar suporte pedagógico ao tratamento de noções e conceitos considerados fundamentais ao estudo da Geografia, considerando que conceitos geográficos como paisagem, região, lugar, espaço e território são prérequisitos para a compreensão dos elementos que caracterizam a organização espacial e, fundamentais para a formação de um raciocínio geográfico articulado, cumulativo e crítico. 1.1 O processo de ensino-aprendizagem: algumas considerações Tem sido a aprendizagem alvo dos estudos de grande número de pesquisadores nas últimas décadas e todos eles são unânimes em considerá-la como o comportamento mais importante dos animais superiores. Por ser um campo tão complexo e controverso, obviamente não se pretende resumi-lo, e sim abordar alguns conceitos mais significativos e adequados aos fins que se propõe atingir. Segundo Fonseca (1995, p. 127): A aprendizagem constitui uma mudança de comportamento resultante da experiência. Trata-se de uma mudança de comportamento ou de conduta que assume várias características. É uma resposta modificada, estável e durável, interiorizada e consolidada no próprio cérebro do indivíduo. Dar conta de explicar como este processo se concretiza tem sido o desafio de muitos estudiosos, que muito têm contribuído com seus conhecimentos, para que, cada vez mais, se avance em busca de ampliar a compreensão sobre como a aprendizagem se processa no indivíduo. É importante compreender o modo como as pessoas aprendem e as condições necessárias para a aprendizagem, bem como, identificar o papel de um professor, por exemplo, nesse processo. Muitas teorias são propostas e elas são importantes porque possibilitam ao professor adquirir conhecimentos, atitudes e habilidades que lhe permitirão alcançar melhor os objetivos do ensino. 18 1.2 Teorias da aprendizagem aplicadas ao ensino e a tradição pedagógica brasileira Na aprendizagem escolar existem os seguintes elementos centrais para que o desenvolvimento escolar ocorra com sucesso: o aluno, o professor e a situação de aprendizagem. As teorias da aprendizagem buscam reconhecer a dinâmica envolvida nos atos de ensinar e aprender, partindo do reconhecimento da evolução cognitiva do homem, e tentam explicar a relação entre conhecimento pré-existente e o novo conhecimento. A aprendizagem não seria apenas inteligência e construção de conhecimento, mas, basicamente, identificação pessoal e relação através da interação entre as pessoas. Quando um professor se diz adepto desta ou daquela teoria, está mesmo inconscientemente, fazendo opção por uma concepção de ensino e aprendizagem que determinará a compreensão dos papéis do professor e do aluno, da metodologia, da função social da escola e dos conteúdos a serem trabalhados. A discussão dessas questões é importante para que se explicitem os pressupostos pedagógicos que subjazem à atividade de ensino, na busca de coerência entre a prática e a dita teoria. Não se pode negar que tais práticas se constituem a partir das concepções educativas e metodológicas que permearam a formação educacional e o percurso profissional do professor, aí incluídas suas próprias experiências escolares, suas experiências de vida, a ideologia compartilhada com seu grupo social e as tendências pedagógicas atuantes. No Brasil as tendências pedagógicas que se firmam nas escolas públicas e privadas não são totalmente puras, mas sim, mescladas por aspectos de mais de uma linha pedagógica. (BRASIL, 1997a p. 39) Segundo Moreira (1985), de um modo geral, pode-se distinguir três grandes enfoques teóricos ao processo ensino-aprendizagem: o comportamentalista, o cognitivista e o humanístico. Para melhor compreender como os estudos sobre o processo de ensinoaprendizagem evoluiu no Brasil apresenta-se a seguir um enfoque teórico destes processos e sua relação com a tradição pedagógica brasileira ao longo do tempo. Segundo os PCNs, em seu documento de Introdução do Ensino Fundamental: 19 São quatro as tendências identificadas na tradição pedagógica brasileira considerando-se a influência de movimentos internacionais e as especificidades da nossa história política, social e cultural: tradicional, renovada, tecnicista e as marcadas por preocupações políticas e sociais (pedagogia libertadora e pedagogia crítico-social dos conteúdos). (BRASIL, 1997a, p. 41) 1.2.1 Pedagogia tradicional Ainda segundo os PCNs a pedagogia tradicional baseia-se na exposição oral dos conteúdos, numa seqüência predeterminada e fixa independentemente do contexto escolar. È uma proposta de educação centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. A função da escola neste modelo de educação é transmitir conhecimentos disciplinares para a formação geral do aluno, formação esta que o levará, ao inserir-se futuramente na sociedade, a optar por uma profissão valorizada. (Brasil, 1997a p. 39) Portanto, este modelo reflete uma postura conservadora onde se enfatiza a memorização dos conteúdos, através de exercícios repetitivos e destituídos de significados para o aluno, já que não estabelece relação entre os conteúdos que se ensina e os interesses dos alunos, tampouco entre esses e os problemas reais que afetam a sociedade. Compreende-se que esta tendência está fundamentada na corrente comportamentalista que considera a aprendizagem uma ação decorrente de uma resposta a estímulos do ambiente externo. ―Não leva em consideração o que ocorre dentro da mente do indivíduo durante o processo de aprendizagem, pois tem como premissa que o estudo do comportamento não depende de conclusões sobre o que se passa dentro do indivíduo‖ (MOREIRA, 1985, p. 6). A teoria de Skinner é, provavelmente, a que melhor representa esta corrente. Segundo Moreira, Skinner afirma em seus estudos que em escolas, o comportamento de alunos pode ser modificado pela apresentação de materiais em cuidadosa seqüência e pelo oferecimento de recompensas ou reforços apropriados. Para ele, o que interessa é o comportamento observável e não o que ocorre dentro da mente. Sua orientação comportamentalista considera o homem como um organismo passivo governado por estímulos externos ambientais (MOREIRA, 1985, p. 19). 20 1.2.2 Pedagogia renovada Concepção que no Brasil inclui várias correntes ligadas ao movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. A pedagogia renovada traz como princípio norteador o individuo como um ser livre, ativo e social. Baseada na corrente cognitivista ocupase dos processos mentais. A aprendizagem se dá à medida que o indivíduo estabelece relações de significação, atribui significados à realidade em que se encontra. O professor é visto como facilitador no processo de busca do conhecimento que deve partir do aluno. O centro das atividades é o aluno e não o professor. O mais importante é a aprendizagem e não o ensino. Entretanto, a idéia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos não deve desconsiderar a necessidade de um trabalho planejado que não perca de vista o que deve ser ensinado e aprendido. Piaget e Ausubel são adeptos desta corrente. A Epistemologia Genética de Piaget tem enfoque na estrutura cognitiva do sujeito. Segundo esta teoria, as estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação que são a assimilação e a acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Há diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo. Piaget distingue quatro períodos gerais de desenvolvimento cognitivo: sensório-motor, pré-operacional, operacional concreto, operacional-formal. Segundo Moreira (1985) Piaget descreve estes estágios: Para entender o mecanismo desse desenvolvimento,..., distinguiremos quatro períodos principais em seqüência aquele que é caracterizado pela constituição da inteligência sensório-motora. A partir do aparecimento da linguagem, ou mais precisamente, da função simbólica que torna possível sua aquisição (1 a 2 anos), começa um período que se estende até perto de quatro anos e vê desenvolver-se um pensamento simbólico e pré-conceptual. De 4 a 7 ou 8 anos, aproximadamente, constitui-se, em continuidade íntima com o precedente, um pensamento intuitivo cujas articulações progressivas conduzem ao limiar da operação. De 7 ou 8 até 11 ou 12 anos de idade, organizam-se as operações concretas, isto é, os grupamentos operatórios do pensamento recaindo sobre objetos manipuláveis ou suscetíveis de serem intuídos. 21 A partir dos 11 a 12 anos e durante a adolescência, elabora-se por fim o pensamento formal, cujos grupamentos caracterizam a inteligência reflexiva acabada. (PIAGET, 1977, p. 127 apud MOREIRA 1985, p. 52) Assim, segundo Piaget (1977 apud MOREIRA 1985), para que ocorra a aprendizagem é preciso provocar o desequilíbrio na mente da criança, para que ela busque se reestruturar cognitivamente e aprenda. Naturalmente, os níveis de desenvolvimento da criança devem ser respeitados pelo professor, que deve ser tão ativo quanto à criança. As crianças devem ter oportunidades de agir (prática) e estas ações devem sempre estar articuladas ao discurso do professor. Vale ressaltar que segundo Azenha (2003), a teoria de Piaget não é uma teoria de aprendizagem e sim do desenvolvimento mental, cujos pressupostos são utilizados no contexto educacional no que concerne ao processo de ensinoaprendizagem. Ausubel é outro representante do cognitivismo e, como tal, propõe uma explicação teórica do processo de aprendizagem segundo o ponto de vista cognitivista. O fator mais importante da aprendizagem é o que o aluno já sabe. Para ocorrer à aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes. Na teoria de Ausubel ocorre uma aprendizagem significativa quando novas informações são processadas a partir das informações que os indivíduos já possuem. Ou seja, para aprender o indivíduo deve ser possuidor de conhecimentos preexistentes que subsidiariam a nova aprendizagem. A essência da aprendizagem significativa reside em que as idéias expressadas simbolicamente são relacionadas de modo não-arbitrário, mas substancial, com o que o aluno já sabe. O material que aprende é potencialmente significativo para ele. (AUSUBEL, 1976, p. 57, apud SACRISTÁN, 2000, p. 37) 1.2.3- Tecnicismo educacional Inspirada nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, o tecnicismo proliferou no Brasil na década de 1970. O que é valorizado não é o professor, mas a tecnologia; o professor passa a ser um mero especialista na aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites 22 possíveis e estreitos da técnica utilizada. Define a atividade pedagógica como altamente controlada e dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente programada em detalhes. Portanto, não considera o processo particular de cada aluno quanto à aprendizagem sendo assim fundamentada na corrente comportamentalista. 1.2.4-Tendências pedagógicas críticas A partir de 1980 com a abertura política decorrente do final do regime militar firmam-se no meio educacional, tendências pedagógicas de cunho mais crítico. São elas: a pedagogia libertadora e a pedagogia crítico-social dos conteúdos. A pedagogia libertadora pauta-se em discussões de temas sociais e políticos e em ações sobre a realidade social imediata. O professor é um coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente com os alunos. A pedagogia crítico-social dos conteúdos se põe como uma reação de alguns educadores que não aceitam a pouca relevância que a pedagogia libertadora dá ao aprendizado do chamado saber elaborado, historicamente acumulado, que constitui parte do acervo cultural da humanidade. Esta concepção assegura a função social e política da escola mediante o trabalho com conhecimentos sistemáticos, a fim de colocar as classes populares em condições de uma efetiva participação nas lutas sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, mas que é necessário que se detenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos possam interpretar suas experiências de vida e defender seus interesses de classe. (BRASIL, 1997a, p. 42) Estas tendências pedagógicas marcaram a tradição educacional brasileira, e trouxeram contribuições para uma proposta atual que busque integrar as abordagens psicológicas, sociais e políticas, necessárias a uma adequação pedagógica que caracteriza um aluno que pensa, um professor que sabe e conteúdos permeados de valores sociais e formativos. Esta proposta enfoca o caráter social do processo de ensino aprendizagem e é influenciada pela psicologia genética sendo, portanto, adepta da corrente cognitivista. Pode-se, entretanto, caracterizar esta proposta com humanística, pois destaca a auto-realização sendo o homem colocado como sujeito. A linha humanística não limita a aprendizagem ao 23 aumento de conhecimentos, ela é penetrante e influi nas escolhas e atitudes do aprendiz. O ensino deve facilitar este tipo de aprendizagem. Roger representa esta corrente. De acordo com Moreira, para Roger, o ensino deve ser centrado no aluno, a atmosfera da sala de aula deve ter o estudante como centro. Implica em confiar na potencialidade do aluno para aprender, em criar condições favoráveis para o crescimento e auto-realização do aluno, em deixá-lo livre para aprender, manifestar seus sentimentos, escolher suas direções, formular seus próprios problemas, decidir sobre seu próprio curso de ação, viver as conseqüências de suas escolhas. O professor passa a ser um facilitador cuja autenticidade e capacidade de aceitar o aluno como pessoa, e de colocar-se no lugar do aluno, são mais relevantes, para criar condições para que o aluno aprenda, do que sua erudição, suas habilidades e o uso que faz de recursos instrucionais. (MOREIRA, 1985, p. 81) De acordo com os PCNs, a psicologia genética, que como se citou anteriormente, enquadra-se na proposta que enfoca o caráter social do processo de ensino-aprendizagem, corrobora para o aprofundamento da compreensão deste processo. Compreender os mecanismos pelos quais as crianças constroem representações internas de conhecimentos construídos socialmente, em uma perspectiva psicogenética, traz uma contribuição para além das descrições dos grandes estágios de desenvolvimento. (BRASIL, 1997a, p. 43) A pesquisa sobre psicogênese da língua escrita chegou ao Brasil em meados dos anos de1980 e causou grande impacto, revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais e, ao mesmo tempo, provocando uma revisão do tratamento dado ao ensino e a aprendizagem em outras áreas do conhecimento. Essa investigação evidencia a atividade construtiva do aluno sobre a língua escrita, objeto de conhecimento reconhecidamente escolar, mostrando a importância dos conhecimentos específicos sobre a escrita, que a criança já tem, os quais, embora não coincidam com os dos adultos, faz sentido para ela. (BRASIL, 1997a, p. 43) A metodologia utilizada pela psicogênese foi muitas vezes interpretada como uma proposta de pedagogia construtivista para alfabetização. O que expressa um duplo equívoco: redução do construtivismo a uma teoria psicogenética de aquisição da língua escrita e transformação de uma investigação acadêmica em método de ensino. Com esses equívocos, difundiram-se sobre o rótulo de pedagogia construtivista, as idéias de que não se devem corrigir erros e de que as crianças 24 aprendem fazendo ―do seu jeito‖. Essa pedagogia, dita construtivista, trouxe sérios problemas ao processo de ensino-aprendizagem, pois desconsidera a função primordial da escola que a é de ensinar, intervindo para que os alunos aprendam o que, sozinhos, não têm condições de aprender. (BRASIL, 1997a, p. 43) Entretanto, para a Geografia, a pedagogia construtivista trouxe suas contribuições e segundo alguns pensadores pode ser uma tendência que muito tem a contribuir no processo de ensino-aprendizagem desta área. 1.2.4.1- O Construtivismo e a Geografia No dizer de Castellar (2005, p. 38) nesta corrente, o conhecimento é visto não como mera cópia do mundo exterior, mas como ―um processo de compreensão da realidade, a partir das representações que as pessoas têm dos objetos e fenômenos (significados), em consonância com seus próprios conhecimentos e experiências‖. Para a autora, o construtivismo não é uma explicação para tudo o que ocorre no mundo e nas escolas, mas é: Uma perspectiva epistemológica a partir da qual se tenta explicar o desenvolvimento humano e que nos serve para compreender os processos de aprendizagem, assim como as práticas sociais formais e informais que facilitam a aprendizagem. (CASTELAR, 2005, p.48) Castorina (1988) é outro autor que corrobora com a concepção de que na passagem dos estados de menor conhecimento aos estados de maior conhecimento ocorre um processo interativo entre o sujeito e o objeto e é nessa perspectiva que ocorrerá a construção do conhecimento. É, portanto a concepção construtivista que este autor considera aplicável ao ensino da Geografia. Straforini (2006, p. 69) concorda com Stein (1999) e Pinheiro (1997) quando dizem que o construtivismo é o melhor do conhecimento já produzido para trabalhar a aprendizagem. De acordo com Pontuschka (2007, p. 30), sobre o processo de ensinoaprendizagem em Geografia é fundamental ter-se presente que aprendizagem envolve compreensão, pois o que se aprende sem compreender não é verdadeiro. É necessário buscar os fundamentos da Geografia e suas explicitações metodológicas para que a potencialização do processo ensino-aprendizagem aconteça. 25 Estudar os nomes dos rios do Brasil ou da Rússia e os eixos viários que dão acesso as principais metrópoles do país somente será válido se for para a construção de significados, ou seja, se esses estudos tiverem significado na vida das pessoas e dos nossos alunos. De modo que, as teorias aqui apresentadas servem como parâmetros para compreender como vem sendo visto o processo de ensino-aprendizagem ao longo dos tempos e como os estudos de cientistas e educadores modernos têm contribuído para aprofundar-se e compreender-se como os indivíduos aprendem. No Brasil muitos destes teóricos foram e ainda são referenciais importantes que muito influenciaram e influenciam a pedagogia brasileira sendo importante para nosso estudo compreender o desenvolvimento das idéias que permeiam nossa realidade educacional na atualidade. Entende-se ser o construtivismo, uma tendência pedagógica apropriada ao ensino da Geografia, por considerar que o processo de construção do conhecimento é indissociável da compreensão da realidade. Para tal o conhecimento do mundo ao nosso redor é essencial neste processo. E é a Geografia que deve dar conta desta tarefa. 26 CAPÍTULO 2: CATEGORIAS GEOGRÁFICAS E EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA Para discutir os princípios metodológicos que melhor se aplicam ao ensino da Geografia, enfoca-se neste capítulo a evolução do pensamento geográfico e de suas categorias fundamentais, como também a inserção destas categorias no processo de ensino, tendo como foco os documentos oficiais utilizados como parâmetro para o trabalho docente. Como já foi citado, Cavalcanti (1998) destaca as categorias geográficas, como fundamentais para o raciocínio espacial e as mais elementares para o estudo da Geografia. Neste sentido, Moreira (2007) dá importante contribuição, quando apresenta a idéia de que a Geografia e a educação geográfica concorrem para o mesmo fim, de compreender e construir o mundo a partir das idéias que formam dele. De acordo com Moreira (idem), espaço, território e paisagem formam o rol das categorias de base de toda construção e leitura geográfica das sociedades. Contudo, a categoria lugar será também considerada no estudo, pois esse conceito tornou-se atualmente central para a Geografia, exatamente no momento em que está em andamento o processo de globalização e de expansão planetária do capitalismo, quando alguns autores, apontam para a aniquilação das expressões culturais específicas dos lugares, enquanto outros apontam em direção contrária, destacando as relações entre o local e o global, como construtoras de outra (nova) forma de cultura: a cultura de massa, em que o local se destaca no global, exatamente por suas características peculiares. Para discutir estas categorias, reportar-se à constituição e o enunciado dos pressupostos metodológicos da Geografia em fins do século XIX. Neste período, encontramos no interior da Geografia Tradicional, a disputa entre deterministas e possibilistas. No decorrer do século XX surge a Geografia Quantitativa, neo- positivista que se opõe a Geografia Regional de Hartshorne e a própria Geografia Tradicional. Na década de 1970 há a contraposição da Geografia Crítica em uma vertente materialista histórica à Geografia Teorética. Atualmente, o culturalismo coloca-se como contraponto às tendências marxistas. A conceituação das categorias geográficas ao longo deste processo é resultado destes embates, das diferentes maneiras de encarar o ato de modelar a 27 superfície terrestre, apresentadas pelos teóricos que discutiram e discutem ainda hoje os pressupostos metodológicos da Geografia. A categoria espaço nem sempre foi considerada como categoria-chave. Com exceção das obras de Ratzel, que abordava a questão do espaço vital, sendo para ele o espaço consolidado pela expansão territorial; na Geografia Tradicional, o espaço era trabalhado de maneira implícita, apresentando uma área como sua correspondência. Este era o espaço de Hartshorne, o grande teórico do regionalismo geográfico, que considerava que o espaço existia somente quando os fenômenos encontrados em seu interior relacionam-se de forma única, não se concebendo generalizações. (HARTSHORNE apud CORREA, 1995, p. 19) O espaço surge como conceito estrutural, a partir da revolução teóricoquantitativa ocorrida na Geografia na década de 1950. O espaço é concebido sob forma de planície isotrópica, constituindo-se em um modelo. A planície isotrópica detém homogeneidade física, econômica e social, correspondendo a um padrão perfeito, dentro da análise geográfica. (ROCHA, 2008, p. 129) Estabelecendo-se como contraponto da Geografia Teorética, tanto quanto da Geografia Tradicional, ambas alicerçadas no Positivismo, a Geografia Crítica marxista surge entre os anos 1960 e a década de 1970, estabelecendo novos paradigmas. A questão da ausência da análise espacial e o significado de espaço motivaram debates entre os geógrafos por todo este período. De acordo com Harvey (1975), citado por Corrêa (1995), a espacialidade foi negligenciada pela teoria marxiana, enquanto que para Soja (1993 apud Corrêa, 1995), o espaço foi trabalhado como receptáculo, conceituação muito próxima dos modelos praticados pelas ciências burguesas. A efetivação do espaço, como categoria espacial, surge nos trabalhos de Henri Lefebvre apud Corrêa (1995) estabelecendo-se como espaço social, em estreita correlação com a sociedade. O espaço para este autor é concebido como o lócus da reprodução da sociedade. A concepção de Lefebvre sobre espaço amparou os trabalhos de Milton Santos, cuja preocupação maior estabeleceu-se na formação do conceito de espaço social e de seus desdobramentos para a realidade geográfica. É na Geografia Crítica que o espaço é colocado como categoria preponderante. Milton Santos define-a como essencial, pois concentra a materialidade onde a natureza se transforma, em seu todo, de forma produtiva. 28 ... O espaço não é nem uma coisa, nem um sistema de coisas, senão uma realidade relacional: coisas e relações juntas. Eis por que sua definição não pode ser encontrada senão em relação a outras realidades: a natureza e a sociedade, mediatizadas pelo trabalho... (SANTOS, 1994, p. 28) Milton Santos coloca através desta conceituação, a importância da natureza e da sociedade na constituição espacial. O antigo paradigma geográfico ressurge. O espaço seria o movimento das relações entre a concretude física do planeta e da humanidade. A mediatização realizada pelo trabalho produz a construção do espaço que se vislumbraria como um conjunto indissociável de objetos geográficos, naturais e sociais, com a sociedade em movimento. O espaço seria um conjunto de formas, contendo frações da própria sociedade que se movimenta. (ROCHA, 2008, p. 131) Ao analisar a importância do espaço para as diversas tendências da Geografia, verifica-se a necessidade de se evidenciar o território, categoria de relevo, na atualidade desta ciência. O território é considerado atualmente como um espaço definido por um conjunto de relações de poder. Conseqüentemente o território será considerado um espaço controlado por grupos humanos, produzindo territorialidades específicas, das quais o poder se origina. Este processo é observado por intermédio de múltiplas escalas: mundiais, regionais e locais, cuja espacialidade e temporalidade se expressam de maneira contínua ou descontínua. Rocha (2008, p.130) afirma: As conceituações contemporâneas sobre território colocam o espaço com a capacidade de suportar diversas territorialidades simultaneamente, associadas com temporalidades idênticas ou diferenciadas. Assim, em uma mesma cidade, em um mesmo bairro especifico ou até mesmo em uma rua, vários territórios podem conviver. A Geografia Cultural possibilitou a transposição da hegemonia da Geografia Política, no tocante às questões sobre territorialidade. Para a Geografia Política Clássica, o Estado era a única categoria a ser considerada em sua análise. Hoje, a multiplicidade, a sobreposição territorial e a ausência definida de fronteiras, ampliam as questões do controle do poder na realidade geográfica em todas as escalas. Rocha (2008, p. 136) apresenta as seguintes considerações sobre território. Em conjunto com as categorias espaço, região, paisagem e lugar, o território estabelece-se como um de seus pilares. Na última década, ocupou o lugar do espaço como categoria central, tornando-se prioritário nos trabalhos epistemológicos. Esta tendência é visualizada desde o final dos anos 1980, quando se iniciou uma reformulação das tendências da 29 ciência geográfica. A partir desta fase, o território passou a ser considerado como uma de suas categorias chave. O primeiro grande teórico da Geografia a trabalhar com a categoria território evidenciou-se na figura de Friedrich Ratzel, um dos sistematizadores do conhecimento geográfico. Sua obra foi construída no final do século XIX na Alemanha, tornando-se um dos precursores da Geografia tradicional, alicerçada no Positivismo de Augusto Comte. Moraes (1992 apud Rocha, 2008, p. 136) coloca a definição de Ratzel de espaço e de território: [...]‖Os diferentes fatores que impulsionam o progresso de um povo, colocando-o na senda da civilização, possuem um pano de fundo comum: o ‗teatro‘ onde se desenrola tal processo - a superfície da Terra. A relação do homem com o meio seria uma constante nos acontecimentos que interessam à história do homem, esse ‗ser terrestre‘. Daí a visão de Ratzel da ‗unidade telúrica, entre a história da humanidade e a do planeta. A Terra é posta como substrato indispensável da vida humana, sua condição universal de existência. O espaço, segundo ele, encerra as condições de trabalho da sociedade, que aumenta progressivamente com o seu desenvolvimento‖ [...] [...] ―O território seria, em sua definição, uma determinada porção da superfície terrestre apropriada por um grupo humano. Observa-se que a propriedade qualifica o território, numa concepção que remonta as origens do termo na Zoologia e na Botânica (onde ele é concebido como área de dominância de uma espécie animal ou vegetal). Dessa forma, o território é posto como um espaço que alguém possui, é a posse que lhe dá identidade‖[...] A concepção naturalista de território é exposta por Ardrey apud Haesbaert (2004, p. 45): [...] Uma área do espaço, seja de água, de terra ou de ar, que um animal ou grupo de animais defende como uma reserva exclusiva. A palavra é também utilizada para descrever a compulsão interior em seres animados de possuir e defender tal espaço [... ] Quando Ratzel define sua concepção de território, concomitantemente especifica o surgimento da Geografia política. A questão do surgimento do Estado é observada como conseqüência da preocupação do homem, com a proteção de seu espaço de poder. O território surge com o desenvolvimento da família e a conseqüente ampliação da área disposta em seu entorno, para proteção e alimentação. O conjunto de várias famílias complexas possibilitou a ampliação territorial e posteriormente à formação do Estado, entidade controladora desta instituição. 30 Exatamente neste ponto, Ratzel passa a construir seu processo teórico em relação ao espaço vital, resultado da necessidade territorial dos grandes Estados. O espaço vital serviu como suporte a expansão germânica, que resultou na Primeira Guerra Mundial. O território, para Ratzel era um instrumento de dominação de um determinado povo sobre outros, ampliando sua área de influência econômica e cultural. O território como expressão da ocupação espacial pelo homem deveria ter sido considerado por todas as Ciências Sociais, porém segundo Haesbaert (2004, p. 31) a Geografia que deveria ter sido a pioneira, esteve ausente nas primeiras horas do debate epistemológico e somente a partir dos anos 1960, a dimensão espacial/territorial passou a ser considerada. A partir do final dos anos 1980, a Geografia passou a considerar o território no interior de suas múltiplas facetas e interpretações. Cada Ciência Social em particular, vê o território sob um prisma diferente. Os geógrafos observam-no através da ênfase à sua materialidade, e o relacionamento homem e natureza nele embutido. A Ciência Política problematiza suas concepções de poder, a Antropologia sua dimensão simbólica. A construção positivista da sistematização das ciências produziu compartimentos estanques, individualizando o processo de captação da realidade. A tendência atual é superar este espírito, construído pelo Positivismo. A subjetividade passou a ser desconsiderada pela Geografia, resultante de um amplo processo de condicionamento ideológico de alguns geógrafos marxistas. Desta forma, Haesbaert agrupou as concepções de território em três vertentes: a política - relações de poder de forma geral, a cultural – priorizando a dimensão simbólica e subjetiva do fenômeno, a econômica, enfatizando a relação capital – trabalho, e finalmente a interpretação naturalista, que compreende o território como resultante da transposição da ordem animal para a organização espacial humana. Rogério Haesbaert (2005, p. 6775) conceitua o território desde sua origem, trabalhando as concepções etimológicas, próprias do cerne de seu significado: o território nasce com uma dupla conotação, material e simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de terra-territorium quanto de terreo-territor (terror, aterrorizar), ou seja, tem a ver com dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror, do medo – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no ‗territorium‘ são impedidos de entrar. Ao 31 mesmo tempo, por extensão, podemos dizer que, para aqueles que têm o privilégio de usufruí-lo, o território inspira a identificação (positiva) a efetiva ‗apropriação. Território para Haesbaert teria dois significados. O primeiro estaria relacionado à questão própria do poder político e, a outra, ligar-se-ia ao sentido de dominação, conseqüentemente de apropriação. Apropriar-se de um determinado espaço seria vivê-lo, construí-lo, relacionando-o com a questão do ―sentir‖. Surge a questão da multiplicidade do território, em um determinado espaço geográfico. A lógica do território eminentemente político, estaria sujeito a unifuncionalidade. Ao contrário, dentro de um mesmo espaço geográfico podem coexistir territorialidades diferentes, sobrepostas ou paralelas. Os territórios estão acoplados aos sujeitos, que lá vivem e que são condicionados pelo poder ou o reproduzem continuamente. A paisagem também possui seu lugar nas discussões geográficas e retoma o seu ponto de origem sendo apreciada como depoimento das metamorfoses do espaço social, diante da diferenciação territorial. Considere-se o que Rocha (2008, p. 139) apresenta sobre paisagem. Em conjunto com as categorias espaço e território, a paisagem também apresenta diversas conceituações. Em seu âmago, a paisagem é discutida com o objetivo de se estabelecer o tipo e os níveis de relacionamento entre as relações sociais e a natureza em um determinado espaço. Estas concepções contrapostas originaram-se principalmente da existência de ―escolas nacionais‖ que divergem quanto ao entendimento de seu funcionamento como categoria geográfica, de suas características e de seus fundamentos epistemológicos. A Geografia alemã compreendeu a paisagem como um conjunto de fatores naturais e humanos. Os autores franceses relacionaram o homem com seu espaço físico. A Geografia quantitativa substituiu o termo landscape por região, definindo-a como um conjunto de variáveis abstratas deduzidas da paisagem e da ação humana. Paralelamente, uma visão ecológica, surgida na Alemanha e nos Estados Unidos, identificou as unidades de paisagem, como conjunto de processos ecológicos. A maioria dessas abordagens refletiu posicionamentos filosóficos de um determinado período histórico. O Positivismo analisou-a a como elemento estático, o Marxismo fixou-a como um elemento da ação entre o capital e o trabalho. Atualmente, a paisagem possui uma abordagem holística, com o predomínio da visão culturalista. Milton Santos (1994) aborda a questão da paisagem em relação às categorias espaço e território, diferenciando-as dentro de parâmetros específicos: ...‖Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima‖...(SANTOS, 1994, p. 103.) A palavra paisagem é freqüentemente utilizada em vez da expressão configuração territorial. Está é o conjunto de elementos naturais e artificiais 32 que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, a paisagem é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão. Assim, quando se fala em paisagem, há, também, referência a configuração territorial e, em muitos casos, o uso das duas expressões é indiferente ―... (SANTOS, 1994, p. 103.) Em uma definição anterior, Santos (1994) conceitua paisagem também como o domínio do visível: ... ―Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons‖... (SANTOS, 1994, p. 61.) Apresentando uma visão ampliada da essência da paisagem, Besse (2006 apud Rocha, 2008) coloca sua interioridade como fora da captação dos sentidos: ...O ponto de partida da análise geográfica seria, sem dúvida, o seguinte: mesmo sendo a paisagem uma dimensão do visível, esta paisagem é o resultado, o efeito, ainda que indireto e complexo, de uma produção. A paisagem é um produto objetivo, do qual a percepção humana só capta, de início, o aspecto exterior. Há como que um ‗interior‘ da paisagem, uma substância, um ser da paisagem que só deixa ver seu exterior. É, aliás, isto que dará aos olhos de certos geógrafos, o limite da abordagem paisagística. Ao mesmo tempo, a intenção e a esperança científicas do geógrafo consistem em tentar ultrapassar esta superfície, esta exterioridade, para captar a ‗verdade‘ da paisagem... (BESSE, 2006, p.65 apud ROCHA, 2008, p. 140) Entretanto, Milton Santos, em considerações posteriores, também se preocupou com a dimensão da percepção sensorial na tentativa de cultivar a emersão da essência da paisagem: ...‖Nossa tarefa é a de ultrapassar a paisagem como aspecto, para chegar ao seu significado. A percepção não é ainda conhecimento, que depende de sua interpretação e esta será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar por verdadeiro só a aparência‖... (SANTOS, 1994, p.62) Os dois posicionamentos aproximam-se, pois tendem a observar não somente a aparência da paisagem, mas sim o que se vislumbra em sua interioridade. No dizer de Santos, (1994, p. 71) a produção do espaço é resultado da ação humana sobre o próprio espaço, através de objetos naturais e artificiais. Cada tipo de paisagem é a reprodução de aspectos diferentes de forças produtivas. Portanto, a paisagem embute em seu cerne estas mesmas forças que a construíram. Conseqüentemente, a paisagem deverá ser decifrada através de um conjunto de signos que possa nos assegurar sua verdadeira leitura, aprendendo a 33 compreender seus códigos. Para Besse, a paisagem demonstra os vestígios do homem sobre a Terra, produzindo traços da atividade humana, fixando suas marcas. ―A paisagem para o geógrafo é a impressão da sociedade humana‖. (Rocha, 2008, p. 141) Avalizando a postura de Besse, Milton Santos também define a questão da paisagem na Geografia como básica para esta ciência, citando as palavras do historiador Marc Bloch: O seu caráter de palimpsesto, memória viva de um passado já morto, transforma a paisagem em precioso instrumento de trabalho, pois ‗essa imagem imobilizada de uma vez por todas‘ permite rever as etapas do passado numa perspectiva de conjunto... o que temos diante de nós são apenas fragmentos materiais de um passado – de sucessivos passados – cuja simples recolagem não nos ajuda em muito. De fato, a paisagem permite apenas supor um passado. Se quisermos interpretar cada etapa da evolução social, cumpre-nos retomar a história que esses fragmentos de diferentes idades representam juntamente com a história tal como a sociedade a escreveu de momento em momento. Assim, reconstituímos a história pretérita da paisagem, mas a função da paisagem atual nos será dada por sua confrontação com a sociedade atual. (... BLOCH, apud SANTOS, 1994. p. 107) De acordo com Rocha (2008), a paisagem para Besse é a cultura encarnada, é a expressão da existência humana, é a portadora de um sentido, a marca espacial do encontro do homem com o mundo. A paisagem passa a ser a forma com que os homens constroem uma nova natureza, sobre a natureza primitiva, a primeira natureza. Conseqüentemente, ela é mais mundo social do que natureza primária. É a cultura expressa sobre o universo material. A paisagem não é nada mais do que o conjunto de mediações, ou propriamente a cultura. Comparando as definições fenomenológicas de Dardel, expostas no trabalho de Besse, com as de Milton Santos, soma-se a questão da historicidade. Freqüentemente, trata-se a paisagem como história congelada. Porém, ela também se processa como história viva, participando das formas que se constroem no espaço. Desta maneira, a paisagem passa a ser testemunha da sucessão dos meios de trabalho, em um resultado histórico acumulado. Segundo Besse a leitura da paisagem desenvolve-se dentro de requisitos especiais: …‖Ler a paisagem é extrair formas de organização do espaço, extrair estruturas, formas, fluxos, tensões, direções e limites, centralidades e periferias‖... (BESSE, 2006, p. 64 apud ROCHA 2008, p. 141) 34 O lugar como categoria geográfica por muito tempo foi tratado como sendo a expressão do espaço geográfico na escala local. Recentemente é tratado como conceito fundamental e analisado de forma mais abrangente. No dizer de Santos (1997, apud Suertegaray, 2001, p. 07), o lugar é a dimensão da existência que se manifesta através ―de um cotidiano‖. Refere-se a um tratamento geográfico do mundo vivido. A visão de mundo vivido local-global do autor é expressa quando o mesmo refere-se ao lugar dizendo: No lugar, nosso próximo, se superpõe dialeticamente ao eixo das sucessões, que transmite os tempos externos das escalas e o eixo dos tempos internos, que é o eixo das coexistências, onde tudo se funde, enlaçando definitivamente, as noções e as realidades de espaço e tempo. De forma que, ele leva em conta, outras dimensões do espaço geográfico que sejam objetos, ações, técnica e tempo. Lisboa corrobora com esta idéia quando diz: ―O conceito de lugar faz referência a uma realidade de escala local ou regional e pode estar associado a cada indivíduo ou grupo‖ (LISBOA, 2002, p. 30). E ainda afirma: ―O lugar pode ser entendido como a parte do espaço geográfico efetivamente apropriado para a vida, área onde se desenvolvem as atividades cotidianas ligadas à sobrevivência e às diversas relações estabelecidas pelos homens‖. (LISBOA, 2002, p. 30). 2.1 Categorias geográficas e suas abordagens metodológicas Após esta exposição sobre a evolução do pensamento geográfico e de que forma as categorias geográficas foram discutidas ao longo dos tempos, apresenta-se uma discussão de como estas categorias e seus conceitos-chave são introduzidos no meio educacional através dos documentos disponibilizados nas escolas para que os professores possam selecionar os conteúdos e facilitar a aprendizagem da Geografia em suas aulas. Os PCNs traçam, enquanto tendência conceitual, um ensino de Geografia que busca explicar para compreender, estabelecer múltiplas interações, para poder perceber o mundo pela Geografia. Segundo o próprio documento: Uma Geografia que não seja apenas centrada na descrição empírica das paisagens, tampouco pautada exclusivamente pela explicação política e econômica do mundo; que trabalhe tanto as relações socioculturais da 35 paisagem como os elementos físicos e biológicos que dela fazem parte, investigando as múltiplas interações entre eles estabelecidas na constituição dos lugares e territórios. Enfim, buscar explicar para compreender. (BRASIL, 1998, pg.23) As concepções no ensino geográfico buscam compreender o comportamento da sociedade em determinado tempo, em determinado espaço. Neste caso os PCNs expressam uma Geografia crítica, que estuda na dicotomia local-global uma perspectiva de compreender o espaço em sua totalidade. Em relação às categorias geográficas o documento coloca: No que se refere ao ensino fundamental, é importante considerar quais são as categorias da Geografia mais adequadas para os alunos em relação a essa etapa da escolaridade e às capacidades que se espera que eles desenvolvam. Assim, ―espaço‖ deve ser o objeto central de estudo, e as categorias ―território‖, ―região‖, ―paisagem‖ e ―lugar‖ devem ser abordadas como seu desdobramento. (BRASIL, 1998, Pg. 27) Deste modo, entre os conceitos que perpassam o espaço geográfico, os PCNs desconsideram a utilização de conceitos como tempo, sociedade e natureza. Utilizando-se do termo espaço como o objeto central do ensino geográfico e propondo que as outras categorias sejam seu desdobramento. Neste sentido há alguns autores como Milton Santos e Roberto Lobato Corrêa, por exemplo, que organizam os conceitos de outra forma, partindo de outras vias. Corrêa considera o estudo da Geografia pela perspectiva da sociedade e entende que paisagem, região, espaço, território e lugar são seus conceitos-chave. Milton Santos faz outra proposta, ele propõe que se estude o espaço através das inter-relações de suas categorias, das quais cita região, paisagem, configuração territorial, homem e natureza. Entende-se que esta é uma linguagem conceitual que o aluno adquire quando vivencia o conhecimento geográfico, pois à medida que ele souber do que fala, poderá intervir e tornar melhor o espaço que ocupa, ou seja, o seu cotidiano. No dizer de Cavalcanti (1998, pg. 88), Seja como ciência, seja como matéria de ensino, a Geografia desenvolveu uma linguagem, um corpo conceitual que acabou por constituir-se numa linguagem geográfica. Essa linguagem está permeada por conceitos que são requisitos para a análise dos fenômenos do ponto de vista geográfico. As diferentes proposições nos levam a compreender que, as categorias que compõe o espaço, podem proporcionar uma compreensão da sociedade e ter um 36 ponto de partida para a análise de fenômenos, a partir dos conhecimentos geográficos. Buscando a conceituação da paisagem nos PCNs tem-se o seguinte: Quando se fala da paisagem de uma cidade, dela fazem parte seu relevo, a orientação dos rios e córregos da região, sobre as quais se implantaram suas vias expressas, o conjunto de construções humanas, a distribuição de sua população, o registro das tensões, sucessos e fracassos da história dos indivíduos e grupos que nela se encontram. É nela que estão expressas as marcas da história de uma sociedade, fazendo assim da paisagem um acúmulo de tempos desiguais. (BRASIL, 1998, p. 28) Ao comparar a definição de paisagem, apresentada neste documento, com o entendimento que a maioria dos professores possui, percebe-se um distanciamento muito grande, já que a maioria entende a paisagem de forma fragmentada; a paisagem natural em oposição à cultural, como se os elementos existissem isolados, ao invés de uma visão sistêmica e unitária, onde todos os elementos encontram-se em sintonia. Parece que falta ao professor o conhecimento necessário para que busque mediar o conhecimento prévio do aluno, às suas vivências e suas experiências que necessitam ser articuladas com os saberes científicos para, assim, acontecer uma reflexão no ensino da Geografia no cotidiano escolar. A categoria de análise lugar tem grande destaque nas Propostas Curriculares de Geografia – PCNs para o Ensino Fundamental e é apresentada, neste documento, como conceito central para o desenvolvimento da Geografia no Ensino Fundamental. Qual é o significado deste conceito nos PCNs? Que teorias foram consultadas para fundamentá-lo? Nas primeiras páginas do documento, o lugar está evidenciado como categoria central ao serem destacados os objetivos pedagógicos: Ampliação das capacidades dos alunos do ensino fundamental de observar, conhecer, explicar, comparar e representar as características do lugar em que vivem e de diferentes paisagens e espaços geográficos. (BRASIL, 1998, p.15) Na primeira parte do documento (idem, p.19), intitulada "Caracterização da Área de Geografia" em que os autores apresentam suas propostas de fundamentação conceitual, para a categoria que ora discutimos, há uma busca na história do pensamento geográfico, em especial, do conceito de ―Gênero de vida‖, desenvolvido por La Blache e sua relação com o lugar. Oliveira (1999) faz uma crítica a essa análise afirmando que, esse resgate é feito sem um questionamento 37 das idéias que moviam a corrente de pensamento positivista, a que La Blache estava ligado. No mesmo documento, apresentam o lugar como uma categoria relacionada à paisagem e afirmam que é uma abordagem da Nova Geografia. No entanto, não ficam explícitos quais as fundamentações dessa nova corrente de pensamento e que autores lhes dão sustentação. Referem-se ainda ao conceito de lugar como o ―espaço com os quais as pessoas têm vínculo afetivo‖. Com ressalvas, nesta perspectiva, o conceito está sendo abordado do ponto de vista humanístico, como o faz o geógrafo Yu Fu-Tuan (1980). Pode-se notar que os autores dos PCNs, definem lugar como ―sentimento de pertencer a um território e a sua paisagem significa fazer dele o seu lugar de vida e estabelecer identidade com eles‖. Nesta perspectiva não há correntes de pensamento geográfico que apresentem tais categorias (lugar, território e paisagem) dessa maneira. Sobre a viabilidade de se trabalhar com a categoria lugar, no ensino fundamental, acredita-se que o lugar apresenta sobre outros conceitos geográficos uma viabilidade maior para ser ponto de partida de estudos práticos (estudos do meio, aula de campo, aulas-passeios, etc.) no Ensino Fundamental, porque pode ser analisado a partir das experiências individuais e coletivas e carece de poucos recursos para ser tocado, já que é possível desenvolvê-lo a partir do local de encontro de todos os atores sociais que participam do processo de ensinoaprendizagem: a Escola. Como sugere Cavalcanti (1998. p. 93) para trabalhar-se este conceito numa perspectiva escolar é importante considerar tanto as relações positivas e negativas de afetividade e ampliar o campo de análise do aluno para que ele entenda que ―os fenômenos da atualidade não são compreendidos na sua familiaridade sem se reportar ao não-familiar". Nesta perspectiva é que se acredita ser possível utilizar esta categoria como ponto de partida para o desenvolvimento do que se denomina saber escolar geográfico. O saber escolar não se resume a uma forma reducionista do saber acadêmico, sendo transmitido na escola. Mas que tem como pressuposto, esta instituição como lócus de produção de um saber que resulta da interação entre os saberes trazidos por alunos e professores com os saberes oferecidos nos livros, nos 38 meios de comunicação e em outros recursos didáticos como os audiovisuais, a fotografia e o teatro. Partindo dessa posição, o lugar torna-se fundamental na construção de conceitos geográficos no ensino fundamental, já que cada ator social, participante do processo de ensino-aprendizagem poderá atuar de diferente maneira na produção desse saber. De modo que, as informações, o conhecimento e os saberes serão trazidos para a escola e considerados na elaboração do saber escolar. Dessa maneira, o saber geográfico escolar pode circular entre as diversas escalas de análises temáticas, abordando o local e o global, sem que um seja precedente ao outro. Uma produção como esta possibilitará um resgate de habilidades, pouco utilizadas nas classes de Geografia: observar, analisar e atuar conscientemente na transformação do espaço geográfico. A maior viabilidade de um projeto com este conceito é a facilidade em executar atividades nas proximidades da escola, pois, nem sempre, os professores e alunos podem sair da sala de aula para estudos em áreas muito distantes. Além do que, é na relação entre os lugares que podemos conhecer a ingerência das ações globais e a reação local. 2.1.1 O ensino de Geografia e as categorias geográficas segundo os PCNs Segundo os PCNs de Geografia, das séries iniciais, o ensino de Geografia leva os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva. Para tanto, porém, é preciso que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias, conceitos e procedimentos básicos com os quais este campo do conhecimento opera e constitui suas teorias e explicações, de modo a poder não apenas compreender as relações socioculturais e o funcionamento da natureza às quais historicamente pertencem, mas também conhecer e saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a realidade: o conhecimento geográfico (BRASIL, 1997b, p. 108). Não se pode de forma nenhuma discordar desta afirmação, mas pode-se, entretanto questionar sua efetivação diante do contexto em que o ensino de Geografia está inserido. Consegue-se, através do ensino de Geografia formar um aluno que compreende a realidade e nela interfere de forma propositiva e 39 consciente? Desenvolvem-se em nossos alunos capacidades relativas aos domínios das categorias e conceitos que o conhecimento geográfico exige? A seguir expõe-se uma análise das concepções apresentadas pelos autores que produziram os PCNs desta área sobre a Geografia como ciência, o ensino de Geografia, seus objetivos, conceitos e pressupostos metodológicos e postura do professor mediante este contexto. Inicialmente analisam-se as concepções em torno do objeto e método da Geografia. As sucessivas mudanças e debates em torno do objeto e método da Geografia como ciência, presentes no meio acadêmico, tiveram repercussões diversas no Ensino Fundamental. Positivas de certa forma, já que foram um estímulo para a inovação e a produção de novos modelos didáticos. Mas também negativas, pois a rápida incorporação das mudanças produzidas pelo meio acadêmico provocou a produção de inúmeras propostas didáticas, descartadas a cada inovação conceitual e, principalmente, sem que existissem ações concretas para que realmente atingissem o professor em sala de aula, sobretudo o professor das séries iniciais que, sem apoio técnico e teórico, continuou e continua, de modo geral, a ensinar Geografia apoiando-se apenas na descrição dos fatos e ancorando-se quase que exclusivamente no livro didático. (BRASIL, 1997b, p.106) É certo que o suporte teórico dos professores das séries iniciais é precário devido à sua formação acadêmica ser voltada mais para as disciplinas pedagógicas que estão direcionadas para o ―como ensinar‖, esquecendo que ―o que ensinar‖ também deve ser de domínio técnico do professor das séries iniciais. Também concordo que as mudanças trazem aspectos tanto positivos como negativos e que são difíceis de serem incorporadas pelos professores, contudo, vale à pena refletir o porquê disto ocorrer. Uma das hipóteses que vêm sendo discutidas é a forma de como estas mudanças entendidas aqui como proposição de novos modelos didáticos, são apresentadas aos professores; muitas vezes vêm prontas sem oportunizar aos mesmos discuti-las, são impostas sem que haja reflexão das mesmas, não são construídas com a participação dos professores, não estão em consonância com o projeto político pedagógico das escolas e com a linha de trabalho do professor. No dizer de Gebran, Não houve, portanto, diálogo entre as propostas dos PCNs e a realidade do cotidiano escolar. Um processo que se pretendesse democratizado deveria possibilitar que as propostas fossem analisadas e reconstruídas socialmente, com diretores, professores, alunos, pais, professores, e os segmentos diversos da comunidade, com acompanhamento e assessoria de especialistas. (GEBRAN, 2003, p. 86) 40 Segundo os PCNs (BRASIL, 1997b, p. 106-108), o ensino de Geografia apresenta problemas tanto de ordem epistemológica e de pressupostos teóricos como outros referentes à escolha dos conteúdos. No geral, são eles: 1- Abandono de conteúdos fundamentais da Geografia, tais como as categorias de nação, território, lugar, paisagem e até mesmo de espaço geográfico, bem como do estudo dos elementos físicos e biológicos que se encontram aí presentes; 2- São comuns modismos que buscam sensibilizar os alunos para temáticas mais atuais, sem uma preocupação real de promover uma compreensão dos múltiplos fatores que delas são causas ou decorrências, o que provoca um ―envelhecimento‖ rápido dos conteúdos. Um exemplo é a adaptação forçada das questões ambientais em currículos e livros didáticos que ainda preservam um discurso da Geografia Tradicional e não têm como objetivo uma compreensão processual e crítica dessas questões, vindo a se transformar na aprendizagem de slogans; 3- Há uma preocupação maior com conteúdos conceituais que com conteúdos procedimentais. O objetivo do ensino fica restrito, assim, à aprendizagem de fenômenos e conceitos, desconsiderando a aprendizagem de procedimentos fundamentais para a compreensão dos métodos e explicações com os quais a própria Geografia trabalha; 4- As propostas pedagógicas separam a Geografia Humana da Geografia Física em relação àquilo que deve ser aprendido como conteúdo específico: ou a abordagem é essencialmente social e a natureza é um apêndice, um recurso natural, ou então se trabalha a gênese dos fenômenos naturais de forma pura, analisando suas leis, em detrimento da possibilidade exclusiva da Geografia de interpretar os fenômenos numa abordagem socioambiental; 5- A memorização tem sido o exercício fundamental praticado no ensino de Geografia, mesmo nas abordagens mais avançadas. Apesar da proposta de problematização, de estudo do meio e da forte ênfase que se dá ao papel dos sujeitos sociais na construção do território e do espaço, o que se avalia ao final de cada estudo é se o aluno memorizou ou não os fenômenos e conceitos trabalhados e não aquilo que pôde identificar e compreender das múltiplas relações aí existentes; 41 6- A noção de escala espaço-temporal muitas vezes não é clara, ou seja, não se explicita como os temas de âmbito local estão presentes naqueles de âmbito universal e vice-versa, e como o espaço geográfico materializa diferentes tempos (da sociedade e da natureza). Nota-se uma crítica às propostas curriculares produzidas, quanto aos conteúdos selecionados. Considera-se um avanço a crítica da dicotomia Geografia Física e Geografia Humana, contudo não se encontram fundamentos que demonstrem ter este documento conseguido solucionar este problema. A crítica ao exercício da memorização e a prevalência dos conteúdos conceituais, é contestada por Spósito quando diz: ―A preocupação em oferecer elementos para o ensino de uma Geografia, cuja compreensão não resultasse apenas no exercício da memorização, foi, por exemplo, a preocupação de muitas propostas anteriores‖ ao contrário do que o documento dos PCNs destaca. (SPÓSITO, 1999, p. 27). A mesma autora também coloca que ―não é aceitável a avaliação de que haveria maior preocupação com conteúdos conceituais do que com procedimentos e atitudes.‖ (SPÓSITO, 1999, p. 27). Para ela, esta afirmação pode ser contestada à medida que algumas propostas passaram a privilegiar não os conteúdos conceituais, mas a fundamentação da abordagem teórico-metodológica que as orientava. Os conteúdos passavam a ser apenas o caminho através do qual os procedimentos metodológicos poderiam levar docentes e alunos a se tornarem sujeitos do processo de ensino-aprendizagem, preparando-os para a transformação da realidade. Spósito critica ainda a opção de se apresentar uma listagem dos problemas das propostas curriculares existentes antes da formulação dos PCNs para a Geografia, sem esclarecer quais foram aquelas que levaram a essa compreensão e sem o cuidado de fazer referência à natureza dos avanços permitidos por algumas delas. Para ela, isto reforça a idéia de que apenas a proposição apresentada, os PCNs, é capaz de resolver os problemas existentes. Quanto às categorias geográficas, vários são os autores que apontam uma pluralidade ou um ecletismo quanto às definições das categorias analíticas da Geografia apresentadas nos PCNs. Cita-se, por exemplo, Oliveira (1999, p. 61) ―... Como é possível verificar, os autores do texto (PCNs) não conseguiram demonstrar de forma clara e objetiva os conceitos que entendem devesse a Geografia trabalhar.‖ 42 Spósito também destaca a indefinição de uma concepção teórica na conceituação das categorias geográficas: A assunção de uma tendência conceitual oscila no decorrer dos PCNs, pois se ela é muitas vezes clara, em outras a concepção apresentada para os conceitos e categorias centrais dos PCNs e /ou a terminologia utilizada nos blocos temáticos identificam-se com diferentes correntes teóricometodológicas. (SPÓSITO, 1999, p. 31) Apresenta-se abaixo algumas concepções sobre o estudo de paisagem e território apresentadas nos PCNs de Geografia. O estudo da paisagem local não deve se restringir à mera constatação e descrição dos fenômenos que a constituem. Deve-se também buscar as relações entre a sociedade e a natureza que aí se encontram presentes, situando-as em diferentes escalas espaciais e temporais, comparando-as, conferindo-lhes significados, compreendendo-as. (BRASIL, 1997b, p.116) Destaca-se aqui a preocupação com a superação do estudo da paisagem através da constatação e descrição dos fenômenos. Kaercher (2003, p. 13) corrobora com a idéia quando diz: ―é preciso entender a lógica que está inserida em cada paisagem, como ela foi construída, por que ela é assim. É preciso romper com a simples visualização/descrição conformista das paisagens‖. Portanto, estudar a paisagem local ao longo das séries iniciais do ensino fundamental, é aprender a observar e a reconhecer os fenômenos que a definem e suas características: descrever, representar, comparar e construir explicações, mesmo que aproximadas e subjetivas, das relações que aí se encontram impressas e expressas. Nos ciclos subseqüentes, o ensino de Geografia deve intensificar ainda mais a compreensão, por parte dos alunos, dos processos envolvidos na construção do espaço geográfico. A territorialidade e a temporalidade dos fenômenos estudados devem ser abordadas de forma mais aprofundada, pois os alunos já podem construir compreensões e explicações mais complexas sobre as relações que existem entre aquilo que acontece no dia-a-dia, no lugar no qual se encontram inseridos, e o que acontece em outros lugares do mundo. Sobre território, sugere-se o aprofundamento das noções relativas a esta categoria como forma de compreender o processo de construção do espaço geográfico. 43 Para tanto, as noções de sociedade, cultura, trabalho e natureza são fundamentais e podem ser abordadas por meio de temas nos quais as dinâmicas e determinações existentes entre a sociedade e a natureza sejam estudadas de forma conjunta. Porém, para além de uma abordagem descritiva da manifestação das forças materiais, é possível também, nas séries finais do ensino fundamental, propor estudos que envolvam o simbólico e as representações subjetivas, pois a força do imaginário social participa significativamente na construção do espaço geográfico e da paisagem. (BRASIL, 1997b, p.117) De acordo com os PCNs, a interface com as demais disciplinas também deve ser observada, de modo a proporcionar estudos mais completos sobre um tema cuja compreensão, por parte dos alunos, tanto a Geografia, como a História, as Ciências, a Arte e a Matemática podem ampliar, por meio de suas abordagens e explicações. A Geografia, ao pretender o estudo dos lugares, suas paisagens e território, tem buscado um trabalho interdisciplinar, lançando mão de outras fontes de informação. (BRASIL, 1997b, 117) Mesmo na escola, a relação da Geografia com a Literatura, por exemplo, tem sido redescoberta, proporcionando um trabalho que provoca interesse e curiosidade sobre a leitura do espaço e da paisagem. É possível aprender Geografia desde os primeiros ciclos do ensino fundamental pela leitura de autores brasileiros consagrados — Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, entre outros — cujas obras retratam diferentes paisagens do Brasil, em seus aspectos sociais, culturais e naturais. Também as produções musicais, a fotografia e até mesmo o cinema são fontes que podem ser utilizadas por professores e alunos para obter informações, comparar, perguntar e inspirar-se para interpretar as paisagens e construir conhecimentos sobre o espaço geográfico. Quanto aos procedimentos metodológicos, os PCNs de Geografia destacam a Cartografia como instrumento importante para o desenvolvimento de capacidades inerentes a representação do espaço. O estudo da linguagem cartográfica, por sua vez, tem cada vez mais reafirmado sua importância, desde o início da escolaridade. Contribui não apenas para que os alunos venham a compreender e utilizar uma ferramenta básica da Geografia, os mapas, como também para desenvolver capacidades relativas à representação do espaço. 44 A cartografia é um conhecimento que vem se desenvolvendo desde a préhistória até os dias de hoje. Por intermédio dessa linguagem é possível sintetizar informações, expressar conhecimentos, estudar situações, entre outras coisas — sempre envolvendo a idéia da produção do espaço: sua organização e distribuição. As formas mais usuais de se trabalhar com a linguagem cartográfica na escola é por meio de situações nas quais os alunos têm de colorir mapas, copiá-los, escrever os nomes de rios ou cidades, memorizar as informações neles representadas. Mas esse tratamento não garante que eles construam os conhecimentos necessários, tanto para ler mapas como para representar o espaço geográfico. Para isso, é preciso partir da idéia de que a linguagem cartográfica é um sistema de símbolos que envolvem proporcionalidade, uso de signos ordenados e técnicas de projeção. Também é uma forma de atender a diversas necessidades, das mais cotidianas (chegar a um lugar que não se conhece, entender o trajeto dos mananciais, por exemplo) às mais específicas (como delimitar áreas de plantio, compreender zonas de influência do clima). A escola deve criar oportunidades para que os alunos construam conhecimentos sobre essa linguagem nos dois sentidos: como pessoas que representam e codificam o espaço e como leitores das informações expressas por ela. (BRASIL, 1997b, p.118) Para Spósito, (1999, p. 32): É importante a recuperação da cartografia como instrumental de grande valia para o ensino e a pesquisa em Geografia, sobretudo porque a aproximação com o paradigma do materialismo histórico e dialético, ou o surgimento do que se denominou de forma não adequada como ―Geografia Crítica‖, no decorrer da década de 1980, significou, na prática, o afastamento de procedimentos metodológicos, que foram identificados de forma simplista com a Geografia Positivista. Almeida e Passini (2006, p. 21) também corroboram com a idéia quando dizem: ―iniciando o aluno em sua tarefa de mapear, estamos, portanto, mostrando os caminhos para que se torne um leitor consciente da linguagem cartográfica‖. 2.1.1.1 A inserção das categorias geográficas em cada série segundo os PCNs Destaca-se a seguir a abordagem das categorias geográficas em cada série segundo os PCNs de Geografia. Este documento apresenta-se em ciclos sendo para este trabalho importante definir o primeiro ciclo como sendo a 1ª e a 2ª séries e o segundo ciclo a 3ª e a 4ª séries das séries iniciais. No primeiro ciclo, o estudo da Geografia deve abordar principalmente questões relativas à presença e ao papel da natureza e sua relação com a ação dos indivíduos, dos grupos sociais e, de forma geral, da sociedade na construção do espaço geográfico. Para tanto, a paisagem local e o espaço vivido são as referências para o professor organizar seu trabalho. 45 Quando se estuda a paisagem local, deve-se procurar estabelecer relações com outras paisagens e lugares distantes no tempo ou no espaço, para que elementos de comparação possam ser utilizados na busca de semelhanças e diferenças, permanências e transformações, explicações para os fenômenos que aí se encontram presentes. Inicia-se, assim, um processo de compreensão mais ampla das noções de posição, sítio, fronteira e extensão, que caracterizam a paisagem local e as paisagens de forma geral. (BRASIL, 1997b, p. 139) Os professores são orientados a partir destas colocações a introduzir nas 1ª e 2ª séries as noções de espaço e paisagem mais especificamente o espaço vivido, fazendo assim uma relação entre homem e natureza. O homem como agente transformador do espaço. Enfoca também a questão das escalas que caracterizam as diferentes paisagens. A paisagem local, o espaço vivido pelos alunos deve ser o objeto de estudo ao longo dos dois primeiros ciclos. Entretanto, não se deve trabalhar do nível local ao mundial hierarquicamente: o espaço vivido pode não ser o real imediato, pois são muitos e variados os lugares com os quais os alunos têm contato e, sobretudo, que são capazes de pensar sobre. A compreensão de como a realidade local relaciona-se com o contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante toda a escolaridade, de modo cada vez mais abrangente, desde os ciclos iniciais. (BRASIL, 1997b, p. 116) Há também uma chamada para o trabalho com os conhecimentos prévios dos alunos: É fundamental também que o professor conheça quais são as idéias e os conhecimentos que seus alunos têm sobre o lugar em que vivem, sobre outros lugares e a relação entre eles. Afinal, mesmo que ainda não tenham tido contato com o conhecimento geográfico de forma organizada, os alunos são portadores de muitas informações e idéias sobre o meio em que estão inseridos e sobre o mundo, têm acesso ao conhecimento produzido por seus familiares e pessoas próximas e, muitas vezes, às informações veiculadas pelos meios de comunicação. O principal cuidado é ir além daquilo que já sabem, evitando estudos restritos às idéias e temas que já dominam e pouco promovem a ampliação de seus conhecimentos e hipóteses acerca da presença e do papel da natureza na paisagem local. (BRASIL, 1997b, p. 116) Os procedimentos metodológicos também são destacados e enfatizados de forma a levar o professor a compreender que mesmo nessa fase a criança já poderá operacionalizar alguns procedimentos até mesmo a leitura de imagens. Desde o primeiro ciclo é importante que os alunos conheçam alguns procedimentos que fazem parte dos métodos de operar da Geografia. Observar, descrever, representar e construir explicações são procedimentos que podem aprender a utilizar, mesmo que ainda o façam com pouca autonomia, necessitando da presença e orientação do professor. Por 46 exemplo, em relação à observação, o professor pode levá-los a compreender que não se trata apenas de olhar um pouco mais detidamente, mas sim de olhar intencionalmente, em busca de respostas, nem sempre visíveis de imediato, disparadas pelo assunto ou problema em estudo. A descrição, por sua vez, não deve ser apenas uma listagem aleatória do que se observa, mas sim a seleção das informações que sugerem certas explicações e possuem relação com as hipóteses daquele que observa e descreve. Vale lembrar que esse ciclo é, na maioria das vezes, o momento de ingresso da criança na escola. Ensinar os alunos a ler uma imagem, a observar uma paisagem ou ainda a ler um texto — mesmo que a leitura não seja realizada diretamente por eles — para pesquisar e obter informações faz parte do trabalho do professor desse ciclo. Do mesmo modo, cabe a ele estimular e intermediar discussões entre os próprios alunos, para que possam aprender a compartilhar seus conhecimentos, elaborar perguntas, confrontar suas opiniões, ouvir seus semelhantes e se posicionar diante do grupo. (BRASIL, 1997b, p. 127-129) Para o segundo ciclo, 3ª e 4ª séries, são apontadas as seguintes abordagens quanto às categorias geográficas: No segundo ciclo, o estudo da Geografia deve abordar principalmente as diferentes relações entre as cidades e o campo em suas dimensões sociais, culturais e ambientais e considerando o papel do trabalho, das tecnologias, da informação, da comunicação e do transporte. O objetivo central é que os alunos construam conhecimentos a respeito das categorias de paisagem urbana e paisagem rural, como foram constituídas ao longo do tempo e ainda o são, e como sintetizam múltiplos espaços geográficos. Os procedimentos metodológicos também são ampliados: No segundo ciclo, as possibilidades de aprendizagem dos alunos ampliamse em vários aspectos. A maior autonomia em relação à leitura e à escrita e o domínio crescente dos procedimentos de observação, descrição, explicação e representação permitem que eles sejam capazes de consultar e processar fontes de informação com maior independência e construam compreensões mais complexas, realizando analogias e sínteses mais elaboradas, expressas por meio de trabalhos mais completos, escritos ou apoiados em múltiplas linguagens — como ilustração, mapas, maquetes, seminários, por exemplo. Além disso, a familiaridade com a rotina escolar e com o conhecimento escolarizado também torna possível desenvolver estudos e pesquisas mais complexos, e permite que os alunos trabalhem de forma mais independente da mediação do professor, embora este ainda deva atuar como intermediário entre o conhecimento dos alunos e o conhecimento geográfico, criando situações significativas de aprendizagem que aproximem os alunos das categorias de espaço geográfico, território, paisagem e lugar e dos procedimentos básicos do fazer geográfico. A diversificação dos procedimentos também deve ser considerada: 47 Essas situações de aprendizagem, como no ciclo anterior, podem estar apoiadas em diferentes fontes de informação e recursos didáticos — como os estudos do meio, os relatos, as entrevistas, a narrativa literária, a pintura, a música, o estudo de diferentes culturas, a cartografia —, promovendo uma compreensão mais ampla e crítica da realidade, bem como um posicionamento mais propositivo perante questões relativas às condições de vida (saúde, meio ambiente, transporte, educação, lazer, etc.) da coletividade. A inserção da Cartografia é fundamental nessa fase da escolaridade: Nesse momento da escolaridade passa a ser interessante também discutir com os alunos a linguagem cartográfica como uma produção humana, marcada pelos alcances e limites dos recursos técnicos e das intenções dos sujeitos e das épocas que dela se valem para representar o espaço geográfico. Estudar a história da cartografia é uma forma adequada de aproximar a História e a Geografia num estudo sobre como diferentes sociedades em tempos e espaços distintos percebiam e representavam seu entorno e o mundo: as técnicas e os conhecimentos, o imaginário, as intenções políticas e econômicas, os medos e desejos. Os conhecimentos prévios também são valorizados: Continua sendo papel fundamental do professor, considerar os conhecimentos que os alunos já possuem para planejar situações de ensino e aprendizagem significativas e produtivas. Para isso, é preciso conhecer os avanços e os problemas de seus alunos, bem como a adequação de suas propostas, de modo a aperfeiçoar sua ação pedagógica. (BRASIL, 1997b, p. 139-143) Observa-se que os conteúdos estudados em todas as séries são os mesmos devendo-se aprofundar noções de território nas 3ª e 4º séries. O estudo sobre a representação do espaço, a paisagem local, rural e urbana são mais aprofundados nestas séries e os procedimentos metodológicos são direcionados com mais complexidade levando em conta as experiências já adquiridas pelos alunos nessa fase da escolaridade. Reforça-se, também, a preocupação com os conhecimentos prévios que devem ser investigados para que o professor possa criar intervenções significativas que provoquem avanços nas concepções dos alunos. 2.1.1.2 PCNs de Geografia: discussões sobre sua proposta teórico-metodológica É certo que os PCNs constituem-se em um documento que norteia as propostas pedagógicas das escolas na atualidade por ser, quando de sua elaboração e implantação divulgado como o documento ―politicamente correto‖ que traria inúmeros benefícios ao contexto educacional. Nem por isso deve-se tomá-lo como tal sem termos o cuidado de analisar as ideologias políticas que se 48 apresentam em suas entrelinhas. Por isso, é oportuno neste ponto do trabalho chamar à discussão alguns teóricos e geógrafos que ao longo da década passada dedicaram-se a fazer uma análise e uma crítica necessárias aos PCNs de forma a contribuir para que estes parâmetros possam ser utilizados pelo professor como um documento de referência, não pela forma como foi imposto, mas sim, pela contribuição filosófica, ideológica, histórica e pedagógica que o mesmo deveria apresentar. Os mesmos já foram citados neste trabalho, ao longo deste capítulo, quando se refletiu sobre ensino de Geografia e as categorias geográficas nos PCNs, contudo apresenta-se uma análise mais geral das idéias destes autores sobre os PCNs de Geografia. Nos quadros 1 e 2 apresentam-se os avanços e retrocessos dos mesmos apresentados por Pontuschka, Cacete, Oliveira e Spósito em textos presentes na obra de Carlos e Oliveira (1999). Há segundo estes autores, mais retrocessos do que avanços. Entretanto esta proposta foi incorporada (mesmo que por imposição dos sistemas de ensino) nas escolas no final da década de 1990 e início da década atual e tem servido de referência ao trabalho de muitos professores e também de autores de livros didáticos que são produzidos e utilizados nas escolas públicas e privadas do país. Quadro 1. Avanços dos PCNs segundo alguns autores Pontuschka Spósito Retoma os conceitos de paisagem, Valorização do uso de diferentes linguagens lugar, território, região; para o ensino de Geografia, em especial da Cartografia; Acrescenta a subjetividade aliada a - objetividade no estudo da Geografia; Temas transversais - 49 Quadro 2. Retrocessos dos PCNs segundo alguns autores Pontuschka Não Cacete resolve dicotomia a Concepção de Não entre Geografia Geografia Física e presente outras propostas; Geopolítica houve Concepção docentes explicita, da proposta; está Currículo unificado; de Geografia não está é na construção evidenciando eclética; praticamente ausente; Oliveira participação na dos Humana presente em proposta A Spósito um ecletismo Falta do Não apresenta uma debate na concepção implantação pedagógica da proposta; Não articula construção a Exclusão da Pluralidade ou O dos participação conceitos com os professores objetivos gerais e os elaboração procedimentos debate metodológicos; proposta; A interdisciplinaridade Os pensamento dos ecletismo que geográfico na dificulta e entendimento da do professor professores - o estruturado é na Geografia tradicional. As bases é imposta de forma não são sujeito do conceituais autoritária sem processo Geografia carecem oferecer aos educativo. São os de rigor conceitual e professores ações que PCNs que passam viabilizem sua prática; a fazer este papel; - - da consistência lógica - Contrapõe-se a concepção dialética e ao marxismo no intuito de quebrar a visão de totalidade que permite a ao aluno compreender o mundo. As colunas que não foram preenchidas referem-se à ausência de pontos apontados pelo autor 50 2.1.2 O ensino de Geografia e as categorias geográficas segundo a proposta curricular do município de Riacho das Almas – PE Discute-se a seguir como as categorias geográficas são apresentadas na Proposta Curricular do município onde se realizou a pesquisa. A proposta curricular do município de Riacho das Almas está organizada por área de conhecimento, sendo a Geografia inserida na área de Ciências Humanas e suas tecnologias. Sua concepção é de considerar os conhecimentos prévios dos alunos, pois segundo a proposta ―considerar o conhecimento prévio do aluno, ajudará na compreensão do espaço ocupado pelo homem, bem como na avaliação do impacto das tecnologias no desenvolvimento e estruturação da sociedade...‖ (RIACHO DAS ALMAS, 2010, p. 30) A proposta apresenta objetivos gerais para a área de Ciências Humanas, já inseridos os objetivos para a Geografia, não sendo possível, portanto analisar os fundamentos e pressupostos metodológicos específicos para a Geografia. Os conteúdos estão agrupados em eixos e estes em saberes que podem ser compreendidos como habilidades que levem o aluno a construir as competências da área. As categorias lugar e paisagem estão presentes em todas as séries, especificamente as relações com o espaço vivido, as paisagens rurais e urbanas. Também é comum a todas as séries segundo a proposta curricular com que os professores trabalham, o estudo das tecnologias com exceção do estudo dos transportes e sua influência na vida em sociedade que não é vivenciado na 4ª série. As categorias território e espaço são objeto de estudo mais aprofundado nas 3ª e 4ª séries, mais especificamente o estudo do papel do estado e das classes sociais e a sociedade urbana- industrial brasileira. Segundo os PCNs, (1997b) a cartografia deve ser vista como procedimento ou instrumento que possibilita a compreensão e utilização dos mapas, como também desenvolver capacidades relativas à representação. Portanto, entende-se como equívoco da proposta, a apresentação da cartografia como conteúdo ou eixo, As questões ambientais são tratadas de forma isolada e desconectada dos demais conteúdos Esta visão é responsável pela formação de idéias e interpretações distorcidas do que realmente acontece na realidade. Muitas vezes, acaba-se caindo em um ecologismo, ou seja, se defende um posicionamento de 51 preservação da natureza sem se perguntar quais são as disputas de poder que existem por trás da questão. Este tipo de atitude faz com que os estudantes não questionem qual realmente é a importância do meio ambiente para o desenvolvimento da vida humana. O quadro 3 apresenta os eixos e conteúdos com os quais os alunos devem interagir neste período de sua escolaridade segundo a proposta curricular do município. 2.1.3 O ensino de Geografia e as categorias geográficas segundo o planejamento de ensino dos professores O planejamento de ensino dos professores é elaborado com base na proposta curricular do município, nos PCNs, e nos livros didáticos disponibilizados para as séries. De acordo com os mesmos, na 1ª série, são abordados conteúdos como lugar de moradia, diferentes lugares e paisagens, rua e bairro. Nesta série já se faz abordagem também dos tipos de paisagem bem como já se faz um estudo dos elementos das paisagens rurais e urbanas e o modo de vida das pessoas. Na 2ª série retomam-se conceitos de rua e bairro e modo de vida e introduz-se o conteúdo cidade. Esta abordagem está inserida na proposta curricular do município e também nos PCNs conforme vimos neste trabalho e contempla a inserção do estudo das categorias geográficas nestas séries. Para a 3ª série reforçam-se os conceitos de paisagem rural e urbana, abordando-se as transformações na natureza causadas pela ação humana e suas conseqüências ambientais. Possibilita-se nesta série também a análise do avanço das tecnologias na comunicação e nos transportes identificando o papel destas tecnologias na configuração das paisagens rurais e urbanas. Na 4ª série, conteúdos referentes à categoria território são mais aprofundados: como são construídas as fronteiras; o trabalho humano no processo de construção do espaço geográfico; as relações de poder, etc. Estes conteúdos são abordados através do estudo da localização do Brasil no continente americano, suas coordenadas, clima, relevo, população, etc. 52 Quadro 3. Saberes da disciplina de Geografia segundo Proposta Curricular de Riacho das Almas- Ensino Fundamental Eixos 1. Conteúdos Séries 1ª 2ª 3ª 4ª x x x x - - - - como - - - - da Da alfabetização cartográfica ao x x x X x x x x x x x x A Geografia e a construção Relações que estabelecem com o do espaço: leitura e compreensão lugar em que vivem do lugar e da paisagem A construção do espaço: os territórios e os lugares (o tempo da sociedade e o tempo da natureza) A conquista do lugar conquista da cidadania 2. Cartografia: alfabetização cartográfica trabalho com mapas ao mapeamento crítico e consciente Os mapas como possibilidade de compreensão e estudos comparativos de diferentes paisagens e lugares 1- O urbano e o rural: modos As paisagens rurais e urbanas e de vida e a formação sócio- os diferentes modos de vida espacial O papel do estado e das classes x sociais e a sociedade urbanoindustrial brasileira A cultura e o consumo: a interação x x x x x x x x x x entre o campo e a cidade 4- o período técnico-cientifíco O informacional: a tecnologias e evolução as territorialidades em rede papel das das configuração tecnologias das na paisagens novas urbanas e rurais As alterações que o fluxo de informações desencadeia na vida em sociedade O transporte e sua influência na x vida em sociedade, as x x 53 transformações que imprimem às paisagens A velocidade e a eficiência dos x transportes e da x x x - - - - - - x x x x x x - - - comunicação como paradigma da globalização A globalização e as hierarquias urbanas 5- O estudo da natureza e as Os questões sócio-ambientais fenômenos naturais, sua - regularidade e possibilidade de previsão pelo homem A natureza e as questões sócio- x ambientais Alimentar o mundo: os dilemas x sócio-ambientais para a segurança alimentar Ambiente urbano, indústria e modo de vida O Brasil e as questões ambientais x x x x Ambientalismo: pensar e agir x x x x nações - - - - - - - - Paisagens e diversidade territorial - - - - 6- O mundo e os seus múltiplos Estado, cenários geográficos povos e redesenhando suas fronteiras Os blocos econômicos regionais no Brasil Os saberes não assinalados são propostos para as séries seguintes (5ª a 8ª séries); No município a implantação do Ensino Fundamental em anos se deu em 2009 sendo que é uma implantação gradativa onde as classes de 1ª a 4ª série continuam em funcionamento e as classes de ano se limitam ao 1º e 2º anos, sendo, portanto nosso campo de pesquisa as classes de 1ª a 4ª série. 54 Apresenta-se sinteticamente no quadro 4 a inserção das categorias geográficas nos documentos oficiais como forma de se perceber as relações existentes. Quadro 4. Síntese das categorias geográficas nos documentos oficiais Séries 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série PCNs Paisagem Lugar Espaço Paisagem Lugar Espaço Paisagem Lugar Território Espaço Paisagem Lugar Território Espaço Proposta curricular do município Paisagem Lugar Espaço Paisagem Lugar Espaço Paisagem Lugar Território Espaço Paisagem Lugar Território Espaço Planejamento dos professores das escolas pesquisadas Paisagem Lugar Espaço Paisagem Lugar Espaço Paisagem Lugar Território Espaço Paisagem Lugar Território Espaço Pode-se concluir que segundo os documentos oficiais a abordagem das categorias geográficas se dá em todas as séries com exceção da categoria território que só é introduzida a partir da 3ª série. 55 CAPÍTULO 3: CONTEXTUALIZAÇÃO EDUCACIONAL DO MUNICÍPIO DE RIACHO DAS ALMAS-PE A Constituição Federal garante em seu artigo 6º, a educação como direito social, e em seu artigo 205, a educação como uma política pública, ao definir que a educação é um direito de todos e dever do Estado. A educação em Riacho das Almas vem sendo pautada por referenciais legais, segundo seu Plano Municipal de Educação, assumindo o papel de ofertar uma política educacional pública centrada na qualidade do ensino. O município de Riacho das Almas situa-se a 136 km da capital pernambucana, no agreste setentrional, com uma extensão territorial de 303,2 km quadrados, limitando-se ao norte, com os municípios de Frei Miguelinho e Surubim; ao sul, com os municípios de Bezerros e Caruaru; a leste, com os municípios de Cumaru e Bezerros e, a oeste, com o município de Caruaru. Segundo os dados populacionais do Censo Demográfico de 2007, Riacho das Almas apresenta uma população de 18.269 habitantes, dos quais 44,3% são analfabetos, sendo este um dos principais desafios a serem enfrentados pelos gestores educacionais, entre tantos outros, que interferem direta ou indiretamente na realidade educacional, entre eles: desemprego, trabalho infantil (mesmo que em pequena escala), migração, violência familiar, entre outros. Problemas estes que tem afetado e influenciado os resultados educacionais, pois geram evasão ou repetência, desinteresse pelos estudos, indisciplina. Outro fator que agrava este quadro é a falta de participação dos pais na vida escolar dos filhos, uma vez que a luta pela sobrevivência os impede muitas vezes de acompanhar adequadamente o desempenho escolar dos filhos. Nos últimos dez anos, na tentativa de promover uma educação de qualidade, a Secretaria Municipal de Educação tem adotado uma política de nucleação de escolas com o objetivo de diminuir as classes multisseriadas e elevar o padrão da qualidade do ensino, sendo para tanto, garantidos investimentos para formação continuada dos professores, transporte escolar, programa de alimentação escolar e material escolar, fardamento, livro didático, e melhoria do espaço físico. Em 2003 havia trinta e sete escolas municipais em funcionamento, uma escola estadual e duas escolas privadas. Em 2009 são trinta escolas municipais em funcionamento, uma estadual e três privadas. 56 Apesar da redução do funcionamento do número de escolas de aproximadamente 20% de 2003 para 2009, o número de matrícula não sofreu grandes reduções tendo ao longo destes setes anos apresentado um acréscimo na Educação Infantil conforme mostra o gráfico 1. Gráfico 1- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: Educação Infantil 600 500 400 Creche 300 Pré-escola 200 100 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Fonte INEP: Censo Escolar No Ensino Fundamental a redução nas séries iniciais é vista como positiva, pois se deve principalmente, aos programas de correção de fluxo adotados pela Secretaria Municipal de Educação, a partir de 2007, que têm promovido o acesso às séries finais desta clientela. É o que se observa no gráfico 2. No Ensino Médio há uma variação equilibrada considerando a faixa etária que já está no mercado de trabalho, o que ocasiona por vezes evasão temporária, haja vista que uma boa parte destes alunos tem retornado a escola em busca de programas que lhe proporcionem recuperar o tempo perdido, ou seja, concluir o Ensino Médio em uma carga horária menor do que a do ensino regular. É o que pode ser observado no gráfico 3. 57 Gráfico 2- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: Ensino fundamental 2500 2000 1500 Anos iniciais 1000 Anos Finais 500 0 Fonte INEP: Censo Escolar Gráfico 3- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: Ensino Médio 250 200 150 100 50 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Fonte INEP: Censo Escolar 2009 2009 58 No gráfico 4 pode-se comparar a evolução de matrículas na rede municipal de Riacho das Almas nos últimos sete anos e verificar-se que o que já foi explanado se confirma: acréscimo na matrícula da Educação Infantil; pequeno decréscimo na matrícula do Ensino Fundamental e variação na matrícula do Ensino Médio. Gráfico 4- Alunos matriculados no município de Riacho das Almas - PE: Educação Básica 4000 3500 3000 2500 Eduacação Infantil 2000 Ensino Fundamental 1500 Ensino Médio 1000 500 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Fonte INEP: Censo Escolar Dessa forma, tem sido constante o desafio de se ofertar uma educação de qualidade, especialmente, por a rede atender a toda educação básica e a clientelas diversificadas que precisam ser assistidas a partir de sua realidade local e de suas diferenças, especificamente, no que se referem às condições de moradia e interesses comuns. A nucleação das escolas que não ocorreu em toda rede, mas apenas em parte dela, objetivando reduzir o número de turmas multisseriadas, trouxe outro aspecto que confronta o modo de viver e se relacionar dos alunos: a dicotomia cidade campo. Neste contexto os caminhos percorridos têm sido de oferecer a estes alunos propostas pedagógicas que melhor se adaptem a este contexto. o município apresenta três diferentes metodologias de ensino implantadas a partir da constatação de que não se faz educação igual para realidades diferentes. 59 3.1 Escola Ativa Em 2005 o programa Escola Ativa foi implantado em cinco escolas municipais da área rural e em 2008 o programa foi ampliado para mais cinco escolas. Em 2010 contempla dezoito escolas. O programa consiste na aplicação de um método específico de apoio às escolas rurais com classes multisseriadas, que atendem a alunos da 1ª a 4ª série do ensino fundamental da rede pública. Compreender que a Escola Ativa é apenas uma estratégia metodológica voltada para classes multisseriadas e tem como pressupostos ensino centrado no aluno e em sua realidade social; professor como facilitador e estimulador; gestão participativa da escola; e avanço automático para etapas superiores. (PESENTE, 2006. p.14) As concepções que fundamentam a Escola Ativa são baseadas na compreensão de que para se obter mudanças no ensino tradicional, melhorar a prática dos docentes e, conseqüentemente, a aprendizagem dos alunos nessas classes, deve-se levar em conta: a aprendizagem ativa e centrada no aluno; aprendizagem cooperativa; avaliação contínua e no processo; recuperação paralela; promoção flexível. Partindo destas concepções, a proposta da Escola Ativa é estruturada levando em conta estratégias vivenciais que objetivam a aprendizagem e a participação, estimulando hábitos de colaboração, companheirismo, solidariedade, participação na gestão da escola pelos alunos e melhoria da atuação dos professores em sala. Estas estratégias são chamadas de elementos. São eles: Guias de aprendizagem: Livros didáticos específicos para utilização na Escola Ativa Trabalho em grupo: Alunos organizados em pequenos grupos trabalhando em conjunto ou com o professor. Cantinhos de aprendizagem: Espaços montados pelos alunos, professores e comunidade. Governo estudantil: Viabiliza e legitima, através do voto, a participação ativa e democrática dos alunos na gestão da escola, quer na parte administrativa, quer na pedagógica. Comunidade: Promove relações estreitas com a comunidade visando à formação integral do aluno. 60 Capacitação de professores: Promove melhoria na prática pedagógica do professor, desenvolvendo seus conhecimentos em oficinas de capacitação. O objetivo é melhorar a qualidade do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries) nas escolas rurais; reduzir a distorção idade/série e aperfeiçoar o nível de aprendizagem, além da participação da comunidade, acompanhamento de alunos e da capacitação e reciclagem permanente dos professores. O projeto propõe relações estreitas entre a escola e a comunidade visando educar indivíduos com identidade pessoal e cultural capazes de compreender a sociedade na qual vivem, de participar ativamente e de transformá-la. Importante destacar a necessidade da formação continuada do educador par atuar nas classes multisseriadas. Esta deverá contar, ainda, com a participação da comunidade para um melhor desenvolvimento do ensinoaprendizagem. (BRASIL, 2008, p. 22) Os materiais de leitura do aluno trazem lendas, cantigas e mitos brasileiros. Além de promover a aprendizagem dos conteúdos das primeiras séries do ensino fundamental, valorizam o conhecimento prévio do aluno. Por meio dos guias, os estudantes aplicam os conhecimentos em situações reais, melhorando qualitativamente o papel do professor e possibilitando a adaptação regional e local dos conteúdos, caso haja necessidade. A Escola Ativa foi iniciada pelo Projeto Nordeste, em 1997, nos estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão. A partir de 1998, o Fundo de Fortalecimento da Escola deu continuidade à proposta e a estendeu para as regiões Norte e Centro-Oeste, além de ampliar a atuação na região Nordeste no ano de 2002. De acordo com a Secretaria Municipal, o projeto permite ao professor atuar de forma mais criativa, não só na organização da classe, mas nas propostas das atividades pedagógicas, tornando-as mais participativas. Diz uma professora que atua no projeto desde sua implantação: O impacto pode ser sentido no ensino rural. As famílias passaram a respeitar o direito da criança e do jovem de estudar e os alunos aprenderam a resgatar a cultura da região. Por meio das estratégias vivenciais propostas na metodologia, os alunos aprendem com a experiência dos pais a lidar com a terra, o plantio, a colheita, e a preservar o ambiente em que vivem. 3.2 Proposta de Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável 61 Em 2007 o Programa PEADS através do SERTA foi implantado em cinco escolas do campo, do município e tem como principal objetivo direcionar a organização do currículo das escolas para o mundo do trabalho, pois possibilita ao aluno estudar sua realidade, valorizando suas origens e levando-o a reconhecer a importância do trabalho no campo. Promove assim, o desenvolvimento social economicamente justo e ecologicamente sustentável da comunidade rural. O princípio metodológico adotado é o da pesquisa que teve como inspiração o famoso método do Padre Cardin: ver, julgar e agir. Era um método para evangelizar o meio operário e começava pelo ver, observar, pesquisar, entender a lógica, a linguagem, partir dos fatos simples e cotidianos da classe operária e da família. O julgar seria procurar entender melhor os acontecimentos, os envolvidos, a conjuntura, emitindo um julgamento, um juízo, relacionando as idéias. Para agir não se deve ficar só na observação e análise, na elaboração intelectual, mas comprometer-se com as mudanças, decidir. Há também que se considerar as influências acadêmicas que esta metodologia incutiu a partir das obras de Pedro Demo que ―justifica a pesquisa como instrumento fundamental da formação, da construção do raciocínio do jardim da infância ao doutorado‖. (MOURA, 2003, p. 104) Inicialmente a PEADS começa com a aplicação de três censos: o populacional, o agropecuário ou econômico e o ambiental. Parte-se do princípio de que o autoconhecimento de suas dificuldades e potencialidades é um pressuposto básico para mobilizar as comunidades a refletirem sobre sua condição de vida. A aplicação destes censos visa causar um impacto no sentido de despertar a família para a necessidade de integração com a escola. Um censo deste possibilita aos alunos conhecerem seu lugar, sua comunidade. O seu território passa a ser visto com outro olhar. Estes censos são elaborados a partir de um instrumento que é a ficha pedagógica, que resultará nos desdobramentos dos dados apresentados na pesquisa. Muitas destas fichas são trabalhadas como dever de casa, que apesar de polêmico, passou a ser tratado como uma forma de aproximar a escola da realidade do aluno Em um segundo momento, o trabalho com as orientações pedagógicas se dá a partir dos dados obtidos nas pesquisas. A partir das respostas, os professores têm a tarefa de desdobrar, desenvolver esse conhecimento ainda que precário, que os 62 alunos trazem e elevá-lo para outro estágio, para um conjunto mais ordenado, um produto superior ao que eles fizeram individualmente. As temáticas resultantes da pesquisa nortearão os conteúdos das disciplinas. Não se trata só de ensinar as disciplinas, mas de ensinar valores, estimular atitudes solidárias, alimentar a auto-estima, construir a confiança, a identidade e a autonomia do aluno. O próximo passo é a criação do produto, ou seja, o tratamento dado ao conhecimento adquirido. Poderão ser utilizadas várias dinâmicas para tratamento deste conhecimento, incluindo a participação da família e da comunidade nesses momentos. A forma como isto ocorrerá é debatida entre os alunos e professores. Este é um momento privilegiado para provocar, questionar e estimular o conhecimento. Finalmente o último passo é a avaliação. A mesma congrega todos os envolvidos no processo, desde a merendeira, a direção da escola, que se autoavaliam, incluindo os pais. A avaliação não é só um produto final. É todo o processo. Não é só cognitiva, mas é também ética. Ela verifica os valores e as atitudes demonstradas durante o processo. A PEADS uma vez aplicada deslancha um processo de construção coletiva e individual de conhecimento, de troca de saberes, de interações entre diversos sujeitos sociais. Todos esses autores vão precisar para continuar crescendo, usar avaliação, planejamento, diagnóstico, pesquisa e análise. (MOURA, 2003, p. 121) 3.3 Os PCNs no município de Riacho das Almas Paralelo a isto, o estudo dos PCNs vem sendo feito desde sua implantação e resultou na elaboração da proposta pedagógica do município. É o referencial para o trabalho das escolas que vivenciam os programas citados (a partir de uma adequação a cada metodologia) e nas cinco outras escolas municipais da Educação básica que não estão inseridas nem na Escola Ativa, nem na PEADS por não se enquadrarem nos critérios exigidos por estes programas como, por exemplo, não serem multisseriadas. Os Parâmetros Curriculares levantam a bandeira da interdisciplinaridade quando em seu documento de introdução propõe que o tratamento dos conteúdos deve integrar conhecimentos de diferentes disciplinas, que contribuem para a 63 construção de instrumentos de compreensão e intervenção na realidade em que vivem os alunos. (BRASIL, 1998, p. 58) Ainda segundo este documento, a educação básica deve estar voltada para a cidadania (BRASIL, 1998, p. 9) e assim busca-se evidenciar a dimensão social que a aprendizagem cumpre no percurso da construção desta cidadania, elegendo, dessa forma, conteúdos que tenham relevância social e que sejam potencialmente significativos para o desenvolvimento de capacidades. (idem, p. 58) Segue-se abaixo uma fiel reprodução da estrutura organizacional dos PCNs. - Caracterização da área - Objetivos gerais da área - Conteúdos organizados em ciclos - Orientações didáticas As orientações didáticas (BRASIL, 1997b, p. 153-159) são entendidas aqui, como os procedimentos metodológicos que as escolas que trabalham com este documento devem utilizar ou incorporar em seus projetos políticos pedagógicos. São elas: 1- Leitura da paisagem: permite aos alunos conhecerem os processos de construção do espaço geográfico. Conhecer uma paisagem é reconhecer seus elementos sociais, culturais e naturais e a interação existente entre eles; é também compreender como ela está em permanente processo de transformação e como contém múltiplos espaços e tempos. A leitura da paisagem pode ocorrer de forma direta — mediante a observação da paisagem de um lugar que os alunos visitaram — ou de forma indireta — por meio de fotografias, da literatura, de vídeos, de relatos. Uma maneira interessante de iniciar a leitura da paisagem é por intermédio de uma pesquisa prévia dos elementos que a constituem. Essa pesquisa pode ocorrer apoiada em material fotográfico, textos ou pela sistematização das observações que os alunos já fizeram em seu cotidiano. Por esse levantamento inicial, o professor e os alunos podem problematizar, formular questões e levantar hipóteses que impliquem investigações mais aprofundadas, demandem novos conhecimentos. A partir dessa pesquisa inicial, consultar diferentes fontes de informação, tais como obras literárias, músicas regionais, fotografias, entrevistas ou relatos, torna-se essencial na busca de novas informações que ampliem aquelas que já se possui. A compreensão geográfica das paisagens significa a construção de imagens vivas dos 64 lugares que passam a fazer parte do universo de conhecimentos dos alunos, tornando-se parte de sua cultura. Os trabalhos práticos com maquetes, mapas mentais e fotografias aéreas podem também ser utilizados. O desenvolvimento da leitura da paisagem possibilita ir ao encontro das necessidades do mundo contemporâneo no qual o apelo às imagens é constante. No processo de leitura, um aspecto fundamental é a aquisição de habilidades para ler diferentes tipos de imagens, tais como, a fotografia, o cinema, os grafismos, as imagens da televisão e a própria observação a olho nu tomada de diferentes referenciais (angulares e de distância). Uma mesma imagem pode ser interpretada de muitas maneiras. Por exemplo, a imagem de um condomínio de prédios pode ser lida de modo diferente por um engenheiro construtor, um engenheiro de tráfego, um ecologista, um político, um favelado ou ainda por uma criança do meio rural. Ao se introduzir a leitura da paisagem, a comparação das diferentes leituras de um mesmo objeto é muito importante, pois permitem o confronto de idéias, interesses, valores socioculturais, estéticos, econômicos, enfim, das diferentes interpretações existentes e a constatação das intencionalidades e limitações daquele que observa. Além disso, possibilita a elaboração de questionamentos fundamentais sobre o que prevalece numa paisagem, pois sua história é marcada pelas decisões que venceram e determinaram a sua imagem. É importante comparar uma mesma paisagem em tempos diferentes e descobrir como e por que mudou? Quem decidiu mudar? A quem beneficiou ou prejudicou? No trabalho comparativo é que sobressaem as intencionalidades daqueles que agiram. A leitura da paisagem por meio da identificação de suas estruturas auxilia também a perceber que muitos problemas enfrentados no bairro, na cidade, no município e em outras paisagens são resultados de ações. Quando se compara uma paisagem rural, de agricultura comercial, em confronto com outra de agricultura ecológica, rios poluídos ou não, grandes e pequenas cidades, se pode ver e avaliar os resultados dessas ações, pois estão impressos na paisagem. O trabalho de observação da paisagem deve ser iniciado pelas características que mais tocam cada um. Uma mesma paisagem pode ser comunicada oralmente, textualmente ou em desenho de forma distinta por cada pessoa que a tente representar. Isso reforça a idéia de que, quando se observa a paisagem, busca-se identificar os aspectos que fazem cada um se aproximar dela. 65 2- Hoje, mais do que nunca, com o auxílio da computação gráfica, a Cartografia, como uma das importantes disciplinas no estudo da Geografia, vem elaborando uma variedade muito grande de mapas temáticos, permitindo estudos sobre fluxos econômicos, formas de ocupação do solo, distribuição dos recursos naturais, etc. A representação cartográfica, inclusive dos territórios em conflito, permite a visualização das fronteiras em estado de tensão política. A proposta pedagógica do município de Riacho das Almas, em processo de construção, tem seus fundamentos nos PCNs e considera que para se obter mudanças no ensino e melhorar a prática dos docentes e conseqüentemente a aprendizagem dos alunos deve-se levar em conta: a participação, colaboração e a gestão democrática na escola, tendo como princípios norteadores a valorização do aluno como um ser livre, ativo e social. Partindo destas concepções, indica-se uma mudança de foco em relação à aquisição do conhecimento, evidenciando como o aluno aprende. Didático e pedagogicamente as práticas educacionais em nosso município precisam atender a uma diversidade procedimental, o que implica a adoção de situações didáticas com abrangência em pedagogia de projetos, princípio da interdisciplinaridade e da construção dialética do conhecimento, resultando em uma via de que além de ―saber‖ é preciso ―saber fazer‖. (RIACHO DAS ALMAS, 2010, p. 05) A proposta apresenta a diversidade metodológica vivenciada em suas escolas e centra seu foco no aluno, sendo o professor um mediador do conhecimento. O papel exercido pelo professor e aluno na busca do saber deverá contemplar valores considerados universais e que estejam voltados para a construção de um ser humano feliz e realizado. Neste sentido, segundo este documento, o município tem como finalidade desenvolver um processo que garanta a formação da consciência crítica do aluno, encontrando mecanismos para a construção de sua própria aprendizagem e de sua própria identidade, desencadeando uma verdadeira mudança de comportamento, alcançando em todos os aspectos e dimensões de seu desenvolvimento, inclusive o de atender os desafios propostos a partir das tecnologias que não podem estar furtadas aos espaços educacionais. (RIACHO DAS ALMAS, 2010, p. 05) 66 Configura-se, portanto que o principal foco do processo ensino-aprendizagem, em todas as metodologias vivenciadas nas escolas municipais de Riacho das Almas é o aluno, como ser aprendente, socialmente ativo, crítico e reflexivo. 67 CAPÍTULO 4: ENSINO APRENDIZAGEM DAS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS NAS SÉRIES INICIAIS DAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE RIACHO DAS ALMAS – PE Segundo os PCNs (1997b) a Geografia pode levar os alunos a compreenderem de forma mais ampla a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva. É a Geografia, portanto uma disciplina que pode contribuir significativamente para atender as necessidades cidadãs dos alunos, podendo a Geografia ser o meio utilizado para que a criança comece a sistematizar seus conhecimentos, buscando se integrar com o mundo e consigo mesmo. O aprender se torna divertido; o mundo começa a ter significado e a vida se torna concreta, no existir da formação intelectual da criança. Segundo Nascimento (2003), a criança começa a conhecer o mundo que a cerca de maneira sistemática na escola, e passa a ter um novo olhar sobre o mesmo. Considera-se então uma prática investigativa necessária para a formação do aluno cidadão; tentar entender a Geografia e viver experiências na escola constitui-se fundamental para as crianças de 7 a 10 anos de idade, pois buscam no conhecimento científico, diferentes meios de interpretar o mundo, para compreendêlo. Vivendo em um determinado lugar, numa dinâmica espacial, a criança desta tenra idade vem construindo suas noções de mundo, sabendo e gostando de representá-las por meio de desenhos. Com essas noções, ela atribui lógica e significados ao que compreende acerca do mundo em que vive, mesmo que não reflita sobre isso. Essas noções referenciam suas ações diárias e a de muitas outras pessoas. (CADERNO DE GEOGRAFIA, 2001, p. 12) Nesta parte apresentam-se os resultados da pesquisa sobre o ensinoaprendizagem das categorias geográficas no município de Riacho das Almas. Inicialmente, abordam-se alguns aspectos considerados relevantes ao ensinoaprendizagem de Geografia, a partir do levantamento de dados pesquisados junto a onze docentes das séries iniciais da rede municipal. No município, os professores que trabalham com as séries iniciais são polivalentes e a maioria deles trabalha com classes multisseriadas. Quanto à formação inicial todos têm o curso de magistério (atual Normal Médio) e 90% tem formação em Pedagogia, sendo que destes 55% tem especialização em Psicopedagogia ou Gestão Escolar. 68 Quanto à formação continuada os docentes afirmam terem acumulado durante os últimos dois anos, em média, 100 h/a, sendo que destas apenas 8h aulas foram dedicadas à disciplina de Geografia e neste caso só os professores que trabalham com a PEADS tiveram esta formação. Constata-se, portanto ser no município a formação continuada em ensino de Geografia insuficiente ou mesmo insignificante, já que a que existe está sendo vivenciada por ser pressuposto de um programa, e não por política da Secretaria de Educação do município. Verifica-se que se continua a dar mais relevância às disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática em detrimentos das outras disciplinas. A carga horária que destinam à disciplina também foi pesquisada, e 73% afirmam trabalharem duas aulas semanais, 9% trabalham três horas semanais e 18% trabalham quatro horas semanais. Segundo a Matriz Curricular do município, o número de aulas destinadas a disciplina de Geografia é de duas aulas semanais, o que vem sendo cumprido pela maioria. O que se pode deduzir, é que os 27% que afirmaram trabalhar mais do que as duas aulas exigidas podem desconhecer esta matriz e por isto terem respondido equivocadamente. Buscando-se avaliar que categorias geográficas os professores abordam em cada série, solicitou-se que os mesmos indicassem para que séries as categorias espaço, paisagem, lugar e território eram mais adequadas de serem trabalhadas. Para os professores pesquisados as categorias lugar e paisagem, devem ser trabalhadas nas 1ª e 2ª séries. À medida que o aluno vai avançando a escolaridade estas categorias não devem mais ser trabalhadas. Percebe-se aí um desconhecimento dos documentos que norteiam a prática do professor, pois os mesmos, já analisados anteriormente, apontam estas categorias adequadas da 1ª a 4ª série. Para os professores a categoria território deve ser introduzida já na 2ª série. Para os documentos oficiais analisados, esta categoria só é trabalhada a partir da 3ª série. Já espaço é entendido como categoria a ser analisada em todas as séries e com mais ênfase na 3ª e 4ª séries, o que coerentemente está em consonância com os documentos oficiais. Estes resultados são apresentados no gráfico 5. Quanto à abordagem das escalas espaciais, buscou-se verificar a compreensão do trabalho do professor com as escalas, pois sabemos ser prática de muitos professores o trabalho apenas com a escala local, sem fazer relação com o global ou vice-versa. A compreensão de que se deve trabalhar fazendo a relação 69 entre as várias escalas muitas vezes não está concretizada pelos professores. Entretanto, nesta pesquisa, verificou-se que 82% deles têm esta compreensão, enquanto que 9% trabalham apenas o local e outros 9% trabalham apenas o global. Gráfico 5- Abordagem das categorias geográficas nas séries iniciais do município de Riacho das Almas 12 10 8 1ª Série 6 2ª Série 3ª Série 4 4ª Série 2 0 Lugar Paisagem Território Espaço Fonte: pesquisa direta Sobre o objeto de estudo da Geografia, 73% dos professores consideram ser o espaço geográfico, sendo que 27% ainda entendem ser este objeto, a paisagem; As outras categorias não foram consideradas objeto de estudo pelos professores. Compreender que o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico é essencial para proporcionar ao aluno uma compreensão da sociedade e ter um ponto de partida para a análise de fenômenos, a partir dos conhecimentos geográficos. Contudo 27% dos professores não têm esta compreensão, refletindo assim, a carente formação dos professores das séries iniciais nesta área. Isto precisa ser corrigido urgentemente, para melhorar o desempenho deste professor no trabalho com os conteúdos geográficos. Quanto aos procedimentos metodológicos utilizados nas aulas de Geografia, dos onze professores pesquisados, dez afirmam sempre utilizarem os procedimentos de observação e um quase sempre. A descrição é feita com freqüência por seis professores, três utilizam este procedimento quase sempre e dois utilizam vez em quando. 70 A exposição oral dos conteúdos é feita por nove professores, enquanto que dois fazem quase sempre ou às vezes. O uso do livro didático, os relatos e a leitura de imagem também são tão utilizados quanto à exposição oral. Os seminários e entrevistas não são muito utilizados. Já, as aulas de campo são utilizadas quase sempre ou às vezes por nove professores e apenas dois afirmam não utilizar. Contudo, como será exposto adiante (p.77), não é este o entendimento dos alunos, que afirmam que as aulas de campo não são utilizadas com esta freqüência em Geografia. Quanto ao trabalho com a interdisciplinaridade, 45% dos professores, afirmam utilizar-se da interdisciplinaridade, contudo, percebe-se uma confusão quanto à compreensão por parte do professor sobre interdisciplinaridade. Perguntados se utilizam a interdisciplinaridade em suas aulas e pedindo-se para citarem como isto ocorre, alguns colocaram como exemplo a construção de um mural, ou o uso do dicionário, ou mesmo citações do tipo: ―trabalho a partir da observação do ambiente e de suas modificações, pois trabalhar com o concreto facilita na compreensão e aprendizagem do aluno‖. Então, se eles não compreendem o que seja interdisciplinaridade e citam exemplos de atividades que não são interdisciplinares, deve-se considerar que se necessita retomar os estudos sobre o tema, com os professores, para que eles superem uma visão fragmentada do ensino e passem a ter uma visão multidimensional, adquirindo assim uma nova consciência acerca da educação. Antes de verificar-se as aprendizagens dos alunos sobre as categorias geográficas, apresenta-se uma avaliação dos professores sobre a aprendizagem dos alunos, na perspectiva de se comparar com os resultados obtidos pelos mesmos. Os professores têm consciência de qual é o nível de aprendizagem de seus alunos? Em que eles precisam melhorar? Para avaliar este aspecto perguntou-se qual o percentual de alunos que dominavam de forma satisfatória os conteúdos trabalhados em Geografia. Nos quadros 5, 6, 7, e 8 apresenta-se a avaliação do professores sobre a aprendizagem dos alunos a partir dos objetivos propostos a cada série. Os quadros registram o número de professores que consideram para aquela série se mais ou menos de 50% de seus alunos dominam os conteúdos de Geografia. 71 Quadro 5- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 1ª série. Objetivos - Conhecer o espaço geográfico e Menos Mais de Não trabalhado de 50% 50% na série o 02 01 funcionamento da natureza em suas múltiplas reações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar. -Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas conseqüências 02 01 em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e interativa nas questões sócio-ambiental local. - Compreender a espacialidade e 02 01 temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações. - Compreender que as melhorias nas 03 condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las. - Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes 01 02 de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. - Valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. 02 01 72 Quadro 6- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 2ª série. Objetivos - Conhecer o espaço geográfico e o Menos Mais de Não trabalhado de 50% 50% na série 01 02 01 02 funcionamento da natureza em suas múltiplas reações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar. -Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e interativa nas questões sócio-ambiental local. - Compreender a espacialidade e 01 02 temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações. - Compreender que as melhorias nas 01 02 condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las. - Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes 03 de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. - Valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. 01 01 01 73 Quadro 7- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 3ª série. Objetivos - Conhecer o espaço geográfico e o Menos Mais de Não trabalhado de 50% 50% na série 01 03 01 03 01 02 funcionamento da natureza em suas múltiplas reações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar. -Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e interativa nas questões sócio-ambiental local. - Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações. - Compreender que as melhorias nas 04 condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las. - Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes 02 02 02 02 de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. - Valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. 01 74 Quadro 8- Avaliação dos professores sobre as aprendizagens dos alunos da 4ª série. Objetivos Menos Mais de Não trabalhado de 50% 50% na série - Conhecer o espaço geográfico e o 02 funcionamento da natureza em suas múltiplas reações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar. -Identificar e avaliar as ações dos homens em 02 sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e interativa nas questões sócio-ambiental local. - Compreender a espacialidade e 01 01 temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações. - Compreender que as melhorias nas 02 condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las. - Fazer leituras de imagens, de dados e de 01 01 01 01 documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. - Valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. 75 Em sua maioria em todas as séries os professores afirmam terem em suas turmas mais de 50% de seus alunos com uma aprendizagem satisfatória, entretanto verifica-se a seguir que esta avaliação não corresponde à realidade da sala de aula, pois em algumas séries, conteúdos ou escolas o desempenho dos alunos nem sempre foi superior a 50%. Para avaliarem-se os alunos foram aplicados questionários elaborados a partir do plano de aula dos professores, da proposta pedagógica do município para cada série e dos livros didáticos utilizados na rede municipal. Verificou-se a aprendizagem através do nível de compreensão em que se encontram os alunos pesquisados a partir da análise do desempenho classificado em: DC- desempenho construído quando o aluno tem mais de 80% de acertos; DEC- desempenho em construção quando o aluno tem acima de 50% até 80 de acertos; DNC- desempenho não construído quando o aluno tem até 50% de acertos. Considerou-se também a metodologia utilizada em cada turma e o tipo de classe: multisseriadas ou regular com o objetivo de se comparar os desempenhos das turmas. Foram aplicados questionários a duzentos e vinte e nove alunos. Na primeira parte dos questionários foram abordadas questões comuns a todas as séries, relativas ao ensino de Geografia, com o objetivo de se verificar o tratamento dado à disciplina por alunos e professores, bem como considerar a compreensão do aluno quanto à importância e função do estudo da Geografia para sua vida cotidiana. Quanto à importância da Geografia, 97% dos alunos pesquisados afirmam ser o estudo da disciplina importante para seu crescimento como aluno e indivíduo, sendo que os 3%, que não consideraram importante, foram todos da Escola Joaquim Ferreira de Lima, matriculados na 3ª série, podendo ser este fenômeno reflexo do trabalho desenvolvido pela escola com relação a esta disciplina escolar. Outro item analisado foi a receptividade do aluno quanto à disciplina, sendo que 75% dos alunos pesquisados consideraram a disciplina fácil, pois faz parte de seu dia-a-dia e 25% deles consideram a disciplina chata ou de difícil entendimento. Este percentual é relevante para a pesquisa, pois contextualiza a relação do aluno com a disciplina, uma vez que, um quarto dos alunos pesquisados não gosta ou não entende os conteúdos trabalhados. 76 Neste aspecto a metodologia da PEADS apresentou uma maior empatia com a disciplina, pois apenas 11% dos alunos não entendem ou acham a disciplina chata, enquanto que nas escolas que utilizam as diretrizes dos PCNs, este índice sobe para 17% e na Escola Ativa cresce assustadoramente para 41%. Seria neste aspecto, o trabalho com esta metodologia a causa deste resultado? Salienta-se que das escolas pesquisadas que trabalham com esta metodologia, a que mais contribuiu para este resultado foi a escola já citada no item importância da Geografia, sendo que 93% de seus alunos tem este entendimento. Pode-se deduzir então que tanto a metodologia, quanto o trabalho da escola com a disciplina, não motiva ou prepara seus professores para um trabalho mais dinâmico e eficiente nesta área. Sobre o número de aulas dadas semanalmente e a importância dada pelo professor ao estudo da Geografia, 70% afirmaram que o professor cumpre com as aulas determinadas e dá muita importância à disciplina, sendo que os outros 30% afirmaram que o professor dá aulas interessantes, mas sem muita freqüência ou que quase não trabalha a disciplina. Isto ocorre com mais freqüência nas turmas de 3ª e 4ª séries, ou seja, nas séries mais adiantadas o professor não trabalha com regularidade a Geografia. Este resultado foi bem aproximado das respostas dos professores sobre este mesmo aspecto já apresentado anteriormente, o que demonstra coerência. Pergunta-se: que conseqüências isto traz para os alunos que ingressam nas séries finais do Ensino Fundamental? Estão eles preparados para interagirem com os conteúdos de Geografia que lhes são exigidos de 5ª a 8ª séries? No gráfico 6, apresenta-se o número de aulas dadas de Geografia por série. Sobre a compreensão do aluno quanto à função da Geografia, 66% entendem que a função da Geografia é levar o aluno a conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza através da interação, construção e produção do território, da paisagem e do lugar. Esta compreensão é maior nas turmas de 3ª e 4ª séries. Outras respostas dadas foram: a função da Geografia é levar o aluno a memorizar nomes de lugares, rios, etc. ou levar o aluno a localizar lugares e paisagens através de leitura e interpretação de mapas, sendo estas respostas dadas em sua maioria pelos alunos da 2ª série. No gráfico 7 apresenta-se uma análise sobre a compreensão da função da Geografia pelos alunos pesquisados em todas as séries. 77 Gráfico 6- Carga horária por série 80% 70% 60% 50% 1ª Série 40% 2ª Série 30% 3ª Série 4ª Série 20% 10% 0% 2 hora aula semanais Fonte: pesquisa direta Gráfico 7- Função da Geografia 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% conhecer o espaço geográfico memorizar nomes de lugares localizar lugares nos mapas Fonte: pesquisa direta Quanto aos procedimentos utilizados pelos professores nas aulas de Geografia os mais citados por todas as escolas pesquisadas foram: observação, explanação oral e livro didático. Outros procedimentos também foram citados, mas variaram de acordo com a metodologia trabalhada na escola. Nas escolas que 78 trabalham com a metodologia da PEADS, os seminários, entrevistas, leituras de imagem são bastante utilizados. Na metodologia da escola ativa destacam-se também procedimentos de leitura de imagem, descrição e relatos. As aulas de campo e experimentos são procedimentos que segundo os alunos, não são utilizados com freqüência nas escolas pesquisadas. Entretanto 91% dos professores afirmaram trabalhar estes procedimentos quase sempre ou às vezes, o que difere da opinião do aluno. A compreensão sobre o que é uma aula de campo não está sendo clara ou para o aluno ou para o professor. Gráfico 8- Procedimentos utilizados nas aulas de Geografia nas metodologias trabalhadas no município de Riacho das Almas - PE 80% 70% 60% 50% 40% PEADS 30% Escola Ativa 20% PCNs 10% 0% Fonte: pesquisa direta Como a utilização destes procedimentos contribui para o desempenho dos alunos? Haverá uma relação entre estes procedimentos e a aprendizagem? Será que as escolas que apresentam um melhor desempenho utilizam os procedimentos mais tradicionais como o livro didático, observação e explanação oral? Ou as que se limitam a isto ficam aquém do desejado? Terão as escolas que trabalham com a metodologia que diversifica mais os procedimentos das aulas, como a PEADS e a 79 Escola Ativa, por exemplo, demonstrado um desempenho mais significativo? Para responder a estes questionamentos analisa-se a seguir os resultados obtidos pelos alunos em cada série. 4.1 A aprendizagem das categorias geográficas na 1ª série do ensino fundamental Nesta série foram aplicados questionários a sessenta e um alunos. Como abordagem das categorias paisagem, espaço e lugar, os conteúdos trabalhados são: moradia, tipos de moradia, escola, rua, tipos de rua. Quanto ao conceito de moradia 92% dos alunos pesquisados demonstraram terem construído este conceito ao identificarem a moradia própria de seu lugar de vivência, distinguindo-a, por exemplo, da moradia de índios, ou de algumas moradias das grandes cidades (prédios de apartamentos). Quanto aos materiais próprios das moradias e os tipos de moradias houve também uma demonstração de aprendizagem por 90% dos alunos pesquisados. Assim, os mesmos demonstram atingir o objetivo sobre este conteúdo que é comparar os diversos tipos de moradia, e demonstram também interagir com os conceitos de lugar, espaço e paisagem, pois conseguiram até diferenciar os tipos de moradia atual dos tipos de moradias antigas, caracterizando uma compreensão sobre a transformação das paisagens ao longo dos tempos. O conceito de escola, sua importância e finalidade foram compreendidas por apenas 64% dos alunos pesquisados, sendo que 26% já demonstram um processo de construção do conceito e 10% demonstram não compreender noções sobre este espaço de vivência do aluno. Sendo a escola um espaço em que a criança passa a interagir em sociedade, é preocupante que 10% dos alunos pesquisados apresentem esta deficiência, visto que é na escola que o mesmo irá desenvolver habilidades que lhes permitirão no futuro obter sucesso em sua vida profissional e até social. É fundamental para ele que a função e importância da escola estejam claramente compreendidas e ocorra um processo de participação do mesmo na comunidade escolar. Neste aspecto não houve grandes diferenças no desempenho dos alunos por metodologia, ou seja, o percentual que não construiu conhecimento esteve equilibrado nas três metodologias de ensino aplicadas na rede municipal. Quanto às noções sobre rua, 49% identificarem a rua como espaço público de vivência e reconhecem que se pode localizar casa, lojas, escolas, etc. através do nome da rua e número da casa, etc. 33% demonstram estarem em processo de 80 construção deste conceito, enquanto que 18% não reconhecem regras básicas de convivência, como não pedalar ou estacionar em calçadas. Contudo, 15% não apresentam aprendizagem quanto aos tipos de rua, não diferenciando ruas comerciais, residenciais e industriais, 72% demonstram estar em processo de construção e 13% já construiu este conceito. Gráfico 9- Aprendizagens sobre rua 80% 70% 60% 50% DC 40% DEC 30% DNC 20% 10% 0% Conceito de rua Tipos de rua Fonte: pesquisa direta Das escolas pesquisadas nesta série, na Escola José Ferreira da Silva, que trabalha com a metodologia da PEADS, os alunos tiveram 100% de aproveitamento em todos os conteúdos pesquisados com exceção em tipos de ruas, onde 37% dos mesmos demonstraram ter construído o conceito e 63% estão em processo de construção. Nesta série o desempenho desta escola foi considerado muito satisfatório e os mesmos demonstraram dominar conhecimentos sobre o lugar em que vivem. 4.2 A aprendizagem das categorias geográficas na 2ª série do ensino fundamental Nesta série, as categorias trabalhadas são as mesmas da série anterior, abordando-se, entretanto conteúdos como bairro, serviços públicos, o município e espaço urbano e rural. Assim, eles constroem noções sobre lugar, espaço e 81 paisagem a partir de sua vivência e interação com o espaço geográfico. Foram pesquisados cinqüenta e seis alunos na série. Quanto ao conceito de bairro, apenas 36% demonstram terem construído o conceito, enquanto que 43% estão em processo de construção e 21% não desenvolve a compreensão sobre o que é bairro. Quanto aos tipos de bairro, 52% dos alunos pesquisados tiveram desempenho construído, 2% estão em construção, e 46% não demonstraram aprendizagem quanto ao tipo de bairro, o que é considerado um percentual alto. Isto se deu com mais ênfase nas escolas que fundamentam seu planejamento segundo as diretrizes dos PCNs. Gráfico 10- Aprendizagens sobre bairro 60% 50% 40% DC 30% DEC DNC 20% 10% 0% Conceito de bairro Tipos de bairro Fonte: pesquisa direta A compreensão sobre quem deve oferecer os serviços públicos e que os mesmos são financiados por impostos pagos pela população, é satisfatória para 40% dos alunos, enquanto que 48% estão em processo de construção e 12% não demonstram desempenho construído. O mais preocupante está nos resultados apresentados para o conteúdo município, pois mais de 90% não conseguiram identificar o mapa de seu município e apenas pouco mais de 50% souberem identificar o nome de seu município. Neste caso os alunos confundem município com país identificando o mapa do Brasil como 82 o do município. Apenas 55% identificaram quem governa o município e que o município é formado de áreas urbanas e áreas rurais. O que se reflete é que não estão sendo socializados aos alunos recursos como mapas, gráficos, textos, etc. que trabalhem a realidade local. Como já se viu, a compreensão de que se deve trabalhar fazendo a relação entre as várias escalas está concretizada por 82%dos professores. Entretanto, o aluno não reconhece geograficamente seu próprio espaço de vivência. Deduz-se que ou o professor respondeu equivocadamente quando indagado sobre o trabalho com as escalas, ou os procedimentos que ele utiliza em sala de aula para promover a construção do conhecimento sobre este conteúdo não estão sendo adequados ou dando conta de contribuir para a aprendizagem dos alunos. Será que o mapa do município é apresentado nas aulas? O que leva um aluno de 2ª série a não identificar o nome de seu município? Com certeza a explicação está no trabalho do professor. Esta realidade precisa ser mudada, pois, se aspectos relacionados com o lugar em que vivem não são compreendidos pelos alunos, como eles poderão ampliar as noções espaciais e interagir com outras realidades? Com outros contextos? Como poderão conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza através da interação, construção e produção do território, da paisagem e do lugar? Gráfico 11- Aprendizagens sobre município 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 DC DEC DNC Identifica o mapa do município Identifica o nome do município Identifica as Identifica a funções dos composição poderes das áreas de públicos um município Fonte: pesquisa direta 83 No conceito espaço urbano e espaço rural apenas 7% relacionam seus elementos corretamente, enquanto que 48% estão em processo de construção e 45% não conseguiram relacionar os elementos do espaço urbano ou do espaço rural, incluindo-se os problemas ambientais de cada área. Neste item os alunos fizeram a mesma confusão, citando as queimadas como problema das áreas urbanas, por exemplo. Esta relação entre os elementos dos espaços rurais e urbanos é fundamental para que os alunos construam noções sobre lugar, espaço e paisagem a partir de sua vivência e interação com o espaço geográfico. Gráfico 12- Compreensão dos elementos dos espaços rurais e urbanos 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% DC DEC DNC Fonte: pesquisa direta 4.3 A aprendizagem das categorias geográficas na 3ª série do ensino fundamental É nesta fase da escolaridade que se aborda a categoria território. No município, esta abordagem se dá através do eixo sobre novas tecnologias enfocando o período técnico-cientifíco informacional, através do estudo da evolução das tecnologias e as novas territorialidades em rede. Os conteúdos trabalhados neste eixo são: meios de transporte e de comunicação, onde a identificação da evolução dos meios e tipos de transportes utilizados pelas sociedades como forma de suprir suas necessidades e torná-la capaz de exercer seus direitos na defesa de seu território é o objetivo principal. Entre os oitenta e oito alunos pesquisados, 67% 84 demonstrarem construção do conhecimento trabalhado, 17% estão em construção e 16% não construíram o conhecimento. Quanto aos meios de comunicação, deve o aluno ser capaz de reconhecer a importância da comunicação na vida em sociedade e sua evolução tecnológica ao longo do tempo, bem como, reconhecer as possibilidades de que estes meios de comunicação possam garantir-lhes interagir com outras escalas inserindo-lhes, assim, num contexto mais amplo do que o lugar de vivência. Dos alunos pesquisados 73% construíram o conhecimento e 25% estão em processo de construção, enquanto que apenas 2% não demonstraram ter construído o conhecimento. Gráfico 13- Aprendizagens sobre novas tecnologias 80% 70% 60% 50% DC 40% DEC 30% DNC 20% 10% 0% Meios de Comunicação Meios de Transporte Fonte: pesquisa direta A aprendizagem da categoria território foi considerada satisfatória. Entretanto, os conteúdos sobre meios de comunicação foram mais bem compreendidos pelos alunos do que os meios de transporte. Observou-se que a dificuldade deu-se na compreensão da relação entre os transportes próprios dos espaços urbanos e rurais e não nas questões relativas à utilização dos mesmos para suprir suas necessidades e exercer seus direitos na defesa de seu território. Nesta série foram avaliados também os conteúdos sobre paisagem. Verificar a conceituação de paisagem pelos alunos evidenciando os elementos que a caracterizam e identificando os tipos de paisagem foram os objetivos propostos. 85 Quanto ao conceito de paisagem a apreensão do conhecimento se deu por apenas 55% dos alunos pesquisados, enquanto que 34% estão em fase de construção e 11% não conseguem demonstrar domínio dos conteúdos citados. A identificação dos tipos de paisagem foi feita por apenas 11% dos alunos e 82% demonstrou um conhecimento ainda em fase de construção, enquanto que 7% não demonstraram ser capaz de identificar os tipos de paisagem. Este resultado pode ser reflexo das dificuldades apresentadas pelos alunos sobre a compreensão dos espaços rurais e urbanos já apresentados no gráfico12. O gráfico 14 apresenta os resultados dos alunos sobre a aprendizagem do conceito de paisagem. Gráfico 14- Aprendizagens sobre paisagem 90% 80% 70% 60% 50% DC 40% DEC 30% DNC 20% 10% 0% Conceito de paisagem Tipos de paisagem Fonte: pesquisa direta Considerando que já estão em seu terceiro ano de escolaridade, é insatisfatório este quadro, pois a categoria paisagem já vem sendo trabalhada desde a 1ª série. Pode-se fazer uma correlação com o que ocorre na 2ª série quanto às dificuldades dos alunos em relacionar os elementos dos espaços rurais e urbanos. Como já foi dito, sem fazer esta relação o aluno não poderá construir noções de lugar, paisagem e território. Confirma-se, portanto, que conteúdos básicos que são abordados desde a 1ª série ainda não são compreendidos pelos alunos que se encontram em séries mais adiantadas. E mais uma vez chama-se atenção para a utilização de procedimentos do professor nas aulas de Geografia. Por exemplo, os 86 professores, segundo os alunos, não utilizam aula de campo como recurso didático. A aula de campo seria um recurso ideal para estudar os tipos de paisagem. A exploração do meio, a relação entre os elementos das paisagens, a interação do homem com a natureza seria uma abordagem necessária para a construção deste conhecimento. 4.4 A aprendizagem das categorias geográficas na 4ª série do ensino fundamental Nesta série o conceito de território é mais explorado através do estudo de fronteiras, ocupação do espaço e população brasileira. A compreensão do conceito de território foi avaliada através de questões sobre a localização do Brasil no continente americano e suas fronteiras. Dos 24 alunos avaliados, 21% construíram o conhecimento, 42% estão em construção e 37% não demonstram ter construído o conhecimento. Quanto à localização do território brasileiro através das coordenadas geográficas e nos hemisférios, 33% construíram o conhecimento, 46% estão em construção e 21% não construíram o conhecimento. Gráfico 15- Compreensão do conceito de território 50% 45% 40% 35% 30% DC 25% DEC 20% DNC 15% 10% 5% 0% Conceito de fronteira Conceito de território Fonte: pesquisa direta Por se tratar de uma série onde se considera o aluno capaz de interagir com conceitos que abordem todas as categorias geográficas, utilizou-se questões que 87 avaliam o domínio dos conteúdos procedimentais através da utilização de mapas e gráficos nos conteúdos sobre relevo e população. Na interpretação com mapas que avaliou o conhecimento sobre o relevo, apenas 4% tiveram o conhecimento construído, 59% em construção e 37% não conseguiram obter êxito nesta tarefa. Quanto aos gráficos o resultado foi mais satisfatório, pois 42% construíram o conhecimento e 54% está em fase de construção. Apenas 4% não souberam interpretar os gráficos. Deduz-se que se na 2ª série o aluno não reconhece o mapa de seu município, nas séries seguintes ele terá dificuldade de interpretar mapas mais complexos como os que são apresentados nos livros didáticos de 4ª série, considerando aqui mais um aspecto já analisado pela pesquisa quanto aos procedimentos utilizados pelos professores para as aulas de Geografia que é o uso do livro didático. O fato de serem os gráficos, melhor interpretados pelos alunos, do que os mapas pode ser explicado, porque a utilização de gráficos se dá também em aulas de Matemática e até de outras disciplinas, o que não ocorre com os mapas. O que mostra que o aluno tem capacidade de explorar estes recursos desde que sejam disponibilizados aos mesmos com mais freqüência e partir do estudo de sua própria realidade. Neste ponto levanta-se uma discussão sobre a alfabetização cartográfica. Vários estudiosos apontam ser a utilização da linguagem cartográfica sem dúvida alguma, um instrumento que amplia as possibilidades dos alunos de extrair, comunicar e analisar informações em vários campos do conhecimento — além de contribuir para a estruturação de uma noção espacial flexível, abrangente e complexa. Compreender a espacialidade dos fenômenos estudados, no presente e no passado, e compará-la por meio de suas sobreposições é algo que a própria Geografia busca fazer e os alunos dos ciclos iniciais também podem realizar. Os PCNs assim colocam a questão: Ler em mapas como a população de uma região está distribuída e como o clima e a vegetação também o estão para comparar as informações obtidas e formular hipóteses variadas sobre suas relações é uma forma de se aproximar e compreender os procedimentos pelos quais este campo do conhecimento se constitui. (BRASIL, 1997b, p. 153-159) Entretanto nossos professores parecem não concordarem com esta proposição e cada vez mais limitam o uso deste instrumento em suas aulas. É claro que não podemos esquecer que sua formação não é especifica para o trabalho com 88 a disciplina, pois como já foi citado, sua formação é em Pedagogia, e a formação continuada em Geografia é insignificante e não é prioridade para a Secretaria Municipal de Educação. Isto poderia justificar a não utilização deste recurso, haja vista muitos professores considerarem difícil o trabalho com os mapas, contudo seu papel é o de buscar suprir suas deficiências, pois o aluno não pode deixar de ter acesso à compreensão e interação com um procedimento tão básico e essencial do conhecimento geográfico como é a Cartografia. Gráfico 16- Utilização de mapas 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% DC DEC DNC Fonte: pesquisa direta Gráfico 17- Utilização de gráficos 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% DC DEC Fonte: pesquisa direta DNC 89 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES Buscando-se verificar a aprendizagem das categorias geográficas nas séries iniciais do município de Riacho das Almas, várias foram as abordagens teóricas e metodológicas necessárias ao desenvolvimento do trabalho a fim de atingir os objetivos propostos. Um destas abordagens deu-se na aplicação de questionários aos professores que trabalham com os alunos pesquisados, a fim de verificar qual a visão que estes professores têm da aprendizagem de seus alunos e como também eles interagem com a disciplina de Geografia. A primeira conclusão a que se pode chegar é de que os professores têm domínio das noções e conceitos geográficos, mesmo não tendo formação inicial ou continuada específica na área. Têm conhecimento de como devem planejar e executar seu trabalho e alguns utilizam procedimentos variados para ensinar Geografia, o problema é que a maioria ainda se limita ao uso do livro didático, explanação oral e observação, ou seja, são valorizados os aspectos conceituais em detrimento dos procedimentais ou atitudinais, o que justificaria o fato de constatar-se que há um número relevante de alunos que não entendem ou não gostam de Geografia por estarem as aulas sendo repetitivas, mecânicas e pouco estimulantes. Estes procedimentos não mobilizam os alunos a buscarem, indagarem, questionarem, pois trazem o conhecimento pronto e acabado, cabendo a eles a tarefa de apenas ler e responder questões. Sabe-se que atualmente as tecnologias estão acessíveis a todas as classes sociais. O debate em torno dos rumos da educação está se intensificando rapidamente e, nele, o principal foco de discussão está sobre as tecnologias na educação e sua correta utilização nas escolas. O avanço incontestável das tecnologias da informação tornando o mundo uma aldeia global conectada por vários meios, principalmente, pela rede mundial de computadores, a Internet e um intenso processo de informatização das mídias, propicia o surgimento de novas linguagens comunicacionais, diferentes mecanismos de informação digital, o armazenamento das informações e - claro - novas possibilidades de educação. Cabe então uma reflexão: estes procedimentos utilizados pelos professores não estariam ultrapassados? O professor agindo assim compete com instrumentos que possibilitam ao aluno interagir com o conhecimento 90 de forma mais dinâmica e inovadora. Como quer o professor que o aluno prefira sua aula? Não está na hora de acompanhar os avanços tecnológicos e introduzi-los como recursos pedagógicos na sala de aula? No município de Riacho das Almas, todas as escolas têm computadores acessíveis ao aluno. Nas escolas rurais, são laboratórios com cinco computadores; embora não possuam internet, seu uso restrinja-se aos softwares, e a utilização dos mesmos não foi incorporada à prática pedagógica do professor. Se o professor perceber o potencial do computador, meio caminho está andado para fazer dele uma ferramenta pedagógica em sala de aula. Contudo, o uso inteligente de um instrumento dessa natureza requer mudanças no currículo que, por sua vez, vão acarretar mudanças na organização da escola e da sala de aula. No campo das práticas pedagógicas e educacionais, emerge, assim, a necessidade da construção de currículos de caráter globalizado, interdisciplinar e continuado. Tradicionalmente organizado em disciplinas rígidas e seriado, de modo hierárquico, o currículo ora trabalhado, não é compatível à aprendizagem que a rede mundial de computadores viabiliza. É preciso repensá-lo não apenas no plano da proposta ou projeto curricular, como no plano do ensino e da aprendizagem, também chamado de currículo em ação. É tarefa, portanto da Secretaria Municipal de Educação levantar esta discussão e propiciar aos seus educadores a formação adequada para que realizem tal transformação. A segunda conclusão é de que ao contrário do que se difunde, os professores das séries iniciais estão trabalhando a disciplina de Geografia regularmente, sendo, contudo, as aprendizagens ainda insuficientes para se atingir um padrão de qualidade. Então, o problema não está no número de aulas, mas na forma como estas aulas estão sendo trabalhadas, ou seja, os procedimentos de ensino. A escola está conteudista e o aluno é cidadão do mundo através do uso das tecnologias. Quanto à aprendizagem dos alunos sobre as categorias geográficas nas séries iniciais, o que se pode afirmar a partir dos resultados desta pesquisa é de que a aprendizagem acontece de forma insatisfatória, pois na maioria dos conteúdos os alunos estão com desempenho em construção. Isto ocorre mais especificamente nas 3ª e 4ª séries, ou seja, à medida que a complexidade dos conteúdos se apresenta, o aluno tem mais dificuldades, o que prova que ele não está evoluindo 91 como deveria. Contudo, os alunos dão importância a esta área do conhecimento e sua maioria está motivada para aprender. Considera-se que a metodologia da PEADS é a que mais favorece o trabalho do professor com a disciplina, pois os procedimentos de pesquisa, entrevistas, seminários, entre outros que são utilizados nesta metodologia, oferecerem mais possibilidades de interação do aluno com o lugar de vivência, cabendo ao professor ampliar as escalas para que o mesmo possa ampliar sua visão de mundo e interagir com o espaço geográfico. Há, portanto que se destacar que as diferentes formas de abordagem dos conteúdos propostos pelas diferentes metodologias vivenciadas nas escolas da rede municipal refletem nos resultados apresentados pelos alunos quanto à verificação da aprendizagem das categorias geográficas. Não se deve classificar em melhor ou pior esta ou aquela metodologia, mas é certo que as metodologias que utilizam procedimentos variados, que não fazem do livro didático seu único recurso e que apresentam aulas mais inovadoras conseguem se aproximar mais do nível desejado de aprendizagem que se espera do aluno. Em síntese, o que se espera como contribuição deste trabalho é que todos envolvidos no processo educativo percebam-se como agentes responsáveis pela transformação e superação do quadro que se apresentou. Esta superação poderá se dar a partir das seguintes sugestões/ações: 1- Por parte da Secretaria Municipal: efetivamente investir-se em formação continuada na área de Geografia e em novas tecnologias, como política pública, capaz de sensibilizar seus professores das séries iniciais para a necessidade de mudança de postura diante dos recursos pedagógicos e procedimentos metodológicos que utilizam em suas salas de aula; esta formação iria subsidiar os professores de fundamentos teóricos sobre as categorias geográficas a partir do estudo dos documentos que utiliza para elaborar seu planejamento sejam eles os PCNs ou não. O importante é que o professor esteja preparado para fazer sua opção teórico-metodológica e colocá-la em prática transformando assim esta realidade. 2- Por parte dos professores: efetivamente utilizarem os conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação e experiência para interagir com um currículo mais vivo, ativo e que tenha significado para o aluno. Posicionar-se diante das carências seja de formação ou de disponibilização de recursos didático-pedagógicos 92 e utilizar melhor aqueles que eles de que já dispõem, como os laboratórios de informática, por exemplo, deixando de lado procedimentos metodológicos que não motivam o aluno a aprender. Muitas vezes, a escola dispõe de tecnologias, bibliotecas e outros recursos que o professor ou desconhece que exista ou faz a opção de não utilizar, ficando limitado ao uso do livro didático. 3- É necessária também uma reflexão por parte de todos os envolvidos, sobre os programas e metodologias trabalhadas no município. Sabe-se ser justificável a diversificação das mesmas para que se possa dar o atendimento especializado. Por exemplo, o trabalho com turmas multisseriadas não pode ser o mesmo com as turmas que não o são. É primordial, todavia, refletir-se sobre em que pontos estas metodologias poderiam ser contextualizadas numa única linha pedagógica, referenciada nos princípios de participação, colaboração e valorização dos alunos e de seus educadores. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Rosângela de e PASSINI, Elza Y. O Espaço Geográfico – Ensino e Representação. Contexto: São Paulo, 2006. ARAÚJO, Raimundo Lenilde e RIBEIRO, Luís Távora Furtado. Matriz Construtivista e Ensino de Geografia na Escola. Encontro de Geógrafos da América Latina. 2009. Disponível em http:egal2009.easyplanners.info.2009, acesso em 12 de julho de 2009. AZENHA, Maria da Graça. Construtivismo, de Piaget a Emilia Ferreiro. Ática. São Paulo, 2003. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução. Volume 1. Brasília: MEC/SEF, 1997a. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: História e Geografia. Volume 5. Brasília: MEC/SEF, 1997b. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia. 3º e 4º ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Projeto Base- Brasília: SECAD/MEC. 2008. CADERNO DE GEOGRAFIA, Ciclo Básico e Intermediário. Séries iniciais do Ensino Fundamental/Secretaria do Estado de Minas Gerais. Elaboradores: Nair Aparecida Ribeiro de Castro, Iara Vieira Guimarães, Marli Sales, Rita Elizabeth Durso Pereira Silva. Belo Horizonte, SEE/MG. 2001. CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a ler o mundo: a Geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247, maio/ago. 2005. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br acesso em 21 de novembro de 2008. CARLOS, Ana Fani Alessandri e OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Reformas no Mundo da Educação. Contexto. São Paulo, 1999. CASTELLAR, Sonia Maria Vanzella (org.). Educação Geográfica: teorias e práticas docentes. São Paulo: Contexto, 2005. CASTORINA, José. Psicologia Genética: aspectos metodológicos e implicações pedagógicas. Artes Médicas, Porto Alegre, 1988, p. 45-57 . 94 CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, Escola e Construção de Conhecimentos. Papirus: Campinas-SP, 1998 (Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico). CORRÊA, Roberto Lobato. Espaço, um conceito-chave em Geografia. in: CASTRO, Iná Elias de. Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, p.-47. 1995. FONSECA, Vitor da. Dificuldades de aprendizagem. 2ª edição. Artmed. Porto alegre, 1995. GEBRAN, Raimunda Abou. A Geografia no ensino fundamental – trajetória histórica e proposições pedagógicas. Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 1, nº 1, 81-88, jul/dez, 2003. HAESBAERT, Rogério.O mito da desterritorialização. Do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. HAESBAERT, Rogério. Da desterritorialização à multiterritorialidade. São Paulo: Anais do X Encontro de geógrafos da América Latina, Universidade de São Paulo, 2005. INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Censo Escolar. Disponível em www.inep.gov.br. Acesso em outubro de 2009. LISBOA, Severina Sarah. A importância dos conceitos da Geografia para a aprendizagem de conteúdos geográficos escolares. Revista Ponto de Vista- vol. 4. UFSC. Florianópolis, Santa Catarina. 2002. Disponível em http:www.periodicos.ufsc.br. acesso em 15 de junho de 2010. MOREIRA, Marco Antonio. Ensino e Aprendizagem- enfoques teóricos. Editora Moraes. São Paulo, 1985 MOREIRA, RUY. Pensar e ser em Geografia. Ensaios de história, epistemologia, e ontologia do espaço geográfico. Contexto. São Paulo, 2007. MOURA, Abdalaziz de. Princípios e fundamentos da proposta educacional de apoio ao desenvolvimento sustentável – PEADS. Uma proposta que revoluciona o papel da escola diante das pessoas, da sociedade e do mundo. Glória de Goitá, PE. 2003. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Geografia e ensino: os parâmetros curriculares nacionais em discussão. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri e OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino, org. Reformas no Mundo da Educação. Contexto. São Paulo, 1999. 95 PESENTE, Cleomar Herculano de Souza. Escola Ativa: aspectos legais. 2ª impressão. Brasília: Fundescola/DIPRO/FNDE/MEC, 2006. PONTUSCHKA, Nídia Nacib;PAGANELLI, Tomoko Iyda; CACETE, Núria Hanglei. Para ensinar e aprender Geografia. São Paulo: Cortez, 2007. (Coleção docência em formação. Série ensino fundamental) RIACHO DAS ALMAS, Proposta Pedagógica (versão preliminar). 2010. RIGONATO, Valney D. O ensino de Geografia nas séries iniciais: uma proposta e os seus desafios. VI ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE GEOGRAFIA: FALA PROFESSOR. Uberlândia/MG de 23 a 27 de julho de 2007. ROCHA, José Carlos. Diálogo entre as categorias da Geografia: espaço, território e paisagem. Caminhos da Geografia, Uberlândia, v. 9, n. 27, p. 128-142, set/2008. Disponível em http://www.ig.ufu.br/revista/caminhos.html acesso em 28 de julho de 2010. SACRISTÁN, J. Gimeno e GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4ª edição. Artmed. Porto Alegre. 2000. SANTOS. Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Fundamentos teóricos e metodológicos da Geografia. São Paulo. Hucitec, 1994. SPÓSITO, Maria encarnação Beltrão. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino de Geografia: pontos e contrapontos para uma análise. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri e OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Reformas no Mundo da Educação. Contexto. São Paulo, 1999. STRAFORINI, Rafael. Ensinar Geografia – O desafio da totalidade-mundo nas séries iniciais. 2ª edição. Annablume. São Paulo, junho de 2006. SUERTEGARAY, D. M. A. Espaço Geográfico Uno e Múltiplo. Scripta Nova, Barcelona, v. 93, 2001. TUAN,Yi-Fu. Topofilia. São Paulo: Difel, 1980. 96 APÊNDICES- QUESTIONÁRIOS E QUADROS DE ANÁLISE APÊNDICE A Questões gerais sobre o ensino de Geografia 1- Nome: _________________________________________________ 2- Escola:__________________________________________________ 3- Série:___________________________________________________ 4- Idade:__________________________________________________ 5- Considera a Geografia uma disciplina importante para sua formação escolar? ( a ) sim ( b ) não 6- Para você a Geografia é uma disciplina: ( a)chata e de difícil entendimento ( b)fácil pois faz parte do nosso dia a dia 7- Em sua opinião que tratamento seu professor dá aos conteúdos de Geografia na sala de aula? (a ) dá muita importância e cumpre com as aulas reservadas para a disciplina (b )dá aulas interessantes mas não trabalha a disciplina com muita freqüência (c) quase não trabalha a disciplina 8- Para você a Geografia serve para: ( a )aprender nomes de lugares, rios, serras, etc. através da memorização. ( b ) localizar lugares, paisagens através da leitura e interpretação de mapas. ( c )conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza através da interação, construção e produção do território, da paisagem e do lugar. 97 9- Para você quais os procedimentos ou materiais utilizados pelo professor para ensinar Geografia que facilitam o aprendizado? a )observação ( b )aula de campo ( c )explanação oral ( d )livro didático ( e )leitura de imagem ( f )descrição ( g )experimentação ( h )relatos APÊNDICE B Questões específicas da área de Geografia para a 1ª série 1- As moradias são iguais? ( a ) sim ( b ) não 2- Em que tipo de moradia você habita? a) casa b) oca c) prédio d) sobrado 3- De que materiais é feita sua moradia? a) tijolos b) palha c) madeira 98 d) papelão 4- Que tipo de moradia predominava no Brasil há cerca de 40 anos? a) ocas b) prédios c) casas e sobrados 5- Que tipo de moradias não existe no lugar em que você vive? Pode marcar mais de uma opção. (a ) prédios de apartamentos (b ) casas de madeira (c ) barracos de favelas (d ) casas de alvenaria (e ) ocas 6- Como se chama o lugar próprio para estudar? a) casa b) escola c) hospitais 7- Todas as escolas são iguais? ( a ) sim ( b ) não 8- Assinale as alternativas que correspondem aos direitos relativos dos cidadãos quanto à educação: (a) ter vagas para freqüentar a escola dos 7 aos 14 anos no mínimo (b) receber educação escolar em condições de igualdade e oportunidades (c) desenvolver suas aptidões e sua individualidade, seu senso de responsabilidade social e moral 99 (d) estudar em classe especial para não conviver com crianças que não apresentem necessidades especiais. 9- As ruas são vias públicas onde circulam muitas pessoas diariamente, por isso para localizá-las precisamos saber: a) O CEP da rua b) O nome da rua c) O número da rua 10- Para localizarmos a casa de alguém ou um estabelecimento comercial precisamos do endereço. Para facilitar esta tarefa é indispensável além do nome da rua saber também: a) número da rua b) número da casa c) nome do bairro d) CEP do bairro 11- Uma rua comercial possui essencialmente (podem ser marcadas mais de uma opção): a) casas b) lojas c) cinemas d) escolas 12- As ruas deveriam ser (podem ser marcadas mais de uma opção): a) pavimentadas b) arborizadas c) iluminadas d) limpas 100 e) ter animais transitando f) estreitas g) de mão dupla h) sem saída i) sem sinalização 13- A rua é(podem ser marcadas mais de uma opção): a) espaço público de convivência b) espaço privado das pessoas c) espaço de circulação de veículos e pessoas d) local de manifestações políticas e culturais 14- Mesmo sendo espaço onde todos circulam e convivem existem regras para tornar esta convivência melhor. Marque as alternativas que representam estas regras: a) Não jogar lixo na rua b) Obedecer à sinalização c) Não produzir poluição sonora d) Não estacionar em local impróprio e) Estacionar nas calçadas f) Pedalar nas calçadas APÊNDICE C Questões específicas da área de Geografia para a 2ª série 1- O bairro é parte de: ( )uma cidade ( )um estado 101 ( )um país ( )um continente 2- Um bairro é composto de: ( )lojas ( )pontes ( )escolas ( )igrejas ( )rios ( )casas ( )ruas ( )estradas ( )praças ( )prédios 3- Os serviços de coleta e tratamento de esgoto, água tratada e encanada, bibliotecas e teatros, policiamento são serviços: ( )públicos 4- ( )privados Os bairros podem ser: comerciais, residenciais e industriais. Em que tipo de bairro prevalece estas atividades: Supermercados, padarias, lojas, quitandas. (a)comercial 5- (b)residencial (c)industrial A manutenção dos serviços públicos depende do pagamento de impostos e taxas. Quem paga estes impostos? ( ) a população ( )os governantes 6- Qual o nome do seu município?__________________________ 7- Quem governa o município? ( )o presidente ( )o governador ( )o prefeito 102 ( )o vereador 8- O município é uma parte: ( )do país ( )do estado ( )do bairro ( )da cidade 9- Assinale a afirmativa correta: ( )O município é formado exclusivamente pela área urbana; ( )O município é formado pela área urbana e pela área rural. 10- Indique os elementos próprios da área urbana: ( )cidade ( )chácaras ( )bairros ( )concentração de muitas casas ( )indústrias ( )plantações 11- No espaço rural quais os principais problemas enfrentados pela população? Tenha como base a realidade de nosso município. ( )falta de emprego ( )inundações ( )fatores climáticos desfavoráveis ( )má distribuição de terras ( )queimadas ( ) poluição de indústrias 12- Assinale um X no mapa que representa o seu município: 103 APÊNDICE D Questões específicas da área de Geografia da 3ª série 1- Das palavras abaixo qual você associa à expressão espaço urbano? a) Campo b) Vegetação c) Plantações d) Rural e) Cidade 2- Você concorda que muitos elementos do espaço rural também estão presentes no espaço urbano? _________________________________ 3- E o contrário também pode acontecer? ________________________ 4- Existem diferenças entre os lugares que compõem o espaço urbano? _____________________________ 5- A metrópole é um lugar que faz parte rural?________________________________________ do espaço urbano ou 104 6- Toda cidade ou lugar tem uma função, isto é uma atividade econômica que se destaca. Qual a função do lugar onde você mora: ( )turística ( )comercial ( )agrícola ( )industrial 7- As atividades econômicas estão agrupadas em setores. Em que setor se enquadra a atividade econômica do lugar onde você vive? ( ) primário 8- ( )secundário ( )terciário Nos últimos sessenta anos houve um êxodo (saída) das pessoas do campo para a cidade. Por que motivo isto ocorreu? ( )por vontade de viver em um lugar diferente ( )pelo desenvolvimento da indústria que favoreceu a oferta de emprego nas cidades ( )por que o campo não é um bom lugar para viver 9- Que problemas ambientais são próprios do espaço urbano: ( ) lixo ( )poluição do ar ( )poluição da água ( )esgotos ( )agrotóxico ( )queimadas 105 10- A forma de organização do espaço urbano é a mesma que do espaço rural? _______________________ 11- No espaço rural quais os principais problemas enfrentados pela população? Tenha como base a realidade de nosso município. ( )oferta de trabalho escassa ( )inundações ( )fatores climáticos desfavoráveis ( )má distribuição de terras ( )queimadas ( )muita poluição das indústrias 12- Marque com um x os meios de transporte encontrados no espaço rural: ( )helicóptero ( )trator ( )avião ( )ônibus ( )metrô ( )carroça ( )carros de passeio ( )bicicleta 13- Quais os meios de comunicação mais utilizados hoje tanto nas áreas urbanas como nas áreas rurais? Marque apenas três. ( )telefone móvel ( )internet ( )televisão ( )rádio 106 ( )carta ( )fax ( )telegrama 14- Dos meios de comunicação citados na questão anterior, qual em sua opinião está sendo menos utilizado? ______________________________________ 15- Apesar da evolução dos meios de comunicação e facilidade de acesso, podemos dizer que todos estes meios estão disponíveis para toda população independente de seu poder aquisitivo, ou seja, para todas as classes sociais, sejam ricos ou pobres?____________________________________________________ 16- Que meios de comunicação você ou sua família utilizam com freqüência? a) Internet b) Telefone móvel c) Telefone fixo d) Rádio e) Televisão f) Carta g) Fax h) telegrama APÊNDICE E Questões específicas da área de Geografia para 4ª série 1- O Brasil está localizado em que continente? ( )africano ( )europeu ( )americano ( )asiático 2- Em relação aos hemisférios, onde se localizam as terras do Brasil? ( )hemisfério norte 107 ( )hemisfério sul 3- Assinale os países que não fazem fronteira com o Brasil: ( )Bolívia ( )Paraguai ( )Uruguai ( )Chile ( )Equador ( )Argentina 4- Observe o planisfério abaixo e responda: A- O Brasil fica a leste ou oeste do ponto A? ________________________ B- Qual oceano banha o território brasileiro? ___________________ C- Imagine que um navio está na seguinte coordenada geográfica: paralelo o° e meridiano 120° leste. Em que oceano ele está navegando?________________ 108 5- Observe o mapa abaixo e responda: A) Que formas de relevo predominam no território brasileiro?___________________________________________ B) Em que parte do Brasil predomina as depressões? _______________________________________________________ C) Que forma de relevo predomina no estado que você mora? _______________________________________________________ 6- Observe, no gráfico, a evolução da população urbana e da população rural no Brasil. 109 A) A partir de que período a população brasileira passa a ser predominantemente urbana?____________________________________________ B) Por que isso ocorreu?___________________________________ C) Você faz parte da população rural ou da população urbana?___________________________________________________ APÊNDICE F Questionário do professor 1- Nome: _______________________________________________ 2- Formação: ( )magistério/normal médio ( ) licenciatura em _______________________________________ ( )especialização em ______________________________________ 3- Experiência profissional (anos em efetivo exercício no magistério nas séries iniciais): ( ) até 5 anos ( ) 5 a 10 anos 110 ( ) 10 a 15 anos ( ) mais de 15 anos 4- Formação continuada: 4.1.- Nos últimos dois anos quantas horas de cursos de formação continuada (reciclagem, extensão) acumulou?_____________________. 4.1.2- Destas, quantas foram dedicadas a cursos que tratavam sobre o Ensino de Geografia? _________________ 5- Nome da Escola que atua: ______________________________ 6- Localidade:___________________________________________ 7- Classe regular ou multisseriadas?_____________________ 8- Série ou séries com que trabalha: _____________________ 9- Quantas horas (aulas semanais) são destinadas para a disciplina de Geografia em sua sala de aula? ( )2 horas aulas ( )3 horas aulas ( )4 horas aulas ( )5 horas aulas 10- Com que freqüência você utiliza os procedimentos abaixo para ministrar suas aulas de geografia? Procedimentos Sempre Quase sempre Às vezes Nunca Observação Descrição Experimentação Exposição oral Seminários Relatos Entrevistas Aula de campo Livro didático Leitura de imagem 11- Você acredita que a Geografia possa ser trabalhada de uma forma Interdisciplinar? Sim ou não? Se sua resposta for afirmativa relate uma experiência: 111 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 12- Quanto às categorias geográficas lugar, paisagem, território e espaço, segundo sua prática pedagógica quanto à seleção de conteúdos, em que séries devem ser abordadas as categorias citadas? CATEGORIAS 1ª SÉRIE 2ª SÉRIE 3ª SÉRIE 4ª SÉRIE LUGAR PAISAGEM TERRITÓRIO ESPAÇO 13- Quanto às formas de abordagem dos espaços a partir das escalas local, regional, nacional e global qual sua percepção? MARQUE APENAS UMA RESPOSTA ( ) deve-se trabalhar hierarquicamente do nível local ao global ( ) deve-se partir do contexto global até chegar ao contexto local ( )é mais recomendável fazer sempre a relação entre as duas escalas (local e global) considerando que o aluno interage com várias realidades já nas séries iniciais ( ) deve-se sempre partir da abordagem feita no livro didático da mesma ordem em que os conteúdos são apresentados. 14- Qual o objeto de estudo da geografia? ( )espaço geográfico ( )região ( ) terra ( ) paisagem ( )território 112 15- Assinale o percentual de alunos que dominam de forma satisfatória os conteúdos trabalhados na perspectiva de atingir os seguintes objetivos: Objetivos - Conhecer o espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas reações, de modo a compreender o papel das sociedades em sua construção e na produção do território, da paisagem e do lugar. -Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos, de referenciais modo que a construir possibilitem uma participação propositiva e interativa nas questões sócio-ambiental local. - Compreender temporalidade geográficos a espacialidade dos estudados e fenômenos em suas dinâmicas e interações. - Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos, os avanços técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las. - Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de Menos de Mais de Não trabalhado 50% 50% na série ou turma 113 informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. - Valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. APÊNDICE G Escolas Pesquisadas Escola Santos Cardoso José Ferreira José Joaquim de Lima Luiz Francisco Mário da Mota José Soares Manoel Tavares Antonio Santos Joaquim Ferreira de Lima Série 1ª 2ª 1ª 2ª 3ª 1ª 2ª 3ª Metodologia PCN 1ª 2ª 3ª 4ª 3ª 4ª 3ª 3ª 4ª PCN PEADS PEADS PCN PEADS ATIVA PEADS ATIVA Nº de alunos 24 09 08 13 28 15 16 25 14 18 10 09 11 09 06 08 06 TOTAL DE ALUNOS POR SÉRIE 1ª- 61 2ª- 56 3ª- 88 TOTAL DE ALUNOS POR ESCOLA Santos Cardoso José Ferreira José Joaquim de Lima Luiz Francisco Mário da Mota 33 08 41 56 32 4ª- 24 114 José Soares Manoel Tavares Antonio Santos Joaquim Ferreira de Lima 19 20 06 14 TOTAL DE ALUNOS POR METODOLOGIA PEADS ESCOLA ATIVA PCNs 74 34 121 TOTAL DE ALUNOS PESQUISADOS 229 ALUNOS APÊNDICE H Quadro de análise sobre o ensino de Geografia Escola: __________________________________________________________ Nº de alunos: 1ª série: ______________ 2ª série: ______________ 3ª série: ______________ 4ª série: ______________ Aspectos analisados 1ª É importante Importância da Não e importante geografia Chata e de difícil entendimento Fácil, pois faz parte do nosso Contextualizaçã dia a dia o da geografia Interessante, porém sem muita importância para meu % 2ª % 3ª % 4ª % 115 crescimento como aluno Dá muita importância e cumpre com as aulas reservadas para a disciplina Tratamento do professor à disciplina Dá aulas interessantes, mas não trabalha a disciplina com muita freqüência Faz anotações no quadro, lê os textos e passa exercícios sem fazer debates ou aulas de campo Quase não trabalha a disciplina Outra resposta Aprender nomes de lugares, rios, serras, etc. através da memorização. Função da geografia Localizar lugares, paisagens através da leitura e interpretação de mapas. Conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza através da interação, construção e produção do território, da paisagem e do lugar. Observação Aula de campo Explanação oral 116 Livro didático Procedimentos que o professor utiliza Leitura de imagem Descrição Experimentação Relatos Entrevistas Seminários 117 APÊNDICE I Quadro de análise sobre área específica da 1ª série OBJETIVOS CONTEÚDOS 1- Comparar os diversos tipos de moradia 1.1-Conceito de moradia DC % DEC % DEC % DNC % DNC % 1.2-Materiais das moradias 1.3-Tipos de moradia 2- Discutir sobre a 2.1-Escola importância da escola bem como as funções dos profissionais que a compõem 3- Identificar a rua como um espaço coletivo de trabalho e lazer para todos. 3.1-Rua 3.2-Tipos de ruas APÊNDICE J Quadro de análise sobre área específica da 2ª série OBJETIVOS CONTEÚDOS DC % 1-Conceituar 1.1-Conceito de bairro bairro e classificar 1.2-Tipos de bairro os bairros de acordo com as atividades nele desenvolvidas 21 2- Identificar os serviços públicos dos bairros e da cidade 12 2.1- Serviços públicos 46 118 6- Conceituar 6.1- Município município e apontar as modificações ocorridas ao longo do tempo 34 7-Relacionar os 7.1- Espaços urbano e elementos próprios rural do espaço urbano e do espaço rural 45 APÊNDICE K Quadro de análise sobre área específica da 3ª série OBJETIVOS 1-Evidenciar os elementos que caracterizam as paisagens 2-Identificar a evolução dos meios de transporte para suprir as necessidades da sociedade. 3- Reconhecer a importância da comunicação na vida em sociedade e sua evolução tecnológica ao longo do tempo CONTEÚDOS 1.1-Conceito de paisagem 1.2-Tipos de paisagem 2.1-Meios de transporte DC % DEC % DNC % 3.1- Meios de comunicação APÊNDICE L Quadro de análise sobre área específica da 4ª série OBJETIVOS CONTEÚDOS 1- conceituar território 1.1-Conceito de através da análise território das fronteiras brasileiras DC % 21 10 DEC % 42 09 DNC 37 % 119 2-Localizar o Brasil no continente americano e identificar suas coordenadas 2.1-Localização do território brasileiro 2.2-Coordenadas Geográficas 4.2- relevo 33 11 46 05 21 4 14 59 09 37 4 14 59 09 37 5- Tomar conhecimento de como se formou a população brasileira e a sua distribuição pelo território. 5.1- População 42 13 54 01 4 APÊNDICE M Quadro analítico do professor Número de professores pesquisados: _____________________ Aspectos Respostas Magistério/ Formação Normal médio Licenciatura Especialização Até 5 anos Experiência profissional 5 a 10 anos 10 a 15 anos Mais de 15 anos Formação Até 40 horas continuada + de 40 horas (horas de Nenhuma cursos nos Até 20% últimos dois + de 20% anos) Classe com Regular que trabalha Multisseriadas Horas aulas 2 horas Categorias 120 semanais para 3 horas trabalhar 4 horas geografia 5 horas Sempre Qua As vezes se sem pre Procedimentos Observação metodológicos Descrição utilizados Experimentação Exposição oral Seminários Relatos Entrevistas Aula de campo Livro didático Leitura de imagens Outros Trabalha com Sim % Não % a interdisciplinari dade na geografia Abordagem Categorias das categorias Lugar geográficas Paisagem nas séries Território iniciais Espaço Do nível local ao global Do contexto global até o local 1ª 2ª 3ª 4ª 121 Abordagem Fazer relação entre as duas escalas (local e das escalas global) espaciais Parte da abordagem feita no livro didático da mesma ordem em que os conteúdos são apresentados. Espaço geográfico Objeto de estudo da Região Terra geografia Paisagem Território Conteúdos / objetivos Percentual de Conhecer o espaço geográfico e o alunos que funcionamento da natureza em suas dominam os múltiplas reações, de modo a compreender conteúdos o papel das sociedades em sua construção trabalhados e na produção do território, da paisagem e do lugar Identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e suas conseqüências em diferentes espaços e tempos, de modo a construir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e interativa nas questões sócio-ambientais e locais. Compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações. Compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos, os avanços Mai Meno s de s de 50% 50% Nã o tra bal ha do 122 técnicos e tecnológicos e as transformações sócio-culturais são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las. Fazer leituras de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação, de modo a interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens. Valorizar o patrimônio sócio-cultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia.