Sindicato da construção quer fim de viagens longas em carrinhas
ALFREDO MAIA
O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil deverá propor hoje, quarta-feira, que os
operários em serviço fora do país deixem de ser transportados em carrinhas nas deslocações
de visita às famílias e tenham assegurado autocarro.
"As carrinhas têm que deixar de percorrer as estradas, dada a distância cada vez maior que
têm que cobrir", declarou ao "Jornal de Notícias" o presidente do Sindicato dos Trabalhadores
das Indústrias da Construção, Madeiras, Mármores, Pedreiras, Cerâmica e Materiais de
Construção do Norte e Viseu, que apresenta hoje um conjunto de "medidas inéditas" contra a
sinistralidade.
A iniciativa surge como reacção a um novo acidente de viação, anteontem, perto de Segóvia,
Espanha, que causou a morte de quatro operários ao serviço de uma empresa do Norte e feriu
o condutor, que se dirigiam para Madrid. O sinistro ocorreu cerca das 2.30 e os trabalhadores três imigrantes e um português com residência em Viana do Castelo, Barcelos, Vizela e
Gondomar - tinham iniciado a viagem na noite de domingo.
Sem adiantar o conteúdo das propostas, Albano Ribeiro assegurou que, "se forem levadas à
prática, os nossos compatriotas vão deixar de morrer nas estradas", invertendo a tendência.
"Podem morrer dezenas de trabalhadores nas estradas francesas", afirma a organização em
comunicado. Mais de 20 mil operários portugueses transferiram-se de Espanha para França,
onde "os salários são mais apelativos", acrescenta. "Um operário qualificado ganha cerca de
2500 euros, o que é mais que os 1700 que ganhava em Espanha", explicou o sindicalista.
Segundo aquela estrutura, em Espanha ainda trabalham cerca de 50 mil portugueses na
construção civil, muitos dos quais se deslocam com frequênca às suas terras, para passarem o
fim-de-semana com a família, ou mesmo diariamente se estão colocados em localidades
próximas. A deslocação ao fim-de--semana em carrinhas também está a ser feita entre França
e Portugal.
"Cinco em cada dez trabalhadores que vão para a Europa vão em situação precária, muitas
vezes através de redes de angariação", disse Albano Ribeiro, cuja estrutura tem metade dos
seus 30 mil associados fora do país, sobretudo Espanha, França, Angola, Bélgica, Suíça e
Marrocos. Os trabalhadores deslocados por empresas "bem organizadas dificilmente morrem
na estrada", acrescentou, sublinhando que o crescimento de "redes mafiosas" é uma ameaça à
segurança e fazendo questão de distingui-las dos "empregadores idóneos", que tratam do
transporte em autocarros ou avião, conforme a distância.
De acordo com o contrato colectivo de trabalho do sector, os trabalhadores deslocados têm
direito a "transporte gratuito assegurado pelo empregador ou ao pagamento integral das
despesas de ida e volta" designadamente "por cada duas semanas de duração da transferência
temporária".
O JN tentou ouvir a Associação dos Industriais de Construção Civil e Obras Públicas.
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