AS CONTRIBUIÇÕES DAS CIÊNCIAS COGNITIVAS PARA IMPLEMENTAÇÃO DO USO DE TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO Agostinho Giacomelli O avanço das ciências cognitivas (neurociências, psicologia cognitiva, informática e inteligência artificial), vem modificando a forma como concebemos a representação do que é conhecer e aprender. Nesta perspectiva, aprender compreende a aquisição e prática de novas metodologias e o desenvolvimento de competências como: autogestão, resolução de problemas, adaptação e flexibilidade diante de novas tarefas, assumir responsabilidades e aprender tanto autonomamente como trabalhando em grupo de modo cooperativo [BELLONI]. Esse processo de educação ao longo da vida (lifelong education), o desenvolvimento de competências múltiplas, bem como de atitudes e valores, são necessários para que se possa sobreviver em um mundo em constantes transformações. Para isso, profundas transformações já vem sendo planejadas e implementadas visando a reformulação de currículos e metodologias no Ensino, visando a aquisição de conhecimentos, habilidades e competências requeridas para o futuro próximo, além de estender a oportunidade de acesso à educação a um maior número de pessoas, ao mesmo tempo que se procura diversificar esta oferta de modo a adaptá-la às novas necessidades de expansão dos sistemas de ensino. Para estas mudanças e expansão se concretizarem é necessário criar novos processos e métodos para o trabalho pedagógico, o que significa investir nas novas tecnologias de informação e comunicação adequando-as ao atendimento destas necessidades de demanda, utilizando-as especialmente como ferramentas à serviço da formação permanente e continuada das pessoas na apreensão do conhecimento. Sobre isso Assmann (1996:9-10) constata que na última década palavras como conhecimento e aprender voltaram a exercer um grande fascínio, tornando-se um tema obrigatório em diferentes áreas do conhecimento. O termo cognição adotado pelas ciências cognitivas e vinculado ao processamento da informação, vem sendo nos últimos anos apropriado, pelas pesquisas com Inteligência Artificial aplicada, tanto que se tornou normal a aplicação de linguagens cognitivas tanto aos processos de conhecimento e aprendizagem naturais como aos artificiais. Costuma-se designar como processos cognitivos ao conjunto de operações mistas que acontecem na parceria entre seres humanos e máquinas inteligentes. É por isso que tanto se fala, por exemplo, de aprendizagem e conhecimento na economia, considerando o mercado como uma “grande máquina cognitiva”, geradora de conhecimentos e experiências de conhecimento. Em síntese, tudo aquilo que é capaz de aprender cumpre processos cognitivos. No entanto, a área da educação, hoje, precisa trabalhar no sentido de dominar não só as transformações trazidas pelas tecnologias referidas, mas também as novas abordagens do conhecimento, como a Teoria da Auto organização de Humberto Maturana, e sua concepção de autopoiése (denominação de sistemas que se destacam pelo fato de representarem entrelaçamentos da produção de seus componentes (esse entrelaçamento deve ser considerado como resultado da produção de seus componentes), de maneira que, a autopóiese é a forma de organização de sistemas, idéia com suas raízes na teoria construtivista de Piaget, bastante utilizada em Sistemas de Informação. Logo, as CIÊNCIAS COGNITIVAS fundamentam todo o uso de TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO, na EDUCAÇÃO. Vejamos: 1. CIÊNCIAS COGNTIVAS: HISTÓRICO Em setembro de 1948, um grupo de cientistas representando várias áreas reuniu-se no California Institute of Technology, num congresso sobre Mecanismos Cerebrais do Comportamento. O congresso tinha como objetivo a discussão de uma questão clássica: como o sistema nervoso controla o comportamento. Esse congresso, denominado Simpósio de Hixon, foi apenas um dos inúmeros encontros realizados por cientistas de orientação cognitiva, mas foi especialmente importante por causa de dois fatores: a ligação que fez entre cérebro e o computador e o desafio implacável que lançou ao behaviorismo. [GARDNER] Alguns inputs teóricos foram fundamentais para o desenvolvimento da ciência cognitiva: Matemática e lógica: Alan Turing desenvolveu uma máquina simples – que seria capaz de executar qualquer cálculo conceptível. A demonstração de Turing e o teorema que ele provou foi de extrema importância para aqueles pesquisadores interessados em máquinas computadoras. [TURING] O modelo neuronal: Warren McCulloch e Walter Pitts mostraram, nos inícios dos anos 1940, que as operações de uma célula nervosa e suas conexões podiam ser modeladas em termos da lógica. Graças a essa demonstração, a idéia da máquina de Turing apontava agora para duas direções: um sistema nervoso composto de inúmeros neurônios “tudo-ou-nada” e um computador capaz de realizar qualquer processo que possa ser descrito de forma inequívoca. [GARDNER] As síndromes neuropsicológicas: as tragédias da guerra permitiram o estudo dos perfis das incapacidades cognitivas que resultavam de danos ao cérebro humano. Através do intercâmbio das descobertas de vários pesquisadores, descobriu-se que poderia haver muito mais regularidades na organização das habilidades cognitivas do sistema nervoso - do que era admitido por explicações inteiramente ambientais dos processos mentais. Esses estudos ofereceram muitas sugestões significativas sobre como a mente humana pode ser organizada em indivíduos normais. A teoria da informação: Na sua dissertação de mestrado, Claude Shannon, a quem geralmente se atribui a criação da teoria da informação, apresentou a sugestão precoce de que circuitos elétricos (do tipo dos do computador) poderiam conter operações fundamentais de pensamento. Nos dez anos seguintes, em parceria com Warren Weaver, passou a desenvolver a idéia principal da teoria da informação - a informação pode ser concebida de uma forma totalmente divorciada de qualquer conteúdo ou assunto específico, simplesmente com a decisão única entre duas alternativas igualmente plausíveis. [SHANNON] Existe um consenso entre os pesquisadores sobre o ano em que a ciência cognitiva foi oficialmente reconhecida, 1956, por ocasião do Simpósio sobre Tecnologia da Informação realizado no Massachusetts Institute of Technology. Neste ano foram apresentados artigos de fundamental importância para a ciência cognitiva: • "O mágico número sete mais ou menos dois. Alguns limites de nossa capacidade para processar informação" (http://www.well.com/user/smalin/miller.html) de G. • • • A. Miller, que assegurava que os seres humanos têm uma capacidade limitada de sete (mais ou menos dois) itens simultâneos; "The logic theory machine" de Newell e Simon, que apresentava pela primeira vez um programa capaz de fazer a demonstração de um teorema; "A study of thinking" de Bruner, Goodnow e Austin, obra capital da psicologia do pensamento e da solução de problemas e possivelmente o trabalho mais influente na pesquisa sobre aquisição de conceitos artificiais; E já em 1957, "Syntatic Structure" de Noam Chomsky que dava a conhecer suas idéias a respeito da nova lingüística, baseada em regras formais e sintática, próximas às formalizações matemáticas. [GARDNER] Na década seguinte, essas idéias cresceram rapidamente. Jerome Bruner e George Miller fundaram, em Harvard, o Centro de Estudos Cognitivos, responsável pela divulgação e estudos das idéias mais novas nas áreas cognitivas. Durante os anos 1960, livros e outras publicações tornaram disponíveis para o público as idéias do centro e de outros locais de pesquisa. No final dos anos 1970, a Fundação Alfred P. Sloan deu início a um programa de cinco a sete anos, envolvendo compromissos de vinte milhões de dólares. Num relatório solicitado pela fundação em 1978, doze dos principais estudiosos do projeto elaboraram um figura com as inter-relações entre os seis campos constituintes da ciência cognitiva o hexágono cognitivo. 1.1. DEFINIÇÃO E DOMÍNIO Segundo Gardner, a ciência cognitiva é "um esforço contemporâneo, com fundamentação empírica, para responder questões epistemológicas de longa data - principalmente aquelas relativas à natureza do conhecimento, seu desenvolvimento e seu emprego." Segundo esse autor, cinco aspectos são fundamentais para caracterizar a ciência cognitiva: Representações: a ciência cognitiva está fundada sobre a crença de que é necessário postular um nível de análise separado, chamado "nível da representação". Neste nível, o cientista trabalha com entidades representacionais tais como símbolos, regras, imagens e investiga as formas nas quais estas entidades são combinadas, transformadas ou contrastadas umas com as outras. Observamos, que considerando o processo educacional, conforme a figura do Hexágono Cognitivo, a Lingüistica (principalmente a Semiótica) se relaciona diretamente com a: • • • Psicologia (processo de ensino e aprendizagem); Inteligência Artificial (Computadores) Antropologia (aplicada à educação como instrumento de pesquisa e modificação do habitat). Computador: além de servir como um modelo do pensamento humano, o computador funciona como uma ferramenta valiosa para o trabalho científico cognitivo - a maioria dos cientistas cognitivos o utiliza para analisar os seus dados, e um número crescente destes cientistas tenta simular processos cognitivos nele. Assim, muitos consideram a Inteligência Artificial a disciplina central da ciência cognitiva. Aqui podemos observar a Inteligência Artificial (computador) diretamente relacionada com: • Psicologia; • Lingüística; • Neurociências (funcionamento do cérebro humano). Estudo interdisciplinar: pesquisadores acreditam que as interações produtivas com profissionais de outras disciplinas possa levar a "insights" mais poderosos do que os que foram alcançados da perspectiva de uma disciplina isolada. Alguns pesquisadores acreditam que um dia os limites entre as disciplinas possam ser atenuados, ou, quem sabe, desaparecer completamente, produzindo uma única ciência cognitiva. É óbvio que o relacionamento direto entre as disciplinas, sejam esses vínculos fortes ou fracos, fundamentam a tão comentada Interdisciplinaridade. Raízes em problemas filosóficos clássicos: funcionam como um ponto de partida lógico para as investigações da ciência cognitiva, no entanto, nem todo cientistas cognitivos concordam que esse ponto seja relevante. No atual processo educacional a filosofia da Educação é realmente o ponto de partida para os principais projetos. Desenfatização da emoção, do contexto, da cultura e da história: os cientistas cognitivos da linha dominante tentam excluir no máximo esses elementos, senão a ciência cognitiva poderia se tornar inviável, querendo explicar tudo, acaba não explicando nada. [RAPOSO et VAZ]. Na bibliografia o link para o trabalho completo desses autores. PARA SABER MAIS SOBRE CIÊNCIAS COGNITIVAS: http://carbon.cudenver.edu/~mryder/itc_data/cogsci.html Página com informações das celebridades da ciência cognitiva. http://www.lsi.usp.br/~hdelnero/ Página do médico psiquiatra Henrique Schützer Del Nero, contendo os seus trabalhos publicados, incluindo sua tese de mestrado e doutorado, sobre ciência cognitiva, modelos de cérebro e mente e neurociência. http://www.geocities.com/discursus/html/cognitiv.html Página de um curso de Ciência Cognitiva com resumos de partes do livro "A nova ciência da mente" de Howard Gardner, além do "Como a mente funciona", de Steven Pinker e "Mente" de Paul Thagard, escritos por Antônio Rogério da Silva. http://www.geocities.com/discursus/html/contempo.html Página sobre filosofia contemporânea, discutindo temas como ciência cognitiva, epistemologia, ética, política, filosofia da linguagem, metafísica, psicologia e teoria da escolha racional. http://www.gomestranslation.com/ Traduções em geral e pesquisa em neurociência, linguagem, cognição e disciplinas correlatas. http://www.cc.gatech.edu/cogsci/ Página em inglês do Programa de Ciência Cognitiva da Georgia Tech, formado por um conjunto multidisciplinar de faculdades, pesquisadores e estudantes que estudam a cognição no contexto dos problemas reais do mundo. Grande número de trabalhos disponíveis on-line. [RAPOSO et VAZ] Neste ponto, podemos considerar o trabalho concluído, no entanto, como complemento, vamos falar um pouco sobre as Tecnologias da Informação na Educação. 2. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NA EDUCAÇÃO Considerando o Hexágono Cognitivo e tentando relacioná-lo com as Tecnologias da Informação na Educação, vamos enfatizar neste trabalho, de forma pragmática, a Inteligência Artificial (aqui trataremos da interface homem computador) e a Lingüística (aqui trataremos da Web como instrumento da semiótica). O estudo da interação ou interface homem computador é valioso para o usuário dos ambientes informatizados, que assim pode fazer melhor uso das ferramentas disponíveis, e especialmente importante para projetista de softwares educacionais ou de sistemas de informação. Para saber mais sobre Inteligência Artificial na Educação, sugiro um excelente tutorial básico, de Hamilton Chaiben, da UFPR, muito fácil de ser entendido, mesmo por quem não é da área tecnológica: http://www.cce.ufpr.br/%7Ehamilton/iaed/iaed.htm 3. A INTERFACE HOMEM COMPUTADOR Modelo Atual das Interfaces A maioria das interfaces homem computador contemporâneas seguem o estilo de interface conhecida como WIMP — Window, Icon, Menu, Pointer (janela, ícone, menu, apontador). Este modelo se tornou conhecido com a popularização da interface do computador Macintosh, da Apple, que teve seus princípios básicos publicados, divulgados e usados como referência para o desenvolvimento dos mais diversos ambientes, incluindo o ambiente Windows para PC. Este modelo de interface está ligado ao surgimento do microcomputador e à proposta explícita de estender os recursos da informática ao não especialista. As condições que orientaram o projeto do microcomputador Macintosh não são as mesmas que encontramos hoje, pois hoje temos hoje um novo contexto, um novo tipo de usuário e novos tipos de tarefas. Daí surgem hoje propostas de novos princípios para o desenvolvimento de interfaces. Princípios da interface do computador Macintosh Metáforas Manipulação direta Ver e apontar O-que-você-vê-é-o-que-você-obtém Consistência Integridade estética Controle com o usuário Feedback e diálogo Percepção de estabilidade Indulto das ações passadas Comportamento uniforme Condições que orientaram o projeto do Macintosh • • • • • Ser vendável a usuários sem experiência prévia Voltado para uma larga gama de aplicações Controlar recursos computacionais relativamente pobres Canais muito pobres de comunicação usuário computador Uma máquina isolada (conectado no máximo a uma impressora) 4. A WEB Agora, a web, na verdade, a principal ferramenta de comunicação e acesso para e entre as tecnologias de Informação na Educação. Sem ela as informações seriam acessíveis apenas localmente e os seus fantásticos mecanismos de construção do conhecimento, através dos dados e das novas formas de mídias oral, escrita, visual e digital, não poderiam ser compartilhados de forma global. Buscamos incorporar neste trabalho ferramentas como hipertexto, multimídia, interação e realidade virtual, de modo a buscar a cooperação, solidariedade e respeito à diversidade, fundamentais neste processo. Estes são alguns dos trabalhos desenvolvidos que encontramos disponíveis neste sentido, começando com a filosofia: Pierre Lévy - pensador contemporâneo que explora temas como inteligência coletiva, hipertexto e virtualidade. Aqui apresentamos um link para uma entrevista dada por este autor. http://www.uol.com.br/mundodigital/webzona/levy.htm Introdução à Internet http://www.uol.com.br/mundodigital/manual/index.htm Sobre Vírus na Internet http://csvir.cjb.net/ Como criar seu Website - informações e links para o desenvolvimento de páginas de hipertexto (homepages) e sua publicação na Internet. http://www.cgustavo.hpg.ig.com.br/edutec/webdesign.html Sobre o Hipertexto – Apresentamos o artigo de Andréa Cecília Ramal trata com muita propriedade o tema Ler e Escrever na Cultura Digital, disponível em http://www.revistaconecta.com/ (Edição 4) Uso educacional de páginas Web http://www.cgustavo.hpg.ig.com.br/edutec/webeduc.html BIBLIOGRAFIA [BELLONI], Belloni M. L. Educação a distância. Campinas: Autores Associados,1999 [GARDNER] – Gardner, H - A Nova Ciência da Mente; I, capítulo 1 pp. 25-42, tradução de Antonio Rogério da Silva, disponível em http://www.discursus.hpg.ig.com.br/textos/000406.html [TURING] – Turing, A. – A máquina de Turing, disponível em http://www.turing.org.uk/turing/ [SHANNON] – C. E. - Uma Teoria Matemática da Comunicação; (baseado em texto de Nuno Crato), disponível em http://www.numaboa.com.br/informatica/criptologia/historia/shannon.html [RAPOSO et VAZ] – Raposo, R. et VAZ, F.F. - Introdução a Ciência Cognitiva; disponível em http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/RenatoMaterial/index.htm