ET720 – Sistemas de Energia Elétrica I 1 Semestre 2011 Capı́tulo 5 – Linhas de transmissão – Parte 1 5.1 Introdução ◮ Componentes de uma linha de transmissão: (4) (1) condutores (2) isoladores (cadeia de isoladores de porcelana ou vidro) (1) (3) estruturas de suporte (torres, postes) (2) (4) cabos pára-raios (cabos de aço colocados no topo da estrutura para proteção contra raios) 5.2 (3) Classes de tensão ◮ Sigla Denominação Valores tı́picos de tensão (de linha) low voltage < 600 V MV medium voltage 13,8 23 34,5 HV high voltage 115 138 230 kV EHV extra high voltage 345 440 500 UHV ultra high voltage 1100 kV LV –1– 69 kV 600DC 765 kV 5.3 Tipos de condutores ◮ Material No passado: cobre Atualmente: cobre, alumı́nio(∗) (∗) mais barato, mais leve, requer área da seção reta maior que o cobre para as mesmas perdas ◮ Aéreos, subterrâneos ◮ Unidades mais comumente usadas: comprimento: metro [m], pé (foot) [ft], milha (mile) [mi] 1 ft = 0,3048 m 1 mi = 1609 m área da seção reta: milimetro quadrado [mm2 ], circular mil [CM](∗) (∗) 1 CM = área de um condutor de um milésimo de polegada (mil) de diâmetro –2– ◮ Condutores de alumı́nio (linhas aéreas): Sigla (Inglês/Português) Significado (Inglês/Português) AAC / CA AAAC / AAAC all aluminum alloy conductor (liga de alumı́nio pura) ACSR / CAA aluminum conductor steel reinforced (alumı́nio com alma de aço) ACAR / ACAR aluminum conductor alloy reinforced (alumı́nio com alma de liga de alumı́nio) outros all aluminum conductor (alumı́nio puro) para aplicações especiais ACSR (alumı́nio com alma de aço): aço mais barato que alumı́nio, a alma de aço o faz ser mais resistente à tração (admite lances maiores) → é o mais utilizado –3– liga de alumı́nio: alumı́nio + magnésio/silı́cio, por exemplo os condutores são nus (não há camada isolante) condutores são torcidos para uniformizar a seção reta. Cada camada é torcida em sentido oposto à anterior (evita que desenrole, empacotamento é melhor) ACSR (CAA) AAC (CA) Cabos de cobre (linhas subterrâneas): sólidos ou encordoados. Condutores isolados com papel impregnado em óleo. Existem outros tipos de isolação –4– Cabos ACCC (Aluminum Composite Conductor Core) – núcleo de carbono envolvido por fibra de vidro. As fibras de carbono esticam menos que o aço. A fibra de vidro não resulta na corrosão tı́pica que ocorre no contato aço/alumı́nio alumı́nio alumı́nio condutor ACCC alma de aço ACSR tradicional • Mais caro • Maior capacidade de corrente • Menor sag Sag –5– composto condutor ACCC Exemplo Determine a área de alumı́nio e a área externa total do condutor ACSR 26/7 Linnet em cm2 . De acordo com a tabela A.3, o condutor Linnet apresenta as seguintes caracterı́sticas: Área de alumı́nio : 336.400 CM Diâmetro externo : 0,721 in2 Calculando a área de alumı́nio em cm2: 1 CM = π 336.400 CM = 0,001 2 2 in2 ⇒ SAl SAl = 0,264 in2 = 1,7 cm2 que corresponderia a um condutor de alumı́mio de 1,47 cm de diâmetro. A área externa total é: Sext = π 0,721 2 2 = 0,408 pol2 = 2,634 cm2 Visualizando: diâmetro equivalente de alumı́nio 1,47 cm diâmetro externo 1,83 cm –6– 5.4 Projeto de linhas de transmissão ◮ Fatores elétricos: Determinam o tipo de condutor, a área e o número de condutores por fase Capacidade térmica: condutor não deve exceder limite de temperatura, mesmo sob condições de emergência quando pode estar temporariamente sobrecarregado Número de isoladores: manter distâncias fase-estrutura, fase-fase etc. Deve operar sob condições anormais (raios, chaveamentos etc.) e em ambientes poluı́dos (umidade, sal etc.) Esses fatores determinam os parâmetros da linha relacionados com o modelo da linha ◮ Fatores mecânicos: Condutores e estruturas sujeitos a forças mecânicas (vento, neve etc.) ◮ Fatores ambientais: Uso da terra (valor, população existente etc.) Impacto visual (estético) ◮ Fatores econômicos: Linha deve atender todos os requisitos a um mı́nimo custo –7– 5.5 Parâmetros das linhas de transmissão campo elétrico torre isoladores ifuga condutor campo magnético i ◮ Resistência (R) Dissipação de potência ativa devido à passagem de corrente ◮ Condutância (G) Representação de correntes de fuga através dos isoladores (principal fonte de condutância) e do efeito corona Depende das condições de operação da linha (umidade relativa do ar, nı́vel de poluição, etc.) O efeito corona ocorre quando campos elétricos muito intensos na superfı́cie do condutor causam a ionização do ar, que se torna um condutor É muito variável, em função dos fatores acima Seu efeito é em geral desprezado (sua contribuição no comportamento geral de operação da linha é muito pequena) –8– ◮ Indutância (L) Deve-se aos campos magnéticos criados pela passagem das correntes ◮ Capacitância (C) Deve-se aos campos elétricos: carga nos condutores por unidade de diferença de potencial entre eles ◮ Com base nessas grandezas que representam fenômenos fı́sicos que ocorrem na operação das linhas, pode-se obter um circuito equivalente (modelo) para a mesma, como por exemplo: R Fonte G X G C C Linha de transmissão 5.6 Resistência (R) ◮ Causa a dissipação de potência ativa: R= potência dissipada no condutor 2 Ief –9– Carga ◮ Resistência CC: ℓ R0 = ρ Ω A ρ − resistividade do material (Ω · m) ℓ − comprimento (m) A − área da seção reta (m2 ) ◮ Cobre recozido a 20◦: ρ = 1,77 × 10−8 Ω · m Alumı́nio a 20◦: ρ = 2,83 × 10−8 Ω · m ◮ ρ depende da temperatura → R0 varia com a temperatura (ρ aumenta → R0 aumenta): T + t2 R2 = R1 T + t1 em que a constante T depende do material: 234,5 cobre recozido com 100% de condutividade 241,0 cobre têmpera dura com 97,3% de condutividade T = 228,0 alumı́nio têmpera dura com 61% de condutividade t t1 t2 R1 T – 10 – R2 R ◮ R0 aumenta de 1 a 2% para cabos torcidos (fios de alumı́nio torcidos, p.ex. cabos ACSR) Para se ter x metros de cabo, necessita-se de 1,01x a 1,02x metros de fios para depois agrupá-los e torcê-los ◮ Em corrente alternada a distribuição de corrente não é uniforme pela seção reta do condutor → a corrente concentra-se na periferia do condutor “Área útil” para passagem da corrente diminui → RAC > R0 → efeito pelicular (“skin effect”) Exemplo Um cabo AAAC Greeley (6201-T81) apresenta as seguintes caracterı́sticas (dados de tabela): resistência CC a 20◦ 0,07133 Ω/km ◦ resistência CA a 50 0,08202 Ω/km coeficiente de variação com a temperatura (α) 0,00347 ◦ C−1 Calcule o aumento percentual da resistência devido ao efeito pelicular, considerando a seguinte equação para a variação da resistência em função da temperatura: R2 = R1 [1 + α (t2 − t1 )] A resistência CC a 50◦ é: R050 = R020 [1 + α (50◦ − 20◦ )] = 0,07133 · [1 + 0,00347 · (50◦ − 20◦)] = 0,07876 Ω/km – 11 – A relação entre as resistências CA (dada) e CC (calculada) a 50◦ é: 50 0,08202 RCA = = 1,0414 R050 0,07876 ou seja, o efeito pelicular faz com que a resistência CA aumente em 4,14% 5.7 Indutância (L) ◮ Relacionada com os campos magnéticos produzidos pela passagem de corrente pelo condutor → corrente produz campo magnético H H ⊗i H i H – 12 – ◮ Fluxo concatenado com uma corrente (λ): é aquele que enlaça a corrente lı́quida Fluxo concatenado externo ao condutor: a corrente produz um campo magnético (φ). O fluxo externo concatenado com a corrente enlaça toda a corrente, portanto: fluxo magnético (φ) ⊗i λ=φ Fluxo concatenado interno ao condutor: o fluxo interno concatenado com a corrente a uma distância x do centro do condutor de raio R é: x φ λ R i λ=φ x 2 R Assumindo densidade de corrente (distribuição de carga por área) uniforme, a corrente enlaçada a uma distância x é proporcional à corrente total. Aparece 2 2 portanto na expressão de λ a relação entre áreas πx /πR – 13 – Fluxo concatenado com uma bobina: ⊗i ⊗i ⊗i λ φ i λ = 3φ i A bobina tem 3 espiras. Logo, o fluxo concatenado “enxerga” três vezes a corrente i ◮ Lei de Faraday: e= d λ dt Relação entre tensão e corrente para o indutor: e=L d i dt Dividindo uma equação pela outra, obtém-se uma expressão para a indutância: L= – 14 – d λ di Se o circuito magnético possui permeabilidade magnética constante: L= λ H i (∗) (∗) L= d d d d d Ni N 2A d λ = Nφ = N BA = NA µH = NA µ = µi di di di di di ℓ ℓ di Se o circuito magnético possui permeabilidade magnética constante: N 2 Aµ N 2 Aµ d i= × (i /i ) L= ℓ di ℓ Ni NAµ NAµ N 2 Aµi = · =H = ℓi ℓ i i NA BNA φN λ = µH = = = i i i i 5.7.1 Indutância de um condutor ◮ Deve-se calcular a indutância devido ao fluxo interno no condutor, indutância devido ao fluxo externo ao condutor e a indutância total ◮ Consideração: o condutor está isolado, isto é, outros condutores estão muito afastados e os seus campos magnéticos não o afetam – 15 – Indutância devido ao fluxo interno ◮ Considerar um condutor sólido pelo qual circula uma corrente i ◮ Lei de Ampère: I H d ℓ = ic c “a intensidade de campo magnético (A/m) ao longo de qualquer contorno é igual à corrente que atravessa a área delimitada por este contorno” Esta expressão é válida para CC ou CA (utilizar fasores neste caso) ◮ Considerar a seguinte situação (condutor visto de frente): dℓ dx x R ◮ Resolvendo a equação de Ampère: πx 2 H (2π x ) = i πR2 → – 16 – H= x i A/m 2πR2 ◮ Densidade de fluxo: B = µr µ0 H Wb/m2 em que µ0 = 4π · 10−7 H/m é a permeabilidade do vácuo e µr é a permeabilidade relativa do material ◮ Considerar o elemento tubular de espessura d x e comprimento ℓ: ℓ dS dx dS = ℓ dx H O fluxo magnético é igual à densidade de fluxo B vezes a área da seção transversal que o campo atravessa (H ⊥ d S): d φ = B d S Wb Da figura tem-se d S = ℓ d x e: d φ = µr µo Hℓd x Wb – 17 – O fluxo por unidade de comprimento do condutor é (dividindo por ℓ): d φ = µr µo Hd x Wb/m ◮ O fluxo concatenado com a corrente é proporcional à área de raio x : x2 dλ = 2dφ R x2 = 2 µr µ0 Hd x R = x x2 idx µ µ r 0 2 R2 2πR | {z } H x3 = µr µ0 i d x Wb/m 2πR4 Integrando: λint = Z 0 R µr µ0 µr µ0 x3 i d x = i Wb/m 2πR4 8π e independe do raio do condutor, dependendo somente do material e da intensidade da corrente – 18 – ◮ A indutância devido ao fluxo interno é dada por: Lint = d (∗) λint λint = di i → Lint = µr µ0 H/m 8π (∗) considerando permeabilidade constante e é constante. Para materiais como o alumı́nio, cobre, ar, água, tem-se µr = 1 e: Lint = 1 · 10−7 H/m 2 Outra maneira de obter a indutância devido ao fluxo interno é através da energia armazenada no campo magnético, que é dada por: 1 E = Linti 2 J 2 Considerando um cilindro de base circular com raio x e comprimento ℓ, a energia armazenada também pode ser obtida por: d 1 E = µr µ0 H 2 dV 2 em que V é o volume do cilindro: V = πx 2 ℓ – 19 – Portanto: d V = 2πx ℓ dx Por unidade de comprimento: d V = 2πx d x Logo: 1 1 d E = µr µ0 H 2 2πx d x = µr µ0 2 2 ix 2πR2 2 2πx d x Para a obtenção da energia, deve-se integrar de 0 a R, o que resulta em: 1 1 E = µr µ0 i 2 2 8π que, comparando com a primeira expressão da energia fornece: Lint = µr µ0 H/m 8π – 20 – Indutância devido ao fluxo externo ◮ Considere a seguinte situação em que se deseja obter o fluxo concatenado externo ao condutor: dx x i φ ◮ A corrente total i é enlaçada. Aplicando a Lei de Ampère: I H dℓ = i c 2πx H = i H= i 2πx ◮ Densidade de campo magnético: (∗) B = µ0 H = µ0 i 2πx (∗) µr = 1 (ar) – 21 – ◮ Fluxo magnético (lembrando do elemento tubular de comprimento ℓ e espessura d x ): d φ = Bd S = Bℓd x ◮ Fluxo por unidade de comprimento: d φ = Bd x = µ0 i dx 2πx ◮ O fluxo concatenado é igual ao fluxo pois o mesmo enlaça toda a corrente uma vez: d λ = d φ = Bd x = µ0 i dx 2πx ◮ O fluxo concatenado externo deve ser calculado entre dois pontos externos ao condutor: P1 D1 x i dx D2 φ P2 – 22 – ◮ O fluxo entre dois pontos P1 e P2 quaisquer externos ao condutor é obtido pela integração de d λ: λext = λ12 = Z D2 dλ D1 em que D1 e D2 são as distâncias dos pontos ao condutor (considera-se que r ≪ x ). Logo: λ12 = Z D2 D1 µ0 i d x µ0i D2 Wb/m = ln 2π x 2π D1 ◮ Indutância devido ao fluxo externo entre os dois pontos: L12 λ12 µ0 D2 D2 −7 = 2 · 10 ln H/m = = ln i 2π D1 D1 (∗) (∗) considerando permeabilidade constante 5.7.2 Indutância de uma linha monofásica ◮ Considerar a linha monofásica: i⊙ r1 r2 ⊗ −i Hipótese simplificadora: r1 , r2 ≪ D D – 23 – ◮ O fato da corrente no condutor 1 ser i e a corrente no condutor 2 ser −i faz com que o cálculo de H para uma distância maior que a distância entre os condutores seja nula, pois neste caso a corrente total enlaçada será nula (itotal = i + (−i ) = 0): 0 ⊗ ⊙ 0 ◮ Indutância externa entre os condutores produzida pelo condutor 1: Uma linha de fluxo com raio maior ou igual a (D + r2 ) e com centro no condutor 1 não estará concatenada com o circuito, não induzindo portanto nenhuma tensão. Em outras palavras, a corrente enlaçada por esta linha de fluxo é nula, uma vez que a corrente no condutor 2 é igual e de sentido oposto à do condutor 1 Uma linha de fluxo externa ao condutor 1 e com raio menor ou igual a (D − r2 ) envolve uma vez a corrente total As linhas de fluxo com raios entre (D − r2 ) e (D + r2 ) cortam o condutor 2 → envolvem uma fração da corrente do condutor 2 que varia entre 0 e 1 – 24 – ◮ Simplificações: Admitir D ≫ r1 , r2 → (D − r1 ) ≈ (D − r2 ) ≈ D Considerar condutor 2 como um ponto, localizado a uma distância D do centro do condutor 1 Então: L1,ext = µ0 D ln 2π r1 ◮ Indutância externa entre os condutores produzida pelo condutor 2 (lembrar a hipótese simplificadora r2 ≪ D e o condutor 1 é representado por um ponto localizado no centro do condutor): L2,ext = µ0 D ln 2π r2 ◮ Indutâncias internas: como considera-se que cada condutor “enxerga” o outro como um ponto, o fluxo externo de um condutor não afeta o fluxo interno do outro. Então: 1 µr µ0 = · 10−7 H/m 8π 2 1 µr µ0 = · 10−7 H/m = 8π 2 L1,int = L2,int – 25 – ◮ Indutância total devido ao condutor 1: L1 = L1,int + L1,ext D µr µ0 µ0 = + ln 8π 2π r1 Considerando que a permeabilidade relativa dos materiais mais comuns das linhas (cobre, alumı́nio) é unitária e que µo = 4π · 10−7 H/m: 1 D + ln 4 r1 D = 2 · 10−7 · ln e 1/4 + ln r1 1/4 e D = 2 · 10−7 · ln r1 D = 2 · 10−7 · ln r1 e −1/4 D = 2 · 10−7 ln ′ H/m r1 µ0 L1 = 2π A expressão acima é parecida com a do fluxo externo, só que engloba também o fluxo interno. Equivale, portanto, ao fluxo externo de um condutor com raio: r1′ = r1 e −1/4 = 0, 7788 r1 que é chamado de raio efetivo ou GMR – Geometric Mean Radius ou RMG – Raio Médio Geométrico – 26 – ◮ Indutância total devido ao condutor 2: o procedimento é o mesmo usado para o condutor 1, resultando em: L2 = L2,int + L2,ext µr µ0 µ0 D = + ln 8π 2π r2 D = 2 · 10−7 · ln r2 e −1/4 D −7 = 2 · 10 ln ′ H/m r2 onde: r2′ = r2 e −1/4 = 0, 7788 r2 é o raio efetivo ou GMR – Geometric Mean Radius do condutor 2. ◮ Indutância total: é a soma das indutâncias dos condutores 1 e 2: L = L1 + L2 D D + 2 · 10−7 · ln ′ = 2 · 10−7 · ln ′ r1 r2 2 D −7 = 2 · 10 · ln ′ ′ r1 r2 " !# D = 4 · 10−7 · ln p ′ ′ H/m r1 r2 – 27 – a indutância depende da distância entre os fios, dos raios dos condutores e do meio (µr e µ0 estão embutidos no termo 4 · 10−7) a indutância independe da corrente ◮ Se os condutores tiverem o mesmo raio: r1′ = r2′ = r ′ e a indutância será: D L = 4 · 10−7 · ln H/m r′ Exemplo Determine a indutância de uma linha monofásica cuja distância entre condutores é de 1,5 m e o raio dos condutores é igual a 0,5 cm Os dois condutores têm mesmo raio. O raio efetivo (GMR) é: r ′ = 0,7788 · 0,5 · 10−2 = 0,0039 m A indutância da linha vale: 1,5 L = 4 · 10−7 · ln 0,0039 = 2,38 µH/m – 28 – Exemplo A corrente pela linha de transmissão monofásica do exemplo anterior é igual a 120 A (rms), 60 Hz. Uma linha telefônica, cuja distância entre condutores é de 10 cm, está situada no mesmo plano dessa linha, afastada de 1 m, conforme mostra a figura a seguir. Calcule a tensão induzida na linha telefônica em Volts por metro de condutor. Considere que o raio dos condutores da linha telefônica é muito menor que as distâncias entre condutores do problema 1,0 m 10 cm 1,5 m Linha de transmissão Linha telefônica A tensão induzida na linha telefônica é o resultado de um fluxo concatenado entre os dois condutores da linha, produzido pelas correntes nos condutores da linha de transmissão Neste caso, o fluxo concatenado com a linha telefônica tem duas componentes, uma devido à corrente do condutor 1 (i ) e a outra devido à corrente no condutor 2 (−i ). Lembrando que: dλ = µ0 i dx 2πx e chamando as componentes de fluxo concatenado de λ1 e λ2 , tem-se: 1 2,6 −7 λ1 = 2 · 10 · i · d x = 2 · 10 · i · ln 2,5 2,5 x Z 1,1 1,1 1 d x = −2 · 10−7 · i · ln λ2 = 2 · 10−7 · (−i ) · 1,0 1,0 x −7 Z 2,6 – 29 – Notar que a corrente no condutor 2 tem sentido contrário à do condutor 2. O fluxo concatenado total é: λ = λ1 + λ2 = 2 · 10 −7 2,6 1,1 · i · ln − ln = −1,1218 · 10−8 · i Wb/m 2,5 1,0 A corrente pelos condutores vale: i (t) = 120 · √ 2 · sen (2πf t) A em que f é a frequência e considerou-se o ângulo de fase da corrente nulo (referência angular) Logo a expressão do fluxo fica: λ = −1,3462 · 10−6 · √ 2 · sen (2πf t) Wb/m A tensão induzida na linha por unidade de comprimento vale: v (t) = √ √ d λ = 2πf ·(−1,3462)·10−6· 2·cos (2πf t) = −5,0750·10−4· 2·cos (2πf t) V/m dt cujo valor eficaz é: Vef = 5,0750 · 10−4 V/m = 0,5075 V/km Este é o valor da tensão induzida na linha telefônica por unidade de comprimento da linha de transmissão – 30 – 5.7.3 Fluxo concatenado com um condutor de um grupo de condutores ◮ Considere o grupo de n condutores: D1P I1 I2 P D2P 1 D3P 2 DnP I3 In n 3 ◮ A soma algébrica das correntes nos condutores é nula: n X Ii = 0 i =1 ◮ Idéia: calcular o fluxo concatenado com um condutor do grupo de condutores, por exemplo, o condutor 1 O fluxo concatenado dependerá das contribuições das correntes I1 (do próprio condutor), I2 , I3 . . . In – 31 – ◮ Fluxo concatenado com o condutor 1 devido à corrente I1 : é composto por duas parcelas → fluxo interno e fluxo externo O fluxo externo será calculado até o ponto P somente (é um ponto de localização arbitrária e não influencia no resultado final) De acordo com os resultados obtidos anteriormente: λ1P 1 D1P = 2 · 10−7 · I1 · ln r1′ Wb/m em que r1′ é o raio efetivo. λ1P 1 já inclui os fluxos interno e externo até o ponto P ◮ Fluxo concatenado com o condutor 1 devido à corrente I2 : λ1P 2 = 2 · 10 −7 D2P · I2 · ln D12 Wb/m A expressão geral para o fluxo concatenado com o condutor i devido à corrente Ij é: λi P j = 2 · 10 −7 DjP · Ij · ln Di j – 32 – Wb/m ◮ Fluxo concatenado com o condutor 1 devido às correntes de todos os condutores: λ1P D D D nP 2P 1P + . . . + In · ln + I2 · ln = 2 · 10−7 · I1 · ln r1′ D12 D1n = 2 · 10−7 · [I1 · ln (D1P ) + I2 · ln (D2P ) + . . . + In · ln (DnP )] + 1 1 1 −7 2 · 10 · I1 · ln ′ + I2 · ln + . . . + In · ln r1 D12 D1n Como I1 + I2 + . . . + In = 0 → In = − (I1 + I2 + . . . + In−1). Então: λ1P D(n−1)1P D1P D2P + I2 · ln + . . . + In−1 · ln + = 2 · 10 · I1 · ln DnP DnP DnP 1 1 1 I1 · ln ′ + I2 · ln + . . . + In · ln r1 D12 D1n −7 Se considerarmos o ponto P tendendo ao infinito (P → ∞), os termos DkP /DnP tenderão a 1 e, portanto, seus logaritmos tenderão a zero. Logo, o fluxo concatenado com o condutor 1 vale (fazendo P → ∞): λ1P 1 1 1 + . . . + In · ln Wb/m = 2 · 10−7 · I1 · ln ′ + I2 · ln r1 D12 D1n ◮ O afastamento do ponto P para o infinito é equivalente à inclusão de todo o fluxo concatenado com o condutor 1 – 33 – ◮ Lembre que a expressão do fluxo concatenado acima é a de um condutor pertencente a um grupo de condutores cuja soma das correntes seja nula ◮ A expressão é válida tanto para valores instantâneos (usar correntes instantâneas) como para fasores (usar fasores das correntes) 5.7.4 Indutância de linhas com condutores compostos (mais de um condutor por fase) ◮ Considere a seguinte linha monofásica: a′ a b b′ c n ′ c′ n condutor Y condutor X ◮ Caracterı́sticas da linha: Condutor composto: condutores encordoados, cabos. A fase X (condutor X) é composto por n fios idênticos em paralelo e conduz uma corrente I uniformemente distribuı́da pelos fios. A corrente em cada fio é I/n. A fase Y (condutor Y) é composto por m fios idênticos em paralelo e conduz uma corrente −I uniformemente distribuı́da pelos fios. A corrente em cada foi é −I/m. – 34 – ◮ Obtenção do fluxo concatenado com o fio a da fase X: deve-se levar em consideração o efeito de todas as correntes por todos os fios, inclusive o próprio fio a. ◮ De acordo com os resultados anteriores: 1 1 1 I + . . . + ln λa = 2 · 10−7 · · ln ′ + ln n ra Dab Dan | {z } fase X I 1 1 1 −2 · 10−7 · · ln + ln + . . . + ln m Daa′ Dab′ Dam {z } | fase Y que resulta em: √ m Daa′ Dab′ . . . Dam −7 Wb/m λa = 2 · 10 · I · ln p n ra′ Dab . . . Dan ◮ Em geral considera-se: ra′ = Daa = 0,7788ra ◮ A indutância do fio a é: √ m λa Daa′ Dab′ . . . Dam −7 = 2 · n · 10 · ln p La = H/m n I/n ra′ Dab . . . Dan – 35 – ◮ Para o fio b: Lb = 2 · n · 10 −7 √ m Dba′ Dbb′ . . . Dbm · ln √ H/m n Dba Dbb . . . Dbn ◮ Para os outros fios da fase X o processo é semelhante. ◮ A indutância da fase X é calculada verificando-se que os fios a, b, . . . , n estão em paralelo: n X 1 1 = LX Li i =1 ◮ Utiliza-se também uma forma aproximada, que fornece bons resultados e simplifica bastante as deduções. Primeiro, calcula-se a indutância média da fase X: Lav = La + Lb + . . . + Ln n Assume-se agora que a fase X é composta por n fios de indutância Lav em paralelo. Portanto, a indutância da fase X vale: LX = La + Lb + . . . + Ln Lav = H/m n n2 – 36 – ◮ Esta expressão é mais conveniente pois, substituindo os valores de La , Lb , etc. obtém-se: p mn LX = 2 · 10−7 · ln (Daa′ Dab′ . . . Dam ) (Dba′ Dbb′ . . . Dbm ) . . . (Dna′ Dnb′ . . . Dnm ) p H/m (Daa Dab . . . Dan ) (Dba Dbb . . . Dbn ) . . . (Dna Dnb . . . Dnn ) n2 ◮ Então: LX = 2 · 10−7 · ln Dm H/m DsX ◮ Numerador: produto das distâncias dos fios da fase X e da fase Y: Dm = p (Daa′ Dab′ . . . Dam ) (Dba′ Dbb′ . . . Dbm ) . . . (Dna′ Dnb′ . . . Dnm ) mn Dm é a Distância Média Geométrica – DMG, ou Geometric Mean Distance – GMD, ou DMG mútua ◮ Denominador: produto das distâncias dos fios da fase X: DsX = p n2 (Daa Dab . . . Dan ) (Dba Dbb . . . Dbn ) . . . (Dna Dnb . . . Dnn ) DsX é o Raio Médio Geométrico – RMG, ou Geometric Mean Radius – GMR, ou DMG própria da fase X – 37 – ◮ A indutância da fase Y é obtida de maneira idêntica à da fase X e resulta em LY : LY = 2 · 10−7 · ln Dm H/m DsY ◮ A indutância da linha é dada por: L = LX + LY ◮ Caso as fases X e Y sejam idênticas, tem-se: L = 4 · 10−7 · ln Dm H/m Ds em que Ds = DsX = DsY ◮ Relembrando a expressão da indutância de uma fase de uma linha monofásica com um condutor por fase: D L1 = 2 · 10−7 · ln ′ H/m r1 e comparando com a indutância da fase X da linha com condutores compostos LX , percebe-se que a expressão de L1 é um caso particular da expressão de L1 : Condutor único por fase Condutores múltiplos por fase Distância entre fases (D) Distância média geométrica – DMG (Dm ) Raio efetivo do condutor (r1′ ) Raio médio geométrico – RMG (Ds ) – 38 – Exemplo Calcule a indutância da linha monofásica mostrada a seguir. r = 0,50 cm r = 0,25 cm a d 9m 6m e b 6m c lado Y lado X Cálculo da DMG entre os lados X e Y (Dm ): Dm = em que: p 6 Dad Dae Dbd Dbe Dcd Dce = 10,743 m Dad = Dbe = 9 m p 62 + Dae = Dbd = Dce = p Dcd = 92 + 122 = 15 m – 39 – 92 √ = 117 m RMG do lado X (DsX ): DsX = em que: p 9 Daa Dab Dac Dba Dbb Dbc Dca Dcb Dcc = 0,481 m Daa = Dbb = Dcc = e −1/4r = 0,7788 · 0,25 · 10−2 = 1,9470 · 10−3 m Dab = Dba = Dbc = Dcb = 6 m Dac = Dca = 12 m RMG do lado Y (DsY ): DsY = em que: p 4 Ddd Dde Ded Dee = 0,153 m Ddd = Dee = e −1/4r = 0,7788 · 0,50 · 10−2 = 3,8940 · 10−3 m Dde = Ded = 6 m Indutâncias dos lados X e Y: LX = 2 · 10−7 · ln Dm = 6,212 · 10−7 H/m DsX LY = 2 · 10−7 · ln Dm = 8,503 · 10−7 H/m DsY – 40 – Indutância completa da linha por unidade de comprimento: L = LX + LY = 14,715 · 10−7 H/m Exercı́cio Calcule a indutância e a reatância por unidade de comprimento a 60 Hz da linha monofásica mostrada na figura a seguir. Verifique que a DMG é praticamente igual à distância entre os centros das fases quando esta é muito maior que as distâncias entre os condutores de uma mesma fase. 5 cm 45 cm a c b d 12 m lado Y lado X (Resposta: 1,9413 µH/m, 0,732 mΩ/m) 5.7.5 Uso de tabelas ◮ Existem tabelas com várias informações sobre os condutores: resistência, reatâncias, RMG, etc. ◮ As tabelas fornecem a reatância para certas frequências (por exemplo 60 Hz), ao invés da indutância. – 41 – ◮ A reatância de um condutor (simples ou composto) vale: XL = 2πf L = 2πf · 2 · 10 −7 Dm · ln Ds Ω 1609 m × m 1 mi Dm Ω/mi Ds 1 = 2,022 · 10−3 · f · ln + |2,022 · 10−3 {z · f · ln Dm} Ω/mi D s {z } | Xd = 2,022 · 10−3 · f · ln Xa em que: Xa − reatância indutiva para espaçamento unitário (por exemplo, 1 pé se esta for a unidade utilizada) – depende da frequência e do raio do condutor Xd − fator de espaçamento da reatância indutiva – depende da frequência e do espaçamento entre condutores Exemplo Determine a reatância indutiva por milha de uma linha monofásica com as seguintes caracterı́sticas: frequência 60 Hz tipo dos cabos Partridge distância entre os centros dos cabos 20 ft – 42 – Tem-se portanto: aço alumı́nio 26Al / 7St 20 ′ Área = 266.800 CM Conforme definido anteriormente: 1 CM = π 0,001 2 2 in2 = 0,7854 · 10−6 in2 Logo, para o cabo Partridge: Área = 266.800 CM = 0,2095 in2 que resulta em um diâmetro de 0,5165 in. Da tabela de condutores obtém-se: Diâmetro externo = 0,642 in > 0,5165 in ! A razão da diferença é que a área em CM fornecida na tabela refere-se à área de alumı́nio, enquanto que o diâmetro é externo, o que inclui o espaçamento entre os condutores. Além disso, o raio é igual a 0,5165/2 = 0,2583 in, ou 0,0215 ft. Pela tabela de dados dos condutores tem-se: RMG = 0,0217 ft 6= (0,7788 · 0,0215) ! – 43 – Razão da diferença entre os RMG: o RMG (0,7788 · 0,0215) é calculado considerando um condutor sólido. No entanto, o condutor Partridge é encordoado, e o RMG deve ser calculado por: RMG = p Daa Dab Dac . . . 26·26 Da tabela A.3 de dados dos condutores, o RMG para o condutor é Ds = 0,0217 ft. Pode-se utilizar diretamente a equação da indutância e obter a reatância por condutor: X = 2,022 · 10−3 · 60 · ln 20 = 0,828 Ω/mi 0,0217 e a reatância total será XL = 2 X = 1,656 Ω/mi Ou então: • da tabela A.3 a reatância indutiva para um pé de afastamento é Xa = 0,465 Ω/mi • da tabela A.4, para um espaçamento de 20 ft o fator de espaçamento é Xd = 0,3635 Ω/mi • a reatância indutiva de um cabo será X = Xa + Xd = 0,8285 Ω/mi • a reatância indutiva da linha (2 cabos): XL = 2X = 1,657 Ω/mi – 44 – Exercı́cio Uma linha monofásica de 2 km deve ser construı́da utilizando-se condutores ACSR Linnet. Por motivos técnicos, a indutância total não deve exceder 4 mH. Obtenha o espaçamento máximo entre condutores. Resolva o problema utilizando equações e tabelas, e compare os resultados. (Resposta: 1,1 m) ◮ Na tabela A.4, a expressão para Xd é: Xd = 0, 2794 log d em que d é o que chamamos de Dm (DMG) aproximado como sendo a distância entre os centros dos cabos e aparece a função log ao invés de ln. Demonstração da equivalência entre as expressões: Se ln d = y , então d = e y Aplicando o logaritmo: log d = log e y = y log e – 45 – x Logo: y= 1 · log d log e = 2,3026 log d = ln d Assim, para 60 Hz: Xd = 2,022 · 10−3 · f · ln d = 2,022 · 10−3 · 60 · (2,3026 log d ) = 0,2794 log d – 46 – 5.7.6 Linhas trifásicas ◮ Considere linha de transmissão trifásica composta por três fases e um condutor neutro: Ia A Ib zaa a zab zbb B Ic C In N b zac zan zcc c znn n em que: zi i impedância própria do condutor da fase i zi j impedância mútua entre os condutores das fases i e j – 47 – ◮ Define-se a matriz impedância primitiva como: Zprim zaa zba = zca zna zab zbb zcb znb zac zbc zcc znc zan zbn zcn znn A aplicação da lei das tensões de Kirchhoff para o ramo resulta em: Van VAN VBN Vbn VCN = Vcn Vnn VNN zab zbb zcb znb zac zbc zcc znc zaa zba + zca zna zab zbb zcb znb zac zbc zcc znc Ia zan zbn · Ib zcn Ic In znn VF = Vf + Zprim If ou ainda: ∆VA zaa ∆VB zba ∆VC = zca ∆VN zna zan Ia zbn Ib · zcn Ic znn In ∆VF ∆VN Como VNN = Vnn = 0 e ∆VN = 0, tem-se: ∆VN = ZA · If + ZB · In 0 = ZC · If + ZD · In – 48 – = ZA ZB ZC ZD If · In Da segunda equação tem-se que In = −ZD−1 ZC If , que, substituı́da na primeira resulta em: ∆VF = ZA − ZB ZD−1ZC If = Z · If ou: Ia Zaa Zab Zac Van VAN VBN = Vbn + Zba Zbb Zbc · Ib Ic Zca Zcb Zcc Vcn VCN VF = Vf + Z If em que a matriz reduzida Z é chamada de matriz de impedância de fase, sendo seus elementos calculados por: Zi j = zi j − zi n zni znn O processo de redução da dimensão da matriz primitiva de rede é conhecido como redução de Kron. Será visto adiante que, no caso particular de uma linha balanceada e completamente transposta conectada a uma carga equilibrada (condutores formam um triângulo equilátero), a matriz impedância de fase será diagonal (permitindo o desacoplamento entre as fases), com os elementos da diagonal principal iguais entre si. – 49 – 5.7.7 Indutância de uma linha trifásica com espaçamento simétrico ◮ Considere a linha trifásica: b D a D D c em que: os três condutores têm raios iguais, portanto o mesmo RMG, igual a Ds a distância entre condutores é D não há fio neutro ou o circuito é equilibrado → Ia + Ib + Ic = 0 – 50 – ◮ Fluxo concatenado com o condutor da fase a (há contribuições das três correntes): 1 1 1 + Ib ln + Ic ln λa = 2 · 10−7 · Ia ln Ds D D 1 1 + (Ib + Ic ) ln = 2 · 10−7 · Ia ln Ds D 1 1 − Ia ln (pois Ia = − (Ib + Ic )) = 2 · 10−7 · Ia ln Ds D 1 −7 + Ia ln D = 2 · 10 · Ia ln Ds = 2 · 10−7 · Ia ln D Wb/m Ds ◮ Indutância da fase a: La = D λa = 2 · 10−7 · ln H/m Ia Ds ◮ Por simetria, para as outras fases tem-se Lb = Lc = La ◮ Portanto: La = Lb = Lc = 2 · 10−7 · ln – 51 – D H/m Ds 5.7.8 Indutância de linhas trifásicas com espaçamento assimétrico ◮ O fluxo concatenado e a indutância de cada fase são diferentes → circuito desequilibrado ◮ Equilı́brio é obtido através da transposição: 1 Pos. 1 2 3 Pos. 2 Pos. 3 a c b b a c c b a ◮ Cálculos considerando a transposição são mais simples Linhas não transpostas → considera-se a linha como transposta e a sua indutância como a média das indutâncias das fases – 52 – ◮ Fluxo concatenado com fase a, primeiro trecho: a D12 D31 b λa1 D23 c 1 1 1 + Ib ln + Ic ln = 2·10−7· Ia ln Ds D12 D31 ◮ Fluxo concatenado com fase a, segundo trecho: c D12 D31 a λa2 D23 b 1 1 1 + Ib ln + Ic ln = 2·10−7· Ia ln Ds D23 D12 ◮ Fluxo concatenado com fase a, terceiro trecho: b D12 D31 a c D23 λa3 1 1 1 + Ib ln + Ic ln = 2·10−7· Ia ln Ds D31 D23 ◮ Fluxo médio concatenado com a fase a: 1 1 2 · 10−7 1 λa1 + λa2 + λa3 + Ib ln + Ic ln = · 3Ia ln λa = 3 3 Ds D12D23D31 D12D23D31 2 · 10−7 1 1 = − Ia ln · 3Ia ln (pois Ia = − (Ib + Ic )) 3 Ds D12D23D31 √ 3 D12D23D31 −7 Wb/m = 2 · 10 · Ia · ln Ds – 53 – ◮ Indutância média por fase da linha trifásica com transposição: La = 2 · 10−7 · ln Deq H/m Ds em que: Deq = p 3 D12D23D31 é o espaçamento equilátero equivalente da linha Exemplo Determine a reatância indutiva por fase a 60 Hz da linha trifásica mostrada a seguir, composta por condutores ACSR Drake. 20′ 20′ 38′ • Pela tabela A.3, o RMG do condutor tipo Drake é Ds = 0,0373′ • O espaçamento equilátero da linha é: Deq = √ 3 20 · 20 · 38 = 24,7712′ – 54 – • A indutância e a reatância por fase valem: L = 2 · 10−7 · ln 24,7712 = 1,3 µH/m 0,0373 XL = 2πf L = 2π · 60 · 1,3 · 10−6 = 0,49 mH/m = 0,7884 H/mi • O problema pode ser resolvido pela utilização das tabelas A.3 e A.4: tabela A.1 → Xa = 0,399 Ω/mi tabela A.2 (para Deq = 24′ ) → Xd = 0,3856 Ω/mi tabela A.2 (para Deq = 25′ ) → Xd = 0,3906 Ω/mi O valor de Deq é obtido por interpolação: Deq 25 25 − 24 24,7712 − 24 = 0,3906 − 0,3856 Xd − 0,3856 24,7712 Xd = 0,3895 Ω/mi 24 0,3856 Xd 0,3906 Xd e a reatância por fase vale: XL = Xa + Xd = 0,399 + 0,3895 = 0,7885 Ω/mi – 55 – 5.7.9 Condutores múltiplos por fase ◮ Extra-alta tensão (EAT ou EHV) → por exemplo 440 kV → efeito corona excessivo Corona: descargas que se formam na superfı́cie do condutor quando a intensidade do campo elétrico ultrapassa o limite de isolação do ar. Consequências: luz, ruı́do audı́vel, ruı́do de rádio (interferência em circuitos de comunicação), vibração do condutor, liberação de ozônio, aumento das perdas de potência (deve ser suprida pela fonte) ◮ Solução: colocação de dois ou mais condutores por fase → cabos múltiplos (bundled conductors) d d d D ◮ Outras configurações: d d d d d – 56 – d ≪D ◮ Outra vantagem dos cabos múltiplos: redução da reatância (aumento do RMG). O RMG é calculado por: p √ 4 b 2 · d2 = 2 condutores D = D Ds · d s s p p 3 condutores Dsb = 9 Ds3 · d 6 = 3 Ds · d 2 p p 4 condutores Dsb = 16 Ds4 · d 12 · 22 = 1,09 · 4 Ds · d 3 ◮ Equações da indutância e reatância são as mesmas, substituindo-se o RMG Ds do condutor simples por Dsb para cabos múltiplos ◮ A corrente não é distribuı́da uniformemente entre os condutores da fase, pois reatâncias por fase não são iguais. Essa diferença é pequena e geralmente é desprezada Exemplo Determine a reatância da linha trifásica mostrada a seguir. Condutor ACSR Pheasant d a d = 45 cm a ′ b b ′ c c ′ D D=8m Comprimento da linha ℓ = 160 km • Da tabela A.3, obtém-se o RMG do condutor Pheasant: Ds = 0,0466′ → 0,0466 · 0,3048 = 0,0142 m – 57 – • No entanto, cada fase é composta por dois condutores → deve-se calcular o RMG do cabo: Dsb = p 4 0,01422 · 0,452 = 0,0799 m • Espaçamento equilátero equivalente para a configuração dada (DMG mútua) – aproximação considerando-se apenas as distâncias entre os centros das fases: Deq = √ 3 8 · 8 · 16 = 10,0794 m O cálculo correto do espaçamento equilátero equivalente neste caso seria: √ DMGab = DMGbc = 4 8 · 8,45 · 7,55 · 8 = 7,9937 m √ DMGca = 4 16 · 16,45 · 15,55 · 16 = 15,9968 m √ Deq = 3 7,9937 · 7,9937 · 15,9968 = 10,0734 m que praticamente corresponde ao mesmo resultado anterior. • Reatância por metro por fase: XL = 2π · 60 · 2 · 10−7 · ln 10,0794 = 0,3647 mΩ/m 0,0799 • Como a linha tem 160 km, a reatância total por fase da linha será: X = XL · 160000 = 58,36 Ω – 58 – 5.7.10 Linhas trifásicas de circuitos em paralelo ◮ Duas linhas trifásicas idênticas em paralelo possuem a mesma reatância indutiva. A reatância equivalente será igual à metade de cada reatância individual, desde que a distância entre as linhas seja tão grande que a indutância mútua entre elas possa ser desprezada ◮ Duas linhas trifásicas em paralelo na mesma torre → indutâncias mútuas entre os circuitos deve ser considerada ◮ O método de cálculo é semelhante ao que foi mostrado anteriormente ◮ Considera-se sempre que haja a transposição, resultando em cálculos mais simples e resultados suficientemente precisos – 59 – Exemplo Uma linha trifásica de circuito duplo é constituı́da de condutores ACSR 26/7 tipo Ostrich de 300.000 CM dispostos de acordo com a figura a seguir. Determine a reatância indutiva por fase a 60 Hz em Ω/mi. 18′ a c′ 10′ 21′ b b′ 10′ 18′ c a′ • Pela tabela A.3, o RMG do condutor tipo Ostrich é Ds = 0,0229′ • DMG entre as fases a e b: Dab = 102 + 1,52 = 10,1119′ = Da′ b′ p 102 + 19,52 = 21,9146′ = Da′ b h i1/4 2 = 14,8862′ = (10,1119 · 21,9146) Dab′ = DMGab p DMGbc = DMGab = 14,8862′ – 60 – • DMG entre as fases c e a: DMGca h i1/4 2 = (20 · 18) = 18,9737′ • Espaçamento equilátero equivalente: Deq = (DMGab DMGbc DMGca )1/3 = 16,1401′ • RMG: lembrando que assume-se a transposição Trecho 1 – fase a ocupando posição original: p 202 + 182 = 26,9072′ h i1/4 2 = 0,7850′ RMG1 = (0,0229 · 26,9072) Daa′ = Trecho 2 – fase a ocupando posição originalmente ocupada por b: Daa′ = 21′ h i1/4 2 = 0,6935′ RMG2 = (0,0229 · 21) Trecho 3 – fase a ocupando posição originalmente ocupada por c: RMG3 = RMG1 = 0,7850′ – 61 – x RMG da fase a: RMG = 0,78502 · 0,6935 = 0,7532′ Indutância: 16,1401 L = 2 · 10−7 · ln 0,7532 1/3 = 6,1295 · 10−7 H/m Reatância por fase: XL = 2πf L = 2,3108 · 10−4 Ω/m = 0,3718 Ω/mi – 62 – Exercı́cio Repita o exemplo anterior para a configuração de linha mostrada a seguir e compare os resultados obtidos. a 18′ a′ 10′ 21′ b b′ 10′ c 18′ c′ (Resposta: X = 0,3962 Ω/mi, 6,5% maior) – 63 –