Universidade Presbiteriana Mackenzie ESTUDO FITOQUÍMICO E AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES BIOLÓGICAS DAS SUBSTÂNCIAS PROVENIENTES DA PLANTA: Baccharis oxyodonta Gustavo José Vasco Pereira (IC) e Marcelo José Pena Ferreira (Orientador) Apoio: PIBIC Mackenzie Resumo A partir de 200g das partes aéreas da Baccharis oxyodonta, uma planta medicinal pertencente à família das Asteraceae, foi desenvolvido um trabalho de extração e purificação de suas substancias. A partir de técnicas de maceração otimizadas com a vibração do aparelho de ultrassom, extratos hexanicos e metanólicos foram colhidos, onde os estudos foram avaliados em cima do extrato metanólico onde existia o menor número de graxa (ácidos graxos). Por partição com solventes de polaridade crescente, foi fracionado este extrato em 4 partes (diclorometano, acetato-de-etila, n – butanol e hidro-alcoolico), algumas dessas fases foram submetidas à partição com sephadex LH-20 e outras com sílica gel. A amostra que apresentou uma substancia isolada foi a da fração de acetatode-etila proveniente da partição com uma coluna de sephadex LH-20, onde obtivemos um derivado do ácido cinâmico denominado ácido 3,5 dicafeiol – quínico, onde comparando com a literatura o mesmo apresenta atividade anti-HIV, antirradicalar, neuroprotetora, antiiflamatória, entre outras. Palavras-chave: Asteraceae, Baccharis, extrato, ácido 3,5 – dicafeiol - quinico, Abstract From 200g of aerial parts of Baccharis oxydonta, a medicinal plant belonging to the family Asteraceae was developing a way of extraction and purification of itssubstances. Drom maceration techiniques optimized with the vibration of the ultrasonic apparatus, hexane and methanol extract were collected, where the studies were madeupon the methanol extract which was the smallest number of grease (fatty acids). Bypastition with solvents of increasing polarity, this extract was fractionated into 4 parts (dichloromethane, ethyl acetate, n-butanol and hydro-alcoholic), some of these phases were subjected to partition with sephadex LH-20 and other. The sample showed that a substance was isolated from the fraction of ethyl acetate from partition with a column of sephadex LH-20, where we obtain a derivative of cinnamic acid called acid 3,5 dicafeoil – quinic, where comparison with literature it has anti – HIV activity, neuroprotective among others. Key-words: Asteraceae, Baccharis, extract, acid 3.5 - dicafeiol - quinic, 1 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 INTRODUÇÃO O estudo fitoquimico de plantas é realizado à séculos por diversos pesquisadores em todo o mundo, com a intenção de purificar substancias e avaliar suas atividades biológicas afim da obtenção de novas substancias bioativas para serem incorporadas em medicamentos que podem ser inovadores. O estudo da planta Baccharis oxyodonta já fora realizado por meados de 1980, porém nunca foi feito uma extração com solventes mais seletivos como acetato de etila ( AcOEt ) e n-butanol ( n- but ), a pesquisa começou a partir daí com o desafio de encontrar substancias nesta planta que ainda não tinham sido encontrados devido a baixa seletividade dos solventes utilizados a anos atrás. O objetivo deste trabalho é baseado na purificação, identificação e investigação das atividades biológicas das substancias isoladas a partir de novas fases realizadas a partir do extrato metanólico da Baccharis oxyodonta REFERENCIAL TEÓRICO 1.1 Plantas medicinais Uma das terapias mais antigas do mundo utilizadas por diversos povos e, atualmente, conhecida como Fitoterapia vem sempre crescendo no Brasil e no mundo a partir de plantas medicinais. As plantas medicinais são utilizadas por grande parte da população como uma alternativa de cura de doenças e sintomas melhorando, assim, a qualidade de vida. Desta forma, os insumos vegetais tornam-se uma terapia adicional ao tratamento com medicamentos alopáticos (TAUFNER, 2006). O estudo de plantas medicinais sempre serviu de base para a síntese de novos medicamentos a partir de substâncias bioativas isoladas, como podemos observar no caso da morfina, que foi isolada pelo alemão Friedrich Serturner em 1803 a partir da papoula-doópio. Mais tarde a técnica de isolamento originou a descoberta da atropina, derivada da beladona, entre outros alcalóides extremamente fortes que foram obtidos de plantas (ODY, 2000). Apesar dos extratos, como óleos de essências, serem obtidos de diversas plantas há séculos, o herbalismo tradicional combinou sempre plantas para modificar os efeitos, considerando mais importante o conjunto de substâncias presentes em um extrato do que um composto em específico. A técnica de identificar os componentes ativos das plantas e a partir daí os transformarem em medicamentos começou no século XVIII e atualmente são conhecidos milhares de substâncias bioativas (ODY, 2000). 2 Universidade Presbiteriana Mackenzie Mesmo que atualmente existam muitas estratégias de síntese química planejada para descoberta de novos fármacos, a química de produtos naturais vem representando uma das melhores alternativas para tal atividade, obtendo sucesso e histórico privilegiado (BARREIRO, 2009). Em 1852, ocorreu a inovação do uso das substancias naturais, pois a salicina (Figura 1), componente bioativo do salgueiro, foi sintetizada artificialmente por meios sintéticos, sem a utilização de um precursor natural. Essa substância foi modificada para minimizar a agressividade à parede estomacal e deu origem ao ácido acetilsalicílico, que hoje é um dos medicamentos mais famosos do mundo e comercializado como Aspirina® pela Bayer© (ODY, 2000). O OGlc OH OH O OH O OH O Figura 1. Estruturas da salicina, do ácido salicílico e do ácido acetil-salicílico (aspirina), respectivamente. Segundo Yunes (2009), a salicina, é um glicosídeo do álcool salicílico sendo o princípio ativo mais importante da Salix alba, uma planta cujas cascas eram utilizadas para combater a febre e a dor. De acordo com Tajnasescu (2000) existem inúmeras vantagens no estudo de plantas medicinais, um exemplo clássico é o ácido acetil salicílico apresentado inicialmente pela Bayer, onde a Aspirina® apresenta algumas características especiais que merecem destaque: é um produto puro de síntese, seus efeitos colaterais são brandos, sua eficiência é totalmente comprovada de acordo com estudos realizados e seu custo é 10 vezes menor que a salicina. Além do mais, tem sido utilizada para muitas outras patologias distintas daquelas empregadas tradicionalmente (TAJNASESCU et al., 2000). Outro exemplo relevante é o da cafeína, alcalóide que faz parte do grupo das xantinas (trimetilxantina), que foi isolada pela primeira vez em 1820 a partir do café, pelo alemão Ferdinand Runge Friedlieb. Como característica inerente à cafeína, observa-se que sua aplicação na terapêutica deve-se ao seu efeito estimulante do sistema nervoso central (SNC), elevando a carga de trabalho do miocárdio e atuando como vasodilatador periférico, curiosamente com ação vasoconstritora quando atravessa a barreira hematoencefálica. A cafeína também exerce ação no encéfalo, explicando sua aplicação como analgésico em casos de cefaléia, por isso utilizada em muitos medicamentos para enxaqueca como a 3 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Cafiaspirina, comercializada pela Bayer©, e o Cefalium®, comercializado pelo laboratório Aché© (PRANKERD, 2007). A cafeína (46) além de todas as suas propriedades contribuiu para a descoberta da sildenafila (23) conhecida como Viagra®. Esse fármaco muito famoso desenvolvido pela Pfizer, foi lançado no Brasil em 1999, e teve sua estrutura elaborada a partir do zaprinaste (47), um inibidor da fosfodiesterase. Os pesquisadores da Pfizer buscavam inibidores da fosfodiesterase 3 capazes de serem empregados no tratamento da angina. Entretanto, no estudo de ensaios clínicos das substâncias sildenafina (23) e zaprinaste (47), foram relatadas propriedades onde existia provocação de ereções persistentes. Hoje, contudo, a sildenafila faz parte de um mercado bilionário, com essa descoberta a partir de estudos da cafeína (BARREIRO e BOLZANI, 2009). Figura 2. Demonstração esquemática do planejamento da sildenafila (BARREIRO e BOLZANI, 2009) Em menos de 100 anos, a partir do início dos estudos, os extratos de plantas medicinais vieram a crescer muito no comércio dentro das farmácias, onde se encontrava com 4 Universidade Presbiteriana Mackenzie facilidade a efedrina isolada a partir do ma Huang, onde são utilizadas, por exemplo, para tosse, catarro e febre; a pilocarpina, um parassimpatomimético, isolado do jaborandi e utilizado para o tratamento do glaucoma; a vincristina, um antimitótico isolado da pervincade-madagascar utilizada para leucemia e linfomas (ODY, 2000). A efedrina (Figura 3) é um alcalóide simpatomimético similar aos derivados sintéticos da anfetamina. Muito utilizada em medicamentos para emagrecer, pois aumenta o metabolismo basal das células aumentando assim o consumo de lipídeos para síntese de energia, porém, pode causar dependência química e por esse motivo foi proibida para esse tipo de uso terapêutico. A molécula foi isolada de uma planta chinesa conhecida como MaHuangonde (Figura 3) que os chineses utilizavam o extrato desta planta seca para o tratamento de problemas respiratórios. Figura 3 – Estrutura química da efedrina juntamente com a foto da fonte natural de sua obtenção Atualmente a efedrina é utilizada em alguns medicamentos como descongestionante nasal, broncodilatador e vasopressor, porém ainda existe algumas dúvidas sobre o perfil de segurança desta droga. O abuso desta droga, além de dependência, pode causar infarto agudo do miocárdio, hipertensão arterial e taquiarritimias assim como os outros simpatomiméticos. A pilocarpina (Figura 4) é um alcalóide agonista muscarínico que mimetiza a ação da acetilcolina, empregada principalmente no tratamento do glaucoma onde permite a vazão do líquido intraocular, não aumentando assim a pressão interna do globo ocular. Essa substância foi extraída das folhas do jaborandi (Pilocarpus microphyllus – Figura 4), planta brasileira muito utilizada pelo povo tupi-guarani pela sua propriedade sudorética. 5 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Figura 4 – Estutura química da pilocarpina e foto das folhas de jaborandi (Pilocarpus microphyllus) A pilocarpina é utilizada como antídoto da Atropina, pois exerce seu efeito contrário. Tem como efeito adverso a perda da visão periférica e débito na percepção de claridade. Sua forma farmacêutica mais comum é como colírio e atualmente é uma das drogas mais indicadas pelos oftalmologistas para o tratamento do glaucoma (BUSCA-TOX). A vincristina é um alcalóide antimitótico que faz parte do grupo dos alcalóides da vinca. Esses alcalóides são citotóxicos e atuam nos microtúbulos, onde isoladamente ou em combinação com outro fármco, são utilizados no tratamento de leucemias agudas, linfomas e alguns tumores sólidos como câncer de mama e pulmão. A vincristina foi isolada a partir da pervinca-de-madagascar (Catharanthus roseus), uma planta que faz parte da família das apocináceas originárias nos trópicos de todo o mundo. Figura 5 – Estrutura química da vincristina e foto da planta Catharanthus roseus (Apocynaceae) Como os alcalóides da vinca tem efeito ao nível celular, o mesmo irá afetar todos os tecidos normais que tem rápida divisão celular, assim tendem a produzir efeitos tóxicos como neurológicos, cardiovasculares, hematológicos, hepáticos, gastrointestinais, entre outros. 6 Universidade Presbiteriana Mackenzie A morfina é uma substancia narcótica representante do grupo dos opióides. Um potente analgésico que modula a dor através da ativação dos receptores opiódes presentes no sistema nervoso central. Essa substância foi isolada a partir da papoula-do-ópio pelo alemão Friedrich Serturner em 1803, o qual deu o nome da substância em homenagem a Morfeu, Deus grego do sono. É comercializada até hoje como um dos analgésicos mais potentes do mundo. De acordo com Barreiro (2009) a Morfina ainda encontra muita aplicação na terapêutica para tratamento da dor intensa principalmente em pacientes terminais com câncer (BARREIRO e BOLZANI, 2009). Figura 6 – Estrutura química da Morfina e foto da papoula-do-ópio, principal fonte de isolamento da substância O uso da morfina tem como efeito adverso a depressão respiratória e cardíaca, onde a pessoa pode ficar de cor azulada devido a baixa pressão e falta de oxigenação sanguínea (YUNES, 2009). De acordo com Yunes, muitos dados estudados podem ser relatados explicando os motivos pelos quais os produtos naturais ainda servem como fonte de protótipos ou até mesmo como fonte de fármacos, onde se baseia nos posteriores pontos: • Grande parte dos fármacos surgiu do estudo de plantas medicinais ou, então, de suas substancias bioativas, que vieram a servir como protótipo para a elaboração de um novo fármaco. • Para a maioria dos fármacos elaborados por via sintética, já existem produtos naturais com o mesmo mecanismo de ação identificados. • Existem muitas patologias, onde produtos naturais podem se considerar protótipos possuindo bom efeito, mesmo que ainda não tenham sido desenvolvidos os fármacos correspondentes. 7 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 • A diversidade natural de fontes moleculares, onde a natureza dispõem moléculas de alta complexidade dificilmente imaginada ou até mesmo sintetizada. • O mecanismo de ação que algumas moléculas oriundas de produtos naturais mostra, onde interferem nas complexas interações de sinalização. • Características estruturais dos produtos naturais podem ser usadas como elemento parcial, onde são usados em uma coleção combinatória como, por exemplo, as estatinas, usadas para o tratamento das hiperlipidemias e paralelamente sendo estudadas a fim de servir de modelo para construção de inibidores das proteases do vírus HIV. • A grande quantidade de efeitos sinérgicos observados em extratos de plantas medicinais, o que pode ter boa aplicação na química médica moderna (YUNES, 2009). Entre outras, várias foram as substancias isoladas de plantas medicinais onde a partir de sínteses mais elaboradas foram dando origem a fármacos inovadores com boa biodisponibilidade e farmacodinâmica. Latenciações feitas nessas moléculas foram modificando-as, melhorando todos os perfis farmacológicos necessários para um bom tratamento, e pesquisas no mundo todo vem avançando em cima de plantas medicinais, trazendo cada vez mais inovações para indústria farmacêutica. MÉTODO A partir da coleta, as partes aéreas foram secas em estufa (aproximadamente 600C), para a retirada de água impedindo, assim, o crescimento microbiano no material vegetal. O material vegetal foi triturado obtendo-se, assim, 200g de planta pulverizada, o qual foi submetido à extração exaustiva com hexano, para remoção da maior parte do material apolar. Após reunião do extrato em hexano, o solvente foi removido em rotaevaporador. O extrato hexânico bruto resultante das partes aéreas foi de 2,4 g, o qual foi armazenado para análises posteriores. O material vegetal resultante foi submetido, então, a extração com álcool metílico até o esgotamento. Após reunião das soluções em metanol e remoção do solvente em rotaevaporador, o extrato metanólico bruto resultante das partes aéreas foi de 10,3 g. 8 Universidade Presbiteriana Mackenzie O extrato metanólico bruto foi ressuspendido em uma mistura água:metanol (2:1) e este submetido a partição solvente/solvente empregando-se solventes em escala crescente de polaridade. Assim, foram obtidas as seguintes fases de partição: em hexano, com massa de 1,03 g, em diclorometano (DCM), com massa de 1,9 g, em acetato de etila (AcOEt) com massa de 775mg, em n-butanol com massa de 5,0g. Após obtenção dos espectros de RMN 1 H das fases de partição e registro dos cromatogramas em CLAE, a fase em AcOEt foi selecionada para fracionamento cromatográfico uma vez que no estudo anterior da espécie (BOHLMANN et al., 1981) as fases polares não haviam sido analisadas. 2.3.2 – Fracionamento cromatográfico da fase em acetato de etila A fase em acetato-de-etila foi fracionada em uma coluna de Sephadex LH-20. Na montagem dessa coluna, o adsorvente foi disperso em álcool metílico e adicionado em uma coluna de vidro para ocorrer o empacotamento do mesmo na coluna (40 cm de altura). O Sephadex tem a função de separar as substâncias da amostra de acordo com o tamanho da molécula, diferente das colunas de sílica gel que separam as substâncias de acordo com a polaridade de cada molécula. Assim, foram adicionados a coluna 504mg da fase em AcOEt e a mesma foi eluída com álcool metílico, obtendo-se 33 frações. Essas frações foram analisadas em placa cromatográfica de sílica gel (cromatografia em camada delgada comparativa – CCDC) a fim de se verificar quais frações eram semelhantes e poderiam ser agrupadas. Ao término desse procedimento, as frações foram reunidas em 10 grupos, cujas massas são apresentadas na Tabela 2. Tabela 2 – Grupos obtidos a partir do fracionamento cromatográfico da fase em AcOEt GRUPOS MASSA (mg) F-1 119 F-2 94 F-3 9 F-4 149 F-5 67 F-6 55 F-7 159 F-8 67 F-9 74 F-10 74 Os grupos F–1, F–2, F–4 e F–7 devido a massa e aparência obtida na CCDC foram submetidos à análise cromatográfica por CLAE a fim de identificarmos e selecionarmos para análise por RMN 1H, as frações puras ou enriquecidas com uma determinada substância. Assim, os grupos F-4 e F-7 foram submetidos à análise por RMN 1H, onde a partir da amostra F-7 foi possível identificar a presença de um derivado de ácido cinâmico. 9 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 RESULTADOS O grupo F-7 quando submetido à análise por CLAE apresentou o cromatograma apresentado na Figura 17. Desse cromatograma é possível observar a presença de um pico majoritário na amostra. Através do espectro de absorção no UV (Figura 18) do pico majoritário pode-se inferir a presença de um derivado de ácido cinâmico (CONKERTON e CHAPITAL, 1983). 1.600 B. OXIODONTA #21 [modified by Química] mAU UV_VIS_4 WVL:300 nm 1.250 1.000 750 500 250 -200 0,0 min 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 Figura 17. Cromatograma do grupo F-7 obtido da fase em AcOEt de B. oxyodonta 60,0 Peak #1 % 100% at 14.97 min 50% at 14.84 min: 998.09 -50% at 15.42 min: 993.79 327.6 40,0 242.4 20,0 211.2 -10,0 200 nm 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500 Figura 18. Espectro de absorção no UV do pico majoritário obtido no grupo F-7 da fase em AcOEt de B. oxyodonta Essa amostra (grupo 7) foi submetida à análise de RMN 1H e através da análise do seu espectro de RMN 1H foi possível a identificação de um dubleto em dois dubletos em 6,35 (1H, J= 15,8Hz) e dois sistemas carboxílicos 7,56 (2H, J= 15,8Hz), 6,32 (1H, J= 15,8Hz) sugerindo a presença de ,β-insaturados com estereoquímica trans. Esses dados aliados ao espectro de absorção no UV (λmáx= 242,4, 298,2 e 327,6 nm) da substância presente em G7 nos permitiu inferir a presença de um derivado de ácido cinâmico (CONKERTON e CHAPITAL, 1983). Tal fato foi comprovado através dos sinais no espectro de RMN 1H em 10 Universidade Presbiteriana Mackenzie 7,05 (sl, 2H), 6,79 (d, 2H, J= 8,1Hz) e 6,93 (m, 2H) somados a ausência de sinais de metoxilas, nos permitiram inferir a presença de dois grupamentos cafeoíla na estrutura. No espectro de RMN 1H ainda são visualizados quatro sinais alargados na região entre 2,50, um duplo-dubleto em 2,00 – 3,93 (dd, 1H, J= 3,6Hz e J= 8,7Hz) e um multipleto entre 5,40 – 5,44 (m, 2H). Assim, a partir desses dados, foi inferida a presença do ácido dicafeoilquínico. Os ácidos dicafeoilquínico podem ser 3,4-, 3,5- ou 4,5-disubstituídos conforme apresentado na Figura 19. Na Tabela 3 é apresentada a atribuição dos sinais da substância e a comparação com os dados de literatura dos três derivados (ISLAM et al. 2002). Os dados de RMN 1H não nos permitiram assegurar, sem equívocos, qual dos derivados está presente na amostra. Assim, para a determinação da posição de substituição dos grupos cafeoíla no ácido quínico, a amostra foi submetida à análise por RMN 13C. 7 HO HO 3' HO 1' 7' 6' O 9' CO2H HO O 5 3 CO2H O 1 O O OH HO OH 7'' 1'' 3'' O O O OH OH HO ácido 3,4-dicafeoil-quínico OH OH ácido 3,5-dicafeoil-quínico HO CO2H O HO HO O O HO OH OH O ácido 4,5-dicafeoil-quínico DISCUSSÃO O isolamento do ácido 3,5–dicafeiol-quínico, nos levou a pesquisar em literatura quais os efeitos biológicos que essa substância e seus derivados possuem em organismos vivos. De acordo com Yunjo et al., 2003, foi avaliado a tetrahidropapaverolina (THP) como um candidato neurotóxico, sendo esse um condensado da dopamina, suspeto de ser um dos causadores do Mal de Parkinson, visto que essa substância está presente na urina de pacientes parkisonianos. Testes com glioma de ratos foram feitos com o THP e foi relatado uma maior morte celular das células nervosas na presença desse componente. No entanto, quando as cobaias foram submetidas ao tratamento com THP na presença de derivados do 11 VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 ácido quínico, incluindo o ácido 3,5–dicafeoil-quínico, foi observada uma redução na morte dessas células. A partir de análises com o radical livre 2,2-difenil-1-picrilidrazila (DPPH) os autores concluem que esses derivados de ácido quínico possuem uma atividade neuroprotetora por ser um bom sequestrante de radicais livres obtendo, assim, ação antioxidante e por sua vez protegendo as células nervosas. Esse fato nos leva a inferir que além de um potente antioxidante, esse ácido pode ser estudado como um método alternativo para um melhor tratamento do mal de Parkinson, entre outras doenças neurodegenerativas. De acordo com David e colaboradores (2010), os derivados de ácido quínico foram capazes, independente da dose, de inibir a cicloxigenase 2 (COX-2) uma proteína dos monócitos responsáveis pelo efeito mediador da inflamação, com isso observa-se também uma grande atividade antiinflamatória desses derivados de ácidos. No trabalho de Wang e colaboradores (2010), os ácidos 3,5-dicafeoil-quínico, 3,4-dicafeiolquínico, 4,5-dicafeoil-quínico, 1,5-dicafeoil-quínico, 1,4-dicafeoil-quínico e 1,3-dicafeoilquínico foram usados como substâncias auxiliares nos medicamentos para infecção por micoplasma, os quais geram doenças do sistema urogenital, entre as quais as uretrites e as prostatites. Uma das mais interessantes atividades relatadas para o ácido 3,5-dicafeoil-quínico está descrita no trabalho de KWON (2000), onde por métodos espectroscópicos de alta resolução foi avaliada a ação inibitória desse ácido frente à integrase do vírus HIV. Esta enzima, codificada pela porção terminal 3’ do gene viral, é a única responsável por inserir o DNA pró-viral no cromossomo alvo do hospedeiro, sendo assim, uma enzima essencial para a replicação viral (MELO, 2006). No entanto, o ácido-3,5-dicafeoil-quínico apresentou uma ação inibitória com um valor de IC50 de 7,0 1,3 g.mL-1, ou seja, possui uma potente ação inibitória sobre a enzima integrase do vírus HIV impedindo, assim, a adição de seu DNA pró-viral no hospedeiro e, conseqüentemente, inibindo sua replicação (KWON, 2000). CONCLUSÃO Nesse trabalho foi realizado o estudo fitoquímico da fase em acetato de etila das partes aéreas de Baccharis oxyodonta o qual permitiu, até o momento, o isolamento e identificação estrutural do ácido 3,5-dicafeoil-quínico. Outras substâncias presentes nos grupos obtidos do fracionamento cromatográfico devem ainda ser obtidas dessa fase. As demais fases de partição do extrato metanólico de B. oxyodonta vem sendo purificados e novas substâncias, inéditas ou não em literatura devem ser isoladas, especialmente da fase n-butanólica da espécie. Através do estudo já realizado com B. oxyodonta o ácido 3,5-dicafeoil-quínico não 12 Universidade Presbiteriana Mackenzie foi previamente identificado. Desta forma, esse trabalho adiciona uma nova ocorrência de substância para a espécie estudada. O ácido 3,5-dicafeoil-quínico apresenta atividades biológicas muito significativas como ação neuroprotetora, antiinflamatória, antimicoplasmática e anti-HIV. Assim, os estudos dessa planta e de suas substâncias podem conduzir ao isolamento de substâncias bioativas. Contudo, podemos por meio destes estudos concluir que o estudo químico de espécies vegetais e de plantas medicinais é de grande valia para a indústria química e, principalmente, farmacêutica, devido a grande diversidade estrutural dos produtos naturais isolados de fontes diversas e suas respectivas atividades biológicas potenciais. Em especial no Brasil, que apresenta rica biodiversidade ainda pouco conhecida e explorada, deve-se cada vez mais incentivar a pesquisa de novos produtos e substâncias derivadas do metabolismo de espécies vegetais, marinhas e microrganismos como fonte potencial de novos fármacos. REFERÊNCIAS BARREIRO, Eliezer J.; BOLZANI, Vanderlan da Silva. Biodiversidade: Fonte potencial para a descoberta de fármacos. Quimica Nova, Rio de Janeiro, v. 32, n. 3, p.679-688, 06 abr. 2009. LORENZI, Harri; MATOS, F. J. Abreu. Plantas Medicinais no Brasil: Nativas e exóticas. São Paulo: Plantarum, 2002. ODY, Penelope. 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