OS IMPÉRIOS DA INTELIGÊNCIA Carlos Vasconcellos Cruz * Todos somos poucos. Mas não basta empurrar o carro à base de força bruta. Escolhida a direcção – sob pena de chegarmos depressa aonde não queremos – há que usar as rodas. Só que as rodas que nos movem na direcção do progresso no Século XXI chamam-se conhecimento. Dão pelo nome de inteligência e só se movem empurradas pelo talento. A ENCRUZILHADA Portugal está num impasse. A principal crise chama-se confiança. Nas instituições, nos valores e no futuro. Acima de tudo há que encontrar um caminho que nos conduza à construção de um futuro colectivo mais rico, mais justo e mais produtivo. Não merecemos e não nos podemos conformar com a subalternidade económica que hoje ocupamos na Europa e no Mundo. As determinantes da produtividade dos países e as fórmulas de construção da riqueza mudaram. O sucesso e a competitividade assentes em meios físicos e activos naturais deixaram de ser preponderantes. Os novos impérios - que se estão hoje a construir – chamam-se impérios da inteligência. Neles, Portugal pode marcar pontos. Se tiver a liderança política, a vontade reformista e a determinação executória que permita queimar etapas de desenvolvimento e atirar-se para o pelotão da frente das ideias e da modernidade. CÓDIGOS DE SUCESSO Todos procuramos, desde sempre, fórmulas de sucesso. Na vida pessoal e no mundo profissional. Sucesso pessoal ou das empresas. Individual ou de equipa. Como as vamos descobrir neste início de século? Sabemos que vivemos num mundo de transformação e que o futuro próximo nos reserva enormes desafios. O Século XX trouxe-nos dois avanços científicos absolutamente fantásticos. O código binário, logo no início, e o código genético já no final, com um potencial que ainda não avaliamos em toda a sua extensão. O código binário, com apenas dois elementos, constitui a base da linguagem digital, o alfabeto mais usado e mais poderoso em todo o mundo. Foi a ferramenta que potenciou a explosão da capacidade de armazenamento, processamento e análise de todo o tipo de informação e arrastou consigo todo o progresso do Século. XX. Os três mil milhões de elementos do código genético (com o genoma humano totalmente caracterizado apenas no inicio do Século XXI) são a fonte de conhecimento que nos vai permitir preservar e desenvolver o ser humano. Será um enorme potenciador de conhecimento e evolução que nos levará a ver (e viver) o mundo de forma totalmente nova. DISRUPÇÕES Pensemos por um minuto no seguinte: porquê o sucesso de Singapura, sem quaisquer recursos naturais de valor significativo, reconhecido apenas como país em 1965 e hoje com um PIB/capita superior a muitos países da União Europeia? Como é possível transmitir todas as conversas telefónicas de Portugal em hora de ponta, por um só cabo de fibra óptica? O que justifica a rapidez com que as companhias aparecem, crescem e morrem? O que desencadeou o aumento da esperança de vida, e a assustadora capacidade que começamos a ter de regenerar partes do corpo humano, ganhando anos de vida? UM NOVO MUNDO JÁ COMEÇOU Os últimos anos do Século. XX iniciaram um poderoso e irreversível ciclo de mudança na vida das pessoas, das famílias, das empresas e das sociedades de todo o Mundo. As alterações no comportamento social dos indivíduos, das empresas e das sociedades, o alargamento do fosso entre nações industrializadas e o resto do mundo, o acréscimo das divergências religiosas e a total mudança dos factores económicos de competitividade, levam-nos a colocar em causa as nossas crenças ultrapassadas e a repensar todas as bases em que assenta o nosso modo de estar e funcionar em sociedade. Repensemos valores. Comportamentos. Organizações. Liderança. Modos de vida. Mercados. Concorrência. REPENSAR O FUTURO … HOJE ! Pôr tudo em causa é típico de períodos de mudança acentuada. Questionar valores, centrar o mundo à volta de padrões éticos e reforçar o valor dos princípios e da moral é, hoje, uma necessidade incontornável. No centro das discussões mundiais estão hoje as questões ecológicas, de responsabilidade social, de divisão digital, de corporate governance e de ética empresarial. A sustentabilidade aparece como o principal objectivo empresarial a atingir. Os activos intelectuais sobrepõem-se a todos os outros. E isto significa riscos e oportunidades. DA EXPERIÊNCIA À IMAGINAÇÃO Das empresas construídas com base na experiência, que assentam o seu sucesso em fórmulas tradicionais, em mercados conhecidos e com processos repetidos, passamos para as empresas do conhecimento, em que códigos de ética, valores, capital humano, talento e conhecimento, são os padrões do sucesso. Da empresa de produtos e serviços, com propostas de valor assentes em capacidades produtivas passamos para as empresas dos clientes. O foco de atenção transita para um cliente exigente, volátil, informado e cada vez mais sofisticado, e apenas aquelas empresas que, desde já, o compreendam, conheçam, e estabeleçam com ele relações profundas, se apropriarão do seu potencial de compra. Da hierarquia da organização passámos para a hierarquia da imaginação, onde os factores de sucesso deixam de ser o poder ou o posto de comando e passam a ser o talento, a inovação, a capacidade e a coragem de ousar e buscar permanentemente novos clientes, novas soluções e libertar o enorme potencial de valor e conhecimento dos recursos humanos das organizações. CONHECIMENTO. IMAGINAÇÃO. CLIENTES É esta a trilogia de sucesso para as empresas do Século XXI Conhecer. Tudo o que há para conhecer. Conhecer mercados. Concorrentes. Tecnologias. Técnicas. Ideias. Aproveitar a tecnologia disponível para armazenar e processar essa informação. Usar o potencial intelectual para a analisar e dela retirar as bases para o desenvolvimento e inovação. Imaginar. Com base no conhecimento armazenado, processado e analisado, e no talento disponível. Com coragem para pôr tudo em causa, e com ambição de descobrir coisas novas. Cliente. Foco de toda a actividade das organizações. Uma obsessão constante do gestor, que buscará a maximização do “share of wallet”, através do estabelecimento de relacionamentos estreitos e emocionais com os seus clientes. E que organizará a empresa, não em silos de produtos ou tecnologias, mas por tipologias de clientes e de necessidades. Não em moldes de segmentação do passado, mas de acordo com os novos modelos de necessidades dos clientes do futuro. A OPORTUNIDADE No meio desta aparente complexidade há uma enorme oportunidade. A da inteligência! Sociedades, empresas e países como Portugal com baixos recursos naturais mas elevadas doses de ousadia, têm agora uma nova oportunidade, só comparável à dos tempos em que o poder advinha da coragem de descobrir novos mundos. Agora é o tempo de aproveitar as descontinuidades que a explosiva conjugação dos códigos genéticos e digitais trouxe ao mundo. Agora é a oportunidade de orientar toda a acção para o conhecimento e busca de talento. Agora é o tempo de ousar pensar. Agora é o tempo de Portugal compreender que está ao seu alcance construir tudo o que virá a gerar riqueza e progresso nas próximas gerações: impérios da inteligência. * Presidente Executivo da PT Comunicações Administrador Executivo do Grupo PT