CD 117 - CULTIVAR DE TRIGO DE AMPLA ADAPTAÇÃO Francisco de Assis Franco1, Volmir Sergio Marchioro2, Tatiane Dalla Nora1, Edson Feliciano de Oliveira1 e Ivan Schuster1. 1 Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (COODETEC), BR 467, km 98, C.P. 301, CEP 85813-450, Cascavel, PR, Brasil. [email protected]. 2 Faculdade Assis Gurgacz (FAG), Av. das Torres n. 500, CEP 85806-095, Santa Cruz, Cascavel, PR. O melhoramento genético de plantas e o uso de novas tecnologias disponíveis têm favorecido o incremento na produtividade do trigo, resultado da utilização de cultivar adaptada e adoção de tecnologias adequadas a região de cultivo. Os incrementos no rendimento de grãos, associado com mudanças morfológicas nas plantas, principalmente, do número de grãos e índice de colheita contribuíram para o aumento da produtividade (Sayre et al., 1997). O desenvolvimento de novas cultivares que satisfaçam as exigências de maior potencial genético para produtividade é a principal meta de todo programa de melhoramento (Carvalho et al., 2008). Entretanto, os programas de melhoramento genético precisam dar a mesma importância para os aspectos de qualidade industrial, da mesma forma que é dado ao rendimento de grãos e resistência as doenças (Penã et al., 1997). Trabalhando com intuito de reunir um grande número de características positivas foi desenvolvida a cultivar de trigo CD 117, que apresenta ampla adaptação, alta qualidade industrial e excelente potencial de rendimento de grãos. A cultivar CD 117 foi obtida a partir do cruzamento entre os genótipos PF 87373 e OC 938 no ano de 1993, na localidade de Palotina. As sementes F1 foram avançadas para a geração F2 pelo método massal. A condução e seleção das populações F2, F3 e F4, foi pelo método massal modificado, que consiste na seleção das melhores plantas e as sementes dessas plantas misturadas e utilizadas na próxima geração. As populações F5 e F6 foram conduzidas pelo método genealógico, que consiste na seleção de plantas e as sementes de cada planta utilizadas na obtenção de uma nova população na geração seguinte. A fixação das características ocorreu na geração F6, resultando várias linhas, sendo que uma destas deu origem a cultivar CD 117. A linhagem selecionada foi avaliada em Ensaios Preliminares nos anos de 2000 e 2001, apresentando desempenho superior às testemunhas. No ano de 2002 foi incluída nos ensaios de VCU (Valor de Cultivo e Uso) com o nome experimental de CD 200232. Os ensaios de VCU foram conduzidos obedecendo às Regiões Tritícolas conforme ilustrado na Figura 1 (Cunha et al., 2006), na Região Tritícola VCU I conduzido em Guarapuava, Castro, Campos Novos, Não-Me-Toque, Cruz Alta e Lagoa Vermelha. Na Região Tritícola VCU II conduzido em Itaberá, Cascavel, Campo Mourão, Abelardo Luz, Santo Augusto, Santa Rosa e São Luiz Gonzaga. Na Região Tritícola VCU III conduzidos em Dourados, Ponta Porã, Assis, Arapongas, Rolândia, e Palotina. Na Região Tritícola VCU IV os ensaios foram conduzidos em Cristalina, Catalão, Paracatu e São Gotardo. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com 3 repetições em parcelas constituídas de 6 linhas de 5 m de comprimento, espaçadas em 0,20 m entre linhas, sendo a semeadura efetuada mecanicamente. A adubação e o controle de doenças e pragas foram efetuados conforme recomendações técnicas (Embrapa Soja, 2008). Antes da semeadura as sementes foram tratadas com Triadimenol + Imidacloprid. As variáveis obtidas foram rendimento de grãos, dias da emergência ao espigamento, dias da emergência a maturação, altura de planta, acamamento, peso do hectolitro, peso de mil grãos e força geral de glúten. Em locais estratégicos foram conduzidas coleções dos genótipos que constituíam os ensaios de VCU, nestas coleções não foi efetuado o controle de doenças da parte aérea, onde foram observadas, entre outras, doenças como doenças ferrugem da folha, manchas foliares, oídio e brusone. Na tabela 1 estão incluídas às médias de rendimento de grãos nas Regiões Tritícolas VCU I, II, III e IV, sendo verificado que a cultivar CD 117 apresentou um rendimento de grãos 8%, 5%, 5% e 7% superior a média das duas melhores testemunhas, respectivamente. Devido ao bom desempenho da cultivar CD 117, esta foi indicada para cultivo nas regiões citadas acima, englobando os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, sendo registrada no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares do Ministério da Agricultura (Brasil, 2008). Quanto à altura de planta a cultivar CD 117 é baixa, variando de 55 a 97 cm, e o ciclo é precoce, variando de 50 a 88 dias da emergência ao espigamento e de 101 a 138 dias da emergência a maturação. As médias destas características foram de 75 cm, 66 dias e 117 dias, respectivamente. A cultivar CD 117 e moderadamente resistente ao acamamento e moderadamente resistente a moderadamente suscetível à germinação na espiga. Os resultados de análise de qualidade industrial, de 13 amostras da experimentação nos diferentes estados, geraram uma média de 278 de força geral de glúten (W), o que permitiu incluir a referida cultivar no grupo de cultivares de trigo pão (Tabela 02). Os experimentos conduzidos a campo, no período de 2000 a 2007, possibilitaram a obtenção de notas de doenças. Nas avaliações de oídio (Blumeria graminis f.sp. tritici) e giberela (Fusarium graminearun), foi observado de média a alta severidade, sendo a cultivar classificada como moderadamente suscetível para essas duas doenças. Para helmintosporiose (Bipolares sorokiniana) e septorioses (Septoria tritici e Stagonospora nodorum), foram encontrados índices de média severidade de mancha de folha e mancha de gluma, que permitiram classificar a cultivar como moderadamente suscetível. Em condições de campo, nas avaliações de ferrugem da folha (Puccinia triticina) foi obtido um valor médio de severidade, indicando que a cultivar é moderadamente suscetível (Tabela 2). A cultivar CD 117 possui ampla adaptação, qualidade industrial e alta potencial de rendimento de grãos, sendo assim mais uma opção importante aos triticultores brasileiros. Referências bibliográficas BRASIL. Serviço nacional de proteção de cultivares. Brasília: Ministério da Agricultura. Disponível em http://www.agricultura.gov.br/sarc/dfpv/lst1200.htm. Acesso em 06 out. 2008. CARVALHO, F.I.F.; LORENCETTI, C.; MARCHIORO, V.S.; SILVA, S.A. Condução de populações no melhoramento genético de plantas. Pelotas: Editora Universitária, 2008. 288p. CUNHA G.R.; SCHEEREN P.L.; PIRES J.L.F.; MALUF J.R.T.; PASINATO A.; CAIERÃO E.; SILVA M.S.; DOTTO S.R.; CAMPOS L.A.C.; FELÍCIO J.C.; CASTRO R.L.; MARCHIORO V.; RIEDE C.R.; ROSA FILHO O.; TONON V.D.; SVOBODA L.H. Regiões de adaptação para trigo no Brasil. Passo Fundo: Trigo Embrapa, (Circular Técnica Online, 20), 2006. 35p. EMBRAPA SOJA. Informações técnicas para a safra 2008: Trigo e Triticale. Londrina: Embrapa Soja, (Documento, 301), 2008. 147p. PENÃ, R.J.; ORTIZ-MONASTEIRO, J.I.; SAYRE K.D. Estrategias para mejorar (o mantener) la calidad panadera en trigo de alto potencial em rendimiento. In: KOHLI, M.M.; MARTINO, D.L. Explorando altos rendimientos de trigo. Uruguay: CimmytInia, 1997. p.299-306. SAYRE, K.D.; RAJARAN, S.; FISCHER, R.A. Yield potential progress in short Bread wheats in northwest México. Crop Science. v.37, p.36-42, 1997. Figura 1. Regiões de adaptação para os ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU). Fonte: Cunha et al. 2006, Cascavel, 2008 Tabela 1. Médias de rendimento de grãos (kg ha-1) da cultivar CD 117 e média das duas melhores testemunhas, nas Regiões Tritícolas VCU I, II, III e IV, no período de 2003 a 2007, Cascavel, 2008 REGIÃO CULTIVAR 2003 2004 2005 2006 2007 MÉDIA % CD 117 4164 3855 3593 3975 3897 108 VCU I Testemunhas 3875 3576 3482 3496 3607 100 CD 117 3158 2921 2481 3791 3507 3172 105 VCU II Testemunhas 3099 2834 2309 3712 3168 3024 100 CD 117 2849 2562 2667 2940 3957 2995 105 VCU III Testemunhas 2786 2513 2597 2787 3624 2861 100 CD 117 5791 5587 5340 5882 4611 5442 107 VCU IV Testemunhas 5528 5284 4990 5329 4316 5089 100 * As duas melhores testemunhas utilizadas na comparação (Média T) foram BRS 179 e ONIX na Região I; IPR 85 e BRS 208 na Região II e III; e, EMBRAPA 42 e BRS 207 na Região IV. Tabela 2. Médias de dias da emergência ao espigamento (ES), dias da emergência a maturação (MT), altura de planta (AP), acamamento (AC), peso do hectolitro (PH), massa de mil grãos (MG), força geral de glúten (W), ferrugem da folha (FF), mancha de folha (MF) e oídio na folha (OF) da cultivar CD 117 e da testemunha ONIX, no período de 2000 a 2007, Cascavel, 2008 ES MA AP AC PH MG W FF MF OF Cultivar CD 117 ONIX (dias) (dias) (cm) % (Kg hl-1) (g) (10-4 Joule) (%) 66 71 117 123 75 80 5 5 79 79 33 34 278 268 19 41 (nota 0-9) (nota 0-9) 3,2 3,7 1,9 1,3