CULTURA ORGANIZACIONAL, CLIMA ESCOLAR E INCIVILIDADES: O QUE OS ALUNOS ESPERAM DA ATITUDE DO PROFESSOR NO AMBIENTE ESCOLAR ÁQUILA, Tatiane Graziele Domingues – UNISAL - Lorena/SP [email protected] ALVES, Talita Alvarenga – UNISAL – Lorena/SP [email protected] GONÇALVES, Priscilla Leite– UNISAL – Lorena/SP [email protected] KOEHLER, Sonia Maria Ferreira - UNISAL-Lorena/SP [email protected] Eixo Temático: Violências na Escola Agência Financiadora: UNISAL – Lorena/SP Resumo Este estudo é parte de um projeto de pesquisa desenvolvido pelo grupo de estudos e pesquisas do Observatório de Violências nas Escolas do Núcleo UNISAL - Lorena, SP. A pesquisa procura demonstrar o significado de cultura organizacional e clima escolar ao identificar os tipos e formas de violências interpessoais que ocorrem no cotidiano escolar entre os alunos e verificar, a partir da opinião dos alunos, qual a melhor forma de intervenção nas situações de conflito na escola. Participaram deste estudo 132 adolescentes: 66 do sexo feminino e 66 do sexo masculino, pertencentes ao 8º e 9º ano do Ensino Fundamental da Rede Pública e Municipal de Lorena. A distribuição dos alunos foi por amostragem estratificada uniforme. O instrumento de pesquisa foi um questionário com questões fechadas que permitiu um diagnóstico da dinâmica das relações interpessoais, principalmente, na sala de aula e uma questão aberta que permitiu a expressão dos alunos sobre a melhor forma de intervenção quando ocorrem situações de conflito e/ou violências na escola. O questionário focou quatro aspectos: a caracterização dos participantes, a relação do aluno com o professor e com os seus pares, tipos de violências/incivilidades sofridas, presenciadas e/ou praticadas. Os resultados indicam que os alunos esperam que os professores se posicionem no sentido de intervir nas situações de conflitos na escola. Tal resultado nos aponta sobre a importância do investimento na formação do professor para o aprendizado de como lidar com a mediação, assim como as diferentes formas de prevenção e/ou intervenção nas situações de conflito e no enfrentamento das violências nas escolas. O estudo sugere que o comportamento do professor que nem sempre exerce o seu papel de educador, nas situações de conflito, implica na manutenção da cultura escolar que alimenta progressivamente o clima escolar. 1705 Palavras-chave: Clima Escolar. Cultura Organizacional e escola. Incivilidades. Bullying. Violências nas escolas. Introdução Vivemos em um meio sócio-cultural, num contexto em que a violência está cada vez mais presente, transformando-nos em uma sociedade do medo. E esse meio, compromete e prejudica todo um conjunto em nossas vidas: o cotidiano, a confiança, o processo de socialização e nossa crença por um mundo melhor. A sociedade atual se configura por incertezas, medos, conflitos, confusão de valores, falta de ética e limite entre o que é certo ou errado, o que nos torna vulneráveis, inseguros, desconfiados e injustos. Como realidade de nosso cotidiano, um dos temas que vem despertando grandes interesses e preocupações por parte de educadores, profissionais e organizações sociais e políticas, é a violência escolar, fenômeno que precisa ser permanentemente estudado e combatido principalmente por atingir e interferir na dinâmica da vida, na integridade física e/ou psicológica dos indivíduos. A escola é uma organização dotada de uma cultura e valores específicos. Reflexo dessa cultura o clima será relativo a mesma, porém vários fatores influenciam negativamente o clima escolar, e é nessa perspectiva que esse artigo procura propor, inquietar e conscientizar a sociedade à respeito da relevância do fenômeno da violência escolar, os conflitos, e os atos das incivilidades nas escolas. Chamar a atenção sobre os deveres de cada cidadão em mudar, reconhecerem-se como sujeitos da violência, e não permitir a banalização do fenômeno é o princípio fundamental deste estudo, pois há uma tendência à naturalização e hierarquização de violências, ou seja, classificá-las como mais ou menos terríveis. Segundo Abramovay e Castro (2006) a banalização da violência toma distintas formas: “A indiferença pela saturação de informações, notícias; a não consideração de alguns fatos como violentos, por hierarquizar certas violências, em relação a outras, como menos violento e, em seu formato mais crítico, nega-se a produção de violências, ou de sujeitos da violência em relação a si e a outros, porque não se conhece outra forma de ser”. 1706 Assim, está posto nosso desafio: conhecer o fenômeno, conhecer cada escola, sua comunidade, suas peculiaridades, sua dinâmica, seus agentes, suas vítimas e as conseqüências “naquela escola”. Somente assim poderemos encontrar formas para a prevenção e/ou enfrentamento. A instituição escolar, a cultura e o clima Todas as organizações são constituídas por grupos seja de supervisores, colaboradores, diretores, alunos, ou seja, há uma diversidade grupal (cognitiva e demográfica: idade, sexo e raça ou etnia), ou grupos “multiculturais” (SPECTOR, 2006) proporcionando assim, interrelações nesses espaços. As organizações escolares são regidas por uma cultura organizacional e valores específicos, com objetivos de transmitir e produzir conhecimentos; é um espaço considerado preservado para a formação do cidadão e referência da comunidade (PONTES, 2007) ambiente de convívio, segurança e paz, espaço onde se espera que seja estruturado e preparado para formar para o futuro, para cidadania e fortalecer a esperança de que os objetivos, sonhos e metas se tornarão realidade. Para os adolescentes este espaço é considerado como centro de seu “círculo social reduzido e homogêneo”(KOEHLER, 2003) no entanto é o espaço para o desenvolvimento das diferentes habilidades para integrar-se ao mundo dos adultos. A cultura original desse ambiente deriva da filosofia e missão enquanto instituição/organização, e influencia fortemente, pois as ações dos dirigentes estabelecem o clima geral que define quais comportamentos são aceitáveis e quais não são (ROBBINS, 2005). Antigamente vista como assistencialista e refúgio para crianças desabrigadas, ambiente que formava o “adulto em miniatura”, a escola possuía uma cultura rígida, porém com os avanços, as revoluções, a globalização, esse modelo tradicional foi mudado, ou seja, a cultura forte, que segundo o autor Robbins, seria os valores essenciais da organização, precisaram ser flexíveis e renovados, fator que paulatinamente foi sendo reestruturado. Como antigamente, nos dias atuais presenciamos mudanças que precisam ser feitas novamente, os jovens vivem em uma cultura que está voltada a áreas tecnológicas, mudanças rápidas, várias fontes de informações, e tanto a família quanto a escola e a cultura escolar sofrem as influências dessa cultura que se tornou nacional. A cultura dominante expressa os valores essenciais compartilhados pela maioria dos membros da organização. A cultura escolar tende a ser 1707 influenciada pela cultura nacional, porém não pode ou não deveria ser abalada, pois a cultura escolar é a cultura forte e têm impacto sobre o comportamento de seus funcionários e sobre todo o conjunto de indivíduos que dela participam. Ultimamente em algumas escolas em que esses papéis (dos educadores e diretores) estão invertidos, a cultura passa a ser considerada fraca, pois está dominando e influenciando o clima escolar. (ROBBINS, 2005). O clima escolar resulta dos comportamentos e das políticas dos membros que a integram (especialmente os dirigentes) (BRUNET, 1992) e devido a esses comportamentos alguns fatores negativos estão sendo presenciados no ambiente escolar. Muitas são as variáveis que influenciam tanto positiva quanto negativamente esse ambiente, “a cultura escolar, o compromisso do professor, normas, ênfase na cooperação, expectativas, prêmios e castigos, consistência, consenso, claridade de objetivos, dificuldades, apatias, etc” (SILVA; BRIS, 2002) Como já vimos, a escola é uma organização regida de normas e regras , que devem ser seguidas para “ (...) lidar ou inibir a violência. As regras, refletem os valores que devem ser comuns e conhecidos por todos no processo de interação” ( ABRAMOVAY; RUA, 2002) . Estas por sua vez devem ser bem estruturadas e esclarecidas perante todos seus membros participantes para proporcionar um clima de segurança e ordem. No entanto, nem sempre a instituição escolar, enquanto organização expressa claramente à comunidade de estudantes, aos pais e aos próprios docentes as informações sobre normas e regras, assim como as conseqüências para o desrespeito das mesmas. A falta de comunicação implica em desorientação, injustiças e contradições nas ações do professor, coordenador e diretor, gerando insatisfação. Essas insatisfações causam grandes tensões que geram mais conflitos interpessoais e possibilitam situações para as violências, que por sua vez, estabelecem o clima escolar e determinam o que denominamos de uma cultura “fraca”. Segundo Silvia e Lanzoni, (2008): “A violência tem todas as possibilidades de aparecer em um clima onde as normas sejam arbitrárias, elaboradas à margem da participação dos alunos/as, inconsistentes e pouco claras, sem que os implicados em seu cumprimento saibam quando são obrigatórios os cumprimentos e quando podem não cumprir-se, porque não exista uma clara especificação de até aonde chega a liberdade individual e até aonde a liberdade de cada um deve reduzir-se em função do respeito aos direitos dos demais. Por duas razões básicas: o marco cultural não oferece critérios de referência para elaborar pautas claras de convivência e a inconsistência na aplicação das normas impede saber o que será considerado como correto e o que como incorreto.” 1708 Por isso é preciso manter uma cultura escolar viva, os funcionários, os alunos precisam aprender essa cultura através das histórias da fundação desse ambiente, dos rituais (seqüências repetitivas para reforçar os valores fundamentais da organização), e os símbolos materiais (ROBBINS, 2005), favorecendo assim o clima escolar, o sentido de pertencimento e a convivência nesse meio. Um aspecto importante, citado acima é o termo utilizado por Robbins: símbolos materiais. O autor coloca que o espaço físico em uma organização passa uma mensagem para os tipos de comportamentos almejados e considerados apropriados pelos dirigentes. Colocando em questão essa visão, enfatizo a importância do aspecto físico, da qualidade das instalações físicas (ABRAMOVAY; RUA, 2002) de uma escola. Tornou-se comum, em algumas escolas públicas e privadas, geralmente situadas em territórios vulneráveis ou de alta periculosidade, sofrerem por depredações, pichações, apresentarem sanitários precários e sem higienização. Como vimos anteriormente, se o espaço passa uma mensagem de ações e comportamentos considerados inapropriados, esse símbolo passará uma mensagem negativa para quem está de fora desse ambiente e quem convive no mesmo. Em uma pesquisa realizada por Abramovay (2009) com um grupo focal de professores, eles assinalaram a importância de uma escola bem cuidada. “A construção da identidade de um estabelecimento passa pela imagem que os atores têm do mesmo, formando dessa maneira uma percepção negativa ou positiva”. Para alguns professores, de uma forma geral, a escola apresenta sérias deficiências que dificultam o ensino/aprendizagem: “turmas superlotadas; falta de mobiliário adequado para o desenvolvimento das aulas; falta de professores de laboratório e o principal, falta laboratórios equipados e espaço físico; salas de aula super lotadas.” Outra pesquisa realizada, relata os índices de violências em escolas de vários estados brasileiros. Em uma escola do Rio de Janeiro, os índices de qualidade dos corredores mostram no total que 90% delas apresentam más condições de higiene, iluminação e espaço. O que nos desperta a atenção é pelo fato de que em 100% das escolas privadas observadas foram registrados corredores em más condições, enquanto as escolas públicas correspondem a 86%. Segundo observação dos pesquisadores, foi notável o permanente clima de ameaça vivenciado pelos próprios profissionais do colégio, na medida em que os corredores vão sendo monitorados por câmeras, mostrando que os índices não são altos somente em escolas públicas, mas também em privadas. Em Goiânia, os pesquisadores observaram diretamente 1709 em escola pública que não havia funcionário que controlasse os alunos, e em Vitória, os alunos ficam soltos ninguém fiscalizando os corredores e os pátios. (ABRAMOVAY; RUA, 2002). Para quem está no entorno da escola presenciando fatos como esses, recebem a mensagem que se passa podendo em primeiro momento culpabilizar os alunos, tachá-los como indivíduos sem educação, marginais, desconhecendo os fatores que levam aquela situação, desconhecendo que “por trás desse jovem, existem histórias marcadas, muitas vezes, por graves problemas sociais” ( ABRAMOVAY; CASTRO, 2006). Porém, seria viável então culpabilizar a escola? Os pais? Gestores? Não, não estamos apontando um culpado e nem os levando a procurar um, mas sim, os fatores que enquanto cultura influenciam o clima escolar e possibilitam violências, visto que enquanto um problema social é também considerado ato aprendido e, portanto reproduzido. Incivilidades e clima escolar Vários são os tipos de violências no ambiente escolar. Além da violência física e o vandalismos existentes, há também a violência psicológica, simbólica, as incivilidades, entre outras. Encontramos em Tomkiewisk (1977, p. 320) o seguinte conceito para a violência institucional “toda e qualquer ação cometida dentro de uma instituição ou toda ausência de ação que cause a criança um sofrimento físico ou psicológico inútil e/ou bloqueio de seu desenvolvimento posterior”. A violência pode envolver tanto a violência entre Classes Sociais (violência macro), como a Violência Interpessoal (violência micro). A primeira mostra a escola como cenário dos atos praticados contra ela que são os vandalismos, incêndios, atentados em geral. E a segunda mostra a violência nas relações interpessoais (professoraluno, aluno-aluno) levando-nos observar que a violência está presente nas relações interpessoais, sendo que essas formas têm razões e impactos diversos, (KOEHLER, 2003). As incivilidades são microviolências que causam sentimento de insegurança. Elas se dão na qualidade das relações interpessoais, “nem sequer são notadas e passam fazer parte do cotidiano escolar” ( ABRAMOVAY; CASTRO, 2006). Vários autores colocam suas opiniões a respeito do termo. Segundo as autoras, consiste em “infrações à ordem estabelecida que ocorrem na vida cotidiana. Mesmo não sendo aparentemente graves, são atos- como agressões verbais, xingamentos, atos de indisciplina, abuso de poder etc. ( p. 50) 1710 Dupâquier, 1999, (apud: ABRAMOVAY; RUA, 2002) a denomina empiricamente como delitos contra objetos e propriedades, intimidações físicas (contra as pessoas: empurrões, escarros) e verbais ( xingamento, ameaças). Para Charlot (1997), representam humilhações, palavras grosseiras, falta de respeito, ameaça do sistema escolar. De maneira geral “as incivilidades segundo os autores não se restringem pelo uso da força física, porém atingem o sentimento e o lado psicológico da vítima. Por ser microviolência, tende a ser tratada como pequena, micro, que não se percebe, de não importância, sem gravidade, onde sabemos que é o oposto, ela é invisível sim, implícita, porém atinge os indivíduos tornando-os inseguros e “prejudicando sua auto-estima, trazendo clima de tensão na organização escolar pois constituem atos que rompem as regras elementares da vida social “São comportamentos considerados sem gravidade e que tem caráter essencialmente público - são, portanto, relativos as relações entre o espaço público e os indivíduos” ( ROCHÉ, 2002, apud: ABRAMOVAY; CASTRO, 2006).“Segundo vários autores (DEBARBIEUX, 1996; COUSIN, 2000, apud: ABRAMOVAY, 2009), a organização de um estabelecimento, através de seus projetos e ações, e a qualidade das relações sociais nas escolas podem implicar uma visão mais positiva ou negativa do estabelecimento escolar”. As incivilidades no ambiente escolar se manifestam por meio da discriminação, desvalorização, preconceito, humilhações, tanto por parte dos professores, gestores, alunos. È um padrão de sociabilidade realizado por meio de incivilidades, tornando a escola inversa ao seu objetivo, um local de “antieducação” e de difícil acesso à aprendizagem. ( ABRAMOVAY; CASTRO, 2006). Várias são as reclamações dos alunos e dos professores, relacionado com as incivilidades, os alunos queixam-se das agressões verbais e altos graus de ofensas dos xingamentos que os professores proferem. Estes, por sua vez, queixam-se das palavras grosseiras, insultos, berros, acusações difamatórias, violência verbal por nota, entre outros, tendo os alunos comportamentos desafiantes e procuram visibilidade, provocando as autoridades. Visto que a proliferação de incivilidades também pode ser a porta de entrada para violências mais fortes, o papel de intervenção e da mediação supõe importantes ações que necessitam de real investimento pelo corpo docente. (ABRAMOVAY; CASTRO, 2006). 1711 A pesquisa Participaram da pesquisa 132 alunos, pertencentes às três maiores escolas do município: 66 do sexo masculino e 66 do sexo feminino. As idades variavam entre 13 a 15 anos e cursavam os 8ª e 9ª anos do ensino fundamental. O número total de alunos que cursavam essas séries, nas escolas pesquisadas, eram 295. Optamos pelo tipo de amostragem estratificada uniforme (SIEGEL, 1979) isto é, foram sorteados igualmente, o número de elementos em cada estrato, em cada sala de aula, tanto os participantes do sexo masculino e feminino.1 O instrumento foi um questionário com 21 questões fechadas e uma questão aberta tendo por foco quatro aspectos: a caracterização dos participantes, a relação do aluno com o professor e com os seus pares, tipos de violências/incivilidades sofridas, presenciadas e/ou praticadas e uma questão aberta pedindo sugestão sobre a melhor atitude dos professores em relação aos conflitos: “uma sugestão para que seus/suas professores(as) possam melhorar a convivência ou as agressões dos alunos na escola” Os dados apontam que 40% dos alunos já foram agredidos por seus colegas, 51,1% foram agredidos verbalmente por xingamentos, 50% foram agredidos fisicamente por socos e 80,3% mostram que reagem quando são agredidos. Também chamou-nos a atenção o tipo de reação do professor quando chamado em situações de conflito, sendo que 41,7% dos alunos procuram por algum professor quando ocorre alguma situação de conflito, 34,4% desses alunos disseram que seus professores os mandaram resolver com a direção ou coordenação. Tal relato demonstra que alguns professores não estão preparados para a mediação que poderia/deveria ser feita por sua parte, atribuindo ao diretor a “autoridade sobre” o aluno, perdendo o espaço que deveria se assumido por si próprio. Para elucidar e demonstrar os dados dessa pesquisa apresentamos, abaixo o resultado e comentários de algumas tabelas. Tabela 1 - Foi perguntado: “Você já foi agredido verbalmente por um (a) colega? Se sim, mostre o tipo de agressão verbal sofrida” 1 A pesquisa foi realizada na Rede Municipal do município de Lorena, interior de São Paulo. Participaram da coleta de dados alunos bolsistas e professores do Observatório de Violências nas Escolas. Desde 2005 o Observatório de Violências nas Escolas mantém parceria com a Rede Municipal para Estudos e Pesquisas. Cf.: KOEHLER; MORAES, 2005. 1712 MASC. FEM. TODA AMOSTRA 3 10 7 2 14 5 10 24 18 TODA AMOSTRA % 10,6 51,1 38,3 0 20 0 27 0 47 0 100 Ameaças Xingam Fazem piada de você N. Resp BASE Fonte: Observatório de Violências nas Escolas. UNISAL-Lorena, 2008 A Tabela 1, mostra que 47 alunos sofreram agressões verbais, o que equivale a 35,6 % da amostra pesquisada (N=132). Os tipos de agressões verbais mais sofridas são os xingamentos e as piadas nas relações interpessoais. Tabela 2- Foi perguntado: Você já foi agredido fisicamente? Se sim “Mostre o tipo de agressão física sofrida” Socos MASC. FEM. TODA AMOSTRA 9 1 10 TODA AMOSTRA % 50 Empurrão 2 3 5 25 Belisco Pontapé 0 3 1 1 1 4 5 20 Roupa Rasgada Base 0 0 0 0 14 6 20 100 Fonte: Observatório de Violências nas Escolas. UNISAL-Lorena - 2008 A Tabela 2 mostra que socos, empurrões e pontapés no ambiente escolar são violências (agressões físicas) sofridas por 26,4% dos participantes da pesquisa. Tabela 3-Foi perguntado: “Quando acontece algum tipo de agressão entre você e um (a) colega, você chama o(a) professor(a)? (Sim ou Não) 1713 MASC. FEM. TODA AMOSTRA Sim 24 31 55 TODA AMOSTRA % 41,7 Não 42 34 76 57,6 N. Resp 0 1 1 0,75 Base 66 66 132 100 Fonte: Observatório de Violências nas Escolas. UNISAL-Lorena - 2008 A Tabela acima revela que 41,7% dos alunos chamam o professor quando se deparam com uma situação de conflito, porém, 57,6% responderam que não chamam. Os alunos não chamam os professores por determinados motivos que nos levam a inferir sobre o receio de serem encaminhados à diretoria ou a desesperança por não confiarem em uma intervenção positiva como podemos conferir na tabela 4. Tabela 4 - Foi perguntado: “Se você já chamou ou contou a um (a) professor(a) o que aconteceu, qual a reação desse(a) professor(a)?” MASC. 2 1 FEM. 0 1 TODA AMOSTRA 2 2 TODA AMOSTRA% 1,6 1,6 Debochou de mim Gritou comigo na frente Dos meus colegas Mandou os alunos p/ 29 14 43 34,4 a Diretoria/Coordenador Mandou que eu procurasse 10 23 33 26,4 o Diretor(a) Não ligou 10 13 23 18,4 Não Respondeu 2 1 3 2,4 Outra 7 12 19 15,2 Base 61 64 125 100 Fonte: Observatório de Violências nas Escolas. UNISAL-Lorena - 2008 A Tabela 4 demonstra a reação do professor quando solicitado diante de diferentes situações de conflito. 34,4% dos professores “mandou os alunos para a diretoria ou para o coordenador” resolver. 26,4% “mandou o próprio aluno procurar o diretor (a) para contar o caso. 18, 4% não ligaram para o apelo do aluno. 2,4% não respondeu quando interpelado pelo aluno. 1,6% gritou com o aluno que pediu ajuda e 1,6% externalizou algum comentário ou ato que foi percebido, pelo aluno, como deboche. 1714 A análise dos dados indica que 80,3% das reações dos professores demonstram indisponibilidade, negligência, desatenção ou falta de profissionalismos para exercer a mediação ou buscar uma alternativa relativa ao papel do educador. Considerações finais O estudo revela os tipos de violências interpessoais que afetam o clima escolar, assim como o descompasso entre a função da escola, do professor e o que os alunos esperam do ambiente escolar e do professor. Este descompasso está engendrado em uma cultura assentada na ausência de autoridade do professor, que por sua vez a transfere para o coordenador (a) ou para o diretor(a) ou para “ninguém”, este último interpretado pela Tabela 4 que mostra as atitudes: não ligar, não responder ou debochar. A dinâmica dessas atitudes, explicitadas pela percepção do aluno sobre o professor que “não se envolve com os conflitos”, isto é não procura saber o que está acontecendo, não aconselha, não escuta, pois é mais fácil “mandar para a diretoria”, implica na configuração de uma cultura escolar contraditória no papel da escola, no papel do educador e na esperança dos alunos. Na última questão do instrumento de pesquisa foi pedido “uma sugestão para que seus/suas professores (as) possam melhorar a convivência ou as agressões dos alunos na escola”. O levantamento das opiniões indica quanto o aluno valoriza as atitudes positivas do professor e espera uma atitude de diálogo, sobre regras e normas , melhoria da didática em sala de aula, conversa do professor e/ou do Diretor com o aluno e a família do aluno. O clima escolar influencia no processo de ensino-aprendizagem e também “influencia aquilo que os professores ensinam e o que os alunos aprendem, podendo ou não criar sistemas de cooperação, situações de identidade ou desencanto com as escolas”, pois em um ambiente onde prevalece as incivilidades , seus integrantes podem estabelecer um distanciamento , um sentimento de falta de pertencimento, levando ao desaparecimento das relações de amizade e solidariedade. ( ABRAMOVAY; CASTRO, 2006). É notória a necessidade de criação de estratégias, intervenções e mediações nas relações interpessoais, como destacado em nosso estudo, o diálogo, respeito e valorização do próximo é uma das maneiras primárias que já deveriam existir nesse ambiente. Abramovay em sua publicação: Escolas inovadoras: experiências bem-sucedidas em escolas públicas (2004), aponta estratégias de mudanças do clima escolar, ressalta a importância do “bom 1715 clima” na vida da escola, a importância da gestão inovadora (aberta à mudanças), a valorização do aluno, do professor e da escola, exercício do diálogo, trabalho coletivo, a participação da família e da comunidade, a re-significação do espaço físico ( preservação do espaço físico), incremento da sociabilidade e construção do sentido de pertencimento desse ambiente. Não podemos deixar de questionar os cursos de formação de Pedagogos e outras licenciaturas nas demais áreas que ainda não incorporaram, em suas matrizes, disciplina(s) que tratem especificamente do assunto. Possivelmente, tendo consciência do fenômeno, os educadores cuidarão de criar estratégias e contribuir para o bom convívio e clima escolar. Para que essas mudanças sejam realizadas com êxito, como pontua Delors (1996) é essencial que exista esforço e disposição para a mudança, disposição esta que se assenta na compreensão de que o direito à escolaridade é um bem, um legítimo patrimônio da humanidade, que de forma alguma pode ser ameaçado por situações de violências nas escolas. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia. Caleidoscópio das violências nas escolas. Brasília: Missão Criança, 2006. ABRAMOVAY, Miriam (coord.); CUNHA, Anna Lúcia; CALAF, Priscila Pinto . Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas . 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