Brazilian Journal of Sports Nutrition
Vol. 2, No. 2, Março, 2013, 24–36
Conhecimento nutricional de praticantes de musculação de uma
academia da cidade de São Paulo
ADAM, Bruna O.¹; FANELLI, Camila¹; SOUZA, Érika S.¹; STULBACH, Tamara E.²;
MONOMI, Priscila Y.³
Autor de correspondência: Érika Souza*
¹ Graduados. Alunas da Graduação em Nutrição do Centro Universitário São Camilo.
² Nutricionista. Mestre em Nutrição e Saúde Publica e doutoranda em Nutrição e Saúde
Pública pela Universidade de São Paulo.
³ Nutricionista. Especialista em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São
Paulo.
RESUMO
OBJETIVO: avaliar conhecimentos de praticantes de musculação sobre alimentação pré e póstreino, hidratação durante o exercício e verificar o número de consumidores de suplementos.
MÉTODOS: estudo realizado com 105 praticantes de atividade física entre 18 e 65 anos,
aplicando-se questionário sobre as vertentes do projeto. RESULTADOS: houve predominância
feminina (62,9%), idade superior a 40 anos (58,1%) e nível superior completo (76,2%). O
principal objetivo do exercício foi qualidade de vida (71,4%) com relação inversa ao uso de
suplementos (9,5%), maior entre homens, com principal finalidade de aumento da disposição.
Sobre hidratação, 90,5% acreditam que água é suficiente. Para 59% o consumo alimentar imediato
pré-treino pode trazer prejuízo. O consumo de carboidratos é essencial no pré-treino para 56,2%.
Alimentação exclusivamente proteica no pós-treino foi julgada incorreta por 84,8%.
CONCLUSÃO: observou-se bom conhecimento dos participantes sobre os aspectos estudados,
porém, ainda é fundamental a orientação adequada do nutricionista.
Palavras-chave: nutrição, treinamento de resistência, conhecimento, hidratação.
ABSTRACT
PURPOSE: to evaluate knowledge of bodybuilders on feed pre-and post-workout, hydration
during exercise and verify the number of consumers of supplements. METHODS: A study of 105
individuals between 18 and 65 years, using a questionnaire on aspects of the project, each
participant received a informative guide. RESULTS: There was female predominance (62.9%),
age over 40 years (58.1%) and high level education (76.2%). The main objective of the exercise
was quality of life (71.4%) with an inverse relationship to the use of supplements (9.5%) higher
among men, with main purpose to increase disposition. On hydration, 90.5% believe that water is
sufficient. For 59% the food consumption immediately pre-workout can bring harm. The
consumption of carbohydrates is essential in the pre-training to 56.2%. Feed only protein in the
post-workout protein was judged incorrect by 84.8%. CONCLUSION: There was a good
knowledge of participants on the issues studied, but is still essential proper guidance of a
nutritionist.
Key-words: nutrition, resistance training, knowledge, fluid therapy.
Recebido em 5 de Dezembro de 2011; aceito em 27 de Fevereiro de 2012.
*Autor de correspondência: Endereço: Avenida Padre Arlindo Vieira, 3086, bloco 3,
apto. 101, CEP 04166-003 - E-mail: [email protected]
Associação Brasileira de Nutrição Esportiva
http://www.abne.org.br
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Introdução
A disseminação de padrões estéticos estereotipados como o corpo magro, com baixa
quantidade de gordura ou com elevado volume e tônus muscular, além da busca pelo melhor
condicionamento físico para manutenção da saúde, intensificou a procura por academias de
ginástica, principalmente por indivíduos sem vínculo profissional com esportes¹ ².
Uma modalidade praticada com frequência é o treinamento de força (musculação), que
objetiva melhora da performance esportiva, condição física geral e crescimento da massa muscular
– hipertrofia – que ocorre por meio do aumento da secção transversa do músculo, visando obter um
maior número de fibras musculares e alcançar o máximo desenvolvimento destas³.
O ganho de massa muscular tem estreita relação com a predisposição genética e o treinamento
realizado, considerando volume, intensidade, duração, intervalo, velocidade e frequência do
exercício praticado4.
Um ótimo desempenho na realização de exercício com pesos pode ser atingido adotando-se
uma alimentação adequada quanto à quantidade, qualidade e horário da ingestão, aliada a uma
reposição hidroeletrolítica antes, durante e após o treino. Em contrapartida, um consumo alimentar
incorreto inibe a performance e prejudica a saúde. Porém, nem sempre há preocupação com uma
alimentação adequada, seja por falta de informação, orientação ou recursos financeiros5 6 7.
Segundo estudos, o conhecimento de nutrição em jovens é melhor nos atletas em relação aos
não praticantes. No entanto, as informações a respeito de nutrição e atividade física são geralmente
fornecidas por pessoas nem sempre habilitadas em nutrição esportiva, criando tabus e dependendo
de como são interpretadas, podem levar a um consumo dietético inadequado. Portanto, há uma
necessidade crescente de orientação e educação em nutrição esportiva para auxiliar os esportistas a
melhorar seus hábitos alimentares, em virtude do desconhecimento por parte destes sobre a
existência de dietas apropriadas nas diferentes fases do exercício, onde cada nutriente presente
pode desempenhar uma função específica¹.
É consenso na comunidade científica que a dieta pode fornecer todos os nutrientes necessários
a uma vida saudável. Sendo assim, a suplementação da dieta é recomendada apenas em situações
específicas. Os suplementos são apresentados aos consumidores como uma forma de se alcançar os
resultados desejados da atividade física, em menor tempo, porém, sua recomendação para melhora
do desempenho físico é contraditória8.
Frequentemente, determinadas substâncias são comercializadas sem base em qualquer
pesquisa científica que determine seus benefícios potenciais ou possíveis efeitos colaterais nocivos.
Alguns produtos entram e saem de moda antes que existam estudos que estabeleçam seus efeitos6.
Praticantes de exercício físico estão expostos a informações nutricionais de diversas fontes e
os nutricionistas podem providenciar informações acuradas sobre vários tópicos de interesse, não
só aos praticantes, mas aos profissionais que atuam na área. Desse modo, a meta do nutricionista é
fazer com que o esportista alcance ótimo estado nutricional, por ser um profissional que tem amplo
conhecimento sobre os paradigmas e riscos de saúde associados ao esporte e desenvolve
procedimentos de avaliação específicos às necessidades do desportista. Assim, um de seus papéis é
aconselhar o praticante de atividade física acerca das necessidades nutricionais adequadas antes,
durante e depois do exercício e para a manutenção de uma boa saúde, peso e composição corporal
adequado¹ 6.
Portanto, o objetivo desta pesquisa é avaliar os conhecimentos de praticantes de musculação
sobre a alimentação pré e pós-treino, hidratação durante o exercício, além de verificar o número de
indivíduos que utilizam suplementos nutricionais.
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Métodos
Trata-se de um estudo de corte transversal descritivo com coleta de dados primários, aprovado
pelo Comitê de Ética do Centro Universitário São Camilo, sob o parecer no. 047/05.
A pesquisa foi realizada em uma academia de ginástica no bairro Bosque da Saúde, na Zona
Sul do município de São Paulo, no período de 10/10/2011 a 09/12/2011. Os critérios de inclusão
adotados foram a prática de musculação e idade entre 18 e 65 anos. Deste modo, a amostra foi
composta por 105 praticantes de musculação.
Para recrutar os candidatos à participação do estudo, foi afixado cartaz informativo
direcionado ao público-alvo nos murais da academia, descrevendo sucintamente a pesquisa, e o
mesmo também foi encaminhado via e-mail aos alunos matriculados na modalidade. Os
interessados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual declaravam sua
participação voluntária e autorizavam a utilização dos dados com garantia de anonimato e
confidencialidade.
Os próprios pesquisadores desenvolveram e aplicaram um instrumento de coleta de dados
composto por nove questões fechadas e abertas, abordando dados pessoais (idade, gênero e
escolaridade) e conhecimentos sobre nutrição na prática esportiva (conforme figura 1). A coleta foi
realizada no período de 03 a 18 de novembro de 2011.
Figura 1: Instrumento de coleta de dados aplicado aos praticantes de musculação de uma
academia em São Paulo.
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Logo após a aplicação do questionário, cada participante recebeu um instrumento de
orientação na forma de um guia de bolso contendo informações corretas sobre nutrição na
prática do treinamento de força, esclarecendo as questões abordadas no instrumento de coleta de
dados.
Os dados obtidos foram tabulados, analisados e comparados com outros achados científicos
inerentes à nutrição na prática desta modalidade.
Ao final do estudo, foi afixado um cartaz informativo no mural da academia divulgando os
resultados da pesquisa e breves orientações referentes a cada questão.
Resultados
No presente estudo, foram entrevistados 105 indivíduos, sendo 62,9% do gênero feminino
(n=66) e 37,1% do gênero masculino (n=31) (Gráfico 1). A idade predominante foi entre 41 e
50 anos (36,2%), porém, a faixa etária de 51 a 60 anos também apresentou-se expressiva
(21,9%) (Gráfico 2). A média de idade entre os homens foi de 41,5 anos e entre as mulheres foi
de 45,5 anos.
Gráfico 1: Gênero de praticantes de musculação, em porcentagem, de uma academia da
cidade de São Paulo, 2011.
Gráfico 2: Faixa etária de praticantes de musculação, em porcentagem, de uma
academia da cidade de São Paulo, 2011.
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O principal objetivo da prática de musculação apresentado foi a busca por qualidade de
vida (71,4%). O emagrecimento e o aumento de massa muscular tiveram menor
representatividade, correspondendo ambos a 14,3% (Gráfico 3).
Quanto à escolaridade, a maioria dos participantes relatou nível superior completo (76,2%),
seguido pelo nível superior incompleto (11,4%) e ensino médio completo (9,5%) (Gráfico 4).
Gráfico 3: Objetivo da atividade de praticantes de musculação, em porcentagem, de uma
academia da cidade de São Paulo, 2011
.
Gráfico 4: Escolaridade de praticantes de musculação, em porcentagem, de uma academia
da cidade de São Paulo, 2011.
O uso de suplementos nutricionais mostrou-se pouco comum entre os praticantes, relatado
por apenas 9,5% (Tabela 1). Dentre estes, 70% (n=7) eram homens e 30% (n=3), mulheres
(Tabela 1). Os principais objetivos relatados foram aumento da disposição (n=4) e aumento de
massa muscular (n=3), também foram descritos queima de gordura, emagrecimento e
rejuvenescimento facial (Gráfico 5).
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Ao serem questionados se somente a água seria suficiente para a hidratação durante o exercício,
90,5% responderam que sim e 9,5% responderam que não (Tabela 2).
Sobre a importância da alimentação pós-treino, 82,9% discordaram que esta fosse a mais
importante do dia, afirmando que todas as demais também são importantes. Apenas 17,1% concordaram
que a alimentação neste período tem maior importância sobre as outras (Tabela 2).
Em relação à influência do consumo alimentar imediatamente antes do treino, 59% dos praticantes
consideraram que esta pode causar prejuízo ao rendimento durante a atividade física. No entanto, a maioria
ponderava sobre a quantidade ingerida (Tabela 2).
Ainda sobre a alimentação antes do exercício, 56,2% dos participantes responderam que consumir
carboidratos neste período é fundamental e 43,8% não consideraram importante (Tabela 2).
A afirmativa sobre a alimentação após o treino composta exclusivamente por proteínas foi julgada
incorreta por 84,8% dos indivíduos da população do estudo (Tabela 2) por acreditarem que todos os grupos
alimentares são importantes.
Tabela 1. Consumo de suplementos por praticantes de musculação, por gênero e total, em número
de indivíduos e porcentagem, de uma academia da cidade de São Paulo, 2011.
Masculino
Feminino
Total
n
%
n
%
n
%
Sim
7
6,7
3
2,9
10
9,5
Não
88
83,8
92
87,6
95
90,5
Gráfico 5: Objetivo do consumo de suplementos por praticantes de musculação, em número de
indivíduos, de uma academia da cidade de São Paulo, 2011.
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Tabela 2. Opinião de praticantes de musculação sobre a alimentação e hidratação no
treino, em porcentagem e número de participantes, de uma academia da cidade de São Paulo,
2011.
Resposta
Afirmativa apresentada ao participante
SIM
NÃO
n
%
n
%
O consumo de água é suficiente para hidratação durante o exercício.
95
90,5
10
9,5
A alimentação pós-treino é a mais importante.
18
17,1
87
82,9
A alimentação imediatamente antes do treino pode prejudicar seu
rendimento.
62
59,0
43
41,0
Consumir carboidratos antes do treino é fundamental.
59
56,2
46
43,8
A alimentação pós-treino deve conter somente proteínas.
16
15,2
89
84,8
Discussão
Tempos atrás, nas academias, havia uma preferência feminina pela ginástica, muitas vezes
por acreditarem que a musculação poderia masculinizar suas formas. Como no presente estudo,
Furtado et al. (2009) também identificou maior frequência do gênero feminino (68,8%) na
academia pesquisada. Sendo assim, com o avanço das ciências do esporte, atualmente
encontramos um número cada vez maior de mulheres que aderem à musculação para suprir
seus desejos de beleza e/ou como momento de lazer e também para obter os benefícios
proporcionados por esta atividade na prevenção do desenvolvimento de patologias comuns no
processo de envelhecimento9 10.
De acordo com Mazo, Benedetti e Lopes (2007), a obtenção de saúde e longevidade são
conceitos fortemente adquiridos por pessoas que já passaram dos quarenta anos de idade, como
a população verificada no presente estudo, onde a média de idade observada mostrou-se
superior à encontrada no estudo de Pereira e Cabral (2007) onde a média da idade da população
era de 30,5 anos¹ ¹¹.
Mazo, Benedetti e Lopes (2007) acrescentam ainda que a realização de exercícios de
forma constante e moderada é um excelente método de melhoria da qualidade de vida, esta
apontada pela população estudada como principal objetivo da prática de musculação, com
menor frequência de emagrecimento e aumento de massa muscular. Tais dados vão ao encontro
do verificado no estudo de Fujita, Silva e Navarro (2010), onde o principal objetivo era
qualidade de vida, seguido de performance¹¹ ¹².
Mazini Filho et al. (2010) confirmam que a prática regular de exercícios pode contribuir
para melhor qualidade de vida, ao oferecer diversas vantagens como fortalecimento muscular;
aumento da resistência óssea; adequação do perfil lipídico; aumento da sensibilidade à insulina;
minimização das modificações teciduais ocasionadas pelo envelhecimento; melhora no
funcionamento hemodinâmico do coração; controle da hipertensão e melhora da imunidade,
ocasionando menor incidência de infecções¹³.
Tanto a saúde quanto a dieta do indivíduo são fatores relevantes para uma melhor
qualidade de vida. Apesar de não representar uma variável do estudo, verificou-se durante a
coleta de dados que a maioria dos participantes tinha descendência japonesa, população esta
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que possui em sua cultura um padrão alimentar diferenciado, com baixo consumo de açúcares
simples e gordura saturada, e rico em fibras e ácidos graxos poliinsaturados¹4.
Uma variável que também demonstra associação com os cuidados com a saúde e acesso
à informação, podendo influenciar também no estilo de vida das pessoas é o nível de
escolaridade, que tem apresentado associação positiva com a prática de atividade física em
diversos estudos¹5 ¹6 ¹7.
A escolaridade relatada pela maioria dos participantes foi de nível superior completo, dado
este também observado na pesquisa de Duran et al. (2004), que verificaram maior frequência em
academias de adultos com nível superior completo (31,3%)¹8.
Os estudos de Florindo et al. (2009a) e de Florindo et al. (2009b) destacaram também
que a associação positiva entre nível de escolaridade e prática de atividade física tem sido
observada no Brasil e em países como Peru, Países Bálticos, México, bem como em países de
renda alta¹6 ¹7.
Há ainda muita falta de informações confiáveis em relação à Nutrição, apesar do elevado
número de participantes com bom nível de instrução, levando os praticantes de exercícios físicos
a manterem hábitos alimentares inadequados, ou consumir erroneamente suplementos
alimentares, prejudicando o alcance de seus objetivos com a prática de exercícios físicos¹8.
Apesar do uso de suplementos nutricionais mostrar-se pouco comum entre os participantes
deste estudo, Linhares e Lima (2006) relataram que a utilização destes apresenta-se cada vez
mais frequente entre os praticantes de musculação, sendo observado em 35% de sua amostra.
Valor semelhante a este (31%) foi encontrado por Hirschbruch, Fisberg e Mochizuki (2008).
Cabe ressaltar que, em comparação ao total de participantes, a porcentagem encontrada é menor,
mas os autores supracitados já a consideram um índice preocupante² ¹9.
Foi evidenciado na atual pesquisa, um número superior de indivíduos (90,5%) que não
utilizam suplementos por acreditarem que a alimentação, quando feita de forma adequada,
garante o aporte de nutrientes necessários para suprir as perdas ocasionadas pelo exercício.
A eficácia da ingestão balanceada de alimentos ricos nos diversos macronutrientes
(carboidratos, lipídios e proteínas), micronutrientes (vitaminas e minerais) e líquidos, baseada
em uma correta educação alimentar, garante ao praticante de atividades físicas condições
adequadas para preservar a saúde e melhorar seu rendimento¹9. Sendo assim, Hallak, Fabrini e
Peluzio (2007) recomendam que suplementos nutricionais não sejam considerados alimentos
convencionais da dieta, devendo ser utilizados somente em situações específicas8.
A suplementação, em determinados casos, pode causar um desequilíbrio fisiológico
trazendo como consequência toxicidade ao organismo e interações que poderão refletir em
deficiências nutricionais. Portanto, é fundamental que a indicação de uso seja feita e
acompanhada por um profissional qualificado, pois o efeito pode ser contrário ao esperado
(principalmente ganho de massa muscular e/ou disposição no exercício) e ainda pode trazer
danos sérios e irreversíveis. Também é importante conhecer a composição e a finalidade do
produto e ter consciência de que todo suplemento deve ser fabricado dentro de certos padrões de
qualidade para que sejam preservadas suas características e garantida sua eficácia e inocuidade¹9.
O uso de suplementos mais comum entre o gênero masculino foi confirmado na pesquisa de
Hallak, Fabrini e Peluzio (2007) onde observaram que 63,7% dos homens consumiam estas
substâncias8.
A constatação de que os homens usam mais suplementos do que as mulheres concorda com
outros estudos que mostram que os mesmos tendem a utilizar suplementos de maneira mais
regular e o gênero feminino, de modo mais ocasional. Tal fato deve-se, segundo Hallak, Fabrini
e Peluzio (2007), às promessas de ganho de massa muscular e desempenho físico, difundidas em
relação ao uso de suplementos nutricionais, aliadas à impaciência em atingir os resultados
esperados e ao desejo de aparentar a melhor forma, os tornam propensos a consumir qualquer
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substância que se apresente como atalho para atingir o padrão de beleza imposto² 8.
Hirschbruch, Fisberg e Mochizuki (2008), assim como Linhares e Lima (2006), relatam que os
objetivos da suplementação mais referenciados pelos praticantes foram aumento da massa
muscular e aumento da disposição durante os exercícios, relação inversa à encontrada no presente
estudo como descrito no gráfico² ¹9.
Exceto por aqueles que se exercitam por motivos competitivos, o consumo de suplementos
não é um diferencial e, sim, mais uma característica do frequentador de academias, tanto que os
objetivos e finalidades da prática de exercícios dos usuários e dos não usuários são praticamente os
mesmos².
No caso da maior parte dos suplementos, não há provas conclusivas de benefícios à saúde e a
performance, e qualquer melhora nesta tende a ser mediada por um efeito placebo. As informações
errôneas se difundem na mídia para os atletas, seus técnicos, os treinadores e o público que
comprará tal substância somente para experimentá-la8.
Os suplementos devem ser utilizados com cautela, somente após revisão cuidadosa de sua
legitimidade e da literatura corrente sobre os ingredientes que constam no rótulo do produto; eles
não devem ser recomendados até que se faça uma avaliação da saúde, da dieta, das necessidades
nutricionais, do uso atual de suplementos, drogas e das necessidades energéticas do indivíduo. Um
dos profissionais melhor capacitado para fazer essas avaliações é o nutricionista² 5.
Quanto à hidratação, Furtado et al. (2009) ao avaliar os conhecimentos de 77 indivíduos sobre
o hábito de hidratar-se durante o exercício, questionou os participantes sobre a necessidade do
consumo de repositores hidroeletrolíticos para compensar a perda hídrica nesta etapa, e obteve
resultado de apenas 9% relatando a ingestão deste tipo de bebida, por acreditarem que somente a
água era insuficiente. Dado semelhante foi encontrado no atual estudo, onde a minoria utiliza-se
destes recursos para hidratação, por acreditar que somente a água é capaz promover hidratação
eficiente ao seu organismo9.
Para uma hidratação adequada, segundo Carvalho e Mara (2010)7, deve-se levar em
consideração alguns fatores, como por exemplo, a duração do exercício que pode ser classificado
em:
• Atividades de até uma hora: somente a reposição de água é suficiente para suprir as
necessidade hídricas e prevenir a desidratação na prática de atividade física por este período. Nessa
situação, a reposição de carboidrato e sódio não é recomendada, principalmente porque em geral
são atividades de alta intensidade, nas quais o esvaziamento gástrico é prejudicado;
• Atividades entre uma e três horas: devido ao alto consumo de oxigênio (60 a 90%), deve
ocorrer reposição hídrica e de substrato energético. Nesses casos, a reposição de sódio é indicada
para melhorar a palatabilidade e aumentar a absorção de glicose, porém, não com a preocupação de
evitar a hiponatremia;
• Atividade de mais de três horas: em decorrência do consumo máximo de oxigênio (30 a
70%), além da reposição hídrica e do substrato energético, há necessidade do fornecimento de
eletrólitos, principalmente o sódio, com o intuito de evitar a hiponatremia.
Montain, Cheuvront e Sawka (2006) acrescentam que a hidratação com água apresenta como
vantagens um rápido esvaziamento gástrico, desnecessária adaptação para a palatabilidade da
solução e custo praticamente zero²8.
Um estudo realizado em Recife avaliou vários aspectos do consumo alimentar e entre eles a
alimentação antes, durante e após o exercício e como resultado sobre qual refeição era mais
importante, 44% referiram a pós-treino, 44% a pré-treino e 12% ambas²0. Surpreendentemente,
grande parte dos participantes da presente pesquisa (82,9%), alegaram que não somente a
alimentação pós-treino era importante, mas também todas as outras refeições, pois acreditam que
os nutrientes fornecidos por todas elas são necessários para manutenção do funcionamento
adequado do organismo.
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Uma dieta desequilibrada em variedade e quantidade de alimentos, assim como a inadequada
ingestão no pré e pós-exercício pode acarretar deficiências alimentares, levando ao um
comprometimento da saúde e, consequentemente, a uma perda de qualidade de vida²0. Portanto, há
crescente necessidade do profissional nutricionista na área esportiva para orientar e auxiliar os
praticantes de musculação nas corretas escolhas alimentares melhorando a saúde e desempenho nos
exercícios físicos²¹.
Em relação à influência do consumo alimentar imediatamente antes do treino, no estudo de
Feitosa, Gonçalves e Oliveira (2010), 79% dos indivíduos responderam que se alimentam entre 15
e 30 minutos antes do treino, principalmente de pequenas porções de alimentos, indo de encontro
aos achados deste estudo²².
Lira et al. (2008) destacam em seu estudo que a ingestão de alimentos ricos em determinados
nutrientes (gorduras, proteínas e fibras) e/ou grandes refeições logo antes da atividade física
predispõem à manifestação de sintomas gastrintestinais, como vômitos, náuseas, pirose
retroesternal (azia), cólica abdominal, aceleração dos movimentos intestinais, entre outros. Desta
forma, ressalta-se que de fato pode haver comprometimento no desempenho do praticante ao
alimentar-se imediatamente antes do início do exercício, com influência, inclusive, da quantidade
de alimentos ingeridos²³.
Os autores explicam, ainda, que a ingestão alimentar descrita acima influencia na redução do
fluxo sanguíneo intestinal durante o exercício, podendo ser uma das causas dos sintomas
gastrintestinais²³.
Portanto, deve-se levar em consideração a quantidade, a qualidade e o horário da ingestão do
indivíduo a fim de combinar ingestão alimentar e exercício com pesos5.
Muitos indivíduos desconhecem a importância da alimentação antes de qualquer tipo de
atividade física, e este fato favorece a manifestação de hipoglicemia principalmente nos exercícios
de alta intensidade e longa duração, onde há um maior trabalho muscular, necessitando de
nutrientes que fornecem energia (glicogênio) durante sua contração²0. Sendo assim, com base nos
dados coletados, a maior parte da população estudada conhece a importância do consumo de
carboidratos anteriormente ao exercício para o fornecimento de energia durante o treino.
Para Sapata, Fayh e Oliveira (2006), as reservas de glicogênio do organismo são importantes
durante o período de jejum e também durante a situação de exercício prolongado, na qual a glicose
e os ácidos graxos são oxidados para fornecer energia para a contração muscular. Porém, alguns
autores têm sugerido o consumo de carboidratos pré-exercício como uma alternativa essencial para
minimizar a depleção de glicogênio que ocorre ao longo do exercício de força, pois tal depleção
pode comprometer o treinamento pela queda do rendimento esportivo²4 ²5.
Assim, a alimentação pré-treino pode ser considerada um importante recurso ergogênico e
fator otimizante de resultados. No entanto, é importante lembrar que o tamanho da refeição, sua
composição e o período de intervalo em que se afasta do início da atividade podem causar
desconforto gástrico ao praticante, interferindo em seu desempenho²6.
Portanto, Carvalho et al. (2009) sugerem a escolha de uma preparação com consistência leve
ou líquida, e explicam que a refeição que antecede os treinos deve ser pobre em gorduras e fibras,
além de moderada na quantidade de proteína para facilitar o esvaziamento gástrico, rica em
carboidratos para manter a glicemia e maximizar os estoques de glicogênio, e deve fazer parte do
hábito alimentar do praticante²6.
A afirmativa julgada incorreta pela maioria dos indivíduos entrevistados sobre a alimentação
após o treino composta exclusivamente por proteínas, contradiz a pesquisa de Lessa, Oshita e
Valezzi (2007) que referiram a um mito relatado pelos indivíduos de seu estudo, segundo o qual se
deve consumir grande quantidade de proteínas para obter um aumento significativo na
musculatura. No entanto, se a ingestão for excessiva, ou seja, maior que a necessidade do
organismo, os aminoácidos extras podem ser convertidos em gordura e carboidrato para serem
armazenados¹0.
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Segundo Fujita, Silva e Navarro (2010), a suplementação de proteína antes e/ou após o
exercício favorece a hipertrofia muscular e a força. Já Carvalho et al. (2009) expõe que o
aumento do consumo proteico na dieta além dos níveis recomendados não leva a aumento
adicional da massa magra, pois argumenta que há um limite para o acúmulo de proteínas nos
diversos tecidos. O autor recomenda que ingestão proteica, após o exercício físico de
hipertrofia, favorece o aumento de massa muscular somente quando combinada à ingestão de
carboidratos e Orsatti, Maestá e Burini (2008) acrescentam que esta deve ocorrer no período de
1 a 3h após exercício com pesos¹² ²6 5.
Piaia, Rocha e Vale (2007) justificam o argumento, ao citar que os carboidratos exercem
importantes funções, dentre elas a preservação da proteína, pois que quando a quantidade de
carboidratos ingerida é insuficiente, a proteína pode ser utilizada como fonte energética.
Esclarecem ainda que o uso da proteína para esse fim não é desejável, já que sua principal
função está relacionada com o crescimento, a manutenção e o reparo de tecidos, portanto,
quantidades adequadas de carboidratos representam um aspecto muito importante na prática de
exercício, quando a demanda de energia e de proteínas pode estar aumentada²7.
Carvalho e Mara (2010) concordam com os autores supracitados, colocando que mesmo no
caso de atletas de força (fisiculturistas, halterofilistas, etc.) a recomendação de proteína pode ser
facilmente obtida por meio de uma dieta balanceada, que, portanto, é suficiente para promover a
necessária síntese proteica para o ganho de massa muscular, não havendo necessidade de
qualquer suplementação. As autoras reforçam que também para indivíduos que praticam
exercícios de natureza não competitiva, uma dieta balanceada conforme o que é recomendado
para a população em geral é suficiente para manutenção da saúde e para possibilitar bom
desempenho físico7.
Estudos mais recentes demonstram que indivíduos fisicamente ativos necessitam de uma
quantidade superior ao recomendado de proteína por dia, sendo esta diferente para cada tipo de
atividade, a fim de garantir a saúde e performance do indivíduo sem causar danos à saúde²8.
A qualidade de vida é o enfoque principal dos frequentadores da academia estudada, onde
estão sempre em busca de conhecimento, especialmente na área de nutrição. Sendo assim, a
maioria dos participantes do presente estudo relatou a importância de realizar todas as refeições
para obter um bom rendimento, assim como, sobre o consumo de água durante o exercício ser
suficiente e que uma alimentação adequada em quantidade, qualidade, variedade e harmonia é
suficiente para reposição das perdas decorrentes do exercício, não havendo necessidade do
consumo de suplementos nutricionais.
Contudo, apesar dos participantes demonstrarem um bom conhecimento sobre as vertentes
desta pesquisa, ainda há dúvidas sobre quantidades e horários relacionados ao consumo
alimentar e de água antes, durante e após o exercício, incluindo também a ocasião adequada ao
uso de suplementos nutricionais, por isso, faz-se fundamental a presença de um profissional
nutricionista para garantir que as informações corretas e com embasamento científico cheguem
a este público.
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