Experiência de implantação de um Curso de
Produção Textual a Distância
Rosilene Alves Ribeiro Strecker1
Regina Maria Gonçalves Mendes2
Resumo:
Este é um projeto de um Curso de Redação a Distância, empregando a
internet como recurso de comunicação, interação e auto-aprendizagem e
tendo como finalidade o aperfeiçoamento da produção textual para
pessoas interessadas que não podem frequentar um curso presencial. A
inclusão social é a base de nosso projeto, que visa a colaborar com a
inserção e/ou maior estabilidade no mercado de trabalho e no meio
acadêmico, de seus estudantes, à medida em que aperfeiçoem suas
produções textuais. Baseamo-nos especialmente em Neves (2002) e
Campos et al. (2003), que veem na Educação a Distância possibilidades de
mudanças não só no que se refere à democratização do acesso à
escolaridade e atualização permanentes, como também, no que se refere
à adoção de novos paradigmas educacionais e ao advento de novos meios
de comunicação. Os pressupostos construtivistas e o ambiente de interação
dão apoio a um trabalho de tutoria bastante participativa, que busca
assessorar os alunos no exercício prático da produção textual.
Palavras-chave: Leitura e produção textual; Redação; educação a
distância; inclusão social.
Abstract:
The present work is a project of an on-line course of text elaboration,
using the internet as resource of communication and interaction place of
self study. The objective of the course is to permit people who cannot
participate in normal, Classroom courses to improve the quality of their
production of written texts. The social inclusion of them is the basis of our
project, that also intends to contribute to the insertion and/or higher
stability of the individual in his profession. The work is based specifically
an Neves (2002) and Campos et. Al. (2003) who see the education at
distance as a means to change not only the access to education and
permanent renovation of knowledge, but also as a means adopting new
educational paradigms and also the coming of new means of
communication. The constructivist theory and the interactive environment
help the participative work of the teacher in his task to guide the students
in their exercise to elaborate written texts.
Key-words: Social inclusion, Distance Education , written Texts, Reading
and writing texts.
1
Doutoranda – PUCMINAS
2
Doutoranda – PUCMINAS
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
-1-
1 Introdução
Empregando a internet como recurso de comunicação, interação e autoaprendizagem, trabalhamos a adaptação de um curso de produção textual
presencial – testado há alguns anos, com bons resultados – em um curso a distância.
Nossa proposta de acompanhamento individualizado de cada estudante e, unidas ao
estudo de Gonçalves (2004), iluminaram tanto nossos pressupostos construtivistas
quanto o da criação de um ambiente de interação, tornando possível a elaboração
de um trabalho de tutoria participativa, que vem sendo capaz de assessorar os
alunos no exercício prático da produção textual, com resultados satisfatórios.
Este é, portanto, um projeto de um curso de produção de texto a distância,
que está sendo elaborado para ser implantado em sistemas de Educação
Continuada, com proposta social de inclusão de pessoas que não podem estar
frequentando um curso presencial. A possibilidade da aquisição de uma maior
competência na produção textual é outra de nossas propostas, como será vista a
seguir.
Diante de níveis de escolaridade bastante desiguais que são parte do cenário
brasileiro, uma das alternativas tem sido os cursos de Educação Continuada, que
oferecem a chance de uma atualização permanente.
No Brasil, temos visto muitos jovens com condições insuficientes de leitura e de
produção textual sendo colocados lado a lado de jovens mais capacitados, para
enfrentarem o mercado de trabalho ou o prosseguimento de seus estudos no meio
acadêmico. Não parece muito justo que jovens menos preparados enfrentem uma
concorrência
junto a outros que tiveram a oportunidade de ter um acesso
adequado à leitura e à escrita.
Por esses e outros motivos, a educação continuada a distância vem se
proliferando cada vez mais, com bastante sucesso, pois permite aos jovens que
estão em regiões geográficas desprivilegiadas terem acesso a esses cursos de
atualização.
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Nessa linha de raciocínio, um curso de redação a distância pode dar
oportunidade aos participantes no sentido de aproximá-los mais a um tipo de
conhecimento textual que é exigido, hoje em dia, nos meios acadêmicos e no
mercado de trabalho. Um outro argumento dentro desta linha é o de que o
aperfeiçoamento da expressão e da compreensão do pensamento através de textos
escritos colaboraria também para um
melhor desempenho profissional e/ou
acadêmico do indivíduo.
Afimando com Silva (2007) que a inclusão é o reparo de algo que ficou para
trás e que está sendo agora resgatado historicamente, neste trabalho podemos
também colaborar com a tentativa de reparar um pouco dos problemas de
aprendizagem com relação a textos, resgatando parte da competência textual que
não foi completamente desenvolvida por algum motivo. Para tanto, o projeto está
direcionado a alunos que têm interesse em aperfeiçoar sua produção de textos.
A possibilidade do resgate da cidadania é outra justificativa para este curso,
já que, através da expressão escrita, pode-se ampliar também a capacidade de
expressão das próprias idéias e de sua colocação, desenvolvendo, desta forma, uma
postura de cidadão que faz parte desta sociedade.
Como educadoras bastante
solidárias a movimentos sociais para regatar a cidadania do nosso povo, vimos no
ensino da produção textual uma grande oportunidade de colaborar nesse resgate. À
medida que o aluno descubra a leitura e escrita como um instrumento de luta
pessoal e social, para a consquista de sua posição enquanto cidadão que descobre
ao mesmo tempo também um novo conceito de ação na sociedade, ele pode,
através da própria escrita, tornar isso realidade em sua vida.
Mas há ainda outras vantagens que um curso como este pode oferecer.
Segundo Bernardo Sorg (2000), um dos fatores ligados à exlcusão digital seria a
falta de capacitação intelectual. Neste caso, a inserção social do usuário seria
produto da profissão, do nível educacional e intelectual e de sua rede social.
Segundo ele, essa inserção é que determinaria o aproveitamento efetivo da
informação e das necessidades de comunicação pela internet. Nessa perspectiva,
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um
trabalho com redação pode colaborar no desenvolvimento do aspecto
intelectual do indivíduo, uma vez que a aprendizagem da escrita pressupõe
também um aprendizado da organização do pensamento, antes de sua expressão.
Poderíamos dizer então que o aprendizado da expresão escrita, nesse
sentido, colaboraria ainda com a inclusão digital, na medida em que estaria
capacitando o indivíduo intelectualmente. Podemos deduzir também que a própria
natureza do curso, a distância, on-line, estaria criando a aportunidade de acesso ao
mundo digital, estimulando também seus alunos na aprendizagem e no manejo das
ferramentas básicas utilizadas em EAD.
Outra justificativa para o nosso curso seria a possibilidade de pensar as
tecnologias da comunicação e da informação como meios para promover a
interatividade, promover a oportunidade de se trabalhar com um novo paradigma
educacional que tem se mostrado bastante adequado ao ensino a distância, e,
consequentemente, constituindo-se numa oportunidade de colaboração com as
transformações educacionais, já que é possível repensar todo o trabalho
educacional no contexto desta modalidade.
1.1 Público Alvo
O curso destina-se a pessoas em geral interessadas a aperfeiçoarem sua
produção textual, tendo como requisitos, no que diz respeito à escolaridade, no
mínimo o segundo ano do Ensino Médio, pelo fato de que a primeira versão deste
curso irá apenas adaptar um curso já testado e com bons resultados para esta faixa
etária. Quisemos neste primeiro momento, como primeira experiência, avaliar se
teremos os resultados semelhantes no curso a distância, conforme será visto mais à
frente.
Diante desses requisitos, previmos uma faixa etária de estudantes, a partir dos
16 anos e sem limite máximo de idade, visto que a necessidade de
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aperfeiçoamento da produção textual, como também o interesse por esse tipo de
aperfeiçoamento, caminham ao longo de toda a vida.
1. 2 Objetivos
1.2.1 Objetivo Geral
Otimizar, através da EAD, o processo de inserção dos estudantes no universo da
competência comunicativa na produção textual, exigida nos meios acadêmicos e no
mercado de trabalho atual.
1.2.2 Objetivos Específicos
•
Proporcionar a motivação para a aprendizagem através dos meios
tecnológicos e da modalidade a distância.
•
Promover a interação entre professor-aluno e entre os alunos, como também
entre os canais de interatividade adequados, buscando, na medida do
possível, a construção de uma comunidade virtual de aprendizagem e se
familiarizando com uma comunidade cooperativa e em rede.
•
Despertar e-ou ampliar o interesse dos alunos pela leitura e produção
textual.
•
Revisar e/ou tomar contato com conceitos importantes e noções básicas
sobre a teoria textual.
•
Contribuir para o desenvolvimento do potencial criativo e de um estilo
próprio de escrita do estudante.
•
Despertar no aluno a responsabilidade por seu próprio processo de
aprendizagem, descobrindo-se construtor de seu conhecimento e assumindo,
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assim, um papel mais ativo como sujeito que aprende e desenvolvendo
também uma maior dependência para encaminhar seus próprios estudos.
•
Contribuir com o desenvolvimento de atitudes e de novos hábitos, como
aprender a aprender; a romper com paradigmas tradicionais, a trabalhar em
equipe, a negociar, a administrar problemas, a vencer desafios, a
problematizar, a analisar, a refletir no processo de construção do
conhecimento.
2 Referencial Teórico
Aqui estão apresentadas as concepções que embasaram a elaboração de
nosso curso e também algumas questões envolvidas com sua temática (produção
textual) e com sua modalidade (a distância).
2.1 O Contexto da EAD no Brasil
O advento da internet permitiu que o processo de ensino-aprendizagem não
ficasse limitado somente à sala de aula – seguindo o contexto de uma relação
tradicional aluno-professor – mas que o processo ultrapassasse esses limites físicos,
dando oportunidade a que os alunos construíssem o conhecimento no seu ambiente
doméstico ou no ambiente de trabalho ou em outro local em que desejassem. A
Educação a Distância - EAD – tem representado uma oportunidade, para muitos
excluídos dos processos tradicionais de ensino, e um desafio para educadores e
gestores.
Uma das causas da exclusão social no Brasil é a impossibilidade de formação
profissional fora dos centros urbanos. A educação precisa ser inclusiva, de
qualidade, e acontecer ao longo de toda a vida. Em um país como o Brasil, onde os
níveis de escolaridade são desiguais, a Educação a Distância mostra-se como um
valioso meio de diminuir as distâncias geográficas e tornar possíveis transformações
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sociais e econômicas através do crescimento do nível de escolaridade e/ou de
conhecimento da população.
A EAD tem sido uma alternativa indispensável para os avanços das soluções
educacionais que visam a democratizar o acesso ao ensino, a elevar o padrão de
qualidade do processo educativo e a incentivar o aprendizado ao longo da vida.
De acordo com Campos, Santos e Braga (2003), tendo em vista o rápido
avanço tecnológico do momento atual, estamos vivenciando o advento de novos
meios de comunicação. Para o efetivo uso desse modelo, são necessárias condições
de infraestrutura, inovações e metodologias, o que indica que o desenvolvimento
de cursos a distância exige mudanças profundas no modelo didático-pedagógico.
O contexto do ensino a distância, que traz consigo um distanciamento físico
entre o professor-tutor e o aluno, impõe limitações na construção de valores
agregados ao processo educativo presencial, do que destacamos a aplicação dos
métodos de avaliação disponíveis; o papel do professor e do próprio aluno; como
também a limitação do material que traz o conteúdo do curso. É por isso que o
ensino on-line tem sido visto por muitos educadores como uma oportunidade de se
repensar a educação como um todo, de se aplicar os pressupostos destacados
acima, e também de aplicação de outros aspectos que possibilitem transformações
na educação, tendo em vista a melhoria de sua qualidade e o alcance de resultados
mais animadores do que os que temos visto hoje, no Brasil.
Só a possibilidade do rompimento de barreiras geográficas e temporais,
como também a possibilidade de um grande incentivo à Educação Permanente já
são suficientes para o aumento do acesso à educação, que acaba trazendo, junto a
esta inclusão, outra inclusão muito importante no mundo globalizado em que
estamos vivendo e na qual também é nosso desafio dar acesso a nossos estudantes:
a inclusão digital.
A idéia de Santos (2000) respalda nossa proposta, quando ele coloca a EAD
como uma possibilidade de
se fazer educação pela democratização do
conhecimento, uma vez que este deveria estar disponível para quem se dispusesse
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a conhecê-lo independentemente do lugar, do tempo e de engessadas estruturas
formais de ensino. O conhecimento textual, apoiado também no alcance de uma
competência comunicativa, no nosso caso, mais voltada para a produção textual
seria um desses conhecimentos em nosso entender.
Alguns pesquisadores já começam a estudar as teorias da aprendizagem no
contexto da EAD. Gonçalves (2004), observando o fato de que a aprendizagem em
rede tem se ressentido de teóricos na atualidade para fundamentar seus
pressupostos, realizou um estudo que buscou embasá-la em teóricos, cujos legados
podem fundamentá-la: Piaget, Vygotsky, Ausubel e, na atualidade, Papert.
Trataremos aqui especialmente de Piaget, que inspirou bastante a parte relativa à
operacionalização deste projeto.
2.2 Concepções educacionais que dão base à EaD
Segundo Gonçalves (2004) a estrutura cognitiva está delineada por uma
rede de esquemas de conhecimentos que se define como representações
subjetivas, num período determinado, sobre algum objeto de conhecimento. No
decorrer da experiência do indivíduo, esses esquemas vão sendo modificados,
vão sendo enriquecidos, tornando-se mais complexos. Levando esses aspectos
para a realidade educativa, entende-se que a natureza dos esquemas de
conhecimentos do aprendiz está relacionada ao seu nível de desenvolvimento e
aos conhecimentos previamente construídos por ele. Desta forma, a situação de
aprendizagem é concebida como um processo de comparação, de revisão e de
construção de novos esquemas, e podemos dizer então que o conhecimento é
construído na interação do sujeito com o seu meio, sob uma visão interacionista.
Nessa concepção o desenvolvimento deve centrar-se nos
procedimentos interativos, que poderiam partir de conflitos,
contradições, dúvidas, questões colocadas pelos professores e que
levariam à subsequente construção mais elaborada de novos
patamares cognitivos (op. cit. p.5).
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Como a aprendizagem nessa perspectiva é um processo interno de
construção, isso implica não ser suficente a apresentação de informações para
que ela ocorra.
Esses pressupostos parecem ser atualmente bastante adequados ao ensino
on-line, porém, para um ensino de qualidade dentro dessa linha, afirmamos com
Gonçalves (op. cit: p.6) sobre a importância de se propiciar ao aprendiz
oportunidades de descoberta e construção no processo de sua própria
aprendizagem, a qual, em uma comunidade de aprendizagem em rede, tem de
estar centrada no aluno, que deve escolher o que estudar e em que momento.
Na modalidade de ensino on-line cabe ao professor, ou tutor, ou moderador
tornar-se um orientador, um facilitador, ou seja, aquele que irá apresentar os
problemas sem soluções prontas, que o conduzam a uma maior independência
possível.
Tanto para Piaget quanto para Vygotsky, a função de mediador é muito
importante nos diferentes níveis desse processo, desde o momento em que a
informação é compatível com a estrutura assimilativa do sujeito até em
situações de informações mais complexas, que é, inclusive, quando seu papel se
reveste de uma maior importância.
Com base em Vigotsky, analisado à luz do ensino on-line, Gonçalves (2004)
aponta a importância do fazer com os outros para o desenvolvimento mental do
indivíduo, como atividade social, cujo desenvolvimento, para Vygotsky, aparece
previamente ao desenvolvimento das funções individuais. E assim, voltam-se os
olhares para o conhecimento como produto do contexto social, intensificando-se
pesquisas sobre a importância da interação social para a aprendizagem.
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2.2.1 A competência comunicativa
Um aspecto também do ensino on-line que merece atenção é o fato dele ser
bastante
propício
ao
desenvolvimento
da
competência
comunicativa
ou
argumentativa, tão importante no processo de aprendizagem do indivíduo.
Com já citamos anteriormente, de acordo com Sorj (2000), a exclusão
digital, dentre outros fatores, se dá também pela falta de capacitação intelectual
do usuário.
A possibilidade de utilizar as informações disponíveis na Internet
como fonte de conhecimento e desenvolvimento intelectual e
profissional depende da capacitação prévia do usuário. A
capacitação supõe, como ponto de partida, a alfabetização e
formação intelectual fornecidas fundamentalmente pelo sistema
escolar. O acesso ao digital oferecido pela “alfabetização digital”
não pode ser dissociado da ‘alfabetização livresca’. A rede
multiplica as possibilidades do trabalho intelectual e profissional,
mas, pelo menos até o momento, não substitui as qualificações
intelectuais básicas. Pelo contrário, seu potencial efetivo depende
delas. Assim, a desigualdade social expressa nos desníveis
educacionais se reproduz e é aprofundada pelo uso da Internet.
Enquanto parte importante da população dos países em
desenvolvimento continuar mergulhada no analfabetismo e semianalfabetismo, a universalização do acesso à Internet,
independentemente da expansão das infra-estruturas, será uma
quimera (SORJ, 2000. P.34)
Assim,
podemos
inferir
que
conhecimento
textual,
ou
melhor,
a
familiaridade como universo textual, através da leitura e da escrita, parece
condição para um acesso adequado também ao mundo digital, uma vez que o
desenvolvimento de uma competência comunicativa seria importante para inclusão
do indivíduo em diferentes universos.
Dentro dessa perspectiva podemos salientar o que muitos estudiosos
apresentam em termos de transformações, a partir da formação de cidadãos com
competência para falar, escrever, ler, calcular, interpretar, julgar, compartilhar
suas idéias, argumentar com clareza, etc. Estamos falando da chamada
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competência comunicativa, observando sua importância conclusiva dentro do
quadro das competências, de um modo geral.
Muitas ações transformadoras podem ser realizadas a partir do uso adequado
da linguagem. Idéias como as de Moraes (2001 apud E-book p.71), que ressalta a
importância de uma disposição democrática nos processos pedagógicos, realizada
na capacidade de dialogar e alcançar um consenso unicamente em função da
racionalidade das ações, podem se somar a outras que justificam igualmente a
importância do desenvolvimento da capacidade de argumentar. É a idéia de
utilização de competências argumentativas para estabelecer a coerência de
verdades enunciadas nos discursos, assim como também no desenvolvimento da
capacidade de se estabelecer uma negociação, nos diálogos democráticos;
também a idéia de um aprendizado dentro de um contexto de trabalho coletivo,
que se pauta na solidariedade, na comunicação, na troca de experiências, no
confronto de opiniões e na busca do consenso.
Nosso trabalho com textos pretende assumir uma proposta educacional mais
ampla e ainda pode ser respaldada por uma modalidade de ensino, como a
modalidade a distância, que tem tudo a ver com a interação para o processo de
aprendizagem, como pudemos ver nos pressupostos construtivistas e sóciointeracionistas que são assumidos nas propostas mais abrangentes de uma EAD de
qualidade, para qual optamos neste curso. São com idéias dessa ordem que muitos
educadores trabalham na busca de uma formação integral e amancipatória do
indivíduo e na qual baseamos todo o nosso trabalho de produção textual. Além
disso buscamos ainda uma prática interativa da linguagem.
2.2.1.1 Competência comunicativa na produção textual
A Linguística Textual, desenvolvida, sobretudo, na Europa, a partir do final
da década de 60, tem se dedicado a estudar a natureza do texto e os fatores
envolvidos em sua produção e recepção. Partiremos da concepção de que “texto é
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- 11 -
uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função identificável num dado
jogo de atuação sócio-comunicativa. Tem papel determinante em sua produção e
recepção uma série de fatores pragmáticos que contribuem para a construção de
seu sentido e possibilitam que seja reconhecido como um emprego normal da
língua. São elementos desse processo as peculiaridades de cada ato comunicativo,
tais como: as intenções do produtor; o jogo de imagens mentais que cada um dos
interlocutores faz de si, do outro e do outro com relação a si mesmo e ao tema do
discurso; e o espaço de perceptibilidade visual e acústica comum, na comunicação
face a face. Desse modo, o que é pertinente numa situação pode não o ser na
outra. O contexto sociocultural em que se insere o discurso também constitui
elemento condicionante de seu sentido, na produção e na recepção, na medida em
que delimita os conhecimentos partilhados pelos interlocutores, inclusive quanto às
regras sociais da interação comunicativa (certa “etiqueta” sócio-comunicativa, que
determina a variação de registros, de tom de voz, de postura, etc.).
Várias teorias buscam esclarecer o que é e como se produz um texto.
Buscaremos adotar aqui uma concepção denominada por muitos linguistas como
discursiva para dar base a nossos trabalhos. Esta concepção de texto encontra-se
na interface entre a Análise do Discurso e a Desconstrução, que considera o ato de
ler como um processo discursivo no qual se inserem os sujeitos produtores de
sentido – o autor e o leitor – ambos sócio-historicamente determinados e
ideologicamente construídos. É o momento histórico-social que determina o
comportamento, as atitudes, a linguagem de um e de outro e a própria
configuração do sentido.
Nesta concepção, o produtor de um texto levará em conta e buscará
reflexão de uma série de valores a respeito da realidade textual, como a idéia de
um leitor co-produtor de sentidos, a ideia de onipotência do autor, que acredita
deixar marcas no texto para serem “descobertas” pelos leitores de seu texto. Os
processos de significação, sendo determinados ideologicamente, a consciência
crítica que se pode ter deles é um processo de reflexão na perspectiva da
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concepção discursiva. Nossa proposta atinge ainda a reflexão sobre uma tradição
herdada de atividades didáticas muito dirigidas, buscando-se a adoção de uma
atitude mais crítica em relação à cômoda posição de encontrar um saber
organizado, como dita o senso comum. Nesse sentido, na concepção de texto que
adotamos, encontramos uma grande coerência com nossos pressupostos da
aprendizagem e com a forma que concebemos também uma educação on-line e a
distância, que, no caso deste curso de redação, buscou que fosse organizada,
visando padrões de qualidade, pensando-se sempre no sujeito da aprendizagem.
2.3 Problemas de Redação
Partindo
de
estudos
concretos
de
pesquisadores
que
estudaram
massivamente produções textual de alunos, especialmente Costa Val (1991) e
Pécora (1983), e também da experiência de diversos profissionais em sala de aula
que realizaram por tempo contínuo um trabalho sistemático com produção textual,
obtendo bons resultados, inclusive na minha própria experiência da realização de
um trabalho assim, por 8 anos contínuos, foi criada uma sistemática de trabalho de
aperfeiçoamento da própria produção textual do aprendiz, num esforço de
crescimento contínuo do aluno, construindo passo a passo seu conhecimento
textual
e
sendo
capaz,
ele
mesmo,
de
comprovar
seu
desempenho
progressivamente melhorado na produção de textos.
O estudo dos problemas dos alunos ao produzirem textos é capaz de iluminar
o educador no seu trabalho de orientador da aprendizagem, sendo guiado também,
ao mesmo tempo, pelas teorias da coesão e coerência textual, observadas
diretamente no texto dos alunos. Um exemplo disso nos dá Pécora (op. cit.: 12 e
13), ao realizar um estudo com as redações de vestibulandos da UNICAMP: “(...)
havia mais problemas naquelas folhas de papel do que nossa vã metodologia
poderia suportar.”
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação
- 13 -
(...) pelo menos no interior de uma teoria do discurso, os elementos, por
exemplo, de coesão textual, não se encontram isolados ou dissociados do
papel que cumprem na coerência de sentido do conjunto do texto e na
eficiência da argumentação. Isso significa dizer que, na verdade, o conjunto
dos mecanismos linguísticos subjacentes a cada um dos grupos obtidos
participa integralmente da estratégia discursiva, isto é, dos elementos de
linguagem mobilizados por seu sujeito na tentativa de garantir uma adesão
por parte de seu interlocutor. Ou ainda, significa dizer que todos esses
mecanismos têm uma função na utilização concreta da linguagem que
inaugura um espaço de interação entre seus protagonistas.
Para Pécora (op. cit.) a maioria absoluta das redações pautava a sua
reflexão por uma colagem, segundo ele, mal ajambrada de frases feitas e
acabadas, retirada de fontes não muito diversificadas. De acordo com a sua
análise, as redações não passavam de uma falsa produção, de uma falsificação do
processo ativo de elaboração de um discurso capaz de preservar a individualidade
de seu sujeito e de renová-la, desdobrá-la, na leitura de seus possíveis
interlocutores.
De acordo com as conclusões de sua pesquisa, Pécora sem pretender fazer
teoria, mas servindo-se dela, sem pretender construir um modelo de aplicação de
técnicas de redação, porém pretendendo apenas colocar em discussão algumas
referências linguísticas para uma prática e sua crítica, tenta estabelecer um
quadro de características que permite uma reavaliação das dificuldades
encontradas pelos estudantes para o cumprimento da tarefa de escrever,
auxiliando assim o levantamento de hipóteses quanto às fontes dessas dificuldades.
Para isso é importante salientar que seu trabalho foi todo paltado, nas condições
de produção de texto.
Destacamos do trabalho de Pécora algumas observações e também estudos
específicos mais diretamente relacionados com a estas dificuldade de produção
textual, dentre elas: problemas na oração, na coesão textual e problemas de
argumentação.
Costa Val (1991), também a partir do estudo de redações de vestibulandos,
só que da UFMG, e partindo de teóricos diversos, estuda critérios de análise de
redações tanto de um âmbito global, macro, como também de aspectos mais
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- 14 -
específicos. Seu trabalho se baseia de um modo geral nos aspectos da textualidade
e da coesão e coerência. Para isso ela propõe uma análise dos textos sob os
aspectos da continuidade, da progressão, da não-contradição e da articulação. Por
outro lado, ela ainda analisa o aspecto da informatividade e o aspecto global do
texto e de suas condições de produção.
3 Proposta Pedagógica do Curso
Propõe-se
trabalhar
dentro
de
uma
linha
construtivista
e
sócio-
interacionista, transformando os meios tecnológicos em meios pedagógicos. Para
isto pretende-se adotar metodologias que favoreçam a construção do conhecimento
e o desenvolvimento de novas competências e habilidades, especialmente da
competência comunicativa, que é o pano de fundo do trabalho que se quer
realizar, já que ela é a base de um ambiente colaborativo que visa a construção,
na medida do possível, de uma comunidade virtual de aprendizagem. Buscar-se-á
para atingir tal fim a interação entre alunos, que será estimulada através de fóruns
de discussão, chats, trabalhos em grupo.
As atividades e a própria organização do curso buscarão propiciar aos alunos
que realizem um processo de construção do conhecimento, como também que cada
um assuma a responsabilidade pela própria aprendizagem, sentindo-se parte do
processo como um todo. Para isso nosso método prevê a realização de atividades
coletivas, através de discussões em fóruns temáticos ou em chats, e atividades
individualizadas de exercícios e produções textuais. Todas estas atividades, em sua
elaboração mesma, visam a auxiliar o estudante no seu processo de reflexão,
interação e construção de conhecimentos. As atividades estarão baseadas também
em princípios como o da problematização, do aumento gradativo da complexidade,
da criação de estímulos próprios para a busca do conhecimento, da compreesão do
papel dos sujeitos dentro do paradigama construtivista. As atividades serão
elaboradas ainda pensando na possibilidade do aluno compreender e/ou construir
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vínculos entre a teoria e a prática, principalmente aprendendo a vincular o objeto
de estudo à prática que ele vivencia.
3.1 Metodologia
Nosso curso não pretende se constituir apenas em um espaço de estudo e
reflexão de teorias sobre a produção textual, com poucas ou quase nenhuma
prática desse tipo de produção dos alunos. Nosso método de aperfeiçoamento de
redação baseia-se, sobretudo, no exercício de produzir textos e aperfeiçoá-los,
numa tentativa de ir construindo, cada um por si mesmo, os aspectos necessários
para o alcance de uma competência comunicativa mais adequada aos padrões
exigidos atualmente.
Partimos do pressuposto de que a escrita é algo que se aprende a partir de
tentativas, de erros e acertos, ou seja, de uma exposição contínua e constante do
aprendiz a situações diversas de produção de diferentes tipos de texto, sempre
mediada por um professor-tutor que, a partir da realidade do aluno, de sua
concepção de língua, de escrita e de seus conhecimentos textuais – incluindo aí o
conhecimento gramatical dentre outros igualmente importantes – irá exercendo seu
papel de orientador, intervindo oportunamente no processo de aprendizagem do
aluno.
O curso pretende possibilitar o aperfeiçoamento da produção textual a cada
aluno, partindo da realidade em que este se encontra naquele momento e, para
tal, a proposta de aprendizagem é tanto coletiva, a partir da interação dos alunos
entre si e com o tutor, como também individualizada, com orientações para cada
aluno, partindo de sua realidade como produtor de textos, num sistema de tutoria
bastante participativa.
Esta é uma metodologia que vem sendo testada com bons resultados no
ensino presencial e pretende ser transportada para o ensino a distância, porque
este
se
mostra
perfeitamente
adequado,
devido
à
possibilidade
de
acompanhamento individualizado que esta modalidade de ensino pode propiciar, já
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- 16 -
que este é um ponto-chave para os resultados do nosso método, ou seja, para a
aprendizagem do aluno.
3.1.1 Ferramentas utilizadas, Material didático e Equipe
interdisciplinar
Sendo a competência comunicativa a base de nosso trabalho, justificamos
nisso a
as ferramentas escolhidas para a condução das atividades pedagógicas
online. Os fóruns de discussão e os chats serão bastante apropriados para o
desenvolvimento da competência argumentativa; utilizaremos ainda a ferramenta
de produção textual coletiva, abrindo, assim, desta forma, frentes de estudo,
pesquisa e de atividades pedagógicas com a utilização destas ferramentas, numa
tentativa de transformar os meios tecnológicos em meios pedagógicos. Poderão ser
utilizados ainda o telefone, o fax, email simples e até mesmo o correio de
agências, para o envio de cartas, quando esses meios forem necessários. É a
situação, a necessidade, os recursos financeiros da instituição e os sujeitos
envolvidos que decidirão sobre a utilização desses meios, caso julguem o uso deles
necessários em algum momento. Porém, é importante ressaltar que será dado
sempre preferência aos meios mais simples, que o público alvo tenha acesso.
Quanto ao material consiste de textos sobre os aspectos que forem sendo
abordados no decorrer do curso, de acordo com a programação, distribuídos em CD
e também através de arquivos em local específico de um servidor como o Google,
por exemplo, para que o aluno possa acessar de onde estiver, a qualquer momento.
Porém, como a nossa proposta pedagógica, que prevê um curso bastante voltado
para o sujeito da aprendizagem, também se inclui nessa previsão que o material
seja o mais adequado possível a este sujeito, podendo ser ampliado, na medida das
necessidades gerais da turma, e também de cada aluno individualmente, caso seja
necessário. No mesmo sentido, temos em vista atender ao aluno que tenha
interesse em se aprofundar ou pesquisar algum assunto do programa.
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A equipe interdisciplinar será composta de um professor, de um coordenador
do curso e de um professor-tutor. Estas três funções seriam assumidas inicialmente
por uma só pessoa. A equipe conta ainda com a participação de um professorassistente ou monitor, capaz de auxiliar o professor-tutor e substituí-lo quando
necessário.
3.2 A proposta de tutoria e de Avaliação
Optamos por uma tutoria bastante participativa, atuante, capaz de garantir
um atendimento individualizado. O sistema adotado, além de mediar o trabalho
em grupo, buscará dar atenção ao processo de aprendizagem de cada aluno,
prestando assessoria com relação aos elementos necessários à realização de um
processo de ensino-aprendizagem. Para isso, em se tratando de redação, a
correção individualizada se faz necessária muitas vezes, durante o processo,
acompanhada também de um assessoramento individualizado, que visa uma
orientação para os problemas específicos que cada um de nós tem para produzir
textos. O trabalho da tutoria é exercido pelo professor-tutor e pelo tutorassistente, ambos com formação de professores e experiência na área da
Linguística ou Língua Portuguesa.
As avaliações estarão previstas a cada unidade, conforme consta no
programa, e haverá também uma avaliação final. Serão avaliados todos os
trabalhos, a participação do aluno no processo, como também os tutores e toda a
equipe, o que equivale a dizer que o que será avaliado então é todo o processo,
por todos os sujeitos envolvidos, tendo em vista o aperfeiçoamento do curso.
4 Conclusões e Considerações Finais
Como nosso trabalho está ainda em fase de testes para sua implantação,
podemos concluir que os resultados quando o curso puder ser realmente
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implantado é que nos guiarão para a atualização e aperfeiçoamento constantes de
nossa prática como um todo, já que ela envolve diversos aspectos.
Gostaríamos de ressaltar ainda, que estamos neste exato momento, em fase
de implantação de um curso piloto, e então faremos os reajustes necessários para
encaminhar realmente o curso. Esta fase de tentar encontrar candidatos para o
projeto piloto já tem nos guiado a fazer reajustes. Notamos, por exemplo, que a
forma de se oferecer um curso de inclusão social implica em sua valorização pelos
estudantes. Notamos também que é preciso buscar sujeitos interessados, pelo
menos a princípio, a serem incluídos no universo que prevê este curso. Uma de
nossas experiências na tentativa de encaminhar o projeto piloto se deu em um
Curso Pré-Vestibular que visava incluir alunos da Escola Pública na Universidade.
Embora na última hora, problemas diversos nos impedissem de realizar o projeto a
distância, nós o realizamos presencialmente, porém, exatamente como o projeto a
distância e tivemos um ótimo resultado, que, nos sinalizou que a metodologia
empregada superou a utilizada anteriormente antes de este curso ter adotado esse
novo formato, o que nos mostra também a EAD contribuindo para as experiências
dos curso presenciais.
Para terminar gostaríamos de agradecer a UFPE, pela oportunidade deste
Simpósio; à UFSJ, onde foi possível o encaminhamento dessa última experiência
relatada, e à FAPEMIG, pelo apoio financeiro.
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