Fernando Sampaio
ALIMENTO SUSTENTÁVEL
Climate Smart Livestock
A
Abiec esteve presente na COP 16, a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas
das Nações Unidas, realizada em novembro
passado em Cancún, no México. Não se
aprovou nenhum acordo obrigatório que substituísse o
Protocolo de Kyoto, onde países assumissem metas de
redução de emissões. Não se sabe quanto os países ricos
terão que doar a um Fundo para ajudar os mais pobres
a se adaptarem às mudanças climáticas. Também não
sabemos como funcionará o REDD, o mecanismo que
permite compensações a países em desenvolvimento
para evitar o desmatamento.
Mas apesar de todas as incertezas, a conferência teve
um desfecho melhor do que esperavam os pessimistas.
Isso porque apesar da falta de compromissos vinculantes, todos os países, com exceção da Bolívia – que acha
que não se deve comercializar a natureza –, admitiram
continuar as discussões nestes três tópicos mais rele-
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vantes com a perspectiva de concluir um acordo até a
COP 17, em Durban, na África do Sul.
O Brasil, particularmente, apareceu em Cancún
como uma potência ambiental por ter cumprido suas
metas voluntárias de redução de emissões antes mesmo
que países desenvolvidos o fizessem. Na COP 15, em
Copenhague, o presidente Lula havia prometido uma
redução de 36% a 38% nas emissões brasileiras de
gases de efeito estufa entre 2005 e 2020, sendo que
grande parte desta meta viria por meio da redução do
desmatamento na Amazônia.
Ora, segundo os dados oficiais do Inpe, as taxas de
desmatamento da Amazônia vêm caindo seguidamente
desde 2004, e em 2010 atingiram uma baixa recorde.
A queda se deve a uma melhor fiscalização e controle
estatal, mas também a iniciativas de setores como o da
soja e da indústria da carne, que assinaram moratórias
de desmatamento em suas cadeias de fornecimento.
Coluna
Janeiro 2011
AMBIENTAL | SOCIAL | ECONÔMICO
Os três maiores frigoríficos do País estão com seus fornecedores
georreferenciados e monitorados, em um claro sinal à sociedade de
que um novo tempo está chegando para a pecuária e a carne brasileira. De fato, o Brasil pode com certeza despontar como uma potência
ambiental capaz de conciliar produção e preservação como nenhum
outro no mundo, e a pecuária é parte essencial deste processo.
Por isso, a Abiec trouxe de Cancún um novo conceito a ser trabalhado na pecuária brasileira. Entre 31 de outubro e 5 de novembro do
ano passado, em Haia, na Holanda, a FAO organizou a Conferência
Global sobre Agricultura, Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas.
Na ocasião, foi cunhado o termo Climate Smart Agriculture, ou Agricultura Clima-Inteligente, um conceito repetido e divulgado em Cancún.
E o que é Climate Smart Agriculture para a FAO? É a agricultura
que aumenta de forma sustentável sua produtividade e também sua
resistência às mudanças climáticas, e ao mesmo tempo contribui para
a mitigação de emissões e para a segurança alimentar e objetivos de
desenvolvimento de seus países. A pecuária tem sido vista e divulgada
como uma vilã do meio ambiente e do clima. Esta história precisa ser
revertida. Podemos mostrar ao mundo que a nossa pecuária também
é clima-inteligente, que o Brasil é o país do Climate Smart Livestock.
O Brasil tornou-se o maior exportador de carne do mundo, garantindo
não só a sua segurança alimentar como também a de outros países, a
maior parte deles em desenvolvimento. A indústria da carne e a pecuária
também contribuem para o desenvolvimento do País, com US$ 5 bilhões
de divisas em exportações e a geração de 8 milhões de empregos.
Ao mesmo tempo, a pecuária, em vez de ocupar novas áreas, tem
liberado áreas para a agricultura, evitando assim desmatamentos,
emissões por queimadas e a perda de biodiversidade. Ao se intensificar, a pecuária também reduz suas próprias emissões, pois se torna
mais eficiente. Somente entre 1988 e 2007, o Brasil reduziu as emissões de metano por kg de carne produzida em 29%, uma redução
maior do que a de qualquer outro país produtor.
Também ao se intensificar, a pecuária transforma solos em estoques
de carbono por um melhor manejo de pastagens. E quanto às mudanças climáticas, nenhum país pode se adaptar melhor ao calor do que
o Brasil, com a melhor genética zebuína do mundo e tecnologia em
suplementação animal na seca, com a real possibilidade de integração
com agricultura e florestas plantadas em sistemas agrosilvopastoris.
Nossa pecuária já é Clima-Inteligente. No entanto, esta história não
é contada, o que precisa ser mudado com urgência, pois uma burocracia, depois de criada, dificilmente poderá ser desfeita, uma vez que
acaba se autoalimentando. As COPs, suas resoluções e seus reflexos
nacionais como a Política Nacional de Mudanças Climáticas nos farão
conviver, em um futuro próximo, com inventários de carbono, metas de
emissões, ecotaxas, barreiras reais e imaginárias à carne e à pecuária.
Devemos recontar essa história e mostrar que, longe de ser a vilã,
a pecuária é, na verdade, a grande aliada que o Brasil tem para liderar
o mundo como potência ambiental. n
Fernando Sampaio é diretor e coordenador de Sustentabilidade da
Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec)
Janeiro 2011
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Artigo publicado em Janeiro de 2011