EDUCANDO JOVENS E ADULTOS NO SÉCULO XXI Therezinha Barros da Silva Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco de Monte Aprazível RESUMO Apresentamos uma experiência vivida entre indivíduos participantes da EJA na Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco de Monte Aprazível, Estado de São Paulo, quando do desenvolvimento e aplicação do Projeto/Programa Resgate de Valores, oferecendo oportunidade de participação da clientela específica na apresentação de novos valores sentido por eles neste milênio. Palavras chaves: Educação Integral; Construção de Valores na EJA; Relações interpessoais. ABSTRACT: We presented na experience mae among participating people from EJA at the Educação, Ciências e Artes Dom Bosco College from Monte Aprazível, São Paulo State, during development and aplication of the Project / Value Recovering Program, offering opportunity of participation from specific people showing new vakues felt by them in this millennium. Key words: Whole Education; Value Construction at EJA; Interpessoal Relations. EDUCANDO NA ERA DIGITAL De longa data venho vivendo a experiência na Educação de Jovens e de Adultos, principalmente com aqueles que não tiveram, a seu tempo, a oportunidade de freqüentar as salas de aula numa Escola qualquer por motivos os mais variados possíveis. A cada década desse nosso trabalho de construção de vidas tem sido aferido um tipo de competição que pode ser entendida como boa ou como indesejável. O presente milênio, no entanto, apresenta uma forma de competição boa, desejável porque, a sua prática não esvazia a relação de amizade que os seres humanos conquistaram. O presente milênio nos pede um autoconhecimento, como também deseja que sejamos solidários e que combatamos o individualismo, o egoísmo e a mediocridade. Com esses desejos, ele nos aponta o infinito, pois nos leva a buscar o Transcendente que mora no infinito. A característica marcante deste século é a pressa, a velocidade e mudanças profundas que deixam suas marcas, também profundas. Esta era chegou sem que o ser humano estivesse preparado para recebê-la. Mas, Jovens e Adultos olham este século de forma diferente, abraçam-no de modo diferente, e expõem, com simplicidade, o que pensam de todo esse marasmo que aí vemos. Em conversa que tivemos com os Jovens e Adultos que buscam um lugar ao sol, em nossa cidade, em torno do tema: “Eficácia das Comunicações Virtuais” obtivemos a seguinte conclusão do estudo que fizeram em grupo, nas atividades a eles delegadas dentro do Projeto Resgate de Valores: “Nosso grupo considera que as novas tecnologias são boas, porque vemos nelas uma possibilidade excelente de nos relacionarmos, mas apresentam alguns perigos, se adotadas como fontes únicas de orientação para nossa vida”. Indagados sobre que tipos de perigos, o representante do grupo cedeu a palavra a elementos do grupo que se responsabilizaram por esse aparte: “A Internet tem feito com que jovens que não se conhecem, pessoalmente, se encontrem e, em muitos casos esses encontros são um desastre. Levaríamos uma noite inteira para contar os casos que nós conhecemos desse fato”. Outro elemento do grupo falou sobre o valor e a importância de se conhecer pessoalmente, de apertar a mão, de dar um abraço, de beijar, de confiar, de olhar nos olhos, de sorrir...”. Outro elemento do grupo pediu a palavra e se expressou da seguinte forma: “Tudo que é feito com exageros é muito ruim, porque foge de uma relação real, autêntica. A relação virtual é muito rápida e a gente pode até ver a outra pessoa, mas não sabe que tipo de gente ela é. Toda relação rápida é superficial, pois a rapidez com que se processa não dá tempo de sentir como é a pessoa com quem estamos nos relacionando. Mas a comunicação é fabulosa, uma possibilidade que não tínhamos, antes. Acho que é preciso ter amadurecimento, formação e orientação para nos comunicarmos pela Internet” E muita coisa linda foi ouvida e guardada em meu coração de Educadora, não só para reflexão e amadurecimento próprio, como também para servir de base para outras conversas com Jovens e Adultos que buscam entender o mundo em que vivem, mas que analisam, antes, tudo o que lhes é apresentado como novidade. Há de entender que o livro que o jovem lê, hoje, é o computador, mas ele já está achando que é melhor ler um livro de páginas de papel e com letras gravadas. Os Jovens acham que é bom o computador, mas que falar de perto e poder tocar com as mãos para sentir as alegrias do outro, ainda são situações bem melhores. Falaram os jovens sobre o individualismo que atrapalha os relacionamentos, pois eles, os jovens, acham que o consumismo, que é gerado pelo individualismo, deve ser abolido, ou, pelo menos, amenizado, porque a preocupação com o ter atrapalha o indivíduo ser e, por isso, não vingam as relações de amizade entre quem quer sempre ter mais e aparecer, e os jovens que querem ser sempre mais transparentes, simples, expansivos e comunicativos. Os Jovens e Adultos a quem assistimos na Educação questionam muito a sociedade competitiva e externam a sua opinião sobre competição: “Infelizmente temos que competir, porque todos competem em todos os sentidos, mas não nos deixamos vencer pela competitividade que leva à exclusão do nosso semelhante, à discriminação ou a qualquer tipo de prejuízo para o ser humano. Competimos, mas ajudamos outros a vencerem, também. Não somos egoístas: somos solidários. Estamos descobrindo que o mundo só será salvo pelo trabalho de cooperação. O que nós queremos é que todos se considerem irmãos, úteis à sociedade e ir sempre ao encontro daqueles que estejam precisando de ajuda. Quando buscamos participar de Curso, como o de Resgate de Valores, ou aqueles que nos ensinam a dar qualidade aos nossos atos, estamos querendo ser melhores, mais qualificados para podermos servir melhor e praticar a alteridade, como a senhora sempre nos ensina”. Uma das preocupações nossas é sentir, às vezes, os conflitos entre Jovens e Adultos acontecerem em sala de aula. E confesso que não acho fácil administrar as relações de conflitos e de agressividade. Felizmente, os conflitos acontecidos sempre envolvem temas da atualidade e mostram que Jovens e Adultos, como seres pensantes, questionam os acontecimentos do mundo, da sociedade onde se inserem. Os pontos de vista divergem, mas sempre acabam chegando a um denominador comum. Esses conflitos geram a oportunidade de ensinarmos o respeito pelo outro, e ao mesmo tempo nos fazem olhar de novo o outro, no seu todo, no seu modo de ser e naquilo que ele representa: filho de Deus e pessoa igual a mim mesmo. O “outro” é um outro “eu”. O conflito, portanto, não é mau. O conflito é muito bom e é preciso que ele exista para que nos demos conta das divergências. Nesses impasses da existência dos conflitos sempre a paz retorna quando a gente dialoga com a turma, mas com autoridade, seriedade e respeito pelo que cada um dos membros do grupo representa. Educar é sempre uma Arte: a arte tem saída para tudo, pois sempre aponta uma resposta, sugere uma situação de apaziguamento feliz. Meu robe é fazer tudo com calma para mostrar que a pressa é inimiga da perfeição e que, se alguém quer ser alguma coisa na vida é preciso não correr: velocidade não combina com sensibilidade. Todo tipo de amizade precisa de tempo para se firmar, para se conhecer, para se doar. Quem pretender ser Educador e lidar com Jovens e Adultos que têm interesse em melhorar seu viver para ajudar o outro, por certo há de aprender a olhar esses indivíduos – heróis dos nossos dias, com olhares diferentes. Nós aprendemos muito quando ensinamos com dedicação, amor e com cuidados especiais, pois a clientela da EJA é especial. A grande lição desse encontro com os Jovens e Adultos por nós atendidos: “É preciso ter tempo de viver as relações interpessoais porque são as que valem a pena serem vividas”. No desenvolvimento do Projeto Resgate de Valores que desenvolvemos junto à Faculdade de Educação, Ciências e Artes Dom Bosco de Monte Aprazível, além dos Jovens e Adultos e Alfabetizadores, acolhemos também, o público em geral. Em cada encontro sentimos que a vida levanta muitas questões. Sentimos que os desafios, os chamados e os apelos são muitos e freqüentes quando falamos sobre a vida, sobre o ser humano e sobre a inquietude que o viver diário traz em seu bojo. E, dialogando com nossa clientela especial sentimos que ela concorda conosco quando insistimos em dizer que, realmente, a vida merece todo nosso carinho e atenção, porque a vida é um grande dom, um mistério, uma graça e uma interrogação, também. A apresentação dos temas do Projeto foi inspirada na Bíblia, na Vida do Mestre dos Mestres, Jesus, porque a Bíblia é, antes de tudo, uma exposição criteriosa de uma maneira profundamente humana de viver a existência assumida por todos e cada um. Existem as leis que devem ser obedecidas, porém, onde excede a lei, falta o amor. E existe uma Ética para ser vivida, e ética não é lei, é ato de amor e de acolhimento do outro. Jovens e Adultos são orientados para o exercício de um raciocínio a partir da lei que está dentro do seu coração, na sua consciência. Aconselhamos a viverem a alteridade: lembrar sempre o respeito que cada um deve nutrir por si mesmos e por seus semelhantes. Quando apresentamos o tema Crescimento Humano os participantes da EJA se pronunciaram sobre o Valor Amizade Solidária. A liberdade foi muito discutida pelos participantes. E o interessante é que todos falaram sobre a situação da política brasileira no momento presente, e chegaram à conclusão de que a política foi criada para servir ao povo e não para influenciar e fomentar a corrupção. O debate tomou dimensões tais que precisamos intervir, pedir calma, pois o conflito de opiniões já estava alcançando ritmo de discórdias. Muitos jovens participaram do Projeto Resgate de Valores. Eles sempre pensam que as coisas simples são as que mais lhes agradam, portanto, procuram entender a liberdade do ser humano, mas, ao lado da liberdade eles colocam a responsabilidade. O interessante é que os participantes da EJA sempre permaneciam mais um pouquinho de tempo nos ambientes onde o Projeto se desenvolveu. É que eles queriam falar sobre o sentido da vida, a vontade do sentido e a liberdade da vontade, uma vez que os homens que têm alto poder aquisitivo só falam e agem dentro da vontade do poder. A Ética foi apresentada aos participantes do Projeto como um dever de todo cidadão. E, ao falar sobre ética, os participantes solicitaram que dialogássemos com eles sobre a situação da corrupção na política brasileira, hoje. Devolvemos a solicitação a eles mesmos e, para nossa surpresa, os participantes EJA, na sua simplicidade, nos deram a mais bela lição de cidadania. E, após o debate pediram que em todo o momento do desenvolvimento do Projeto esclarecêssemos a todos o sentido da democracia, cidadania direito, lei e o respeito ao ser humano e aos bens que este ser humano conseguiu adquirir, como patrimônio. A ética na vida é muito importante para o crescimento do ser humano como pessoa que vive em sociedade, porém, a ética na política é o único caminho para uma ação moral do indivíduo, que possa estabelecer, entre o indivíduo e a comunidade, a natureza normativa de uma boa conduta e estabelecer critérios de justiça, de um bom governo e do respeito à cidadania. Concluíram os participantes da EJA que, sem ética na política o país continuará sendo tragado pela corrupção, pelo excesso de poder (o mandonismo), pela privatização do espaço público, pelo coronelismo que ainda impera no país, e pela destruição dos aparelhos administrativos considerados como instrumentos de qualidade de vida e de desenvolvimento nacional. O valor percebido pelos participantes desta etapa do Projeto recebeu a denominação de Ética e Cidadania, porque uma não sobrevive sem a outra. Nós acrescentamos outro valor: a Indignação que é um valor moral a ser adotado diante dos tristes espetáculos a que assistimos no dia-a-dia. Dentro da Programação do Projeto Resgate de Valores estava a confiança, como valor. E, nesse tema houve a imperiosa necessidade de expor e dialogar sobre a construção do cérebro humano para entender suas funções, o seu papel na construção de valores. Na reflexão sobre as funções do cérebro humano os participantes trouxeram à baila a necessidade do autoconhecimento como forma viável de alimentar a fé, porque é com base na fé que as gerações se sucedem. Os gestos mais banais e corriqueiros que o ser humano pratica no seu viver diário estão impregnados de um confiança fundamental na vida. E é no inconsciente do ser humano que se aloja esta certeza. Vários participantes, dentre eles Alfabetizadores e alunos EJA, relataram construções diárias do viver humano por eles conhecidas, para justificar a confiança fundamental que o ser humano deposita na vida. E o assunto foi parar no relacionamento humano que só é possível e viável se houver confiança na vida e nas pessoas do convívio diário. O ser humano se inscreve nesse concurso eterno da vida numa busca intensa por sentido, como um ato fundamental de fé. Participa de experiências do caos, mas permanece na fé. Questiona-se sobre o seu existir, e sabe que precisa mergulhar dentro de si mesmo para saber quem ele é. Sente-se fragilizado e desamparado, mas continua tendo fé e confiança na vida. Existe uma mística na vida humana que se caracteriza pelo ilimitado da razão. E aqui surgiu um valor muito especial desse século XXI: a Indignação que, pelo exposto nos Grupos e pelos Grupos, caminha junto com a solidariedade, um completando o outro. Quando solicitei que explicassem como eles entendiam esse caminhar de valores tão importantes, eles responderam que a indignação contra qualquer injustiça em qualquer parte do mundo aguça o sentimento da solidariedade e, juntamente com esses dois valores aparece um terceiro: o compromisso com a vida. No desenvolvimento do Projeto Resgate de Valores o objetivo de sua aplicação é mostrar que o caos não prevalece sobre a ordem, e que, diante da provisoriedade e da precariedade da existência humana há uma palavra unificadora; que face ao absurdo, ao sem sentido, o desespero e o ceticismo não oferecem resposta satisfatória às angústias humanas porque não criam a projeção do “ainda não presente”, não ultrapassam, igualmente, a imediatez do aqui-agora, não vislumbram um caminho, uma possibilidade. A fé está enraizada no consciente ou inconsciente humano e é um princípio ordenador de toda vida, é um horizonte doador de sentido à vida. Algo bem superior existe. Um Ser Supremo está a nos dizer que devemos ter fé. Mas esse Algo Superior nos inspira um sentimento de amor-doação, de amor-misericórdia e de amor-perdão, ao mesmo tempo. Este sentimento é a fé que nos aponta caminhos e, aos poucos, vai nos mostrando o como caminhar na vida. ÉTICA, VALOR FUNDAMENTAL Os Jovens e Adultos, bem como os Alfabetizadores que participaram do nosso Projeto, estão bem por dentro da situação do país e do mundo no que tange à existência e observância de uma ética na política brasileira. A Ética é um valor fundamental, principalmente nestes tempos de globalização e de multiculturalismo (e aqui falamos do multiculturalismo que não deve ser concebido como o relativismo cultural, mas como elogio à diferença, a inclusão, a aceitação do nosso semelhante assim como ele é). O mundo digital que eles conhecem está lhes trazendo informações úteis que a eles comunica e faz tomar posição diante da vida: sentem os Jovens e Adultos e os Alfabetizadores participantes que, para agir com retidão é preciso saber, antes o que é justiça e o que é a verdade; o que são medidas-padrão e o que é que elas, de fato, medem. A verdade é um valor ético universal. Ao perguntar a um Jovem do povo qual a diferença entre Lei e Ética, ele respondeu: “Ética não é Lei: a Lei é a obediência ao que é obrigatório. Ética é a obediência ao que não é obrigatório”. No desenvolvimento do Projeto em tela, cada tema trabalhado ofereceu subsídios para estudos que levaram à séria reflexão sobre a responsabilidade, a liberdade, o respeito ao semelhante, e as atividades complementares trouxeram resultados gratificantes. Ao encerrar as atividades programadas tivemos a satisfação de sentir que houve, principalmente entre os alunos da EJA e os Alfabetizadores, uma eficaz negociação de sentidos envolvendo o uso do computador, da televisão, da Internet como meios de busca de uma forma de expressão bem própria deste tempo. O que nos encanta é ver a juventude, principalmente ela, descrever programas e novelas e falar sobre o que restou, para eles, de tudo o que viu, ouviu e assistiu nas telas. Isto significa que nossos jovens estão amadurecendo diante de uma nova forma de leitura e aprendendo a selecionar, e a fortificar, aperfeiçoar e aumentar o seu grau de discernimento. Isto significa que há um receptor não passivo, mas ativo e vivo que a todo momento está negociando os sentidos de tudo. A constatação de que Jovens e Adultos, para alegria nossa e dos Alfabetizadores, mesmo sem terem freqüentado, a seu tempo, a sala de aula, já realizam uma leitura e releitura do mundo em que vivem e sabem externar a sua crítica, muito nos consola e anima. Resta aos Educadores dessa feliz gleba da sociedade encarar seus educandos como se fossem eles próprios, e amá-los, orientá-los e com eles se regozijarem dos progressos que alcançarem na vida. O Brasil precisa ter muitas Escolas que preparem para a Vida, respeitando cada um como cada um é, e acolher as diferenças na coletividade. Esse é o agir do sábio que sabe que a sabedoria é divina, mas que todo ser humano deve buscá-la continuamente, eternamente. O que vemos que precisa ser mudado nos novos focos de leitura: Televisão e Internet?... Com toda a sinceridade, vejo a Televisão como algo extremamente comercial, desrespeitosa em relação a qualquer faixa etária, seja por suas novelas, seja por outros tipos de programas que ela adota. No entanto, a Televisão pode estimular a leitura, mas estimula uma leitura sem controle. Televisão e Internet influenciam na educação e na formação de crianças, jovens e adultos, mas de uma forma descontrolada. Com o advento da mídia pais e professores perderam o controle sobre a educação integral de crianças, jovens e adultos. E é esse um grande desafio que temos que enfrentar. O COMPUTADOR E OS VALORES A atenção dos educadores que lidam com a EJA deve estar voltada para essa transição da maneira de educar, de formar, de orientar, de acompanhar: pois tudo deve ser realizado através do diálogo franco, amigo, aberto. Não deixar coisificar tudo, mas mostrar o valor do ser humano por sua dignidade. Devemos mostrar a essa importante gleba da humanidade que se relacionar em meio à competição do dia-a-dia é um desafio para jovens, principalmente porque os jovens são imensamente generosos, criativos, perdoam com facilidade e são heróicos: são capazes de morrer pelas causas nas quais acreditam. Os Educadores precisam refazer sua caminhada na arte de educar, pois o Computador veio para ficar, mas é uma ferramenta que precisa ser educada, como qualquer nova tecnologia. Há muito ainda a ser feito com o uso do computador na escola e fora dela. O que julgamos importante, salvo melhor juízo, é a mobilização de pessoas que o computador provoca e promove. A função primordial do Educador no Século XXI é conseguir romper com o óbvio, ter coragem de romper com as limitações do cotidiano (muitas vezes auto-impostas), convidando os participantes do Projeto à reflexão sobre as questões importantes da vida real, da sociedade em que vivem, num mundo em mutação rápida e constante. A EJA deve oferecer à sua clientela específica a oportunidade de alçar vôos rumo aos seus desejos e às suas apreensões verdadeiras, para que se autorealizem e sejam felizes. O mundo caminha numa velocidade incrível porque está todo ele imerso em informações de dia e de noite, tanto via Rádios como das Televisões, dos Jornais escritos como das Revistas, da Internet e do Correio Eletrônico, onde a verdade de agora está sendo sempre ultrapassada e superada pela verdade do agora mesmo. Diante desse quadro só temos uma certeza: as renovadas incertezas que se sucedem a cada minuto do viver humano. Vejo nesse quadro algo de muito bom: vai deixar de existir o estado da pré-instrução que caracterizou, até agora, a nossa sociedade, para dar lugar à leitura, interpretação do tempo de cada um, para definição do desígnio de cada um, com maior precisão. Nessa realidade educacional cada vez mais complexa em nossos dias é preciso ter muita paciência e grande capacidade de manter viva a atenção, e entender que o individualismo e o egoísmo já não mais funcionam, pois cedem seu lugar ao trabalho grupal, numa sociedade que pretende fragmentar o pensamento e os pensantes. O trabalho dos educadores da EJA neste Século XXI é caminhar com seus alunos na construção, primeiro, do Projeto de Vida de cada um para, daí, partir para a realidade educacional de um século que pede autoconhecimento, busca da verdade e do Transcendente. Aos integrantes da EJA e aos Alfabetizadores participantes deste Projeto solicitamos que nos apresentassem, como Atividade Complementar, uma lista dos valores que julgam ser os mais importantes para o século XXI, dentro da visão de um código global de Ética. Como resposta obtivemos estes valores essenciais, mas comuns, embora citados pelos grupos com palavras que expressam suas culturas: Verdade, Honestidade, Solidariedade, Tolerância, Liberdade, Respeito à Vida, Amor entendido como Fraternidade, Responsabilidade, Lealdade, Amizade, Delicadeza... V - CONCLUSÃO Para formar o caráter, a personalidade do ser humano não basta uma formação acadêmica, mas fazer com que o ser humano valorize os pilares fundamentais do viver. Os valores de qualidade formam a essência do caráter, para uma convivência em todos os sentidos da vida. O mundo é composto de indivíduos que vivem em sociedade, portanto, combatendo o egoísmo estamos educando para a solidariedade. Cada ser humano deve se autoconhecer para descobrir a confiança e outros valores que guarda dentro de si e, assim, gozar da felicidade de ser ele mesmo e ser alegre por poder partilhar tudo de bom que possui como o seu semelhante, pois a felicidade da pessoa está diretamente ligada à felicidade da sociedade onde ela se insere. Aceitamos o Computador como eficiente instrumento a favor do ser humano, e cremos que ele possa agregar valor a si mesmo. O Computador para uso pessoal surgiu com a missão de beneficiar e otimizar tempo e ganhar qualidade e objetividade nos serviços que ele presta, portanto, o ser humano deve tornar cada vez mais eficiente esta ferramenta que veio em seu auxilio e, por incrível que pareça, surgiu também para ensinar a perfeição no agir: mas é também uma ferramenta que pode facilitar falcatruas, dependendo, assim, da construção de Valores de cada um que o utiliza, pois há os Valores que fazem prevalecer a cultura do consumo, por isso estão associados ao ter. Há os Valores Humanos que envolvem as necessidades do ser, despertam em nós a espiritualidade e nos levam a buscar o Transcendente. Ambas são importantes, desde que construídas integradas, porque ter sem ser gera desvarios. Fica, no entanto, a critério dos Educadores (Pais, Professores, Técnicos de Informática, e outros que se propõem educar) oferecer uma visão do caminhar juntos a teoria e a prática, despertando espírito crítico e ético para que seus assistidos entendam que esta não é uma mera máquina de aprender, mas que veio para ficar e para somar esforços e valores. Conhecer esse rico instrumento de trabalho e saber utilizá-lo para o bem de todos, é um grande valor a ser somado aos demais tanto nos Educadores como nos Educandos. Desconhecer o valor das novas tecnologias e não se familiarizar com elas para que sejam adequadas ao progresso e ao crescimento humano, talvez seja um dano para cada elemento humano e para a sociedade. VI - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ALENCAR, M. 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