XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 27 OS ORIENTADORES PEDAGÓGICOS E OS DESAFIOS DO FAZER DOCENTE EM ALFABETIZAÇÃO. Janaina Cruz da Silva (FEBF) RESUMO A organização dos processos de ensino requer embasamento teórico, metodológico e prático consistente. Este embasamento compõe a gama de saberes que constituem a formação de professores e de orientadores pedagógicos. Embora se admita a essencialidade desses saberes, no cotidiano escolar observam-se fragilidades quanto à condução dos processos de ensino e de aprendizagem. Daí decorre uma insatisfação quanto aos modos de fazer pedagógico que resulta num desconforto tanto para professores quanto para orientadores. São comuns relatos de insatisfação recíproca. No contexto da alfabetização as insatisfações tornam-se mais evidentes. Os dilemas da prática pedagógica nesse campo indicam a necessidade de aprofundamento teóricometodológico e de estratégias de intervenção mais efetiva, por parte do orientador pedagógico. Reconhecendo-se a estreita vinculação entre a atuação de professores e orientadores pedagógicos, este texto discute os dilemas do orientador pedagógico diante dos impasses vividos pelo professor alfabetizador na organização dos processos de ensino e de aprendizagem da leitura e da escrita, busca-se entender como esse orientador percebe e se percebe na dinâmica das relações que estabelece com os professores e os saberes em alfabetização. A discussão se organiza a partir de resultados de pesquisa-ação que teve como universo orientadores pedagógicos que atuam no 3º ano do Ciclo de Alfabetização de Redes Municipais de Educação da Baixada Fluminense. Os resultados apontam para a apropriação pelos orientadores pedagógicos do conteúdo do discurso dos professores alfabetizadores, principalmente no que diz respeito às dificuldades atribuídas aos alunos em termos da aprendizagem da leitura e da escrita. Observa-se, a partir do discurso dos orientadores pedagógicos que em determinados momentos tem dificuldade para se perceberem no papel e função a eles atribuída. Na maioria das vezes, não se evidenciam diferenças significativos entre o olhar do professor e do orientador pedagógico em termos dos desafios da organização da prática docente escolar em alfabetização. Palavras-chave: alfabetização. orientador pedagógico, processos de ensino/aprendizagem, A organização dos processos de ensino se coloca no contexto das demandas por educação escolar como objetivo e desafio do fazer pedagógico. Sua importância reside no fato de que por meio da estrutura e coerência das ações didáticas, os profissionais poderão transitar entre as aspirações da sociedade, o currículo escolar e cada atividade planejada, articulando meios para favorecer o desenvolvimento dos educandos. O desempenho de escolas e professores no sentido de organizar, especialmente, os processos de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, reunindo referenciais Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005328 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 28 teóricos e metodológicos que subsidiem a prática em sala de aula de maneira consistente, nem sempre evidencia a articulação entre saberes docentes em alfabetização, compartilhados por orientadores pedagógicos e professores. Esse fato se torna mais evidente após o advento do letramento escolar. Ao asseverar que a organização das práticas de ensino necessita atravessar o currículo escolar e traduzi-lo nos liames da teoria educacional e da prática pedagógica, entre o planejamento e a ação, Coll (1987,1994), alerta para a necessidade de que o ensino se organize pautado em intenções educativas, preveja sequencias de aprendizagens e estabeleça orientações metodológicas, que indicarão modos de ensinar. Isto pressupõe compreender que os objetivos educacionais definidos em cada esfera da educação necessitam apresentar bons níveis de fundamentação e explicitude, tanto teórica quanto metodológica, a fim de que a prática se estabeleça de maneira articulada e coerente. Neste contexto, torna-se evidente a relevância do orientador pedagógico enquanto articulador das ações de ensino e aprendizagem escolar. No conjunto dessas ações, a alfabetização se destaca como uma questão preponderante, tanto em razão de seus resultados, via de regra considerados pouco efetivos, como em função das opções teórico- metodológicas disponíveis para ensinar a ler e a escrever. Em situações de cotidiano escolar, o orientador se defronta com os dilemas dos professores alfabetizadores, não apenas em relação à diversidade de métodos e à divergências no campo teórico a esse respeito, mas fundamentalmente às especificidades da clientela com a qual trabalham. É interessante observar que esses dilemas impactam diretamente a natureza do foco da orientação a ser dada. Considera-se relevante, portanto, refletir e apontar elementos que possibilitem melhor compreender, do ponto de vista dos orientadores pedagógicos, a natureza das chamadas dificuldades em leitura e escrita, no terceiro ano da escolarização e de que modo estas impactam as orientações a serem dadas ao professor em termos da organização da prática docente. Desse modo, este texto apresenta reflexões originadas de pesquisa-ação que teve como foco o discurso de orientadores pedagógico que atuam em escolas públicas da Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005329 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 29 Baixada fluminense, cujos resultados da aprendizagem em leitura e escrita no 3º ano do ciclo são considerados pouco satisfatórios. A partir dos resultados, duas questões ganham evidência: a alfabetização como desafio para a organização de processo de ensino e de aprendizagem escolar e os dilemas da orientação pedagógica. Cada uma delas constituem-se como eixos estruturadores do presente texto. A alfabetização como desafio O dilema que envolve a alfabetização no contexto escolar não é novo. Na proporção em que os resultados das aprendizagens resultantes da alfabetização, ou seja, da leitura e da escrita, são considerados inadequados, várias instâncias sociais são mobilizadas. Daí resulta diversos estudos que buscam explicar o insucesso nessas aprendizagens. Tais estudos ocupam-se em mapear, desde fatores de ordem socioeconômica até os relacionados ao sujeito aprendente (PATTO, 1996; COLLARES e MOYSÉS, 1996; PAÍN, 1985; BOSSA, 2002; MONTOVANINI, 2001; MACEDO, 2005). O acesso aos resultados desses estudos, embora amplamente difundidos no meio acadêmico nem sempre são incorporados pelas práticas docentes escolares. Professores e orientadores pedagógicos continuam desafiados pela tarefa de ensinar a ler e a escrever. Neste contexto, a alfabetização se circunscreve enquanto dilema para o orientador pedagógico, exigindo qualificação teórica e metodológica suficiente para que a formação continuada do professor, também de responsabilidade da orientação, seja conduzida. Entretanto, em muitas ocasiões fica evidente a fragilidade de orientadores pedagógicos para discutir a alfabetização, tanto em termos teórico-metodológicos quanto práticos. Em muitos discursos docentes o problema na alfabetização é vinculado essencialmente a fatores socioeconômicos, culturais, emocionais ou familiares. As análises encetadas nem sempre incluem a escola e seus atores no conjunto dos fatores que compõem a dinâmica a partir das quais os alunos estabelecem suas relações com o saber. Não raro, estes discursos descredenciam professores em seus saberes e fazeres. Disso resulta uma descrença nas possibilidades dos alunos e um investimento menos efetivo no ensino, deixando de assumir que “o papel da escola é o de compreender a Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005330 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 30 realidade dos alunos e se propor a modificá-la, via educação” (ZORZI, 2003, p.131). A atuação do orientador pedagógico é decisiva para que as funções e papéis da escola sejam ada vez mais efetivos. Saviani (1985) considera que a função do pedagogo consiste no domínio intencional e sistemático da organização do processo de formação cultural, ou seja, na articulação de estratégias adequadas à transformação do saber sistematizado em saber escolarizado. Tal transformação, frente aos problemas no ensino e na aprendizagem da leitura e da escrita, requer a mobilização do orientador pedagógico para que os possíveis elementos deficitários sejam corrigidos. Limitações no campo da ação pedagógica dos professores e da escola em seu conjunto, por exemplo, precisam ser reconhecidas e contempladas pelo fazer do orientador. Entretanto, se este não dispõe de meios para buscar a reversão dos problemas o dilema da alfabetização acaba por lhe ser manifesto, tal qual se apresenta para professores que encontram dificuldades para desenvolver a leitura e a escrita em uma classe. Neste panorama, o dilema da alfabetização se funda, sobretudo, no aspecto teórico-metodológico, na orientação didática clara, definida e sistemática que precisa ser desenvolvida junto ao professor em termos conceituais e didáticos. A concepção de alfabetização e o sistema linguístico - sobretudo por, normalmente, não ser dada “a devida atenção para a questão que envolve o próprio objeto a ser conhecido “a coisa”, ou seja, a linguagem escrita com suas peculiaridades” (ZORZI, 2003, p.131) - precisam ser de conhecimento dos orientadores pedagógicos. Do contrário, dificilmente se disporá de recursos para gerir com autonomia, domínio e qualidade o processo de ensino visando ao andamento eficaz da aprendizagem, pois conforme o exposto, a circularidade e a coerência discutida anteriormente são atingidas quando elementos teóricos e metodológicos se afinam e são tratados com fim de promover o exercício metacognitivo e a consequentemente instrumentalização profissional. O dilema da alfabetização na concepção de orientadores pedagógicos Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005331 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 31 Neste item, apresentam-se os elementos mais evidenciados pelos orientadores pedagógicos em termos daquilo que entendem como fatores que impactam a sua atuação no cotidiano escolar, relacionados especificamente ao ensino e à aprendizagem da leitura e da escrita. Ao descreverem as principais dificuldades que encontram para orientar os professores tendo em vista as dificuldades dos alunos matriculados em turmas de terceiro ano, os orientadores pedagógicos indicam: dificuldades centradas nos conteúdos da aprendizagem, dificuldades procedentes de limitações sociais e/ou patológicas e dificuldades relacionadas aos processos de ensino. Cada um desses elementos será apresentado a seguir. Conteúdos da aprendizagem No que se refere às dificuldades centradas nos conteúdos da aprendizagem foram analisados os discursos que levavam em consideração a aprendizagem do aluno e o currículo escolar. A este ficou relacionado a maioria das discussões, as quais tiveram como foco principal questões relativas à assimilação do código escrito. As dificuldades relacionadas perpassavam distintas habilidades de leitura e de escrita, apresentando variações que se deslocavam entre a não apropriação da base alfabética e à capacidade de decifrar o código escrito sem que os alunos possuíssem competências em leitura e escrita mais elaboradas. Em termos das habilidades de leitura encontra-se o que segue: desconhecimento da relação fonema-grafema, ausência de fluência na leitura, compreensão textual restrita ou ausente, restrita entonação (desconsideram a pontuação textual), contato restrito com a cultura escrita e seu uso social. Quanto às habilidades de escrita as seguintes questões ganharam evidência: dificuldades para realizar a transcrição fonética, problemas para sair da fase pré-silábica, segmentação de palavras, dificuldade para elaborar pequenos textos, dificuldades ortográficas. Como se observa, as necessidades educativas dos alunos de terceiro ano pressupõem acumulos de dificuldades pregressas de aprendizagem e requerem atividades de ensino que dêem conta “de entender o processo de aprendizagem e a maneira de incidir sobre o mesmo mediante uma ação intencional, sistemática e planejada (...)” (COLL, 1987, p.131-132). A análise da prática pedagógica indica que, diante das dificuldades apresentadas, os orientadores pedagógicos precisam organizar meios que lhes Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005332 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 32 possibilitem tratar do objeto especifico da função que ocupam: o processo de ensino aprendizagem da leitura e da escrita, tarefa que essencialmente compete à escola. Dificuldades procedentes de limitações sociais e/ou patológicas Os discursos que indicavam problemas referentes às dificuldades de ordem patológica ou sócioafetivas apontavam para aspectos como: desmotivação do aluno para aprender, baixa autoestima, nível socioeconômico desfavorecido, e limitações socioculturais, que dividiram espaço equilibrado com as questões que faziam referência à escola. Processos de ensino O processo de ensino enquanto elemento preponderante à sustentação de dificuldades na aprendizagem foi citado por alguns orientadores pedagógicos. Dentre os problemas apontados estão: as abordagens de ensino que se fazem pouco atrativas ou não significativas para os alunos; a ausência de intervenção docente ao longo do processo de aprendizagem da leitura e da escrita; a dificuldade docente para estruturar interferências efetivas; a ausência de continuidade metodológica; a desmotivação dos professores em atuar com alunos defasados quanto a idade e a série. Esta última condição foi significativamente apontada como uma forte motivação para a redução das expectativas do professor em relação à classe, o que resulta na ausência de investimentos qualitativos no ensino, quando não se converte em afastamento do professor por problemas de saúde física e/ou emocional. Os dados relacionados às dificuldades centradas nos conteúdos da aprendizagem e às dificuldades relacionadas aos processos de ensino, apontam para o processo de ensino em sua estrutura e indicam que grande parte do trabalho a ser realizado com vistas à superação das dificuldades está sob a competência da escola. Algumas causas para as dificuldades Quanto às “causas atribuídas às dificuldades em leitura e escrita”, a análise das respostas ficou organizada em basicamente duas categorias, uma inerente a própria escola, considerando os processos de ensino (a prática pedagógica) e estruturação escolar (infraestrutura e organização escolar) e outra relacionada à sociedade em geral, Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005333 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 33 onde teve papel central a família e os serviços de saúde (limitações sociais e biológicas), este se apresentando em menor frequência. Ao expressar que a causa mais significativa para a dificuldade em leitura e escrita dos alunos centra-se na atuação docente, os orientadores apontaram objetivamente para o processo de ensino. Na descrição pontual das causas, discursos trataram das dificuldades dos professores em organizar as situações de ensino, dentre as quais se destaca: o modo como podem ser organizadas as rotinas de trabalho em classe; as possibilidades de elaboração de atividades de fomento à leitura; as estratégias para atender aos alunos em situações de defasagem; a falta de experiência e/ou o restrito envolvimento com a profissão; dificuldade para organizar didaticamente o processo de alfabetização. No tocante aos recursos metodológicos, as falas evidenciaram dissonâncias a respeito do próprio projeto pedagógico da escola, já que situações indicativas da ausência de planejamento em paralelo, por exemplo, à oferta aleatória de atividade xerocopiadas, parecem ser comuns e pelo visto não revertidas eficazmente pela orientação pedagógica. Na indicação das causas, encontra-se ainda a dificuldade dos professores, e consequentemente dos orientadores em auxiliá-los no processo de organizar as situações de ensino, dentre as quais se destacam: o modo como podem ser organizadas as rotinas de trabalho em classe; as possibilidades de elaboração de atividades de fomento à leitura;as estratégias para atender aos alunos em situações de defasagem;a falta de experiência e/ou o restrito envolvimento com a profissão e a dificuldade para organizar didaticamente o processo de alfabetização. Parece curioso que os próprios orientadores admitam o desconhecimento que os docentes tenham acerca das orientações metodológicas que embasam o trabalho na Rede e, consequentemente, na escola em que atuam, já que levar os professores a estudar e conhecer o projeto da escola e/ou da rede consiste em uma empreitada da orientação. Tanto o não uso de portadores textuais, quanto o seu uso indiscriminado para o processo de alfabetização, também se apresentam como comprometedores das relações Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005334 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 34 de ensino e como um dos aspectos delator do problema metodológico em alfabetização. No mesmo modo se situa a inadequação das propostas pedagógicas em relação às faixas etárias, condição sine qua non para interação aluno-atividade. Em síntese, a dimensão da problemática da alfabetização anunciada pelos orientadores, se circunscreve dentre as ações que compete à instituição escolar desempenhar. Essas ações têm como inspiração as evidências e especificidades do fazer docente em alfabetização e as especificidades da função do orientador. Os apontamentos que ao longo da pesquisa revelaram o fazer docente como um fator propulsionador das dificuldades no campo em estudo remetem a questões que pressupõem pensar: a) os eixos estruturadores do ensino, ou seja, o modo como a educação tem sido organizada em termos curriculares e metodológicos; b) a formação didática de professores e orientadores pedagógicos, fundamentalmente no que se estabelece entre o que, como e quando ensinar (COLL, 1987), exigindo que para isso as bases teórico-metodológicas sejam revistas e estudadas por professores e orientadores pedagógicos. Os discursos que dimensionam a dificuldade dos alunos em desenvolver os conteúdos da aprendizagem indicam que os orientadores necessitam debruçar-se sobre os modos de organização do ensino (que neste caso pressupõe minimamente o que e como ensinar), com vistas a ajudar ao professor em seu fazer, sobretudo, pelo fato da pesquisa evidenciar problemas no processo de condução da aula, relatado por professores. Por sua vez, as questões que levam ao modo como se deve organizar a rotina da classe, fomentar a leitura, estabelecer atividades atrativas e adequadas à faixa etária ou mesmo planejadas com intencionalidade, pressupõem que o professor saiba objetivamente como organizar didaticamente a sua aula. O discurso do despreparo do professor foi bastante recorrente, ilustrando a dificuldade que se observa no processo de condução das aulas. Entretanto os coordenadores não relacionaram tal realidade com o exercício de suas funções. Especialmente, quando analisadas as dificuldades que foram circunscritas entre as habilidades de leitura e escrita, nota-se que para a superação das mesmas há de se ter, primeiramente situações de ensino. Fato, que pressupõe minimamente: a organização do Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005335 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 35 trabalho didático em alfabetização, e o conhecimento acerca das produções acadêmicas disponíveis (GROSSI, 1990; KLEIMAN, 2001) . Atualmente o desafio da escola em alavancar os processos de aprendizagem de alunos inscritos nessa situação é bastante preponderante e não pode prescindir de intervenções que ajude o aluno a avançar. Neste sentido Coll trata do conceito de ajuda pedagógica e a define “como o suporte dado ao aluno na organização do conteúdo da aprendizagem, no uso de incentivos de atenção e motivações no uso de feedbacks corretos e no acompanhamento detalhado de seus progressos e dificuldades” (COLL, 1987, p.137) que deve manter coerência e proporcionalidade com o nível de conhecimento prévio. Em busca dos elementos que corroboram para a estagnação da esperada circularidade entre conhecimentos científicos, prática pedagógica e a alfabetização dos alunos, encontram-se vários entraves, quais sejam: ausência de opções metodológicas bem esclarecidas que permitam a devida fundamentação teórica por parte das redes de ensino; comunicação conturbada entre a produção acadêmica e sua compreensão ou aplicação reflexiva nas escolas; aparente dificuldade para agir de maneira orientada por recursos didáticos substancialmente justificados por seus usuários, condição que atravessa o cotidiano dos profissionais da educação e exige dos orientadores Em busca dos elementos que corroboram para a estagnação da esperada circularidade entre conhecimentos científicos, prática pedagógica e a alfabetização dos alunos, encontram-se vários entraves, quais sejam: ausência de opções metodológicas bem esclarecidas que permitam a devida fundamentação teórica por parte das redes de ensino; comunicação conturbada entre a produção acadêmica e sua compreensão ou aplicação reflexiva nas escolas; aparente dificuldade para agir de maneira orientada por recursos didáticos substancialmente justificados por seus usuários, condição que atravessa o cotidiano dos profissionais da educação e exige dos orientadores A alfabetização se mostrou um desafio para a organização dos processos de ensino. No que se refere ao impacto que as dificuldades em leitura e escrita geram a orientação pedagógica dirigida aos professores, em termos da organização da prática docente temse pouquíssimas evidências de compartilhamento de saberes. Os orientadores Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005336 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 36 educacionais revelaram certa fragilidade profissional para abordar o problema da alfabetização e em muitos discursos pareceram ocupar o lugar do professor. Considerações Finais A partir da análise preliminar dos resultados, observam-se fragilidades quanto a condução dos processos de ensino e de aprendizagem relacionados à alfabetização, principalmente, em termos da organização didática e da seleção de atividades que promovam de forma mais intensa e ampliada o contato do aluno com o mundo da leitura e da escrita. Também, a proposição de instrumentos e critérios de avaliação considerando os diferentes níveis de complexidade de conteúdos e de aprendizagem apresenta-se como um desafio para o orientador pedagógico. Ainda neste contexto, nem sempre se evidencia clareza quanto a articulação entre objetivos, conteúdos e atividades tanto do ponto de vista dos professores quanto dos orientadores. Esse conjunto de dados aponta para a necessidade de se repensar os fenômenos de ensinar e aprender no contexto escolar, sobretudo em termos da organização didático-metodológica desses processos. Os dilemas da prática pedagógica em alfabetização apontam para a necessidade de aprofundamento no conhecimento a respeito do campo epistemológico atinente à alfabetização de modo a ampliar os horizontes do orientador pedagógico, tornando-o capaz de mobilizar saberes próprios do campo da didática e da alfabetização para que melhor auxilie professores alfabetizadores em seus dilemas. Foi observado, ainda, que os orientadores pedagógicos acabam sendo envolvidos de tal ordem pelas angustias e relatos dos professores sobre as dificuldades dos alunos que tendem, de certa forma, a deslocarem o foco do seu trabalho do professor para os problemas dos alunos. Isso faz com que não se observem diferenças significativas entre o olhar do professor e do orientador pedagógico em termos dos desafios que impactam a organização da prática docente escolar em alfabetização. É essencial que se ultrapasse a etapa da constatação acerca de fatos e fenômenos que envolvem os saberes docentes em alfabetização. A constatação serve apenas como elemento de propulsão à busca de mecanismos que permitam transformar os componentes de fatos e fenômenos em conteúdos de ações que promovam a reflexão e a Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005337 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 37 aprendizagem do conjunto de atores que compõem a escola. Dentre estes, com certeza, o aluno é o centro. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BOSSA, N. A. Fracasso escolar: um olhar psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002. COLLARES. C. A. L; MOYSÉS. M. A. A. (1996). Preconceitos no cotidiano escolar: ensino e medicalização. São Paulo: Cortez. Campinas: Unicamp – Faculdade de Educação – Faculdades de Ciências Médicas. COLL, C. (1994). Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. __________. (1987). Psicologia e currículo: uma aproximação psicopedagógica à elaboração do currículo escolar. São Paulo, SP: Ática. FERREIRO, E.; PALACIO, M.G. ( 1990). Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre, RS: Artes Médicas. KLEIMAN, A. B (2001). A formação do professor – perspectiva da linguística aplicada. Campinas, SP: Mercado das letras. MACEDO. L. (2005). Ensaios pedagógicos: como construir uma escola para todos. Porto Alegre, RS: ARTMED. MANTOVANINI, M. C. 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