A pontuação E as razões estilísticas Introdução: O bom emprego dos sinais de pontuação não está ligado apenas a questões de ordem sintática. Razões subjetivas podem interferir na pontuação de um texto. Pontuar Pontuar não é apenas uma tarefa em que se devam cumprir regras objetivas, é também uma atividade que envolve a maneira particular que cada um tem de se exprimir, ou seja, pontuar é também uma questão de estilo. Razões estilísticas Por razões estilísticas, o autor de um texto opta por um sinal em lugar de outro. Ele pode, por exemplo, em vez de utilizar uma vírgula ou dois-pontos para separar duas (ou mais) orações de um período, usar o ponto final e assim transformar as duas orações em dois ou mais períodos. Exemplo 1: “Em forma gasosa, o hidrogênio é o combustível perfeito. Ele pode ser extraído facilmente de uma fonte inesgotável (os oceanos), libera muita energia ao reagir com o oxigênio e não polui, pois o único resíduo da reação é a própria água. Seria perfeito se não fosse um detalhe. Não dá para usar em carros porque é difícil de armazenar com segurança: ao menor contato com o ar ele explode.” Comentário: Observe que, depois da palavra (detalhe), há uma sequência que explica essa palavra. Nesse caso, o normal seria a utilização dos dois-pontos. No entanto, por razões estilísticas, o autor preferiu utilizar o ponto, reservando o uso dos dois-pontos para introduzir, com bastante destaque, outra sequência explicativa que aparece depois. Outra forma de pontuar “Em forma gasosa, o hidrogênio é o combustível perfeito. Ele pode ser extraído facilmente de uma fonte inesgotável (os oceanos), libera muita energia ao reagir com o oxigênio e não polui, pois o único resíduo da reação é a própria água. Seria perfeito se não fosse um detalhe: não dá para usar em carros porque é difícil de armazenar com segurança. Ao menor contato com o ar ele explode.” Ou ainda: “Em forma gasosa, o hidrogênio é o combustível perfeito. Ele pode ser extraído facilmente de uma fonte inesgotável (os oceanos), libera muita energia ao reagir com o oxigênio e não polui, pois o único resíduo da reação é a própria água. Seria perfeito se não fosse um detalhe: não dá para usar em carros porque é difícil de armazenar com segurança, uma vez que, ao menor contato com o ar, ele explode.” Observação: Alterando-se a pontuação, desloca-se o foco para aquilo que o falante quer realçar. Outro exemplo: “A fé remove montanhas. De dólares.” Comentário: O enunciado deveria estar assim pontuado: “A fé remove montanhas de dólares.” Já que o termo (dólares) se refere a montanhas, exercendo a função sintática de adjunto adnominal. Estilo Por questões de estilo, o autor faz intencionalmente uma pausa bastante intensa entre o nome (montanha) e seu adjunto (de dólares) e assinala, na escrita, por meio de um ponto. A utilização desse sinal entre esses dois termos põe em destaque duas unidades de sentido, em vez de uma unidade só. Compare: A fé remove montanhas de dólares. A fé remove montanhas. De dólares. Observação: Separando (montanhas) e (de dólares), ele consegue surpreender o leitor, que, depois de uma pausa longa marcada pelo ponto, depara com um enunciado que confere um sentido inesperado à já conhecida frase. “A fé remove montanhas.” Expressão: É evidente que, regida dessa forma, a informação é muito mais expressiva do que “A fé remove montanhas de dólares”, uma vez que, sem a pausa, o adjunto adnominal não tem o mesmo caráter surpreendente que adquire quando colocado depois de um ponto, formando uma nova frase.