MATRIZES CURRICULARES DO BRASIL MARISTA ÁREA MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS Brasília, dezembro de 2012. EXPEDIENTE DIRETORIA Diretor – Presidente: Ir. Arlindo Corrent Diretor-Tesoureiro: Ir. Délcio Afonso Balestrin Diretor-Secretário: Ir. José Wagner Rodrigues da Cruz SECRETÁRIO EXECUTIVO Ir. Valdícer Civa Fachi ÁREA DE MISSÃO Coordenador: Ir. José de Assis Elias de Brito Assessores: João Carlos de Paula, Mércia Maria Silva Procópio, Leila Regina Paiva de Souza Analista: Deysiane Farias Pontes COMISSÃO DE EDUCAÇÃO BÁSICA Bárbara Pimpão Ir. Gilberto Zimmermann Costa Ir. Iranilson Correia de Lima Ir. José de Assis Elias de Brito Ir. Paulinho Vogel Isabel Cristina Michelan Azevedo Jaqueline de Jesus João Carlos Puglisi Maria Waleska Cruz Mércia Maria Silva Procópio Silmara Sapiense Vespasiano Simone Engler Hahn GRUPO MATRIZES CURRICULARES DO BRASIL MARISTA ÁREA DE MATEMÁTICA E SUAS TECNOLOGIAS Coordenação Técnico-Científica do Projeto Mércia Maria Silva Procópio Apoio às Coordenações João Carlos de Paula Coordenação da Área Saionara Goulart Dalpiaz – PMRS MATEMÁTICA Grupo de escrita colaborativa Astésia Costa Zaranza – PMBCN Brasília, dezembro de 2012. Flávio Antonio Sandi – PMBCS Joaquim da Silva Corrêa – PMBCN Luciano Miraber Centenaro – PMRS Maria Angélica Sesti Rochedo– PMBCS Nelson Luiz Felipe Coelho – PMBCS Colaboradores Bruno Marx de Aquino Braga – PMBCS Maria Elvira Jardim Menegassi – PMRS Sandro Porto Praça – PMBCS Shighiru Kamiya Brasília, dezembro de 2012. SUMÁRIO Apresentação Apresentação da Área de Conhecimento: Matemática I Componente Curricular: Matemática 1. Concepção de Objeto de Estudo 2. Eixos Estruturantes do Objeto de Estudo 2.1 Eixo: Contextos e significados matemáticos 2.2 Eixo: Linguagem matemática 2.3 Eixo: Investigação matemática 3. Diagrama do Componente Curricular 4. Macrocompetências do Componente Curricular 5. Mapa da Dinâmica e da Organização Curriculares 5.1 Anos iniciais do Ensino Fundamental 5.2 Anos finais do Ensino Fundamental 5.3 Ensino Médio 6. Aprendizagem em Matemática 7 Metodologias de ensino-aprendizagem em Matemática 8. Concepção de Avaliação do Componente Curricular Glossário Referências Brasília, dezembro de 2012. APRESENTAÇÃO As Matrizes Curriculares, emanadas do Projeto Educativo do Brasil Marista, constituem-se uma malha/teia curricular que apresenta interconexão entre os conhecimentos, saberes, valores, discursos e competências a serem construídos pelos estudantes maristas no seu percurso formativo, bem como formaliza as intencionalidades e as políticas curriculares da Rede Marista de Educação Básica. Nesse sentido, as Matrizes Curriculares do Brasil Marista querem garantir a função social e a missão educativo-evangelizadora da escola Marista, à medida que definem as políticas curriculares e traçam percursos de qualificação dos processos educacionais e das práticas educativas. Apresentam-se como uma resposta às necessidades concretas da escola Marista no Brasil e ao apelo do 21º Capítulo Geral do Instituto Marista: “Sentimo-nos impelidos a agir com urgência para encontrar formas novas e criativas de educar, evangelizar e defender os direitos das crianças e jovens pobres, mostrando-nos solidários com eles” (Conclusões do XXI Capítulo Geral, 2009, p. 25). A resposta a esses apelos, na perspectiva da educação formal, implica construção de currículos articulados às demandas formativas dos sujeitos e às exigências das sociedades e aos cenários contemporâneos, assim como aos novos estatutos epistemológicos das ciências e aos desafios de materializar os princípios da educação integral, libertária e evangelizadora. Compreendendo que uma resposta dessa natureza exige a construção coletiva e o protagonismo dos educadores e educadoras maristas, enquanto sujeitos da educação, as Matrizes foram elaboradas numa relação dialógica, marcada por negociações e acordos, construção de desejos e sonhos coletivos, leitura do mundo e da palavra dos educadores e dos estudantes, criação, inovação e respeito à diversidade cultural das Províncias do Brasil. Brasília, dezembro de 2012. Outro aspecto relevante da construção foi a responsabilidade política e o compromisso com as infâncias, adolescências, juventudes e vida adulta, e com a Missão Institucional, revelados na atitude de disponibilidade, de abertura ao outro, pela partilha de conhecimentos e saberes dos professores e professoras do Brasil Marista e pela generosa atitude de colocar a serviço as competências humanas e técnicas dos sujeitos construtores das Matrizes Curriculares. Sujeitos que, entusiasmados pela missão de educar e evangelizar, construíram uma trajetória coletiva marcada pelo estabelecimento de vínculos, pela partilha de vidas e pela comunhão de sonhos. FINALIDADES As Matrizes Curriculares do Brasil Marista expressam e sistematizam intencionalidades do Projeto Educativo na perspectiva do currículo e tem por finalidades: 1. assegurar a unidade e identidade das políticas curriculares de modo a nortear a produção de currículos e sua gestão, articulando excelência e rigor acadêmico, a formação para a cidadania e a constituição de sujeitos fundados nos valores cristãos; 2. definir uma organização curricular coerente com a missão educativa evangelizadora do Instituto Marista e que responda aos apelos formativos dos sujeitos e do mundo contemporâneo, aos avanços das ciências da educação e aos novos constructos das áreas de conhecimento escolar; 3. delinear os itinerários formativos dos estudantes maristas e a organização dos processos pastoral-pedagógicos referentes à educação formal, na perspectiva da educação integral e da educação de qualidade como direito; Brasília, dezembro de 2012. 4. explicitar os referenciais que sustentam a organização do currículo, as áreas de conhecimento, os objetos de ensino-aprendizagem, as práticas pedagógicas, a gestão da aula e do conhecimento e os processos de avaliação, de modo a articular as concepções teóricas às práticas educativas; 5. orientar a formação continuada de professores e gestores da educação básica para o desenvolvimento de competências humanas, políticas e técnicas necessárias à implementação das Matrizes Curriculares e ao aprimoramento dos serviços educacionais; 6. qualificar a prática educativa, a gestão da aula, as situações de ensinoaprendizagem e os processos de avaliação pedagógica, com base em referenciais teórico-metodológicos definidos como opções institucionais; 7. estabelecer referenciais para planejar, significar, concretizar e avaliar o currículo, constituindo-se como instrumento para a ação docente e para a gestão educacional que garantam a função social da escola e a missão educativo-evangelizadora da Instituição Marista. DIMENSÃO EVANGELIZADORA DAS MATRIZES O Projeto Educativo Marista tem por escopo a formação de “bons cristãos e bons cidadãos”, conforme o sonho de São Marcelino Champagnat, especialmente para aquelas crianças, jovens e adultos que, histórica e socialmente, foram privados dos direitos humanos básicos. Champagnat (p. 36) afirma ainda: “Somos todos convocados a ser presença evangelizadora, colocando Jesus Cristo como centro sobre o qual se fundamentam os nossos valores e nossas ações”. Continua: “o núcleo da nossa ação é tornar Jesus Cristo conhecido e amado”, e finaliza dizendo ser essa a essência do Projeto Educativo do Brasil Marista. Brasília, dezembro de 2012. As Matrizes Curriculares, sendo uma forma peculiar de concretizar este Projeto Educativo, tem como propósito educar o olhar, a mente e o coração das crianças, jovens e adultos, para gerar vida e vida em plenitude, segundo o projeto de Cristo. Possibilita conscientizar os sujeitos da escola para o compromisso de cultivar as capacidades e potencialidades pessoais, para ter melhor vida e condição de cuidar da vida, da natureza e das pessoas em todas as suas dimensões, assim como olhar os conhecimentos como produção coletiva da humanidade e a serviço do bem comum. Considera o cultivo dos valores estéticos, culturais, políticos e éticos; os valores maristas da humildade, da simplicidade, do espírito de família, da solidariedade e os valores evangélicos da justiça, da paz, da fraternidade, do amor e do serviço como condições para uma vida realizada e feliz dos educadores e estudantes, e, consequentemente, desafia, incentiva a prática desses valores no espaçotempo da escola. Cria situações e aponta para a importância e necessidade do conhecimento escolar organizado no currículo; de estabelecer relações com o sobrenatural, com o divino, quer tenha o nome de Deus, Alá, Tupã ou qualquer outro nome, e a seguir os ensinamentos espirituais como caminho para fundamentar nos estudantes o sentido da vida. As Matrizes, portanto, organizam conhecimentos, competências e valores selecionados com a intenção de cumprir a missão específica da escola Marista, ressaltando que não é qualquer conhecimento, qualquer metodologia nem qualquer valor que respondem aos desafios de evangelizar pelo currículo. Portanto as escolhas curriculares apresentadas na Matriz querem articular os valores do Evangelho de Cristo aos conhecimentos e saberes escolares na formação integral das crianças, jovens e adultos. Brasília, dezembro de 2012. DIREITOS HUMANOS E MATRIZES MARISTAS A escola é sem dúvida um espaçotempo privilegiado de socialização e, portanto, de desenvolvimento de novos valores culturais. A escola Marista tem como missão formar cidadãos humanos, éticos, justos e solidários para a transformação da sociedade, por meio de processos educacionais fundamentados nos valores do Evangelho, do jeito Marista de educar. No Projeto Educativo do Brasil Marista, a construção do currículo é um processo coletivo. Ou seja, ele não é construído para, mas pelos diversos sujeitos que compõem o processo. Os currículos são pensados de maneira a ultrapassar as concepções cientificistas e prescritivas, não se constituem, portanto como natural, fixos, absolutos, mas são uma síntese resultante da tomada de decisão dos sujeitos da educação, dos espaçotempos de aprendizagens. Ressalta-se também no Projeto Educativo a importância de delinear os itinerários formativos dos estudantes maristas e a organização dos processos pastoralpedagógicos referentes à educação formal, na perspectiva da educação integral e da educação de qualidade como direito. O XXI Capítulo Geral convida a todos que trabalham em centros educativos e centros sociais para que “animem seus alunos a transformar seus corações, suas vidas e atividades, a fim de crescerem como pessoas comprometidas na construção de uma sociedade justa e solidária e a promover os direitos das crianças e jovens, empenhando todos os âmbitos do nosso instituto na defesa desses direitos. Para tanto, é fundamental que esteja presente no processo de planejamento de suas ações o referencial de que tipo de pessoas e que mundo queremos. Nesse sentido, a introdução do conteúdo dos Direitos Fundamentais e de forma mais ampla dos Direitos Humanos (DH) pode e deve representar uma grande diferença nesse processo de formação. Brasília, dezembro de 2012. É possível estabelecer um processo contínuo de conhecimento dos DH internacionalmente instituídos e, com base nisso, prever novas metodologias que possam dar conhecimento sobre o tema e, especialmente, formar seres humanos mais voltados para a coletividade. O desenvolvimento dessa chamada cultura dos direitos pressupõe um processo de diálogo entre os DH e todos os demais saberes, metodologias e práticas de formação. Com base no Plano Nacional de Educação em DH, a escola pode contribuir para esse mundo novo, introduzindo de forma efetiva o tema em seu currículo e desenvolvendo ações educativas que promovam uma cultura dos DH, no espaço escolar que, certamente, irão reverberar para a vida desses meninos e meninas e para a construção de uma nova sociedade. Esse processo pode instituir na escola uma metodologia de prevenção às práticas de intolerância e discriminação que hoje estão presentes e precisam de uma ação eficaz e rápida. O desenvolvimento de temas como direitos e garantias individuais e coletivas, diversidade sociocultural, gênero, raça/etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiências podem contribuir, criando um ambiente de respeito ao outro, à diferença e, portanto de inclusão de todos. Assim, é fundamental que a educação em DH seja incluída no projeto pedagógico de cada unidade escolar, de forma a contemplar ações fundadas nos princípios de convivência social harmônica, participação, autonomia emancipatória e democracia. Mas, como efetivamente garantir esse conteúdo nas ações do cotidiano escolar? Propõe-se a inclusão da Educação em/para os DH em todo o currículo escolar. É necessário compor projetos pedagógicos voltados para a garantia dos DH, não somente na formulação e diálogo dos conteúdos, mas nas práticas pedagógicas que fomentem uma cultura de direitos. Brasília, dezembro de 2012. De acordo com o Plano Nacional de Educação em DH, “Constituem exigências fundamentais para a educação básica: favorecer desde a infância a formação de sujeitos de direito e priorizar pessoas e grupos excluídos, marginalizados e discriminados pela sociedade”. É nesse sentido que esse tema se situa, tendo como referenciais os princípios contidos nos documentos nacionais e internacionais, especialmente a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção sobre os Direitos da Criança e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Corroborando com os princípios e diretrizes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei no 11.525/07, preconiza que “os preceitos contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA deverão ser transmitidos aos alunos pelos professores das disciplinas já existentes”. O objeto de estudo e diálogo que se propõe é, de forma ampla, os DH formalmente instituídos nos documentos nacionais e internacionais, sua construção histórica e sua vivência no cotidiano, com foco no público de crianças, adolescentes e jovens. Para efeitos dessa proposta, é importante que seja utilizada a categorização de direitos utilizada na Convenção sobre os Direitos da Criança, na Constituição Federal e no ECA, para a construção de conteúdos didáticos que elaborem o pensamento a partir de quatro grandes eixos de direitos da criança, e do adolescente e do jovem: à vida, ao desenvolvimento, à proteção e à participação. Ressalte-se que esta formulação não poderá excluir quaisquer outros direitos dispostos nos distintos tratados internacionais de DH, tais como: o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (1966), o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), a Convenção para eliminação de todas as formas de discriminação racial (1965), a Convenção para eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (1979), a Convenção contra a tortura (1984) e a Convenção para proteção dos direitos do trabalhador migrante (1990). Brasília, dezembro de 2012. Propõe-se, ainda, o diálogo sobre o tema dentro de um processo sistemático e orientado de forma a contribuir para a formação do sujeito de direito e a efetivação de uma cultura emancipatória e participativa. Certamente, a inclusão do tema da garantia dos DH nas Matrizes Curriculares do Brasil Marista fortalece a função social e a missão educativo-evangelizadora da escola Marista e, especialmente, qualifica os processos educacionais e as práticas educativas como elementos necessários para a garantia do direito a uma educação de qualidade. SOLO EPISTEMOLÓGICO DAS MATRIZES CURRICULARES DO BRASIL MARISTA CONCEPÇÃO DO CURRÍCULO No Projeto Educativo do Brasil Marista, o currículo é concebido como um sistema complexo e aberto que articula, em uma dinâmica interativa, o posicionamento político da Instituição, suas intencionalidades, contextos, valores, redes de conhecimentos e saberes, aprendizagens e os sujeitos da educação/aula/escola. No currículo, estabelecem-se os espaços de aprendizagem e os modos de orientar as políticas e práticas educativas, que se constroem nas tramas do cotidiano escolar. A construção do currículo é um processo coletivo. Ou seja, ele não é construído para, mas pelos diversos sujeitos que compõem o processo. É importante ressaltar que o currículo pode ser pensado ainda como um entrelaçamento de múltiplos signos e significados, de certezas e incertezas, de instituídos e instituintes, ultrapassando as concepções cientificistas e prescritivas. Embora deva ter clara sua intencionalidade, o currículo não se constitui como natural, fixo, absoluto, mas é uma síntese resultante da tomada de decisão dos sujeitos da educação, dos espaçotempos de aprendizagens. O currículo é espaço de relações que produz conhecimentos, saberes, valores e identidades e caracteriza-se como prática produtora de sujeitos Brasília, dezembro de 2012. do espaçotempo da escola. Não é isento de interesses, de intenções; ao contrário, é um campo no qual decisões políticas são tomadas, lutas culturais por significados são travadas, tensões entre diferentes visões de mundo estão presentes. É também espaço social em que ocorrem movimentos de aproximação, afastamento e entrelaçamento, no qual se produzem e reproduzem conhecimentos, valores, significados, negociações, acomodações, contestações, resistências, uma pluralidade de linguagens e de objetivos. Um currículo aberto à contemporaneidade social, cultural, artística, científica e tecnológica favorece a reflexão crítica, a construção do saber, as experimentações com e na diferença; potencializa a compreensão, a produção e o uso de múltiplas linguagens; inclui temas culturais e temas emergentes da sociedade. O Projeto Educativo do Brasil Marista desenha um currículo em que os contextos, conhecimentos, linguagens, significados, racionalidades e sujeitos sejam problematizados e que possibilita desnaturalizar formas socialmente validadas de ser professor e estudante. Compreende o currículo como dinâmica que seleciona, inclui e organiza as experiências educativas sob responsabilidade da escola e de seus sujeitos, de modo a efetivar suas teorizações e concepções e a atualizar nossa missão nos cenários contemporâneos. Um currículo dessa natureza – aberto às diferentes formas de pensar e viver o mundo – configura-se como um mapa-roteiro conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível a modificações. Diferente de currículo como sinônimo de grade, assemelha-se mais a uma teia ou rede. CONCEPÇÃO DE APRENDIZAGEM Aprendizagem é um processo intra e intersubjetivo que produz saberes, artefatos, fazeres e identidades e se fundamenta numa visão de pessoa como sujeito ativo em complexas interações, interesses, contextos sociais e culturais e experiências de vida. É um movimento dinâmico de reconstrução do objeto de conhecimento pelo sujeito e de modificação do sujeito pelo objeto, com base em estratégias próprias de conhecer. Nesse processo, interagem dimensões formadoras, valores, culturas, Brasília, dezembro de 2012. saberes e conhecimentos. Aprendizagem é mais do que aquisição ou apreensão da rede de determinados corpos de conhecimentos conceituais socialmente considerados relevantes e organizados nos componentes curriculares. É, sobretudo, modificação desses conhecimentos, criação e invenção de outros necessários para entender aquilo a que damos o nome de realidade. Trata-se de um percurso orientado e inteligível, alicerçado em intencionalidades e critérios definidos, por meio dos quais se devem produzir dinâmicas próprias que auxiliem o estudante a conferir significados aos acontecimentos, experiências e fenômenos com que se depara cotidianamente e a se reconhecer como protagonista na internalização e (re)construção dos saberes. A aprendizagem assume diferentes perspectivas não lineares, mas complementares e inter-relacionadas, tais como: • aprendizagem consciente: o sujeito responsabiliza-se por sua aprendizagem, agindo como autorregulador no seu processo formativo; • aprendizagem cooperativa: envolve a atuação coletiva, em que a participação do grupo gera e amplia os questionamentos e resultados na construção do conhecimento; • aprendizagem continuada: processo continuum gerado pelas demandas contextuais, que criam a necessidade de atualização, elaboração, reelaboração e processamento de conhecimentos e de formas de conhecer; • aprendizagem interdisciplinar: possibilita uma compreensão globalizadora dos objetos de estudo e das realidades, estabelecendo nexos entre os conhecimentos; • aprendizagem contextualizada: favorece a apreensão de aspectos socioculturais significativos ligados ao cotidiano e às circunstâncias que atravessam/compõem os objetos de estudo; • aprendizagem significativa: ocorre por meio da vinculação de novos conhecimentos aos que já fazem parte do repertório do sujeito, desenvolvendose uma rede de significados em permanente processo de ampliação. A cada nova interação, um novo sentido é produzido e a compreensão e o estabelecimento de relações são potencializados; Brasília, dezembro de 2012. • aprendizagem como síntese pessoal: resulta da relação sujeito−objeto do conhecimento mediada pelas realidades. Produz uma construção pessoal e singular de saberes e conhecimentos e formas próprias de comunicá-los e darlhes significados. CONCEPÇÃO DE AVALIAÇÃO A avaliação é prática pedagógica que tem como finalidade o diagnóstico e o acompanhamento contínuo e reflexivo do desenvolvimento do currículo e do processo de ensino-aprendizagem. A avaliação baliza, legitima, regula e emancipa o processo de ensino-aprendizagem. Portanto, é fundamental atentarmos às trajetórias de ensino e de aprendizagem e às relações que estão sendo estabelecidas no processo avaliativo. Os processos avaliativos devem: • do ponto de vista docente, servir para analisar e compreender as estratégias de aprendizagem utilizadas pelos estudantes, acompanhar e comunicar os resultados do processo de aprendizagem, dar um feedback individualizado aos estudantes e afirmar, (re)orientar e regular as ações pedagógicas; • do ponto de vista do estudante, possibilitar a percepção das conquistas obtidas ao longo do processo e desenvolver processos metacognitivos que compreendam a consciência do próprio conhecimento e a regulação dos processos de construção do conhecimento. A ação de avaliar consiste num processo que deve ser sistemático, compartilhado e demanda assertividade, organização, sensibilidade e criticidade. Em relação aos tempos e movimentos de ensinar e aprender, as estratégias e os instrumentos avaliativos devem ser diversificados, diferenciados, coerentes e adequados, de forma a garantir a qualidade da educação. Dentre as estratégias e instrumentos, destacamos a autoavaliação docente e discente, as pautas de observação, portfólios, relatórios, chave de leitura, construção de protótipos e modelos, provas, testes, produção em múltiplas linguagens (vídeos, textos orais, escritos, visuais, digitais, etc.) e exercícios. Os dados resultantes do conjunto de estratégias e instrumentos avaliativos devem ser sistematizados e registrados de tal forma que subsidiem o acompanhamento Brasília, dezembro de 2012. individualizado dos estudantes, a tomada de decisão e o gerenciamento da dinâmica curricular. ELEMENTOS CONSTITUINTES DAS MATRIZES DINÂMICA E ORGANIZAÇÃO DAS MATRIZES DO BRASIL MARISTA As Matrizes Curriculares do Brasil Marista foram construídas pela comunidade escolar, considerando as orientações legais e a especificidade de cada local, sem deixar de considerar que o respeito à circularidade do currículo favorece o desenvolvimento de distintas experiências de aprendizagem sob a orientação de políticas e práticas educativas que emergem da tessitura do dia a dia da escola. As Matrizes Curriculares estão organizadas nas grandes áreas de conhecimento e seus componentes curriculares, considerando a viabilidade de combinação de diferentes variáveis em detrimento da linearidade de elementos, constituindo-se em um referencial teórico que oferece subsídio para a operacionalização do currículo. A incorporação de temas culturais ao currículo e, por consequência, ao planejamento põe em relevo o trabalho com saberes de diferentes culturas, ou seja, explora os espaços da pluralidade e das diferenças em que se produzem relações de saber-poder. Nessa organização, a Matriz interage com o conhecimento de forma abrangente, assegurando o respeito às diversidades regionais, permitindo infinitas possibilidades no desenvolvimento dos conteúdos, além de oportunizar experiências diversificadas, que favorecem a otimização dos espaços para o desenvolvimento das atividades e a (re)adequação do espaçotempo escolar. Essa dinâmica avança na superação do isolamento e da autonomia dos componentes curriculares e abre a possibilidade de diálogo, interconexão e convivência entre eles, compondo áreas de conhecimento mais amplas. As Matrizes Curriculares do Brasil Marista tiveram o desafio de, na sua composição, levar em conta três dimensões. A primeira refere-se à influência e interdependência entre teorizações, concepções, objetos de estudo e os contextos nos quais são significados. A segunda refere-se à organização curricular integrada, que valida e Brasília, dezembro de 2012. viabiliza a concretização das opções político-pedagógico-pastorais assumidas no Projeto Educativo do Brasil Marista (2010, p. 91). A terceira dimensão refere-se aos conteúdos curriculares relevantes. Considerando os desafios apresentados, a estrutura das Matrizes atendeu à seguinte organização: Apresentação da área de conhecimento Objeto de Estudo Concepção assumida pela Matriz Eixos Estruturantes do Objeto de Estudo Macrocompetências do Componente Mapa da Dinâmica e da Organização Curriculares Anos Iniciais do Ensino Fundamental Anos finais do Ensino Fundamental Ensino Médio Aprendizagem Metodologias de ensino-aprendizagem Concepção de Avaliação do Componente Curricular Glossário Referências Para concretização e utilização das Matrizes, são necessários que os conceitos fundamentais: Objeto de Estudo, Eixo Estruturante, Conteúdo Nuclear e Competências sejam incorporados na prática educativa. Esses conceitos, quando internalizados e assumidos pelos sujeitos do processo ensinoaprendizagem, garantem a organicidade, a dinâmica, a complexidade e as várias possibilidades de trabalhar o currículo, oferecendo avanços significativos na formação integral do sujeito da educação marista. Brasília, dezembro de 2012. CONCEITOS FUNDAMENTAIS OBJETO DE ESTUDO Para alcançarmos um alinhamento conceitual sobre objeto de estudo, devido à sua natureza polissêmica, necessário se faz circunscrevermos o termo no complexo contexto em que o estamos utilizando. Para isso, alguns recortes epistemológicos e metodológicos serão necessários. Primeiramente, indicamos que o termo está relacionado à construção das Matrizes Curriculares de Educação Básica do Brasil Marista, com forte matiz nas teorias críticas e pós-críticas de currículo, e a uma concepção de ensino-aprendizagem notadamente sociointeracionista, quando se trata da construção do conhecimento, aliado à construção de valores ético-cristãos. Destaca-se ainda que a referida abordagem diz respeito ao objeto de estudo como um dos elementos presentes na composição do currículo marista. Na relação sujeito aprendente, objeto de estudo e mediação do professor é importante alinharmos o que concebemos por cada um dos componentes dessa relação e como eles se constituem nela. A abordagem aqui assumida é a de que tais elementos serão definidos na e para relação de interdependência, que geram a sua constituição e que não são tomados de modo isolado. Assim, definiremos objeto de estudo com base na relação do sujeito aprendente que interage e aborda o mundo, a partir de sua totalidade e inteireza, delineadas por sua corporeidade-cognição-afetividade-espiritualidade e que se apropria de conhecimentos escolares, mediados pela cultura e pela ação docente e de seus pares. Objeto de estudo é aqui definido como um campo complexo de saber composto por suas redes conceituais, seus discursos, sistemas de valores e seus condicionantes sócio-históricos, selecionados com base em uma intencionalidade educativa Brasília, dezembro de 2012. decorrente dos princípios e valores institucionais maristas. Destaca-se também que, na opção adotada, os objetos de estudo se inscrevem em uma área de conhecimento, caracterizando-se como seus elementos constituintes e constituidores, e representa, portanto, um recorte epistemológico da ciência ou campo de conhecimento do qual faz parte e é transposto para a realidade escolar como essencial à formação do estudante marista. Metodologicamente, o objeto de estudo representa as construções e apropriações conceituais, tecnológicas e ético-valorativas a serem desenvolvidas/constituídas pelos estudantes nos processos escolares. Tais apropriações implicam uma ação sistemática do sujeito aprendente e da mediação docente de modo a garantir aquisições/construções cada vez mais abrangentes, significativas e complexas acerca do objeto. Constitui-se, portanto, a centralidade do contrato didático assumido pelos sujeitos da aula. EIXO ESTRUTURANTE O termo eixo remete-nos à direção ou linha que atravessa o objeto e em torno do qual faz seu movimento. Na Matriz Curricular Marista, o eixo estruturante é elemento constituinte do objeto de estudo que organiza os conhecimentos, os saberes, as habilidades e as competências significativos dos componentes curriculares. São mecanismos integrativos oferecidos pelos fundamentos epistemológicos e históricos que embasam a diversidade e a singularidade de cada componente curricular e de cada objeto. Nessa perspectiva, os eixos estruturantes resultam das concepções do objeto de estudo. Eles são agregadores de conteúdos nucleares e sustentam o desenvolvimento e o desdobramento dos conteúdos curriculares. Desse modo, ele articula os fenômenos e processos básicos do componente curricular ao longo da educação básica na Rede Marista. Brasília, dezembro de 2012. Por meio dessa articulação busca-se estabelecer uma base comum que potencialize a gestão do processo pedagógico que favoreça uma visão ampla do processo de construção do conhecimento do objeto em estudo, possibilitando a inserção do aluno em diferentes contextos culturais e sociais, de forma integrada às situações cotidianas e às possibilidades de significar o mundo. COMPETÊNCIAS Capacidade de construir e mobilizar diversos recursos para interagir e intervir em situações complexas de modo a resolver problemas e alcançar objetivos derivados de projetos pessoais e coletivos. Competência é um conceito integrador, que mobiliza − em múltiplas realidades e contextos − estruturas cognitivas, conhecimentos, conteúdos, saberes, experiências, valores, linguagens, habilidades, entre outros. CATEGORIAS DE COMPETÊNCIAS Competência acadêmica Diz respeito à construção, investigação, sistematização e comunicação de saberes, conhecimentos, linguagens, tecnologias, configurados como conteúdos curriculares (conjunto de conceitos, discursos, valores, condicionantes sócio-históricos do objeto de estudo). Competência tecnológica Diz respeito à apropriação e manejo de artefatos/produções culturais que geram e articulam significados, formas de conhecer e formas de inter-relacionamento dos sujeitos no mundo e com o mundo. Competência ético-estética Diz respeito à construção de valores e atitudes na perspectiva ética e estética, fundamentados no Evangelho e concretizados no desenvolvimento de uma cultura do cuidado, da solidariedade e da paz e na luta pela promoção e defesa dos direitos humanos. Brasília, dezembro de 2012. Competência política Diz respeito à mobilização de conhecimentos, habilidades e valores para intervenção nos espaçotempos sociais com base na análise critica de diferentes concepções e projetos posicionando-se eticamente em relação a eles. Compreende também a capacidade de participar de processos de negociação e de decisão em diferentes âmbitos. CONTEÚDO NUCLEAR Falar sobre conteúdos de ensino na escola Marista exige uma reflexão sobre a finalidade e o tratamento deste importante componente do planejamento de ensino. O conteúdo é meio para alcançar a concretização dos fins visados pelo processo de ensino-aprendizagem. Nas Matrizes Curriculares do Brasil Marista, os conteúdos nucleares são a organização de um dado conjunto de conceitos, discursos, valores, condicionantes sócio-históricos, sistematizados ao longo do currículo de educação básica nos processos de ensino-aprendizagem. Eles se organizam com base nos eixos estruturantes constitutivos do objeto de estudo do componente curricular. Os conteúdos nucleares são geradores de novos recortes epistemológicos do próprio conteúdo nuclear, favorecendo a apropriação do objeto em sua complexidade, em um movimento cíclico e ascensional. Em função dos objetivos propostos da Matriz Curricular, do objeto de estudo e dos eixos estruturantes desse objeto e dos conteúdos nucleares, o professor planeja o desdobramento dos conteúdos, os processos de ensino-aprendizagem e os processos avaliativos decorrentes. Brasília, dezembro de 2012. DINÂMICA DAS MATRIZES NO ESPAÇOTEMPO DA ESCOLA A abordagem das áreas de conhecimento e de seus componentes curriculares, nas matrizes do Brasil Marista, tem como pressuposto a produção de conhecimentos interdisciplinares e contextualizados. Com a intenção de organizar, dinamizar, potencializar o currículo integrado da escola Marista, as Matrizes fundamentam o planejamento e viabilizam o diálogo entre as áreas do conhecimento, entre os componentes curriculares e abre a possibilidade para a interlocução das áreas com os temas culturais e com a organização do currículo por projetos. Tal perspectiva de organização do currículo exige, por parte dos sujeitos da escola, a criação de redes e teias curriculares que favoreçam as conexões entre saberes, valores, conhecimentos e especificidades conceituais, discursivas, procedimentais dos componentes curriculares de modo a produzir perspectivas sistêmicas e amplas de conhecer, problematizar, pensar, dizer e viver as realidades. Essa abordagem é fundamental para o tratamento dos conteúdos escolares de forma mais abrangente e articulada, assim como favorece a problematização da realidade, pois, no currículo, a vida, o mundo, as realidades e as diferentes culturas são reconhecidas como saberes escolares. Portanto, a incorporação de temas culturais ao currículo enfatiza o trabalho com saberes de diferentes culturas, ou seja, explora os espaços da pluralidade e das diferenças em que se produzem relações de saber-poder e mantém o currículo sempre em aberto, sujeito às marcas dos espaçotempos em que vivemos e nos quais nos constituímos sujeitos da educação, da escola, da aula e do currículo. Ao considerar professores e estudantes como sujeitos produtores de currículo e da aula, a organização em grandes áreas de conhecimento não invalida, ao contrário, possibilita a dinamização do currículo por meio de projetos. Nessa forma de organização, a dinâmica curricular possibilita reorientar e reorganizar os itinerários Brasília, dezembro de 2012. de construção do conhecimento e trabalhar o conteúdo e seus contextos na globalidade, por meio de acordos éticos baseados tanto no que os estudantes querem saber, como em suas necessidades formativas. As grandes áreas de conhecimento com seus discursos e tecnologias fornecem importantes substratos para que os projetos ganhem consistência epistemológica e respondam a uma intencionalidade relativa à construção de valores, de conhecimentos e de competências. Em relação à gestão curricular, as Matrizes se constituem em referenciais para a produção do planejamento compartilhado, cuja dinâmica se faz no uso de diferentes metodologias, linguagens, mídias e tecnologias, e que se vai instituindo na abertura às demandas dos sujeitos, às realidades e às culturas. Nesse movimento processual, o contrato didático se torna elemento fundamental ao compartilhamento da gestão curricular, pois é uma estratégia reguladora da relação didática construída na interação entre os estudantes, os saberes e o professor. Assim, a operacionalização do trabalho pedagógico se dará sempre no diálogo entre as proposições das Matrizes e as diferentes realidades, sujeitos, culturas e desejos. Brasília, dezembro de 2012. APRESENTAÇÃO DA ÁREA DE CONHECIMENTO A Matemática não é algo que diz respeito a números, mas sim à vida. Ela é algo que nasce do mundo em que vivemos. Lida com ideias. E, longe de ser aborrecida e estéril, como muitas vezes é retratada, ela é cheia de criatividade (DEVLIN, 2005, p. 98). A Matemática é uma ciência que se desenvolveu a partir da observação e do estudo da natureza e seus fenômenos, que apresentam regularidades ou que podem ser aproximados por situações regulares. O conhecimento matemático possibilitou a investigação, a representação e a comprovação desses fenômenos por meio de uma linguagem particular. A Matemática possui em seus elementos a lógica e a intuição, a análise e a construção, a generalidade e a particularidade. O reconhecimento da realidade a ser estudada, a formulação de hipóteses, a consequente argumentação e a avaliação da situação investigada evidencia a Matemática como uma ciência dinâmica e em constante evolução. Como processo de construção humana, produzida nas relações políticas, históricas e sociais no campo de possibilidades de uma determinada época, a ciência Matemática pode ser vista como produto da cultura. Cultura compreendida, conforme o Projeto Educativo do Brasil Marista, como “produções humanas, materiais e simbólicas espaçotemporalmente situadas, permeadas por relações de poder e de produção de sentidos e significados” (UMBRASIL, 2010, p. 54 ). Presente em nossa cultura por meio da contagem, das medições e suas técnicas, da estatística, da probabilidade, das diferentes geometrias, na economia, nas artes, nas mídias, entre outros, o conhecimento matemático não está restrito às exigências das aplicações no cotidiano e tampouco às questões empíricas das outras áreas; é um conhecimento que tem estrutura e linguagem próprias. É importante considerar que, ao transcender a utilidade imediata, criam-se sistemas e padrões abstratos, e que a linguagem matemática como um conjunto de símbolos e códigos com sintaxe e Brasília, dezembro de 2012. semântica próprias traduz os padrões presentes em situações e fenômenos, de forma clara e exata. Demarcada como área do conhecimento, a Matemática apresenta, conforme aponta Maria Alice Gravina (1998), duas características distintas que permanecem em constante relação: - é ferramenta para o entendimento de problemas nas mais variadas áreas do conhecimento. Fórmulas, teoremas e, mais geralmente, teorias matemáticas são usadas na resolução de problemas práticos e na explicação de fenômenos nas mais variadas áreas do conhecimento. Neste sentido, o aspecto importante é a aplicabilidade da Matemática. - é desenvolvimento de conceitos e teoremas que vão constituir uma estrutura matemática. O objetivo é a descoberta de regularidades e de invariantes, cuja evidência se estabelece pela demonstração baseada no raciocínio lógico e mediada tão somente pelos axiomas de fundamentação da estrutura e teoremas já destes deduzidos. É investigação no plano puramente matemático. Conceber a Matemática somente por meio das características citadas pode levar à limitação do conhecimento matemático como puramente racional. É preciso desmistificar essa ideia, uma vez que sua aquisição se dá também por meio da emoção, uma racionalidade estética, entendida como a ciência do conhecimento sensível (COURANT & ROBBINS, 2000). Podemos citar como valores estéticos da Matemática a simetria, a forma, a perfeição, a simplicidade e outros. A observação e estudo da simetria na natureza é uma experiência estética matemática que acontece pelo prazer da apreensão do belo, do sensível. Essa capacidade de "sentir/ver" através da experiência com o sensível concebe o saber matemático como algo flexível e maleável, capaz de dialogar e auxiliar na assimilação de diferentes aprendizagens, sejam elas físicas, biológicas ou sociais. Um movimento que possibilita ampliar sua ação assumindo um enfoque inter e transdisciplinar nas relações que estabelece com as demais áreas do conhecimento. Uma ciência viva. A Matemática das relações, das conexões, das intuições e das descobertas. Brasília, dezembro de 2012. COMPONENTE CURRICULAR MATEMÁTICA Brasília, dezembro de 2012. I Componente Curricular: Matemática A Matemática, como componente curricular, tem como objetivo proporcionar aos estudantes a apropriação da linguagem, a construção dos seus conceitos, a relação com as demais áreas do conhecimento, compreendendo a sua importância. Nesse sentido, este componente contribui na construção de competências tais como: capacidade de resolver situações-problema, de investigar, argumentar, entender fenômenos, expressar-se simbolicamente, tomar decisões e elaborar propostas. Mais do que uma listagem de conteúdos, este componente curricular caracteriza-se por desenvolver formas de pensamento mais complexas, fundamentais na construção do conhecimento, na interpretação e na ação sobre a realidade. Nesse sentido, o conteúdo não é considerado como um fim, mas como possibilidade de caminho para o desenvolvimento das competências nos diversos níveis da Educação Básica. Um dos grandes desafios para os professores é encontrar os caminhos que contribuam para que os estudantes desenvolvam competências por meio da apropriação do conhecimento matemático. É preciso mobilizar esse conhecimento para a formação de um sujeito que constitui e sabe que é constituído pelas relações sociais e culturais de seu tempo, cultivando valores éticos e solidários. Ao construir teorias e práticas, valendo-se de seus códigos e conceitos, o pensamento matemático vem auxiliando na formação de cidadãos capazes de refletir com lógica e coerência, posicionando-se de maneira ética e crítica na vida em sociedade. 1. Concepção de Objeto de Estudo O que o matemático faz é examinar “padrões” abstratos – padrões numéricos, padrões de forma, padrões de movimento, padrões de comportamento, etc. Esses padrões tanto podem ser reais como imaginários, visuais ou mentais, estáticos ou dinâmicos, qualitativos ou quantitativos, puramente utilitários ou assumindo um interesse pouco mais recreativo. Podem surgir a partir do mundo à nossa volta, das profundezas do espaço e do tempo ou das atividades mais ocultas da mente humana (DEVLIN, 2002, p. 9). Brasília, dezembro de 2012. A Matriz Curricular de Matemática e suas Tecnologias da Rede Marista de Educação Básica tem como objeto de estudo Regularidades e padrões. Nessa matriz, o conceito de padrão deve ser entendido num sentido amplo, relacionado a qualquer tipo de regularidade que se pode encontrar na natureza ou imaginar. Neste sentido, a palavra padrão remete à ideia de que a Matemática é a ciência dos padrões, da ordem, das estruturas e suas relações lógicas. Segundo Keith Devlin (2005, p. 96): Como estuda padrões abstratos, a matemática muitas vezes nos permite ver – e daí talvez fazer uso de – semelhanças entre dois fenômenos que, à primeira vista, parecem bem diferentes. Assim, podemos pensar na matemática como um par de óculos que nos permitem ver aquilo que de outro modo nos seria invisível. O objeto de estudo da Matemática compreende a identificação e a descrição/tradução dos padrões para a linguagem matemática, por meio das notações, conceitos e procedimentos. Os diferentes padrões relacionam-se aos campos do conhecimento matemático: aritmética e a teoria dos números, geometria e as transformações, a lógica, o tratamento da informação e a álgebra. Desde os anos iniciais, na construção do número, ao classificar e seriar, o estudante, por meio da observação de semelhanças e diferenças entre as características daquilo que deseja conhecer, procura reconhecer regularidades e padrões. Ao estudar números e operações, identifica regularidades, suas ideias, propriedades e algoritmos. Uma operação matemática não é o algoritmo em si, mas as ideias que a constituem, dando origem a esse procedimento. Estimular o estudante a construir suas próprias maneiras de operar e compará-las com as de seus colegas, além de fomentar a capacidade investigativa, possibilita a significação dos algoritmos, na medida em que passam a ter sentido para este estudante. Na geometria, os padrões se tornam ainda mais evidentes, uma vez que, conforme Devlin (2002, p. 111), “o sistema visual e cognitivo do ser humano „procura‟ constantemente padrões geométricos”. Esse campo não compreende apenas o Brasília, dezembro de 2012. estudo das formas, mas também as noções de posição, coordenadas, localização, deslocamentos, transformações geométricas, incluindo noções de topologia. Contempla a construção de modelos geométricos que expliquem situações de todas as áreas de conhecimento, fazendo com que o estudante desenvolva a percepção de que os conceitos aprendidos estão relacionados com problemas da Física, da Arte, da Química, entre outros. Atividades de montar, desmontar, descrever, classificar em relação a determinadas características, medir, quantificar, reconhecer propriedades devem ser propostas, favorecendo ao estudante a construção de suas próprias hipóteses. Na lógica, o processo de abstração se vale dos padrões abstratos expressos na linguagem. Segundo Devlin (2002, p. 45) “uma proposição significa uma frase que é verdadeira ou falsa”. Disso decorre que, neste campo, a noção de verdade e de falsidade desempenha um papel fundamental. O autor assevera que da conjugação de proposições resultam os padrões lógicos que são padrões de verdade e que são apresentados na forma tabular de tabelas-verdade. No campo do tratamento da informação, a probabilidade trabalha os padrões de possibilidades, e a estatística os padrões dos conjuntos de dados. Procedimentos característicos são adotados de acordo com a maneira como são feitas as quantificações, por exemplo, processos combinatórios de contagem, frequências e medidas estatísticas, probabilidades, ou a construção e interpretação de tabelas e gráficos. Desde os anos iniciais, o conhecimento matemático trabalhado no ambiente escolar possibilita a construção de gráficos e tabelas onde os estudantes organizam as informações retiradas de pesquisas realizadas. Gráficos de barras, linhas e setores (pizzas), por exemplo, são ferramentas importantes a serem construídas e analisadas no início da escolarização. No decorrer da caminhada escolar, as formas de tratar, apresentar e interpretar informações coletadas passam a ter maior complexidade, bem como as inferências que podem ser realizadas a partir da leitura de um gráfico qualquer. A busca por regularidades favorece a construção de um ser integral que tenha a possibilidade de ler uma informação no jornal e estabelecer relações com sua vida. Informações estas que podem ser de natureza gráfica, quantitativa, descritiva, entre Brasília, dezembro de 2012. outras. Coletar dados, investigar e quantificar preferências do grupo sobre determinada situação, índices de acertos e erros em uma atividade, estudar consumo de água ou de luz, por exemplo, são situações de aprendizagem que estão permeadas pelo tratamento da informação, levando o estudante a problematizar situações e estabelecer inferências. A álgebra trata de padrões da linguagem, dos símbolos e das operações. A ideia de regularidade apresentada em sequências como as figurais e numéricas, bem como a identificação dos padrões que as relacionam, possibilita generalizações que vão se tornando mais complexas a cada ano da escolaridade. As primeiras algebrizações auxiliam na resolução de situações-problema e na construção da noção de função, conceito que vai sendo formalizado e representado no plano cartesiano ao longo da Educação Básica. A linguagem algébrica e os conceitos desenvolvidos a partir das noções de generalização propostos pela álgebra não se limitam à manipulação de símbolos e técnicas, mas se constituem em uma forma de pensar. Os padrões estão presentes e podem ser estudados em suas interfaces junto a outras áreas do conhecimento utilizando-se da notação matemática. Valendo-se dos fenômenos naturais, artísticos, socioculturais, antropológicos, linguísticos, econômicos, entre outros, é possível perceber padrões abstratos, por exemplo, na observação da simetria da natureza, nas variáveis de uma eleição política, nos acordes e partituras de uma música ou de uma apresentação sinfônica, na órbita dos planetas, nos procedimentos algorítmicos e nas fórmulas, nos sistemas de numeração, entre outras. A existência de regularidades e padrões permite o entendimento de situaçõesproblema, que nem sempre apresentam regularidades, mas que podem ser aproximadas por meio de modelos matemáticos regulares, possibilitando, assim, sua análise e tomada de decisão. As regularidades podem também ser percebidas em situações bem práticas: no valor de uma corrida de táxi, no cálculo de impostos, na curva de crescimento de uma criança, na velocidade de deslocamento de um meio de transporte, etc. Nesses contextos, compete ao professor, além de desafiar seus estudantes na procura de regularidades para a explicação dos fenômenos, a promoção de situações de aprendizagem para que reconheçam padrões, em sua Brasília, dezembro de 2012. forma complexa de pensamento, procurando estratégias para a solução de problemas ainda não enfrentados. Na medida em que as relações passam a ser estabelecidas e adquirem significados, o estudante se valerá de diferentes linguagens e tecnologias para construir modelos matemáticos de naturezas diversas ou para resolver situações-problema de outros campos do saber. É importante salientar que os conhecimentos matemáticos devem ser trabalhados respeitando as especificidades de cada ano escolar. Articulados ao desenvolvimento das estruturas cognitivas do estudante e aos processos de transição entre os segmentos de ensino, deve-se estabelecer uma linha de construção do concreto para o abstrato. Alguns conhecimentos, por exemplo, Sistema de Numeração Decimal (SND), desenvolvimento dos processos de expansão dos conjuntos numéricos e discussão dos significados e propriedades das operações ocorrem ao longo dos anos da escolarização, sendo sistematizados de acordo com o nível de abstração e generalização dos estudantes. 2. Eixos estruturantes do Objeto de Estudo Os Eixos Estruturantes organizam os conhecimentos, os saberes, as habilidades e as competências. Eles são agregadores de conteúdos nucleares e sustentam o desenvolvimento e o desdobramento dos conteúdos curriculares. Consideram-se Eixos Estruturantes desta Matriz: Contextos e significados matemáticos; Linguagem matemática; Investigação matemática. 2.1 Eixo: Contextos e significados matemáticos O eixo Contextos e significados matemáticos está relacionado com a concepção de sujeito, sociedade e cultura vigentes ao longo do tempo. Os egípcios e babilônicos acreditavam que as regularidades e os padrões eram expressos por números. Os gregos ampliaram a visão de Matemática a partir de suas concepções e necessidades para uma ciência que estuda os números e as formas. Após Newton e Brasília, dezembro de 2012. Leibnitz, a Matemática passou a ser o estudo do número, da forma, do movimento e do espaço, dando resposta aos anseios da sociedade da época, demonstrando o poder do cálculo para a humanidade (DEVLIN, 2002). Os contextos matemáticos dão “visibilidade” ao “texto” que deu origem aos conteúdos, saberes e valores que passaram a circular no currículo escolar nas diferentes épocas, ou seja, aos aspectos da história e da cultura que geraram os saberes que se transformaram em conteúdos escolares da Matemática. Os portadores numéricos e de texto, a história da Matemática, os jogos, a linguagem e as tecnologias ajudam a ampliar e dar sentido às aprendizagens na descoberta de padrões. Os conteúdos matemáticos são recortes do conhecimento científico e das práticas culturais que, para serem ensinados, passam pela transposição didática. Essa transposição pode acarretar perda de sentido nas aprendizagens quando subtraído o contexto e a relação com as outras áreas do conhecimento. Assim, mesmo que o livro-texto, por exemplo, em certos momentos, trate os conteúdos a serem ensinados com restrito contexto ou mesmo a ausência dele, é muito importante, visando uma aprendizagem significativa, que o professor promova uma mediação que faça sentido para o estudante. Os números irracionais, por exemplo, quando trabalhados sob a ótica estrita de sua definição matemática geram determinadas representações, mas, ao relacionar o seu estudo com o Teorema de Pitágoras, com a Razão Áurea, com o comprimento de uma circunferência (número Pi), com a equação do segundo grau, ampliam a compreensão dos significados desses tipos de números. Contextualizar significa aproveitar as relações existentes entre conteúdos e o contexto pessoal e cultural do estudante, de modo a dar significado ao que está sendo aprendido, tendo em vista que todo o conhecimento envolve uma participação ativa do sujeito. Assim, a contextualização auxilia o estudante a desenvolver a capacidade de relacionar os conceitos específicos estudados com situações observadas e a teoria com suas aplicações práticas. Um conceito desenvolvido, considerando somente as regras dos códigos matemáticos, desconsiderando contextos singulares e períodos históricos , restringe Brasília, dezembro de 2012. os limites do seu significado. Um conceito matemático que transite e estabeleça relações com outras áreas do conhecimento tem seu significado ampliado. 2.2 Eixo: Linguagem matemática A proposta desse eixo é promover a compreensão da Matemática como um modo de pensar, descrever e comunicar as descobertas de diferentes formas e que passa a “falar” sobre elas e, nesse sentido, também produz uma maneira particular de “ver” o mundo e nele se posicionar. Pode-se, por exemplo, observar isso em relação à linguagem da geometria euclidiana. Por meio da linguagem (axiomas, postulados, propriedades e teoremas), comunica-se e produz-se uma forma de compreender o espaço que é distinta da vista por outras geometrias, as não euclidianas. As ideias matemáticas expressam-se por meio da linguagem matemática. A Matemática trata da vida e do mundo, e os padrões estudados são padrões abstratos e, por isso, os matemáticos para a sua representação, apoiam-se em símbolos abstratos. De acordo com Devlin (2002, p. 11): Sem os seus símbolos algébricos, uma grande parte da Matemática simplesmente não existiria. Na verdade, trata-se de uma questão complexa que tem a ver com as capacidades cognitivas do ser humano. O reconhecimento de conceitos abstratos e o desenvolvimento de uma linguagem adequada são, de fato, os dois lados da mesma moeda. Para tratar com clareza o conhecimento produzido, a Matemática dispõe de um conjunto de símbolos que remetem a significados próprios e que constituem a notação matemática. É importante que os estudantes, desde os anos iniciais apropriem-se da Linguagem matemática. Segundo Edi Jussara Candido Lorensatti (2009, p. 90): A linguagem matemática pode ser definida como um sistema simbólico, com símbolos próprios que se Brasília, dezembro de 2012. relacionam segundo determinadas regras. Esse conjunto de símbolos e regras deve ser entendido pela comunidade que o utiliza. A apropriação desse conhecimento é indissociável do processo de construção do conhecimento matemático. Está compreendido, na linguagem matemática, um processo de “tradução” da linguagem natural para uma linguagem formalizada. Tratando da língua materna tanto na sua forma oral como na sua forma escrita, Nilson José Machado (1998, p. 95) considera-a “um sistema de representação da realidade”. Por outro lado, o mesmo autor refere que: A Matemática erige-se, desde os primórdios, como um sistema de representação original; aprendê-lo tem o significado de um mapeamento da realidade como no caso da Língua. Muito mais do que as aprendizagens de técnicas para operar com símbolos, a Matemática relaciona-se de modo visceral com o desenvolvimento da capacidade de interpretar, analisar, significar, conceber, transcender o imediatamente sensível, extrapolar, projetar (idem, p. 96). Do mesmo modo, a língua materna nas aulas de Matemática pode ser pensada como uma prática de ensino-aprendizagem. Conforme Fonseca & Cardoso (2005, p. 66): A leitura de textos que tenham como objeto conceitos e procedimentos matemáticos, história da matemática, ou reflexões sobre Matemática, seus problemas, seus métodos, seus desafios podem, porém, muito mais que orientar a execução de determinada técnica, agregar elementos que não só favoreçam a constituição de significados dos conteúdos matemáticos, mas também colaborem para a produção de sentidos da própria Matemática e de sua aprendizagem pelo aluno. Nesse sentido, o eixo Linguagem matemática como elemento constituinte do objeto de estudo, pela interação entre a língua materna e a linguagem matemática, proporciona o desenvolvimento das competências previstas nessa Matriz em consonância com o Projeto Educativo do Brasil Marista. Brasília, dezembro de 2012. 2.3 Eixo: Investigação matemática Entende-se a Investigação matemática como uma maneira de organizar e gerar conhecimentos para desenvolver formas de pensar e de se posicionar criticamente, uma vez que o conhecimento é uma construção humana inacabada, inserido num processo histórico e multicultural. Investigar, à luz da Matemática, é interpretar o modo como os conhecimentos matemáticos são usados e, principalmente, como são produzidos, na busca de como foram concebidos. Dito de outro modo, ao fazer a investigação, o estudante constrói matemática de modo semelhante ao de um matemático ao fazer as suas descobertas. O aluno é chamado a agir como um matemático, não só na formulação de questões e conjecturas e na realização de provas e refutações, mas também na apresentação de resultados e na discussão e argumentação com os seus colegas e o professor (PONTE; BROCARDO; OLIVEIRA, 2003, p. 23). Destaca-se que a ação do estudante como um matemático, aliada ao saber científico e à práxis escolar do professor, produz significados e constrói conhecimento. A aprendizagem da Matemática não significa apenas compreender os procedimentos matemáticos historicamente construídos, mas ser capaz de fazer investigação de natureza matemática adequada a cada nível de ensino. Uma investigação matemática envolve quatro etapas: o reconhecimento da situação, a formulação de conjecturas, o processo de validação e refinamento da conjectura e por fim a argumentação, demonstração e avaliação do trabalho realizado. Esse conceito de investigação matemática trazido para a sala de aula auxilia na construção de um pensamento genuinamente matemático (PONTE, 2003). Faz-se necessário que os conhecimentos matemáticos sejam constantemente (re)construídos para que os estudantes não considerem a Matemática como um conjunto de regras construídas no passado, e repetidas no presente, desprovidas de sentido e de significado, para que os estudantes percebam as regularidades e os Brasília, dezembro de 2012. padrões que constituem as diferentes naturezas dos fenômenos investigados pela Matemática. A exploração dos conceitos matemáticos, por meio da investigação matemática, promove no estudante efeito transformador e um posicionamento dinâmico diante do conhecimento a construir, na busca de uma qualidade que é acadêmica, ética, tecnológica e política na construção de suas competências. Brasília, dezembro de 2012. 3. Diagrama do Componente Curricular: Matemática e suas Tecnologias1 1 Em função da fundamentação do objeto e da instrumentalização do leitor/professor, o diagrama procura abarcar a ideia da Matemática escolar como um componente curricular em “movimento". Página 37 4. Macrocompetências do Componente Curricular O componente curricular de Matemática propõe o direcionamento de uma práxis educativa e pedagógica que considere a aquisição de macrocompetências de naturezas distintas pelo estudante ao longo da Educação Básica. O tratamento dos conteúdos em compartimentos estanques e numa rígida sucessão linear deve dar lugar a uma abordagem em que as conexões sejam favorecidas e destacadas de maneira complementar e interdisciplinar. A partir dessa concepção, elencamos as macrocompetências que nessa Matriz Curricular irão nortear ao longo da Educação Básica os conteúdos nucleares do componente curricular de Matemática e suas Tecnologias. Componente Curricular: Matemática Objeto de Estudo: Regularidades e padrões Categorias ACADÊMICA ÉTICO-ESTÉTICA TECNOLÓGICA COMPETÊNCIAS Mobilização do raciocínio, conhecimentos e procedimentos matemáticos para analisar, compreender e refletir diferentes situações e contextos, solucionando e propondo problemas, agindo e posicionando-se socialmente, de forma crítica e criativa. Valorização da vida manifestada por atitudes solidárias e cooperativas, cultivando o gosto pela investigação, pelos valores éticos, estéticos e espirituais nas relações com a natureza, mobilizando significados e ferramentas que circulam pela Matemática. Apropriação das tecnologias dos campos da Matemática, entendimento de seus significados, de suas relações com as ciências, de sua presença e de seus impactos na vida, avaliando o seu uso. Página 38 POLÍTICA Posicionamento crítico diante das demandas pessoais e coletivas, respeitando a pluralidade sociocultural, resolvendo e elaborando propostas com base na leitura e na interpretação crítica de informações, opiniões e dados suscetíveis de serem analisados à luz dos conhecimentos matemáticos, contribuindo para o exercício de sua cidadania. 5. Mapa da Dinâmica e da Organização Curriculares O conjunto de opções político-pedagógico-pastorais definem a dinâmica e organização curriculares das escolas maristas da seguinte forma: 5.1 Anos iniciais do Ensino Fundamental As macrocompetências do ensino de Língua Portuguesa percorrem e orientam a organização curricular de todos os segmentos: OBJETO DE ESTUDO: Regularidades e padrões EIXOS ESTRUTURANTES: Contextos e significados matemáticos; Linguagem matemática; Investigação matemática Competências do Conteúdos Conteúdos nucleares por ano o o segmento nucleares 1 ano 2 ano 3o ano 4o ano 5o ano Construção do Os conjuntos Sistema de significado de numéricos, Numeração número, significado de Decimal em reconhecendo número, seus suas numerais, seus diferentes regularidades, em contextos e usos no diferentes aplicações. contexto social situações e (para Sistema de Numeração Decimal em seus diferentes usos no contexto social (para quantificar, Sistema de Numeração Decimal, suas operações, propriedades e contextos. Sistema de Sistema de Numeração Numeração Decimal, suas Decimal, suas operações, operações, propriedades e propriedades e contextos. contextos. Página 39 contextos. Compreensão do significado das operações e dos procedimentos de cálculo mental ou escrito de maneira exata ou aproximada, pelo conhecimento de regularidades. Compreensão e aplicação, em situações do cotidiano, dos conceitos matemáticos, agindo e posicionando-se de forma crítica, criativa e ética. quantificar, Os símbolos ordenar, codificar, matemáticos como forma de medir). representação e Os números e comunicação do os numerais pensamento para matemático. representar quantidades As operações (linguagem oral matemáticas: e registro suas ideias, propriedades e pessoal). procedimentos. Sistemas de medidas padronizadas e não padronizadas: seu desenvolvimento histórico, Construção do conceito de número: contagem, classificação, seriação, inclusão. ordenar, codificar, medir). Os números e os numerais para representar quantidades (linguagem oral e registro pessoal). Os números e os numerais para representar quantidades (gráficos, tabelas, algoritmos). Os números e os numerais para representar, argumentar e propor quantidades (gráficos, tabelas, algoritmos). Os números e os numerais para representar, argumentar e propor quantidades (gráficos, tabelas, algoritmos). Construção do Representação do Representação do conceito de número: número: contagem, número: contagem, classificação, contagem, classificação, seriação, inclusão e classificação, seriação, reversibilidade. seriação, inclusão. inclusão. Representação do número: contagem, classificação, seriação, inclusão e reversibilidade. Página 40 Leitura, interpretação e produção de registros utilizando tecnologias apropriadas e a notação convencional das medidas. símbolos As escritas convencionais e unidades de numéricas com base na medida. observação de regularidades, O princípio utilizando-se multiplicativo e da linguagem suas aplicações. oral, pictórica e registro Localização, hipotéticomovimentação, dedutivo. representação, descrição e As operações, interpretação do suas ideias e espaço físico. os significados. Descrição do espaço físico por meio de linguagem oral e escrita, para explicar a localização e o deslocamento de objetos no espaço. Estabelecimento da relação entre a origem e o Identificação no desenvolvimento As escritas numéricas com base na observação de regularidades, utilizando-se da linguagem oral, pictórica e registro hipotéticodedutivo. As escritas numéricas com base na observação de regularidades, utilizando-se da linguagem oral, pictórica e registro sistematizado. As escritas numéricas com base na observação de regularidades, utilizando-se da linguagem oral, pictórica e registro sistematizado. As escritas numéricas com base na observação de regularidades, utilizando-se da linguagem oral, pictórica e registro sistematizado. Os diferentes procedimentos de cálculos com números naturais, seus significados e contextos. Os diferentes procedimentos de cálculos com números naturais, seus significados e contextos. As operações com números naturais, suas ideias, propriedades e algoritmos. As operações com números naturais, fracionários e decimais. Página 41 espaço físico de formas geométricas bidimensionais e tridimensionais, seus elementos e suas características. histórico da geometria com as necessidades próprias das sociedades em constante evolução. Interpretação de informações de natureza científica e social obtidas da leitura e construção de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência. Os fenômenos estatísticos por meio de A geometria estimativas e plana como representação uma gráfica. linguagem para Construção e representar do resolução de formas mundo físico situaçõesao nosso problema, redor. relacionando Interpretação críticoargumentativa conhecimentos matemáticos à Grandezas e medidas e sua utilização nas práticas sociais. Grandezas e medidas e sua utilização nas práticas sociais (comprimento, massa, tempo e capacidade). Grandezas e medidas e sua utilização nas práticas socioculturais (comprimento, área, massa, capacidade, tempo e valor monetário). Grandezas e medidas e sua utilização nas práticas socioculturais (comprimento, área, massa, capacidade, tempo, temperatura e valor monetário). Grandezas e medidas e sua utilização nas práticas socioculturais (comprimento, área, massa, capacidade, tempo, temperatura e valor monetário). A geometria plana como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (retângulo, triângulo, quadrado e paralelogramo). A geometria plana como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (noções de ângulos e elementos dos polígonos). A geometria plana como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (noções de polígonos regulares e irregulares). A geometria plana como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (propriedades dos polígonos regulares e circunferência). Página 42 acerca tratamento dados, informações notações matemáticas. do diversos de contextos. e Ação investigativa frente à necessidade de aprender com sentido e significado, perseverando no fazer matemático. A geometria espacial como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor. A geometria espacial como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor. Simetria e Simetria consciência reflexão corporal. (natureza). A geometria espacial como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (prismas e pirâmides). de Simetria reflexão planas). A geometria espacial como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (prismas, pirâmides e cilindros). de Simetria (figuras reflexão translação. A geometria espacial como uma linguagem para representar formas do mundo físico ao nosso redor (classificação dos poliedros e corpos de rotação). de de Simetria reflexão, rotação e e translação. O uso da linguagem para comunicar localizações no mundo físico próximo. O uso da linguagem para comunicar localizações no mundo físico próximo. O uso da linguagem para comunicar localizações no mundo físico próximo. Localização de figuras e objetos no espaço físico a partir do uso de medidas de comprimento e de ângulo (ideias). Localização de figuras e objetos no espaço físico a partir do uso de medidas de comprimento e de ângulo (representação). Leitura e representação oral e pictórica para comunicar ideias. Leitura e representação oral e pictórica para comunicar ideias. Construção, leitura e interpretação oral e gráfica para comunicar ideias e propor Construção, leitura e interpretação oral e gráfica para comunicar ideias e Construção, leitura e interpretação oral e gráfica para comunicar ideias e propor alternativas. Página 43 alternativas. A resolução de problemas convencionais e não convencionais como forma de significar os conhecimentos matemáticos. A resolução de problemas convencionais e não convencionais como forma de significar os conhecimentos matemáticos. A resolução problemas convencionais não convencionais como forma significar conhecimentos matemáticos. Situaçõesproblema de caráter exploratório (representação simples). Situaçõesproblema envolvendo mais de uma operação. propor alternativas. de A resolução de problemas e convencionais e não convencionais como forma de de significar os os conhecimentos matemáticos. A resolução de problemas convencionais e não convencionais como forma de significar os conhecimentos matemáticos. Situaçõesproblema envolvendo mais de uma operação. Expressões numéricas como linguagem para representar situações com o uso dos sinais de associação. Expressões numéricas como linguagem para representar situações com o uso dos sinais de associação. Representações pessoais das chances de ocorrência de um Representações pessoais das chances de ocorrência de um Representações pessoais das chances de ocorrência de um Página 44 evento natureza aleatória. de evento de natureza evento de natureza aleatória. aleatória. Noções números fracionários decimais. de Frações e seus diferentes e significados e operações (porcentagem). Números decimais, seus contextos e operações (porcentagem). 5.2 Anos finais do Ensino Fundamental Matemática OBJETO DE ESTUDO: Regularidades e padrões EIXOS ESTRUTURANTES: Contextos e significados matemáticos; Linguagem matemática; Investigação matemática Competências do Conteúdos nucleares Conteúdos nucleares por ano o segmento 6 ano 7o ano 8o ano 9o ano Página 45 Compreensão do conhecimento geométrico para leitura, representação e ação sobre a realidade. As diferentes geometrias como linguagem usada para interpretar e produzir aspectos do mundo físico. Posicionamento critico às praticas Ampliação do frente política, significado de número sociais, econômicas e científicas e construção dos utilizando os conjuntos numéricos. conhecimentos matemáticos. Compreensão do significado das Campos numéricos operações e dos como linguagem procedimentos de utilizada para sintetizar cálculo mental ou escrito de maneira ideias nos mais variados exata ou aproximada, contextos pelo conhecimento de regularidades. Sistemas de medidas e suas aplicações mensuração grandezas Construção dos padronizadas. conceitos de grandezas e medidas na de A geometria euclidiana e suas aplicações nos cálculos de áreas e perímetros dos polígonos. A geometria euclidiana como forma de descrever aspectos do mundo físico (ângulos e proporcionalidade). A geometria euclidiana como forma de descrever aspectos do mundo físico (paralelismo e polígonos). A geometria euclidiana como forma de descrever aspectos do mundo físico (os suas de teoremas, demonstrações e aplicações). Cálculos de áreas a partir da decomposição de figuras planas. Cálculos de áreas a partir da decomposição de figuras planas e com uso de algumas fórmulas (triângulos e quadriláteros). Construção das fórmulas de áreas de figuras planas e volumes de paralelepípedos. Elementos dos polígonos inscritos e circunscritos e construção das fórmulas para cálculo das áreas. Números naturais, fracionários e decimais, suas operações e contexto histórico. Números inteiros, racionais, contexto histórico e suas operações (comparação, localização na reta Números irracionais e reais, suas operações e contexto histórico. Números irracionais e reais, suas operações e contexto histórico. Construção ângulos, circunferências, retas paralelas e perpendiculares As relações para ampliar a trigonométricas compreensão de nos triângulos. suas propriedades. Página 46 para fazer estimativas e compreender a A proporcionalidade realidade. como uma ideia matemática para expressar relações entre Compreensão e aplicação, em grandezas. situações do cotidiano, dos conceitos matemáticos, agindo e posicionando-se de forma crítica, criativa e ética. A estatística como linguagem usada para ampliar a visão de diferentes aspectos sociais Construção de gráficos e interpretação críticoargumentativa acerca do tratamento de dados, informações e notações matemáticas. O principio da contagem como uma ideia matemática para conhecer o número de possibilidades sem a contagem direta. Interpretação de informações científicas e sociais obtidas das diversas situações, realizando previsões de tendência. As noções de funções como linguagem para descrever fenômenos de diferentes naturezas. Operações mentais e ampliação de visão de e porcentagem). As medidas e as As medidas e as atividades atividades humanas humanas (sistemas de (sistemas de medidas de medidas de comprimento e capacidade, área). volume e massa). Tabelas e gráficos como forma de traduzir fenômenos. As medidas e as atividades humanas (sistemas de medidas de ângulos). A linguagem O plano cartesiano, gráfica como forma histórico e suas de traduzir aplicações. fenômenos. As medidas e as atividades humanas (sistemas de medidas de temperatura e unidades de medida em informática). O plano cartesiano, histórico, suas aplicações e introdução ao Representação da conceito de A relação entre funções. proporcionalidade grandezas no entre grandezas e sistema de a solução de coordenadas situaçõescartesianas. problema (proporção ou regra de três). Página 47 Reconhecimento e utilização da linguagem algébrica como a linguagem das ciências, construindo modelos descritivos de fenômenos e permitindo conexões dentro e fora da Matemática. mundo por meio do conhecimento matemático na sua relação com as ciências. Generalizações (dedução e indução) a partir da análise de padrões. Construção e resolução de situações-problema, relacionando conhecimentos matemáticos à diversos contextos. Ação investigativa frente à necessidade de aprender com sentido e significado, perseverando no fazer matemático. A álgebra, suas funções e a generalização expressa por meio de sua linguagem. Noções de Medidas de probabilidade tendência central (árvore de (média aritmética e possibilidades, ponderada). população, amostra e estimativas). A pré-álgebra e o Álgebra pensamento resolução algébrico: a equações generalização da relação aritmética. grandezas. A dedução e a indução como modos de pensar. Os fenômenos probabilísticos e estatísticos: mediana e moda. na de e entre Álgebra e seus diferentes significados (estudo de estruturas matemáticas, resolução de problemas e relação entre grandezas). A álgebra das funções: equações, sistemas de equações, estruturas algébricas e representações. A dedução e a indução como modos de pensar. A dedução e a indução como modos de pensar. A dedução e a indução como modos de pensar. Demonstração de Teoremas referentes ao ano de ensino situando na história e suas aplicações. Página 48 5.3 Ensino Médio Matemática Objeto de Estudo: Regularidades e padrões Eixos Estruturantes: Contextos e significados matemáticos; Linguagem matemática; Investigação matemática Competências do Conteúdos nucleares Conteúdos nucleares por ano o segmento 1 ano 2o ano 3o ano Página 49 Modelagem e resolução de As funções como problemas que envolvam linguagem para variáveis. descrever os fenômenos de diferentes naturezas. Generalização e representação a partir da Os fenômenos análise de padrões, estatísticos e utilizando diferentes probabilísticos e seus linguagens. aspectos éticos, econômicos e políticos. Compreensão crítica dos conceitos matemáticos As diferentes geometrias implícitos nos fenômenos como forma de sócio-econômicos. interpretar e representar aspectos do mundo Ampliação do conhecimento físico, econômico e geométrico no plano e no social. espaço para realizar a leitura e a representação da A geometria como realidade e agir sobre a linguagem que mesma. possibilita ampliar a visão de mundo. Análise de informações de natureza científica e social a O posicionamento crítico partir da leitura e da diante das práticas construção de gráficos e sociais, políticas, tabelas, realizando previsão econômicas e científicas de tendência, extrapolação e utilizando os interpolação. conhecimentos matemáticos. Compreensão sobre o Conjuntos e noções de lógica, propriedades, construção histórica e evolução do pensamento lógico. Funções reais: notação, representações geométricas e algébricas e aplicações. Funções reais: notação, representações geométricas e algébricas e aplicações. Estudo de modelos periódicos. Leitura e interpretação de gráficos e tabelas formulando análise crítica. Os princípios da matemática financeira e posicionamento ético na tomada de decisões. Sequências numéricas: deduções das leis de formação e aplicações. Página 50 Estudo do Campo dos Complexos e aplicações. Funções Polinomiais Campo Complexos. no dos caráter aleatório e não A contagem como um determinístico dos procedimento fenômenos naturais e matemático para contar sociais. quantidade de grupos com regularidade. Determinação de amostras e cálculos de probabilidade A álgebra das matrizes, para interpretar informações sua linguagem e de variáveis apresentadas aplicações. em uma distribuição estatística. A distribuição polinomial como ferramenta Análise e descrição do matemática para ampliar princípio de contagem de e produzir significados grupos de elementos que matemáticos. apresentam características próprias, posicionando-se Linguagem lógica de criticamente por meio dos conjuntos, suas dados obtidos. propriedades, operações e problemas. Interpretação, modelagem e resolução de situações As operações mentais e descritas algebricamente ampliação de visão de dando significado aos mundo por meio do resultados obtidos. conhecimento matemático. Página 51 Utilização das propriedades de um conjunto para aplicálas na resolução de situações lógicas. Construção e resolução de situações-problema, relacionando conhecimentos matemáticos a diversos Ação investigativa frente à contextos. necessidade de aprender com sentido e significado, perseverando no fazer matemático. Princípios, teoremas e relações entre os elementos de um sólido. Geometria espacial como forma de explicar aspectos do mundo físico. A álgebra das matrizes, determinantes e sistemas lineares com suas linguagens e aplicações Representação analítica de elementos geométricos e algébricos. Contagem agrupamentos elementos possuem propriedades comuns. de de que Métodos estatísticos apropriados para analisar dados. Posicionamento crítico referente à tendência e valor esperado. Estudo fenômenos probabilísticos. Posicionamento de Página 52 crítico diante da conjuntura históricosocial e os jogos de azar. A distribuição binomial, contextos e aplicações. Página 53 6. Aprendizagem em Matemática Para construir aprendizagens é necessário levar em conta a diversidade histórica do conhecimento matemático, as características individuais e os conhecimentos prévios dos estudantes, bem como o desenvolvimento de competências. A aprendizagem acontece na interação com o outro e em vivências significativas com o conhecimento, entendendo que ele é socialmente construído de forma não linear, não restrita a um único percurso e nem a um único resultado. A forma de conceber a aprendizagem matemática, por muito tempo, no espaçotempo da escola, esteve voltada para a memorização e repetição de conteúdos, o que, muitas vezes, subtraía sentido e significado aos conhecimentos matemáticos e, de certa forma, limitava a criatividade e a relação prazerosa dos estudantes com essa área do conhecimento. Essa concepção de aprendizagem vem se modificando ao longo do tempo, passando-se a considerar tanto a origem do conhecimento matemático como a forma com que os sujeitos aprendem e a importância das aprendizagens para a sua formação, no sentido de dar conta das demandas de uma sociedade que, continuamente, vem rompendo paradigmas. Torna-se necessário pensar que conhecimentos matemáticos devem ser ensinados. É significativo, para a prática docente, discutir, também, as maneiras como esses conhecimentos serão ensinados e quais competências os estudantes irão desenvolver, pois os modos com que eles aprendem influenciarão sua forma de compreender o mundo e de nele atuar crítica e solidariamente. Uma aprendizagem com significado, em que se considera a historicidade do conhecimento e seus contextos, as relações possíveis entre diferentes linguagens e tecnologias e a investigação matemática para explicar um fenômeno, possibilita uma aprendizagem que promove mais invenção do que erudição. É importante considerar, para promover uma aprendizagem com significado, que no estudo de qualquer conhecimento matemático abordam-se determinadas atitudes que possibilitam viver melhor no mundo, consigo mesmo e com os outros, uma vez que se é sujeito historicamente influenciado pela cultura. Página 54 A aprendizagem matemática busca favorecer a negociação de significados, a transformação e a (res)significação dos conhecimentos anteriormente construídos. Nesta perspectiva, o professor é quem medeia questionamentos, quem organiza intencionalmente o processo, utilizando diferentes fontes de informação e linguagens e considera os múltiplos modos de aprender. Além disso, compete ao professor adequar os modos de ensinar e a natureza dos conteúdos, discutir os significados matemáticos nos diversos contextos, organizar os tempos de aprendizagens, promover a regulação constante e contribuir para o alcance das competências de seus estudantes. A organização das intenções pedagógicas e os processos de planejamento têm em vista o protagonismo do estudante como sujeito do processo de ensinoaprendizagem. As perguntas intencionalmente feitas pelo professor ajudam os estudantes a elaborarem melhor as definições e a organizar o processo de pensamento, além de promoverem a regulação no mesmo instante que alguns obstáculos possam estar presentes. Na medida em que os questionamentos acontecem, tanto por parte do professor como do estudante, os processos de ensino-aprendizagem constituem-se como meio para a compreensão do conhecimento investigado. Esses momentos devem ser intencionalmente planejados para promover uma aprendizagem sistematizada e inteligível. Essa inteligibilidade na relação com diferentes contextos promove, nos significados matemáticos, a desconstrução da definição dos seus limites, elaborando novos contornos no diálogo com as outras áreas do conhecimento. A partir dessas ideias, a aula passa por uma (res)significação. Da simples transferência de conhecimentos, transforma-se em momento de construção e de mobilização de significados tanto para o professor quanto para os estudantes. Por exemplo, aprender regra de três, considerando apenas o contexto matemático, reduz as potencialidades de seu significado. É preciso também explorar outros saberes para promover um conhecimento em “rede”, articulando vivências, conhecimentos prévios à aprendizagem, pensá-la na relação com outras áreas, como a Química, a Física, a Biologia, a Geografia, a Arte, entre outras. Página 55 Outra questão importante a ser considerada é o desenvolvimento das operações mentais mais complexas. Criar situações de aprendizagem, que possibilitem o enfrentamento de situações-problema, envolve a análise, o julgamento, a tomada de decisão. Resolver situações em que se confrontam ideias contrastantes favorece o desenvolvimento e o respeito em relação aos pensamentos divergentes. Com isso, a aula de Matemática passa por uma (res)significação. Da simples transferência de conhecimentos, transforma-se em momento de construção e de mobilização de significados tanto para o professor quanto para os estudantes. Certamente, esses significados não esgotam a complexidade das aprendizagens matemáticas, mas contribuem para uma prática mais dinâmica e atualizada. A distribuição dos conteúdos ao longo dos anos de escolaridade desenvolve-se partindo-se das noções mais simples da construção de conceitos em níveis crescentes de complexidade, considerando um currículo em espiral em torno do objeto de estudo – Regularidades e padrões – tendo como Eixos Estruturantes os Contextos e significados matemáticos, a Linguagem matemática e a Investigação matemática. 7. Metodologias de ensino-aprendizagem em Matemática O professor de Matemática dispõe de diversas maneiras para promover uma aprendizagem com significado: organização em grupos, aula expositiva, tecnologia educacional, Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs), textos históricos, jornais, revistas, filmes e outros. Esses diferentes portadores possibilitam a organização de metodologias que favorecem a inter-relação entre os significados matemáticos presentes em diversos contextos: social, histórico, natural, científico, político, entre outros, desde os anos iniciais até a conclusão da Educação Básica. A escolha de uma ou outra metodologia está relacionada ao modo de conceber a aprendizagem, aos Eixos Estruturantes que sustentam o Objeto de Estudo do componente, ao Planejamento e ao Plano de ensino, aos tempos das aprendizagens, às finalidades dos conteúdos, à transposição didática, entre outros. Percebe-se, dessa forma, que a adoção de uma metodologia não se esgota ao Página 56 considerar somente o conteúdo a ser ensinado, mas precisa se adequar ao para que e a quem se ensina. As metodologias têm a responsabilidade sobre a aprendizagem. “Olhamos” o mundo com os “olhos da mente”. As representações que os estudantes elaboram podem ser de possibilidades ou de determinismo, e essa forma de “olhar” sofre a influência do modo como o conhecimento será mediado pelo professor. O conhecimento só tem sentido se ajudar a “ver” melhor o mundo, e essa visão não acontece naturalmente, precisa ser ensinada (MEIRIEU, 1998). Para pensar a prática e potencializar o processo de ensino-aprendizagem, a composição de algumas alternativas metodológicas pode auxiliar o professor no seu trabalho. A história da Matemática, por exemplo, contextualiza o conhecimento matemático e possibilita relacionar os seus conhecimentos aos diferentes contextos. As ideias matemáticas são concebidas em determinado tempo e espaço e respondem às demandas historicamente situadas. Utilizada como recurso metodológico, possibilita ao estudante entender o processo de construção dos saberes, as tecnologias e as linguagens matemáticas ao longo da história. Da mesma forma que as expressões artísticas de uma determinada época ou período histórico poderão ser utilizadas para problematizar aspectos da realidade daquele período e ajudar a compreender os dias de hoje, reconhecer as marcas do período histórico em que o Teorema de Pitágoras foi demonstrado, por exemplo, auxilia a compreender as intenções sociais para as quais ele foi criado. A ciência Matemática sempre teve relação com as tecnologias. Indissociável à produção do conhecimento matemático, o uso, pelos estudantes, das diversas tecnologias constituem importante recurso na construção e na ampliação dos conceitos, linguagens e ferramentais da Matemática. Dentre os ferramentais tecnológicos encontram-se instrumentos de medidas, de desenho, de cálculo, de tecnologias digitais e da própria linguagem matemática. Página 57 As tecnologias e os ferramentais tecnológicos não carregam em si a possibilidade de construção dos conhecimentos, porém, se bem utilizados, poderão favorecer os processos de ensino-aprendizagem. Destaca-se a calculadora como uma ferramenta tecnológica contestada no ensino da Matemática. O argumento mais forte contra o seu uso é que os estudantes não aprendem a realizar cálculos, pois ficam dependentes dela. No entanto, não é a calculadora que possibilita ou impede a construção do conhecimento, mas o uso didático-pedagógico que dela se faz. Um exemplo bem simples é poder usá-la para descobrir as regularidades do Sistema de Numeração Decimal, para fazer estimativas, para formular e comprovar hipóteses. Outro aspecto relativo às tecnologias diz respeito ao uso da tecnologia da informação e da comunicação no ensino da Matemática. Há uma enorme quantidade de produtos digitais como os softwares educativos, que potencializam a aprendizagem da Matemática, que por sua vez também pode se beneficiar dos avanços e da difusão das redes de computadores. A internet, além de um vasto depositório de informações sobre os mais variados temas, representa cada vez mais um espaço virtual propício à aprendizagem. Nela, encontram-se diferentes sistemas, sites, listas de discussão, fóruns, bibliotecas virtuais, direcionadas para o apoio ao processo educativo. Um dos pontos centrais do estudo da Matemática é a experimentação, o “aprender fazendo”, através da manipulação de variáveis. A capacidade de produzir sons, imagens, textos e animações pelo computador, por exemplo, também contribui para que a aprendizagem vá além das figuras estáticas, possibilitando a negociação de significados. Os jogos possibilitam a aproximação do componente curricular com os significados dos conceitos matemáticos. Jogos em que se tira a sorte, jogos de roleta e jogos que envolvem uma distribuição gaussiana de resultados são ideais para fornecer à criança uma compreensão básica da operação lógica necessária para pensar a respeito de probabilidade. Em tais jogos, as crianças descobrem uma noção inteiramente qualitativa de acaso, definida como evento incerto, em contraste com a certeza dedutiva. A noção de probabilidade como fração de certeza será descoberta mais tarde. O interesse em problemas de natureza probabilística pode ser facilmente Página 58 despertado e desenvolvido por meio de jogos, antes da introdução de qualquer processo estatístico ou de cálculo. O jogo é um recurso vantajoso, pois parte-se do pressuposto de que o estudante, quando está jogando, sente prazer e satisfação, logo vai adquirindo confiança e aprendendo a lidar com frustrações através de estratégias e desafios, corrigindo suas ações e tornando-se um ser ativo no processo de construção do seu próprio conhecimento. No trabalho com os jogos computadorizados, é necessário ter o cuidado para que a tecnologia não se limite apenas a virar uma página de um livro eletrônico ou a realizar exercícios cujos resultados serão avaliados pelo próprio computador. As estratégias utilizadas precisam superar o trabalho mecânico. Não basta fazer apenas a vivência da dimensão lúdica do jogo, mas sim proporcionar ambientes desafiadores, estimulantes e interativos, onde o estudante seja capaz de construir conhecimentos. A importância do lúdico está na capacidade de promover a interação entre os participantes, ampliando as possibilidades de socialização e de aprendizagem. Os jogos podem ser de estratégias ou de sistematização. Os do primeiro tipo mobilizam o raciocínio lógico-matemático, pois será necessária a formulação e comprovação de hipóteses, e os do segundo tipo auxiliam na memorização de conhecimentos. Esse tipo de recurso faz o estudante confrontar seus conhecimentos com os de outros e com os próprios conceitos que serão trabalhados. Retomar as ideias presentes nos jogos com uma sequência de atividades sistematiza e organiza o pensamento. Aqui, as “boas perguntas” em relação aos conceitos matemáticos envolvidos nos jogos podem ajudar a compor uma teia de significados com sentido e contexto. Ao final do jogo, depois de ter jogado algumas vezes, a produção em grupo de um texto, e depois coletivamente o texto único, para sintetizar as aprendizagens, pode se constituir noutra possibilidade para organizar os pensamentos. Mais do que uma estratégia de ensino, o trabalho em grupo deve ser considerado uma prática importante nas relações e interações sociais, no desenvolvimento cognitivo, no exercício da postura crítica, na exigência da reflexão, na análise cuidadosa dos próprios “erros” e no respeito ao pensamento do outro, que podem Página 59 divergir do próprio raciocínio ou complementá-lo. A interação entre os estudantes desempenha papel fundamental no desenvolvimento das capacidades cognitivas, afetivas e sociais. O trabalho em grupo promove troca entre os estudantes do grupo e entre os grupos, favorecendo a construção do conhecimento, a negociação de significados, desenvolvendo as habilidades de raciocínio, como investigação, inferência, reflexão e exploração, e a autonomia por meio do confronto de ideias; possibilitando ao estudante a organização de seu pensamento, a fim de desenvolver estruturas conceituais por intermédio das relações entre os diversos significados produzidos no grupo. Incentivar a pesquisa possibilita ao estudante se sentir como construtor de seu próprio conhecimento. A pesquisa de campo assim como a pesquisa bibliográfica favorecem a construção de sentido ao tratamento das informações e possibilitam ao estudante compreender os processos de levantamento de informações apresentadas em diversos textos e contextos. Aprender Matemática não é apenas repetir respostas já conhecidas nem compreender somente a Matemática constituída como ciência, mas sim ter a possibilidade de construí-la no cotidiano do ambiente escolar. A investigação matemática provoca professor e estudante a construírem suas próprias descobertas. A pesquisa gera investigação, pois confronta ideias e estratégias. Não pesquisamos para simplesmente comprovar o que já se pensava, mas também para propor novos problemas, novas respostas. Uma vez realizadas as pesquisas, elas podem “habitar” o processo de reflexão durante todo o momento das aulas, pois sempre há possibilidade de inter-relacionar ideias. As pesquisas não são importantes em si mesmas, mas sua importância está relacionada com a intencionalidade da aula. Os registros dessas pesquisas podem acontecer de diferentes formas: texto-síntese, comunicação oral, esquemas, relatórios e outros decorrentes da natureza da pesquisa. Uma das formas utilizadas para desenvolver ações pedagógicas na escola, de modo que as diversas competências estejam envolvidas intencionalmente, é o trabalho com projetos. Página 60 Um projeto aparece relacionado a uma ação específica, não repetitiva, com caráter eventualmente experimental, implicando uma estrutura particular e inédita de operações para realizá-lo. A elaboração e a execução de um projeto encontram-se ligadas a uma investigação-ação que deve simultaneamente ser um ato de transformação, uma oportunidade de investigação e de formação, tornando-se, portanto, uma produção intelectual. Consiste uma oportunidade para o estudante explorar uma ideia ou construir um produto que tenha planejado e imaginado e, por isso, o produto de um projeto deverá necessariamente ter significado para quem o executa. A elaboração de um projeto permite que os estudantes ordenem conceitos e habilidades previamente dominadas, a serviço de um objetivo ou empreendimento; possibilita ações de planejamento, desenvolvimento de estratégias para a sua execução; organização, gestão, tratamento de informações, avaliação das ações empreendidas; exige cooperação, esforço pessoal, constituindo-se em um verdadeiro exercício de autonomia. Por meio da resolução de situações-problema o estudante tem a oportunidade de pensar e se posicionar diante de situações que lhe permitem fazer conexões com conhecimentos anteriormente adquiridos ou construir novas ideias. Dessa forma, oportunizar situações-problema que necessitem de análise e tomada de decisão sobre a melhor estratégia de solução é imprescindível para o desenvolvimento de habilidades e competências. Os desafios do cotidiano estão presentes na vida do ser humano e exigem constante desenvolvimento de suas capacidades com o objetivo de resolvê-los. Para tanto, a escola deve proporcionar, em todos os níveis de escolarização, oportunidades para que o estudante atue sobre os mais diversos problemas, procurando padrões entre estes para encontrar estratégias de solução. Compreende-se por situação-problema2 questões que precisam ser resolvidas e que não dispõem de uma resposta imediata. Para sua resolução é preciso mobilizar conhecimentos prévios e estabelecer relações, identificando seus dados e procurando diferentes caminhos para sua solução. A validação da solução é parte constituinte do processo de resolução. 2 Ver Glossário, p. 59. Página 61 As situações-problema podem ser de diferentes naturezas: com mais de uma resposta, sem resposta, com excesso de dados e outras. A escolha de um problema está relacionada às intenções pedagógicas. Problemas com excesso de dados, por exemplo, podem se constituir em uma boa estratégia para trabalhar a interpretação de problemas. Com isso considera-se que o professor deva conduzir o processo educativo de forma a garantir a aprendizagem matemática, avaliando continuamente as metodologias empregadas em cada situação, na busca da qualificação do processo de ensino-aprendizagem. Destaca-se a necessidade de o professor rever, refazer, repensar e replanejar diante de situações em que os estudantes demonstrem dificuldade em aprender. 8. Concepção de Avaliação do Componente Curricular A Matriz Curricular de Matemática e suas Tecnologias compreende que a avaliação é um importante recurso para promover uma aprendizagem com significado. Centrada na avaliação de competências, sem esquecer dos conteúdos, essa Matriz Curricular busca construir um referencial que dê conta de uma avaliação que considere os processos de aprendizagem construídos pelos estudantes na sua totalidade, de forma não classificatória ou excludente. Avaliação não entendida apenas como sinônimo de prova, mas como processo em permanente regulação. A avaliação entendida como processo formativo, integra não só a natureza individual, mas coletiva e autogestora do avaliar-se, no sentido de oportunizar que os estudantes possam adotar uma atitude crítica, construtiva e responsável em relação ao seu desempenho, conhecendo suas conquistas e dificuldades. O professor, no processo avaliativo, deve considerar os conhecimentos prévios, os conceitos já construídos, as habilidades e as competências de seus estudantes para então poder propor novas possibilidades de aprendizagens, o que caracteriza o aspecto diagnóstico da avaliação. A avaliação da aprendizagem em Matemática deve, sobretudo, considerar os processos de construção do conhecimento como conjecturas, intuição, representação, simulação, modelagem, proposição e resolução de problemas, bem Página 62 como os resultados obtidos. Ao elaborar os instrumentos avaliativos, o professor precisa estar atento a esses fatores para que sua avaliação permita essa análise. O desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, o domínio tecnológico, a coerência das respostas e a capacidade de aplicação de conhecimentos são outros aspectos a serem considerados na avaliação em Matemática. Destaca-se, assim, a necessidade de o professor não privilegiar apenas os conhecimentos específicos e a contagem de erros, mas a construção do pensamento. Na concepção que adotamos como avaliação, o “erro” não deve ser compreendido apenas como um desvio em relação à norma, mas inerente ao processo de aprendizagem. De acordo com Vergani (1993, p. 152), “interessar-se pelo aluno é interessar-se pelos seus erros”. Ou seja, “certo e errado” não podem ser apenas assinalados, mas servirem de subsídio para uma análise específica do professor com o estudante. Do mesmo modo, considerar a avaliação do estudante em relação a ele mesmo e avaliá-lo em relação às competências que se quer que ele desenvolva constituem-se critérios balizadores da avaliação formativa. A natureza diagnóstica da avaliação favorece um ajuste prévio da aprendizagem. O professor deverá observar os conflitos cognitivos que poderão interferir nas aprendizagens, mediando as regulações durante o processo enquanto realiza a própria autoavaliação sobre sua atuação diante das dificuldades que se apresentam. Essas observações não se restringem somente ao início, mas acontecem durante todo o processo de ensino-aprendizagem. A observação caracteriza a outra dimensão da avaliação, a formativa. Essa dimensão proporciona ao professor informações para melhor ensinar, e ao estudante posicionar-se diante de suas dificuldades. Ocorre uma ampliação do entendimento de avaliação, pois nem sempre é necessário avaliar informando o julgamento por meio de uma nota. O professor faz julgamento das produções dos estudantes porque recolheu, durante as observações sistemáticas – por meio de tarefas, das perguntas dos estudantes, das atividades em grupos, das pesquisas, entre outros – informações que potencializam e reorientam as mediações. Além da observação sistemática, o registro e estudo das produções e a análise de desempenho dos estudantes em atividades específicas de avaliação são estratégias que podem qualificar o ato avaliativo realizado pelo professor. Página 63 A utilização de portfólios, fichas de registro, seminários, trabalhos, provas, apresentações orais, autoavaliação e outros são instrumentos que se podem utilizar para avaliar a aprendizagem, com vistas ao desenvolvimento de competências. É importante considerar que cada instrumento, construído individual ou coletivamente no âmbito escolar, está relacionado com as intenções do planejamento e com a natureza dos conteúdos, cabendo ao professor na medida em que propõe diversos instrumentos avaliativos reconhecer as competências construídas e redirecionar os caminhos para uma melhor aprendizagem. Assim, é preciso entender a apresentação dos resultados da avaliação nessa Matriz como “mapeamento de processos” realizados durante e ao final do planejamento executado. Essas sínteses numéricas ou conceitos (notas/símbolos) não expressam somente o quanto o estudante acertou, mas buscam traduzir quantificadamente a distância em que se ficou de uma determinada meta (aprendizagem) que se estabeleceu ser necessário atingir pelo estudante. A riqueza do processo – a qualidade das tarefas, o tipo de aula, a regulação promovida, os questionamentos feitos por professores, estudantes e outros – se traduz por meio dessa notação numérica ou conceitual. Esse resultado não interessa somente ao estudante e à família, mas, sobretudo, ao professor, pois por meio dele planeja-se a mediação e a continuidade do processo, uma vez que os conceitos e procedimentos matemáticos assimilados e avaliados serão usados para ampliar as aprendizagens futuras. Página 64 Glossário Situação-problema “Uma situação que um indivíduo ou um grupo quer ou precisa resolver e para a qual não dispõe de um caminho rápido e direto que o leve à solução” (POZO, 1998). Uma situação-problema precisa causar certa desestabilização. É um importante dispositivo para trabalhar a interpretação de problemas, a construção e ampliação de significados matemáticos e outros. A resolução de uma situação-problema envolve, além da interpretação, definições, algoritmos, articulação entre conceitos, o pensar sobre a própria resposta, confrontar soluções – são momentos para o professor levantar as incompreensões e potencializar as mediações. Situaçõesproblema contribuem para que o conhecimento matemático não seja visto como um fim, mas um meio para desenvolver operações mentais mais complexas (POZO, 1998; DINIZ, 2001; PAIS, 2006). Página 65 Referências Referências gerais ARROYO, M. G. Educandos e educadores: seus direitos e o currículo. In: Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. __________. Imagens quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. Petrópolis: Vozes, 2004. BACHELARD, G. O novo espírito científico. 3. ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2000. __________. ENEM 2009, 2010, 2011 – Exame Nacional do Ensino Médio. INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Anísio Teixeira. Ministério da Educação. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br>. Acesso em: 12 jul. 2010. __________. Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias. Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. __________. Secretaria da Educação Média e Tecnológica. PCN+: Ensino Médio – Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 2002. CASA GERAL DO INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Conclusões do XXI Capítulo Geral: Corações novos para um mundo novo. Roma, 8 set.-10 out. 2009. Edição especial do documento produzido para o Brasil Marista, 2010. CASTORINA, J. A. Piaget e Vygotsky: novos argumentos para uma controvérsia. In: Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 105, nov. 1998, p. 160-183. CHEVALLARD, Y. La transposicion didactique. Paris: La Pensée Sauvage, 1991. DI BIASI, F. O homem holístico. São Paulo: Editora Vozes, 1995. ESTEBAN, M. T.; HOFFMANN, J.; SILVA, J. F. (Orgs.) Práticas avaliativas e aprendizagens significativas: em diferentes áreas do currículo. Porto Alegre: Mediação, 2004. FERREIRO, E. Luria e o desenvolvimento da escrita na criança. In: Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 88, fev. 1994, p. 72-77. FREIRE, P.; SHOR, I. Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Trad. Adriana Lopez. 8. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. Página 66 LIMA, E. S. Currículo e densenvolvimento humano. In: Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. MEIRIEU, P. Aprender... sim, mas como? 7. ed. Porto Alegre: Artes. Médicas, 1998. MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Currículo, conhecimento e cultura. In: Indagações sobre currículo. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. MOREIRA, H.; CALEFFE, L. G. Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador. 2. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2008. PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens. São Paulo: Artes Médicas, 1999. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA UBEE. UNBEC – 2007-2012. Brasília, 2007. SAMMON, S. D. Ir. Corações novos para um mundo novo. In: Circulares do Superior Geral dos Irmãos Maristas. Roma, v. 31, n. 4, 8 set. 2008. __________. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado: a vida apostólica Marista hoje. In: Circulares do Superior Geral dos Irmãos Maristas. Roma, v. 31, n. 3, 6 jun. 2006. Silva, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. __________. O sujeito da educação: estudos foucaultianos. Petrópolis: Vozes, 2002. UMBRASIL. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica, Brasília, 2009. __________. Ecos de Mendes. Relatório da Assembleia Internacional da Missão Marista: um coração uma missão. Brasília, 2007. VAN DER VEER, R.; VALSINER, J. Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Loyola, 1996. VEIGA-NETO, A. Foucault e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. VYGOTSKY, L. V. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 1996. __________. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. Página 67 Referências e sugestões de leitura na área de Matemática BIEMBENGUT, M. S.; HEIN, N. Modelagem matemática no ensino. São Paulo: Contexto, 2000. CALLEJO, M. L.; VILA, A. Matemática para aprender a pensar: o papel das crenças na resolução de problemas. Porto Alegre: Artmed, 2006. CÂNDIDO, P. T. Comunicação em Matemática. In: SMOLE, K. C. S.; DINIZ, M. I. (Orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001, p.15-28. CARAÇA, B. J. Conceitos fundamentais da Matemática. 9. ed. Lisboa: Sá da Costa Editores, 1989. CHICA, C. H. Por que formular problemas? In: SMOLE, K. C. S.; DINIZ, M. I. (Orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender Matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001, p.151-174. COURANT, R.; ROBBINS, H. O que é Matemática: uma abordagem elementar de métodos e conceitos, Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2000. D‟AMBROSIO, U. Por que se ensina Matemática? Curso a distância, promovido pela SBEM. Disponível em: <http://www.sbem.com.br>. Acesso em: 10 jul. 2010. __________. Transdisciplinaridade. São Paulo: Palas Athena, 1997. __________. A era da consciência. São Paulo: Peirópolis, 1997. DEVLIN, K. O gene da Matemática: o talento para lidar com números e a evolução do pensamento matemático. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. __________. Matemática: a ciência dos padrões. Portugal: Porto, 2002. FÉLIX, V. S. Educação matemática. Passo Fundo: Clio, 2001. FIORENTINI, D.; LORENZATO, S. Investigação em educação matemática, percursos teóricos e metodológicos. In: Coleção Formação de Professores. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2009. FONSECA, M. C. F. R.; CARDOSO, C. A. Escritas e leituras na educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. FONSECA, M. C. F. R. Letramento no Brasil: habilidades matemáticas. São Paulo: Global, 2004. Página 68 GIARDINETTO, J. R. Matemática escolar e matemática da vida cotidiana. Campinas: Autores Associados, 1999. GRAVINA, M. A. Acta do IV Congresso Ibero-americano de Informática na Educação. Brasília, 1998. Disponível em: <http://www.c5.cl/ieinvestiga/actas/ribie98/117.html>. Acesso em: 8 dez. 2010. LORENSATTI, E. J. C. Linguagem matemática e Língua Portuguesa: diálogo necessário na resolução de problemas matemáticos. In: Revista Conjectura. Caxias do Sul, v. 14, n. 2, maio-ago. 2009, p. 89-99. MACHADO, N. J. Mapa do Saber, entrevista concedida a Paulo de Camargo. Disponível em: <http://www2.uol.com.br//aprendiz/n_revistas/revista_educacao/setembro01/entrevist a.htm>. Acesso em: 21 nov. 2009. __________. Medindo comprimentos. São Paulo: Scipione, 2000. __________. Matemática e língua materna: análise de uma impressão mútua. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1988. MEYER, J. F. C. A.; CALDEIRA, A. D.; MALHEIROS, A. P. S. Modelagem em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. MOREIRA, P. C.; DAVID, M. M. M. S. Matemática acadêmica e Matemática escolar: dissonâncias e conflitos. In: LOPES, E. M. T.; PEREIRA, M. R. (Orgs.). Conhecimento e inclusão social: 40 anos de pesquisa em Educação. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011. __________. A formação matemática do professor, licenciatura e prática docente escolar. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. PAIS, L. C. Ensinar e aprender Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. PARRA, C. (Org). Didática da Matemática: reflexões psicopedagógicas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. PONTE, J. P.; BROCARDO, J.; OLIVEIRA, H. Investigações matemáticas na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. PONTE, J. P. Investigações matemáticas na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. POZO, J. I. A solução de problemas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. SADOVSKY, P. O ensino de Matemática hoje. São Paulo: Ática, 2007. SANCHO, J. M. Para uma tecnologia educacional. Porto Alegre: Artmed, 1998. Página 69 SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artes Médicas Editora, 2001. SKOVSMOSE, O. Educação matemática crítica. São Paulo: Papirus, 2001. TEIXEIRA, I. A. C. Da condição docente: primeiras aproximações teóricas. In: Educação & Sociedade. Campinas, v. 28, n. 99, maio-ago. 2007, p. 426-443. Disponível em:<http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em 23 de out., 2011. VALENTE, W. R. et al. Avaliação em Matemática: história e perspectivas atuais. Campinas; São Paulo: Papirus, 2010. VAN DE WALLE, J. A. Matemática no ensino fundamental: formação de professores e aplicação em sala de aula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. VERGANI, T. Um horizonte de possíveis: sobre uma educação matemática viva e globalizante. Lisboa: Universidade Aberta, 1993. Página 70