A INFLUÊNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE CIÊNCIAS NATURAIS NO PROCESSO DOCENTE EDUCATIVO Hilana de Farias Pacheco – Email: [email protected] Gizeuda de Lavor da Paz – Email: [email protected] Universidade Estadual do Piauí, bolsista PIBIC/UESPI Rita de Cássia Pereira Santos Carvalho Professora Mestre da Universidade Estadual do Piauí, orientadora PIBIC/UESPI INTRODUÇÃO A realidade contemporânea caracteriza-se pelo notável avanço da informação, da técnica e da ciência, pela globalização de todos os processos econômicos, sociais e culturais, pela competitividade embasada no poder do saber e da tecnologia, e pelas desigualdades entre países e classes. Essas características configuram um panorama de insegurança, de incerteza do homem frente ao futuro. Por sua vez, estabelece-se a necessidade do homem aprender a aprender, não só durante a escolaridade básica, mas ao longo de toda a sua vida, como condição primeira de inserção e participação nessa sociedade globalizada e, ao mesmo tempo tão desigual. Nesse aspecto, o relatório Delors (1999), encaminhado à União das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura - UNESCO, sublinha que a Educação, para responder aos desafios da contemporaneidade, deverá estar organizada em torno de quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. A primeira supõe a combinação de uma cultura geral, suficientemente ampla, com possibilidades de aprofundar conhecimentos em determinada área do saber. Supõe também, aprender a aprender para poder aproveitar as possibilidades que a educação oferece ao longo da vida. A segunda refere-se à aquisição de habilidades que capacite o indivíduo a fazer frente ao grande número de situações novas. A terceira desenvolve a compreensão do outro e a percepção das formas de interdependência, de modo a permitir a realização de projetos comuns e preparar-se para tratar os conflitos, respeitando os valores de compreensão mútua. E a última supõe que a Educação deve estar comprometida com o 2 desenvolvimento global do indivíduo, oferecendo condições para que o mesmo atue com crescente capacidade de autonomia. Dessa perspectiva, deriva uma nova concepção de educação escolar e, conseqüentemente o redimensionamento do papel do professor, o que implica em uma formação que esteja articulada com as questões da escola de ensino básico e que envolva a reflexão como prática cotidiana, pois ao analisar suas experiências o professor pode refletir e transformar sua própria prática pedagógica, através de um exercício de ação - reflexão – ação, que consiste em observar sua docência, analisá-la criticamente e procurar transformála. Isso pressupõe a preparação do professor investigador em aula. É consenso, entre educadores e especialistas em educação, de que hoje no Brasil a formação de que dispõe os professores não tem contribuído eficientemente para que os alunos das escolas de Educação Básica tenham sucesso nas aprendizagens escolares e, principalmente, participem como cidadãos de pleno direito em um mundo cada vez mais exigente sob todos os aspectos. As pesquisas realizadas pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) que aferem os níveis de desempenho dos alunos brasileiros vêm indicando que, no ensino fundamental e médio, a escola não tem conseguido cumprir adequadamente sua tarefa de promover as aprendizagens dos alunos. Esse quadro que se configura na educação básica requer investimentos substanciais para sua transformação, que devem se destinar tanto à melhoria dos recursos materiais das escolas e dos centros de formação dos profissionais, dos quais depende a educação brasileira, como também para implementação de programas de formação continuada, haja vista, a necessidade não somente de tentar minimizar as lacunas da formação inicial, mas também pelo fato da escola ser um espaço de formação e socialização de sabres pedagógicos entre os professores. É preciso garantir às crianças e jovens, o desenvolvimento das capacidades imprescindíveis, não só para conquistarem sucesso escolar, mas principalmente, capacidade pessoal que lhes permita plena participação social num mundo cada vez mais exigente sob todos os aspectos. É preciso, por tanto, que o poder público, através das instituições competentes (universidades, institutos, etc.) possa garantir aos professores, oportunidades de formação continuada que possam promover o seu desenvolvimento profissional. 3 Tendo em vista essas preocupações, o estudo procurou investigar a influência da formação continuada recebida pelos professores de Ciências Naturais da rede Municipal de Teresina, na prática pedagógica desses profissionais. A pesquisa de campo possibilitou o acompanhamento do curso de formação continuada planejado e executado pelo Instituto Qualidade no Ensino no Centro de Formação mantido pela Secretaria Municipal de Educação de Teresina – SEMEC e a aplicação de questionários com os participantes desse processo. OBJETIVOS GERAL Analisar qualitativa e quantitativamente até que ponto o curso de formação continuada em Ciência Naturais contribuiu para a prática pedagógica dos professores de 5ª a 9ª série que atuam em escolas da rede Municipal de Teresina (PI). ESPECÍFICOS Levantar junto à Secretaria Municipal de Educação de Teresina os tipos de programas de formação continuada oferecidos aos professores de Ciências Naturais da rede. Identificar os métodos e inovações pedagógicas na prática pedagógica dos professores de Ciências Naturais que participam de programas de formação continuada ofertados pelo Sistema Municipal de Ensino Enumerar os pontos positivos e negativos da formação continuada dos docentes de Ciências Naturais. 4 METODOLOGIA DA PESQUISA O caminho metodológico percorrido no esclarecimento das questões levantadas nesta investigação foi pautado em um estudo descritivo, de base empírica e natureza quanto-qualitativa, por considerar que os paradigmas de pesquisa quantitativa e qualitativa se complementam na análise do fenômeno investigado, como destaca Gamboa. Na pesquisa em Ciências Sociais, freqüentemente são utilizados resultados e dados expressos em números. Porém se interpretados e contextualizados à luz da dinâmica social mais ampla, a análise torna-se qualitativa, isto é, na medida em que inserimos os dados na dinâmica da evolução do fenômeno e este dentro de um todo maior compreensivo, é preciso articular as dimensões qualitativas e quantitativas em uma inter-relação dinâmica, como categorias utilizadas pelo sujeito na explicação e compreensão do objeto (1997, p.106). Richardson (1999, p.89), também defende que embora existam diferenças ideológicas profundas nos métodos quantitativos e qualitativos de produção do conhecimento, a complementaridade de ambos os métodos pode ser importante no desvelamento do problema investigado e, assim argumenta: “[...] a pesquisa social deve estar orientada à melhoria das condições de vida da grande maioria da população. Portanto, é necessário, na medida do possível, integrar pontos de vista, métodos e técnicas para enfrentar o desafio”. (grifo nosso) Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica que consistiu no levantamento de obras sobre a temática e posteriormente as leituras seletivas, analíticas e interpretativas, de modo a colher fundamentos teóricos para subsidiar a pesquisa. A segunda fase consistiu da participação ativa da pesquisadora no curso de formação continuada em Ciências Naturais para os professores efetivos e estagiários da Secretaria Municipal de Educação – SEMEC, realizado no Centro de Formação Professor Odilon Nunes, localizado no município de Teresina (PI), zona norte da cidade, no período de 05 de março a 13 de agosto de 2010, turno tarde. O curso em questão foi desenvolvido pelo Instituto Qualidade no Ensino – IQE, que assumiu a responsabilidade de capacitação do professor formador e da produção do material didático, fornecido aos docentes que participavam do curso. Cabe aqui considerar que o Formador é um professor do quadro efetivo da escola municipal, indicado pela SEMEC. O curso de formação terá duração de dois anos e seis meses, e seu inicio ocorreu no primeiro semestre de 2010. Está organizado em quatro (4) etapas. Em cada etapa da 5 formação, os participantes têm acesso ao material didático denominado de caderno Conceito e Ação - Ensino Fundamental II, constituído de quatro unidades, contendo os temas centrais “Terra e Universo”, “ Vida e Ambiente”, “Ser Humano e Saúde” e “Tecnologia e Sociedade”. Cada unidade está dividida em três ou quatro seções de conteúdos de Ciências Naturais e aspectos do ensino e aprendizagem. Cada seção é iniciada com a exposição de objetivos que deverão ser alcançados. Além disso também são apresentados quadros específicos intitulados de: Cá entre nós – são sínteses parciais de assuntos de Ciências Naturais; E lá na sala de aula – com a finalidade de apresentar metodologias diferentes a serem aplicadas em sala de aula; Sintetizando – Síntese das principais idéias discutidas. Leituras sugeridas - apresenta indicações de obras para ampliação do conhecimento, com seus respectivos resumos; Glossário – aponta os significados para termos técnico; A terceira fase da pesquisa consistiu de um estudo empírico com aplicação de questionário a todos os professores participantes do processo de formação continuada, com a intenção de obter informações sobre a influência da formação recebida na sua prática pedagógica. No total foram aplicados 4 (quatro) questionários, conforme especificado: um questionário aplicado ao final de cada unidade estudada, totalizando três questionários, e outro no final da primeira etapa de formação, que ocorreu no primeiro semestre de 2010. Os questionários continham perguntas abertas e fechadas, objetivando identificar quais das atividades propostas durante o curso que foram utilizadas pelos docentes em suas aulas, ou as que foram adaptadas à realidade da escola, bem como a influência da aplicação dessas atividades na motivação e aprendizagem do aluno e a contribuição do curso prática pedagógica desses profissionais. Responderam ao questionário 1, 2, 3 e 4, doze, dezoito, oito e oito docentes, respectivamente, que foram identificados por letras do alfabeto, para preservar a privacidade dos mesmos. Para ampliar a compreensão do fenômeno investigado a observação participante se fez presente na primeira etapa do curso de formação continuada, desenvolvido no primeiro semestre de 2010, onde se teve acesso a todo material didático do curso. Nesta 6 oportunidade aproveitou-se para esclarecer, aos sujeitos, os propósitos da presente pesquisa, com as assinaturas do termo de consentimento livre e esclarecido. Como a coleta de dados foi realizada a partir de questionário e observação participante, utilizaram-se na análise dos dados coletados dois métodos: o quantitativo e o qualitativo. O método quantitativo deu-se por meio da análise de freqüência das respostas dadas a cada questão, e apresentados seus percentuais em gráficos e tabelas. Este procedimento foi empregado nas questões objetivas do questionário e na categorização de questões subjetivas. O método qualitativo foi empregado nas questões abertas do questionário e nos aspectos observados no decorrer do curso de formação, conforme proposto por Triviños (1987) na análise do discurso, em que a princípio, foi feita uma leitura analítica do conteúdo manifestado pelos professores, seguidamente fez-se um estudo aprofundado das respostas e, por último, a interpretação inferencial. Após a análise dos dados coletados nos questionários pôde-se perceber que algumas das atividades discutidas no curso de formação foram aplicadas pelos docentes em suas aulas mesmo que adaptada à realidade social da escola. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização do Curso de Formação Continuada em Ciências Naturais O curso de formação continuada em ciências naturais é direcionado a professores atuantes no ensino fundamental maior (6º ao 9º ano), que tem por objetivo complementar a formação destes, visando melhorar a qualidade do ensino e de aprendizagem nas escolas municipais de Teresina. As aulas dessa formação foram realizadas com base no material de apoio fornecido pelo IQE. A metodologia utilizada pelos formadores consistiu, basicamente, de leituras coletivas do material didático e de demonstrações de algumas das atividades metodológicas propostas no material. Houve também demonstrações de outras metodologias que foram elaboradas pelo coordenador e formadores do curso. Muitas dessas atividades desenvolvidas são de fácil aplicação e envolvem o uso de materiais simples do cotidiano. Embora, algumas apresentem um grau de dificuldades, necessitando de adequações por parte dos professores. 7 Essas atividades, apesar de serem lidas e/ou desenvolvidas nos cursos, poderiam ser melhor trabalhadas, pois formadores e professores pouco promoviam discussões ou reflexões em relação às mesmas ou ao material de apoio, isso ocorreu principalmente durante a utilização da primeira unidade do caderno. Discussão essa, necessária para observar a opinião dos professores em relação a estes materiais e as aulas. Elogios e falhas que serviriam como sugestão de melhoria tanto para o curso, como para as metodologias apontadas. Estando em acordo com Lima (1996, p. 17) quando diz que essas devem ser estratégias que venham promover um ensino de significância, para não acabarem se igualando as práticas adotadas em alguns cursos de capacitação, as quais não levam em consideração a complexidade do trabalho do professor e se restringem apenas às metodologias de ensino, assim não garantindo um espaço permanente de produção e reflexão sobre o que fazer na escola. Dessa forma, percebe-se que a socialização de experiências é sempre necessária, porque não se pode conceber que as atividades tal como estão descritas no material se encaixam a realidade das salas de aulas das escolas municipais de Teresina. É importante frisar, também, que o material de apoio apesar de bem elaborado, não dá conta de atender a todos os conteúdos de ciências, e muitas metodologias referiamse a um único assunto. Em relação aos formadores, estes se prendiam muito ao material de apoio e ao cronograma do curso previamente estabelecido, mas houve abertura de espaço para a apresentação (socialização) de projetos desenvolvidos na escola, o que é interessante para que outros professores se sentissem incentivados a desenvolvê-los ou se sentissem motivados a elaborar e desenvolver projetos e por conseguinte socializá-los. Desde o inicio do curso, percebia-se certa resistência por parte de alguns professores em participarem do programa, o que possivelmente deve ter contribuído para evasão, baixa assiduidade e descumprimento do horário (chegada e saída). Este último item dificultou o andamento do curso e até mesmo o da pesquisa, pois os formadores tinham um cronograma a seguir, assim não sobrava tempo para promoção de discussão, ou até mesmo, a viabilização de momentos para troca de experiências, através de projetos desenvolvidos, da aplicação de alguma atividade em que se obteve êxito ou não e de como se portar na mediação de conflitos surgidos no espaço escolar. Isto porque um curso com duração de quatro horas semanais, na maioria das vezes, durava três horas ou menos. 8 Análise dos dados obtidos através dos questionários O presente estudo foi iniciado com a aplicação de questionários, em relação ao caderno Conceito e Ação Ensino Fundamental II volume 1 unidades I, II e III (Terra e Universo, Vida e Ambiente e Ser Humano e Saúde), visto que o prazo previsto para o término desse volume , no qual está incluído a unidade IV “Tecnologia e Sociedade”, prorrogou até o final do mês de agosto de 2010, data esta, que ultrapassava o tempo estipulado para a tabulação e discussão dos dados da pesquisa. As informações obtidas foram analisadas e interpretadas de forma quantitativa e qualitativa e explicitadas a seguir: Utilização de metodologias em sala de Aula Ao perguntar para os professores sobre a importância da aplicação em sala de aula dos temas e métodos (atividades) propostos na formação, todos (100%) os professores, em todas as etapas dos questionários (dirigidos à aplicação de metodologias em sala de aula com base no material de apoio), consideraram essa aplicação relevante. Como se observa nas seguintes falas: É importante para que o aluno compreenda os fenômenos que ocorrem na Terra, a organização dos corpos celestes e como isso interfere no dia-dia (Professor A – Questionário I). Traz metodologias interessantes, possibilitando um maior aproveitamento do conteúdo, se empregado em momentos convenientes (Professor B – Questionário I). Auxiliam bastante no nosso trabalho como educadores (Professor C – Questionário II). Tornam o ensino de ciências mais interessante (Professor D – Questionário II). Dependendo da abordagem em sala de aula, pois alguns textos são complexos para o nível dos alunos (Professor E – Questionário II). Propõe algumas atividades que estimulam e melhoram a aprendizagem dos alunos (Professor A – Questionário III). Analisando as falas dos professores constata-se uma avaliação positiva da importância do curso de formação continuada para melhoria da prática docente e com implicação direta na aprendizagem dos alunos. 9 Embora todos os docentes considerassem a aplicação dessas metodologias importante, a introdução das mesmas, em relação à primeira unidade, aconteceu de maneira bem tímida, uma vez que, somente 16,7% dos 12 professores investigados fizeram uso de algumas das atividades metodológicas sugeridas durante o curso (gráfico 1). O gráfico 1 mostra que 83,3% dos professores não utilizaram nenhuma das estratégias metodológicas demonstradas na primeira unidade de estudo do curso. Isso pode ser decorrente das características do referido curso, que assume uma concepção de aperfeiçoamento, treinamento, ou atualização que se dão, basicamente, pela aquisição de informações. E também, porque os conteúdos, referentes à primeira unidade trabalhada na formação, geralmente, constam nos capítulos finais dos livros e os professores costumam seguir a mesma sequência com que esses capítulos são dispostos, mesmo essa prática negando a estes docentes a oportunidades de julgarem e entenderem suas próprias ações mediadas pela reflexão . 90,00% 80,00% 83,33% 83,33% 70,00% 60,00% Estratégias utilizadas sem adaptações 50,00% 40,00% Estratégias utilizadas com adaptações 30,00% 16,62% 20,00% 8,33% 10,00% 8,33% 0 0 0 0,00% I II III IV Professores que não utilizaram estratégias de ensino Professores que utilizaram de 1 até 6 estratégias de ensino Professores que utilizaram de 7 até 14 estratégias de ensino Professores que utilizaram de 15 até 21 estratégias de ensino Gráfico 1: Estratégias de ensino utilizadas pelos professores após a primeira unidade da formação continuada Dentre as 15 atividades didáticas propostas na segunda unidade de estudo, os resultados se mostraram mais animadores, uma vez que, 33,3% dos professores participantes se enquadram no quantitativo de 1 a 5 atividades utilizadas em sala de aula 10 sem adaptação e 50% dos docentes, nesse mesmo quantitativo, utilizaram as estratégias com adaptações (gráfico 2). Quanto às estratégias de ensino presenciadas na terceira unidade do curso de formação, 83,3% dos professores afirmam ter desenvolvido algumas das atividades com os alunos nas suas aulas de Ciências (gráfico 3), percebendo-se que entre a segunda e terceira unidade há uma regularidade na aplicação das estratégias demonstradas durante a formação. Analisando os dados referentes às unidades um, dois e três de estudo, contidas nos gráficos 1,2 e 3, respectivamente, constata-se um decréscimo no percentual de docentes, que não utilizaram nenhuma das atividades propostas. Isso é reflexo de uma maior aceitação da formação e reconhecimento do papel dessas atividades no desenvolvimento da prática docente. 70,00% 60,00% 61,11% 50% 50% Estratégias utilizadas sem adaptações 50,00% 40,00% 33,33% 30,00% Estratégias utilizadas com adaptações 20,00% 6% 10,00% 0% 0% 0% 0,00% I II III IV I - Professores que não utilizaram estratégias de ensino II - Professores que utilizaram de 1 até 5 estratégias de ensino III - Professores que utilizaram de 6 até 10 estratégias de ensino IV - Professores que utilizaram de 11 até 14 estratégias de ensino Gráfico 2: Estratégias de ensino utilizadas pelos professores após a segunda unidade da formação continuada É válido ressaltar que a não utilização de qualquer uma dessas atividades não significa que o curso não esteja influenciando na formação do docente, e no seu desenvolvimento como professor em sala de aula, assim como também não significa que eles não as irão utilizar futuramente. Concorde Lima que afirma que 11 a ruptura que se deseja e se espera do professor num trabalho de formação continuada é resultado de um processo longo e demorado. Implica não só no reconhecimento dos limites das práticas pedagógicas tradicionais em que foi formado e que agora reproduz, mas também na vivência de propostas inovadoras. Nesse processo faz-se necessário resgatar no mesmo o caráter dinâmico do conhecimento e a provisoriedade das propostas que se delineiam cotidianamente (1996). Também, não se deve afirmar que a utilização das atividades propostas ou não, deva servir para predizer a eficácia de um programa de formação, mas o interesse da inserção dessas estratégias junto aos conteúdos ministrados é um sinal de que os professores estão buscando novas formas para incrementar sua didática, o que possivelmente facilitará a aprendizagem, por parte dos discentes, do conteúdo didático, sendo que as adaptações das metodologias vivenciadas, à realidade escolar, demonstram autonomia e segurança do professor diante dos desafios pedagógicos, emocionais e político do âmbito escolar. 45% 40%40% 40% 40% 40% 35% Estratégias utilizadas sem adaptações 30% 25% 20% 20% 20% Estratégias utilizadas com adaptações 15% 10% 5% 0% 0% 0% I II III IV I - Professores que não utilizaram estratégias de ensino II - Professores que utilizaram de 1 até 2 estratégias de ensino III - Professores que utilizaram de 3 até 4 estratégias de ensino IV - Professores que utilizaram de 5 até 6 estratégias de ensino Gráfico 3: Estratégias de ensino utilizadas pelos professores após a terceira unidade da formação continuada Em relação à mudança dos alunos diante de uma nova postura adotada pelo professor em sala de aula, principalmente quando este inova seus métodos para facilitar a compreensão da disciplina, Lima (1996) afirma que o retorno positivo por parte desses 12 alunos, a essa mudança, é rápido e claramente percebido, e que uma vez obtido sucesso no aprendizado, o professor mobiliza forças para continuar promovendo modificações em suas aulas. Portanto, sobre a aplicação dessas metodologias em sala de aula, a maioria dos professores (exceto um professor), afirmou que influenciaram positivamente na motivação e aprendizagem dos alunos, conforme expressam as seguintes falas: Isso pode auxiliar em despertar a curiosidade para a investigação do Universo e a compreensão de tudo que conhecemos (Professor F – Questionário I). A aplicação desses métodos melhora a aprendizagem dos alunos, pois aproxima os conteúdos da realidade dos alunos e faz com eles se interessem pelo conteúdo (Professor A – Questionário I). Os alunos participam mais e fica mais fácil realizar uma avaliação (Professor B – Questionário II). As atividades teóricas pesquisadas pelos alunos na construção do conhecimento e na descoberta das soluções para os problemas propostos (Professor G – Questionário II). Essas metodologias, para mim, não é nenhuma novidade. Várias atividades destas já apliquei no processo ensino-aprendizagem, porém fazendo algumas adaptações a nossa realidade. Atividades diversificadas motivam os educadores os educandos de forma positiva e leva à aquisição de novos conhecimentos (Professor H – Questionário II). Essas metodologias auxiliam na socialização dos alunos e faz com eles interajam mais (alguns), outros nem se interessam em ficar a parte, mesmo que você tente os inserir no processo. Além disso, a falta de recursos é muito grande e o tempo disponível também (Professor I – Questionário III). Com certeza, quando levamos o aluno a discussão e a prática, a reflexão e contextualização dos conteúdos com seu cotidiano, eles tem muito mais interesse pelos temas e o aprendizado é bem mais significativo (Professor J – Questionário III). A apresentação de novas metodologias e atividades diversificadas estimula o educando a aprender de forma contextualizada tornando à disciplina e a aula mais atrativas (Professor H – Questionário III). Diante das respostas apresentadas pelos docentes, pode-se inferir que o curso está influenciado na prática do professor, à medida que ele o concebe como importante, porque proporciona o conhecimento de estratégias de ensino que estimula e motiva o aluno em sala de aula. Em acordo com Santos & Sobrinho (2007) quando afirmam que a formação continuada deve se preocupar com o desenvolvimento do professor em sala de aula valorizando o saber experiencial. 13 Assim, quando os professores foram solicitados a justificarem o porquê de não terem utilizado as estratégias de ensino, sugeridas na formação, referentes à unidade 1, 2 e 3, a maior parte dos professores responderam que: ainda não haviam lecionado os conteúdos; faltava tempo para adaptá-los ao planejamento e porque não lecionam nas séries das quais os conteúdos tratavam. Verificando essas respostas, pode-se constatar que elas não significaram um ponto negativo da formação, tendo em vista que, alguns professores manifestaram a intenção de aderir tais estratégias ao planejamento do próximo ano, com a justificativa de que terão mais tempo para se organizarem e selecionarem os métodos que melhor adéquem aos dos conteúdos a serem ministrados. É importante destacar que, grande parte dos docentes, apontou como justificativa para não utilização das estratégias em suas aulas, o fato de não lecionarem nas séries correspondente aos conteúdos desenvolvidos na formação. No entanto, o PCN orienta para a abordagem dos conteúdos de ciências em espiral, isto é, estabelecendo conexões entre os diferentes eixos temáticos, em todas as séries do ensino fundamental. Porém, essa forma de organização curricular apresenta-se como uma dificuldade, uma vez que, os conteúdos na maioria dos livros didáticos, não seguem a mesma orientação. Opinião dos professores acerca do curso de formação continuada em ciências naturais De acordo com os objetivos pesquisados na literatura sobre formação continuada, solicitou-se aos professores que apontassem quais desses objetivos (descritos no quadro 4), eles consideraram ter sido atingidos com a formação continuada da qual estavam participando. Quadro 1 – Concepções dos professores sobre os objetivos do curso de formação continuada em ciências naturais. Objetivos da Formação Continuada Utilizar recursos metodológicos e didáticos que permitam melhorar a prática docente propiciando a aprendizagem significativa dos alunos % PROFº 87,2% Ser orientada no sentido de favorecer a vivência de propostas inovadoras e a reflexão didática explícita, questionando o pensamento “espontâneo”, isto é, de 62,5%) caráter “natural” daquilo que se fez Rever e atualizar conteúdos científicos com uma concepção de ciências como processo de construção 37,5% 14 Deve ser potencialmente produtiva, respondendo às anomalias e obstáculos encontrados e cobrindo novas perspectivas para a solução dos problemas de 37,5% ensino-aprendizagem de ciências Valoriza a investigação científica 37,5% Socialização dos conteúdos como construção do saber 37,5% Ascensão da carreira docente 0% Saber desde preparar aulas a avaliar os alunos 0% Pelos dados apresentados no quadro 4 percebe-se que os docentes têm consciência da importância que a formação continuada representou para o desenvolvimento de sua formação e da consequente melhoria que poderá (o professor) obter no processo de ensino/aprendizagem. Porém, como se observa no quadro, dois dos objetivos a serem alcançados por essa formação, ainda não haviam sido satisfatoriamente atingidos, e sabe-se que é muito importante que o professor tenha autonomia quando se refere à seleção do livro, seleção e reorganização de conteúdos para aplicar em sala de aula, cujo através de um conhecimento mais aprofundado da disciplina e também sob orientação (papel da formação) consiga reordenar os capítulos distribuídos no livro, que venha a ser criterioso assim como criativo com relação à metodologia para abordar ou complementar um assunto, é interessante que o professor se utilize de artifícios que faça o aluno perceber a interligação existente entre os conteúdos dos livros, ou seja, é inerente que ela saiba „preparar aulas‟ para assim facilitar a compreensão do discente e consequentemente a aprendizagem. O professor, também, deve ter orientação com relação à forma de realizar a avaliação, mesmo sabendo que ainda não há um modelo padrão que se julgue o correto para se aplicar, e de como proceder diante dos resultados desta avaliação. No qual, esta (saber desde preparar aulas a avaliar) é a finalidade que deve estar integrada aos objetivos de uma formação, seja ela inicial ou permanente, pois isso engrandece o trabalho do professor. Concordando com Gil-Pérez & Carvalho ao afirmarem que Um dos principais problemas da formação de professores não é tanto o desenvolvimento do conhecimento dos alunos, das aulas e da natureza do processo educativo, e sim como facilitar aos professores em formação a integração destes conhecimentos dentro de sua prática (2001, p. 69). 15 Um outro objetivo não citado pelos professores foi à ascensão na carreira docente, pois o curso com duração de dois anos e seis meses não prevê a entrega de certificados, e inclusive este é um dos fatores apontados como sugestão (62,5% dos professores) para serem revistos pelos idealizadores do curso, porque apesar da conscientização da representatividade da formação para a melhoria da educação, este é um fator de desestímulo e possivelmente, também, o fator principal da perceptível evasão no curso. Outro ponto mencionado a ser melhorado foi em relação ao material de apoio (50% dos professores), cujo alguns, consideram que as metodologias abordadas são inviáveis ou pelos recursos indisponíveis na escola em que trabalha, ou pela complexidade com que as mesmas são apresentadas entre outros. Em relação aos pontos positivos da formação, 100% dos professores apontaram a apresentação de novas metodologias. Estes, foram os momentos mais enfatizados durante o curso, como já se sabe o objetivo do mesmo é que o professor possa crescer em sala de aula, e o desenvolvimento dessas metodologias nos cursos abre caminho para que ele se sinta mais autoconfiante em relação tanto à aplicação, como para fazer modificações nas mesmas, caso seja necessário. É importante até mesmo para que o professor possa elaborar novas estratégias de ensino e então possibilitar a reflexão sobre a introdução dessas, buscando a construção de conhecimentos dos seus alunos (saber didático). Mas essa autoconfiança somente se solidifica quando o professor domina os conteúdos de sua disciplina (saber específico), isto é, não basta apenas que ele seja conhecedor e possuidor da didática, assim, para não ficarem presos ao livro didático, pois é relevante que eles tenham autonomia de inovarem, integrarem os conteúdos com de outras disciplina, realizarem experimentos adequados, que o tornem professores seguros do seu trabalho (1996, p. 8). A partir dessa afirmação de Menezes, vê-se a importância de um curso de formação contribuir para o saberes dos docentes, os quais 87,5% e 75%, disseram que a formação continuada contribuiu com ampliação dos saberes didáticos e específicos, respectivamente, completando com a fala de Gil-Pérez & Carvalho (2001, p.85) que cita que a didática específica é uma das formas mais eficazes de o professor cumprir com sua tarefa e solidificar seu ensino, apesar de se ter constatado que ainda o curso não está proporcionando ao mesmo, a integração entre esses saberes, para que, realmente o auxilie diante das dificuldades de se abordar os conteúdos. 16 CONSIDERAÇÕES FINAS O estudo desenvolvido sobre análise da influência da formação continuada de professores de Ciências na Prática Pedagógica possibilitou um aprofundamento teórico sobre o novo paradigma de formação continuada que apóia no processo de reflexão-açãoreflexão sobre atividade docente, a partir da consideração do cotidiano da sala de aula, como objeto de constante discussão e análise. Os resultados da pesquisa revelaram que o curso de formação continuada, em relação à primeira unidade resumiu-se a encontros e palestras de aprofundamento de conteúdos e demonstrações de estratégias de ensino propostas no material de apoio do professor elaborado pelo IQE. Também constatou que o curso atingiu seus objetivos quando trouxe metodologias para incrementar a didática dos professores e que estes apesar de resistirem em participar do curso, muitos trabalharam estas metodologias em sala de aula. E os que não adotaram essas atividades pretendem adotar futuramente. Assim, pode-se afirmar que o curso propiciou-lhes uma contribuição no ato pedagógico no que diz respeito a: Saberes didáticos: Inovações metodológicas integradas aos conteúdos de ciências; reflexões sobre sua prática e auxílio nas dificuldades em sala de aula. Saberes específicos: Revisão e atualização de conteúdos de ciências. Através das observações percebeu - se uma resistência por parte do professor em participar do curso, fato demonstrado pelo alto índice de evasão e baixa assiduidade. Entendo que o curso em questão pretende buscar melhoria na qualidade do ensino fundamental de 1º ao 9º ano, das escolas municipais de Teresina, o não comparecimento da maioria dos professores inviabiliza que o programa tenha uma maior abrangência, isto é, que tenha de fato uma contribuição significativa na prática pedagógica e consequentemente na melhoria do ensino dessas escolas da rede pública. Concordando com Menezes (1996, p.49), ao citar que “mesmo quando é perceptível a “realidade” de um programa, nem sempre é nítida sua consistência ou sua efetiva permanência”. Sendo importante ressaltar que a pesquisa foi realizada durante a fase inicial do curso de formação, não retirando a possibilidade de que tais falhas sejam resolvidas ao decorrer do mesmo e também não deixando de mencionar que toda e qualquer contribuição é um processo que ocorre de forma gradual e que pode ser melhor constatada um ou dois anos após a realização do curso. 17 Diante disso propõe-se que dêem continuidade a esse estudo e também que se façam pesquisas sobre as reais causas de evasão nos cursos de formação continuada e também da sua influência no processo de ensino/aprendizagem, isso como forma de incrementá-lo e que, de fato, a qualidade do ensino das escolas da rede municipal de ensino possa ser uma realidade. Para tanto, é necessário construir um processo de formação em conjunto com o professor, buscando o desvelamento das condições sociais, políticas, econômica que perpassam a sua prática pedagógica. Sendo assim, precisa ser um processo contínuo, integrado ao dia-a-dia do professor e da escola. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DELORS, J. (Coord.). Relatório Delors. Educação: um tesouro a descobrir. 2.ed. São Paulo: Cortez, 1999. GAMBOA, S. S. (Org.). Pesquisa educacional: quantidade-qualidade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. GIL-PÉREZ, D.; CARVALHO, A. M. P.de. Formação de professores de ciências: tendências e inovações. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001. INSTITUTO QUALIDADE NO ENSINO. Conceito e Ação Ensino Fundamental II Volume 1 Unidade 1 (Ciências Naturais) Terra e Universo – Observação do céu a olho nu 2. ed. São Paulo, Copyright, 2009. INSTITUTO QUALIDADE NO ENSINO. Conceito e Ação Ensino Fundamental II Volume 1 Unidade 2 (Ciências Naturais) Vida e Ambiente – Classificação, evolução e observação no estudo dos seres vivos 2. ed. São Paulo, Copyright 2009, 2009. INSTITUTO QUALIDADE NO ENSINO. Conceito e Ação Ensino Fundamental II Volume 1 Unidade 3 (Ciências Naturais) Ser humano e saúde – Corpo humano e saúde 2. ed. São Paulo, Copyright, 2009. LIMA, Maria E. C. C. Formação continuada dos professores de química. Química Nova na escola, Minas Gerais, novembro de 1996. Disponível em: < http://qnesc.sbq.org.br > Acesso em: 13 de jul. de 2008. 18 MENEZES, L. C. de. Formação continuada de professores de ciências no contexto ibero-americano. São Paulo, Autores Associados, 1996. RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1999. SANTOS, A. R. R.; SOBRINHO, J. A. C. M. Ensino de ciências naturais nas escolas municipais de Teresina e suas contribuições para a formação da cidadania. Teresina: EDUFPI, 2007. TRIVINOS, A. N. S. Introdução a pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. Atlas, 1987