RESENHA Paula Costa e Silva. A litigância de má fé. Coimbra: Coimbra Editora, 2008. A Professora Doutora Paula Costa e Silva, da Universidade de Lisboa, lançou, pela Editora Coimbra, um trabalho de fôlego sobre a litigância de má-fé. Fruto de profunda pesquisa – demonstrada na extensa bibliografia, que compreende manuscritos dos praxistas, obras de juristas europeus e textos elaborados por doutrinadores brasileiros – a autora dispôs-se a investigar o tema, com o objetivo de verificar se a obrigação de indenizar, prevista em dispositivos do Código de Processo Civil português, decorrente de atos de litigância de má-fé, repõe todos os tipos de dano e cobre a lesão de quaisquer bens jurídicos. Para alcançar seus objetivos a responder às perguntas feitas de início, a Professora Paula discorre sobre a repressão do comportamento processual ilícito no Direito Português e os seus antecedentes históricos, oferecendo um proveitoso escorço de tal repressão nas Ordenações Filipinas, nas Ordenações Manuelinas, nas Ordenações Afonsinas, além de tratar da malícia e do abuso em leis anteriores à primeira Codificação, daí se seguindo uma interessante análise a respeito da influência do direito romano sobre o tema. Em seguida, esclarece como a lide maliciosa foi disciplinada no Código de Processo Civil português de 1876, no de 1939, no de 1961 e nas sucessivas reformas, desaguando no regime jurídico atualmente em vigor. Após esse relevante apanhado histórico, passa a descrever os modelos de responsabilidade, destacando o sistema italiano, os sistemas de comon law, o brasileiro e o germânico. A partir daí, narra os detalhes da litigância de má-fé na jurisprudência portuguesa, notadamente na do Tribunal Constitucional e na dos demais tribunais judiciais. A essa altura, traça os delicados contornos da litigância de má-fé, identificando os elementos dos tipos de ilícito previstos na legislação lusitana e destacando-os com precisa análise acerca de cada um deles. Segue, confrontando a litigância de má-fé com o abuso de direito, a responsabilidade civil com a responsabilidade processual para, então, tratar da respectiva indenização. Depois disso, a autora passa à demonstração da ilicitude no tipo central, quando, então, ressalta o abandono da cláusula geral da má-fé, descrevendo os comportamentos típicos que configuram a litigância de má-fé. Põe-se em evidência, nesse momento, a opção metodológica da Professora Paula Costa e Silva, que distingue os tipos dos conceitos gerais abstratos. E, desse modo, considera os Rev. Fac. Dir. Sul de Minas, Pouso Alegre, 28: 251-252, jan./jun. 2009 13_Resenha 28 FDSM.indd 251 3/8/2009 13:37:48 Resenha comportamentos previstos em lei como tipos, cujo modo de operar é tipológicocomparativo, funcionando com base na semelhança. Em tal contexto, examina o art. 447-B do CPC português, que traz novo elemento de ponderação, passando a defender que a litigância de má-fé constitui um efeito da violação de deveres processuais e que o art. 456 contempla uma espécie de contempt of court. Prossegue para discorrer sobre tipos especiais de responsabilidade, como a do exequente e aquela presente nas providências cautelares. Questiona, em sequencia, a natureza jurídica da responsabilidade fundada na litigância de má-fé, anunciando que uma primeira solução possível seria conferir-lhe cariz processual, mas conclui que ostenta, em verdade, feição civil. E não é só isso. Há mais. A Professora Paula Costa e Silva avança em seu trabalho para comparar o comportamento processo ilícito com o abuso do direito, tratando, enfim, da ruptura com os princípios da justiça. O livro, como se percebe, é bastante completo, examinando todos os pontos necessários e suficientes para a compreensão – e o aperfeiçoamento – do regime jurídico da litigância de má-fé. A autora incursiona sobre as mais variegadas vicissitudes do instituto, examinando extensa doutrina e farta jurisprudência lusitana, alemã e italiana. 252 É estreme de dúvidas que a obra se tornará um clássico da literatura jurídica, a constituir referência no assunto: quem queira estudar e entender a litigância de má-fé deverá, obrigatoriamente, consultar o trabalho da Professora Paula Costa e Silva, cujas lições são, com as devidas adaptações, perfeitamente aplicáveis ao sistema brasileiro. Leonardo José Carneiro da Cunha Mestre em Direito pela UFPE Doutor em Direito pela PUC/SP Professor de Direito Processual Civil Procurador do Estado de Pernambuco e Advogado Rev. Fac. Dir. Sul de Minas, Pouso Alegre, 28: 251-252, jan./jun. 2009 13_Resenha 28 FDSM.indd 252 3/8/2009 13:37:48